Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional de Cantanhez > Iemberém > 9 de dezembro de 2009 > 15h50 > Macaco fidalgo vermelho (ou
fatango, em crioulo). Espécie, nome científico:
Procolobus badius. Em inglês,
western red colobus. É uma espécie ameaçada, fundamentalmemte devido à caça e à desflorestação. (*)
Por esta altura, havia uma jovem bióloga portuguesa, a fazer o seu doutoramento em Inglaterra, com um estudo sobre os babuínos da Guiné-Bissau.Verificamos com muita satisfação, passados quase 8 anos (!), que a
Maria Joana Ferreira da Silva doutorou-se em 2012 e trabalha agora em Portugal, na CIBIO-InBIO, Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, Universidade do Porto. Demos lhe em 2009 uma ajudinha para contactos e entrevistas (**), a par dos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento, ONG à frente da qual estava o nosso saudoso amigo Pepito (1949-2014)... O nosso blogue cumpre, também assim, a sua missão como "fonte de informação e conhecimento"...mas também de tomada de consciência dos problemas ecológicos, globais, regionais e locais,,,
Foto: © João Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 4740 (1972/73) > O "Pifas", mascote da companhia...
Foto: © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Em muitos aquartelamentos das NT, durante a guerra colonial, havia animais destes, em cativeiro...
Macaco-cão, macaco-kom, uma espécie que nos era familiar...Nome científico:
Papio hamadryas papio.
No mato, era, para as populações e para os guerrilheiros do PAIGC, uma das principais fontes de proteína animal. As populações sob o nosso controlo, ou que viviam perto dos nossos aquartelamentos e destacamentos, também os caçavam, mais ou menos furtivamente. Mas era frequente, quando em operações, avistarmos bandos de 100 ou mais babuínos em estado selvagem nas matas e florestas do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, em finais dos anos 60 / princípios dos anos 70...
A sua caça chegou a ser proibida pelas autoridades da Guiné-Bissau logo a seguir à independência... Mas foi sol de pouca dura... Nos últimos 30/40, a população guineense de babuínos tem vindo a decrescer dramaticamente, devido à combinação de diversos factores:
(i) mudanças no território devidas às plantações extensivas de caju, que ocupavam já no início do séc. XXI mais de 2/3 de toda a terra arável da Guiné-Bissau; (ii) a desflorestação ilegal, devido à procura externa de madeira exótiocas (por ex., pau sangue); (iiii) caça intensiva praticada por grupos de militares como forma de compensação extra-salarial; (iv) crescente procura da carne de macaco-cão e de outros primatas (macaco-fidalgo, etc.), como produto "gourmet", pelos restaurantes de Bissau e periferia; (v) o uso da pele do babuíno pelos praticantes da medicina popular tradicional; e., por fim , (vi) o tráfico de juvenis para alimentar o mercado interno de animais de estimação.
Fonte: Adapt. de Maria J. Ferreira da Silva, Catarina Casanova & Raquel Godinho - On the western fringe of baboon distribution: mitochondrial
D-loop diversity of Guinea Baboons (Papio papio Desmarest,
1820) (Primates: Cercopithecidae) in Coastal Guinea-Bissau,
western Africa. "Journal of Threatened Taxa" | www.threatenedtaxa.org | 26 June 2013 | 5(10): 4441–4450
[Consult em 10 de novembro de 2016]. Disponível em: http://threatenedtaxa.org/ZooPrintJournal/2013/June/o321626vi134441-4450.pdf
I. INQUÉRITO 'ON LINE':
"NUNCA COMI MACACO-CÃO (BABUÍNO) NA GUINÉ" (***)
Respostas (preliminares) (n=35), às 23h30 de ontem
1. Nunca comi > 21 (60,0%)
2. Comi e não gostei > 4 (11,4%)
3. Comi e gostei > 4 (11,4%)
4. Não tenho a certeza se comi > 6 (17,2%)
Total > 35 (100,0%)
O prazo para resposta ao inquérito termina no dia 17/11/2016, 5ª feira, às 7h32. Esperamos até lá obter 100 ou mais respostas.
II. Seleção de comentários dos nossos leitores:
(i) Henrique Cerqueira (****)
Eu nunca comi macaco-cão, mas experimentei comer macaco doutra espécie (o mais avermelhado) que pelos vistos era vegetariano [ fatango, em crioulo, macaco fidalgo vermelho, vd. foto acima].
A sua carne depois de cozinhada tinha o aspecto da carne de gazela e sabor idêntico a carne de mato. Não era mau de todo e como a fome de carne era muita até se safava. O pior era quando se via o animal após ter sido chamuscado para queimar o pêlo como se faz ao porco.É que parecia uma criança autêntica.
Mas a minha experiência gastronómica também passou por comer calau ou urubu que os civis chamavam de pato da bolanha. Quando chegavam ao nosso poder já vinham devidamente esfolados e sem alguns apêndices que os identificavam . E assim sendo a fomeca apertava, o paladar não era mau e as cervejas (basucas) empurravam muito bem o repasto.
Outro dos petiscos muito apreciados eram o porco espinho do mato e o papa formigas.Que em Bissorã apreciam com alguma frequência à venda pelos civis.
Só não experimentei comer cobra e rato do mato porque para mim eram mesmo repugnantes, mas para os meus soldados africanos [, da CCAÇ 13,] era um petisco de tal ordem que,. mesmo que estivéssemos em missões, eles quebravam todo o silêncio e entravam numa euforia tal que toda a segurança que tivéssemos montada ficava desde logo comprometida.
Foram experiências interessantes e às vezes até de recurso.
(ii) José Nascimento (****)
Mesmo tendo passado alguma fomimha, nunca comi carne de macaco, mas houve alguns elementos do meu pelotão [, CART 2520, Xime e Quinhamel, 1969/70, ] que comeram, não sei em que condições.
Pelo Mato de Cão passei por lá uma vez, fiz o percurso entre Bambadinca (atravessei o Geba) e o Enxalé. Deve ter sido em Abril-Maio de 1970. Não vimos vivalma, só tabancas abandonadas.
(iii) José Nunes (****)
Aquando da montagem eléctrica da Carpintaria Escola de Cumura, comia na Missão de Padres Italianos.
Um dia ao almoço veio para a mesa umas travessas com aves,pois muita alimentação era feita à base de caça, patos, galinhas do mato... Como não sou amante de aves esperei que viesse algo mais, então surgiu uma travessa com carne, uns "bifinhos" jeitosos, e o rapaz aviou-se... Ao dar a primeira dentada, pensei, estes "italianos" são mesmo malucos, temperar a carne com açúcar....
Lá fui mordiscando, quando do topo da mesa o Padre Settimio me diz: "desculpa, não sei se gosta de macaco ?!"... Já não consegui comer mais...
Depois da independência, D. Settimio Ferrazzeta veio a ser o 1º bispo da Guiné. Passei momentos inesquecíveis nesta Missão que na altura abrigava todos os leprosos da Guiné, as "pastas" eram feitas na Missão e como eram deliciosas!
(iv) Artur Conceição (*****)
(...) Comi macaco em Bissau num restaurante que tinha essa especialidade, e que ficava localizado numa rua em frente aos Correios, para o lado do Forte da Amura, uma ligeira subida do lado esquerdo.
O nome 'cabrito pé da rocha' para mim é novidade (...).
(...) Eu comi porque me garantiram que era macaco fidalgo, porque. sem tal garantia, o macaco cão penso que não seria capaz de comer, sendo que uma das razões era exactamente o contacto que tinha com eles, o macaco cão.
Para além de macaco fidalgo confeccionado em restaurante, e que já não posso dizer se gostei ou não, comi também gazela, uma ou duas vezes, javali, várias vezes, águia e raposa uma vez. Cobra... embora digam que é um petisco, penso que era mais fácil comer capim. (...)
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