sábado, 12 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16711: Estórias do Juvenal Amado (54): Aida, lembras-te de quando eu quis ir a Huelva?



1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem", com data de 10 de Novembro de 2016, com mais uma estória para a sua série:


ESTÓRIAS DO JUVENAL AMADO

54 - Aida, lembras-te de quando eu quis ir a Huelva?

Conheço-a desde sempre

Vivemos por períodos juntos ora em casa da nossa avó em Alcobaça, onde se juntavam os primos todos, ou em casa dela na rua da Saudade ali mesmo junto ao castelo de S. Jorge, quando éramos crianças e já adolescentes.

Mais tarde em saborosos fins-de-semana em que o meu tio nos visitava em Alcobaça e nas férias em Monte Gordo, onde eu tinha lugar de irmão mais velho, que tinha por missão afugentar a rapaziada mais afoita.

Está claro uma coisa era a missão, outra a comissão e assim eu não a chateava e ela apresentava-me as amigas, os dois namoriscávamos um para cada lado. Naquele tempo era coisa de responsabilidade, nós conhecíamos os limites dos dias passados na praia e as noites no Firmo, no Bowling, no cinema ao ar livre e de vez em quando, no Casino de Monte Gordo, que funcionava como discoteca com musica ao vivo.

Está claro que o meu tio de vez em quando trocava-nos as voltas e não a deixa ir. Eu acabava por solidariedade ficar com ela e amigos/as no bar do próprio parque de campismo.

Um dia o meu tio perguntou-me se eu não gostava de ir a Huelva. Era para mim uma novidade, pois nunca tinha saído de Portugal e aquela travessia de barco, passear noutro país, outra língua, outra forma de viver tão perto, mas que se provou ser muito longe para a época, era apetecível.

Eu estava na idade militar e a coisa era bicuda. O meu tio,  oposicionista ferrenho ao Estado Novo, já tinha urdido um plano pois sabia que o chefe da PIDE era o dono das bombas de gasolina e com cartão de um major,  seu cliente, que mais tarde conheci quando estava para embarcar para a Guiné, apresentou-se lá para que ele desse autorização para eu ir até ao outro lado da fronteira, talvez comprar caramelos e voltar.

Quem é que ia a Espanha e não trazia os afamados caramelos com pinhões ou simples?

No dia aprazado lá foi o grupo todo com idades que variavam entre os 16 e os 18 anos até Vila Real de Santo António e,  enquanto o meu tio, vencendo alguns escrúpulos, se apresentou ao sujeito, nós ficamos na esplanada das próprias bombas, esperando o resultado das negociações, que foram infrutíferas, como era bem de ver.


Eu, de óculos escuros, no dia em que quis ir a Huelva mas que não passei da esplanada das bombas de gasolina

Com muito cuidado com o que dizia, pois como se sabe, não é de bom tom falar em cordas em casa de enforcado, meu tio ofereceu-se para deixar o carro, mais um depósito em dinheiro, mais fotocópias dos cartões de identidade, etc, etc, mas nada demoveu o famigerado zelador da inviolabilidade do território nacional.

A decepção não foi grande por já ser esperada. Lá voltamos para a praia e para as noites encaroladas, que ficaram sempre na minha memória.




Em 18 de Dezembro de 1971

Não querendo jurar falso, deviam-me faltar três anos para ser incorporado e já tinham medo que eu fosse e não voltasse. Vivíamos num país de muros altos e a nossa participação naquela guerra não foi a escolha de muitos, mas que por diversas razões para o bem e para o mal resolveram nela participar.

Assim só fui a Espanha em Agosto de 1974, estive em Madrid 15 dias,  ali perto do estádio do Santiago Bernabéu, mas naquele dia não pude ir a Huelva.

Um abraço para todos
JA
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14462: Estórias do Juvenal Amado (53): O 25 de Abril faz 41 anos e eu continuo um incorrígel sonhador

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16710: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-al mil, CCAÇ 4740, Cufar, dez 72 / jul 73; e Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (1) - Bolama, Centro de Instrução Militar (parte I)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4 


Foyp nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7

Guiné > Bolama > Centro de Instrução Militar (CIM) > c. jun/jul 1973 >  Estágio do Luís Oliveira,  de preparação para o comando de subunidades africanas. (*)


Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Antes de ir tomar posse do lugar de comandante do Pel Caç Nat 52 onde vai terminar a sua comissão (Mato Cão e Missirá, julho de 1973/agosto de 1974), o alf mil Luis Mourato Oliveira passa cerca de duas semanas em Bolama e uma em Bissau, recebendo formação sobre usos e costumes dos povos da Guiné bem como sobre ação psicossocial (fotos nºs 5, 6  e 7) e dando  ainda intrução militar a "mancebos" do recrutamento local (fotos nº 1 e 4).

Foi nesta ocasião que ele (foto nº 3) se encontra com outros graduados, que também estavam a fazer o estágio,  como o alf mil Miguel Champallimaud, sobrinho do conhecido empresário António Champallimaud  (foto nº 2),  e um furriel  (, talvez Hèlder de seu nome ?), promovido a alferes por ter feito um grande "ronco" ao apanhar ao PAIGC, no sul, um equipamento completo do "jato do povo" (foguetão 122 mm e respetiva rampa de lançamento). Eram dois dos seus parceiros de cartas e de amena cavaqueira à noite, acompanhada de um bom uísque.

Diga-se, de passagem, que essa formação, mais de natureza socioantropológica, não existia ao tempo da formação das primeiras companhias da "nova força africana", criadas logo em 1969, no primeiro ano do consulado de Spínola (por ex., CCAÇ 11, 12, 13, 14)...

De  regresso a Cufar, e depois a caminho do setor L1 (Bambadinca), o Luís perdeu o rasto a estes e outros camaradas do tempo do CIM de Bolama. Ele tinha chegado à Guiné no princípio de 1973, vinha em rendição individual, e fora  colocado na CCAÇ 4740, em Cufar. Fará férias, na metrópole,  em novembro/dezembro desse ano. Regressa a tempo de passar o Natal com os seus homens, do Pel Caç Nat 52, no Mato Cão. E traz com ele um "pão de ló de Miragaia", feito pela mãezinha.

Dessa passsagem pelo CIM de Bolama, publicam-se algumas fotos do seu álbum. Legendas complementares:

Fotos nºs 5, 6 e 7< "*Psico-compras",  em tabancas bijagós de Bolama

Foto nº 4 > "Visita aos instruendos" em formação,  no CIM.

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Nota do editor:

(*) Vd. postes de

9 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16702: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (1) - Experiências gastronómicas (Parte I): maionese de peixe do Cacine e açorda de bacalhau com coentros...

10 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16706: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (2) - Experiências gastronómicas (Parte II): Restaurante do Mato Cão: sugestões de canibalismo ("iscas de fígado de 'bandido' com elas"), "pãezinhos crocantes com chouriço" e... "macaco cão [babuíno] no forno com batatas a murro"!...

Guiné 63/74 - P16709: Agenda cultural (514): Lançamento do livro "25 de Novembro, Reflexões", coordenação do Coronel Manuel Barão da Cunha, no próximo dia 15 de Novembro de 2016, pelas 15h00, na Livraria/Galeria Municipal Verney, Rua Cândido dos Reis, 92, em Oeiras

 C O N V I T E 
 



Mensagem do nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref, que foi CMDT da CCAV 704 / BCAV 705, Guiné, 1964/66, com data de 4 de Novembro de 2016:

Caríssimos,
Recordamos o lançamento do livro "25 de Novembro, Reflexões" no próximo dia 15, pelas 15h00, em Oeiras, na Livraria Municipal (ver anexo), compreendendo 30 autores, incluindo os Generais António Barrento, Vasco Rocha Vieira; Monteiro Pereira, Ramalho Eanes, Dr. José Manel Barroso.
Fiquem bem, quem puder ir será bem-vindo e também agradecemos divulgação,

Manuel Barão da Cunha
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16694: Agenda cultural (507): Apresentação do livro "Quatro Rios e um Destino", da autoria de Fernando de Jesus Sousa (DFA), ex-1.º Cabo da CCAÇ 6, dia 10 de Novembro de 2016, pelas 15 horas, na Messe Militar do Porto, sita na Praça da Batalha

Guiné 63/74 - P16708: Notas de leitura (901): “Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’”, por Patrick Chabal e Toby Green, Hurst & Company, London, 2016 (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Novembro de 2016:

Queridos amigos,
Se dúvidas subsistissem sobre a importância desta obra antológica elaborada por investigadores do mais alto nível e onde participaram estudiosos de mérito, essa dúvidas dissipam-se com as análises efetuadas na última parte do livro: o significado da diáspora; os fundamentos da etnicidade na turbulência política das últimas décadas; onde e como se impôs o Narco-Estado a partir do momento em que a militarização do regime subalternizou as instituições democráticas e como, em 2014, havia todos os ingredientes para encostar à parede a clique militar, após a vigilância norte-americana. A instabilidade não passou mas as qualidades do povo, o elevado nível de convivência e a solidez das sociedades rurais indicam que a esperança se mantém de pé.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau: de Micro-Estado a Narco-Estado (4)

Beja Santos

Concluímos hoje as recensões sobre a obra “Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’”, por Patrick Chabal e Toby Green, Hurst & Company, London, 2016, constituída por um acervo de estudos dedicados à memória de Patrick Chabal, falecido em Janeiro de 2014, e que idealizou até ao fim dos seus dias a organização desta análise coletiva com Toby Green. Obra constituída por três partes (fragilidades históricas; manifestações da crise e consequências políticas da crise) convocou nomes importantes da historiografia da Guiné-Bissau no plano internacional como Toby Green, Joshua B. Forrest, Philip J. Havik, entre outros. Doravante, não se poderá ter um grande ecrã das investigações deste tempo sem consultar análises tão pertinentes, algumas delas completamente ausentes nos estudos sobre a história contemporânea da Guiné-Bissau. Veja-se logo o primeiro estudo sobre a diáspora guineense depois do conflito político-militar, recordando as rotas clássicas da diáspora, a presença de guineenses em Portugal e um pouco por toda a Europa, lembrando que na diáspora ganharam relevo certos blogues como Didinho, Doka Internacional e Intelectuais Balantas na Diáspora. Aspeto que o autor considera é a dispersão de estudantes em muitas universidades como Marrocos, Argélia, Nigéria, Rússia, China, Senegal e Brasil. É também referido como vivem os migrantes nos subúrbios de Lisboa, como se processam as relações entre a diáspora e a pátria e dá-se a sugestão para a criação de um fórum entre guineenses em diáspora para promover o desenvolvimento e construir a paz, um lóbi que suporte iniciativas para o desenvolvimento da Guiné-Bissau.

Um outro autor debruça-se sobre a questão étnica e interétnica, a questão étnica não esteve ausente das eleições de 2014, e o exemplo mais claro foi dado pelo PRS – Partido da Renovação Social, que fez campanha sobre a aura da etnia Balanta, mas que não conseguiu sugestionar o eleitorado que preferiu José Mário Vaz. As grandes fraturas hoje existentes no PAIGC não assentam na etnicidade mas sim na concertação de grupos que querem chegar ao poder e manobrar negócios. O autor faz um breve historial da questão étnica do lado da luta armada e da sua exploração do lado colonial, as grandes tensões e confrontos dividirão guineenses e cabo-verdianos, assistir-se-á depois ao vexame dos Balantas, será a interetnicidade a ganhar força durante o conflito político-militar, Kumba Ialá exacerbará a questão étnica e tentará misturá-la com a questão religiosa, sem sucesso pois a convivência religiosa entre guineenses está de pedra e cal. A coligação entre os militares ligados à droga para destituir Raimundo Pereira e Carlos Gomes Júnior e afastar a influência angolana foi uma coligação de interesses devido à traficância de droga, explorando o sentimento de que a CEDEAO não aceitava Angola dentro deste quadro político e geoestratégico.

Num outro ensaio apreciam-se as questões de segurança na Guiné-Bissau no quadro da geopolítica global, são referidos os diferentes atores, as missões de paz das Nações Unidas, o histórico da política externa guineense desde a sua postura não-alinhada, depois da independência, a deslocação para a esfera francesa e a aceitação de pertencer à CEDEAO e a ascensão da instabilidade quando alguns políticos e militares aderiram ao tráfico da cocaína. Têm vindo a falhar as diferentes tentativas da reforma do Estado e das Forças Armadas, Angola fez propostas e pôs dinheiro em cima da mesa, os militares da droga perceberam que ficariam algemados, desencadearam um golpe de Estado. O investigador dá conta das tentativas desenvolvidas a partir da eleição de José Mário Vaz para se chegar a um plano de arranque para o desenvolvimento, foi assim que se criou o plano “Terra Ranka”, que chegou a ter previsto um financiamento superior a um bilião de dólares, a seguir veio a barafunda institucional, os doadores continuam à espera que as entidades guineenses deem sinais de maturidade.

O impacto do Narco-Estado é matéria de outro estudo onde se parte da consideração que a militarização do regime, logo em 1980, por etapas sucessivas levou à anomia do quadro político por sujeição a uma clique militar que beneficia do trânsito da cocaína e da cumplicidade com o cartel colombiano. O aspeto curioso é que a chegada ao poder de José Mário Vaz era contemporâneo do enfraquecimento dessa clique graças à vigilância norte-americana coroada de êxito com a prisão de Bubo Na Tchuto e a neutralização de António Indjai. Esta instabilidade é acrescida com os acontecimentos do Casamansa, um conflito que precisa de instituições sólidas na Guiné-Bissau para pôr termo ao livre-trânsito de vendedores de águas, traficantes de crianças e mercenários na região.

A conclusão de todo este estudo cabe a Toby Green que resume admiravelmente a passagem da colónia da república independente e a multiplicidade dos conflitos que surgiram e refere os contextos adversos a partir de 1974: crise petrolífera, ascensão e consagração das teses neoliberais, crescentes desigualdades entre o Norte e o Sul à esfera global, passagem de um coletivismo demencial para um liberalismo que favoreceu uma certa clique do regime, a emergência de monocultura do caju, um sistema económico à deriva. Daí a resistência posta pelas sociedades rurais para sobreviverem a um sistema político autodevorador, em que em todas as instituições se cobiçam benefícios da ajuda externa e do financiamento de projetos. Os indicadores de desenvolvimento humano são dos mais baixos do mundo, mas o povo mantém-se admirável, pela sua convivência, pela sua esperança, pela sua energia cultural. Daí poder dizer-se que a construção da nação está em marcha enquanto o Estado faz parte do imaginário coletivo. Talvez a retoma ao princípio da justiça e da igualdade entre todos os povos da Guiné, que fez parte do sonho de Cabral, possa ser a mola de arranque para solidificar as estruturas da colaboração interétnica e estabelecer as novas bases da confiança mútua, dentro de um princípio consciente de aprender com os erros do passado e saber perdoar.
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Notas do editor

Postes anteriores de:

31 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16660: Notas de leitura (897): “Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’”, por Patrick Chabal e Toby Green, Hurst & Company, London, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

4 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16681: Notas de leitura (898): “Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’”, por Patrick Chabal e Toby Green, Hurst & Company, London, 2016 (2) (Mário Beja Santos)
e
7 de Novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16692: Notas de leitura (899): “Guinea-Bissau, Micro-State to ‘Narco-State’”, por Patrick Chabal e Toby Green, Hurst & Company, London, 2016 (3) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 7 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16697: Notas de leitura (900): a História do BEng 447, que todos conhecemos. Um publicação que merece ser conhecida e lida (António J. Pereira da Costa, cor art ref)

Guiné 63/74 - P16707: Inquérito 'on line' (82): Quem nunca comeu macaco-cão ? Em 35 respostas (provisórias), mais de metade (60%) diz que nunca comeu ... Só 4 dizem que comeram e gostaram... Outros tantos comeram e não gostaram... O prazo para responder termina em 17/11/2016, às 7h32. Cem respostas, no mínimo, precisa-se!


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional de Cantanhez > Iemberém > 9 de dezembro de 2009 > 15h50 > Macaco fidalgo vermelho (ou fatango, em crioulo).  Espécie, nome científico: Procolobus badius. Em inglês, western red colobus. É uma espécie ameaçada, fundamentalmemte devido à caça e à desflorestação. (*)

Por esta altura, havia uma jovem bióloga portuguesa, a fazer o seu doutoramento em Inglaterra, com um estudo sobre os babuínos da Guiné-Bissau.Verificamos com muita satisfação, passados quase 8 anos (!),  que a Maria Joana Ferreira da Silva doutorou-se em 2012 e trabalha agora em Portugal, na CIBIO-InBIO, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos,  Universidade do Porto. Demos lhe em 2009 uma ajudinha para contactos e entrevistas (**),  a par  dos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento, ONG à frente da qual estava o nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014)... O nosso blogue cumpre, também  assim, a sua missão como "fonte de informação e conhecimento"...mas também de tomada de consciência dos problemas ecológicos, globais, regionais e locais,,,

Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 (1972/73) > O "Pifas", mascote da companhia...

Foto: © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Em muitos aquartelamentos das NT, durante a guerra colonial, havia animais destes, em cativeiro... Macaco-cão, macaco-kom, uma espécie que nos era familiar...Nome científico: Papio hamadryas papio.

No mato, era,  para as populações e para os guerrilheiros do PAIGC,  uma das principais fontes de proteína animal. As populações sob o nosso controlo, ou que viviam perto dos nossos aquartelamentos e destacamentos, também os caçavam, mais ou menos furtivamente.  Mas era frequente, quando em operações,  avistarmos bandos de 100 ou mais babuínos em estado selvagem nas matas e florestas do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, em finais  dos anos 60 / princípios dos anos 70...

A sua caça chegou a ser proibida pelas autoridades da Guiné-Bissau logo a seguir à independência... Mas foi sol de pouca dura... Nos últimos 30/40, a população guineense de babuínos tem vindo a decrescer dramaticamente, devido à combinação de diversos factores:

(i) mudanças no território devidas às plantações extensivas de caju,  que ocupavam já no início do séc. XXI mais de 2/3 de toda a terra arável da Guiné-Bissau; (ii) a desflorestação ilegal, devido à procura externa de madeira exótiocas (por ex., pau sangue); (iiii) caça intensiva praticada por grupos de militares como forma de compensação extra-salarial; (iv)  crescente procura da carne de macaco-cão e de outros primatas (macaco-fidalgo, etc.), como produto "gourmet",  pelos restaurantes de Bissau e periferia; (v) o uso da pele do babuíno pelos praticantes da medicina popular tradicional; e., por fim , (vi) o tráfico de juvenis para alimentar o mercado interno de animais de estimação.

Fonte: Adapt. de Maria J. Ferreira da Silva,  Catarina Casanova  & Raquel Godinho - On the western fringe of baboon distribution: mitochondrial D-loop diversity of Guinea Baboons (Papio papio Desmarest, 1820) (Primates: Cercopithecidae) in Coastal Guinea-Bissau, western Africa. "Journal of Threatened Taxa" | www.threatenedtaxa.org | 26 June 2013 | 5(10): 4441–4450

 [Consult em 10 de novembro de 2016]. Disponível em:  http://threatenedtaxa.org/ZooPrintJournal/2013/June/o321626vi134441-4450.pdf



I. INQUÉRITO 'ON LINE': 

"NUNCA COMI MACACO-CÃO (BABUÍNO) NA GUINÉ" (***)

Respostas (preliminares) (n=35), às 23h30 de ontem


1. Nunca comi >  21 (60,0%)

2. Comi e não gostei  > 4 (11,4%)

3. Comi e gostei  > 4 (11,4%)

4. Não tenho a certeza se comi  > 6 (17,2%)

Total  > 35 (100,0%) 


O prazo para resposta ao inquérito termina no dia 17/11/2016, 5ª feira, às 7h32.  Esperamos até lá obter 100 ou mais respostas.



II. Seleção de comentários dos nossos leitores:


(i) Henrique Cerqueira (****)

Eu nunca comi macaco-cão, mas experimentei comer macaco doutra espécie (o mais avermelhado) que pelos vistos era vegetariano [ fatango, em crioulo, macaco fidalgo vermelho, vd. foto acima].

A sua carne depois de cozinhada tinha o aspecto da carne de gazela e sabor idêntico a carne de mato. Não era mau de todo e como a fome de carne era muita até se safava. O pior era quando se via o animal após ter sido chamuscado para queimar o pêlo como se faz ao porco.É que parecia uma criança autêntica.

Mas a minha experiência gastronómica também passou por comer calau ou urubu que os civis chamavam de pato da bolanha. Quando chegavam ao nosso poder já vinham devidamente esfolados e sem alguns apêndices que os identificavam . E assim sendo a fomeca apertava, o paladar não era mau e as cervejas (basucas) empurravam muito bem o repasto.

Outro dos petiscos muito apreciados  eram o porco espinho do mato e o papa formigas.Que em Bissorã apreciam com alguma frequência à venda pelos civis.
Só não experimentei comer cobra e rato do mato porque para mim eram mesmo repugnantes, mas para os meus soldados africanos [, da CCAÇ 13,] era um petisco de tal ordem que,.  mesmo que estivéssemos em missões,  eles quebravam todo o silêncio e entravam numa euforia tal que toda a segurança que tivéssemos montada ficava desde logo comprometida.

Foram experiências interessantes e às vezes até de recurso.

(ii) José Nascimento (****)


Mesmo tendo passado alguma fomimha, nunca comi carne de macaco, mas houve alguns elementos do meu pelotão [, CART 2520, Xime e Quinhamel, 1969/70, ] que comeram, não sei em que condições. 

Pelo Mato de Cão passei por lá uma vez, fiz o percurso entre Bambadinca (atravessei o Geba) e o Enxalé. Deve ter sido em Abril-Maio de 1970. Não vimos vivalma, só tabancas abandonadas.

(iii) José Nunes (****) 


Aquando da montagem eléctrica da Carpintaria Escola de Cumura, comia na Missão de Padres Italianos.

Um dia ao almoço veio para a mesa umas travessas com aves,pois muita alimentação era feita à base de caça, patos,  galinhas do mato... Como não sou amante de aves esperei que viesse algo mais, então surgiu uma travessa com carne,  uns "bifinhos" jeitosos, e o rapaz aviou-se... Ao dar a primeira dentada, pensei, estes "italianos" são mesmo malucos,  temperar a carne com açúcar....

Lá fui mordiscando, quando do topo da mesa o Padre Settimio me diz: "desculpa,  não sei se gosta de macaco ?!"... Já não consegui comer mais...

Depois da independência,  D. Settimio Ferrazzeta veio a ser o 1º  bispo da Guiné. Passei momentos inesquecíveis nesta Missão que na altura abrigava todos os leprosos da Guiné, as "pastas" eram feitas na Missão e como eram deliciosas!


 (iv) Artur Conceição (*****)


(...) Comi macaco em Bissau num restaurante que tinha essa especialidade, e que ficava localizado numa rua em frente aos Correios, para o lado do Forte da Amura, uma ligeira subida do lado esquerdo. 

O nome 'cabrito pé da rocha'  para mim é novidade (...).

(...) Eu comi porque me garantiram que era macaco fidalgo, porque. sem tal garantia, o macaco cão penso que não seria capaz de comer, sendo que uma das razões era exactamente o contacto que tinha com eles, o macaco cão.

Para além de macaco fidalgo confeccionado em restaurante, e que já não posso dizer se gostei ou não, comi também gazela, uma ou duas vezes, javali, várias vezes, águia e raposa uma vez. Cobra... embora digam que é um petisco, penso que era mais fácil comer capim. (...) 

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Notas do editor:


(**) 13 de janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3734: Fauna & flora (8): O estudo do Papio hamadryas papio (Maria Joana Ferreira Silva)

(...) O meu projecto de doutoramento tem três principais objectivos: (i) Determinar o estatuto de conservação dos babuínos da Guiné na Guiné-Bissau. (...); (ii) Investigação de aspectos socio-ecológicos (...); (iii) Investigação da história demográfica passada (...)

(***) Último poste da série > 4 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16684: Inquérito 'on line' (81): a avaliar pelo total de respostas (n=91), só uma minoria (15%) refere a existência de casos de deserção (n=15) na sua unidade (companhia ou equivalente)... Menos de metade do que terá ocorrido na metróple (=34)... Impossível saber se há casos repetidos... A nossa estimativa, grosseira, é de 500 casos de deserção em toda a guerra: 2/3 na metrópole, 1/3 no TO da Guiné

(****) Vd. poste de 10 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16706: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (2) - Experiências gastronómicas (Parte II): Restaurante do Mato Cão: sugestões de canibalismo, bom pão e melhor... macaco cão no forno com batatas!


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16706: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (2) - Experiências gastronómicas (Parte II): Restaurante do Mato Cão: sugestões de canibalismo ("iscas de fígado de 'bandido' com elas"), "pãezinhos crocantes com chouriço" e... "macaco cão [babuíno] no forno com batatas a murro"!...



 Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) > Mato Cão  > Vista do Rio Geba e bolanha de Nhabijoes.


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) > Preparando peixe do rio


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) > O furriel João Santos, já em fim de comissão.


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >  A mascote, o "Pixas"...


Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >   "Pequenas diversões"...

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Fotos do álbum de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil inf CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73), e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74), subunidade que ele desmobilizou e onde terminou a sua comissão já depois do 25 de Abril... É  membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 730. Nascido em Lisboa, tem raízes na Marteleira e Miragaia, concelho da Lourinhã, pelo lado materno.




1. De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (1) > Experiências gastronómicas (Parte II)

Segunda parte do texto enviado em 7 do correntes com 4 histórias, duas passadas em Cufar, região de Tombali, no sul da Guiné (*),  e as restantes no Mato Cão, na zona leste, na região de Bafatá, setor L1 (Bambadinca). 


III – O Padeiro de Mato de Cão 


O pão é um alimento extraordinário que caso não tivesse sido criado há mais de 6.000 anos na Mesoptâmia, provavelmente a existência humana tivesse sido comprometida. Não conheço ninguém que não goste de pão nas suas múltiplas formas de fabrico e, em particular, nós,  portugueses, não o dispensamos para acompanhamento ou mesmo como elemento principal de uma refeição.

Em Mato-de-Cão [ou Mato Cão]  embora o efectivo dos europeus se limitasse a dez elementos, um deles tinha a “especialidade” de cozinheiro que também abrangia a de “padeiro”. Infelizmente tratava-se de uma pessoa com enormes limitações cognitivas, recordo-me que entre outras confusões achava que “valor declarado” e “louvor declarado” eram a mesma coisa e, não fora as grandes dificuldades de recrutamento da época , o nosso jovem “cozinheiro” seria certamente adstrito ao contingente de básicos.

Na cozinha,  dada a simplicidade e a repetição dos menus,  as coisas iam correndo, mas no que dizia respeito ao pão, o homem não se safava e a nossa dentição só resistia devido aos vinte e poucos anos de uso que tinha na altura e o produto do nosso padeiro só era tragável numas sopas de café.

Propus-me a alterar esta situação, para mim desastrosa,  e com calma e paciência arranjei umas medidas para que ele respeitasse as quantidades de farinha e fermento, indiquei-lhe o tempo da levedar da massa, mas continuavam a sair pedras,  ao invés de pães do nosso forno. A paciência perdida e um exemplar da padaria na cabeça do “cozinheiro/padeiro” que ia originando um traumatismo craniano no funcionário,  levou-me a desistir de o transformar num padeiro capaz.

Ma,  como o homem é criativo e sabe aproveitar as oportunidades, um soldado do pelotão [de caçadores nativos] 52, o Jobo Baldé, abordou-me com oportunidade e a sua habitual irreverência: 
– Alfero, Jobo passa a fazer o pão para o pessoal! 
– Não sabes fazer pão, Jobo, não te metas nisto que arranjas problemas.
–  Jobo sabe fazer pão, alfero, deixa experimentar e vais ver.

Perante sua insistência e convicção e no desespero de não haver outra alternativa,  resolvi experimentar as aptidões do Jobo para novo responsável da padaria. Expliquei-lhe as medidas para a farinha e para o fermento, o tempo para levedar,  e ele atacou de imediato a nova função. 

Não sei se por milagre ou se pelas aptidões inatas do Jobo, no dia seguinte quando este me chamou para ver o pão acabado de cozer,  tive das grandes alegrias gastronómicas da minha vida. O pão estava quente, tinha crescido por obra do fermento e da forma carinhosa com a massa tinha sido tratada, o som da batida no “lar” parecia um tambor a acusar uma boa cozedura e o abrir a crosta estaladiça evidenciava um miolo macio, fumegante e com um cheiro delicioso. Regalámo-nos de imediato com pão quente e manteiga e o Jobo ganhou o lugar!

O Jobo estava feliz com a nova função e cumpria-a com pontualidade, brio e grande competência. Posteriormente ensinei-o a fazer merendeiras com chouriço e ele começou a produzi-las sem grande esforço de explicação. Quando as tinha cozido trazia-me de imediato uma e eu recordava as que a minha avó fazia na Marteleira, [, Lourinhã,]  quando era dia de cozedura. 

No que dizia respeito ao pão, tínhamos atingido, graças ao Jobo Baldé, a felicidade. O Jobo também estava feliz, era casado com uma mulher,  bem mais velha,  que ele herdara do irmão entretanto falecido. Embora esta mulher fosse divertida e senhora de um grande sentido de humor,  já tinha perdido o fulgor e a beleza da juventude e o nosso amigo e saudoso Jobo Baldé, quando acabava de fazer o pão, tinha sempre visitas de exuberantes bajudas a quem ofertava uns pães a troco de inconfessáveis favores. 

Luís Mourato Oliveira: foto atual
A felicidade conquista-se com pequenos acordos e cedências. Estávamos todos satisfeitos…até as bajudas.

IV – Macaco em Mato de Cão

Sempre na pesquisa de petiscos e novos sabores para variar a nossa rotineira cozinha, um dia o soldado Tomango Baldé, o maior “pintoso” do pelotão, depois de alguns convites para comer o fígado de “bandido” quando apanhássemos um, veio sugerir que petiscássemos macaco cão.

A primeira ideia foi imediatamente recusada, embora ele defendesse que iríamos reforçar a nossa força com a do inimigo abatido e cozinhado, este prato estava longe de poder ser bem acolhido por nós, a não ser que o “bandido” fosse uma gazela tenrinha ou um javali bem gordinho, contudo a ideia do macaco cão não era totalmente de deitar fora. 

Os guineenses comiam macaco cão com regularidade, esta iguaria era até muito apreciada e havia quem achasse a carne do macaco semelhante à do cabrito, por isso aceitámos comer um quando a caça o permitisse. [vd. postes sobre macaco cão, também conhecido por "cabrito pé de rocha". ]

Um dia o Tomango apareceu com um macaco cão acabadinho de ser caçado e, como não podíamos voltar com a palavra atrás, o animal foi para a cozinha para ser preparado. O aspecto do bicho era devastador depois de esfolado,  pois tinha mais semelhanças com um humano recém-nascido do que com um cabrito, foi colocado a marinar em vinha de alhos e, depois para o forno, para aquecer os nossos estômagos no jantar do dia.

Havia poucos candidatos para a degustação, mas depois de cortado e arranjado no forno com as batatinhas assadas,  apresentava um aspecto comestível, até atractivo e a abrir o apetite. Os menos receptivos ao manjar foram alterando as suas posições, alguns após provar até repetiram e o tabuleiro ia ficando vazio. 

O grande companheiro e amigo Santos, o furriel mais antigo do 52, era dos menos entusiasmados com o manjar, mas perante o exemplo dos outros camaradas que já tinham esquecido o que estávamos a comer, lá pegou num bracinho do bicho que parecia estar bem passado, atirou-se a ele e ainda deu umas dentadas. De repente e quando já ninguém esperava, desata a correr para a parada e, pelos sons que chegavam à cobertura de chapa ondulada a que chamávamos refeitório, estaria a libertar o seu estômago sofredor não só do petisco acabado de deglutir, mas também de todas as refeições ingeridas nos últimos dias.

Passado algum tempo, já recuperado do esforço libertador daquela comida que o estômago se recusou a receber, perguntei-lhe:
 – Então, Santos, não gostaste do cozinhado? 

Ele ainda amarelo e enjoado respondeu que não foi pelo paladar, que nem estava mau, o que o enjoou foi a pilosidade do sovaco do bichinho que não tinha sido convenientemente depilado.

Luís Mourato Oliveira



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > Cuor > Destacamento de Mato Cão, na margem direita do Rio Geba Estreito > 1973 > Pel Caç Nat 52 > O Alf mil op esp Joaquim Mexia Alves, com o Tomango Baldé, um dos mais antigos soldados do Pelotão, segurando um macaco-cão [ou macaco-fidalgo ? (LG)].

Foto (e legenda) : © Joaquim Mexia Alves (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Sugestão de leitura complementar (LG):

Poste de 11 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias deBissau (1): "Cabrito pé de rocha, manga di sabe"  (Vitor Junqueira)

(...) Naquela zona portuária, que se poderia chamar marginal da Amura, existiam umas tabernas semelhantes às que poderíamos encontrar em qualquer lugar do Portugal de então: um garrafão de cinco litros ou um ramo de louro pendurado na frontaria, e uma tabuleta com os dizeres, casa de pasto, vinhos e petiscos.

Seriam para aí umas quatro da tarde quando entrei numa delas. Pela primeira vez na vida dirigi-me a alguém de outra ... etnia. A situação era nova para mim e um pouco estranha. Meio tonhó, perguntei num português escorreito e pausado a uma negra, com estatura de bisonte, que se encontrava sentada num mocho do lado de dentro do balcão:
– Boa tarde,  minha senhora, tem alguma coisa de que possa fazer uma sandes?
– Tem. Tem sim. Olha, tem cabrito pé de rocha, tem ...
– Cabrito? 
– Sim, cabrito, é muito bom. Ainda está quente.

Virou-me as costas e dirigiu-se para um canto da baiúca de onde regressou com um pequeno tacho de barro na mão,  contendo uns pedacitos de carne guisada, com bom aspecto e um cheiro capaz de fazer um morto babar-se. Perguntou-me o que queria beber e falou-me em coisas estranhas, Fanta, Coca-qualquer-coisa ... Pedi uma laranjada. (...)
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P16705: Parabéns a você (1159): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2790 (Guiné, 1970/72) e Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp da CART 3494 (Guiné, 1971/74)

5

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16700: Parabéns a você (1158): António da Costa Maria, ex-Fur Mil Cav do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71); António João Sampaio, ex-Alf Mil da CCAÇ 15 e ex-Cap Mil, CMDT da CCAÇ 4942/72 (Guiné, 1973/74); Ernesto Ribeiro, ex-1.º Cabo At Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69) e João Alves Martins, ex-Alf Mil Art do BAC-1 (Guiné, 1967/70)

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16704: Os nossos seres, saberes e lazeres (184): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (8) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
Sempre retive uma ideia nebulosa deste Trieste, palco de romances com gente muito decadente, sabia de uma longa história da sua ligação à Áustria, marca inconfundível da sua arquitetura magnificente, indicador de uma prosperidade que parece estar a arrefecer, o Trieste já não é o recanto turístico que foi e despovoa-se. Estou bem arrependido de na hora de desenhar a viagem ter posto o Trieste como um simples ponto de passagem. Arrependimento tal que me leva a pensar, assim haja saúde, daqui a uns anos volto a desembarcar neste formoso recanto com mais tempo.

Um abraço do
Mário


Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (8)

Beja Santos

Há décadas que acalentava o sonho de conhecer o Trieste. Para o chamado turista dos grandes circuitos, este Trieste, que foi uma importantíssima cidade do Império Austro-húngaro, como importante era o seu porto, não longe de Pula e Rijeka, está um pouco à margem, parece repetitivo de tudo quanto se vê na Croácia, em Itália, nas faustosas cidades do império que tinha a sede em Viena. A Hungria, em plena II Guerra Mundial, tinha um almirante como ditador, o Almirante Horthy, que veio a falecer em Portugal, quando Hitler quis ocupar o país para matar os judeus húngaros. Lamento ser uma entrada por saída, mas cheguei de Rijeka foi comprar bilhetes na estação ferroviária para chegar a Veneza ainda com luz, limitei-me ao grande cenário, voltada para o Adriático, Trieste é uma das cidades mais cenográficas da Belle Époque, tem magnificência do neoclassicismo e marcas indeléveis de esplendor imperial.




É uma cidade com história acidentada. Vá o leitor ao Wikipédia e encontrará: Trieste (em esloveno Trst, em alemão Triest, em húngaro Trieszt) o que dá imediatamente conta que estamos numa placa giratória. Mais uma cidade que esteve sob o controlo do Império Bizantino, a partir da Idade Média pôs-se sob a proteção do Duque de Áustria, e pertenceu ao Império Austríaco, até 1918. O idioma germânico era a língua oficial da cidade, a par do italiano. Tudo muda de figura a partir do século XIX, quando o movimento irredentista italiano reivindicou a cidade. O Império não cedeu. E veio a I Guerra Mundial, os italianos numa primeira fase eram aliados do Império Austro-Húngaro, passaram-se para as fileiras anglo-franceses, findo o Império Austro-Húngaro deu-se a italianização do Trieste. Não estou a dar uma lição de História, passeio-me na avenida principal e tenho que justificar a pompa e a grandiosidade desta arquitetura, de Viena a Roma, de Veneza ao Trieste parece que a distância é mínima.



Sendo uma cidade estratégica, os alemães de Hitler ocuparam-na a seguir ao armistício italiano (8 de Setembro de 1943), é um período sangrento da cidade, com deportações de guerrilheiros nacionalistas italianos, eslavos, dissidentes políticos e judeus. Risiera di San Sabba foi campo de concentração, teve mesmo forno crematório. A paz não foi alcançada com o fim da guerra, chegaram os jugoslavos, seguiram-se execuções sumárias e depois a grande questão político-diplomática envolvendo jugoslavos e italianos, aparecia no mapa o “território livre de Trieste”, com zonas de ocupação militar. Só em 1975 se clarificou a situação do Trieste. Isto para dizer que quem vê fachadas e se passeia airosamente nesta civilização que ostenta bem-estar esquece que é uma história de dramas abomináveis que podem passar por várias gerações até ocorrer uma obliteração que alivia a consciência dos povos.



Recordo a ventania que vinha do Adriático, tudo recomendava uma inversão no passeio, à procura de proteção. Mas o viandante anda frenético com esta arquitetura de escala, são bancos e seguros, empresas de navegação, escritórios de advogados e de alta tecnologia, são ventos fortes mas não dissuadem a este passeio com cerca de 2 quilómetros frente ao mar onde se movem iates, lanchas rápidas, transportes para a vizinhança e se avista à distância barcos de cruzeiro, talvez seja da hora do dia e um pouco à semelhança de Veneza aqui o Adriático é uma avenida de ocupação extensa, de muitos negócios, de muita mobilidade e de muito recreio.



É hora de regressar, já se encheu o estômago, se percorreu o canal e se apreciou o que de grandes panorâmicas o Trieste tem para oferecer. Para termo da deambulação, aqui se regista um edifício que se pode encontrar em Viena, em Budapeste, em Zagreb, em Milão ou em Belgrado, quem vem da ex-Jugoslávia e regressa a Itália medita nas afinidades, nos entrosamentos, na viagem dos estilos e modas que definem identidades ou as circunscrevem. Talvez no Trieste este processo de italianização tenha sido injusto, mas a História continua, a tal ponto que Isabel, ou Elisabetta, ou Sissi, a mulher do imperador Francisco José da Áustria, merece estas honras. E a História não se apaga.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16671: Os nossos seres, saberes e lazeres (183): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (7) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16703: Fotos à procura de... uma legenda (75): Distância de Cufar a Lisboa ? 4583 km ? Não, eram 21 m...eses! (Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740, Cufar, e Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá, 1972/74)


Foto nº 1 A


Foto nº 1 A


Foto nº 1

Guiiné > Região de Tombali > Cufar > Pel Rec Fox 8870/72  (1973/74)>   A autometralhadora Fox


Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Foto do excelente álbum de Luís Mourato Oliveira, que foi alf mil inf, de rendição individual,  na  CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73), e depois comandante do Pel Caç Nat 52 ( Mato Cão e Missirá, 1973/74, no setor L1, Bambadinca), subunidade que ele irá desmobilizar e onde terminaria a sua comissão já depois do 25 de Abril.   Esteve em Bolama a dar formação a pessoal do recrutamento, em 1973, antes de seguir para Bambadinca.

O fotógrafo (neste caso, o nosso camarada Oliveira)  apanhou,  com rara felicidade,  além da autometradalhora Fox MG-16-40 (?),  uma curiosa placa, dupla, junto a uma árvore, com indicação de ser "território" do Pel Rec Fox 8870 e de a distância dali [, Cufar] a Lisboa ser,  medida não em quilómetros (, o que seria qualquetr coisa como 4853 km, de carro) mas em meses: Lisboa, 21 M...

Esse era o  tempo normal, recorde-se,  de uma comissão no TO da Guiné. Graças ao 25 de abril de 1974, a "distância" foi encurtada em alguns meses: o Pel Rec Fox 8870 cumpriu um ano e quatro meses de comissão (de abril de 1973 a agosto de 1974).

Mais um exemplo do nosso bom humor de caserna (*)... Eram estes pequenos (mas geniais...) de bom humor que não tornvam mais suportável o "degredo" em terras como Cufar, na Guiné, a  5 km de distência de casa...

2. De acordo com o respetivo blogue, o Pel Rec Fox 8870, f oi formado no Regimento de Cavalaria  n º 8, em Castelo Branco. 

Embarcou no T/T Uíge, rumo ao CTIG,  no dia 3 de abril de 1973 e desembarcou em Bissau a 9 do mesmo mês.  Esteve m Cufar. Regressou a  casa,  conjuntamente  com o EREC 8840/72, em voo especial, a 31 de agosto de 1974, com chegada ao aeroporto de Figo Maduro, ao fim da tarde. 

Foi seu comandante  alf mil cav Fernando António Ribeiro de Faria. O pessoal, bastante unido, reune-se todos os anos em convívio. Era originalmente composto por 41 homens: 1 alferes, 5 furriéis, 11  prirmeiros cabos Cabos e 24 soldados. 

Desta valorosa subunidade temos um grã-tabanqueiro, o António P. Almeida, que vive em Castelo de Paiva. (**)

3. No seu Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura, (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp), o nosso camarada António Graça de Abreu (, alf mil, CAOP 1, Cufar, 1973/74) não esconde as dificuldades por que a passava a malta, em Cufar, já no início de 1974:


Cufar, 7 de Fevereiro de 1974
.
Em alguns aquartelamentos aqui do sul também existem carências de todo o tipo, mas de natureza diferente das deste pobre povo guineense. No Relatório Mensal Janeiro 1974 do nosso CAOP 1, no ponto 4. b. Logística, os meus chefes referem, em diferentes destacamentos da nossa zona operacional, falta de medicamentos, falta de mesas e bancos para os refeitórios, falta de víveres frescos e de arroz para distribuir pela população, falta de armamento, falta de peças de substituição para muitas das viaturas auto-metralhadoras Fox e White que têm dezenas de anos e estão na sua maioria avariadas, falta de geradores eléctricos, de moto-serras, de electro-bombas, de motores para os barcos sintex.

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Notas do editor:


Guiné 63/74 - P16702: De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (1) - Experiências gastronómicas (Parte I): maionese de peixe do Cacine e açorda de bacalhau com coentros...


Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > c. 1972/73 > O alf mil Luis Mourato Oliveira, "o fotógrafo de serviço".



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 > c. 1972/73 > O Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil inf CCAÇ 4740, Cufar, 1972/73, e Pel Caç Nat 52, Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74, subunidade "que desmobilizei e onde terminei a minha comissão já depois do 25 de Abril"; novo membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 730. Nascido em Lisboa, tem raízes na Marteleira e Miragaia, Lourinhã, pelo lado materno.



Lourinhã > Marteleira >  Confraria da Batata Raiz de Cana > c. 2016 > O Luis Oliveira, bancário refomado, á volta dos tachos e panelas, na casa de um amigo e confrade. Temos vários amigos em comum (LG).


Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem enviada pelo Luís Mourato Oliveira, com data de 7 do corrente:

Olá,  Luis e Carlos;

Como vou tendo tempo e escrever exercita os neurónios, lembrei-me de escrevinhar algo diferente dos actos de guerra, mas que foram acontecimentos que os acompanharam.
Talvez o texto esteja demasiado extenso e, por isso, chato. Deixo à vossa consideração a publicação por partes porque na prática são quatro estórias.

Um grande abraço para vós e as melhores saudações tabanqueiras.



2. De Cufar a Mato Cão, histórias de Luís Mourato Oliveira, o último cmdt do Pel Caç Nat 52 (1) >  Experiências gastronómicas (Parte I) 


A gastronomia da região onde nascemos e crescemos por mais simples e “pobre” que seja,  tem uma identidade de paladares e rituais que nunca abandonarão a nossa vida,  e a ausência dos aromas e sabores da nossa infância é sempre motivo de nostalgia e até de saudade, por isso considero que a gastronomia constitui um pilar identitário e cultural a que às vezes é dada pouca importância. 

Quando por razões imperiosas,  como a guerra ou a emigração,  nos afastamos do nosso chão.  é que valorizamos, como quase tudo, as comidinhas que deixámos para trás e que o local onde passámos a viver não nos oferece.

Na Guiné devido a todas as dificuldades de logística, de conservação dos alimentos e até de aquisição de alguns bens que os naturais se recusavam a comercializar, a base da alimentação era o arroz, o feijão e as conservas que,  sendo excelentes alimentos, a sua presença sistemática nos refeitórios e messes, acabava por saturar e fazer crescer a água na boca só com a lembrança de batata frita ou cozida, de uma boa sardinha assada ou de um simples bife com ovo a cavalo. 

Cufar > Pescador de rio  ou de bolanha...
Sempre que através de uma encomenda enviada pela família ou qualquer outro acontecimento invulgar nos permitia inventar um “petisco”,   era uma festa e esse acontecimento passava a fotografia que ainda hoje figura no nosso precioso e muito íntimo álbum que é a memória.

Para além de algumas outras recordações, seleccionei quatro estórias de comida que partilho com os amigos e camaradas do Blog, para que as conheçam e recordem as vossas próprias aventuras gastronómicas na Guiné.


I. Uma oferta 
dos camaradas de Cacine permitiu maionese 
em Cufar


Uma das ausências nos nossos pratos na Guiné, era o peixe fresco. Sobretudo quem vivia no litoral de Portugal tinha o pescado sempre presente na sua dieta e,  embora muitos preferissem a carne que era cara e por isso de uso menos frequente, a falta do “peixinho” era notada.

Na companhia que estava estacionada em Cacine,  esta falta não se sentia porque abundava peixe com qualidade no rio Cacine e um belo dia foi-nos enviado um de dimensões generosas pelos camaradas daquela unidade que certamente sabiam das nossas faltas [, em Cufar]. Se o projecto de almoço era uma delícia só para a vista, a imaginação foi ainda mais rápida e pensei imediatamente em maionese,  um prato frequente em minha casa, sobretudo no verão, e de que tinha imensas saudades. 

Propus-me imediatamente para,  como auxiliar de cozinha,  produzir a desejada iguaria e não se perdeu tempo, não faltavam ovos, azeite, sal e vinagre pelo que o principal estava garantido e portanto mãos à obra!

Como tinha em miúdo auxiliado a minha mãe a confeccionar a maionese (segurava a tigela),  segui os passos de que me lembrava e o molho foi aparecendo na enorme malga de aço com aspecto e gosto de que me lembrava e a grande quantidade produzida permitia,  além de um bom exercício de musculação para antebraço e pulso,  temperar o peixe já cozido e reservado para a degustação.

O problema foi a ausência de ervilhas, feijão-verde, alface, picles, beterraba, cenoura, azeitonas, enfim, faltava quase tudo o que normalmente acompanhava aquela refeição fresca e saborosa de que me lembrava mas felizmente não faltava o apetite, o peixe e as batatas o que já era quase literalmente uma lança em África.

O peixe e as batatas foram servidos e temperados com aquela deliciosa maionese de que ainda hoje me lembro e que talvez tivesse sido a primeira maionese servida na 
Guiné.

O refeitório em Cufar

II. Açorda de bacalhau 
com coentros e tudo

Na região Oeste onde tenho as minhas origens, os coentros eram pouco utilizados, das poucas aromáticas que tenho memória figuram a salsa, a erva azeitoneira, o louro, a segurelha, a hortelã e a cidreira. A minha primeira experiência gustativa com os coentros surgiu por acaso em Cufar,  na Guiné.

Um sargento do quadro permanente que, creio, prestava serviço no COP 4 ou no Pelotão de Intendência, alentejano de gema,  não dispensava os coentros para recordar os sabores natais e convidou-me para uma açorda alentejana, prato que eu desconhecia, na minha região apenas tinha comido a dita de alho que acompanhava habitualmente peixe frito embora muitas vezes constituía acompanhamento e conduto. 

Claro que estas ofertas nunca se desperdiçavam e aderi de imediato ao petisco que foi confeccionado na minha presença pelo sargento que dispunha de uma pequena plantação da dita erva aromática.

Pisou os alhos com os coentros e o sal, juntou o azeite e água quente de cozer o bacalhau e regou com esta extraordinária mistura uma malga onde aguardava o bacalhau já desfiado e o pão que, não sendo alentejano, cumpriu de forma admirável a sua função.

Foi um petisco maravilhoso do qual guardo boa memória, neste caso trazida da Guiné, apesar de não ser um prato da região.

Uma prova que a convivência dos militares num cenário de guerra também fomentava a troca de experiências e informações sobre costumes e tradições das diversas regiões do país o que também contribuiu para o nosso enriquecimento como pessoas e como Portugueses.

(Continua)