sábado, 7 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23240: Efemérides (368): Foi imposta a Medalha Comemorativa das Campanhas (Guiné, 1968-70) ao Maioral António Maria Úrsula, que apesar de sofrer de grave doença, se deslocou a Santa Margarida para com orgulho e alegria a receber (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro)

1. Mensagem de 6 de Maio de 2022 do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, QueboMampatá e Empada, 1968/70) com a notícia da imposição da Medalha Comemorativa das Campanhas (Guiné, 1968-70) ao seu companheiro Maioral, António Maria Úrsula, entregue em Santa Margarida, onde se deslocou para a receber apesar da doença grave que o atormenta:

Meus caros editores
Envio um texto sobre um camarada que se encontra há vários anos imobilizado numa cama pela ELA e ficou muito feliz por ainda chegar o tempo de poder receber a medalha a que tinha direito.

Fraternal abraço
Zé teixeira



MEDALHA COMEMORATIVA DAS CAMPANHAS - GUINÉ, 1968-70

O orgulho de um Combatente

O António Maria Úrsula, mas conhecido pelo Chamusca sofre há muito da ELA – Esclerose lateral amiotrófica, que o tem vindo a desgastar, estando há vários anos prostrado na cama, praticamente imobilizado.

O bom gigante do 1.º Grupo de Combate da CCaç 2381, o homem da MG. Homem simples e comunicativo, amigo do seu amigo, sempre alegre e bem disposto, está muito doente, mas teima em viver. Apoia-se na mulher que escolheu para esposa. Frágil, muito frágil, mas resistente. Resiliente e com um amor sem limites, quer o seu António em casa. Quer ser ela a cuidar dele. Entrega-se totalmente para que o seu António resista à doença que o devora lentamente. Durante vinte e quatro horas ao lado do António, para lhe fazer a higiene total, o alimentar, o ouvir a gemer de dor e desespero. Uma lição de amor que deve ser cantada aos quatro ventos. Enquanto o António pôde, (os braços foram os últimos a ceder) ajudava-o a sentar-se na cadeira e levava-o todos os dias ao café para estar com os amigos. Depois aproveitava a presença dos filhos para a ajudar a colocá-lo na cadeira para que pudesse ir ter com os amigos.

Durante vários anos, o Chamusca apareceu nos convívios anuais da Companhia, na cadeira de rodas, sempre acompanhado pela esposa e por um dos filhos. O convívio era para ele um ponto de encontro anual que não dispensava. Bem disposto, com a sua piada na ponta da língua, preso na sua companheira sob a vigilância atenta da esposa, adorava estar com os camaradas.

Convívio dos Maiorais de 2012
No Convívio dos Maiorais de 2016 já o Úrsula compareceu numa cadeira de rodas

Um ano descobriu que já não podia ir ao convívio. O corpo não obedecia para entrar dentro do automóvel. Ficou triste e nós, os Maiorais, sentimos a sua falta.

Por último, o António, o bom gigante, o meu amigo como todos os Maiorais, já não sai da cama há uns anos, não consegue movimentar o corpo, quase não se percebe a sua fala, mas teima em viver e não está sozinho. A extremamente dedicada esposa sempre a seu lado e os filhos por perto dão-lhe o alento necessário.

Há uns cinco, seis anos, o capitão levou impressos para solicitar a "Medalha Comemorativa das Campanhas - Guiné, 1968/1970", que nos foi atribuída no fim da Comissão, mas que não nos foi entregue na devida altura. Alguns dos camaradas presentes subscreveram o impresso e ainda hoje aguardam a medalha. O António sonhava com a medalha, queria receber a medalha, um direito. Sempre que nos encontrávamos ou falávamos, perguntava pela medalha. Até doía ouvi-lo, por ver o tempo a passar e a medalha do António sem chegar ao seu destino e sobretudo por sentir que ele não tinha condições para a ir receber a um quartel qualquer.

Há dias recebi um telefonema da esposa para saber da nossa saúde e dar notícias do António, como vem sendo hábito partilhado e para me dar a notícia que o António recebeu uma convocatória para ir ao Quartel de Santa Margarida receber a medalha e ficou muito feliz.

Os filhos organizaram a viagem, ajudaram-no a levantar-se e levaram o António ao quartel para receber a medalha a que tinha direito. Que alegria! Que orgulho de medalha ao peito! Um momento de felicidade.

Depois regressou ao seu cantinho e continua pacientemente a resistir, tendo como companhia a mulher e os filhos.

Obrigado, António, pelas lições de vida que me tens dado. Um agradecimento especial à tua esposa e aos teus filhos pela humanidade com que te tratam.

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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23237: Efemérides (367): Faz hoje precisamente 55 anos que um estrangeiro, o ten-cor H. Meyer, adjunto do Adido Militar Americano em Lisboa, participava, com as NT (CART 1525, Bissorã, 1966/67) na Op Beluário... Não sabemos em que circunstâncias nem a que título (Virgínio Briote)

Guiné 61/74 - P23239: Os nossos seres, saberes e lazeres (503): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (49): O médico oftalmologista que ofereceu aos portugueses sublimes obras de arte (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Fevereiro de 2022:

Queridos amigos,
A Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves é uma das singularidades do colecionismo em arte, possui peças de reputação internacional ao nível da porcelana, valiosos espécimes de mobiliário e um acervo de indiscutível valor em pintura naturalista portuguesa, mas há muito mais que se oferece ao visitante, desde o jardim à edificação premiada com o prémio Valmor, medalhas, relógios, arte persa e turca, companhia das Índias, impossível ficar indiferente a um quadro quase miniatural de Columbano Bordalo Pinheiro, O Convite à Valsa. Visita a não perder, mais não seja para recordar o que já foi visto, seja qual for a estação do ano.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (49):
O médico oftalmologista que ofereceu aos portugueses sublimes obras de arte

Mário Beja Santos

O seu nome oficial é Casa-Museu Anastácio Gonçalves, situa-se no início da Avenida 5 de outubro, a entrada agora é perto da Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa. Tudo começou quando o pintor José Malhoa encomendou ao arquiteto Norte Júnior a moradia para residência e atelier, isto em 1904, no ano seguinte a construção recebia o Prémio Valmor. Malhoa virá a desgostar-se de viver em Lisboa, transferiu-se para Figueiró dos Vinhos. Em 1932, o Dr. Anastácio Gonçalves (1888-1965), um reputado oftalmologista adquiriu a casa, a finalidade era poder reunir um importante espólio para deixar aos portugueses. Era também a sua residência, aqui vivia cercado por cerca de 2500 peças, destacando-se três coleções principais: pintura naturalista portuguesa; porcelana chinesa e mobiliário europeu do século XVII a XIX.
Como se vê na primeira imagem, Norte Júnior articulou elementos neorromânticos e de gosto Arte Nova, esta bem visível na aplicação de azulejos e no trabalho de ferro forjado no portão principal da casa. Os vitrais são de origem francesa, encomendados para a sala de jantar e para a salinha anexa ao atelier. Abriu ao público em 1980, conheceu obras de ampliação graças a uma moradia contígua, também traço de Norte Júnior. Tem conhecido obras de 1997 para cá, tem hoje nova entrada devido à alteração urbanística do quarteirão que tinha edifícios na Avenida Fontes Pereira de Melo e também na Avenida 5 de Outubro.
Anastácio Gonçalves era um colecionador requintado deixou um acervo de grande abrangência cronológica. A coleção de pintura foi-se organizando entre 1925 e 1965, é no fundamental uma coleção de pintura naturalista, embora haja alguma pintura europeia dos séculos XVII e XIX; há uma coleção de mobiliário português e europeu, com preferência por exemplares de meados e terceiro quartel do século XVIII; a porcelana chinesa é uma coleção de nome internacional, com 379 objetos adquiridos entre 1941 e 1965. Estes são os três núcleos principais, mas há também ourivesaria sacra, prataria, cerâmica europeia e oriental, como é o caso de um pequeno conjunto persa dos séculos XVII e XIX e faiança Iznik do século XVII, mas também moedas, medalhas, bronzes e marfins e também relógios de bolso.

A porcelana, por direito próprio, merece toda a atenção do visitante, há porcelana azul e branca, há decorações com flores em pratos, taças e garrafas datáveis do século XVI, coincide com o período do domínio comercial português nos mares do oriente. Há também peças do grupo de “família verde”, “família rosa” e “azul soprado”. Na atualidade, entra-se pela sala das porcelanas que já esteve posicionada à entrada da casa propriamente dita do colecionador. Tal como este, iremos sentir o fascínio pela raridade e qualidade das obras, há mesmo dois exemplares da Dinastia Song, século XII e um vastíssimo conjunto de porcelanas “azul e branco” dos séculos XVI e XVII. Deixe-se ofuscar pelos motivos florais, pela elegância das formas, pelas taças decoradas, pelas peças de corpo fino, pintado a azul-cobalto, pelas cenas marítimas e paisagens com rochedos, há ali exatamente um prato de cerca de 1600 com cenas deste género e uma taça com gamos e cercaduras de garças e lotos, de que só se conhecem duas peças em Portugal. E não se esqueça de ver a Garrafa do Peregrino, hoje classificada como tesouro nacional.
Os jarrões da “família verde”, tem uma paleta de tons que vão desde o pálido ao esmeralda vivo, vermelho-ferro, azul, amarelo, beringela e preto. Atenda-se à decoração com grande variedade de flores, plantas ou árvores floridas, por vezes borboletas e outros insetos, podem existir cenas ribeirinhas, representações figurativas e até batalhas com combatentes a cavalo.
Vitral francês comprado propositadamente para a casa de José Malhoa
O mobiliário colecionado por Anastácio Gonçalves é muito requintado e espalha-se por toda a casa, onde encontramos secretárias, expositores, móveis de assento, armários, e há inclusivamente trabalhos em talha, isto para além de mesas de encostar, papeleiras, cómodas e canapés, há peças de várias origens europeias, na Casa-Museu expõem-se peças de origem francesa, inglesa, holandesa, espanhola e mesmo chinesa, tudo exposto à procura de várias comunicações, neste caso com a belíssima porcelana.
Manhã em Clamart, por Carlos Reis (1889-1896)
O Dr. Anastácio Gonçalves pintado por José Malhoa
A coleção de pintura começa com exemplares do neoclássico, há um núcleo do romantismo onde avultam nomes como Tomás da Anunciação, Miguel Ângelo Lupi e Alfredo Keil. Mas é bem patente que é o naturalismo que mais animou o gosto de Anastácio Gonçalves, logo Marques de Oliveira e Silva Porto, Malhoa ou João Vaz, os temas marítimos e campestres predominam.
Corredor do rés-do-chão correspondente ao espaço do quarto, escritório, casa de banho e sala de jantar
Pormenor do antigo escritório do médico, mantendo ainda as paredes forradas com o papel original. Podemos ver uma secretária de cilindro datada de 1930, ladeada por cadeiras de braços. Em cima da secretária está pousado um relógio de mesa do século XVIII, flanqueado por um par de potes de porcelana “azul soprado”, do lado esquerdo vemos um dos mais célebres quadros da coleção, o Convite à Valsa, de Columbano Bordalo Pinheiro e em local central O Retrato de Menina, de António Ramalho.
Um expoente máximo da pintura naturalista portuguesa, A Primavera, de Alfredo Keil
Uma amostra da combinação de elementos, cerâmica, mobiliário, relojaria e pintura.
Este elemento religioso inclui Santa Ana a ensinar a ler a Virgem Maria, sob a vigilância de S. Joaquim, é uma preciosidade.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23213: Os nossos seres, saberes e lazeres (502): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (48): A surpresa de uma pérola tropical ali ao pé do Palácio de Belém (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23238: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (23): Bafatá... e as nossas "geografias emocionais"


Fot0 nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 28 de abril de 2022 > 7h42... Nascer do sol, tapado pelo que resta do monumento, sito no antigo Parque da cidade, ao Oliveira Muzanty (governador geral, 1907/09), defronte à Casa Gouveia, dois símbolos do "colonialismo português"... A estátua  foi apeada (e provavelmente destruída)...


Foto nº 2 >  Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 28 de abril de 2022, 7h41> Os célebres pombais de Bafatá... Hoje ainda existem alguns. Este está onde hoje é o tribunal.


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 28 de abril de 2022 7h41>  O que resta (a fachada...) do antigo mercado quando Bafatá era a doce princesa do Geba... Um belo exemplar da arquitetura colonial revivalista, que um dia destes cai de vez...


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 28 de abril de 2022, 7h41 > Rua para a 
Ponte Nova, diz o autor da foto. Na esquina, uma típica casa colonial, de sobrado. O Cherno Baldé diz-nos que era a antiga casa Ultramarina em Bafatá,  que controlava e abastecia toda a rede da zona Leste (Bafatá/Gabú). Pertencia ao BNU e era rival da Gouveia.


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 28 de abril de 2022, 7h33 > A sé catedral... Um exemplar de arquitetura colonial religiosa (de mau gosto, acrescento eu, tal como  a de Bissau, que me perdoem os cristãos da Guiné -Bissau) (LG)


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 28 de abril de 2022, 7h32 > O antigo edifício principal da administração do concelho de Bafatá, hoje direcção regional de educação de Bafatá... Fica na rua principal que vai dar ao rio Geba.


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 28 de abril de 2022, 7h36 > A avenida principal... Ao fundo, o rio Geba... Do lado direiro, a casa de sobrado das "manas libanesas" (que têm um mano, que foi nosso camarada, hoje coronel paraquedista reformado, e empresário na Guiné-Bissau, 
o Chauki Danif. Era alferes no nosso tempo, e tem aqui, no blogue, alguns amigos). A matriarca do clã era a Dona Rosa, cpmo bem dos recorda o Humberto Reis, amigo da família.  (LG).


Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 28 de abril de 2022, 7h31 > Outra vista da artéria principal da antiga cidadezinha colonial... Há 6 anos o Patrício ainda apanhou algum alcatrão...


Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 28 de abril de 2022, 7h34 >  Na avenida principal, do lado esquerdo de quem desce, antigas instalacões da administração colonial, incluindo a residência do administrador da concelho (o mais célebre nos anos 60 foi o Guerra Ribeiro). Depois da independência, passou a ser chamado "palácio do Governador"... Na ponta direita, a estação dos correios (não sabemos se continua a funcionar como tal)...


Foto nº 10 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 28 de abril de 2022, 7h34> Antiga residência do administrador do concelho e, por detrás, a torre que seria da polícia administrativa (cipaios).


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 28 de abril de 2022, 7h31> Mais uma vista da avenida principal...  Alguns dos nossos camaradas fizeram aqui as suas provas de perícia... no exame de condução auto.


Foto nº 12 > Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bafatá > 27 de abril de 2022, 9h49  > Outra rua (... esta é para o arquiteto e autor do melhor roteiro de Bafatá, o nosso camarada Fernando Gouveia, identificar... TPC de fim de semana).

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Patrício Ribeiro (português, natural de Águeda, da colheita de 1947, criado e casado em Nova Lisboa, hoje Huambo, Angola, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, "retornado", a viver na Guiné-Bissau desde 1884,  fundador,  sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda; membro da nossa Tabanca Grande, com cerca de 120 referências no blogue; autor da série "Bom dia desde Bissau"; nosso colaborador permanente para as questões do ambiente, economia e geografia da Guiné-Bissau" (*)

Data - quinta, 28/04/2022, 09:04

Assunto - Bom desde Bafatá

Bom dia, desde Bafatá.

Luís, esta semana tenho passado uns dias em Bafatá.

Vou enviar umas fotos de hoje e desta semana, que terás que as organizar, vão directamente do meu telemóvel.

Na parte velha de Bafatá,  as casas coloniais são agora organismos públicos.

Muitos por aqui andaram há 50 anos de camuflado. (**)

Mantenhas. Patrício Ribeiro


2. Comentário do editor LG:

Obrigado, Patrício. Dizes bem, por aqui muitos andaram há 50 anos  de camuflado... E outros à civil... Ir a Bafatá, no meu tempo (1969/71), sobretudo ao fim de semana (quando o havia...) dava direito a ir à paisana... Ia-se às "meninas (do Bataclã)" e também matar a malvada em restaurantes como a Transmontana... E, no regresso, beber uma última cerveja no café do Teófilo, o "desterrado"... As manas libanesas também tinham um restaurante e café mas nunca lá fui.

Bafatá faz parte das "geografias emocionais" de boa parte de nós... Todos os camaradas que estiveram no Leste da Guiné passavam obrigatoriamente por Bafatá (elevada a cidade no tempo)... Era uma verdadeira placa giratória... Tal como Bambadinca e o Xime. Em Bafatá,  havia o "charme discreto" da civilização... Havia boas lojas, restaurantes, cinema e  até piscina. O resto da Guiné era "mato", ou seja, guerra. 

Desculpa, se meti alguma "argolada"... Achei que as tuas belas fotos, madrugadoras, mereciam uma legenda mais completa... Mas, para falar de Bafatá, "a princesa do Geba",  temos gente muito mais conceituada do que eu,  porque lá viveu durante a comissão  como é o caso do Fernando Gouveia, do António Azevedo Rodrigues  ou do Manuel Mata, por exemplo. Oxalá eles nos leiam e comentem este fim de semana, antes de eu ir à faca. Para a próxima semana, faço férias do blogue, mas conto com o Carlos Vinhal (e todos os demais coeditores, colaboradores e leitores) para continuarmos a ir "blogando & rindo", enquanto houver picada, pica e pernas para andar...

Da tua parte,  continua a mandar "lembranças" dessa terra, "verde-rubra" (sem conotações saudosistas, paternalistas ou neocolonialistas).  Boa saúde, bom trabalho, E que Deus, Alá e os bons irãs te protejam, a ti e aos nossos amigo da Guiné-Bissau.
___________


(**) Sobre Bafatá, temos mais de 380 referências... Vd. aqui, por exemplo:

8 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20829: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (11): Viagem a Mansoa e a Bafatá, onde estamos a levar a água potável aos hospitais... Este ano, muita gente vai morrer, não da COVID-19, mas de fome: o caju ninguém o vem cá comprar...

9 de abril de 2019 > Guiné 61/74 - P19662: Memória dos lugares (390): As três pontes de Bafatá, sobre os rios Geba e Colufe (ou Campossa): contributos de Fernando Gouveia, Humberto Reis, Manuel Mata, Luís Graça, Ricardo Lemos e Virgílio Teixeira
12 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12284: Memória dos lugares (252): Bafatá ao tempo do Esq Rec Fox 2640 (1969/71) (Manuel Mata)

22 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11293: Memória dos lugares (226): Vistas aéreas da doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba (Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Parte I)

7 de maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8236: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (10): Bafatá, 15/12/2009: "África é um cego em cima de um diamante" (Ali dixit)

(...) Anónimo disse...

Uma geração de jovens que, ao terem a sorte de sobreviver, mesmo sem ferimentos, ficou traumatizada de tal forma que só passados 40 anos consegue falar abertamente do tempo que lá passou. Hoje, já consigo ter saudades do Cinema, da Piscina, do restaurante do Teófilo, do Restaurante a Transmontana, dos comércios das Libanesas, do cheiro a terra, do cacimbo que caía de noite, da pista de Aviação, das noites que passava nas Tabancas, da Javi (miúda atrevida), da Mariana solteira e da Mariana mãe, saudade dos companheiros que já morreram (Sampaio, saudade dos companheiros que ainda não encontrei, Ernesto, etc.), foram 25 meses em Bafatá (de junho de 1968 a julho de 1970).Um muito obrigado ao jovem médico, por me trazer Bafatá ao meu consciente.

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23237: Efemérides (367): Faz hoje precisamente 55 anos que um estrangeiro, o ten-cor H. Meyer, adjunto do Adido Militar Americano em Lisboa, participava, com as NT (CART 1525, Bissorã, 1966/67) na Op Beluário... Não sabemos em que circunstâncias nem a que título (Virgínio Briote)


Guiné > Carta de Mansoa > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Bissorã, a norte de Biambe e de Mansoa, bem como de  Queré (onde em 1967 o PAIGC tinha uma base)...

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)



Guiné> Mapa da província (1961) > Escala 1/500 mil > Pormenor: posição relativa de Bissorã, Biambe e Encheia, entre Mansoa, Binar e Bula, em plena região do Oio... A vermelho, está sinalizada Queré, uma base do PAIGC, ativa em 15/3/1970. As estradas Biambe-Bissorã e Encheia-Bissorã estavam na altura cortadas.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


1. Descobrimos há dias, eu e o Virgínio Briote, esta "preciosidade" que reproduzimos a seguir.  Trata-se do relatório sucinto da Op Beluário, que vem na página 65 do historial da CART 1525, "Os Falcões" (Bissorã, 1966/67). Foi um dos nossos camaradas do Arquivo Histórico-Militar, cujo nome não fixei, que deu a "dica" ao Virgínio Briote.

Confirmámos a informação, que consta da história da página de "Os Falcões", uma das mais antigas,  existentes  na Internet, das páginas dos ex-combatentes da Guiné.  Achámos por bem fazer este poste na série Efemérides (**). Na realidade, a Op Beluário realizou-se há precisamente 55 anos, em 6/5/1967.

O que torna digna de registo a Op Beluário, para além do "desenrolar da ação" (comum a muitas outras operações realizadas no TO da Guiné), é que nela participou  um estrangeiro, o tenente coronel H. Meyer, Adjunto do Adido Militar Americano em Lisboa...  Era para todos os efeitos um estrangeiro, embora representando um país amigo de Portugal, e aliado da NATO.

Não sabemos a que a título, nem em que circunstâncias, integrou esta operação. Nem sabemos se foi armado ou levou guarda-costas. Tanto quanto sabemos, não era "normal" a participação de militares estrangeiros em operações do exército português no TO da Guiné. Todavia, o adido do Adjunto Militar Americano em Lisboa, podia estar de visita à Guiné, ao tempo do gen Arnaldo Schulz. Podia ter visitado Bissorã e ter sido convidado pelo comandante da companhia, o Cap Art Jorge Manuel Piçarra Mourão (**), para "fazer o gosto ao dedo"... Por certo que não foi uma "missão secreta", para  tal facto, honroso para "Os Falcões",  vir mencionado na história da unidade. Humor à parte, talvez o camarada Rogério Freire possa satisfazer a nossa natural curiosidade.



2. C
ART 1525, "Os Falcões", Bissorã (1966/67) >Atividade Operacional > 41. Operação Beluário 

QUERÉ,  carta de  Mansoa, 06Mai67

MISSÃO

Golpe de mão ao esconderijo onde se presumia a existência de armamento pesado, seguindo-se uma batida a toda a zona.

FORÇA EXECUTANTE

- Comandante da Companhia;
- Companhia (Comandos e 1º Gr Comb), um Pelotão de Milícia e um Pelotão de Polícia Administrativa;
- Tomou parte na operação o Exº Ten Coronel H. Meyer, Adjunto do Adido Militar Americano em Lisboa (negritos nossos);
- Actuou ainda na zona a CART 1612;
- Apoio Aéreo.

DESENROLAR DA ACÇÃO

Saíram as NT pelas 00h00, seguindo pela estrada do Biambe, e atingindo a zona do objectivo pelas 05h00. O deslocamento fez-se sem incidentes. 

Chegados ao local indicado pelo guia, este não deu quaisquer indicações dignas de crédito, confundindo-se e provando cabalmente que desconhecia por completo qualquer refúgio do IN, onde ele albergasse o seu armamento. 

Feita uma pequena batida na zona indicada inicialmente pelo guia, em Mansoa 2 C/5, nada de especial foi referenciado, a não ser vestígios de comida e permanência inimiga, debaixo de uns mangueiros. No intuito de provocar o IN,  obrigando-o a referenciar-se, iniciou-se então uma batida para S, a W da bolanha do Queré. 

Pouco depois de a mesma se haver iniciado, o IN efectivamente reagiu à penetração das NT, com intenso tiro de LRock (10 granadas), Mort 60 (6 granadas) e Mort 82 (2 granadas), ML e PM, durante cerca de 30 minutos. 

O fogo foi aberto do nosso lado esquerdo, sensivelmente em Mansoa 2 D1/51, e muito perto das tropas que seguiam desse lado da batida (Pol Adm), ocasionando imediatamente 12 feridos (9 Pol., l Mil. e 2 soldados). 

Entretanto, na reacção, as NT tentaram envolver o IN na sua posição, cercando-o por S, mas este mal se apercebeu da nossa manobra retirou sem mais fogo. 

Pelas 06h45 surgiu o PCV, sendo-lhe pedido o indispensável apoio e meios para as evacuações, que contudo só terminaram cerca das 08h30. 

Por indicação do PCV, continuou-se depois a batida mais para S, até se atingir a bolanha de Camã. Aqui foram incendiadas algumas tabancas abandonadas e, próximo do local (Mansoa 2 B8/41), foi destruída uma escola, com capacidade para cerca de 50 alunos. 

Continuando-se a batida, no dispositivo adequado, e sem que o IN jamais se tenha vindo a revelar, destruíram-se mais algumas tabancas, junto à orla O da bolanha do Queré. 

Pelas 10h00 e debaixo de um sol escaldante, iniciaram as NT a retirada, a qual por esse facto se tornou particularmente penosa, vindo a atingir a estrada do Biambe, e ali serem recolhidas em viaturas, chegando a Bissorã pelas 12h00.

Fonte: Página da CART 1525, "Os Falcões", Bissorã, 1966/67, criada, administrada e editada pelo nosso amigo e camarada, ex-alf mil mil MA, Rogério Freire, ex-alf mil art MA, membro da nossa Tabanca Grande desde 13 de outubro de 2005. 

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de maio de 2022 > uiné 61/74 - P23219: Efemérides (366): "O primeiro 1.º de Maio", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887

Guiné 61/74 - P23236: Notas de leitura (1443): Comandante Hussi, por Jorge Araújo e ilustrações de Pedro Sousa Pereira, a história do menino-soldado que não perdeu a capacidade de sonhar, é edição do Clube do Autor, 2011 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Julho de 2019:

Queridos amigos,
Há livros que merecem uma regular revisitação, não só por terem consagração pública, por constituírem peças literárias do melhor cristal, mas porque nos transportam a vivências que guardamos para toda a vida, nós, que conhecemos os malefícios da guerra a par de uma camaradagem partilhada como em nenhum outro cenário da vida. Jorge Araújo maquinou com base num acontecimento real, o menino Hussi, um menino-estafeta que correu todos os riscos naquele demencial conflito político-militar que abanou pelos alicerces a Guiné entre 1998 e 1999, uma história de encantar em que um objeto, uma bicicleta, ocupa um lugar central, pois é uma bicicleta que fala, pintada de lama e com os raios das rodas a contorcerem-se de dor. Mensagem de ternura num mundo em que coisas tão simples fascinam uma criança incansável por reencontrar aquela bicicleta com que irá pedalar até à eternidade. Pois se convida o leitor a tonificar-se com este perdurável "Comandante Hussi".

Um abraço do
Mário


Revisitar uma obra-prima da literatura luso-guineense: Comandante Hussi[1]

Beja Santos

O jornalista José Vegar, no posfácio desta obra prodigiosa, questiona se o leitor se deslumbrou com uma história para crianças que é uma crónica de guerra para leitura dos adultos de hoje, ou uma crónica adulta de guerra esmagada por uma luminosidade só para crianças. A máquina literária de Jorge Araújo, reforçada pelas belas ilustrações de Pedro Sousa Pereira, é de um tratamento alegórico em torno de uma bicicleta que conversa com o seu dono, bicicleta temida por um feiticeiro que influi numa terrível decisão de um tirano que é o Comandante Trovão que manda destruir todas as bicicletas do país tal como Herodes mandou matar as crianças.

É tudo alegoria naquela Guiné-Bissau que vai viver um conflito sangrento que se prolongou de 1998 a 1999, deixando o país mais comatoso. Hussi é um membro da família Sissé, a residir em Porto dos Batuquinhos, na margem de um rio que a seca engoliu. É tudo pobre, mais do que elementar, mas muito rico em convivência. Pobre porque a casa tem paredes de cartão, uma alcatifa de terra batida, as camas são esteiras, a cozinha não passava de meia dúzia de pedras calcinadas e a casa de banho um buraco aberto no quintal. A única mobília era o calendário de Nossa Senhora de Fátima. Tudo paupérrimo, mas tudo nobre na vida de relação, ali vive Hussi com Abdelei Sissé, o pai herói, Dona Geca, os três irmãos de nome Totonito, Tuasab e Doskas. “Viviam felizes, porque a felicidade também se faz de pequenos nadas. Um sorriso, uma palavra de conforto, uma mão de arroz para embalar o estômago, um pedaço de pano para embrulhar o corpo”. Convém que o leitor não se esqueça que está a ler um livro único, aquela petizada adora jogar à bola, o senhor do apito era o brigadeiro Raio de Sol, um velho militar na reserva.

Naquele dia não apareceu, todos estranharam. Como tudo decorre sob o manto diáfano da fantasia, temos que adivinhar quem era o brigadeiro Raio de Sol, diz o autor que era mais alto do que uma girafa, mais magro do que um antílope. “Porte altivo, olhar intenso, sorriso discreto, carnes secas e barba cor de marfim”. Homem recatado, como Catão, entregue à semeadura e às leituras. Viu tanto despotismo, tanta criança com a barriga em forma de balão, tanto desemprego, tanta falência quanto aos ideais por que tinha lutado, que um dia se lançou na Guerra do Balão. Instalou-se o caos, caia ferro e fogo sobre a cidade do asfalto, o pai de Hussi mandou a família para a terra dos antepassados, ele foi combater com a gente do brigadeiro Raio de Sol, a Hussi foi recusado levar a bicicleta, ele teve que a esconder, enterrou-a, mas antes encetou com ela uma certa conversa:
- Mal a guerra acabar, venho buscar-te.
- Prometes?
- Prometo – respondeu Hussi, enquanto deitava mais uma pazada de terra e cruzava os dedos atrás das costas, para dar sorte.
A bicicleta podia finalmente hibernar descansada. Sabia que Hussi era um menino de palavra. Que não ficaria enterrada até ao final dos tempos.
- Vai com Deus – disse com a voz empoeirada de emoção.


Está na altura de dizer ao leitor que Hussi é de carne e osso, será a mascote dos rebeldes capitaneados pelo brigadeiro Ansumane Mané, foi descoberto pelos jornalistas, exatamente com aquela faixa tricolor com as cores da França, que ele apanhou no rescaldo da derrota do Comandante Trovão, quando todos os mercenários, os aguentas e os adeptos do tirano deram às de vila Diogo. Hussi foge da aldeia dos antepassados, põe-se ao serviço da rebelião. Como não há história para crianças sem passos de mágica e clarões de fantasia, o Comandante Trovão não é somente um déspota sanguinário que mata a torto e a direito os seus próprios sequazes, é supersticioso, acredita piamente nos vaticínios e predições do professor Bambara, “uma criatura minúscula, roliça, óculos de lentes espessas que nem fundo de garrafa, colar de conchas à volta do pescoço”. É ele quem faz saber que os revoltosos possuem uma arma secreta, uma bicicleta mágica, furioso, o tirano exige ver essa bicicleta viva ou morta, à cautela arranjou-se uma bicicleta qualquer e levou-se o selim ao Comandante Trovão, sobre uma bandeja de prata. Em boa hora, a feitiçaria entrou neste conto de fadas cheio de gente de carne e osso. Hussi teve notícia da morte de uma bicicleta, pediu ajuda a uma força expedicionária, encontrou a casa destruída e nem rasto da bicicleta, chorou amargamente. É nisto que vai ocorrer o dia do assalto final. O Comandante Trovão pediu ao professor Bambara que o transformasse em mosca-tsé-tsé. O professor preparou umas mezinhas à base de asas de morcego e olhos de cobra, o Comandante Trovão nunca mais foi visto em carne e osso. Dá-se o assalto final, Hussi anda feliz entre os vencedores. Hussi só sonha em voltar a ver a sua bicicleta.

E toda esta história ternurenta com tantos adultos em conflito, levam a que este menino, que gosta do Luís Figo, volte às ruínas da sua casa. É um momento de encanto, para adultos e crianças:
“Foi então que teve uma visão. O talismã – que colocara sobre as cinzas, para proteger a bicicleta na altura da fuga, e que desaparecera quando regressou a Porto dos Batuquinhos com Capacete de Ferro, a fim de confirmar o infortúnio – repousava por ali. Lágrimas de esperança iluminaram-lhe o rosto. Desatou a cavar, as mãos entranhadas na terra avermelhada, desatou a cavar, as mãos à procura do seu tesouro valioso, desatou a cavar, o buraco cada vez mais profundo, desatou a cavar, e nada, nada de bicicleta, nem mesmo um parafuso de consolação.
- Está frio. – Uma voz ecoou das profundezas da terra.
Hussi não prestou muita atenção, estava demasiado concentrado na sua tarefa.
- Agora está morno. – O mesmo ruído de fundo, só que mais audível.
Hussi continuou a busca. A cavar com as mãos cada vez mais avermelhadas, as entranhas da terra cada vez mais esburacadas.
- Está quente, a arder.
Os dedos tropeçaram num objeto metálico, de contornos indefinidos. Bastou, porém, um pequeno movimento do polegar para compreender que o seu tesouro mais valioso estava são e salvo. Todo pintado de lama, os pedais amputados, o selim desengonçado, os raios das rodas a contorcerem-se de alegria. A sua bicicleta estava suja e abandonada. Mas era a sua bicicleta.”


É conto de fadas, é máquina literária ternurenta, de água cristalina, só podia acabar assim:
“Hussi e a sua bicicleta ainda tinham muito que falar. Era toda uma guerra para partilhar. Algumas coisas boas, muito más. À luz do dia, olhos nos olhos, sem transmissão de pensamento. Hussi limpou o retrovisor com o seu velho lenço amarelado, sacudiu o pó que asfixiava o cachecol do Barcelona, colocou a fitinha tricolor do outro lado do guiador, ajustou os pedais com a sola das sandálias. Quando se sentou no selim, sentiu-se outra vez dono do mundo. E os dois pedalaram para a eternidade”.

Comandante Hussi, por Jorge Araújo e ilustrações de Pedro Sousa Pereira, a história do menino-soldado que não perdeu a capacidade de sonhar, é edição do Clube do Autor, 2011. De leitura obrigatória.


Fotografia de João Francisco Vilhena no semanário “O Independente”, maio de 1999.
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Notas do editor

[1] - Vd. poste de 24 DE SETEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10428: Notas de leitura (409): "Comandante Hussi", de Jorge Araújo (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 2 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23220: Notas de leitura (1442): "Pedaços de Vidas", por Angelino Santos Silva; Mosaico de Palavras, 2010 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23235: 18º aniversário do nosso blogue (12): Entrevista com Leopoldo Senghor, ao "Jeune Afrique", n.º 701, de 15/6/1974, sobre os seus contactos com o gen Spínola e com o PAIGC, reproduzida, em português, no Boletim do MFA, Bissau, n.º 2, 17/6/1974 (Victor Costa, ex-fur mil at inf, CCAÇ 4541/72, Safim, 1974)


Leopoldo Senghor, presidente da República do Senegal, 
entre 1960 e 1980. 



1. O nosso camarada Victor Costa, ex-fur mil at inf, Victor Costa,  mandou-nos este "recorte de imprensa", que reproduzimos abaixo. Trata-se de uma entrevista dada pelo então presidente da República do Senegal (o primeiro, entre 1960-1980), poeta, teórico da negritude, panafricanista e profundamente francófono Léopold Sédar Senghor (1906-2001) ao influente jornal "Jeune Afrique", n.º 701, de 15 de junho de 1974, traduzida e reproduzida no Boletim do MFA, Bissau, n.º 2, de 17 de junho de 1974, ou seja, dois dias depois. 

O jornalista, que entrevista o Leopoldo Senghor, é Jean-Pierre N' Diaye. Em 13 de março de 1975, Senghor (apelido paterno, para uns corruptela da palavra portuguesa "Senhor", para outros um apelido sererê, veja-se a o artigo em inglês na Wikipedia),  filho de pai sererê, rico comerciante de amendoim, e filho de mãe de origem fula (a terceira esposa do pai),  é agraciado, em Portugal,  com o Grande Colar da Ordem Militar de Santiago da Espada. E em 1980 iria receber o Doutoramento Honoris Causa da Universidade de Évora.  

Acrescente-se que o então semanário "Jeune Afrique", francófono, panafricano, tinha sido criado em Tunes, capital da Tunísia, em 1960.

Destaque

(...) É preciso nunca desesperar dos homens e jamais confundir o povo com o seu governo. Eu tive sempre um  grande afecto e  admiração pelo povo português. Sabe que o meu nome é português, que provavelmente tenho uma gota de sangue português, que os meus antepassados eram da Guiné-Bissau; e é a razão pela qual estive sempre atento a tudo o que era português. (...)

(...) Penso que é do interesse do povo português e do interesse dos povos da Guiné-Bissau,  Angola e Moçambique,  guardar laços com Portugal depois da sua independência. (...)











Entrevista do presidente da República do Senegal, Leopoldo Sédar Senghor, ao semanário "Jeune Afrique", n.º 701, de 15 de junho de 1974, traduzido e reproduzido no Boletim do MFA, Bissau, n.º 2, de 17 de junho de 1974 (dois dias depois). 

Vamos associar este documento à celebração do 18º aniversário do nosso blogue (nascido em 23 de abril de 2004) (**). Obrigado, Victor Costa,
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23234: (In)citações (205): O general Spínola, a guerra e a paz (Victor Costa, ex-fur mil, at inf, CCAÇ 4541/72, Safim, 1974)

(**) Último poste da série > 4 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23226: 18º aniversário do nosso blogue (11): O enviado especial do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues, em julho de 1972, no CTIG: uma "crónica imperfeita" em quatro artigos - IV (e última) Parte: 31 de agosto de 1972: "Spínola: Infelizmente ainda tenho que dar tiros, mas a guerra não se ganha aos tiros"... Mas o pior será quando a guerra acabar, conclui o Avelino Rodrigues...