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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19507: Recortes de imprensa (102): "Diário de Notícias", 3/2/1966: o cão da CCAÇ 617. um bravo Boxer, que se bateu como um leão (João Sacôto / José Martins)


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > O valente Toby, um boxer... Ferido em combate, sobreviveu e regressou a casa com os seus "camaradas de guerra"... Infelizmente, e para grande desgosto do João Sacôto, teve de ser abatido por doença grave, infecciosa, contraída no TO da Guiné.  O João nunca mais voltou a ter um cão. "Amigo, guarda-costas, camarada"... são alguns dos epítetos que o seu dono a ele se referiu, em conversa que tivemos ao telefone... Acompanhou o João em diversas operações, e nunca o largava, nomeadamente quando o dono, sozinho, se embrenhava no mato para fazer as suas necessidades... Ficava de sentinela, não fosse o diabo tecê-las!... Um história, tocante, que faltava no nosso blogue...

Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Recorte do "Diárrio de Notícias", 3/2/1966

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O Toby, junto com a malata da CCAÇ 617, desembarcando em Bissau,
em 15 de janeiro de 1964. Foto de João Sacôto (2019)
1. Mensagem de João Gabriel Sacôto Martins Fernande, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66),comandante da TAP reformado:

Data / Hora - 11/02, 14:45


Assunto - o meu cão Toby


Luis:

O meu cão Toby (*) era muito acarinhado pelo pessoal do batalhão [, o BCAÇ 619,] e famoso entre a população local de Catió. Regressou a Lisboa comigo, como documenta o "Diário de Notícias",  de 03/02/1966 (em artigo jornalisticamente trabalhado por excesso…) .

Acompanhou a companhia em algumas operações, assim como me fez companhia nos destacamentos que fiz em Ganjola e claro também nos acompanhou no último destacamento da CCAÇ  617 no Cachil, ilha do Como.

Quando foi ferido, durante uma das nossas operações [, no Cantanhez], não nos apercebemos da situação e foi só no dia seguinte que uma patrulha o avistou ao longe e estiveram a pontos de lhe dar um tiro, julgando tratar-se de uma gazela ou outro animal selvagem. Felizmente alguém gritou “Não atirem, é o Toby”. Encontrava-se quase desfalecido na berma da estrada já perto do quartel. A sua recuperação foi longa pois a sua fraqueza não lhe permitia nem levantar-se, nem alimentar-se normalmente. Foi recuperando as forças lentamente, alimentado com papas de farinha diluída em água que lhe ia dando com a ajuda de uma colher. 

Em boa verdade, ao contrário do que conta o jornalista, não foi operado, por decisão do nosso médico que achou ser preferível que as feridas com entrada e saída da bala fossem fechando lentamente e de dentro para fora, evitando uma infeção que poderia ocorrer, caso fosse suturado.

Um agradecimento ao José Martins.
Um abraço,  
JS


2. Mensagem do nosso colaborador permanente, José Martins, em complemento da mensagem anterior:

Data - segunda, 11/02, 18:51


Assunto - O  “cão-praça Toby”

Não estranhem o título.

No tempo em que a cavalaria era a cavalo, que os oficiais de  infantaria se deslocavam em cavalos e a artilharia era de tracção  animal (solípedes), os animais eram considerados “cavalo-praça” a que
se seguia o seu número de ordem.

Tinham direito a uma verba para alimentação e, era corrente nos  jornais de localidades em que existiam regimentos, haver concursos  para “fornecimento de forragens e palha”.

Veio isto a propósito de um recorte de jornal, devidamente explicado,  publicado no Diário de Noticias de 2 de Fevereiro de 1966, há portanto  53 anos [, reproduzido acima

A história vai ser escrita/contada pelo Luís mas, não me escuso de  antecipar um comentário, com base na notícia e descrição feita pelo  Sacôto.

Se o Toby tivesse nascido na terra do Tio Sam, hoje teríamos, nos anais militares, a existência do “cão-praça Toby” com direito a verba para a alimentação e coleira e trela fornecida pelos Serviços de
Material, depois de confeccionada por algum Sargento Artífice Correeiro.

Como cita o tratador, o referido cão-praça foi ferido em acção de combate, tendo desaparecido no decurso dessa operação. Em situação normal, dentro da anomalia da guerra que todos vivemos, ao ser dado como desaparecido em combate, o mesmo teria sido objecto de menção na Ordem de Serviço e, provavelmente, os helis teriam levantado para “bater o terreno de operação”.

Como foi recuperado em condições físicas graves, teria direito a ser socorrido num hospital VET. Como caso raro, seria posteriormente recebido pelo General Comandante-chefe e Governador da Província, para lhe colocar numa “Casaca bordeada a ouro” que seria confeccionada numa
qualquer rua de Bissau, uma condecoração.

Digam lá: Era um grande Ronco, não era?

Gandabraço
Zé Martins


3. Nova mensagem do João Sacôto,  com data de 11/02/2019, 19:24  



Obrigado José Martins. Gostei.

O fim da historia é um pouco triste:

Alguns meses após o nosso regresso da Guiné, o Toby  adoeceu. A sua doença foi-se agravando até que o levei ao veterinário que lhe diagnosticou uma infecção generalizada do sangue derivado dos imensos ataques dos famigerados mosquitos da Guiné.

Por mais esforços que eu fizesse, tentando protegê-lo dos ataques que ocorriam durante a noite enquanto dormia, pela manhã, no lugar em que tinha estado deitado, era notável uma mancha de sangue, creio que dos mosquitos por ele esmagados quando em desespero se voltava no lugar que lhe servia de leito.

Sem condição de cura da enfermidade, fui confrontado com a solução posta pelo médico veterinário de pôr termo ao seu sofrimento, aplicando-lhe a eutanásia.

Foi para mim muito doloroso mas foi também um acto de solidariedade pondo fim ao sofrimento do “cão-praça TobY”, meu amigo e "camarada de armas”.

Um abraço,
JS
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domingo, 17 de fevereiro de 2019

Guiné 61/74 - P19502: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte III: O meu cão Toby, que fez comigo uma comissão no CTIG, e que será depois ferido em combate no Cantanhez

´
N/M Quanza > 10 de janeiro de 1964 > O cão Toby, pertencente do alf mil inf João Sacôto, da CCAÇ 617, foi uma das estrelas da companhia...e efz uma comissão no TO da Guiné onde será ferido em combate...Embarcou no dia 8 de janeiro de 1964 e desembarca em Bissau a 15, juntamente o pessoal do BCAÇ 616 e as suas subunidades de quadrícula: CCAÇ 616, CCAÇ 617 e CCAÇ 618;O Diz o dono, orgulhos: "O meu cão o Toby seria mais tarde ferido em combate durante uma operação no Cantanhez, uma bala prefurou-lhe a barriga, foi tratado e recuperou".


Guiné > Bissau > Quartel General > s/d > c. 1964 > O alf mil João Sacôto e o seu companheiro, o cão Toby, ante de partirem para Catió.


Guiné >1964 > CCAÇ 617 > O Toby, a caminho de  Catió.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 > c. 1964 > O alf mil João Sacôto e o seu  cão Toby,  na hora da higiene.


Guiné > Região de Tombali > Cachil , Ilha do Como  CCAÇ 617 >  s/d > O Toby nstrada de acesso ao cais no Cachil, Como.

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O João Sacôto {, João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, de seu nome completo,] foi alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66). Trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC [Direção Geral de Aeronáutica Civil]. Foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

Estudou no Instituto Superior de Ciencias Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG) . Andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente. É natural de Lisboa. É casado. Tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas. É membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011.

Continuação da publicação do seu álbum fotográfico: no poste anterior publicámos algumas fotos da chegada a Bissau, em 15/1/1964. Aqui esteve cerca de 2 meses, na dependência do BCAÇ 600. Parte da companhia ainda irá participar na Op Tridente, na ilha do Como (jan-março de 1964).

Neste poste mostram-se algumas fotos do valenet Toby,que será, no regresso, tratado como um herói pelo "Diário de Notícias", de 2/3/1966 (Poste a publicar oportunamente, na série "Recortes de Imprensa").
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sábado, 6 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16362: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XII Parte: Cap VII: Guerra I: O nosso primeiro prisioneiro, o Calaboço



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67 > Abrigos em Cufar. Da esquerda para a direita: Fur mil trms Tomás Afonso, fur mil Bernardino Pinto e fur mil op esp Mário Fitas.


Texto,. foto e legendas : © Mário Fitas (2016). Todos os direitos reservados.



[À direita: capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [Fitas Ralhete], mais conhecido por Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67. Foi cofundador e é "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô. Foto à abaixo à esquerda, março de 2016, Oitavos, Guincho, Cascais]



Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > 
Parte XII - Cap VII: Guerra 1: O nosso primeiro prisioneiro, o Calaboço (pp. 40-42)

por Mário Vicente 

 Sinopse:

(i) Depois de Tavira (CISMI) e de Elvas (BC 8),

(ii) o "Vagabundo" faz o curso de "ranger" em Lamego;

(iii) é mobilizado para a Guiné;

(iv) unidade mobilizadora: RI 1, Amadora, Oeiras. Companhia: CCÇ 763 ("Nobres na Paz e na Guerra"):

(v) parte para Bissau no T/T Timor, em 11 de fevereiro de 1965, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa.;

(vi) chegada a Bissau a 17:

(vii) partida para Cufar, no sul, na região de Tombali, em 2 de março de 1965;

(viii) experiência, inédita, com cães de guerra.




Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > VII - Guerra 1: O nosso primeiro prisioneiro, o Calaboço (pp. 40-42)

2 de Abril de 1965, com o 2º. Grupo de Combate em 1º. Escalão e os Vagabundos à frente, a CCAÇ sai para tentar o primeiro contacto a sério, tendo como guia o velho “capitão” Albino, da Milícia 13 do Alferes de segunda linha João Bacar Jaló.

Vagabundo sente algo de especial e escreve a Picolo e Tânia em género de despedida, conhece o medo mas… há que dominá-lo.

Pelas 24H00, a Companhia enfia pela mata de Cufar Novo. Até às seis da manhã andam às voltas na mata e quase não saem do mesmo sítio. Grande parte do percurso é feito gatinhando e mesmo rastejando ou levando chicotadas dos ramos projectados pelo companheiro da frente. O velho Albino que em 1963 tinha combatido corpo a corpo apenas com uma navalha como arma, está perdido numa mata que conhecia como as próprias mãos. Será da idade ou do medo? Incógnita!

Carlos [, o cmdt da CCAÇ 763,] manda parar. O pessoal está completamente extenuado. Chamando o comandante do grupo de combate e da secção que progridem em primeiro escalão e, prescindindo dos serviços do guia, orienta a saída da mata onde se encontravam praticamente perdidos.

Pelas 7H00 os homens da frente conseguem chegar à orla da mata, alcançando a estrada para Catió. Carlos manda enfrentar a mata de Cufar Nalu em plena luz do dia. Na descida é avistado um grupo de guerrilheiros armados, fardados de calção e camisa de caqui, saindo da mata de Cufar Nalu e atravessando a estrada para o lado esquerdo. É pedido fogo de morteiro sobre a lala que separa aquela posição, da mata prolongamento do ilhéu de Cantone, no sentido de evitar o envolvimento pelo IN. Progredindo pela bolanha a oeste da estrada que foi abandonada, a CCAÇ consegue atingir a mata de Cufar Nalu atingindo o seu objectivo atravessando a estrada, ocupando posições dentro da mata, instalando-se em linha com elementos de apoio em segundo escalão até meio da tarde, sem haver qualquer contacto com o IN.

Já entrámos em terreno proibido. Cufar Nalu já não é um mito, a sua mata foi desflorada. Aos poucos torna-se inevitável, teremos de nos encontrar a sério.

Regresso ao Aquartelamento. Vagabundo relê as cartas para Picolo e Tânia e resolve rasgá-las, pois nunca mais entrará no negativismo que lhe pode ser perigoso, afectando-lhe o moral. Sursum Corda, o Destino está escrito!... Se for de ficar aqui que seja, o militar prepara-se psicologicamente para a guerra. Ou se mata ou deixamo-nos matar. Alternativa zero.

O grande dia está próximo, respira-se essa atmosfera. Mais dia, menos dia vamos lá, ou eles ou nós!...

Aproximamo-nos de Maio. As obras do novo aquartelamento caminham em bom ritmo. O treino operacional é intensivo: patrulhas, emboscadas, golpes de mão etc… etc… passo a passo a CCAÇ., vai atingindo os objectivos da sua missão. O trabalho psicossocial, junto das populações a sul, Iusse, Inpungueda, Mato Farroba e Cantone começa a dar uns ténues resultados. Estamos a ultrapassar o PAIGC neste aspecto, destruindo-lhe aos poucos a rede de controladores e apoio, e cativando cada vez mais os elementos das populações não totalmente identificados com a guerrilha. Já houve uns leves contactos em que conseguimos envolvimentos e resultados positivos. A moral é óptima e a fruta está praticamente madura. Carlos com pleno conhecimento da anti-guerrilha e profundos conhecimentos da Guiné, transmite aos seus subalternos as melhores técnicas e tácticas, de forma que a missão da C.CAÇ. tenha o melhor êxito.

Já temos informações de muita coisa que se passa nas tabancas controladas pelo IN, e embora o acampamento do PAIGC tenha sido reforçado, já somos nós que reunimos e conversamos com as populações embora sabendo que eles andam por lá e que já nos evitam.

Maio!... Maduro Maio. Bebiam-se os últimos copos da noite de 6 de Maio, na improvisada messe de sargentos, na velha fábrica de descasque de arroz, quando aparece o Bugio condutor de Carlos e informa determinados furriéis para se apresentarem no Comando. Era assim habitualmente para determinadas operações, Carlos chamava determinados militares independentemente da patente ou do grupo de combate a que pertencessem. Chegando ao Comando, olhando uns para os outros e identificando-se, pensaram logo que cirurgia melindrosa e urgente deveria estar para acontecer na sala de operações. Paolo informou Carlos de que todos os cirurgiões, anestesistas, instrumentistas e enfermeiros se encontravam a postos para se proceder à intervenção.

Carlos, agora uma espécie de director clínico começou então a explanação: Explorando a mensagem confidencial 364/M de 6/5/65 do BCAÇ 619 estaria um elemento desertor do PAIGC na tabanca de Iusse, de seu nome Calaboço, pelo que havia que fazer esta pequena intervenção com o máximo sigilo. Queria a todo o custo o homem vivo, dada a sua importância e os órgãos que ele poderia disponibilizar para futuros transplantes. Operação a efectuar de madrugada, que seria apoiada ao romper do dia com um cerco e limpeza à referida tabanca por dois grupos de combate que sairiam uma hora depois dos operadores.

Primeiro passo: contactar o chefe de tabanca para este informar o local onde estaria escondido o dito cujo. Segundo passo: abafar o homem para não apanhar nenhum resfriado. O Almeida comanda a cirurgia, ele determinará a ordem de comando. Até logo rapazes!

Às três da manhã os quinze homens estavam preparados e arrancaram com a admiração das sentinelas. Onde iriam aqueles loucos àquela hora!?...

Caminhando sobre o talude que formava a lagoa, depressa chegaram às imediações de Iusse, começando cautelosamente a progressão para a morança do chefe de Tabanca. Pequena alteração nos procedimentos, pois o chefe informa que o indivíduo não se encontraria escondido na bolanha, mas sim numa morança onde se presumiu estaria a dormir no momento. E como se veio a verificar posteriormente não se tratava de um desertor, mas sim de um elemento do PAIGC em descanso na povoação por motivo de doença.

Refazem-se os procedimentos e identifica-se a morança. Almeida orienta a acção, Vagabundo e Chico Zé controlam os dois grupos de segurança, Gibi dá um encontrão e rebenta com a porta, enquanto Jata salta para dentro e aplica um gancho com a esquerda e o primeiro vulto regressa ao reino de Morfeu, o Trinta atira-o para fora para controle. Há mulheres e crianças que são mandadas abandonar a morança rapidamente em silêncio. Já dentro também, António Pedro liga uma pilha para melhor visualização, Calaboço a um canto, rende-se. Embora de etnia balanta, não apresenta as suas características, pois a sua média estatura e fragilidade física não têm nada a ver com um balanta. Revistados os compartimentos da morança os seus habitantes são reunidos em silêncio absoluto.

-Águia um! Águia um! Aqui, Águia dois transmito!

-Aqui Águia um escuto!

-Águia dois informa, cirurgia efectuada com êxito, mantemos posições.

Águia um informa:

-Correcto, ao romper d´aurora sai o pastor da choupana.

-OK, Águia um, entendido!

Noite luarenta, os quinze homens fazem um círculo em volta do pessoal retirado da morança. Passado aproximadamente uma hora, começa a clarear e nota-se a bruma do Cumbijã, na bolanha entre Iusse e Impungueda. Ouvem-se cães a ladrar. Os cães da tabanca farejaram os nossos pastores alemães pois o Cadete a Carhen e o Punch de Boane, vão entrar em acção. A povoação já está cercada pelos grupos de combate da CCAÇ de Cufar. É feita a reunião e identificação da população sendo feita acção psicossocial activa. Sabemos que a malta de Cufar Nalu anda pelo meio da população. Com cuidado vamos devagar, temos de conquistar a população.

A meio da manhã, a CCAÇ. regressa a Cufar com o prisioneiro Calaboço.

Patrulhando o tarrafo junto ao Cumbijã, um grupo de combate, destruiu duas pirogas de grande dimensão, tendo sido abatidos dois indivíduos que fugiram tentando atravessar o rio.

A prisão do Calaboço, embora com trabalho e paciência, deu alguns frutos e no dia seguinte a mulher chefe de Partido em Iusse e o seu marido foram presos. Passados dois dias, foram feitos prisioneiros o chefe do Partido e mais dois indivíduos, estes dois foram abatidos ao tentarem a fuga junto à Lagoa de Cufar.

(Continua)
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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11110: In Memoriam (139): Cor inf Carlos Alberto da Costa Campos (1927-2006), antigo comandante da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/67) e depois do COP 3 (Bigene, 1973): Trasladação dos seus restos mortais, no próximo dia 26, 3ª feira, às 11h00, no Cemitério de Sesimbra, para o talhão da Liga dos Combatentes (Carlos Jorge Pereira)



Uma das últimas fotos do cor Carlos Alberto Costa Campos (1927-2006), tirada pelo Mário Fitas em fevereiro de 2004.


Foto: © Mário Fitas  (2013). Todos os direitos reservados

1. Mensagem que acabamos de receber nosso camarada Carlos Jorge Pereira [,membro da nossa Tabanca Grande desde 11/2/2009, e de quem infelizmente ainda não temos nenhuma foto]


(...) Realizou-se hoje pelas 10.00 horas no Cemitério de Sesimbra e exumação dos restos mortais do Sr. Coronel Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos. (*)

Estiveram presentes cerca de doze antigos Combatentes, alguns deles que serviram sob as suas ordens. A liga dos Combatentes de Sesimbra fez-se representar pelo seu empenhado e activo sócio e dirigente ex-Fur Mil Artur Zegre.

Pena que não tenha acolhido, da parte do blogue,  a atenção (e a dignidade) que a cerimónia mereceu e que não tenha sido divulgada no nosso blogue, o que teria permitido que mais antigos camaradas estivessem presentes.

Volto a apelar a que façam  o favor de informar, com urgência, que no próximo dia 26 de Fevereiro, pelas 11.00 horas, se irá realizar no Cemitério de Sesimbra, a transladação dos seus restos mortais para o talhão da Liga dos Combatentes, campa nº 41, para que o maior numero possível de amigos e ex-combatentes possam marcar presença.

Respeitosamente subscrevo-me,

Carlos Jorge Marques Pereira
Ex-Fur Mil Inf e Operações de Inf
Bigene-Guidage 1972-74

2. Nota sobre o CV militar  do cor Carlos Albertoi Costa Campos, que nos foi enviada pelo Carlos Jorge Pereira:

Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos [, foto à esquerda]

Curriculum Vitae Militar

(i) Nascido em Lisboa em 18 de Abril de 1927;

(ii) Entrou para a Escola do Exercito em 1945;

(iii) Faleceu em Sesimbra em 8 de Agosto de 2006;

(iv) Comissões:

1. Timor 1952/55 - Alferes
2. Moçambique 1961/64 - Capitão em Boane
3. Guiné 1965/67- Capitão -Cmdt. da Ccaç 763 em Cufar
4. Moçambique 1968/70-  Major, 2º Cmdt do Bcaç 14 em Porto Amélia (#)
5. Guiné 1972/74- Major - Cmdt da ACAP em Bissau; Cmdt do COP 3 em Bigene.

( # ) Criou e comandou o Centro de Instrução de Cães de Guerra.  Pioneiro na introdução de cães de guerra em Portugal, com vários livros  publicados, que ainda hoje são utilizados como manuais, pelas Forças Militares  e Militarizadas.

(v) Ten cor a partir de Janeiro de 1974;

(vi) Portugal 1975-78- Cmdt. do Bat. Nº 3 da Guarda Fiscal em Évora; 

(vii) 1976- Proposto por três vezes para o Curso de Oficial General, mas recusado pelo Concelho da Revolução;

(viii) 1979-83 -Tribunal Militar de Santa Clara: Promotor de Justiça, Vogal e Presidente do Colectivo; 

(ix) 1983 - Passou à reserva;

(x) Condecorações:

Cruz de Guerra de 2ª classe
Comenda da Ordem de Avis
Medalha de Ouro de Serviços distintos com Palma
Medalha, Colar e Crachá de Mérito Militar de 1ª classe
Medalha de Comportamento Militar
Medalha de Assiduidade de Serviço no Ultramar
Medalha em Homenagem Nacional aos Heróis da Ocupação do Império
Medalha das Campanhas e Comissões Especiais das Forças Armadas Portuguesas
Medalhas ( 5 ) das cinco comissões no Ultramar

2. Comentário de LG:

Foi o Carlos Jorge Pereira quem desencadeou este processo, que termina agora com a trasladação, condigna, dos restos mortais de mais um combatente da Guiné, o cor inf ref Carlos Alberto Wahnon Mourão da Costa Campos (1927-2006), antigo comandante da  CCAÇ 763, Cufar, 1965/67, e depois comandante do COP 3 (Bigene, 1973).

Fica aqui o nosso público apreço pela ação meritória e solidária  do nosso camarada Carlos Jorge Pereira,  da Liga de Combatentes de Sesimbra e muito provavelmente de outros camaradas anónimos. (**)
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Notas do editor:

(*) Ver postes anteriores:

(...) No passado mês de Agosto, fui mais uma vez visitar o nosso antigo Comandante, [do COP 3,] Sr. Coronel de Infantaria Carlos Alberto Wahon Costa Campos, que se encontra sepultado em Sesimbra.

Fez este ano, em 8 de Agosto, seis anos que o mesmo faleceu e a sua sepultura abandonada desde essa data.Dentro de um ano os seus restos mortais irão ser levantados e, caso não sejam reclamados pelos familiares, serão transferidos para uma vala comum.
Por essa razão, apelo a um ou dois antigos colaboradores e amigos do nosso Comandante e amigo que se juntem a mim, para falarmos com a família e, caso não mostrem interesse, sermos nós a tratar e a pagar uma sepultura condigna e perpétua. Para o efeito devem contactar-me para delinearmos a estratégia. (...)