Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Sector O1 (Bissorã) > Nhamate > CCAÇ 13 > 1970 > Vista parcial do destacamento. Foto de Adriano Silva (2003).
Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Sector O1 (Bissorã) > Nhamate > CCAÇ 13 > 1970 > "Fabrico de tijolos de lama, para construção das novas habitações para a população". Foto do álbum de Adriano Silva (2003).
Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Sector O1 (Bissorã) > Nhamate > CCAÇ 13 > 1970 > "Ajuda no transporte da população e a sua bicharada, para as novas tabancas, construídas com o seu apoio". Foto (e legenda) do Carlos Fortunato (2003).
Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Sector O1 (Bissorã) > Nhamate > CCAÇ 13 >1970 > "Almoçando - Furriéis Ribeiro (?), Adriano e Rocha. Foto de Adriano Silva, legenda de Carlos Fortunato (2003).
Guiné > Zona Oeste > Região do Oio > Sector O1 (Bissorã) > Nhamate > CCAÇ 13 > 13/03/1970 > "Panhard no novo aquartelamento de Nhamate construído pela CCaç, 13". Foto e legenda: Carlos Fortunato (2003).
1. Não temos muitas referências a Nhamate [a leste de Binar: vd. carta de Bula]. São apenas uma dúzia. Recentemente admitimos na Tabanca Grande o Victor Carvalho, que foi um dos nossos camaradas que passou por lá: era fur mil enf, da CCAÇ 2658.
Esta subunidade do BCAÇ 2905 foi para Nhamate, em março de 1970, para substituir a CCAÇ 13, "Leões Negros", a que pertenceu o nosso Carlos Fortunato, hoje presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga.
Em 14mar70, e até 18jun70 a CCAÇ 2658 assumiu a responsabilidade do subsector de Nhamate, com dois pelotões destacados em Manga e ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 2861, com vista à execução dos trabalhos de reordenamento das populações daquela área.
Quem também esteve em Nhamate, em 1971, foi a CART 3330, comandanda pelo cap art José Joaquim Vilares Gaspar, mais conhecido por Gasparinho (o seu humor cáustico não deixava ninguém indiferente: chamava a Nhamate o "abarracamento").
2. O Carlos Fortunato, ex- fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 13 (Bissorã, 1969/71), tem talvez o melhor sítio na Net sobre companhias individuais que passaram pelo CTIG. Infelizmente foi descontinuada (por estar alojad a no servidor do Sapo) a sua preciosa página sobre os "Leões Negros".Reproduzimos, então, com a devida vénia, alguns exertos desse texto e algumas fotos:
(...) Colocar as populações em zonas protegidas por aquartelamentos, era a política seguida na altura, embora a população fosse livre para cultivar onde entendesse, deixava de estar dispersa pelo mato.
A península do Encherte oferecia boas condições para este objectivo, devido ao facto de estar rodeada por bolanhas, o que dificultava ao PAIGC o acesso à população.
A nossa missão implicava:
- abertura de estradas;
- construir os 3 novos pequenos aquartelamentos;
- ajudar na construção das novas casas para a população;
- ajudar a mover a população para a península (transportando os seus haveres nas viaturas);
- e destruir as antigas tabancas.
(...) Esta política, levada a cabo por toda a Guiné, obrigava à existência de grande número de efectivos para defender e controlar as populações, os quais o General Spinola solicita constantemente, mas que nunca iria obter, acabando parte da populações por ficar sujeita a um duplo controlo, nosso e do PAIGC.
O PAIGC, sem preocupações de defender qualquer zona de território, quando atacado em força numa zona, dispersava-se, mas regressava mais tarde, quando a força atacante retirava.
Após a morte de Amílcar Cabral em 1973, a estratégia do PAIGC mudou, pois além das habituais flagelações, este passou a concentrar elevado número de forças contra determinados aquartelamentos junto à fronteira, com a intenção da sua destruição/conquista, a chegada dos mísseis terra-ar foi fundamental para esta estratégia, pois garantiu-lhe a protecção necessária contra a aviação. Esta alteração colocou em causa a politica de defesa, pois deixava os pequenos aquartelamentos muito expostos.
A nossa missão junto da população foi calma, em geral mostrou-se afável e colaborante, embora fosse clara a tristeza por abandonarem a sua antiga casa. Notou-se alguma influência da guerrilha, pois dois elementos da população (guerrilheiros?) chegaram a desafiar abertamente a nossa autoridade, um acabou por ser preso e o outro por ser morto, depois destes incidentes, as relações com a população foram sempre excelentes.
(...) Este reordenamento tinha não só o objectivo de retirar a população do controlo do PAIGC, mas também de reforçar a defesa nesta zona, dado que com os novos foguetões 122mm, seria fácil à guerrilha atingir Bissau a partir daqui.
(...) Esta acção obrigou o PAIGC a retirar da zona, o que fez de má vontade ... e com muita saudade, a julgar pelas visitas a Nhamate, cuja defesa estava a cargo do alferes Pimenta, outro dos rangers que integravam a companhia.
O PAIGC possuía naquela zona um bigrupo (cerca de 60 homens), bem como armas pesadas, e o nosso controlo da zona obrigava-o a retirar, pois ficava sem a sua base de apoio (alimentação). É provável que para efectuar estes ataques, este bigrupo tivesse sido reforçado com guerrilheiros de outras bases, nomeadamente da sua principal base no Choquemone.
Sabendo que as nossas defesas naquela altura eram fracas, o PAIGC lançou ataques em força, tentando quebrar a nossa determinação, mas o nosso moral sempre foi muito alto, o comando muito determinado, e a eficácia da nossa resposta surpreendente (parecia que sabíamos onde eles estavam), pelo que foram sempre obrigados a retirar apressadamente, levando as suas baixas.
(...) Logo no primeiro ataque a Nhamate, a 3/2/1970, talvez o mais violento, apesar de termos as nossas defesas muitos deficientes, os guerrilheiros foram obrigados a retirar rapidamente e com várias baixas, graças a um estudo cuidado do terreno, onde foram identificados os melhores locais de ataque, e estudada a precisa regulação dos morteiros, para os anular, o que permitiu uma rápida e eficiente resposta, tendo nós apenas sofrido um ferido ligeiro.
A guerrilha manteria a sua pressão ofensiva nos dias seguintes, atacando Nhamate a 12/2/1970, Manga a 13/2/1970 (onde estava o 2º pelotão aquartelado), e de novo Nhamate, em 17/2/1970, sempre com pouco sucesso, e retirando com baixas.
Publicado em 24/02/2003, e revisto em 21/07/2007, por Carlos Fortunato (O seu Web portal: http://portalguine.com.sapo.pt também foi descontinuado: pode ser agora consultado no Arquivo.pt , neste URL:
https://arquivo.pt/wayback/20131106043122/http://portalguine.com.sapo.pt/index.html
(Seleção, revisão / fixação de texto, para efeitos de publicação deste poste: LG)
Último poste da série > 27 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25219: As nossos geografias emocionais (23): O Hospital Militar Principal (HMP), à Estrela, e o Anexo, a Campolide, que eu conheci (Carlos Rios / Rogério Cardoso / Jorge Picado / Antóno Tavares / Armando Pires)
1 comentário:
1. Em geral, todos os reordenamentos implicavam sempre algum tipo de violência e conflitualidade, de parte a parte, das NT, das populações "reordenadas" e do PAIGC a quem a população era subtraída...
A minha única experiência foi o de Nhabijões, um dos maiores, senão o maior do CTIG, no setor L1 (Bambadinca)...Nunca fiz parte da equipa do reordemanento, mas estive lá destacado com um Gr Comb, pelo menos uns tempos... E apnhaámos lá coms dois duas minas A/C...em 13/1/1971...
Hoje gostava de ter tido informação detalhada sobre a concepção, planeamento e implementação do reordenamento de 7 núcleos populacionais de Nhabijões (um mandinga e 6 balantas)...
Tenho dúvidas sobre a "metodologia" usada pelas NT e a administração civil para levar a bom termo o reordenamento...Mas é altura de recordar aqui os princípios definidos na
brochura "Os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações". Província da Guiné, Bissau: QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné]. Repartição AC/AP [Assuntos Civis e Acção Psicológica]. s/d.
(...) "Não devendo em princípio existir um carácter de obrigatoriedade quanto à deslocação das populações das suas tabancas para um aldeamento, a não ser que o interesse comunitário superiormente o determine, há que empregar meios persuasivos quando se encontre alguma resistência."
(...) Esquematicamente vemos, assim:
(i) Antes da construção
- Auscultação das populações (indirecta, directa)
- Auscultação e elucidação do Chefe da Tabanca
- Auscultação e elucidação do Guarda de "Irã"
- Auscultação e elucidação das autoridades religiosas islâmicas
(ii) Durante a construção
- Garantir a autoridade constituída
- Garantir, tanto quanto possível, os interesses da localização dos aglomerados correspondentes às antigas tabancas, dentro do plano urbanístico
- Respeitar os usos e costumes das populações
- Colaborar no transporte de todos os haveres das populações deslocadas
- Interessar as populações na construção das casas, escolas, postos sanitários, etc., permitindo e desenvolvendo o sentimento de posse." (...)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2018/11/guine-6174-p19215-o-nosso-blogue-como.html
2. Veja-se o que o Carlos Fortunato aqui escreveu sobre o reordenamento de Nhamate, que começou a ser construido por volta de 1970:
(...) "A nossa missão junto da população foi calma, em geral mostrou-se afável e colaborante, embora fosse clara a tristeza por abandonarem a sua antiga casa. Notou-se alguma influência da guerrilha, pois dois elementos da população (guerrilheiros?) chegaram a desafiar abertamente a nossa autoridade, um acabou por ser preso e o outro por ser morto, depois destes incidentes, as relações com a população foram sempre excelentes.
(...) Este reordenamento tinha não só o objectivo de retirar a população do controlo do PAIGC, mas também de reforçar a defesa nesta zona, dado que com os novos foguetões 122mm, seria fácil à guerrilha atingir Bissau a partir daqui.
(...) Esta acção obrigou o PAIGC a retirar da zona, o que fez de má vontade ... e com muita saudade, a julgar pelas visitas a Nhamate, cuja defesa estava a cargo do alferes Pimenta, outro dos rangers que integravam a companhia." (...)
Enviar um comentário