sábado, 15 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20653: Os nossos seres, saberes e lazeres (377): A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Setembro de 2019:

Queridos amigos,
Por aqui se desfiam recordações, décadas a fio a percorrer Bruxelas, a vadiar, graças ao comboio, por lugares atrativos, a ter o privilégio de alguns amigos irem assegurando viagens curtas pela Valónia e pela Flandres, consegue-se este mapeamento que não fica só no coração e sai assim aos soluços, mas há o recurso a muitos sacos de plástico com folhetos das digressões efetuadas, há os livros e até bilhetes de entradas em museus e concertos.
Tudo somado e desmultiplicado, aqui se deixam notas soltas sobre o tal país muito plano, criado artificialmente para travar ambições à França e à Alemanha, esta Bélgica que se divorciou da Holanda, ocupada durante as guerras mundiais e que conserva uma capital que tem eventos culturais por metro quadrado como nenhuma outra cidade no mundo.
Esta é a Bélgica que se me entranhou com lembrança perpétua.

Um abraço do
Mário


A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (5)

Beja Santos

Como se fosse hoje, mas de facto aconteceu em 1977, quando o viandante saiu na Gare Central, era tudo um descampado à volta, chamou-lhe a atenção uma pequena igreja, e para lá se dirigiu, de mala aviada. Ficou logo com a ideia que era um edifício desasado, e veio a confirmar que aquela igreja fazia parte de um convento que foi destruído nas guerras religiosas do século XVI. Guarda a portada barroca, foi restaurada nos anos 50, tem um belo vitral, bem datado. A propósito de vitrais, quem visita Bruxelas não deve perder a sumptuosidade da catedral, vitrais magníficos. Rezam os guias que estes vitrais da catedral tem um valor excecional, neles intervieram grandes artistas do século XVI como Bernard van Orley.

Igreja da Madalena, Bruxelas.


Vitrais da Catedral de S. Miguel e Santa Gudula.

A cerca de uma hora de Bruxelas, o viandante tem à sua espera, a partir da gare central, a febril cidade de Antuérpia. A catedral é impressionante, é o edifício mais alto da cidade, começou a ser construída em meados do século XIV, e a sua torre com 123 metros ficou concluída em 1530. Merece uma visita prolongada e conserva uma excecional peça de Rubens, cada vez que o viandante por lá passa tira sempre fotografia e vem comprar os respetivos postais.

Catedral de Nossa Senhora, Antuérpia.

“A Elevação da Cruz”, de Rubens, Catedral da Antuérpia.

Visitar Tongres, é como ir a Arlon ou a Tournai, os lugares mais vetustos da Bélgica. Estamos em território flamengo, por aqui aconteceram piratarias dos Hunos e dos Normandos, aqui se expressou uma arte decorrente da espiritualidade da Renânia. O claustro é antiquíssimo, data do século XII e é de uma beleza sem rival a sua galeria com arcadas, não se pode ficar insensível à harmoniosa alternância das colunas isoladas e acopladas.


Claustro de Tongres.

Várias vezes o viandante deambulou pela Abadia de Orval, a escassos quilómetros da fronteira francesa. Obra dos Beneditinos do século XII, eram discípulos de S. Bernardo. Estas ruínas são da primeira Igreja Cisterciense, pilhada, devastada e incendiada em 1637. Com a Revolução Francesa, a abadia voltou a ser devastada e pilhada. Ali ao lado temos uma terceira igreja, em cor de mel, foi consagrada em setembro de 1948, mas estas ruínas fazem ecoar a grandeza que o homem levanta e tem capacidade de arrasar sem remissão, ficam os vestígios de uma espiritualidade mutilada.

Abadia de Orval.

Há edifícios municipais na Bélgica que atestam opulência e majestade. Diante deste Hôtel de Ville não se tem dificuldade em sentir que foi erigido como manifestação de orgulho, data do tempo de Carlos V, é todo ele imponência, marcado pelo gótico flamejante. No alto da cúpula temos a representação da Coroa Imperial de Carlos V. Digamos que Audenarde não tem muito que se veja mas não se pode perder esta preciosidade.

Edifício da Câmara Municipal de Audenarde.

Voltamos a Bruxelas, e desta vez a uma avenida que ainda guarda marcas do fausto do século XIX, a Avenida Louise, foi então um elemento de ligação entre o rico centro urbano e os arrabaldes rurais e florestais até conhecer a urbanização maciça, que foi implacável a desfigurar a antiga grandeza, as árvores foram dizimadas, a avenida está furada por túneis e tornou-se numa autoestrada urbana, mas ficaram edifícios do seu antigo esplendor e os jardins são muito belos, veja-se esta escultura, não tenho dúvidas em que mereça todos os encómios como um dos expoentes da arte urbana de Bruxelas.

Escultura de Olivier Strebelle na Avenida Louise, Bruxelas.

Prosseguem as recordações. Foi sobretudo a partir do período da sua reforma que o viandante e o amigo belga que o acolhia em Watermael-Boitsfort passaram a visitar regularmente a Abadia de la Cambre, e era obrigatório entrar na igreja que foi erigida no século XIV, com as intervenções habituais correntes nesta arquitetura religiosa. Os guias turísticos recomendam uma visita a esta igreja para admirar uma cabeça de Cristo atribuída a Albert Bouts (século XV).

Interior da Igreja da Abadia de la Cambre.

No termo desta viagem com regresso inesperado, o viandante vai prazenteiro até ao Parque Josaphat, com jardinagem à inglesa, enxameado de belas esculturas, a visita é obrigatória no tempo das tulipas. E com um toque de nostalgia acaba hoje a viagem para recomeçar num amanhã incerto, mas sempre suspirado.

Escultura clássica do Parque Josaphat, Bruxelas.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20632: Os nossos seres, saberes e lazeres (376): A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (4) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20652: Em busca de... (301): 2.º sargento miliciano Augusto Ali Jaló, do Pel Caç Nat 58 (Mansoa, 1970/74)... Com a cabeça a prémio, depois da independência, fugiu para o Senegal e daqui para Lisboa... Mas ninguém sabe hoje do seu paradeiro (Daniel Jacob Pestana / Jorge Picado)

1. O Daniel Jacob Pestana que se apresentou há dias à Tabanca Grande (*) , como ex-alferes miliciano de Operações Especiais,  CCaç 4641 (Mansoa e Bissau na Comissão de Extinção da Pide/ DGS, 1973/74), fez-nos também um pedido, que vamos aqui recordar:

(...) Nesta primeira mensagem, solicito a ajuda possível, tendo em vista a localização de um ex-militar Africano, que estava colocado em Mansoa, Era, salvo erro, 2º Sargento do quadro permanente, de nome Jaló, e vendia gado, que vinha do Senegal, para a nossa tropa.

Foi a ele que alugámos uma casa ao lado da sua residência de família, onde eu vivi durante uns meses com a minha mulher.  A mulher dele era Fula, de nome Lama, e, apesar da barreira da língua, entendia-se perfeitamente com a minha mulher. Tinham três filhos pequenitos, que eram o encanto da minha mulher.

Gostávamos muito de os reencontrar, mas até à data não temos tido sucesso. Ficarei, desde já, agradecido por qualquer informação sobre a sua actual localização. (...)


2. A resposta, célere, veio do nosso camarada do Jorge Picado, ilhavense, membro sénior da nossa Tabanca Grande, veterano dos nossos encontros nacionais, tendo cerca de 110 referências no nosso blogue; engenheiro agrónomo reformado; ex-cap mil, CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá, e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72;

Caro Camarada Daniel Pestana

A pessoa em causa só pode ser o 2.º Sarg Mil Augusto Ali Jaló, que pertenceu, e possivelmente no teu tempo ainda pertencia,  ao Pel Caç Nat 58, que no meu tempo (1970/71) era um dos Pel Caç Nat de reforço à CCaç 2589. 

De facto era, segundo julgo, Futa-fula, filho de um importante lider religioso da Zona Leste de nome Mama Ingar, i habitante em Cambor (?). Foi dos que escapou na fatídica emboscada de 12 de Outubro de 1970 entre Braia e Infandre: apesar de ferido conseguiu esconder-se num buraco tapado pela vegetação, não sendo assim capturado apesar da grande "caça" que lhe fizeram, pois era um homem "marcado" pelo PAIGC, dada a grande influência e importância que tinha face aos africanos.

Conseguiu escapar após a independência, uma vez que "tinha a cabeça a prémio" com se costuma dizer, chegando ao Senegal e por lá andando fugido até conseguir chegar a Lisboa.

Quando tive conhecimento disto,  ainda tentei contactá-lo pelo n.º de telemóvel  que me deram, apesar de me avisarem que,  não conhecendo ele o meu n.úmero, não atenderia, como de facto aconteceu. 

O meu informador, camarada dessa minha Companhia,  também já lhe tinha perdido o rasto, uma vez que ele, mesmo em Lisboa, não "parava" muito tempo no mesmo sítio por se saber perseguido.
Em todos os almoços da Unidade pergunto por ele aos poucos camaradas do sul que ainda restam, mas até hoje não há mais informações sobre ele.

Sê bem vindo e abraço de um também "Mansoanca"

Jorge Picado
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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20651: (Ex)citações (363); em dia de namorados, qual é a morna mais romântica de todos os tempos ? Segundo o "Expresso das Ilhas", é "A Força de Cretceu", a força do amor, poema do grande poeta da Brava, Eugénio Tavares, que nasceu (1867) e morreu (1930) em Nova Sintra



Cabo Verde > Ilha da Brava > 6 de novembro de 2012 >  Estátua do grande poeta Eugénio Tavares (1867-1930)...   


["Brava é uma ilha e concelho do Sotavento de Cabo Verde. A sua maior povoação é a vila de Nova Sintra. O único concelho da ilha tem cerca de sete mil habitantes. Com 67 km², Brava é a menor das ilhas habitadas de Cabo Verde, e tem uma densidade populacional de 101,49/km². A ilha tem uma escola, um liceu, uma igreja e uma praça, a Praça Eugénio Tavares". Fonte: Wikipédia]


Foto (e legenda): © João Graça (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O "Expresso das Ilhas", na sua edição "on line", de hoje, dia dos namorados, fez um a pequena inquirição junto de um conjunto de personalidades cabo-verdianas do mundo da música e da literatura, sobre a morna mais romântica de todos os tempos...

(...) "Morna, música rainha de Cabo Verde e Património Imaterial da Humanidade, é a expressão musical da alma um povo. E é uma expressão, por natureza, romântica. Mas dentro de toda a variedade de mornas, há composições que se salientam, pela ode que fazem ao Amor e aos amores.

"Para marcar este dia de São Valentim, inquirimos algumas pessoas directa ou indirectamente ligadas à música e poesia: Qual é a morna mais romântica de sempre?

"Com tantas e tantas composições de excelência e referência que Morna gravou ao longo do tempo, a resposta não é muito fácil. Mas há algum consenso e um Top 3" (...)


(...) "Força di Cretcheu" de Eugénio Tavares é, indiscutivelmente, a morna rainha entre as mornas românticas.

"Foi a escolha de músicos, cantores e compositores como Betú, Teté Alhinho, Tibau, Alberto Koenig, Tó Tavares, e também do antropólogo, especialista em Eugénio Tavares, Manuel Brito-Semedo.

"Seis, em oito entrevistados, colocaram-na no top das mornas românticas." (...)


2. Já quanto às interpretações, o consenso é menor, as opiniões dividindo-se entre Sãozinha Fonseca, Celina Pereira e Gardénia (, esta última, nascida na ilha da Brava tal como o poeta, está a viver nos Estados Unidos)... 

Diz Tibau: “Apesar de não ser fácil a escolha de uma versão mais bonita, escolho a na voz da Gardénia Benros, arranjos do grande Paulino Vieira."

No You Tube, há um vídeo onde se pode escutar escutar esta grande artista cabo-verdiana, interpretando "A Força de Cretceu".


A letra, fomos recuperá-la aqui, no portal da Fundação Eugénio Tavares, e reproduzimo-la, com a devida vénia... [a Fundação Eugénio Tavares tem sede em Sintra, Portugal]. 


Julgamos que não é preciso tradução para português, não obstante o fraco traquejo do crioulo cabo-verdiano... por parte da generalidade dos nossos leitores.


A Força de Cretcheu

Ca tem nada na es bida
Mas grande que amor
Se Deus ca tem medida
Amor inda é maior.
Maior que mar, que céu
Mas, entre tudo cretcheu
De meu inda é maior

Cretcheu más sabe,
É quel que é di meu
Ele é que é tchabe
Que abrim nha céu.
Cretcheu más sabe
É quel qui crem
Ai sim perdel
Morte dja bem

Ó força de cretcheu,
Que abrim nha asa em flôr
Dixam bá alcança céu
Pa'n bá odja Nôs Senhor
Pa'n bá pedil semente
De amor cuma ês di meu
Pa'n bem dá tudo djente
Pa tudo bá conché céu

Eugénio Tavares



[Fonte: EugenioTavares.org. Reproduzido com a devida vénia...]


3. Mas há aqui uma tradução, para português, de Grace Roças ( a quem agradecemos a ajudinha...). Eu arrisquei fazer pequenas 'melhorias', a pensar nos leitores portugueses...

A Força do Amor

Não tem nada nesta vida
maior do que o amor.
Se Deus não tem medida,
o amor ainda é maior.
Maior que o mar e o céu.
Mas de entre todos os amores,
o meu ainda é maior.

Amor gostoso
é  aquele que é o meu,
ele é a chave 
que abre o meu céu.
Amor gostoso
é aquele que eu quero.
Ah, se eu o perder, 
Morrerei.

Ó força do amor 
abre a minha asa em flor,
deixa-me alcançar o céu
para eu ver o Nosso Senhor,
para eu pedir a semente 
do amor bem igual ao meu,
para eu dar a toda gente,
para todos conhecerem o céu.

 

Guiné 61/74 - P20650: Convívios (915): XXXIX Encontro do Agrupamento de Transmissões da Guiné, dia 9 de Maio em Vila Nova de Famalicão (Belarmino Sardinha)

XXXIX ENCONTRO DO AGRUPAMENTO DE TRANSMISSÕES DA GUINÉ

DIA 9 DE MAIO DE 2020

VILA NOVA DE FAMALICÃO


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Nota do editor

Último poste da série de 20 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20578: Convívios (914): A festa dos 10 anos da Magnífica Tabanca da Linha: gente feliz, sem lágrimas, mas com saudades dos que já partiram - Parte II (Fotos de Jorge Canhão / Zé Rodrigues / Manuel Resende)

Guiné 61/74 - P20649: Notas de leitura (1264): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (45) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Setembro de 2019:

Queridos amigos,
Enquanto o bardo espraia a sua existência na rotina pacífica de Bissau, porque já se andou no Sul, na batalha do Como, se fez itinerância pelo Oio e arredores, havendo paz nos Bijagós, ocorre visitar um dos locais mais ásperos de toda aquela guerra, Madina do Boé, cedo o PAIGC se apercebeu que aquele lugar, aquele isolamento permitiam fazer um bulício tremendo, ter sempre à mão uma carreira de tiro, até para mostrar aos jornalistas e amantes da revolução.
O livro de Gustavo Pimenta contribui para se perceber a psicologia do combatente, resistente, preparado para viver todas as contingências da mais imprevista morteirada ou canhonada. E havia também que destilar alguns estados de alma. Gustavo Pimenta refere o que se sentia a levantar uma mina, o que nos deu aso a republicar belíssimas páginas escritas por Francisco Henriques da Silva na sua "Guerra da Bolanha".

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (45)

Beja Santos

“Este amigo e camarada
a camisa e os calções mudava.
Quando não ia passear
as botas eu não largava.

Às seis horas o clarim a tocar,
o Andrade se erguia,
e os calções ele vestia
e as botas a acompanhar.
A cara eu ia lavar.
Junto com a maçaricada
a bexiga era despejada
voltando para a caserna,
e punha a boina moderna
este amigo e camarada.

Depois de beber o café
levava horas pensando
e por letras ia contando
o que sofria na Guiné.
Eu tive sempre muita fé
que à terra natal regressava.
Na Amura os dias passava
ou alegre ou chateado,
e para andar sempre asseado
a camisa e os calções mudava.

De noite eu espairecia
a ver a mana russinha
e o nosso amigo Vidinha
com o Horta para lá ia.
O 49 e o Joaquim Maria
até chegaram a rastejar.
No canhão se vinham sentar,
junto de mim e do Teixeira.
Espiava as moças a noite inteira
quando não ia passear.

Tinha um barrete camuflado
que eu não podia deixar.
Servia para me sentar
ao chegar a qualquer lado.
Na minha cama recostado,
lia, escrevia e contava,
muitas noivas arranjava,
para não pensar na amargura.
E no quartel da Amura
as botas eu não largava.”

********************

O bardo deu em intimista, desabafa sobre o seu quotidiano, é como se nos desse luz verde para discretear sobre a guerra que continuava, ao rubro em Madina do Boé, como noutros pontos do Sul, no Oio e arredores. Porque em 1965, quando o bardo está na Amura, o PAIGC já não tem só pistolas nem armas antiquadas, há mais de um ano que usa minas, flagela com morteiros e bazucas, sobre quartéis e nas picadas. Alguns aquartelamentos, pelo seu isolamento, são o bombo da festa. É o caso de Madina, como escreve em “sairòmeM, Guerra Colonial”, Gustavo Pimenta, Palimage Editores, 2000. É um romance inequivocamente diferente de tudo quanto até agora se referiu, como logo o título alude é escrito do fim para o princípio, o leitor é forçado a um exercício de dilucidação, tem pela frente uma leitura em vários sentidos. É muito intimista, não se fala em nomes, regra geral, não há assomos de farronca nem tiques de heroísmo, temo-lo a observar a inquietação que assedia os outros que o acompanham.
Assim:
“Que sentirá um condutor-auto quando vê minas a destruírem sucessivamente as viaturas que o precedem e tem, de súbito, de ser ele a conduzir a que vai na cabeça da coluna? Sozinho, entregue aos seus pensamentos, que pensará?
Na mulher? Nos filhos?
Há poucos gestos comparáveis aos daqueles que vi, serenamente, sem protesto nem resmungo, assumir o lugar da mais presumível das vítimas. Quero supor que os animava o sentido do mais sagrado dos deveres. Que é o de, pela simplicidade de quem acredita e cumpre um destino, se oferecerem à troca por quem foi condenado a enfrentar desigualmente a roleta da vida e da morte”.

Gustavo Pimenta
Caminham para Madina do Boé, levantaram-se algumas minas entre Canjadude e o Ché Che, os T6, lá nos céus, eram presença tranquilizadora.
E descreve onde e como vive:
“Se o aquartelamento, com as enormes clareiras que o rodeavam, era praticamente inexpugnável a qualquer tentativa de assalto, a verdade é que se tornava extremamente vulnerável como alvo das elevações que o circundavam.
Deslocarmo-nos para as tarefas mais comezinhas, para uma simples mijada fora do abrigo, tornara-se numa espécie de jogo do gato e do rato. Nunca sabíamos se eles estavam à coca e nos sairia na rifa o tiro isolado do dia. Aos mais afoitos, os mais loucos, já lhes dava, às vezes, para subirem ao alto de um abrigo e despejarem insultos a tudo quanto fosse guerrilheiro inimigo e respectiva família, enquanto evidenciavam convenientes manguitos.
Foram os mais insustentáveis tempos da nossa guerra.
As múltiplas inscrições que o pessoal foi colocando, em estacas ou nas árvores, um pouco por todo o lado, eram significativas. Na zona mais exposta a esse verdadeiro exercício de tiro ao alvo, qual barraca de feira, ficava uma avenida Lee Oswald. Na parte central do quartel, protegido por quatro estacas com arame à volta, estava o monumento ao mijo, uma granada de morteiro semienterrada, que não rebentara. Do lado da pista, na única entrada, protegida com cavalos de arame farpado, por onde entravam viaturas, estava uma banca repleta de recordações de Madina: empenas de granadas de morteiro e de canhão sem recuo. Se pudéssemos, tínhamos lá misturado todas as nossas angústias.”

Numa atmosfera destas, importava manter regras, incentivar o lúdico, jogar a sério o jogo da normalidade, o capitão exigia que andassem indumentados, limpassem as armas, engraxassem as botas, o pessoal ocupava-se do lúdico, como Gustavo Pimenta observa:
“Para além dos jogos de cartas ou de tabuleiro, que se podiam praticar dentro dos abrigos, recorria-se aos que se pudessem concretizar no exterior mas que não implicassem grandes ajuntamentos. Uma granada de morteiro no meio de um campo de futebol seria uma tragédia.
A malha era dos jogos que mais se praticavam. Na zona de cada abrigo, com mais ou menos vales pelo meio, havia um espaço onde se arremessavam as pedras escolhidas ou as rodelas de tronco de árvore que serviam de malha. Os mecos, executados com primor, quase carinho, partir-se-iam amiudadamente, a cada mecada, senão tivesse havido o cuidado de escolher a madeira adequada”.

Num contexto de iminência de flagelação, naquele isolamento quase perpétuo, há alguém que é saudado com especial fervor:
“Cada piloto que nos visitava era recebido na pista: balde de gelo, água Perrier e garrafa de uísque na mão. A evidenciar a gratidão pelo risco, sempre grande, de o atrevimento de poisar em Madina. Se alguém nos podia pedir o que quisesse, eram esses bravos homens que nos consentiam, em regra semanalmente, a partilha de outros mundos, do mundo dos outros, que tínhamos a ilusão de ter quase à mão”.

E um dia saíram de Madina e mudaram de rumo, no entretanto ocorreu aquela catástrofe de fevereiro de 1969 que dizimou muita gente na travessia do Ché Che. Já estão em S. Domingos, este nosso alferes Gustavo Pimenta levanta minas, e não omite a aflição que pode ir na alma de quem o faz. Livro de uma urdidura raríssima, um verdadeiro filme desbobinado, que assim começa para depois preparar o seu termo:
“O beijo da minha mãe durava uma eternidade. Fechara os olhos para que o retrato fosse imperecível. Nas cores esmaecidas da casa, no amarelo tímido do meu quarto, o da frente, junto à rua. Nos meus, que me prodigalizavam abraços, venturas e lágrimas.
Tinha o pressentimento de que nunca mais seria o mesmo. Estava a despedir-me de mim”.

Houve Madina do Boé, depois S. Domingos, como já tinha havido Fá Mandinga e a região do Xime. Fez-se uma viagem para o Norte, depois de desembarcar e ganhar a disponibilidade. Regressa como cão, o motorista de táxis bem protestou.
E tudo acaba onde começou:
“A casa antiga – para não dizer velha – acolheu-me com o cheiro e o conforto que a memória reconheceu. Quanto tempo passado e como tudo me pareceu, de súbito, regressar ao princípio. As mesmas cores esmaecidas, em particular o amarelo da porta e janelas, o mesmo soalho corrido com tábuas carcomidas entremeadas, aqui e ali, por novas impecavelmente aplicadas, a motorizada logo à entrada do corredor e, ainda, a mesma cortina encobrindo o cubículo das garrafas de gás”.

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E a pensar no terrífico desse levantamento das minas, ocorreu-me alguns dos mais belos parágrafos que vi escritos sobre os estados de alma que percorrem esse levantador na hora da verdade, belos parágrafos que constam no livro “Guerra na Bolanha”, por Francisco Henriques da Silva, Âncora Editora, março de 2015:
“O que se passa pela cabeça quando estamos a desmontar uma mina com cerca de seis quilos e meio de trotil? Sabemos que qualquer erro seria, como diziam os nossos instrutores em Tancos, o primeiro, o único e o fatal. Nesse momento tudo nos incomoda, as pessoas, o arvoredo, a areia seca do arremedo da estrada em que nos encontramos, os ruídos indefinidos da floresta, as formigas que, indiferentes, passeavam num carreiro ali ao lado; alguém que assobiou lá ao longe, sem qualquer motivo; o fundo de um cigarro que o furriel deitou ali bem perto de nós, há minutos. E depois o que nos passa em flashes sucessivos pela cabeça: os eléctricos amarelos de Lisboa, tão perto do nosso coração e tão longe; a namorada que já não tínhamos, mas que podíamos ter; a última música dos Beatles, que era bem gira; os pais, os irmãos e a avó, com os seus límpidos olhos azuis e o seu ar autoritário; os estudos inacabados; a estupidez incomensurável da guerra naquele país ignorado e que poucos sabiam localizar com exatidão no mapa. Enfim, o que é que, em boa verdade, não nos passa pela cabeça? Mas, atenção: temos de nos concentrar, o importante é desactivar a mina, tão depressa quanto possível, mas sem grandes pressas. Temos medo? Creio que não. Estamos apenas apreensivos. Como é que isto se define? Não sei. A juventude e alguma inconsciência que a caracteriza acaba com qualquer vislumbre de medo e a prudência não é para aqui chamada. 

Francisco Henriques da Silva
Vamos a isto? Vamos! Mãos à obra.
Com efeito, ao escavar a terra sob a parte inferior da caixa de madeira da mina anticarro, deparei com algo de estranho, não sabia exactamente o que era. Parecia-me um arame, junto com um objecto redondo metálico em forma de pastilha. Não percebi muito bem o que era, mas estava desconfiado. Não conseguia, porém, escavar mais, até porque podia desequilibrar a mina e se esta estivesse contra-armadilhada podia dar por terminada a minha comissão na Guiné e começar outra de imediato no Além. Acresce que, à torreira do sol, estava com as mãos suadas e sujas de terra. Não podia continuar. Lembrei-me de um alferes sapador que, uma semana antes, lá para o Sul, deixou escapar o percutor e ficou feito em carne picada, que, segundo me contaram, mal cabia toda dentro de um quico. Para rematar, com todos os acontecimentos do dia, estava enervado com pequenas coisas e não com a mina propriamente dita, ou seria por causa dela?”

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 7 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20628: Notas de leitura (1262): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (44) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 10 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20639: Notas de leitura (1263): O nosso Guiné de Cabo Verde: as metamorfoses de um espaço (séculos XVI-XVII), por José da Silva Horta (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20648: Tabanca da Diáspora Lusófona (5): A história de mil anos de Portugal explicada numa hora à comunidade eslovena em Nova Iorque (João Crisóstomo) - Parte II


O nosso camarada João Crisóstomo, luso-americano, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes... 




Conversa sobre Portugal: 19 de janeiro de 2020, Comunidade eslovena em Nova Iorque 


por João Crisóstomo 


[ O autor tinha preparado um guião original, já com cortes, para uma comversa de meia hora (*); como o tempo disponível acabou, entretanto,  por ser maior - cerca de uma hora - ele passou a ter liberdade  para introduzir notas e comentários extra;   a versão original está disponível em inglês, no final deste poste; o editor Luís Graça fez a tradução e adaptação livre para o blogue, com a devida autorização do autor](**)



Dada a impossibilidade de uma conversa abrangente e detalhada sobre Portugal, limito-me aqui a uma descrição muito breve e concisa, apontando o que considero mais relevante e interessante para se dar a cohecer.(*)

E, claro, não se esqueçam de que sou português: mesmo sem ter essa intenção, terei tendência a dar opiniões subjetivas e parciais. Como vocês bem sabem, uma moeda sempre tem duas faces.

Embora a criação e a fundação de Portugal sejam datadas dos séculos X e XI, sabemos que o 'Homo Sapiens Sapiens' deambulou  por aquela região ocidental da península ibérica há 35 a 40 mil anos atrás. 


Entre as evidências existentes, eu gostaria de chamar a atenção, não sem uma pontinha de vaidade,   para uma descoberta arqueológica ainda recente na qual eu também estive envolvido: em 1994, durante o processo de construção de uma barragem hidroelétrica, foram descobertas  gravuras rupestres ao longo do vale do rio Coa, no norte de Portugal. 


Isso foi assunto de um longo artigo no "New York Times". Ao perceber a importância dessas descobertas para Portugal e para o mundo, iniciei uma campanha nos EUA para salvar essas gravuras, uma campanha que imediatamente se espalhou pelo mundo inteiro. 


Após uma intensa e feroz campanha, a construção da barragem foi suspensa [, em 1994], por António Guterres, agora Secretário Geral da ONU, quando ele era então o Primeiro Ministro de Portugal.

Hoje, esse sítio, Foz Coa,  é a maior galeria artística 
do mundo, ao ar livre, da Idade da Pedra, um Patrimônio Mundial sob proteção da UNESCO[, desde 2 de Dezembro de 1998; em 10 de Agosto de 1996 é aberto oficialmente o Parque Arqueológico do Vale do Côa]





Vila Nova de Foz Coa > Museu do Côa > 3 de setembro de 2013 >  Conteúdos: reprodução de gravuras rupestres


Fotos (e legenda): © Luís Graça  (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Voltando à História de Portugal: No final do século X, a Península Ibérica  era formada alguns reinos, muçulmanos e cristãos. Portugal nasceu de um deles, o reino de Leão e Castela, quando seu rei decidiu criar e dar a um dos seus súbditos uma grande região na parte norte do seu reino. 


Tendo recebido esta região, o governante Afonso Henriques, primo de Bernardo, da família Borgonha, que governava uma grande parte da Europa e que queria criar um moderno estado cristão na Península Ibérica, decidiu-se pela independência completa do Condado Portucalense e assim  nasceu Reino de Portugal.

Para expandir o seu reino, Afonso Henriques, 
não podendo nem mem querendo expandir-se à custa de terras cristãs, decidiu invadir e conquistar as regiões ao sul, sob o domínio islâmico, o que fez, com a ajuda significativa dos Cruzados que vinham da Europa transpirinaica para libertar Jerusalém,  com um paragem, ao que parece propositada,  no novo reino cristão. 


Foi o que aconteceu com a conquista de Lisboa, uma cidade de 150 mil  habitantes, na época uma cidade grande em comparação com Paris, que tinha apenas 50 mil  e Londres com 30 mil.


Com a conquista do Algarve, a sul, Portugal obteve as fronteiras geográficas que manteve até hoje, tornando-se Portugal o país mais antigo da Europa, no que diz respeito às fronteiras permanentes. 


Para uma compreensão sumária, a história de Portugal pode ser dividida em quatro períodos: 


1 - De 1128 a 1580: Fundação, expansão e exploração, que também foi para Portugal a Idade de Ouro; 


2 - Nos 60 anos seguintes, de 1580 a 1640, que se tornaram a História da Idade das Trevas de Portugal, sob o domínio espanhol [, monarquia dual, dinastia filipina]; 


3 - 1640 a 1755: A libertação da Espanha e a retomada por Portugal de seu lugar no mundo como um país importante; 


4-1755 até hoje: A destruição de Portugal, especialmente Lisboa, pelo terrível terremoto de 1755; e logo depois o tumulto e a destruição adicional durante as invasões dos exércitos napoleónicos [1807-1811],  que causaram danos irreversíveis a Portugal até os dias de hoje, não mais  recuperando o páís a posição relevante que deteve no mundo no Séc. XVI.


Algumas palavras agora em cada um desses períodos da nossa história: A primeira e a mais importante: como a Europa era asfixiante, ameaçada pelas invasões dos mongóis, Portugal não tinha alternativa senão experimentar o mar em busca de sobrevivência e possível expansão. 


Os custos de mercadorias, como a seda, as especiarias e outros produtos vindos do Extremo Oriente por terra [, "pela rota da seda"], eram proibitivos e estavam disponíveis apenas para alguns. Os únicos que ganharam com essas atividades foram a cidades-estado de Génova, Veneza e outros na Itália. Enquanto essas cidades-estado controlavam o Mar Mediterrâneo, no Extremo Oriente, foi o Império Muçulmano Otomano, especialmente a Turquia, que controlou os mares da Índia, China e outras nações asiáticas e todas as suas atividades. 


Portugal primeiro tentou expandir-se para a África do Norte,  conquistando a cidade de Ceuta, em Marrocos; mas os sonhos portugueses de conquistar Marrocos foram interrompidos quando uma segunda invasão para conquistar Tânger se provou um desastre.


Para os portugueses, então, ir mais longe pelo mar para alcançar e explorar o sul do que era então conhecido na África e descobrir se havia outras terras habitadas era uma obrigação. Algumas pessoas esclarecidas, lideradas pelo infante Dom Henrique, o Navegador [, um dos filhos de Dom João I e da inglesa Filipa de Lencastre], decidiram fazer exatamente isso. 


Os seus esforços mostraram-se frutíferos: logo os portugueses, especialistas em pesca,  e que costumavam ir cada vez mais longe da costa (até ao mar do Norte e até porventura à Terra Nova, para a pesca do bacalhau, por exemplo), haviam inventado um novo sistema de navegação, usando um pequeno barco com três velas a que chamavam  caravelas; esse novo sistema de navegação permitia-lhes viajar em todas as condições, mesmo navegando contra o vento. E era manobrada, a caravela,  por um simples leme, dispensando remadores, tornando possível tomar provisões maiores por longos períodos no mar. Esse foi o grande salto. 


Essas caravelas e a melhoria do astrolábio pelos portugueses (, que passou a ser fabricado em metal em vez de madeira), possibilitaram viagens longas como as de Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Fernão de Magalhães, Cristovão Colombo e tantas outras. 


Para ser justo, é preciso ressaltar que nem tudo era 'ouro puro': foi no início da exploração europeia de África que a escravidão se intensificou  e os portugueses são geralmente apontados  como os primeiros europeus traficantes de escravos na África [, depois dos árabes e seus aliados norte-africanos e subsarianos, entre os séc. VIII e XIV].


(Continua)

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Bibliografia que consultei;

1. O livro de onde faço várias referências é o livro:” The First Global Village"- How Portugal changed the world , da autoria do escritor Inglês Martin Page, 12a edição. " Casa das Letras" ( comprei este aí em Portugal).


Outros livros que li e que “consultei" agora:


2. "Encompassing the World” Portugal and the World in the 16th and 17th Centuries. Um daqueles livros grandes em todo o sentido, de se lhe "tirar o chapéu, pelo seu conteúdo fabuloso em todos os aspectos. Publicaçao da “Arthur M.Sacckler Gallery( da Smithsonian Institute em Washington)


3. Lisbon - War in the shadow of the city of light, 1939-1945 da autoria de Neil Lochery


4. The First World Sea Power—1139-1521; volume 1o. Autor: Saturnino Monteiro


5. 1494 How a Family Feud in Medieval Spain Divided the World in Half . Autor:Stephen R. Bown ( St Martins Press, New York)


6. 1808 (5a edição) Autor: Laurentino Gomes ( jornalista brasileiro). Editora Planeta. Brasil


7. Os Pioneiros Portugueses e a Pedra de Dighton, do Dr. Manuel Luciano da Silva


8. Magellan autor ; Stefan Zweig,( version française) par Alzir Hella; Bernard Grasset- Paris


Jornais e revistas:


1. “ Luso-Americano” uma série de artigos sobre esta exposição, da autoria do jornalista /escritor/editor principal do" Luso Americano" . Publicadas neste jornal de 27 de Abri29 de Junho de 2007.


2. New York Times, Friday, June 29 2007


3. Washington Post, June 24 2007 e July 20 2007


4. "Portuguese in the making of America” da autoria de James H.Gill


5. Military History, July/August 2006, artigo do historiador Michael D. Hull, capa e artigo (páginas 24 a 31).

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Notas do editor:


(*) Último poste da série > 12 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20642: Tabanca da Diáspora Lusófona (4): A história de mil anos de Portugal explicada num hora à comunidade eslovena em Nova Iorque (João Crisóstomo) - Parte I


(**) Primeira versão do texto, em inglês:

January 19, 2020; Slovenian community :Talk on Portugal…


Given the impossibility of a comprehensive and detailed talk on Portugal, I limit myself to a very brief and concise description, pointing out what I consider more relevant and interesting to know.


And of course, do not forget that I am Portuguese: even without my meaning to do so, I am prone to give subjective and partial opinions. As you well known, a coin has always two faces.


Though the creation and foundation of Portugal is dated to the 10th and 11th centuries, we know that Homo Sapiens was roaming this region 35 to 40, 000 years ago. Among the existing evidence I like to point out, very selfishy I must admit, a still recent archaeological discovery on which I was involved: In 1994 , in the process of building a dam for electric energy, engravings were discovered in stones along the valley of the River Coa in Northern Portugal. 

This was the subject of a lengthy article in the New York Times. As I realized the importance of these findings for Portugal and the world I started a campaign in US to save these engravings, a campaign which immediately spread around the world. After an intense and fierce campaign the construction of the dam was stopped by Mr Antonio Guterres, now the Secretary General to the UN who was then the Prime Minister of Portugal. This site is today the largest stone age open air gallery in the world, a World Heritage under Unesco protection.

Going back to the History of Portugal:


At the end of the 10th century the Iberian Peninsula consisted of a few kingdoms, of Muslim and Christian faiths. Portugal was born of one of these, the kingdom of Leon and Castille, when its king decided to create and give to one of his subjects a large region in the northern part of his kingdom. Having received this region, the ruler, Afonso Henriques, cousin of Bernard of the Burgundy family who ruled then a large part of Europe and who wanted to create a modern Christian kingdom state in the Iberian Peninsula, decided for complete independence and the Kingdom of Portugal was born.


In order to expand his kingdom Afonso Henriques, unable and not willing to expand into Christian lands, decided to invade and conquer the regions south, under Islamic rule; this he was able to do, with significant help from crusaders of Europe en route to liberate Jerusalem and who seems purposely stopped in the new born kingdom.


So it happened with the conquest of Lisbon, a city of 150,000 people, at the time a big city in comparison to Paris which had only 50,000 and London 30,000.


With the conquering of Algarve in the south, Portugal obtained the geographical borders which he kept until today, making Portugal the oldest country in Europe, as long as permanent borders are concerned.

The history of Portugal for a simple understanding can be divided in four periods:

1--From 1128 to 1580: Foundation, expansion and exploration, which was also for Portugal its the Golden Age.


2— The following 60 years, 1580 to 1640, which became the Dark Ages of Portugal History, under Spanish rule.


3— 1640 to 1755: The liberation from Spain and the retaking by Portugal of his place in the world as an important country.


4- 1755 to today: The destruction of Portugal, specially Lisbon , by the terrible earthquake of 1755; and soon afterwards the rampage and further destruction during the invasions by the Napoleon forces, which caused Portugal to our days, never to be able to regain the relevant position in the world it held for so long.

A few words now on each of these periods of our history:


The first and the most important: As Europe was asphyxiating, threatened by the invasions by the mongols, Portugal had no alternative but to try the sea for survival and possible expansion. The costs of merchandise, such as silk, spices and other goods coming from the Far East by land were prohibitive and available to just a few. The only ones gaining from such activities were the city/states od Genoa, Venice and others in Italy. While these city/states controlled the Mediterranean Sea, in the Far East it was the Muslims/Ottoman Empire specially Turkey who controlled the seas of India, China, and other nations and all their activities.


Portugal first tried to expand into Africa by conquering the town of Ceuta in Morocco; but the Portuguese dreams of conquering Morocco were cut short when a second invasion to conquer Tangier proved a disaster.


For the Portuguese then, to go farther by sea to reach and explore the south of what was then known of Africa, and find out if there were other inhabited lands, was a must. A few enlightened people, led by Prince Henry the Navigator, one of the kings sons, decided to do exactly that. Their efforts proved to bear fruit: soon the Portuguese, experts in fishing and used to go farther and farther from the coast, had invented a new system to navigate, by use of a little boat with three sails which they called "caravelas"; this new system of navigation allowed them to travel in all conditions, even sailing against the wind. And it was maneuvered by a simple rudder, dispensing oarsmen, making it possible to take larger provisions for longer durations at sea. This was the great leap. These caravelas and the improvement to the astrolabe by the Portuguese, namely making them in metal instead of wood, made possible long trips such as the ones by Vasco da Gama, Fernão de Magalhaes, Cristovão Colombo and so many others.


For fairness a point must be made though as not all was pure gold: it was with the beginning of Africa exploration that slavery exploded and the Portuguese are usually credited with the first captures of slaves in Africa. (...)


(to be followed)

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20647: Efemérides (318): em 13 de fevereiro de 1969, em que faziam 25 anos o Miguel Rocha e o Baldaia Martins, ambos alferes, da CCAÇ 2367, eu estava, de passagem, no Cacheu, onde eles também estiveram (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Foto nº 1 >  Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > Fevereiro de 1969 > O Virgílio Teixeia, de cigarro, na boca e escola escuros,  com mais dois camaradas que ele gostava de poder identificar


Foto nº 2 Guiné > Região de Cacheu > Cacheu > Fevereiro de 1969 > O Virgílio Teixeira junto ao monumento do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, o Navegador (Porto, 1394 - Sagres, 1460)


Fotos (e legendas: © Virgílio Teixeira  (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, com data de hoje,  do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).

Caro Luis,

Estive a ler esta coincidência dos 51 anos do camarada Miguel Rocha (*)

Eu tenho fotos desse dia, quer em 1968, quer  em 1969 (50 e 51 anos respectivamente). Mas não encontro as fotos, preciso de passar muito tempo a procurar.

Mandava estas fotos [, nºs 1 e 2, reproduzidas acima], para relembrar os tempos em que ele, o Miguel,  esteve no Cacheu.  Já lhe mandei os parabéns, pois é uma feliz coincidência

Se puderes, podes publicar.

Um abraço,

Virgilio Teixeira

2. Comentário do Virgílio Teixeira ao poste de parabéns, P20645 (**):

Parabéns ao camarada Miguel Rocha, e um dia de muita saúde.

Nessa data - 13 de fevererio de 1969 - , ou próxima, provavelmente eu estava no Cacheu, de visita, quando estava colocado em S. Domingos.

Tenho várias fotos, do Cacheu, local por onde terás estado, segundo li no Poste. Vou enviar uma foto ao Luís Graça (o meu mano, porque nascemos no mesmo dia - 29 de janeiro - mas de anos diferentes, eu  em 1943, o Luís em 1947, e o camarada Miguel Rocha em 1944).
Vou pedir-lhe para a publicar, para saber se conheces os dois camaradas que lá estavam em comissão, em Fevereiro de 1969 [, foto nº 1]. Nunca se sabe. 

Sei que estavas nesse dia no Olossato, terra que não conheço. E também tinhas um "mano", nascido precisamente em 13 de fevereiro de 1944, o alf mil  Baldaia Martins, (***)

Algumas coincidências da nossa estadia na Guiné, que para mim acabou em 4 de agosto de 1969, seis meses depois.

Um abraço

Virgilio Teixeira

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de fevereiro de  2020 > Guiné 61/74 - P20646: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (2): Hoje, exactamente 51 anos depois!

(...) Nunca na minha existência havia encontrado alguém que fosse precisamente da minha idade, e isto aconteceu na CCAÇ 2367. O Alf Mil Baldaia Martins, que comandava o 2.º pelotão, havia nascido, tal como eu, a 13 de Fevereiro de 1944.

Desde já esclareço os crentes seguidores de signos, que as nossas personalidades eram totalmente distintas e que tal facto não era impeditivo de um são convívio e uma franca amizade, que perdurou até ao seu falecimento em 2013.

Resolvemos festejar o nosso 25.º Aniversário (1969) em conjunto, e para a festa adquirimos uma vaca na população do Olossato. (...)

Guiné 61/74 - P20646: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (2): Hoje, exactamente 51 anos depois!

Segunda crónica do nosso camarada Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf.ª da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845, "Os Vampiros" (Olossato, Teixeira Pinto e Cacheu, 1968/70), a propósito do seu 25.º aniversário festejado há 51 anos no Olossato:


MEMÓRIAS AO ACASO

02 - HOJE, EXACTAMENTE 51 ANOS DEPOIS!

A vida reserva-nos surpresas do Arco da Velha!

Nunca na minha existência havia encontrado alguém que fosse precisamente da minha idade, e isto aconteceu na CCAÇ 2367. O Alf. Mil. Baldaia Martins, que comandava o 2.º pelotão, havia nascido, tal como eu, a 13 de Fevereiro de 1944.

Desde já esclareço os crentes seguidores de signos, que as nossas personalidades eram totalmente distintas e que tal facto não era impeditivo de um são convívio e uma franca amizade, que perdurou até ao seu falecimento em 2013.

Resolvemos festejar o nosso 25.º Aniversário (1969) em conjunto, e para a festa adquirimos uma vaca na população do Olossato.
O almoço, no refeitório das praças, foi reservado aos nossos dois pelotões, muito bem regado, seguido de uma partida de futebol de equilíbrio assaz difícil, dado o grau de "anestesia" da rapaziada. À noite, na messe, teve lugar um beberete com fados e desgarradas, para sargentos e oficiais.

As fotos dizem respeito aos aniversariantes e aos rapazes do meu pelotão, o 1º.


Olossato – Os alferes milicianos Baldaia e Miguel Rocha, já um pouco adornados, na celebração comum dos seus 25 anos de idade.


Olossato – Os homens do 1.º pelotão da CCAÇ 2367, comandado pelo alf. mil. Miguel Rocha. De pé: Bento, Mendes, Toninho, Miguel Rocha, Dias, Afonso, Carvalho, Rocha e Figueiredo. Sentados: Vizela, Almeida, Ferreira, Tocha, Antunes e Balbino. De joelhos: Almeida e Sá. Deitados: Sousa e Américo


Olossato – Depois do almoço, descarregando a cerveja da festa do aniversário.


Olossato – Lá do alto, no refeitório, o aniversariante alf. mil. Miguel Rocha faz contas à despesa que tem de pagar.


Olossato - O soldado Ferreira, “O Cuba”, pela cerveja que consumia, estava adoentado mas o seu alferes foi busca-lo ao colo para participar na festa.
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20623: Memórias ao acaso (Miguel Rocha, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2367/BCAÇ 2845) (1): Origem do nome, Vampiros