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terça-feira, 11 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27409: Os 50 anos da independência de Cabo Verde (11): o 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente: Mindelo, agosto de 1935 - Parte I



Fotograma nº 1 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de São Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 > O cais do porto da Baía Grande e o casario ribeirinho, vistos do paquete a vapor "Moçambique"


Fotograma nº 2 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de São Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 > A Baía de Porto Grande (e, ao fundo, o Monte Cara). Com 4 km de diâmetro, é  formada pela cratera submarina de um antigo vulcão. A construção, ampliação e modernização do porto são já de 1962 e de 1997.E muito recentemente, em junho passado, foi inaugurado um terminal de cruzeiros, refletindo a aposta do governo de Cabo Verde no setor do turismo.
 

Fotograma nº 3 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de São Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 >  Vista panorâmica da cidade do Mindelo e do Porto  da Baía Grande.


Fotograma nº 4  > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de São Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 >  Navio a vapor "Moçambique", que tinha partido de Lisboa a 10 de agosto... Desembarque dos excursionistas, que serão depois levados em barcos a remos para terra. Os jovens que se veem fardados,  são escoteiros, ainda não havia a Mocidade Portuguesa (será criada em 1936). 



Fotograma nº 5 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de São Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 >  Barcos a remos em redor do vapor "Moçambique". Entre eles, os "tchabetas", os miúdos caçadores de moedas.


Fotograma nº 6 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de Sáo Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 >  Barcos a remos aproximam-se no "Moçambique", enquanto a "miudagem", em segundo plano, em barcos a remos  mais pequenos, preparam-se para recolher, de mergulho, as moedas lançadas pelos turistas, por diversão... Fazia parte do "pitoresco" do Mindelo... Esses miúdos eram os "tchabetas".


Fotograma nº 7 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentario de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de Sáo Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 >  Mais uma cena de "mergulhadoires de moedas", que captou a atenção do operador de imagem... Estes miúdos, que faziam parte da paisagem portuária do Mindelo,sobretudo entre os anos de 1920 e 1960, 
eram conhecidos popularmente como “mergulhadores de moedas” ou “tchabetas” em crioulo (forma derivada de "chapeta", pequena embarcação improvisada ou frágil). Mal chegava um navio com passageiros, ao porto da Baía Grande, os rapazes aproximavam-se, perigosamente, para pedir aos turistas que atirassem moedas, mergulhando depois para as apanhar: uma mistura de destreza, necessidade económica e espetáculo "exótico e pitoresco"para o forasteiro.


Fotograma nº  8 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de São Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 > O apoio ao desembarque.


Fotograma nº  9 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentário de!de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de Sáo Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 >  Um primeiro problema logístico: onde arranjar viaturas para tanta gente? 


Fotograma nº 10 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de São Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 > Até carrinhas de caixa aberta serviam...


Fotograma nº 11 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de São Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 >  O jovem professor Marcello Caetano, diretor cultural do Cruzeiro, discursando na câmara municipal.


Fotograma nº 12 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentario de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de Sáo Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 > Receção na Câmara Municipal: as senhoras sentadas na primeira fila, com a sua indumentária característica dos anos 30...



Fotograma nº 13 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de São Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 > Visita ao Mercado municipal


Fotograma nº 14 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de São Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 >  A miudagem disputando as moedas deitadas para o meio da rua pelos turistas do "Moçambique"... Um espectáculo degradante, aos olhos de hoje, mas que fazia parte do "folclore" de "Soncent". A ilha, do Barlavento, a segunda mais populosa do arquipélago, continua a perder hoje o concurso dos seus melhores filhos para a Praia (a capital política) e para emigração. Apesar do desenvolmento socioeconómico da ilha e do resto do arquipélago.




Fotograma nº 15 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentario de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de São Vicente >   Mindelo > Agosto de 1935 > Visita á "Oficina do Estado, instituição de ensino profissional"...




Fotograma nº 16 > 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente, documentário de San Payo (1936) > Cabo Verde > Ilha de Sáo Vicente > Mindelo > Agosto de 1935 > O célebre quiosque da Praça Nova (hoje Praça Amílcar Cabral, e o quiosque ainda lá está, desde 1931; quanto á praça, o povo continua a chamar-lhe Praça Nova, e não Amílcar Cabral, designação toponímica imposta em 1975 pelo governo do PAIGC) ...

A morabeza estampada no rosto desta mulher. Ainda não havia a cerveja Sagres (só aparecerá em 1940), mas já havia a Estrella...nome decalcado da famosa cerveja belga Stella.


A "Estrela" tinha fábrica em Lisboa, desde o séc. XIX, tal como as marcas "Jansen" e "Portugália". Estas três pequenas cervejeiras foram integradas na Sociedade Central de Cervejas, criada em 1934. Na época o consumo "per capita" de cerveja em Portugal era de apenas... 1 litro.


Cortesia de Cinemateca Digital, documentário "I Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente", realizado em 1936 por San Payo. Disponível aqui:

http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=1378&type=Video


(Seleção e edição de imagens, numeração, legendagem, revisão / fixação de texto, título, negritos: LG)



1. Estas imagens, obtidas de fotogramas do filme do San Payo (Por, 1936, 91', P&B, sem som), podem ter algum valor documental, para nós, antigos combatentes. Terão seguramente para os nossos amigos e camaradas que são naturais do Mindelo ou que lá vivem ou que conhecem o Mindelo, e a quem pedimos que comentem: a Lia Medina, o Carlos Gilipe Gonçalves, o Adriano Lima, o Manuel Amante da Rosa, o Nelson Herbert...

Para já ajudam- nos a seguir a rota deste l Cruzeiro de Férias ás Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Angola), que ficou registado em filme, em celulolóide, e entretanto, em boa hora, digitalizado pela Cinemateca Nacional (*)

Recorde-se o contexto:

(i) a iniciativa partiu da revista "O Mundo Português", tendo juntado cerca de duas centenas de "estudantes, professores, médicos, engenheiros, advogados, artistas, escritores, industriais e comerciantes";  o financiamento do cruzeiro teve comparticipação do Estado; 

(ii) esta "revista de cultura e propaganda, arte e literatura coloniais" era dirigida por Augusto Cunha, sendo propriedade da Agência Geral das Colónias e do Secretariado da Propaganda Nacional;

(iii) foi director cultural deste cruzeiro foi o prof doutor Marcelo Caetano (1906-1980), então um jovem, com 29 anos, intelectula orgânico do stado Novo, brilhante académico, especialista em direito administrativo, doutrinador do corporativismo e entusiástico apoiante do luso-tropicalismo (será comissário da Mocidade Portuguesa em 1940 e ministro das colónias em 1944, até chegar a sucessor de Salazar, de 1968 a 1974);

(iv) o filme, de hora e meia, foi realizado pelo conceituado fotógrafo Manuel Alves San Payo (1890-1974), natural de Melgaço, política e ideologicamente próximo do regime do Estado Novo; 

(v) o documentário acabou, ingloriamente, por não passar nas salas de cinema: merece ser hoje revisto , divulgado e comentado por todos nós, nomeadamente na comemoração dos 50 anos da independência de Cabo Verde (1975) (**);

(vi) o filme tem 15 minutos dedicados à paragem em Cabo Verde, em São Vicente (Mindelo) e Santiago (Praia) (8' - 23'), um pouco mais do que a visita à Guiné (Bissau e Bolama) (23' - 37');

(vii) ainda não  existia a Mocidade Portuguesa, criada pelo Decreto-Lei n.º 26 611, de 19 de maio de 1936, em cumprimento do disposto na Base XI da Lei n.º 1941, de 19 de abril de 1936;

(viii) pelo Decreto n.º 29 453, de 17 de fevereiro de 1939, a Organização foi alargada «à Mocidade Portuguesa das colónias, de origem europeia, e à juventude indígena assimilada" (sic).

(ix) mas a ilha de São Vicente, ou melhor, o Mindelo, já era a capital cultural do arquipélago; tinha liceu, desde 1917, o único do arquipélago, o liceu Infante Dom Henrique, rebatizado Gil Eanes, em 1938; nele estudou, entre muitos outros, Amílcar Cabral; (o outro estabelecimento de ensino secundário era o seminário-liceu de Sáo Nicolau);

(x) não há, no filme (como seria de esperar, para mais com a cenura em vigor...) uma única palavras sobre as secas e as fomes ciclicas, a morbimortalidade, o desemprego, a emigração, a história atribulada da ilha de Sáo Vicente e do Mindelo

(xi) um ano antes, em 7 de junho de 1934, tinha-se dado a "revolta de Nho Ambroze", uma revolta popular espontânea contra "a miséria e a fome", decorrentes do impacto da crise eocnómica mundial e da inação do Govermo de Lisboa; o Mindelo vivia do tráfego marítimo; houve saques da Alfândega e de casas comerciais; 1 morto e vários feridos; uma revolta á medida daquela gente pacífica e sofredora;

(xi) o Nho Ambroze será deportado a seguir para Angola; é hoje um dos heróis mindelenses, "capitão Ambroze".

(Continua)
______________________


Notas do editor LG:

(*) Vd, postes de:

7 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27398: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 4 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte V: preços só para meninos ricos ou gente da classe média-alta... Hoje daria para dar a volta ao mundo em 100 dias.

4 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27386: 1º Cruzeiro de Férias às Colónias do Ocidente (Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe e Angola, 10 de agosto - 4 de outubro de 1935), de que foi diretor cultural o jovem e brilhante professor Marcello Caetano - Parte III: um documentário de hora e meia, que diz muito (até pelo que omite) sobre o que era o "ultramar português" há 90 anos

(**) Último poste da série > 30 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27166: Os 50 anos da independência de Cabo Verde (10): Secas e fomes levaram ao longo do séc. XX à morte de mais de 100 mil pessoas

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27406: Agenda cultural (907): Museu Nacional de Etnologia, Belém, Lisboa: Prolongada até 30/11/2025 a Exposição: “Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades” ... Saiu, entretanto, a 2ª edição, revista e aumentada, do livro homónimo (Lx., Colibri, 2025, 360 pp.)


Benfica, mais do que um símbolo, uma "marca nacional"...  Foto da equipa, campeã europeia, tirada em frente ao Padrão dos Descobrimentos, outro ícone do Estado Novo.

Capa da revista "Benfica Ilustrado",  abril de 1961, nº 43. 
(Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal, Lisboa). 


"Ao serviço do Benfica e de Portugal"...Mais um exemplo da utilização (abusiva= do Futebol na propaganda do Estado Novo... (neste caso, da responsabilidade da direção do clube)

 Fonte: revista "Benfica Ilustrado", novembro de 1963, nº 74 (Fonte: Biblioteca Nacional de Portugal).

Recorde-se quem eram os presidentes do Benfica nesta "época de ouro":  (i) Maurício Vieira de Brito foi o presidente durante a temporada 1960-61, culminando com a vitória na Taça dos Campeões Europeus; (ii) sucedeu-lhe em 1963 António Cabral Fezas Vital, que esteve no cargo até março de 1964; (iii) tendo-lhe sucedido Adolfo Vieira de Brito, irmão do Maurício...

O Futebol era então, pretensamente, um dos 3 Efes da nossa "identidade como povo" : Futebol, Fátima e Fado, ou Fado, Fátima e Futebol (a ordem dos factores era arbitrária).

Duas imagens que ilustram a Exposição, no painel sobre o lusotropicalismo e o(s) seu(s) uso(s) colonial(ais).






O futebol do Portugal  "plurracial e pluricontinental" foi outro dos domínios onde o "lusotropicalismo" assentou que nem uma luva... Veja-se a utilização da figura do moçambicano Eusébio ou da equipa do Benfica de 1961/62...

Imagens da exposição “Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades”. Fotos: LG (2025)



1. Diz o António Rosinho que aqui falta a voz do "colonizado"... Bom, respondi-lhe que ela está presente,  nesta exposição, transmitida sobretudo pelos antigos estudantes da Casa do Império que depois vão ser os novos "senhores da guerra" (Amílcar Cabral, Agostinho Neto, etc. ). Há vídeos que são transmitidos em simultâneo com a exposição, com a sua cara, a sua voz, os seus discursos...

Concordo com o Rosinha num ponto (que é central): como todas as exposições sobre temas complexos de história, esta também é inevitavelmente redutora, como eram as aulas dadas no meu tempo, na universidade,   através do recurso ao "power point"  (e, antes,  das famosas "micas", em retroprojetor).

O objetivo é também didático e pedagógico:  a exposição há de a seguir, em  2026, passar por escolas de várias partes do país... "Uma seca, dirão os putos"... que já não gostam de ler e muito menos de história.

Com meia dúzia de "slides", neste caso, uns tantos pósteres, em oito painéis temáticos , arruma-se  uma período da nossa história co.um,  nossa e das ex- colónias africanas, agora países lusófonos africanos, que foi doloroso, fraturante e ainda é incómodo para muitos de nós,  portugueses, cabo-verdianos, guineenses, sao- tomenses, angolanos, moçambicanos, etc. 

É que as "guerras de descolonização" também foram "guerras civis" ou "interétnicas"... Só na Guiné cerca de 15 mil guineenses combateram, do lado das NT, contra o PAIGC... Este facto histórico não pode ser ignorada pelos historiadores... Claro, o mesmo aconteceu na Indonésia, na Argélia, no Vietname....

Falta também a crítica do anticolonialismo e pós-colonialismo, os seus mitos e realidades, incluindo os seus crimes (execuções sarias, fuzilamentos em massa, trabalho forçado nas "áreas libertadas"...).

Falta também a voz dos antigos combatentes ou dos últimos soldados do Império... Foram ignorados nesta exposição como "escória da História"... (Mas, concordo,  isso seria outra exposição, outra encomenda, outros olhares, outros arquivos, outras fontes.)

Faltam eventualmente outras abordagens teórico-metodológicas da colonização e descolonização... Está é ainda dominada pelo pensamento único. Falta-lhe o contraditório...

A história é uma ciência, mas ainda com muita conflitualidade de "escolas", isto é, conflitualidade  teórico-ideológica... Ainda é, e sempre o será.  

A Isabel de Castro Henriques e a sua equipa pertencem a uma "escola", o que não retira mérito ao enorme (diria mais: espantoso)  trabalho realizado, e que ainda pode ser vista até ao fim deste mês de novembro, no nosso Museu Nacional de Etnologia, instituição cultural pela qual eu nutro um especial carinho (mas que já teve dias melhores, nomeadamente com o meu amigo é professor Joaquim Pais de Brito: a falta de recursos humanos é gritante, chocou-me).

De qualquer modo, todos concordamos que uma foto e uma legenda "não dizem tudo", pode ser um cliché... E depois a maior parte destes especialistas, gente da academia, não viveu África (nem sequer lá esteve) como eu e o "colón" e retornado António Rosinha. Não viveu a África, colonial, a quente, a cores e ao vivo...Falta-lhes o "sangue, suor e lágrimas", o que não quer dizer que  não se pode fazer boa ciència, e logo boa história, sem estes "ingrientes" da ação. 

Os historiadores, de facto,  não têm que ser atores.  E muito menos cronistas. E na maior dos casos nem contemporâneos são dos acontecimentos. De qualquer modo, nenhum deles (e delas) terá apanhado o paludismo... nem muito menos bebeu a água do Geba ou do Quanza ou do Zambeze... 

As referências à Guiné nesta exposição são, de resto,  pobrezinhas, é a minha impressão, que já lá voltei para uma segunda visita, com visita guiada por uma afável brasileira, de origem portuguesa.  Mas a Guiné não conta, nem sequer era uma colónia de povoamento. Ou só conta porque é, equivocamente, a Pátria do Amílcar Cabral, de pai cabo-verdiano.  Que continua a ter auréola de santo junto de muito boa gente, enquanto o Spínola é diabolizado. 

E, por fim, e não menos importante: que fique clara a minha posição: o colonialismo (enquanto sistema de dominação política e económica) é indefensável. Hoje. Monárquicos e republicanos há 100 anos eram todos colonialistas. 

Temos de "descolonizar o nosso imaginário", Isabel ? Seja, mas não se pode passar com uma esponja sobre a nossa (portuguesa) presença histórica em África e no resto do mundo. 

Desta vez comprei o livro homónimo, 2ª edição, revista e aumentada. Está no catálogo da Colibri, a 36,00 euros, já com desconto. Uma boa prenda de Natal, que dei a mim mesmo, antecipadamente. 

Mas, por favor,  não percam a a exposição. Até ao fim do mês. E comentem! Não deixem que sejam os outros a comentar por vocês. Desde que o façam dentro das boas regras do nosso blogue. 







Avenida Ilha da Madeira, 1400-203 Lisboa
Telef: 21 304 11 60

Horário > 3ª feira: 14h00 – 18h00 |  4ª feira a Domingo: 10h00 – 18h00


Exposição >  “Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades” 

Museu Nacional de Etnologia, Lisboa, Belém, 
30 out 2024 / 30 nov 2025


Folha de sala:

(i) estará patente ao público na maior sala de exposições temporárias do Museu Nacional de Etnologia entre 30 de outubro de 2024 e 30 de Novembro de 2025;

(ii) é co-organizada pelo Museu Nacional de Etnologia (Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E.) e o Centro de Estudos Sobre África e do Desenvolvimento (Instituto Superior de Economia e Gestão, UL);

(iii) realiza-se no contexto da prioridade que o Museu confere ao estudo de proveniência das suas coleções extraeuropeias e da reflexão sobre o contexto colonial em que o museu foi fundado e procedeu à recolha das suas primeiras coleções, procurando o envolvimento do público e das comunidades na valorização e divulgação das suas próprias culturas;

(iv) concebida e coordenada pela historiadora Isabel Castro Henriques, a exposição visa apresentar as linhas de força do colonialismo português em África nos séculos XIX e XX;

(v) tem como objetivos:

  • desconstruir os mitos criados pela ideologia colonial;
  • descolonizar os imaginários portugueses;
  • e contribuir, de forma pedagógica e acessível, para uma renovação do conhecimento sobre a questão colonial portuguesa.

(vi) dois eixos centrais estruturam a narrativa da exposição:

  • o primeiro eixo organiza-se em painéis temáticos, nos quais texto e imagem se articulam, pondo em evidência as linhas de força do colonialismo português dos séculos XIX e XX, e dando a palavra ao conhecimento histórico;
  •  o segundo eixo pretende “fazer falar” as obras de arte africanas, como evidências materiais do pensamento e da cultura africanas, evidenciando a complexidade organizativa dos sistemas sociais e culturais destas sociedades, permitindo mostrar a criatividade, a vitalidade, a sabedoria, a racionalidade, a diversidade identitária e as competências africanas e contribuindo para evidenciar e desconstruir a natureza falsificadora dos mitos coloniais portugueses.

(vii) este segundo eixo da exposição é constituído por uma seleção de 139 obras, repartidas entre coleções do Museu Nacional de Etnologia, incluindo algumas peças em depósito da Fundação Calouste Gulbenkian e do colecionador Francisco Capelo, e obras de arte africana contemporânea dos artistas Lívio de Morais, Hilaire Balu Kuyangiko e Mónica de Miranda;

(viii) realizada no âmbito das Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, este projeto resulta das pesquisas desenvolvidas pela equipa de cerca de trinta investigadores que nele colaboraram, tendo igualmente contado com o indispensável contributo de muitas entidades, nacionais e estrangeiras, que cederam a profusa documentação iconográfica apresentada nos painéis explicativos em torno dos quais se desenvolve a narrativa da exposição:

(ix) a Comissão Executiva da Exposição é presidida por Isabel Castro Henriques e integrada por Inocência Mata, Joana Pereira Leite, João Moreira da Silva, Luca Fazzini e Mariana Castro Henriques, e a sua Comissão Científica, igualmente presidida por Isabel Castro Henriques, é constituída por 20 elementos, entre os quais António Pinto Ribeiro, Aurora Almada Santos, Elsa Peralta, Isabel do Carmo e José Neves;

(x) a museografia, instalação e apresentação ao público da totalidade das obras das coleções do Museu Nacional de Etnologia foi assegurada pela própria equipa do Museu, que igualmente assegurou a produção da exposição, com a colaboração da equipa da Museus e Monumentos de Portugal, E.P.E; 

(xi) o Projeto Expositivo e de Comunicação da exposição é da autoria do P 06 studio.

(xii) de entre o programa paralelo a desenvolver entre 2024 e 2025 no âmbito deste projeto, destaca-se-se a realização de exposição itinerante, de caráter exclusivamente documental, que circulará por escolas e centros culturais em Portugal, assim como em diversos espaços de língua portuguesa, em África e no Brasil;

(xiii) ainda em 2024 terá início, no âmbito desse programa paralelo, o ciclo Cinema e Descolonização, com projeções de filmes relacionados com a realidade pós-colonial, a decorrer no ISEG e no Museu Nacional de Etnologia, encontrando-se prevista a realização de outras ações de caráter científico, nomeadamente Conferências e Colóquios, também em parceria com outras entidades;

(xiv) a  realização da exposição é acompanhada pela edição de livro homónimo, publicado pelas Edições Colibri, em cujas 344 páginas os c. de trinta investigadores que colaboraram neste projeto,  desenvolvem os vários temas abordados. (A 2ª edição, revista e aumentada, saiu em maio de 2025, e tem 360 pp.).

 __________________

Notas do editor LG:

(*) Último poste da série : 24 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27350: Agenda Cultural (869): António Graça de Abreu, "Conversas Sábias: Os fascínios de uma grande cidade, Pequim"... 30 de outubro, quinta-feira, 17:30, Auditório do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM)

/**) Vd.postes de:

10 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26789: Os 50 Anos do 25 de Abril (38): Lisboa, Belém, Museu de Etnologia, até 2/11/2025: Exposição "Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades" - Parte V

10 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26789: Os 50 Anos do 25 de Abril (38): Lisboa, Belém, Museu de Etnologia, até 2/11/2025: Exposição "Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades" - Parte IV

 23 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26608: Os 50 Anos do 25 de Abril (37): Lisboa, Belém, Museu de Etnologia, até 2/11/2025: Exposição "Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades" - Parte III

15 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26499: Os 50 Anos do 25 de Abril (36): Lisboa, Belém, Museu de Etnologia, até 2/11/2025: Exposição "Desconstruir o Colonialismo, Descolonizar o Imaginário. O Colonialismo Português em África: Mitos e Realidades" - Parte II


quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27155: Felizmente ainda há verão em 2025 (24): amigos e camaradas da Guiné, não havia régulos em Angola... apenas sobas e regedores (Fernando de Sousa Ribeiro)


Angola > s/l > s/d > Fotografia, do domínio público, mostrando uma dança guerreira cuanhama, em 
que os participantes empunham arcos, flechas, lanças, etc. O 17º (e último)  rei dos cuanhamas foi o chamado soba Mandume (1894-1917).

Imagem e legenda: Cortesia do Fernando Ribeiro. Edição: Blogue Luís Graça 



(i) ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 /
BCAÇ 3880 (Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74);

(ii) membro da Tabanca Grande desde 11 de novembro de 2018, com o nº 780, tem 35 referências no nosso blogue.

(iii) engenheiro, natural do Porto, é o administror do blogue "A Matéria do Tempo"que mantém ativo desde janeiro de 2006 até hoje.


1. Comentário do nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro, ao poste P27148 (*)

A palavra "régulo" não era usada em Angola. Ela podia figurar na legislação do território (não sei se figurava ou não), mas ninguém em Angola chamava régulo a um chefe tradicional. Isso era na Guiné e em Moçambique. A designação genericamente usada em Angola para designar um tal chefe era "soba".

A definição de soba está muito bem exposta na página FAAT-Fórum Angolano das Autoridades Tradicionais do Facebook, referida pelo Luís.

 A definição de soba que é dada na página referida é genérica. No concreto, existem algumas variantes, dependendo das etnias.

No próprio texto, vem a seguinte frase: «Existem dois tipos de Sobas, o Soba grande (regedor) e o Soba.» 

Eu nunca ouvi chamar "soba grande" a um regedor, mas, pelo menos entre os bacongos, o regedor era mais do que um soba; um regedor tinha vários sobas na sua dependência e (caso não fosse apenas um fantoche nomeado pela administração colonial) podia ser muito poderoso e influente. 

Conheci um regedor que era tão respeitado pelos seus súbditos que nem a PIDE se atrevia a meter-se com ele, por receio de provocar um levantamento popular... Os pides limitavam-se a vigiá-lo de longe, sem darem nas vistas.

O soberano dos cuanhamas também usava o título de soba, ainda que de facto fosse rei. O último rei dos cuanhamas foi o chamado soba Mandume, que acabou por se suicidar com um tiro de Mauser para não ser capturado, no fim das campanhas ditas "de pacificação". 

Eu mesmo sou testemunha da enorme admiração que os meus soldados africanos (de qualquer etnia) nutriam pelos cuanhamas, precisamente por causa da sua tenaz resistência à colonização portuguesa (em Angola) e alemã (na Namíbia). Diziam os meus soldados que não foram os portugueses nem os alemães que venceram os cuanhamas; foi a fome, provocada por uma seca entretanto surgida.

Do ponto de vista físico, os respeitados e admirados cuanhamas são um povo tendencialmente de elevada estatura e com feições que fazem lembrar as dos etíopes, sudaneses e até dos tuaregues, pelo menos em alguns casos. Praticam uma economia agro-pastoril e têm tradições guerreiras. Dito isto, será possível que haja algum laço de parentesco entre os cuanhamas e os fulas?

A imagem que se publica acima, é muito antiga e mostra uma dança guerreira cuanhama, em que os participantes empunham arcos, flechas, lanças, etc.
 
Em Coimbra existiu uma república de estudantes chamada Kimbo dos Sobas (no plural) (imagem `^a esquerda). Ela era assim chamada por ter sido fundada por estudantes angolanos. 

A República Kimbo dos Sobas teve uma participação ativa na crise académica de 1969, juntamente com todas as outras repúblicas da cidade, menos uma.

A palavra quimbo é sinónima da palavra sanzala e ambas equivalem a tabanca. 

No norte de Angola usa-se a palavra sanzala, enquanto no centro e no sul se usa a palavra quimbo. Duvido seriamente que a palavra quimbo venha do umbundo, porque na língua umbundo não existe a sílaba ki, que é sempre substituída pela sílaba tchi. A palavra quimbo poderia ser, por exemplo, uma forma abreviada da palavra quilombo.

Angola não era a joia da coroa do império português, de maneira nenhuma. A joia do império era Goa. Angola era um território para onde eram desterrados os condenados ao degredo pela Justiça, como aconteceu ao Zé do Telhado e a muitos outros. Um território assim não pode ser joia de coisa alguma.

O selo moçambicano que se vê na última imagem é um selo da Companhia do Niassa, uma companhia majestática equivalente à sua vizinha Companhia de Moçambique. Note-se que em parte nenhuma do selo se pode ler a palavra "Moçambique", o que é muito significativo.



2. Comentário do editor LG:

Fernando, tens toda a razão no que respeita ao uso da palavra "régulo" em Angola. Se leres o Decreto-lei 23228, de 15 de Novembro de 1933 (Carta Orgânica do Império Colonial Português), o termo genérico consagrado para as autoridades gentílicas é regedor (soba em Angola, régulo na Guiné e em Moçambique, liurai em Timor...).

Já que estamos no verão de 2025 e a nossa universidade sénior não encerrou para ir... a banhos, vamos discorrer um pouco sobre esta "bizantinice"...(Ou talvez não: acho que não estamos a discutir o "sexo dos anjos"... As questões terminológicas também são importantes... Corrigi o poste P27148, substituindo régulo por regedor. E dei conhecimento a alguns dos nossos "amigos angolanos").

Este diploma de 1933 é um marco do regime do Estado Novo na definição da política colonial, consolidando a ideologia do império orgânico, centralizado e hierarquizado. Um império ainda em grande parte de "papel"... Lisboa gostava de gerir o seu vasto e glorioso império, "de caneta e papel" em cima da secretária do gabinete... Até 1936 as campanhas de pacificação e ocupação ainda continuariam (na Guiné, nos Bijagós, em Canhabaque)

Sumário: Promulga a Carta Orgânica do Império Colonial Português, que dispõe sobre a administração colonial portuguesa nas seguintes províncias: Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Estado da Índia, Macau e Timor. Estabelece os orgãos centrais de governo do imperio colonial, enunciando as suas atribuições, estrutura, competências e funcionamento. Dispõe sobre os funcionários coloniais e os serviços militares, bem como sobre a administração financeira e de justiça, a ordem social e económica e sobre os indígenas.

No que toca às autoridades gentílicas (designação para chefes locais africanos, como régulos, regedores, sobas, liurais, etc.), destacam-se os seguintes pontos:
  • Reconhecimento subordinado:
(ii) as autoridades tradicionais são reconhecidas, mas apenas enquanto delegadas do poder colonial; 

(ii) são enquadradas num sistema administrativo em que a soberania pertence exclusivamente ao Estado português.
  • Funções atribuídas:
(i)  cobrança de impostos e taxas (nomeadamente o famigerado “imposto de palhota”);

(ii) colaboração no recrutamento de trabalho forçado ou contratado (obras públicas, culturas obrigatórias, como o algodão, o café, a mancarra);

(iii) manutenção da ordem pública local, em articulação com a administração e forças militares;

(iv) apoio em campanhas de “civilização” (escola, missões catequese, saúde).
  • Nomeação e demissão:
(i) o poder colonial detém a prerrogativa de nomear, confirmar ou destituir os chefes gentílicos;

(ii) o que vem  esvaziar a legitimidade “tradicional” dessas autoridades, subordinando-as a critérios coloniais de “fidelidade”, "submissão" e “utilidade”.
  • Estatuto jurídico desigual:
(i) as autoridades gentílicas estavam enquadradas no Estatuto do Indigenato (abolido só em 1961), com direitos políticos e civis limitados:

(ii) não eram equiparadas a funcionários da administração colonial, mas sim auxiliares, com remuneração e prestígio dependentes da boa conduta perante os administradores coloniais.

 Análise Crítica do di0ploma:
  • Instrumento de dominação indireta
(i) o sistema reproduz a lógica do “indirect rule” britânico, embira forma menos institucionalizada;

(ii) Portugal utilizava os chefes locais para reduzir custos de administração e controle, em territórios a milhares de quilómetros de distância (em relação ao Terreiro do Paço), mantendo o "verniz" da continuidade e do respeito das estruturas tradicionais.
  • Ambiguidade entre tradição e colonialismo:
(i) embora se afirmasse respeitar “usos e costumes”, na prática tratava-se de uma manipulação seletiva da autoridade tradicional;

(ii) muitas vezes, os chefes hostis eram destituídos e substituídos por figuras mais maleáveis, corroendo a legitimidade das hierarquias locais.
  • Reforço da exploração colonial:
(i) a função principal atribuída às autoridades gentílicas era extrativa e coerciva: impostos, trabalho, disciplina, obediência, "compliance";

(ii) isso colocava-as em contradição (e conflito) com as próprias comunidades, passando a ser vistos como agentes do colonialismo.
  • Fragmentação e dependência:
(i) a política colonial dividia chefes e povos, ftragmentava comunidades, estimulava rivalidades internas, enfraquecia resistências coletivas e transformava ideranças locais em peças dependentes de Lisboa.
  • Efeito a longo prazo:
(i) após a independência, em vários territórios africanos, a herança das “autoridades gentílicas” sobreviveu de forma ambivalente;

(ii) por um lado, eram vistas como colaboracionistas; por outro, foram recuperadas em certas conjunturas como mediadoras comunitárias;

(iii) na Guiné, por exemplo, a memória da colaboração dos chefes gentílicos (régulos, chefes de tabanca, cipaios, guias e picadores, milícias...) com o poder colonial marcou o discurso político do PAIGC, que os acusava de serem “agentes do colonialismo”, "cães do colonialismo".

Em resumo:

O Decreto-lei 23228, de 15 de novembro de 1933,  institucionalizou um sistema de colonialismo indireto tutelado, em que as autoridades gentílicas foram reduzidas a instrumentos auxiliares do Estado Novo, destituídas da sua autonomia tradicional e transformadas em mediadores coloniais subordinados.

Embora tenha permitido algum grau de governabilidade num império vasto  e disperso, e com recursos administrativos limitados (humanos, técnicos, logísticos, financeiros...), comprometeu a legitimidade das lideranças africanas e criou dinâmicas de exploração, desconfiança e fragmentação social que perduraram para além da descolonização.

Vd. https://dre.tretas.org/dre/97412/decreto-lei-23228-de-15-de-novembro#anexos

(Fonte: Pesquisa: LG + IA/ChatGPT | Condensação, revisão / fixação de texto: LG)


PS - Fernando, quanto ao significado e origem da palavra "quimbo"...  "Quimbo" = bairro/aldeia indigena do centro de Angola; significa «no bairro» («ku imbo»); ficou em português: «quimbo». (Explicação dada no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 4 de maio de 2000).


O dicionário Priberam diz que "quimbo" (ku imbo) vem do umbundo... Quem sou eu para discordar ? E parece fazer sentido: o umbundo é a língua falada pelos ovimbundos, povo originário do Planalto Central de Angola; é a língua banta mais falada em Angola. O vocábulo "sanzala" usa-se no norte, e "quimbo" no sul, como tu reconheces.

Quanto á "jóia da coroa", Angola ou Goa... Bom,  refiro-me ao período do Estado Novo e ao tempo da guerra colonial... A Índia Portuguesa ficou definitivamente perdida em 1961...

De facto, originalmente, as colónias foram um um lugar de coerção e desterro (da Guiné a Timor, passando por Angola)...

Finalmente, o selo de 1901 é realmente exclusivo da Companhia (majestática) do Niassa (um estado dentro do estado, como se costuma dizer).


__________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 24 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27148: Felizmente ainda há verão em 2025 (22): Em Angola, nem todos os sobas eram régulos e nem todos os régulos eram sobas

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26860: Notas de leitura (1802): "Gil Eanes: o anjo do mar", de João David Batel Marques (Viana do Castelo: Fundação Gil Eanes, 2019, il, 132 pp.) - Parte II: A questão da assistência à frota branca, que atinge o seu auge com o Estado Novo, nos anos 40/50: em 1958 a "faina maior" tinha 77 unidades e 5736 homens (Luís Graça)




"Quanto de "sal, sol, sangue, suor e lágrimas" havia nos 8,8 kg quilos de bacalhau que cada portuguêw comia, em média, nos "anos de ouro" do Estado Novo ?", pergunto eu (LG),

Fotos do livro em recensão, e que ilustram as duras condições de trabalho dos pescadores (foto acima, nos dóris, pp. 18/19: "Os pescadotes afastam-se  do navio-mãe para iniciar um dia de pesca") e da restante tripulação (segunda foto, pág. 59: "O 'Gil Eanes' no meio de perigosos 'growlers' ").

(Reprodução com a devida vénia, ao autor e editor...)


1. Estamos a tirar algumas notas de leitura do livro "Gil Eanes, o anjo do mar", da autoria de João David Batel Marques (Viana do Castelo : Fundação Gil Eanes, 2019,  132 pp,. ed. bilingue em português e inglês) (*)


O livro narra a vida e a morte do último navio-hospital da frota bacalhoeira (1955-1984),  três décadas  em que fez  73 viagens (com ponto de partida em Lisboa e chegada também em Lisboa" (pág. 94).  

O autor é o capitão David João David Batel Marques, ilhavense, nascido em 1953, autor e coautor  de diversos livros sobre a pesca do bacalhau, os seus navios e as suas gentes, alguns deles publicados pela Fundação Gil Eanes (**).

Vida e morte ? Vida, morte e ressurreição, para sermos mais precisos. De facto, graças â Fundação SOS Gil Eanes, foi resgatado "in extremis", em 1997, quando estava atracado em Alhos Vedros à espera de ser desmantelado pelo sucateiro. 

Em 29 de janeiro de 1998, seria assinado o contrato de compra do navio entre a Comissão Pró-Gil Eanes e o sucateiro de Alhos Vedros. Por 50 mil contos (acrescidos do valor dos impostos àquela data.) (A preços de hoje, são c. de 430 mil euros, e não 250 mil, como escreveu o autor, pág. 96; para a conversão utilizámos o simulador de inflação da Pordata).

Para o resgaste do navio teve um papel importante, entre muitas outras personalidades, a par da mobilização do município e do povo de Viana do Castelo,  o prof doutor José Hermano Saraiva, que disse, na RTP (em 29/2/1997, num programa da sua série "Horizontes da Memória III"):

 "Portugal tem uma brilhante história marítima. Mas quem faz a história marítima são os navios. E eu pergunto: onde está o museu dos nossos navios?"

O valor do navio, construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), será,  em 1955,  de 40 mil contos ( o equivalente, a preços de hoje, a cerca de 23 milhões de euros, e não a 200 mil euros, como vem grosseiramente apontado na pág. 39).

2. Como é que se chega  á decisão de construir um navio-hospital, de apoio à frota da pesca do bacalhau, que fosse de desenho e tecnologia nacionais, construído em estaleiros nacionais ?

A frota branca, que se desenvolve a partir de finais do séc. XIX, começa a sentir a necessidade de ter um navio de apoio. A vida dos pescadores e marinheiros sempre foi muito dura.  Os pescadores passavam muitas horas nos dóris a pescar bacalhau à linha (!), em condições climatéricas, físicas e psíquicas de grande exigência. A sua remuneração dependia da qualidade e quantidade do pescado. 

Por outro lado, regressados ao navio-mãe, passavam o resto da jornada diária de trabalho a processar o peixe (escalagem e salga). Era um trabalho extenuante, sujeitos a acidentes e outros riscos (cortes, quedas, exaustão física e emocional, etc.). Para o pescador dos dóris, a jornada começava às 4h00 da manhã e podia terminar só 18 ou até 20 horas depois (!), nos  limites da fisiologia humana.

Até ao início dos anos 20 do século passado,  não havia assistência a bordo. Os franceses, por seu turno, já beneficiavam, desde se1896, de assistência médico-hospitalar nos bancos da Terra Nova.

Em 1922, os franceses dispunham do navio-hospital "Sainte Jeanne d'Arc", que também prestava cuidados às tripulações portuguesas. Era propriedade de uma associação humanitária, a "Societé des Oeuvres de Mer", que teve 7 navios-hospitais, de 1896 a 1939, cada navio com um médico e um capelão.  (A França chegou a ter   11 mil homens, na pesca do bacalhau, na Terra Nova e na Islândia, em finais do séc. XIX, e Portugal teria então uns 800, 40 em media por embarcação)

O médico a bordo no "Sainte Jeanne d' Arc", citado por  João David Batel Marques,  escreve, no seu relatório desse ano de 1922, que tinha hospitalizado 13 doentes portugueses (5 dos quais com  tuberculose pulmonar, doença infetocontagiosa perigosa; vários tinham  hemoptises; e 1 morreu). 

Havia homens, além  disso, com infeções graves, que deviam ser hospitalizados com urgência, mas que se recusavam a tal, ou eram impedidos pelos seus capitães (pág. 12).

Face a esta situação, o Ministério da Marinha é cada vez mais pressionado a mandar um navio-hospital para prestar assistência médica ao pessoal da frota (constituída ainda só por lugres).

O primeiro navio-hospital foi o cruzador "Carvalho Araújo" que levava como chefe dos serviços médicos o segundo-tenente Carlos Augusto Rodrigues Borges (pág, 14). (Nasceu no Porto, em 1897; morreu em 1970,  em Vila Nova de Gaia.)

Escreveu ele:

 "Nunca será possivel  bem ajuizar o que estes infelizes passam e sofrem nessa vida horrorosa de todos os dias, cheia de trabalhos  violentos e e de perigos variadíssimos e quase que permanentes" (pág. 14).

E acrescenta: (...) "A inesperada aparição do 'Carvalho Araújo' provocou,   nessa gente rude, muitas lágrimas de enternecimento e, por vezes,  o entusiasmo deveras significativo!".

Mas  um navio de guerra não podia cumprir as funções especializadas a desempenhar por um navio-hospital. O comandante e o médico do "Carvalho Araújo" deram ideias e sugestões para o desenho e construção desse futuro navio de assistência, que deveria também servir de intermediário no transporte de correio entre Saint John's e Portugal (pág. 20).

O médico, segundo-tenente, Carlos Borges assinala a prevalência, entre as tripulações da frota branca, de:

  • doenças infetocontagiosas;
  • problemas do estômago;
  • problemas pulmonares.

E não era raro haver mortes (que ficavam sepultados nas profundezas do mar).

Só em 1927 a frota bacalhoeira vai ter o seu primeiro "Gil Eanes", o ex-navio alemão "Lahneck", construído em 1914, e apresado pelas autoridades portuguesas no rio Tejo. Sofreu adaptações na Holanda para servir como navio-hospital. Operou como "Gil Eanes" entre 1916 e 1955.

Teve uma atividade irregular, como navio-hospital:

"Entre 1931 e 1936 a atividade do  navio  resumiu-se ao transporte de presos" (pág, 24).

Só em 1942 se faria a sua transferência, da Marinha de Guerra para a Marinha Mercante. A propriedade passou a ser do Grémio dos Armadores  de Navios da Pesca do Bacalhau (GANPB). Teve diversos capitães da marinha mercante e capitães de bandeira (que eram oficiais da Armada) (pág. 27).

A última viagem aos bancos bacalhoeiros foi em 1954. Em 1955 fez-se à agua o novo navio-hospital "Gil Eanes". (**)

O Estado Novo fazia questão, na época, de transformar a "epopeia do bacalhau" (sic) num verdadeiro estandarte do "ressurgimento económico do país" (pág. 30). Veja-se, por exemplo,  como a frota vai crescer de 1935 a 1961, para um total de 91 unidades e quase 6 mil  homens:

  • 22 lugres de madeira;
  • 4 lugres de aço;
  • 41 navios a motor (de madeira, 19; e de aço, 22);
  • 24 arrastões clássicos.

"Em 1958 , foi à pesca a melhor frota de sempre, composta por 77 navios e, e tripulada por 5736 homens" (pág, 30). 

Mas era já o princípio do fim.

(Continua)  (**)

3. Pedi ao assistente do Gemini IA / Google, que me apresentasse os principais factos e datas do génese e desenvolvimento da  nossa frota bacalhoeira. Aqui vão:


A frota bacalhoeira portuguesa tem uma história longa e complexa, com raízes na Idade Média e um desenvolvimento significativo a partir do século XIX, culminando no auge durante o Estado Novo.


Inícios e Primeiros Registos:

  • Século XIV:  há registos de acordos de pesca entre Portugal e Inglaterra (em 1353, entre D. Pedro I e Eduardo II), o que indica que a pesca do bacalhau já era uma atividade relevante para os portugueses; Portugal trocava sal por bacalhau com a Inglaterra.

  • Final do Século XV / Início do Século XVI: com os "Descobrimentos", a necessidade de alimentos não perecíveis para as longas viagens impulsionou a procura do bacalhau; a "descoberta" dos vastos bancos de pesca na Terra Nova (hoje Canadá), atribuída a navegadores como Gaspar Corte Real (cerca de 1500), abriu caminho para a pesca em larga escala no Atlântico Norte; 
  • D. Manuel I, em 1506, já cobrava dízimo sobre essa pesca;
  • No reinado de D. João III, a frota portuguesa de bacalhoeiros chegou a atingir as 150 embarcações, e em 1508, o bacalhau já correspondia a 10% do pescado comercializado em Portugal;
  • Os portugueses, ao contrário dos vikings que apenas secavam o peixe, desenvolveram a técnica de salgar e secar o bacalhau, o que lhe conferiu o sabor característico.

Século XIX e Início do Século XX: O Despertar da Frota Moderna:
  • Segunda metade do Século XIX: companhias como a Bensaude & C.ª (depois Parceria Geral de Pescas) e a Mariano & Irmãos, ambas de proprietários açorianos mas sediadas no continente devido ao clima mais propício à seca do bacalhau, investem na pesca do bacalhau;
  • 1870: Surgem os primeiros registos de pesca com dóris (pequenos botes de pesca utilizados pelos pescadores a partir do navio-mãe);
  • Início do Século XX (década de 1930): a frota bacalhoeira ainda era composta maioritariamente por veleiros (lugres em madeira):


O Auge: Estado Novo e a "Campanha do Bacalhau"

  • 1934: é  criada a Campanha de Bacalhau, com o objetivo principal de reduzir a importação de bacalhau e garantir o abastecimento alimentar do país, esta campanha marcou um período de grande investimento e desenvolvimento da frota, o Estado Novo via a pesca do bacalhau como um símbolo de autonomia e força nacional; e o pescador de bacalhau torna-se um "herói nacional";
  • 1935: é criado o Grémio dos Armadores dos Navios de Pesca do Bacalhau (GANPB), que reunia as entidades ligadas à indústria;1936: surge o primeiro arrastão em Portugal; a modernização da frota começa a ganhar ímpeto, com a substituição gradual dos veleiros por arrastões, em aço, a motor;
  • 1937: o lançamento do lugre-bacalhoeiro Creoula (10 de maio de 1937) é um marco; este navio, que realizou 37 campanhas até 1973, é hoje um navio de treino da Marinha Portuguesa e um símbolo lendário da pesca do bacalhau;
  • Anos 40-50: A frota atinge o seu apogeu em número de navios e volume de pesca; entre 1948 e 1953, há um grande impulso no número de arrastões bacalhoeiros; a vida a bordo era extremamente dura e perigosa, com os pescadores nos dóris a enfrentar condições adversas e o risco de colisão com icebergs; as jornadas de trabalho podiam chegam às 18 horas ou mais;
Declínio e Fim da Pesca Tradicional:
  • Pós-II Guerra Mundial: a frota portuguesa começa a sofrer com a falta de modernização e a implementação de legislação internacional que restringiu o acesso aos bancos de pesca (Terra Nova e Gronelândia);
  • 1966: embora já houvesse arrastões, ainda existiam 10 veleiros em funcionamento, demonstrando o atraso na modernização completa;

  • 1967: Fernando Alves Machado, Secretário do Comércio, vai abolir o regime protecionista do comércio do bacalhau, o que leva ao fim da tabela de preços e do condicionamento das importações: isso, juntamente com o atraso na modernização, contribuiu para o declínio;
  • 1974 (Revolução dos Cravos): a Revolução de 25 de Abril de 1974 marca o fim da pesca de bacalhau à linha (ou seja, com os dóris),  considerada heróica mas ineficiente e perigosa; muitos dos últimos grandes navios de pesca de bacalhau à linha fizeram a sua última campanha nesse ano;
  • Anos 80/90: a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE, atual UE) em 1986 e à Política Comum das Pescas implicou a aceitação de restrições de acesso a pesqueiros;
  • 1992: o Canadá proíbe a pesca de fundo nos seus bancos, um duro golpe para a frota bacalhoeira portuguesa;
  • Entre 1990 e 1998: a frota portuguesa sofre uma redução drástica, perdendo mais de 30 navios e ficando reduzida em mais de 70%.

Atualmente, a frota portuguesa satisfaz apenas uma pequena percentagem do consumo nacional de bacalhau, que continua a ser um alimento central na gastronomia portuguesa. A maior parte do bacalhau consumido em Portugal é importada (Noruega, Islândia, Canadá).

 Os portugueses consomem cerca de 20% de todo o bacalhau pescado no mundo (consumo "per capita" andaria à volta dos 7 kg, antes da II Guerra Mundial; 8,8 kg, entre 1946 e 1967; 7,7 em 2020, com a pandemia; 5,5 / 6 kg, nos anos mais recentes); no auge da pesca do bacalhau, as capturas seriam da ordem das 60 mil toneladas anuais.

Acrescente-se, nos anos 60/70, a crescente dificuldade de recrutamento de pescadores e marinheiros, devido á emigração e á guerra colonial, a par das duríssimas condição de trabalho. 

A "Faina Maior" era considerada um verdadeiro "desígnio nacional", daí o Estado tê-la considerado  uma  alternativa ao serviço militar.  O Decreto n.º 13441, de 8 de abril de 1927,  estabelecia a dispensa do serviço militar aos pescadores e marinheiros que tivessem cumprido um mínimo de seis campanhas de pesca consecutivas (!) na frota nacional bacalhoeira. Também concedia adiamento ae aos 26 anos de idade... (Artº 24º).


Excerto: Decreto n.º 13441, de 8 de abril de 1927


 Fonte: Gemini IA / Google / LG


(Revisão / fixação de texto: LG)

__________________

Notas do editor:

(**) Mais bibliografia de João David Batel Marques (n. 1953): 

Viagem de fé : pescadores portugueses, homens de fé, de olhos postos na proteção da Virgem Maria / João David Batel Marques, Manuel Domingos, Salvador de Sousa / apresentação Luís Nobre. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eannes, 2023. - 51, [5] p. : il. ; 22 cm. - ISBN 978-989-54795-2-8


O "Gil Eannes" de 1955 = The 1955 Gil Eannes / João David Batel Marques ; trad. Regina Bezerra. - Viana do Castelo : Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2021. - 2 v. : il. ; 28 cm. - (Os navios de assistência à frota bacalhoeira = The assistance vessels to the cod fishing fleet ; 2, 3). - Ed. bilingue em português e inglês. - ISBN 978-972-588-346-4 (pt. 1). - ISBN 978-972-588-347-1 (pt. 2)

O "Carvalho Araujo" e o "Gil Eannes" ex Lahneck = The Carvalho Araújo and the Gil Eannes former Lahneck / João David Batel Marques ; trad. Regina Bezerra. - Viana do Castelo : Câmara Municipal de Viana do Castelo, 2021. - 303, [1] p. : il. ; 28 cm. - (Os navios de assistência à frota Bacalhoeira = The assistance vessels to the cod fishing fleet ; 1). - Ed. bilingue em português e inglês. - ISBN 978-972-588-340-2

A pesca do bacalhau : história, gentes e navios = Cod fishing : history, people and ships / João David Batel Marques ; sel., ed. e composição fot. Rui Bela ; consultoria e rev. técnica João David Batel Marques. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eannes, 2018-2019. - 4 v. : il. ; 28 cm. - Ed. bilingue em português e inglês. - T. 1: A história e as gentes = History and people. - 319, [1] p. T. 2: Os lugres da pesca à linha = Handliner schooners. - 2018. - 415, [1] p. T. 3: Os navios-motor da pesca à linha = Handliner motor vessels. - 2019. - 284, [4] p. T. 4: Os arrastões = Trawlers. - 2019. - 367, [1] p. - ISBN 978-989-99869-3-0 (t. 1). - ISBN 978-989-99869-4-7 (t. 2). - ISBN 978-989-99869-5-4 (t. 3). - ISBN 978-989-99869-6-1 (t. 4)

Os navios de pesca à linha = The handliners / Jean Pierre Andrieux ; cons. e rev. técnica João David Marques ; trad. Tim Oswalda ; colab. Valdemar Aveiro... [et al.]. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eannes, 2018. - 269, [3] p. : il. ; 28 cm. - Ed. bilingue em português e inglês. - ISBN 978-989-99869-2-3

Uma viagem no tempo : navios, equipamentos, instrumentos e palamenta / João David Batel Marques ; fot. Anna Soik... [et al.]. - Viana do Castelo : Fundação Gil Eannes, 2018. - 175, [1] p. : il. ; 22 cm. - (Manuel Mário Cravo Bola)