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quinta-feira, 12 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14353: Meu pai, meu velho, meu camarada (41): Jorge Manuel Augusto da Silva, o "binte oito", era um orgulhoso sapador de assalto, da arma de engenharia... Fez a tropa em Tancos, em 1947, ainda chegou a jogar futebol e era amigo do histórico guarda-redes do Porto, o Barrigana (Henrique Cerqueira)


Jorge Manuel Augusto da Silva, natural do Porto, fez a tropa em 1947... 
Era soldado sapador de assalto... e conhecido pelo "Binte Oito"


1. Mensagem do nosso amigo e camarada Henrique Cerqueira [ [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, e CCAÇ 13, Bissorã, 1972/74; casado com a Maria Dulcinea (NI), também nossa grã-tabanqueira]


Data: 8 de março de 2015 às 11:32
Assunto: Meu pai,meu velho , meu camarada


Caro Camarada Luís Graça:

Há muito tempo, mais precisamente a partir da altura em que publicaste um dos primeiros postes sobre o tema " Meu pai, meu velho, meu camarada " (*),  que senti um grande carinho pelo tema. No entanto não ganhava coragem para escrever sobre o pai do qual passei quase toda a minha vida a ouvir as suas estórias de quando esteve na tropa (hoje são os nossos filhos e netos a ouvir as nossas).

Bom,  e vai daí, tu relanças novamente o tema e então lá fui procurar no meu "baú" das recordações e encontrei a caderneta militar do meu pai . E assim sendo vou tentar escrever algo que homenageie a memória do meu e de todos os nossos pais que são: "O Meu Pai , Meu Velho, Meu Camarada ". Espero não ser muito aborrecido mas vou escrever principalmente com o coração e amor pelo meu pai já retirado desta vida terrena.

Apresento o Meu pai, Jorge Manuel, que  foi Sapador de Assalto em Tancos [em 1947].

Sempre ouvi falar o meu pai e muitos dos seus amigos da altura que ele era um pouco irrascível na sua vida militar, mas sempre que era necessária aplicação da sua especialidade,  ele então tinha que ser o melhor. Era com muito orgulho que me contava a vitória obtida numa competição (???) entre vários países da NATO, numas provas militares . E como ele era Sapador de Assalto, orgulhava-se de ser bom a lidar com explosivos.

Uma outra estória muito engraçada (para mim,  claro) foi a sua narrativa de uma célebre "fuga" de que foi protagonista precisamente do interior do Castelo de Almourol. Segundo ele a tropa de Tancos na altura fazia serviço nesse famoso Castelo. Pelos vistos,  o meu pai era um "bom Casanova" e nem as muralhas de um Castelo o detinham quando havia "rabo de saia" nas redondezas.

Já agora o meu pai também foi um excelente jogador de futebol mas, que também acabou por ser irradiado dessa atividade por ter "acertado o passo" a um árbitro e a um polícia. Não pensem que o meu pai era um violento, era sim um rebelde e talvez em demasia para a época.

Estou aqui a pensar que tinha tanto, mas tanto para contar sobre o meu pai, mas não sai... não sai mesmo e por isso vou ficar por aqui e até vou pensar ainda se mando ou não este escrito para a malta ler.

Ah!,  é verdade,  o meu pai era conhecido na tropa pelo "Binte Oito" (28),  á moda do Porto,  já se vê. Era eu miúdo e conheci um famoso jogador da altura que era o saudoso Barrigana [, Frederico Barrigana, 1922-2007], penso que jogava no Salgueiros ou Porto. Estava ele junto do meu pai e só falavam da tropa e era então "Binte oito prá qui....binte oito prá acolá"....

Meu Pai, Meu Amigo, Meu Camarada,  que saudades tenho de ti. Dá um beijo à Mãe e aguarda por mim.

Um grande abraço a todos os Pais, Amigos e Camaradas da nossa Tabanca Grande.
Henrique Cerqueira

PS  - Envio em anexo algumas imagens possíveis da Caderneta militar do meu pai, achei particular graça às páginas descritivas do material  recebido para uso pessoal.












Folhas da caderneta militar de Jorge Manuel Augusto da Silva, pai do nosso camarada Henrique Cerqueira


Fotos : © Henrique Cerqueira (2015). Todos os direitos reservados.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12251: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (6): Escola Prática de Engenharia de Tancos




1. Com o Historial da Escola Prática de Engenharia, localizada em Tancos, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), dá por findo o seu trabalho sobre o Historial das Escolas Práticas do Exército a integrar num único grupo chamado Escola das Armas.


















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Nota do editor

Vd. postes anteriores da série de:

20 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12178: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (1): Preâmbulo

23 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12193: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (2): Escola Prática de Infantaria de Mafra

26 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12204: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (3): Escola Prática de Cavalaria de Abrantes

29 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12218: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (4): Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas

1 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12233: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (5): Escola Prática de Transmissões do Porto

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10897: Agenda cultural (246): Exposição, em Odivelas, na biblioteca municipal D. Dinis, de 4 a 20 de janeiro de 2013, " Regimento de Engenharia nº 1 - 200 anos a servir Portugal" (José Martins)



Exposição “Regimento de Engenharia nº 1  - 200 Anos a servir Portugal”, patente, de 4 a 20 de janeiro de 2013, em Odivelas, Biblioteca Municipal D. Dinis.

Data: 4 a 20 de janeiro
Hora: 10h30 às 18h30 - Ter. a Sex. | 10h30 às 17h30 - Sáb.
Local: Biblioteca Municipal D. Dinis
Informações:
Tel.: 219 320 770 - Divisão de Cultura, Turismo, Património Cultural e Bibliotecas
Biblioteca Municipal D. Dinis
bmdd@cm-odivelas.pt
cultura@cm-odivelas.pt

Inauguração dia 4 de janeiro – 16h00

A exposição Regimento de Engenharia nº 1 - 200 anos a servir Portugal procura sintetizar o percurso histórico do Regimento de Engenharia nº 1 (RE 1) , desde a sua origem em 24 de Outubro de 1812 até aos dias de hoje, integrando-o no contexto da história de Portugal.

Os marcos históricos mais  relevantes são os seguintes:

(i) Origem do Regimento de Engenharia nº 1
(ii) Guerra Peninsulares
(iii) I Guerra Mundial e a importância do Batalhão de Sapadores de Caminhos-de-ferro
(iv) Mobilização na 2ª Guerra Mundial – Trabalhos no Açores
(v) Guerra do Ultramar
(vi) Revolta Militar de 25 de Abril de 1974

Esta exposição, comemorativa do  bicentenário do RE 1, é composta por painéis, livros e fardas que abordam os principais marcos da história do Regimento desde a criação do Batalhão de Artífices Engenheiros em 24 de outubro 1812.


A exposição, organizada pela Divisão de Cultura, Turismo, Património Cultural e Bibliotecas de Odivelas, em parceria com o RE 1, procura  também documentar  a atual atividade do RE 1  no âmbito do apoio ao bem-estar das populações, apoio à proteção civil, a atividade operacional militar, a participação em Forças Nacionais Destacadas e as atuais capacidades operacionais de emprego.

Elementos informativos pelo nosso camarada e colaborador permanente  José Martins [, foto á esquerda, Odivelas, 2006]

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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10892: Agenda cultural (245): TSF, Grande Reportagem, hoje, às 19h00: "Sem panela, não se coze arroz" (reportagem de João Janes, com sonorização de João Félix Pereira)

terça-feira, 29 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8012: O Nosso Livro de Visitas (110): João Manuel Fresta de Carvalho, ex-Fur Mil Engenharia, que esteve 4 meses em Bambadinca e a maior parte do tempo no Saltinho, cujo aquartelamento ajudou a construir, ao tempo da CCAÇ 2406 (1968/70)



Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca, ao tempo do BCAÇ 2852, 1968/70) > Saltinho > CCAÇ 2406 (Os Tigres do Saltinho, 1968/70) > Foto provavelmente do 2º semestre de 1969, por ocasião de coluna logística Bambadinca - Saltinho. Na foto, o Arlindo Roda, Fur Mil da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados

Telefonou-me ontem  o  João Manuel Fresta de Carvalho, ex-Fur Mil de Engenharia, que estava em Bambadinca na altura do desastre no Cheche (Fevereiro de 1969) e da Op Lança Afiada (Março de 1969), portanto ao tempo do BCAÇ 2852 (1968/70).

Esteve 4 meses em Bambadinca, antes de ir para o Saltinho, onde ajudou a construir o quartel novo, ao tempo da CCAÇ 2406 (Os Tigres do Saltinho, 1968/70, que pertenciam ao BCAÇ 2852, com sede em Bambadinca). 

Aliás, dessa companhia (que também esteve no Olossato) era o ex-Alf Mil António Dias, camarada que pertence à nossa Tabanca Grande.  A CCAÇ 2406 era comandada pelo Cap Inf Diamantino Ribeiro André. Infelizmente temos menos de meia dúzia de referências a esta companhia. O Carvalho, que passou mais tempo da sua comissão no Saltinho costuma alinhar nos convívios anuais desta subunidade. Do seu tempo, lembra-se bem do Beja Santos e do Ten Cor Manuel Maria Pimentel Basto, o comandante do BCAÇ 2852, substituído depois por Jovelinmo Pamplona Corte Real. (Fico na dúvida se ele não se queria referir antes ao António Pimentel, o nosso Pimentel da Tabanca de Matosinhos, que pertencia ao BCAÇ 2851).

Do Beja Santos, lembra-se como figura lendária, enquanto operacional, mas também das vezes que ia à Engenharia, junto ao Rio Geba, "fanar-lhe" uns saquitos de cimento para Missirá...  Também passou opor Nova Lamego e por Bafatá. Aqui conheceu o Cor Hélio Felgas e o nosso Fernando Gouveia (do Comando de Agrupamento nº 2957). Como, de resto, também conheceu o malogrado actor de teatro, Carlos Miguel (Fininho), que era Fur Mil do CAgr anterior, o 1980.

Tem 66 anos, está reformado, mora em Chelas (telefone fixo: 218 372 001), dedica-se aos filhos e aos netos.  Foi desenhador técnico na Janz - Contadores de Energia, e inclusive fez parte dos órgãos de gestão do sindicato dos desenhadores técnicos. Acompanha o nosso blogue desde há anos, e divulga-o com grande entusiasmo,  mas nunca lhe ocorreu registar-se como membro. A escrita "não é o seu forte". Aceitou,  no entanto, o meu convite para ingressar na Tabanca Grande, depois de mandar as duas fotos da praxe e contar mais algumas peripécias desse tempo, como por exemplo a morte, a sua lado, de um cabo (?) da CCÇ 2406 que, ao introduzir uma bala na câmara da G3, disparou acidentamente  a arma e ficou com os miolos à mostra... Isto ter-se-á passado na estrada Saltinho-Xitole, em data que ele não conseguiu precisar. Não tenho ideia de nos termos encontrado (ou convivido) em Bambadinca nem no Saltinho (onde no entanto a CCAÇ 12 foi algumas vezes, em colunas logísticas, e eu pelo menos uma vez, levando materiais de engenharia e armamento, além dos preciosos géneros alimentícios). Tem em seu poder a planta do destacamento de engenharia de Bambadinca.
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Nota do editor:

ÚIltimo poste da série < 25 de Março de 2011 >Guiné 63/74 - P8000: O Nosso Livro de Visitas (109): José Oliveira, filho do nosso camarada Luís Nunes Oliveira da CCAÇ 1501/BCAÇ 1877 (Guiné, 1966/67)

domingo, 29 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5371: Patronos e Padroeiros (José Martins) (4): Exército - Arma de Engenharia - Nossa Senhora da Conceição




1. Quarto poste da série Patronos e Padroeiros das Armas do Exército Português, um trabalho de pesquisa do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70).





PATRONOS E PADROEIROS - IV

EXÉRCITO - ARMA DE ENGENHARIA – NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO


Nossa Senhora da Conceição Padroeira da Arma de Engenharia

A festa da Imaculada Conceição, comemorada em 8 de Dezembro, foi definida como uma festa universal em 1476 pelo Papa Sisto IV.

A Imaculada Conceição foi solenemente definida como dogma pelo Papa Pio IX em sua Bula Ineffabilis Deus em 8 de Dezembro de 1854. A Igreja Católica considera que o dogma é apoiado pela Bíblia (por exemplo, Maria sendo cumprimentada pelo Anjo Gabriel como "cheia de graça"), bem como pelos escritos dos Padres da Igreja, como Irineu de Lyon e Ambrósio de Milão. Uma vez que Jesus tornou-se encarnado no ventre da Virgem Maria, era necessário que ela estivesse completamente livre de pecado para poder gerar seu Filho.

Desde o cristianismo primitivo diversos Padres da Igreja defenderam a Imaculada Conceição da Virgem Maria, tanto no Oriente como no Ocidente. Os escritos cristãos do século II relatam a doutrina, concebendo Maria como a "Nova Eva", ao lado de Jesus, o "Novo Adão". No século IV, Efrém da Síria (306-373), diácono, teólogo e compositor de hinos, propunha que só Jesus Cristo e Maria são limpos e puros de toda a mancha do pecado.

A pureza de Maria do pecado desde o momento de seu nascimento também é atestada no Islã. Alguns dos títulos marianos no Islã realçam este fato:

* Tahirah: significa "Aquela que foi purificada" (Alcorão 3:42). De acordo com um hadith, o Diabo não tocou em Maria quando ela nasceu, portanto, ela não chorou (Nisai 4:331).

* Mustafia: significa "Ela, que foi escolhida". O Alcorão declara: "Ó Maria! Por certo Deus te escolheu e te purificou, e te escolheu sobre todas as outras mulheres dos mundos" (Alcorão 3:42). Deus escolheu a Virgem Maria entre todas as mulheres do mundo para um plano divino.

A festa da Imaculada Conceição de 8 de Dezembro, foi definida em 1476 pelo Papa Sisto IV, porém ele não definiu a doutrina como um dogma, deixando assim os Católicos livres para acreditar nela ou não, sem ser acusado de heresia, esta liberdade foi reiterada pelo Concílio de Trento. A existência da festa era um forte indício da crença da Igreja de Imaculada Conceição, mesmo antes da definição do século XIX como um dogma. Na Itália do século XV o franciscano Bernardino de Bustis escreveu o Ofício da Imaculada Conceição, com aprovação oficial do texto pelo Papa Inocêncio XI em 1678.

Nossa Senhora da Conceição, foi proclamada Padroeira da Arma de Engenharia pela Portaria de 22 de Maio de 1961 e Ordem do Exército n.º 9 (1.ª Série), de 9 de Setembro de 1961.

José Marcelino Martins – 24 de Novembro de 2009
[Organizado a partir de imagens e textos da Wikipédia]

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 28 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5362: Patronos e Padroeiros (José Martins) (3): Exército - Arma de Cavalaria - Mouzinho de Albuquerque

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2986: Humor de caserna (5): Siga a Marinha para Nhamate, mais abarracamento que aquartelamento (António José Pereira da Costa)






Guiné > Região do Oio > Nhamate > CART 3330 > 1971 > Uma peça de antologia do humor negro... castrense: O meu pessoal só pode transitar em canoas balantas. E alguns não sabem nadar. CONCLUSÃO: SIGA A MARINHA! (1) ...

Repare-se no circuito da informação: uma simples mensagem, que devia ser de rotina, a pedir o apoio da Engenharia para se proceder a obras de reparação num aquartelamento (?) do interior, seguia para 6 destinatários, incluindo três repartções do Com-Chefe!!!... Digam-me lá como se podia ganhar a guerra com tantos relés parasitas, porteiros, gate-keepers, típicos do disfuncionamento burocrático! ... De um exército em armas (que chegou aos 40 mil) quantos não haveria, do cabo ao argento, do tenente ao coronel, com funções amanuenses, ligados à gestão da informação ?

Milhares de homens, mangas de alpaca militares, escreviam notas como esta (seguramente menos geniais, divertidas, contundentes, demolidoras, corrosivas... como esta!), batiam-nas à máquina, expediam-nas, classificavam-nas, arquivavam-nas, retinham-nas, guardavam-nas na gaveta, analisavam-nas tardiamente, reencaminhavam-nas tarde e a más horas para o nível superior da hierarquia militar... Enfim, a maior parte das vezes estes homens não comunicavam devidamente, não recebiam resposta ou feedback positivo, continuavam perdidos e sós, nas Nhamates do mato da Guiné...

Pela primeira vez oiço falar em Nhamate... Será que a sorte dos homens que estavam em Nhamate melhorou ? Será que nenhum morreu afogado na época das chuvas ? Será que nunca lhes faltou o tabaquinho e a água de Lisboa ? Será que a Marinha seguiu mesmo ? E o Gasparinho (que ternura de nome, posto pelos seus pares!) não terá acabado na psiquiatria ? Vejo que morreu cedo, coitado, em 1977... Um homem que tratava por Frederico da Prússia por Fredy merecia um estátua em Nhamate!

Tenho alguma relutância em classificar em poste na série Humor de Caserna... Embora ligeiro, soft, é o título que me acorreu primeiro (2)... Mas podia ser outro qualquer, mais contudente, mais duro, mais agressivo, mais próximo do tempo e do lugar, algures na Guiné, longe do Vietname, como eu ironicamente costumava escrever, distinguindo Bissau e a guerra do ar condicionado, do resto, o inferno do mato... (LG).

Guiné > Região do Oio > 1970 > CCAÇ 13 > "Localização dos aquartelamentos de Bula, Binar, Nhamate, Manga e Unche, bem como a principal base da guerrilha no Choquemone, a uns escassos 4 Kms de Binar" (CF)...

Foto: Cortesia de Carlos Fortunato, Fur Mil CCAÇ 13 (1969/71), o melhor sítio na Net sobre companhias individuais que fizeram a guerra da Guiné > Guerra na Guiné - Os Leões Negros > CCAÇ 13, Binar, 1970.

Guiné > Região do Oio > Binar > Nhamate > CCAÇ 13 > 1970 > Tratava-se de um reordenamento, tendo a população sido substraída ao controlo do PAIGC. As NT tiveram que construir um aquartelamento de raíz. Vivia-se em tendas. " A nossa missão junto da população foi calma, em geral mostrou-se afável e colaborante, embora fosse clara a tristeza por abandonarem a sua antiga casa. Notou-se alguma influência da guerrilha, pois dois elementos da população (guerrilheiros?) chegaram a desafiar abertamente a nossa autoridade, um acabou por ser preso e o outro por ser morto, depois destes incidentes, as relações com a população foram sempre excelentes. Este reordenamento, tinha não só o objectivo de retirar a população do controlo do PAIGC, mas também de reforçar a defesa nesta zona, dado que com os novos foguetões 122mm, seria fácil à guerrilha atingir Bissau a partir daqui" (CF).(3) Foto de Adrina [ou Adriano ?] Silva, ex-Mil da CCaç 13.

Foto: Cortesia de Carlos Fortunato, Fur Mil CCAÇ 13 (1969/71), o melhor sítio na Net sobre companhias individuais que fizeram da Guiné > Guerra na Guiné - Os Leões Negros
> CCAÇ 13, Binar, 1970. 

Ainda hoje o Carlos mantém com os seus antigos soldados (balantas, essencialmente) uma relação de grande afecto e carinho, bem como com os seus antigos camaradas. O último encontro (o 8º da CCAÇ 13) foi no passado dia 26 de Maio, no Lordelo, Guimarães. E o próximo será nos Açores.



Guiné > Região do Oio > Binar > Nhamate > 1970 > CCAÇ 13 > Spínola de visita ao reordenamento de Nhamate, cumprimenta o capitão Durão (Cap Mil Inf Álvaro Alberto Durão, o primeiro capitão da CCAÇ 13, 1969/71). 

Foto de Adrina [ou Adriano ?] Silva, ex-Fur Mil da CCaç 13. A Companhia passou por Bissau, Bolama, Bissorã, Encheia, Binar e Biambi. Foi substituída, em Binar, em finais de Março de 1970, pela CCAÇ 2658, que terá mais tarde, numa coluna de Nhamate a Binar, 8 mortos.

Foto: Cortesia de Carlos Fortunato, Fur Mil CCAÇ 13 (1969/71), o melhor sítio na Net sobre companhias individuais que fizeram da Guiné > Guerra na Guiné - Os Leões Negros
> CCAÇ 13, Binar, 1970


1. Mensagem de António José Pereira da Costa, coronel de artilharia ainda no activo, membro da nossa tertúlia, desde Dezembro de 2007:


Amigos Combatentes (e não só):

Aqui vai uma nota escrita pelo célebre major Gaspar que inventou aquela expressão que ainda hoje usamos: Siga a Marinha!

In Os Anos de Guerra: 1961 - 1975: Os portugueses em África: Crónica Ficção e História. Organização de João de Melo - II Volume. S/l: Círculo de Leitores 1988. 190 (reproduzido com a devida vénia...).

Leiam-na com atenção e vejam se ela não é um tratado de logística da Guerra Colonial. É de um humor amargo, mas era a verdade.

Um Abraço
António José Pereira da Costa

2. Fixação e revisão do texto do documento: LG

Mensagem nº 125/71 [classificada como Confidencial, Urgente), enviada pelo Comandante da CART 3330, SPM 6928, Cap Art José Joaquim Vilares Gaspar, dirigida ao Comandante da Engenharia, com conhecimento a CAOP1, RepOper/Com-Chefe, RepPop/Com-Chefe, RecAcap/Com-Chefe, e BCAÇ 2928. Entrada na Secretaria do Batalhão de Engenharia, nº 306, em 22/3/71.
Nhamate, 18 de Março de 1971.

Assunto - Quartel em Nhamate (ou mais propriamente abarracamento)

1. Exponho a V. Excia um dos assuntos mais vitais para a continuidade militar e humana de NHAMATE [, a leste de Binar: vd. carta de Bula].

2. Passo a descriminar [sic, em vez de discriminar]:

a) DEPÓSITO DE GÉNEROS: Quando ch0ver fico sem pão pelo menos 15 dias. Julgo que não é muito agradável. Informo V. Excia que não como pão. Gordo estou eu.

E os outros géneros ? E os autos subsequentes ? Só problemas.

b) CASERNAS: Barracas de lona, todas oficialmente dadas incapazes. Na Birmânia, viveu-se assim 1 ou 2 meses. Os quadros vivem-no há 10 anos. E os milicianos (os meus, de certeza) “dão o litro” até ao fim. Os soldados dão tudo. Há que tudo lhes dar, na medida do possível.

c) CANTINA: E o tabaco ? Desde Napoleão e Fredy [diminuitivo de Frederico] da Prússia que o tabaco era uma das bases da eficiência do Exército. Como combater ou trabalhar sem o velho cigarrinho ? E outros géneros ? V.Excia, mais experiente, meditará sobre o assunto.

d) CASERNA DE CIMENTO: Único exemplar. Vou demoli-lo. Não tenho materiais. Solicito auxílio Engenharia.

e) MESS [sic, em vez de Messe]: Desde o início das chuvas desnecessita de garrafas de água. Basta as mesmas estarem abertas. Ponchos e gabardinas já temos.

f) CHAPAS DE ZINCO: Ao mínimo vento já voam no Quartel.

g) GABINETE D COMANDANTE E 1º SARGENTO: Com as chuvas eu e o 1º Sargento só temos a solução de entrar de escafandro, visto estar a 2 metros abaixo da superfície do solo.

h) O meu pessoal só pode transitar em canoas balantas. E alguns não sabem nadar. CONCLUSÃO: SIGA A MARINHA!

3. Este quartel tem se ser revisto por um Oficial de Eng[enharia], senão começo a construir um novo com os materiais dos REORD[ENAMENTOS], contra a norma, o que é aborrecido, contende com a disciplina e eu não gosto.

4. Agradecendo a boa atenção de V. Excia., gostaria de aqui ter como convidado um Senhor Oficial de Eng[enharia] a fim de concordar ou condenar as minhas asserções supras.

Cumprimento,

O Comandante,
José Joaquim Vilares Gaspar, Cap Art


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Notas de L.G.:


(1) Vd. postes anteriores sobre esta expressão celebérrima expressão da caserna militar Siga a Marinha:

30 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1133: Origem da expressão 'Siga a Marinha" (Vitor Junqueira
)

1 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1134: A expressão 'Siga a Marinha' , atribuída ao Zé Gaspar, artilheiro, Olossato (Paulo Santiago)


1 de Outubro de 2006 >Guiné 63/74 - P1135: A expressão 'Siga a Marinha' e a crise dos capitães (Sousa de Castro)


1 de Outubro de 2006> Guiné 63/74 - P1138: 'Siga a Marinha': uma expressão do tempo da República (?) (Pedro Lauret)


11 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1166: A minha preguiça e a expressão 'Siga a Marinha' (Mário Dias)


11 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2341: Siga a Marinha que o Exército já lá está (Coronel Pereira da Costa)


(...) Esta frase foi inventada pelo capitão José Joaquim Vilares Gaspar, mais tarde major, ainda na Guiné (...) e falecido por volta de 1977. Era o célebre Gasparinho de Quibaxe (Angola) de quem se contam muitos ditos e anedotas, quase todas verdadeiras, embora incríveis.

(...) Siga a Marinha que o Exército já lá está e Força Aérea já anda no ar há meia-hora.Era assim que ele a dizia. Talvez um desabafo ou uma crítica ou até um bordão para se sentir vivo. Não o dizia com qualquer espécie de humor. Conheci-o bem. Era um homem sério,muito inteligente, bom condutor de homens e com uma capacidade de crítica muito apurada, mas que bebia bastante. Além disso, a inteligência e a capacidade de crítica são uma mistura explosiva...

(2) Vd. postes desta série:

9 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2337: Humor de caserna (4): Cancioneiro do Niassa: O Turra das Minas (Luís Graça)


1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2321: Humor de caserna (3): Hino de Gandembel: hino de guerra ou música pimba ? (Manuel Trindade)


26 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2304: Humor de caserna (2): Welcome to Mansambo, a melhor colónia de férias do ano de 1968 (Torcato Mendonça / Luís Graça)


23 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2205: Humor de caserna (1): A sopa nossa de cada dia nos dai hoje (Luís Graça / António Lobo Antunes)

terça-feira, 8 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2735: Construtores de Gandembel / Balana (8): Vamos reconstruir as plantas dos aquartelamentos (Nuno Rubim)

Ponte Balana e Gandembel
Mensagem do Nuno Rubim aos Camaradas que passaram por Gandembel e Ponte Balana Camaradas Uma proposta. Quando iniciei os meus trabalhos que levariam à feitura do diorama de Guileje, só tinha um velho desenho da planta que fiz em 1966, que podem ver (melhorado para ser incluído - como foi - no blogue) no esquema que vos envio (à esquerda).

Planta de Guileje em 1966 e diorama, elaborados por Nuno Rubim.

Como também podem constatar ou ver, foi depois muito melhorado-corrigido (ver à direita) com base no levantamento topográfico realizado em 2005 e em várias fotografias aéreas que fui conseguindo obter.

Também fizeram um grande jeitão as fotos que camaradas das unidades que lá estiveram sedeadas me fizeram chegar.

Ora nesta altura tornou-se-me óbvio que a saga de Gandembel/Balana constituíu, na zona Sul da Guiné, um caso à parte que julgo merecer um esforço de pesquisa adicional. E enquanto cá estivermos neste mundo ...

Estou-me a referir à possibilidade de se tentar desenhar as plantas de ambos os aquartelamentos. Mesmo que inicialmente de forma não muito rigorosa, poderíamos (eu ajudarei no que me fôr possível), reconstituir a disposição dos abrigos e outras construções ali existentes. Não importa inicialmente a escala, apenas uma ideia aproximada.

Depois poderíamos tentar compilar o máximo de fotografias existentes (as que realmente interessem para o fim em vista) e ir ajustando os esboços iniciais. E tentar saber se foram tiradas fotos aéreas.

Poderemos sempre contar com a existencia das ruínas em Gadembel (agora mais limpas da vegetação fruto da intervenção da AD) e do que resta do destacamento da Ponte Balana, pois que lá devem existir vestígios, conforme apurei.

Quem sabe se alguém lá poderá ir e tirar algumas medidas em Gandembel, o que melhoraria e muito o produto final.

Gostaria de ouvir as vossa opiniões/sugestões (1). Um abraço

Nuno Rubim

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Fixação e adaptação do texto: vb

(1) Vd. último poste desta série:

3 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2715: Construtores de Gandembel / Balana (7): As minhas andanças com o Pel Caç Nat 55, no tempo da CCAÇ 2317 (Hugo Guerra)

terça-feira, 19 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1859: O património edificado, militar, religioso e civil, que lá deixámos (Torcato Mendonça)

Guiné > Zona Leste > Cidade de Bafatá > 1969 ou 1970 > Vista área da mesquita de Bafatá e moranças em redor.

Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Cidade de Bissau > 2001 > Mercado antigo, ebelo exemplar da arquitectura colonial revivalista. A bela e tranquila Bafatá, a cidade de Amílcar Cabral, hoje com mais de 10 mil habitantes (?), merecia ser reabilitada e revitalizada. A actual Região de Bafatá, com um total de cerca de 185 mil habitantes, compreende os seguintes sectores: Bafatá (60 mil), Bambadinca (40 mil), Contoel (24 mil), Galomar5o (30 mil), Gamamudo (13 mil), Xitole (16 mil).


Foto: © David J. Guimarães (2005). Direitos reservados.



Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > 1968 > Uma das oito casernas-abrigo construídas de raíz... Cada um albergava duas secções... Que património edificado - militar, religioso, civil - deixámos na Guiné no final da guerra ? (LG)

Foto: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados.


Luís Graça:


Ora, aqui está uma área, quanto a mim, com enorme interesse. O passado, presente e futuro do urbanismo na Guiné. A influência colonial e outras que devem e têm que ser levadas em conta. Lembras-te do Mercado de Bafatá? Além disso há as construções militares, quer as do passado junto à costa, quer as nossas. Estas com significado especial e diverso, como já afloraste.

Além da História ficará o Blogue mais rico mas, principalmente nós, se o quisermos, no relato e estudo desta interessante matéria, sempre com a engenharia (construções/urbanismo) e história de mãos dadas. Acrescem o sal e a pimenta que o sentimento e os afectos das nossas vivências imprimem. Passo a subjectividade da análise, mas gosto do tema, de ter mais um Guineense connosco e de aos poucos outros assuntos irem sendo tratados.

Boas vindas ao neófito e felicidades nos projectos de vida (1).

Já viste o que tens feito com a Net e o Blogue, o amor à Guiné e o estudo gerado por toda esta envolvência, meu caro ?!

Um abraço,

Torcato Mendonça
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Nota de L.G.:

(1) Vd. post anterior > 19 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1858: Tabanca Grande (14): Engº Luís Miguel da Silva Malú, nascido em Bedanda, em 1973, doutorando em urbanismo (Luís Graça)

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1779: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (6): Maio de 1968, Spínola em Gandembel, a terra dos homens de nervos de aço

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Abril/Maio de 1968 > A construção do aquartelamento de Gandembel requereu muitas canseiras envoltas em perigo permanente, para que se garantisse alguma segurança aos nosso homens, uma vez que eram alvo de inúmeros e consecutivos ataques inimigos.

A realização das casernas-abrigo foi a tarefa mais crucial para os homens da Companhia. Representavam para as tropas que aqui se sedeavam, um local de refúgio, e nestas pequenas 'guarnições' pernoitámos durante cerca de 10 meses, de

Foto 301 > "As estruturas metálicas (pré-fabricadas), que chegaram com as colunas. Eram as infra-estruturas de base ".

Foto 302 > "Sobre a sua parte superior, colocavam-se as traves, constituídas por cibes".

Foto 303 > "Construção do tecto. A colocação de uma espessa camada de betão, sobre um tapete metálico (chapas feitas dos bidões)".

Foto 304 > "Havia todo o cuidado na firmeza do tecto"

Foto 305 > "Visão de 2 casernas em fase terminal; falta a colocação dos blocos de pedra".

Foto 306 > "No transporte dos blocos de pedra"

Foto 307 > "Vista traseira de um abrigo"

Foto 308 > "Aspecto de uma caserna-abrigo, já finalizada"


Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.


VI Parte da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69) (1). Texto enviado em 11 de Fevereiro de 2007.


Assunto: A generosidade de um punhado de gente jovem, onde os ecos dos seus ais de desespero e dor, não ressoavam para além da região do Forreá. Gandembel/Ponte Balana, de 9 de Maio a 4 de Agosto.


Caros companheiros Luís e restantes Tertulianos:

A época plena das chuvas aproximava-se, começava a fazer surtir os seus benéficos efeitos, o que para nós incidia muito especificamente na água que o rio Balana pudesse debitar. Este, logo que retomasse alguma capacidade de vazão, significaria que a tão ansiada água já abundaria, e as restrições ao consumo que tinham prevalecido até então, evolavam-se no tempo.


15 de Maio de 1968: o Furriel António Alves acciona uma mina A/P e é amputado de uma das pernas


Já não se tornaria necessário calcorrear o seu leito movediço, tão propício a dissimular uma qualquer armadilha. Bastava unicamente chegar-se à margem esquerda, através da picada aberta para a ligação ao destacamento de Ponte Balana, e encher os bidões com a ajuda de uma bomba manual.

E o refrigério dos nossos corpos, em copiosos banhos à fula, permitia-nos usufruir de uma incontida satisfação de prazer, ao fazer desaparecer as manchas de sujidade que se haviam incrustado durante todo esse período de permanência naqueles antros imundos, que denominei de abrigos-toupeira.

E aquele trilho para o Balana era sistematicamente o mesmo, com os 2 Unimogs a rolarem sobre o mesmo assento. A paragem e as manobras das viaturas para abastecimento faziam-se quase sempre naquele paradouro exíguo, e os homens apeados não diferiam em muito as suas pisadas. E desta conjugação, que a guerra sabe tão ardilosa e perfidamente fazer uso, a 15 de Maio, surge o horror, com o accionamento de uma mina pelo furriel António Alves, a causar ferimentos graves nas duas pernas, uma das quais viria a ser amputada.

Sendo o primeiro ferido muito grave da Companhia, a comoção do seu sofrimento enquanto o helicóptero não chegava e a desventura do próprio drama em si, que quase toda a Companhia presenciou, fez abalar os nossos mais profundos sentimentos, pois perdíamos sempre um pouco de nós mesmos. E começava a manifestar-se o pesado fardo das intolerantes e desumanas vivências de Gandembel.


Finalização das 8 casernas-abrigo e reforço da fiada de arame farpado

A briosa CART 1689 despede-se do nosso convívio, e esta sua partida deixou-nos claramente mais pobres, sós e indefesos. Em mais de um mês que nos acompanhou, até 15 de Maio [e 1968], desenvolveu um trabalho extremamente meritório, e empenhou-se forçadamente em nos acompanhar. Passou também por graves tribulações, em que perde por falecimento um furriel, alvo de um artefacto armadilhado por ela mesma, e sofre mais de uma dezena de evacuações, por ferimentos e doenças.

À minha Companhia deparava-se ainda muito trabalho a realizar, mormente no fecho da configuração octogonal do aquartelamento, com a finalização das 8 casernas-abrigo, a colocação de mais 1 fiada de arame farpado e a limpeza roçada de toda a vegetação a distender por um amplo perímetro exterior.

Cada caserna era um compartimento rectangular, de dimensões da ordem dos 15 x 3 metros, e cuja construção se apoiava em 8 estruturas metálicas em forma de um U recto invertido. Tais estruturas eram firmadas ao solo por sapatas de betão.

Na sua parte superior (tecto), a actuarem como vigas, colocavam-se um conjunto de cibes, as quais eram sobrepostas por um tapete resultante do aproveitamento de bidões. Este tapete metálico, seria então recoberto por uma espessa camada de betão. E o coberto parecia apresentar um bom grau de segurança, que aliás se viria a confirmar mais tarde, na detonação de uma granada de morteiro 82.

Já as partes laterais eram construídas na base de troncos de árvores, a que se viriam a juntar blocos de pedra colocados à mão, os quais eram extraídos de um maciço rochoso que por ali havia, geologicamente conglomerados pouco consolidados. Tais blocos, extraídos por acção manual de picaretas, e a sua aposição para fazer parede a encobrir os toros, não ofertava a segurança desejável, mas foi a melhor solução encontrada para fazer uso dos recursos naturais disponíveis.

Havia 2 entradas pela parte de trás, também protegidas por um tapume de troncos. E a parte frontal da caserna, dispunha de 6 frecheiras rectangulares, largas e de pouca altura, com o fim de permitirem uma boa visibilidade e de poderem fazer uso das G3 em caso de última necessidade.

Cada grupo de combate ocupava 2 casernas, e lateralmente a uma delas, construiu-se um posto de vigia, que garantisse a conveniente segurança no alerta do sentinela.


PAIGC: Forte bateria de morteiros 82 e reforço do bigrupo de Nino Vieira

Lutava-se contra o tempo, pois que se tornava bem evidente que o PAIGC vinha progressivamente aumentando o seu efectivo, e uma vez que estava muito próximo da Guiné-Conacri, tornavam-se fáceis as deslocações para desencadearem flagelações mais próximas, quase sustentadas na base de armamento ligeiro, onde os RPG já apareciam e cada vez em maior quantidade. Mais em suplemento, junto à fronteira e talvez postados em território não nacional, dispunham de uma forte bateria de morteiros 82, e estes, de um modo quase perseverante, davam-se ao atrevimento de nos saudar com os seus quase consecutivos estampidos, a pôr-nos em constante alerta vermelho.

Hoje, passados tantos anos, não causar-me-á engulhos de maior, pois é minha forte convicção, ao afirmar que a data de 15 de Maio [de 1968] se revela como marco crucial na estratégia militar do PAIGC para esta zona, e que está apegada de forma visceral, mesmo muito profunda, às colunas de reabastecimento oriundas de Aldeia Formosa, e que redundam na quebra de todos os tabus de matriz religiosa.

Mais, julgo como certo que o bigrupo de Nino Vieira se junta ao já forte efectivo do PAIGC, com um objectivo firme de tentar resolver definitivamente esta questão da fixação das NT em sítios onde se movimentavam à vontade. A concretização de tal objectivo tem por fim contrariar ao máximo as colunas de reabastecimento, como também de encontrar e esperar a oportunidade mais conveniente para poder destruir Gandembel.

Foi efectivamente assim?


Operação Pôr Termo (de 15 a 26 de Maio de 1968, com um efectivo de três companhias)

Os factos e os feitos comprovam-no, dado que é a partir desta data que a situação de aparente tranquilidade e harmonia em que vivia uma vasta e densa zona envolvente a Aldeia Formosa, se altera abrupta e radicalmente.

Nesse dia, por razões que desconheço, as NT dão início à Operação Pôr Termo, com o objectivo de cercear a actividade inimiga nessa zona, para o que dispõe de um efectivo de 3 Companhias (entre as quais, uma Companhia de Comandos), e que se prolonga até 26 de Maio.

Os resultados infligidos ao PAIGC foram bastante diminutos, se se atender às trágicas consequências sofridas pelas NT. O relatório oficial sobre esta operação refere que sofremos 6 mortos, 3 feridos graves e 6 ligeiros, que é distinto do que nesse período pude comprovar e me foi dado a conhecer.

Assim, para além do que se desenrolou nesse trágico 15 de Maio, correspondente à 3ª coluna advinda de Aldeia Formosa, que referenciarei num capítulo sobre as colunas de reabastecimento, com a morte de 6 homens e de mais uma dezena de feridos evacuados, logo a 20 de Maio, há um facto nas imediações de Aldeia, que não lhe conheço os pormenores, mas em que registo ter havido 4 mortos e 8 capturados.


Pesadas baixas para a CART 1612, na sequência do recrudescimento da actividade operacional do PAIGC

Há documentos oficiais que confirmam que em resultado de uma mina anti-carro com emboscada, na estrada Mampatá−Uane, morrem 4 soldados da CART 1612. Não tenho elementos que me permitam concluir se estas acções se interconectam, pois o que então me afirmaram é que a captura dos elementos fora operada num ataque com assalto a um pequeno destacamento.

Esta Companhia de Artilharia, num curto espaço de tempo, é agressivamente fustigada, e relacionada com as colunas Buba − Aldeia Formosa − Gandembel, perdendo um número incrível de militares, em mortos e feridos.

Como mero título de exemplo, e só pela atribuição manifestamente jocosa como foi apelidada essa operação, dou a conhecer a actividade exercida pelo PAIGC sobre Gandembel, neste lapso de tempo. Assim:

— no próprio dia 15, houve 2 ataques, cerca das 20 e 24 horas, uma na base de armamento ligeiro, e a outra com morteiros, com mais de meia centena de deflagrações;

— a 16, cerca de uma centena de morteiradas espaçadas, a terem início por volta das 19.30 horas; às 4 horas, também na base de morteiradas, em menor número (não mais de 50), mas com maior poder de concentração;

— no dia 17, 2 ataques de morteiros, por volta das 19.30 e 22 horas, ambos com detonações a rondar a meia centena;

— já a 18, houve um único ataque de morteiros, ao começo da noite, a ultrapassar seguramente as 70 deflagrações;

— a 19, cerca das 20 horas, houve uma flagelação com duração de cerca de 20 minutos, de lança-granadas e de metralhadoras, a que se seguiu um ataque de morteiros, a rondar a meia centena de despoletamentos;

— no dia 20, ao anoitecer, mais um ataque de morteiros, com mais de 50 deflagrações;

— já a 21, registou-se só um ataque de morteiros, com cerca de 30 detonações;

— a 22, ao fim da tarde, há uma flagelação de lança-granadas e metralhadoras, que se prolonga em cerca de 15 minutos;

— no dia 23, logo pela madrugada, mais um ataque de morteiros, mais intenso, a ultrapassar a centena de disparos;

— já a 24, também há a registar um ataque de características muito similares ao do dia anterior;

— a 25, a meio da tarde, um pequeno ataque de morteiros, com cerca de 20 detonações;

— no dia 26, outro ataque de morteiros, ao princípio da tarde, com mais de meia centena de disparos.


26 de Maio de 1968: Spínola pela primeira vez em Gandembel

E é precisamente neste dia 26 de Maio [de 1968] que Spínola, ainda com poucos dias no cargo das suas funções de Comandante-Chefe, visita Gandembel logo pela manhã e sem qualquer aviso prévio. Debruça-se atentamente quanto às condições que aquele local ofertava às tropas aí sedeadas, não faz muitas perguntas, também não ousa questionar das eventuais dificuldades sentidas, é receptivo quanto à urgência de se dispor de equipamento bélico defensivo de grandes calibres. Faz-se não demorar muito tempo, e o helicóptero que o trouxera, e que sobrevoava Gandembel para não ficar estacionado durante a sua permanência, aterra de novo para o levar para outro rumo.

E o que Spínola terá pensado sobre o que tinha observado, já que pelo seu mutismo parece dar a entender que tinha perfeito conhecimento da situação bélica que se estava a passar na zona?

Naturalmente que ainda é prematuro extrair quaisquer ilações, pois certamente não foi por razões vãs que quis deslocar-se a este sítio. Posso reconhecer que se lhe tenha deparado aqui o primeiro dos grandes problemas para enfrentar e tentar resolver.


As colunas de reabastecimento tornam-se um pesadelo


Apenas após 3 dias Spínola vir a Gandembel, chega um pequeno contingente de artilharia, sob o comando de um alferes, com 2 obuses, que julgo de calibre 10.5, a que acrescia 2 metralhadoras pesadas Browning, e para as quais já estavam construídos os seus ninhos.

O PAIGC, convicto da sua força, desencadeia no dia 5 de Junho [de 1968] mais uma das suas acções, e que mostrar-se-ia fatídica para a Companhia, conforme referirei no capítulo sobre as colunas de reabastecimento, ceifando a vida ao 3º elemento da Companhia — o alferes Álvaro Vale Leitão, que vinha a caminho de Gandembel, provindo de Guileje.

Estas colunas devastavam e devoravam, provocando consequências de tal modo aterradoras, que iam atingindo penosa e gravemente os elementos da escolta que forçadamente nelas estavam envolvidos, com perturbações profundas e fracturantes no corpo e na mente.

Mas quem, sujeito a um penoso andar, absorvido pelo efeito danoso do inimigo, se confronta aqui com a morte de um companheiro, para mais alguns instantes se deparar com um outro a necessitar de ser evacuado, muito dificilmente conseguiria suportar tantas adversidades. E as perspectivas de as verem acabadas, de lhes pôr termo, não as vislumbrava.

Como forma de mascarar este embate de vida e de morte, havia sempre uma mente brilhante que planificava mais uma operação, mas que à míngua dos seus efectivos, não beliscava minimamente no comportamento bélico do PAIGC.

Foi o caso da Boa Farpa, tão serenamente vista dos céus por uma Dornier, mas tão assustadora e pungente para os que cá em baixo começavam a perder a noção da racionalidade, que se mediava entre o tudo e o nada, inseguros de si mesmos, já a agirem quase sempre maquinalmente. Eram homens em desespero, contando apenas com uma G3 fortemente aperrada e pronta a fazer fogo ao menor indício de perigo.

E ante este desencadear consecutivo de ocorrência deste tipo de vivências ameaçadoras, de uma guerra descomedida e sem limites, não se torna fácil de as descrever, porquanto são tantas e tão diferenciadas que nos impele a omitir as que, embora sofridas, não trouxeram, no imediato, perdas gravosas para a Companhia.

Homens em desespero: o caso do Alferes do Pelotão de Caçadores Nativos

Sem manifestar qualquer pretensão em me arrogar em fazer o papel de advogado do diabo, julgo hoje, há lonjura de quase 4 décadas, que quem chegasse a Gandembel tinha de possuir um temperamento firme e rijo, para enfrentar as adversidades que se lhe deparavam no dia a dia, dado o modo agreste e alucinante como se conseguia sobreviver.

Embora o considere como exemplo raro, ao referi-lo, demonstra um pouco o que este lugar nos reservava, e por isso faço-o figurar na história de Gandembel. Em rendição individual, e logo que chega do Continente, é enviado um alferes (perdi qualquer referência pessoal) para o Pelotão de Nativos, que num prazo de apenas 2 semanas, mediado entre os dias 29 de Maio a 13 de Junho, mergulha num profundo estado de transe que condoía. Era um ser quase inerte, que de tão apoderado pelo medo, já não reagia. Ante esta incontornável situação, a Companhia que estava sob o comando de subalternos [aliás, como numa parte substancial do tempo de permanência], pediu a sua evacuação.

(Continua)



E para todos vocês, um até breve. Um abraço do Idálio Reis.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá

9 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1576: Fotobiografia da CAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (2): os heróis também têm medo

12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1654: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (3): De pá e pica, construindo Gandembel

2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras

9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1743: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (Idálio Reis) (5): A gesta heróica dos construtores de abrigos-toupeira em Gandembel