Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 29 de janeiro de 2022
Guiné 61/74 - P22949: Os nossos seres, saberes e lazeres (489): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (35): Faiança polícroma, corda seca, ponta de diamante, o azulejo decorativo visto à lupa (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Havia que repartir por uma curta série de textos a visita a um dos mais esplendorosos museus nacionais, implantando no Convento da Madre de Deus com a sua deslumbrante igreja. Logo o restaurante-cafetaria é do maior interesse, bem como o espaço da estufa, e depois continua a viagem pela evolução do azulejo em Portugal, a contemplação do retábulo Nossa Senhora da Vida, passamos pela importante pintura Panorama de Jerusalém, nesse mesmo rés-do-chão temos a igreja, uma das mais importantes do barroco português, vamos desfrutando de silhares de azulejos, de painéis em que não falta o exotismo, como O Casamento da Galinha, o extraordinário presépio, as figuras de convite, e assim avançamos até ao século XX, e a coroar a visita o extraordinário conjunto da Grande Vista de Lisboa. É para visitar com tempo e pensar em regressar depressa.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (35):
De um belo presépio à grande vista de Lisboa antes do terramoto, Museu Nacional do Azulejo
Mário Beja Santos
Seria imperdoável pormos termo a esta visita ao Museu Nacional do Azulejo sem fazer uma referência à monumental Natividade que se encontra na capela de Santo António. Trata-se de um dos conjuntos mais importantes de uma tradição portuguesa. Estava agora na chamada Sala do Presépio, hoje reduzida a um terço da sua dimensão original, é uma criação de valor excecional dos barristas portugueses, o visitante confronta-se com anjos músicos, foliões, a Sagrada Família, as imagens dos Reis Magos e muitíssimo mais. É de visita obrigatória.
A sua grande importância a exposição do azulejo do século XX, desde a Arte Nova até à atualidade. Ganha destaque um painel relevado de Jorge Barradas, pintor e ilustrador do modernismo português, um grande renovador da cerâmica, figura da primeira geração de modernistas. Como escreve Maria Antónia Pinto de Matos, “O decorativismo adequou-se ao gosto do artista, que já o manifestara na sua atividade gráfica, conduzindo-o a uma produção escultórica que associa a graciosidade requintada, por vezes quase barroca a um tratamento que se aproxima à tradição barrista dos oleiros portugueses. O seu interesse pelas formas escultóricas está patente nesse painel, criado para a fachada do Museu de Arte Contemporânea, hoje Museu do Teatro, uma alegria às artes da pintura e da escultura, representadas por duas figuras andróginas”. Antes, porém, temos o decorativismo de Raul Lino, carateres geometrizantes do fim da Arte Nova.
Seguem-se duas imagens da evolução azulejar que vai de Maria Keil a Júlio Resende e Eduardo Nery. Maria Keil é uma figura destacada pelo seu trabalho na primeira fase do Metropolitano de Lisboa, exigiram-lhe uma grande sobriedade nos seus padrões, era um tempo em que o decorativismo parietal ocupava um papel secundário, parecia que o passageiro do metro não tinha direito à fruição estética na atmosfera da estação, tudo se resolvia com umas cores garridas e música ambiente, conceito que está hoje totalmente ultrapassado.
Outro ângulo do claustro concebido por Diogo Torralva, atenda-se à harmonia das proporções, independentemente de todos os trabalhos posteriores, designadamente a adaptação dos andares superiores a espaço museológico.
Despedimo-nos com alguns pormenores do silhar de azulejos Grande Vista de Lisboa. Demos a palavra à autora do guia do museu: “Este extraordinário conjunto, um dos mais importantes da história da azulejaria portuguesa e uma das joias do Museu Nacional do Azulejo, é, simultaneamente, um documento único para a História de Lisboa, mostra-nos a cidade vista a partir do azulejo antes do terramoto de 1755. A sua execução tem vindo a ser associada a um dos primeiros mestres da azulejaria barroca nacional, Gabriel del Barco, ainda que seja, provavelmente, obra de uma oficina. Com cerca de 23 metros de comprimento, nele estão representados 14 quilómetros de costa, de Algés a Xabregas, retratando palácios, igrejas, conventos e casas de habitação, para além de toda uma vivência que se observa desde as áreas mais densamente povoadas aos campos e arrabaldes de Alcântara ou Belém. Outrora numa sala do Palácio dos Condes de Tentúgal, na Rua de Santiago, em Lisboa, ele terá sido aplicado como silhar, ou seja, colocado nas paredes, junto ao rodapé, com a visão do Palácio Real seguramente em destaque, na parede do topo do espaço. Deste modo, o acentuar da linha de costa ganharia uma ênfase própria, que a colocação do conjunto relevando o espaço, numa visão a 360º, dotaria de uma visão similar ao que viriam a ser, futuramente, os diaporamas”. Parece sentir-se o movimento da cidade, podemos agora comparar o que foi engolido pelo terramoto, num dos extremos do painel temos o Convento Madre de Deus e numa perspetiva avantajada avulta o Palácio Real e o Terreiro do Paço, numa dimensão desproporcionada, aquele local era o eixo a partir do qual a vida de Lisboa se articulava.
Está-se a crer que é uma imagem do essencial para que o leitor tome a decisão de visitar ou voltar de novo a este extraordinário museu.
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 22 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22930: Os nossos seres, saberes e lazeres (488): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (27): Faiança polícroma, corda seca, ponta de diamante, o azulejo decorativo visto à lupa (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P22948: Parabéns a você (2030): Luís Graça, Fundador e Editor deste nosso Blogue, ex-Fur Mil Armas Pesadas de Infantaria da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)
Nota do editor
Último poste da série de 22 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22929: Parabéns a você (2029): Virgínio Briote, ex-Alf Mil Cav da CCAV 489 e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo "Os Diabólicos" (Cuntima e Brá, 1965/67)
sexta-feira, 28 de janeiro de 2022
Guiné 61/74 - P22947: Em busca de... (316): Furriel Silva que em 1973 deu escolinha aos meninos de Chugué. Procura-o o cidadão guinnense, radicado em Itália, Vasco Na Nena que lhe quer prestar o seu reconhecimento. Ponto da situação (Carlos Silva, Cor Tir na Reforma)
1. Mensagem do senhor Coronel Tirocinado na Reforma Carlos Cação da Silva, com data de 26 de Janeiro de 2022:
Meu caro Carlos Vinhal,
Espero que se encontre bem de saúde e em “pleno” no cumprimento da sua tarefa no vosso Blog.
Venho dar-lhe conta da evolução positiva deste assunto pois neste momento estamos em vias de estabelecer contacto com o Fur Silva.
Na sequência do esforço de pesquisa destaco:
- 1.ª Pista: A vossa triagem das sub-unidades presentes no Chugué no període de 1972/1974 apontando para as CCAÇ’s 3477 e 4143;
- O Arquivo Geral do Exército na sua pesquisa não encontrou qualquer referência ao Fur Silva em ambas as Companhias mas identificou o Fur. Enf. Faria na CCAÇ 4143 que teria também apoado a Escolinha do Chugué. Deu-nos assim a 2.ª pista.
- Com o nome completo deste Furriel Enfermeiro e as indicações de um outro aluno da mesma escola e naquela época, que localizámos, hoje como médico no Hospital de Beja, estamos a aproximarmo-nos do Fur Silva que, não pertencendo àquelas Companhias, está confirmada a sua presença na escola do Chugué.
- Estamos confiantes de que o nosso objectivo foi conseguido mercê do vosso empenho e interesse que sempre manifestaram e que nos proporcionaram os primeiros e fundamentais elementos para que fosse conseguido um desfecho que, acreditamos, irá ser positivo.
Só tenho que, mais uma vez, enviar os meus sentidos agradecimentos aos Srs. Dr. Luis Graça, Carlos Vinhal e também a todos aqueles que tiveram que envolver nesta pesquisa.
Estarei sempre ao vosso dispor para o que julgarem necessária e nas minhas possiblidades.
A melhor saúde para todos
Cordiais cumprimentos
Um grande abraço amigo
Cação da Silva
2. Mensagem resposta enviada ao senhor Coronel Cação da Silva no mesmo dia:
Senhor Coronel Cação da Silva,
Muito obrigado pela sua mensagem dando nota da evolução da tarefa que assumiu levar até ao fim.
Se não se importar darei notícia no nosso Blogue desta sua mensagem. Fico a aguardar a sua autorização.
Pela nossa parte também estamos ao seu inteiro dispor, assim lhe possamos ser uteis.
Retribuímos o abraço com votos de que esteja bem.
Pelo Blogue LG&CG
Carlos Vinhal
3. Ainda no mesmo dia recebemos do senhor Coronel a seguinte mensagem:
Meu Caro Carlos Vinhal,
Não tem que pedir autorização alguma. Faça a publicação que melhor entender pois também penso que é importante para os nossos combatentes na Guiné e que participam no Blog terem conhecimento do sucesso da nobre tarefa a que todos deitámos mão. Um reencontro, passados quase meio-século, destes “jovens” que se conheceram no Chugué em condições nada fáceis será certamente emotivo e vivenciado com muitas recordações. O Vasco Na Nema está presentemente na Guiné onde está a tratar de assuntos familiares e aguarda-se a sua passagem por Lisboa onde ficará uns dias antes de seguir para Veneza.
Estou esperançado de que tudo irá correr bem e disso lhe darei oportunamente conhecimento.
Um abraço amigo e sempre ao vosso dispôr.
Cação da Silva
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Nota do editor
Vd. poste de 21 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22737: Em busca de... (315): Furriel Silva que em 1973 deu escolinha aos meninos de Chugué. Procura-o o cidadão guinnense, radicado em Itália, Vasco Na Nena que lhe quer prestar o seu reconhecimento (Carlos Silva, Cor Tir na Reforma)
Guiné 61/74 - P22946: Notas de leitura (1414): Depoimentos de combatentes cabo-verdianos na Guiné: André Corsino Tolentino e outros (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Para contextualizar, factualizar, documentar e interpretar a guerra da Guiné, com bases no rigor científico da hermenêutica e heurística, é indispensável obtermos os múltiplos depoimentos das hostes cabo-verdianas que combateram na Guiné. Há recolhas já efetuadas, recordo que Leopoldo Amado juntou um acervo de testemunhos a propósito do livro sobre Aristides Pereira, em que colaborou. José Vicente Lopes, jornalista e escritor cabo-verdiano, procedeu ao estudo do movimento subversivo no interior do arquipélago, das tensões e frustrações aí existentes, cria-se uma luta armada que não vinha. E os depoimentos são vários, mas são peças soltas, infelizmente. Por isso mesmo, é de toda a utilidade visitarmos sites como este, são outras abordagens, outras clarificações, contributos para um poliedro, esse sim, poderá ter a capacidade de ajudar a compreender o todo que anda por aí fragmentado.
Um abraço do
Mário
Depoimentos de combatentes cabo-verdianos na Guiné:
André Corsino Tolentino e outros
Beja Santos
André Corsino Tolentino viu os seus livros apreendidos no Lar dos Estudantes Ultramarinos, em 1967. Foi expulso e anos depois passou a dedicar-se inteiramente à luta como dirigente do PAIGC. Regressou a Cabo Verde em 1974, exerceu funções ministeriais e atualmente é administrador não-executivo da Fundação Amílcar Cabral.
Neste site podemos ler a sua entrevista mas também a de outros cabo-verdianos que combateram na Guiné como Pedro Pires, antigo Presidente de Cabo Verde e que liderou a delegação que negociou com Portugal o reconhecimento da independência da Guiné e depois de Cabo Verde; Carlos Reis, que ensinou na escola-piloto do PAIGC e que estava em Conacri aquando da invasão portuguesa em 1970, e da morte de Amílcar Cabral; Lilica Boal, escolhida por Amílcar Cabral para dirigir, em Conacri, a escola que preparava os filhos dos combatentes para a independência; e Pedro Martins, o prisioneiro mais jovem do Tarrafal.
André Corsino Tolentino conta como depois da sua expulsão seguiu para França, passou pela Suíça até chegar à Bélgica. Guarda boas recordações da Universidade de Lovaina e da comunidade cabo-verdiana como também do grupo de professores que apoiava os estudantes das colónias. E observa:
“Esta comunidade de estudantes já tinha uma relação com a comunidade vizinha, principalmente com a França e a Holanda. Havia até um certo intercâmbio cultural entre esses estudantes e os emigrantes daquela região. O primeiro objetivo era conseguir mobilizar alguns jovens emigrantes cabo-verdianos. Os obstáculos e preconceitos nesta mobilização eram enormes: Nós éramos terroristas para o regime salazarista, mas éramos também uma espécie de mensageiros do comunismo. E do comunismo no seu pior, daquele comunismo que chega e redistribui tudo o que se tem, desde o mais íntimo. Havia que desfazer essa ideia, o que era relativamente fácil, quando as pessoas conheciam a realidade, os interlocutores. Por exemplo, quando eu falava com as pessoas da ilha de Santo Antão era relativamente fácil desmontar esta propaganda. Para os meus colegas da ilha de Santiago, de São Vicente ou da ilha da Boavista era igualmente fácil, mas o encontro tinha de acontecer e a conversa tinha de ocorrer também para que isso fosse possível”.
Recebeu treino militar em Madina do Boé, e esteve durante um ano na Escola de Marinha em Odessa, no ano seguinte. Perguntado se acreditava realmente que algum dia seria possível em Cabo Verde a luta de guerrilha, André Corsino Tolentino elogiou a estratégia de Amílcar Cabral por este ter pensado e conseguido formar o PAIGC com guineenses e cabo-verdianos, mas não ilude a questão da frustração dos cabo-verdianos dentro do próprio PAIGC e da emigração. “Só depois viemos a saber que, de facto, era muito difícil em termos militares, sobreviver a um desembarque nas ilhas de Cabo Verde. Era altamente perigoso porque podia haver um fácil aniquilamento nos guerrilheiros. Houve discórdia entre Amílcar Cabral e Che Guevara na altura, porque Guevara defendia o princípio dos focos. Dizia que desde que as pessoas se instalem e tenham armas e o abastecimento garantido do exterior, a guerrilha poderá depois mobilizar a base e avançar. E Cabral defendia que a guerrilha só vinga se emergir da população local”.
Questionado sobre a sua viagem de Conacri para o interior da Guiné, depois de maio de 1964, respondeu:
“Houve uma explosão de alegria. A guerra durou muito tempo, mais de dez anos. Este cansaço manifestava-se através de conspirações, da desistência de operações, falta de apoio das populações ou através da deserção para o inimigo. Estávamos todos cansados da guerra, quer as tropas coloniais quer a resistência. Por conseguinte, a substituição do poder em Portugal e as declarações seguintes de predisposição para realizar a Descolonização, a Democracia e o Desenvolvimento só podiam ser bem-vindas. É neste contexto que o ambiente muda radicalmente”.
Para saber mais sobre estes combatentes cabo-verdianos, ver o site https://www.dw.com/pt-002/est%C3%A1vamos-todos-cansados-da-guerra-lembra-corsino-tolentino/a-17759520.
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Nota do editor
Último poste da série de 24 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22937: Notas de leitura (1413): A utopia de André Álvares d’Almada, Revista Sintidus, nº. 1, de 2018 (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P22945: As tuas melhoras, camarada !... (1): Padre Mário de Oliveira (ex-alf mil capelão, CCS/BCAÇ 1912, Mansoa, 1967/68), hospitalizado, em Penafiel, com múltiplos traumatismos, mas consciente, depois de grave acidente automóvel
- Arsénio Puim (açoriano, da Ilha de Santa Maria, ex-alf mil capelão, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72);
- Augusto Batista (ex-alf mil capelão, CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã. 1969/70);
- Horácio Fernandes (ex-padre franciscano, ex-alf mil capelão, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69);
- Libório Tavares (1933-2020) (, natural de São Miguel, Açores, ex-alf mil, CCS/ BCAÇ 2835, Nova Lamego, 1968/69).
Guné 61/74 - P22944: Memória dos lugares (435): Missirá, regulado do Cuor, Sector L1 (Bambadinca), 23 de dezembro de 1966 (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, 1966/68)
Fui pegar na G3, meio vestido, a caminho do abrigo. A palhota já ardia, no caminho duas morteiradas certeiras entram no depósito de géneros alimentícios, acertando no bidão de óleo e de azeite o que provocou um fogo de artifício.
Já no abrigo ajudo o meu cabo a municiar a MG [42, a célebre metralhadora do exército alemão na II Guerra Mundial], no meio daquele fogacho ele diz que ouve falar espanhol, presume-se que estavam lá Cubanos .
Parecia Roma vista de Bambadinca , o condutor da CCAÇ 1439 arranca debaixo de fogo e põe o Unimog a trabalhar para o retirar da zona de fogo. Como ele estava a escape livre, a barulheira foi muita e o IN, pensando que eram reforços, retirou. Este soldado condutor foi condecorado com a cruz de guerra de 4ª classe. [ Soldado, condutor auto, nº 5406064, António dos Santos Campos ].
Ao nascer do dia, feito o balanço, tivemos dois mortos na população [, quatro mortos, segundo relatório da CCAÇ 1439, ] (**) e alguns feridos ligeiros e muitas palhotas destruídas, alguns de nós ficaram só com a roupa que tínhamos no corpo.
Aproximava-se a véspera de Natal, e para o rancho pouco havia... O meu cabo nativo Ananias Pereira Fernandes sugeriu que ia tentar caçar qualquer coisa e caçou, arranjou óleo de chabéu e arroz e cozinhou uma maravilha que todos na messe gostaram, mas quando chegou a altura de mostrar o troféu, a cabeça do macaco cão, houve quem não aguentasse o estômago... Guardei essa caveira do macaco por anos.
E foi este o primeiro Natal na Guiné do Pel Caç Nat 54. (...) (***)
14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2105: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (1): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte I)
14 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2107: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (Henrique Matos) (2): Ataque a Missirá em 22 de Dezembro de 1966 (Parte II)
quinta-feira, 27 de janeiro de 2022
Guiné 61/74 - P22943: Tabanca dos Emiratos (9): Expo' 2020 Dubai UAE - Parte III: O Dia de Portugal, 14 de Janeiro de 2022 (Jorge Araújo)
Foto 2 - Expo’2020 Dubai - “Peça artística” (“Pinguins de
Magalhães”) da autoria de Bordalo II (Artur Bordalo), feito à base de plástico
reciclável, colocada à frente do Pavilhão.
“APONTAMENTOS” DA «EXPO’2020»
(DUBAI - 01OUT2021 / 31MAR2022)
Parte III - O DIA DE PORTUGAL -
14 DE JANEIRO DE 2022 (*)
1. – PROGRAMA DE ACTIVIDADES (13 E 14 DE JANEIRO’2022)
◙ ▬ DIA 13 DE JANEIRO DE 2022 (5.ª FEIRA)
● Na véspera do “Dia de Portugal” na Expo’2020 (Dubai - UAE), 13 de Janeiro, foram agendados três eventos para o interior do Pavilhão Nacional. O primeiro, designado por «Portugal Business Briefing», tratou-se de um seminário empresarial organizado pela AICEP Portugal Global - Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, com o objectivo de apresentar o nosso País nas áreas de comércio e de investimento.
No segundo, também em parceria com a AICEP, foram comemorados os 116 anos da fundação da Livraria Lello, com sede na Rua das Camélias, no Porto, também conhecida como “A Livraria Mais Bonita do Mundo”. O propósito desta celebração do seu aniversário na Expo’2020, no Dubai, coincidiu com a publicação das primeiras traduções para árabe de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, e de “Mensagem”, escrito por Fernando Pessoa (1888-1935). Para além do tradicional “bolo de aniversário”, foram ofertados 116 livros aos primeiros visitantes do dia.
A razão de ser desta iniciativa foi explicada por Aurora Pedro Pinto, a administradora da Livraria Lello, afirmando que “como exportadores e promotores da Literatura e da Cultura portuguesas, é com grande satisfação que contribuímos para que duas obras que retratam de forma tão especial o país e o seu povo cheguem ao mundo árabe”, num tempo em que a língua árabe tem cerca de 274 milhões de falantes.
Por último, a organização do terceiro evento foi da responsabilidade dos CTT - Correios de Portugal, S.A., que se traduziu no lançamento de um “postal comemorativo” relativo à participação portuguesa na Expo’2020, edição que abaixo se reproduz (frente e verso).
Foto 4 - Expo’2020 Dubai – Reprodução do postal comemorativo editado pelos CTT.
◙ ▬ DIA 14 DE JANEIRO DE 2022 (6.ª FEIRA)
► A primeira Cerimónia Oficial do “DIA DE PORTUGAL” na EXPO’2020 (Dubai), decorreu na «Praça Al Wasl», com a chegada das delegações dos dois países – os Emirados Árabes Unidos (país anfitrião) e Portugal.
● Pelas 10:30 horas, procedeu-se ao hastear da Bandeira Nacional no mastro existente entre a dos UAE e a da Expo ao som d’ “A Portuguesa” (o nosso hino), seguindo-se os discursos oficiais a cargo dos principais representantes (vidé foto abaixo).
Concluída esta Cerimónia protocolar, as comitivas realizaram visitas aos pavilhões de ambos os países.
► Espectáculo
Musical com a presença da cantora Teresa Salgueiro
● Pelas
15:00 horas, de novo na Praça Central «Al Wasl», um número significativo de
visitantes da Expo’2020, de entre os quais se encontravam cerca de quatro
centenas de portugueses, foram presenteados com um espectáculo musical de
grande nível, onde actuaram a fadista Teresa Salgueiro, acompanhada por António
Chainho, o nosso magno da guitarra portuguesa, com 84 anos, e por Marta Pereira
da Costa, a primeira e única mulher guitarrista profissional de fado a nível
mundial.
Foi, de facto, muito bom... e um grande orgulho para a diáspora lusa que teve o privilégio de a ele assistir.
Foto 6 - Expo’2020 Dubai – Actuação da fadista Teresa Salgueiro na Praça Central «Al Wasl», perante uma vasta plateia de convidados, com a repórter da RTP (Inês Carranca) em momento de gravação e transmissão para a redacção da RTP.
● Pelas 17:00 horas, teve lugar a cerimónia de acolhimento da comunidade portuguesa, junto ao Pavilhão de Portugal, com o hastear da Bandeira ao som do hino Nacional, onde aconteceram diversas intervenções por parte dos responsáveis da Missão, seguido do visionamento da mensagem do Presidente da República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, que não pôde comparecer aos “actos oficiais” devido à situação pandémica do momento.
2 –
MENSAGEM DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
▬ Professor Marcelo Rebelo de Sousa
Foto 9 - Expo’2020 Dubai – A mensagem “virtual”, enviada pelo Presidente da República, para assinalar o “DIA DE PORTUGAL” na Expo’2020.
● Eis
algumas passagens da sua intervenção, gravada a partir do Palácio de Belém,
em Lisboa, e que foi divulgada no sítio oficial da Presidência da República.
(…) Considera que “a “Expo’2020 Dubai” é a primeira exposição universal realizada no Médio
Oriente, o que reflecte o crescente dinamismo dessa região, bem como o seu
empenho em cada vez mais se assumir como plataforma de intercâmbio e de diálogo
político, económico, científico, tecnológico e cultural, que não são mais do
que os princípios e valores das exposições mundiais desde a sua origem”.
“São
estes também os princípios e valores que inspiram a participação de Portugal
nesta “Expo’2020 Dubai”, sob o mote «Portugal, um mundo num país» ”.
Deste modo, “marca o regresso do nosso país às grandes exposições mundiais. Quero,
por isso, sublinhar como foi significativa esta presença nacional num
acontecimento mundial, que foi um verdadeiro encontro entre culturas, países,
formas de ver a vida, e que nos permite promover e projectar Portugal, a nossa
história, a nossa cultura, a nossa economia, as nossas empresas, a nossa
gastronomia, a nossa geografia e o nosso povo”. (…)
Termina a sua mensagem com três “vivas”: “viva o Dubai, vivam os Emirados Árabes
Unidos, viva o nosso Portugal”… seguido por uma salva de palmas por parte
dos presentes na cerimónia.
De seguida, a Organização procedeu à
oferta de algumas lembranças, nomeadamente “Galos de Barcelos” em louça
(miniaturas) com as cores da Bandeira: vermelhos, verdes e amarelos, e um íman
de lapela com a designação “Portugal”.
Momentos depois, em dois balcões distintos [fotos 10 e 11], foram oferecidos aos visitantes, nacionais e estrangeiros, centenas de “pastéis de nata” e uma garrafa de água, e, ainda, pastéis de “carne”, “bacalhau” e “peixe” (uma unidade de cada), tipo “almôndega”, servidos numa pequena embalagem de papel de alumínio, confeccionados no Restaurante do Pavilhão «Al-Lusitano», dirigido pelo Chef Chakall.
Foto 11 - Expo’2020 Dubai - idem do referido na foto anterior.
● Pelas
18:00 horas, como constava no programa, deu-se início ao «AL QANTARA SHOW»,
designação dada ao espectáculo de música e multimédia concebido exclusivamente
para esse momento, considerado como o “ponto alto” de encerramento do “DIA DE
PORTUGAL” na «Expo’2020.
O espectáculo teve lugar num dos palcos
principais do recinto – o JUBILEE STAGE – onde actuaram o “Grupo de Percussão
Retimbrar”, de Espinho, seguindo-se a actuação da cantora Teresa Salgueiro,
acompanhada pelos guitarristas António Chaínho e Marta Pereira da Costa, e o
Músico Fred Ferreira.
Foram noventa minutos de muitas emoções,
com a diáspora lusa, a oito mil quilómetros de distância, a sentir-se em “casa”
e onde os estrangeiros, no final, não regatearam os seus aplausos aos artistas
lusos.
Foto 12 - Expo’2020 Dubai - O palco «Jubilee Stage» onde decorreu o espectáculo de encerramento do “Dia de Portugal” na Expo’2020.
Foto 13 - Expo’2020 Dubai - Actuação da fadista Teresa Salgueiro durante o espectáculo, em português, na Expo’2020.
Postal (montagem) dos três músicos portugueses que acompanharam a fadista Teresa Salgueiro no espectáculo de encerramento do “Dia de Portugal”, na Expo’2020.
Foto 14 - Expo’2020 Dubai – Panorâmica do palco «Jubilee Stage» e da plateia que assistiu ao espectáculo de encerramento do “Dia de Portugal”, na Expo’2020, e onde se falou e ouviu a língua de Camões.
Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
Foi uma “reportagem curta”. Mas, mesmo assim, espero que
tenha sido do vosso agrado… pois o espaço não é ilimitado. (**)
(Continua)
Votos de um óptimo ANO de
2022, com muita saúde.
Com um forte abraço de
amizade.
Jorge Araújo.
23Jan2022
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Notas do editor:
1 de janeiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22864: Tabanca dos Emiratos (6): Expo' 2020 Dubai UAE - Parte II (A): A Presença dos Países da CPLP: Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe... (Jorge Araújo)