quarta-feira, 8 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20829: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (11): Viagem a Mansoa e a Bafatá, onde estamos a levar a água potável aos hospitais... Este ano, muita gente vai morrer, não da COVID-19, mas de fome: o caju ninguém o vem cá comprar...


Guiné-Bissau > Bissau > Abril de 2020 > Fruta da época... Mango ou manga, fruto da mangueira (Mangifera indica)


Guiné-Bissau > Região do Oio  > Mansoa > Abril de 2020 > Ponte sobre o rio Mansoa


Guiné-Bissau > Região do Oio  > Mansoa > Abril de 2020 > Ponte Nova,  na estrada para Mansabá (a nordeste)


Guiné-Bissau > Região do Oio  > Mansoa > Abril de 2020 > Restos da ponte antiga


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Guiné-Bissau > Região de Bafatá   > Bafatá > Abril de 2020 > Rio Geba, ponte nova


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Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2020) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso amaigo e camarada Patrício Ribeiro, um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]

Date: domingo, 5/04/2020 à(s) 12:43
Subject: Viagem ao interior da Guiné

Bom dia, Luís

Já chegamos ontem há noite a Bissau.

Tenho alguma fotos para enviar, desta viagem de 3 dias, mas ainda está no WTS, quando tiver tempo passo para o email, para te enviar.

Informo que ainda há cerveja em Bafatá e com os 45º do telemóvel, temos que beber muiiiii...tasssss.

Lá em Bafatá, deixamos mais uns milhares de pessoas, com água potável, na zona do quartel e Ponte Nova. Assim como no "velho" hospital, que todos conheceram. Naquela noite nasceram 9 bebés, com água corrente nas torneiras.

O Hospital de Gabú também já tem água. O Hospital de Mansoa, estamos a tratar assim como em outros hospitais.

Por cá, começa a haver algumas restrições na circulação, que pouca gente cumpre... Eles vão apertando, mas se apertarem mais... a população das cidades morre primeiro de fome ... já que agora a malária é pouca.

No campo, é a época das frutas: caju, mango, galinhas, cabra, etc. Está tudo é muito seco. Como a maioria da população, vive da colheita do caju, como este ano ninguém a vem comprar,
vai haver muita fome na Guiné.

Abraço,
Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guine Bissau
Tel,00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com

12 comentários:

Cesar Dias disse...

50 Anos depois, vejo a Ponte de Mansoa, era na altura a ponte nova, mas apesar dos tempos ainda está de pé, tem sido poupada. Obrigado Patricio Ribeiro pela possibilidade que nos dás de rever algumas paisagens que já estão a ficar menos claras na nossa memória.
Bem hajas

César Dias

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Mais um profeta de desgraças ???!!!!

Sempre que surgem problemas e crises no mundo, nao faltam os profetas de desgraças que antecipam o apocalipse sempre esperado para a Africa, mas que milagrosamente acaba sempre por nao acontecer. Pois esquecem-se que como diz um provérbio africano "a vaca sem rabo é Deus que enxota as moscas".

Nos gabinetes geostratégicos do mundo occidental e, talvez nao so, a França nomeadamente, ja estao a desenhar cenarios da catastrofe que vai cair sobre a Africa e prever medidas de acompanhamento e de salvaguarda do seu (neo)colonialismo. As medidas de apoio e ajuda humanitaria passam para o segundo plano e, esquecem-se da força divina.

Com ajuda de Deus, tudo ha-de se resolver e ninguém morrera de fome, da mesma forma que nao morremos de fome no period pos-independencia, quando as empresas portuguesas de transformaçao de amendoim deixaram de comprar o nosso amendoim e se viraram para o soja na América Latina.

Como diz a escritora senegalesa Mariama Ndoye « Entre la main qui se lève et la main qui s´abat sur une victime, Dieu peut intervenir sans demander la permission à qui que ce soi » (Mariama Ndoye_ In comme du bon pain_ Roman).

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

José Botelho Colaço disse...

Amigo Cherno o optimismo é meio caminho andado para a victóriam, mas atenção também não consegue que tudo se resolva a 100%. Um abraço.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Profeta da desgraça ?, Não, Cherno, meu irmãozinho, o Patrício Ribeiro, já septuagenário, é tão "guineense" como tu... E eu tenho um grande respeito e admiração por ele... que podia estar em Portugal a "gozar dos rendimentos", mas não, continua a trabalhar ao lado do seu filho e demais colaboradores, na empresa, a Impar Lda, que ele fundou, em boa hora.

Não sei quantos são hoje em dia, mas há tempos ele dizia-me que tinha 100 trabalhadores, mais ou menos fixos, o que na Guiné quer dizer muitas centenas de bocas a alimentar... E mais: dizia-me que era preciso planear muito bem o trabalho, para que os salários não falhassem e ele pudesse pagar a quem colabora com ele...

Oxalá todas as empresas na Guiné-Bissau, nacionais ou estrangeiras, tivessem este sentido de responsabilidade social!

Ele conhece a tua terra como poucos, é um homemm solidário, mas discreto... Nunca o vi pôr-se em bicos dos pés!... Claro que é um empresário, e tem posto o melhor da sua empresa ao serviço da Guiné-Bissau, e em especial do "chão fula"...

Quando ele diz que vai haver fome, está a pôr um dedo na ferida da economia da Guiné-Bissau, extremamente dependente da produção e exportação do caju... Oxalá o seu prognóstico não se confirme. E não vai confirmar-se... E que o dinheiro do caju exportado chegue às famílias dos agricultores, e que, com ele, eles possam comprar o arroz, importado, que é a base da sua alimentação.

Em Portugal, também há um provérbio popular que diz: "Deus cura os doentes, e o médico recebe o dinheiro".

Meu irmãozinho, vai-nos dando boas notícias da tua terra, a nossa querida Guiné... A COVID-19 e a fome não passarão!... E que Deus, Alá e os bons irãs nos protejam a todos!

Anónimo disse...

Caros amigos Colaço e Luis,

E eu digo: Oxala ninguém compre o caju (claro que vao comprar porque é do melhor que ha e nao tem concorrentes em termos de qualidade), assim aprendiamos a mesma liçao que Portugal e a Europa estao a aprender sobre o seu parque industrial que entregaram aos chineses e o seu "Made in China".

O caju é como uma praga para a GBissau que esta a matar as suas vontades e capacidades de produçao Agricola para sentar-se a sombra dos cajueiros para trocar este produto com o arroz que vem da China e outros paises asiaticos, quando na verdade, houvesse vontade politica e discernimento, podiamos produzir tudo aqui e acabar com a humilhante dependencia do exterior.

Oxala nao comprem porque as desgraças servem, precisamente, para isso, isto é (parafraseando A. Cabral) ensinar os povos e as sociedades a seguir na senda da verdade, do caminho recto, dentro das realidades que lhes sao proprias.

Abraços.

PS: Nao tenho nada contra o Sr. Patricio, simplesmennte achei exagerado e funesto o seu prognostico com o qual nao concord. A africano precisa de muito mais para sucumbir, é resiliente por natureza e o COVID-19 nao passara e com a fome vamos negociando como sempre.

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Luis Graça,

Li o texto da tua interessante entrevista sobre as pandemias que achei muito pedagogico, digno de um Professor da saude publica. Até ler esta entrevista, estava convencido que so os Russos é que nao gostavam da agua, pois tive colegas e amigos Russos/Ucranianos que, mesmo apos uma partida de futebol, so passavam uma toalha molhada a volta do corpo e da cintura para cima. Afinal os Irlandeses, se calhar todos os Nordicos, nao eram muito diferentes, e depois os africanos é que nao eram civilizados. Sempre a aprender convosco.

Cherno AB

Anónimo disse...

Caro Cherno

Como sabes as doenças infecto-contagiosas, a sub-nutrição ou mesmo fome endémica é "mato" em África, se lhe juntarmos as deficientes condições sanitárias em geral é trivial que a mortalidade seja elevada e a idade média de vida seja inferior a outros continentes.
O COVIV 19 será mais uma a juntar a tantas outras.

O que realmente assusta é o que vem a seguir a esta pandemia ...uma recessão económica global sem precedentes,mistura-lhe a instabilidade política crónica e será o caos.

Desejo-te tudo de bom e também para a tua família.

AB

C.Martins

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Cherno, em relação à peste de 1348/53, há indicações (historiográficas) de que foi mais desvastora na Europa do Sul do que no Norte de África...

O cristanismoa medieval combateu duramente a tradição romana dos banhos públicos, de algum modo valorizada pela medicina judaica e árabe na península ibérica... E eu citei este exemplo, na entrevista (que, por extensa, não foi reporduzida na íntegra): homens da Igreja como São Jerónimo (c.343-420) não viam razões válidas para um cristão tomar banho depois do baptismo... Este preconceito teológico em relação aos cuidados de higiene corporal moldou mentalidades e hábitos, com consequências nefastas na saúde da população europeia até tarde...

Pode-se dizer que o homem europeu até ao séc. XIX não tem hábitos de higiene pessoal, a começar pelo rei, corte e demais elites... Os progressos que se fizeram, a partir da segunda metade do séc. XIX, devem-se muito à Saúde Pública, nos países que lideraram a revolução industrial (Grã-Bretanha, Alemanha...).

Até então o operário inglês só se lavava duas vezes, ao nascer e ao morrer, por uma razão simples: levantava-se de noite para ir trabalhar nas fábricas e regressava a casa de noite, não tinha água potável, nem esgotos, nem casa de banho...O Rio Tamisa em Londres era um cloaca...

premente necessidade de controlar e prevenir as doenças infectocontagiosas e as frequentes epidemias de tifo, varíola e cólera, que leva à adopção das primeiras medidas com vista à melhoria das condições sanitárias da população em geral (incluindo a emergente classe operária que se concentra à volta das novas cidades industriais, altamente poluídas e pestilenciais).

Muito antes do desenvolvimento da revolução pasteuriana e da bacteriologia, bem como dos progressos científicos e técnicos da medicina, e do desenvolvimento hospitalar o grande contributo para a melhoria das condições de vida da população europeia será então reservado à saúde pública, ao preconizar e implementar medidas tão elementares como o abastecimento de água potável, a rede de saneamento básico, a utilização de desinfectantes, a recolha do lixo nas grandes aglomerações urbanas que resultaram da industrialização, a vacinação, a criação da inspecção do trabalho e da autoridade de saúde a nível local, etc.

Anónimo disse...

Caro C. Martins,

Tens toda a razao, ao que parece o COVID-19 é como fogo de lala (bolanha), e que quanto mais mato (idosos) tiver mais forte sera. Na Africa ao sul do Sahara, habituada as queimadas sazonais, o mais provavel é que seja mais uma queimada dentre as demais num mato cada vez mais escasso. O pior efeito podera ser de falta de subsistencia, devido a fragilidade das economias nacionais. Aqui a secular solidariedade Africana vai contar muito para ultrapassar este desafio.

Abraços,

Cherno AB

Antº Rosinha disse...

Quemm tiver doenças tipo asmas, ou problemas respiratórios, constipações e ande sempre muito ranhoso, com rouquidões e ande sempre na farmácia por causa destas porcarias, que tire férias prolongadas e vá para Bissau, na Guiné, ou Angola, menos na marginal de Luanda.

Não cobro nada pela consulta.

Manuel Luís Lomba disse...

Em tudo o relativo à Guiné, nós, veteranos da sua guerra, não raro evidenciamos o romantismo ou o amor (platónico) àquela terra e gente.
Para introduzir a cultura do amendoim (mancarra, para os guineenses e alcaguita, para os alentejanos) e do caju ou "fruto falso", na economia da Guiné-Bissau, os nossos antepassados, inventores do "colonialismo", tiveram de descobrir o Brasil...
Na réplica do Cherno Baldé ao post do Patrício Ribeiro está implícito um protesto: antes da chegada dos portugueses, do seu amendoim e do seu caju, já os guineenses eram auto-suficientes - morreriam de vírus, mas não morriam à fome!
A propósito da Guerra da Guiné, a ordem dos factores não é arbitral.
A sua iniciativa será "património imaterial" dos seus naturais e à custa dos "colonialistas portugueses". Consta-nos que Nuno Tristão e a sua malta andavam em turismo aquático (em demanda de "galinha à cafreal"?), os nalus montaram-lhe uma emboscada e ele "lerpou" com uma seta envenenada e sem dar um tiro. Nalús e balantas esperaram 500 anos e, à molhada (e sem fé em Alá, como animistas), atacaram o quartel de Tite - "património material", como o momento do início da Guerra da Libertação, que durou 11 anos para libertar seu território, mas vai para 60 anos que não liberta o seu Povo...
Será que o caju substituiu o amendoim?
A CUF (Casa Gouveia) fora sempre o maior comprador de amendoim, e, acontecido o cessar-fogo, foi o primeiro "capitalista-monopolista" português a entender-se com o PAIGC em matérias de negócio. Ambas foram nacionalizadas. Ao desmantelar-se, a CUF generalizou a fome na península de Setúbal, um "bispo vermelho" emergiu à altura da situação (D. Manuel Martins); a Casa Gouveia e a sua organização foi reciclada em Armazéns do Povo e as suas prateleiras e armazéns vazios foram uma das razões para o golpe de Estado de 1980, em Bissau.
O modelo de "economia planificada" foi concebido e materializado pela "inteligência" do PAIGC, obra-prima do desconhecimento do país e povo, reforçada pela "inteligência" de outros de diferentes nacionalidades, entre os quais portugueses, militantes do nosso PREC e da sua falência. A Guiné-Bissau será um caso-vítima do tráfico da "Cooperação".
A dinâmica da fileira do amendoim assentava no micro-produtor e no comércio retalhista, que, pelo novo paradigma, passaram a "funcionários públicos", mas, em vez de o entregar aos Armazéns do Povo e à sua burocracia, passaram a contrabandeá-lo pelas fronteiras da G-Conacri e do Senegal, o que provocará a ruptura dos fornecimentos à indústria portuguesa.
Continua

Manuel Luís Lomba disse...

(Continuado)
O comentário ao tema do Patrício Ribeiro-Cherno Baldé saiu-me longo, a culpa principal será imputável ao "terrorista" Covid 19 e a secundária ao alvoroço que sinto em comunicar com dois camaradas, com os pés e a vida no chão da minha nostálgica Guiné. Levo 4 semanas de confinamento, e, se escapei ao dito cujo, não escapei aos tormentos do ácido úrico e da tormento - a "gota".
O que acabo de dizer acerca da dinâmica da cultura do amendoim reflecte a auto-crítica do seu primeiro PR Luís Cabral na RTP, que disse também ter fundado uma fábrica de sumos, com a exportação garantida para um supermercado de Cascais (era o Pão de Açúcar) e que morreu sem funcionar (o destino do Complexo do Cumeré e das principais indústrias, que a sua "Economia planificada" instalou.
Quanto ao caju, a Guiné começou a sua exportação em 1966, ano do meu regresso, tendo saboreado o seu "falso fruto" em Buruntuma e em Camajabá, (bem maduro, senão queimava-nos a boca), que parou pós-independência,foi retomada em 1984 e alcançou elevada massa crítica, como riqueza da Guiné-Bissau.
E, retomando o parágrafo inicial, do feitiço da Guiné aos ex-combatentes, o comandante Alpoim Calvão passou de "terrível", na guerra de libertação, a dedicado amante da Guiné, tendo alcançado o estatuto de maior empreendedor país, criando centenas de postos de trabalho na cultura e fabricas de caju.
Vou aproveitar o espaço para bicar o comentário do Luís Graça.
S. Jerónimo, campeão do assédio e das tentações do sexo oposto, terá razão. Se o baptismo lava a alma para sempre e sendo o corpo o invólucro da dita, logo também ficará lavado.
Depois das suas comissões em Jerusalém, em contacto com as civilizações e culturas de judeus e muçulmanos, os cavaleiros medievais regressados criaram grandes choques sociológicos nos seus países - haviam assimilado a higiene deles, aparavam a barba, lavavam-se, tomavam banho e...perfumavam-se!
Os Templários viviam com tal carga de piolhos que o combate era um lenitivo - as estucadas e as lançadas amenizavam-lhes a coceira...
Cuidem-se dos In - invisíveis mas sentidos.
Ab.
Manuel Luís Lomba