sábado, 22 de janeiro de 2022

Guiné 61/74 - P22930: Os nossos seres, saberes e lazeres (488): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (34): Faiança polícroma, corda seca, ponta de diamante, o azulejo decorativo visto à lupa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Dezembro de 2021:

Queridos amigos,
Prossegue a visita ao Museu Nacional do Azulejo, desta feita com alguns casos de pormenor, caso do fabuloso silhar de azulejos com a história do chapeleiro António Joaquim Carneiro, um pequeno mostruário da evolução do século XVIII para o século XIX, onde se fala do arco de azulejos, da Fábrica do Rato, da Fábrica Roseira sem esquecer aquela faiança polícroma como macacadas e cenas de caça, e até três azulejos que nos falam que o conhecimento científico conhecia aplicação didática, muito bela, por sinal.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (34):
Faiança polícroma, corda seca, ponta de diamante, o azulejo decorativo visto à lupa


Mário Beja Santos

O acervo do Museu Nacional do Azulejo é de tal modo rico e variado que se justifica de termo-nos em certos aspetos de belas e impressivas manufaturas. Recorde-se de que logo à entrada já se viu uma evolução história da azulejaria até à segunda metade do século XVI, onde começa a identidade do azulejo português, viu-se como a pintura cerâmica barroca deu novo alento, apareceram pintores de grande qualidade a trabalhar silhares de azulejos, emolduraram-se retratos, surgiram fábricas, como a Real Fábrica de Louça ao Rato e todo o século XIX se distinguirá por um conjunto de fábricas de grande qualidade. Será o caso da Fábrica Roseira, ativa em Lisboa entre 1832 e 1930, fica na história do azulejo português pelos seus padrões versáteis, os seus motivos seriados, produzidos de modo industrial, quem tinha dinheiro gostava de ver as sua casas apalaçadas com estatuas, telhas, beirais e goteiras decoradas, as fachadas com azulejos dentro de uma nova estética urbana. Veja-se a primeira imagem, poderá ajudar o visitante em interessar-se pelos arcos de azulejos, uma das marcas d’água da engenhosidade de Rafael Bordalo Pinheiro na sua fábrica de Caldas da Rainha.
Outro aspeto que pode merecer a atenção do visitante, e já falamos das figuras de convite, são aqueles painéis humorísticos, caso de O Casamento da Galinha, um dos painéis mais ricos e extraordinários da azulejaria à escala mundial, falamos de cenas de caça, como abaixo se mostra e de altíssima qualidade.
Atenda-se que os temas religiosos eram essenciais em igrejas, capelas e outros lugares de culto, podiam mesmo aparecer em corredores como cobertura parietal. Veja-se a qualidade da policromia deste painel centrado em S. João Batista. O mesmo se poderá dizer do painel seguinte que revela uma cena muito lógica, com a curiosidade de parecer que está debruado como um tapete.
A devoção a S. António é permanente na espiritualidade portuguesa desde a Idade Média, daí não ser incomum um santo marcar presença nos templos, como aqui se evidencia.
A imagem que se segue faz parte da história do chapeleiro António Joaquim Carneiro, e vale a pena reproduzir o que Maria Antónia Pinto de Matos escreve no guia do museu: “Ao longo dos séculos XVII e XVIII o azulejo em Portugal serviu de suporte a narrativas religiosas, mitológicas, cenas de um quotidiano mais ou menos real. No final do século XVIII, começam, timidamente, a surgir exemplos da utilização do azulejo como instrumento de ostentação da burguesia ascendente, sendo neles retratados sinais de riqueza de uma classe emergente. Destes, talvez o mais espetacular seja o conjunto de sete painéis encomendados por António Joaquim Carneiro, um homem cujo nascimento humilde obrigou a vir para a cidade aprender o ofício de chapeleiro e cujo sucesso lhe permitiu o casamento com uma viúva rica. A sua prosperidade permitiu-lhe construir uma fábrica com a sua residência anexa, espaço para o qual mandou fazer, para perpetuar a sua história, este conjunto de painéis. Cada um deles surge legendado, permitindo ao observador acompanhar o percurso do chapeleiro do enquadramento de motivos neoclássicos, diretamente inspirados nos frescos das antigas casas romanas. No conjunto que hoje nos parece próximo da banda desenhada, a narrativa da vida do chapeleiro surge sobre as cenas, como me descrita em fitas desenroladas, que se designam cartelas”.
A azulejaria não esqueceu as novidades científicas, aqui se deixam três azulejos que chamam a atenção do visitante para a importância deste conhecimento.
É deste piso superior que se dá um pormenor do Claustro concebido por Diogo de Torralva, e dá para procurar analogias com o chamado Claustro D. João III, no Convento de Cristo em Tomar.
A todo o momento, os diferentes percursos, e até mesmo até ao século XX, que o itinerário museológico e museográfico é para entendermos e descodificarmos a evolução do azulejo e termos em consideração o seu incontornável desempenho estético, seja no silhar de azulejos, na faiança polícroma, como aproveitamos modelos espanhóis, como a chamada Ponta de Diamante, os revestimentos ditos de tapete, frequentes nos frontais de altar, as cenas de caça, a mitologia, os motivos florais ou a evocação do monarca, neste caso de D. Fernando II, marido de D. Maria II.
E por aqui nos ficamos, em breve a visita finda no extraordinário conjunto que dá pelo nome Grande Vista de Lisboa, uma das joias mais preciosas do Museu Nacional do Azulejo e que é um documento único para a história de Lisboa, pois mostra-nos a cidade vista a partir do rio Tejo antes do terramoto de 1755.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE JANEIRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P22909: Os nossos seres, saberes e lazeres (487): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (26): A Arte Religiosa também conta neste portentoso Museu Nacional do Azulejo (Mário Beja Santos)

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