Guiné > Região do Cacheu > Binar > Nhamate > CCAÇ 13 > 1970 > Tratava-se de um reordenamento, tendo a população sido substraída ao controlo do PAIGC. As NT tiveram que construir um aquartelamento de raíz. Vivia-se em tendas. "A nossa missão junto da população foi calma, em geral mostrou-se afável e colaborante, embora fosse clara a tristeza por abandonarem a sua antiga casa. Notou-se alguma influência da guerrilha, pois dois elementos da população (guerrilheiros?) chegaram a desafiar abertamente a nossa autoridade, um acabou por ser preso e o outro por ser morto, depois destes incidentes, as relações com a população foram sempre excelentes. Este reordenamento, tinha não só o objectivo de retirar a população do controlo do PAIGC, mas também de reforçar a defesa nesta zona, dado que com os novos foguetões 122 mm, seria fácil à guerrilha atingir Bissau a partir daqui... " (Carlos Fortunato). Foto do álbum de Adriano Silva, ex-fur mil da CCaç 13 (Bissorã, 1969/71).
Foto (e legenda) : © Carlos Fortunato (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Às voltas com os "escritos" do José Afonso sobre o seu comandante, Salgueiro Maia (que morreu há 30 anos), e os seus camaradas da CCAV 3420 (Bula, 1971/73), descobri, em postes já publicados, mas dispersos, várias referências ao cap art (depois promovido a major, 2.º camdt do BA 7) José Joaquim Vilares Gaspar, o primeiro de três comandantes que teve a CART 3330 (Nhamate e Bula, 1970/72).
É uma figura da qual se contam também "histórias pícaras", aqui lembradas por quem o conheceu ou foi seu contemporâneo: casos do António J. Pereira da Costa, seu amigo, mas também José Afonso, José Borrego, Luís Faria... Achámos por bem recuperar essas histórias. Publicando um primeiro de vários postes na série "Humor de Caserna".
Infelizmente não temos nenhuma foto dele, nem grande informação sobre a vida do militar e do homem. Julgamos que antes da Guiné terá passado por Angola e Moçambique. Infelizmente também já morreu, há muito (c. 1977).
No sítio Memórias d'África e d'Oriente, encontrámos a seguinte referência bibliográfica: [84547] GASPAR, José Joaquim Vilares
Aí estão eles... carta do meu amigo Luís de Sá / José Joaquim Vilares Gaspar
In: Polícia Moçambique. - nº 6 (Nov. 1968), p. 7-8, il.
Descritores: Moçambique | Literatura
Cota: 3166|IICT
Histórias pícaras > O Gasparinho
(i) Siga a Marinha!
O primeiro a falar dele no nosso blogue, em 2007, no poste da sua apresentção à Tabanca Grande (*), foi o António J. Pereira da Costa, seu amigo, também ele da arma de artilharia, a propósito da famosa expressão "Siga a Marinha" (cuja autoria lhe é atribuída, indevidamente ou não, veremos isso mais tarde):
(...) Esta frase foi inventada pelo capitão José Joaquim Vilares Gaspar, mais tarde major, ainda na Guiné (no GA 7) e falecido por volta de 1977. Era o célebre Gasparinho de Quibaxe (Angola) de quem se contam muitos ditos e anedotas, quase todas verdadeiras, embora incríveis.
Salgueiro Maia fala dele no seu livro [Capitão de Abril - Histórias da Guerra do Ultramar e do 25 de Abril, 1994] (...) e na Fotobiografia da Guerra Colonial (Circulo de Leitores) (...) transcreve-se uma nota que ele escreveu, na Guiné, expondo a situação do seu quartel em Nhamate, "mais propriamente abarracamento": Siga a Marinha que o Exército já lá está e Força Aérea já anda no ar há meia-hora. (...)
Era assim que ele a dizia. Talvez um desabafo ou uma crítica ou até um bordão para se sentir vivo. Não o dizia com qualquer espécie de humor. Conheci-o bem. Era um homem sério, muito inteligente, bom condutor de homens e com uma capacidade de crítica muito apurada, mas que bebia bastante. Além disso, a inteligência e a capacidade de crítica são uma mistura explosiva" (*)
(ii) E viva a Pátria! Viva o nosso General!... Puuum"...
Outra referência a este militar, carinhosamente conhecido como Gasparinho, foi feita pelo José Afonso, ex-fur mil at cav, CCAÇ 3420 (Bula, 1971/73) quando esteve destacado em Nhamate com o seu 3.º Gr Comb, de 19 a 24 de Novembro de 1971, fazendo segurança a Bissau. Fou nessa altura que ouviu os militares da CART 3330 (que guarnecia Nhamate e mais os seus destacamentos: Manga, Unche e Changue).
(...) Achamos estranho quando no primeiro dia, ao pôr-do-sol, toca o clarim para a formatura do arriar da Bandeira. É formada a secção em frente mas o engraçado é que depois da bandeira descida, em vez de o Furriel mandar direita volver, manda meia volta volver. E, nesta posição, de costas para o pau da bandeira, cantava-se:
- E viva a Pátria, viva o nosso General!
Ao mesmo tempo mandavam como que um coice e gritavam:
- Puuum!!! (...)
O Comandante desta Companhia, a CART 3330 (vd. ficha a unidade a seguir), inicialmente foi o célebre Capitão Gaspar, mais conhecido por Gasparinho, que como foi promovido a Major foi para a COP de Mansabá.
Na altura que estivemos em Nhamate, o Capitão Gaspar já não estava mas as histórias contadas são hilariante e nem parecem ser reais. Eis algumas delas:
(iii) Reconhecimento pelo fogo, na picada de Nhamate-Binar
Semanalmente de Nhamate ia uma coluna a Binar buscar os reabastecimentos.
Era uma longa picada que deveria ser picada devido à hipótese de haver minas na zona. Isso não se fazia. Ou se montava uma HK21 na primeira viatura e se varria a picada à rajada ou então o Capitão Gasparinho picava-a à rajada de G3, tendo para isso sempre ao lado um homem que assim que acabava um carregador de imediato lhe passava outra G3.
Era como ele dizia o reconhecimento pelo fogo.
(iv) Não há rádios AVP1? Então mandem-me... o Teixeira Pinto!
Em Junho de 1971, Bissau é atacado por foguetões de 122 mm.
À Companhia do Capitão Gaspar, a CART 3330, é dada ordem para ocupar a Ponta Cuboi com um Pelotão, evitando outra possível flagelação de Bissau. Era difícil a esta Companhia dividir-se por 4 locais e a Companhia também não tinha rádios para o pessoal a destacar.
O Capitão Gaspar pedia muitas vezes através de mensagem algum material de que necessitava. Como já era demais conhecido em todas as Repartições de Bissau, quase nunca lhe era dado um sim. Desta vez pediu rádios AVP1. Responderam-lhe que Teixeira Pinto tinha sido o homem que havia pacificado a Guiné e conseguiu fazê-lo sem rádios. Resposta por mensagem:
- Então mandem-me o Teixeira Pinto.
Teixeira Pinto não veio mas o Capitão teve de cumprir a missão. Depois do Pelotão ter saído para Ponta Cuboi, enviou nova mensagem para Bissau:
Em referência às vossas mensagens, informo missão cumprida. Solicito autorização contratar 40 guardas-nocturnos a fim de garantir segurança às minhas posições.
O Pelotão de Ponta Cuboi fazia rotação entre os 4 locais da Companhia e patrulhava a zona 24 horas por dia. Ao sair para este patrulhamento, o Pelotão saía de modo muito original, com os homens equipados e armados em coluna de dois, cantando em coro, ao ritmo da marcha:
Cá vai a 30
Com arquinhos e balões
Vai P’rá Ponta Cuboi
Ver passar os foguetões!
2. Ficha de unidade:
Companhia de Artilharia n.º 3330
Identificação: CArt 3330
Unidade Mob: RAL 3 - Évora
Cmdt: Cap Art José Joaquim Vilares Gaspar | Cap Mil lnf José Alberto Palma Sardica ! Cap Mil Inf José Vicente Teodoro de Freitas
Divisa: -
Partida: Embarque em 14Dez70; desembarque em 20Dez70 | Regresso: Embarque em 13Dez72
Síntese da Actividade Operacional
Após a realização da lAO, de 04Jan7J a 30Jan71, no CMl, em Cumeré, seguiu em 02Fev71 para Nhamate, a fim de efectuar o treino operacional e sobreposição com a CCaç 2529.
Em 28Fev71, assumiu a responsabi Iidade do referido subsector de Nhamate, com destacamentos em Changue e Unche, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 2898 e depois do BCav 8320/72, sendo especialmente orientada para a coordenação dos trabalhos dos reordenamentos das populações da área e sua promoção socioeconómica.
Em 300ut72, foi rendida pela 2." Comp/BCav 8320/72, por troca, e foi deslocada para Bula, ainda na dependência do BCav 8320/72, onde permaneceu até 27Nov72, como subunidade de intervenção e reserva do sector e em serviço de guarnição.
Em 27Nov72, foi substituída em Bula por dois pelotões da 2.a Comp/BCav 8320/72 c seguiu para Cumeré, onde se manteve a aguardar o embarque de regresso.
Observações . Tem História da Unidade (Caixa n." 99 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pág. 476._________