Em representação das Nações Unidas nas zonas detidas pelo PAIGC: Folke Löfgren com alunos da escola de mato Areolino Lopes Cruz, na base de Cubucaré, consultando o livro escolar O Nosso Livro, impresso na Suécia, Uppsala, abril de 1972 (Foto gentilmente cedida por Folke Löfgren) (Fonte: Tor Sellström, op-. cit. 2008, pág. 167)
1. Tor Sellström, do Instituto Nórdico de Estudos Africanos, é autor de um livro, de 290 páginas, "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau" (publicado em 2008, em versão portuguesa). (Vd. ficha técnica a seguir.)
Nessa publicação ele conta-nos como é que os chamados "Grupos de África" (organizações suecas de solidariedade com a luta dos povos da África Austral, e nomeadamente contra o apartheid) e o governo sueco começaram a interessar-se pelo que se estava a passar na Guiné-Bissau, no final dos anos 60.
O território, então sob administração portuguesa, com um escasso meio milhão de habitantes, e com um pequeno partido nacionalista, o PAIGC; a lutar pela sua independência, era na altura praticamente desconhecido do público sueco.
A partir de 1969, a Suécia começou a dar, ao PAIGC, uma "ajuda humanitária" substancial, primeiro em géneros, depois em dinheiro, que se prolongou muito para além da independência, até meados dos anos 90. Em meados dessa década, fechou abruptamente a torneira, ao perceber que estava a mandar o dinheiro dos contribuintes para o lixo.
"As exportações financiadas com doações da Suécia representavam, durante este período, entre 5 por cento e 10 por cento do total das importações da Guiné-Bissau". Estamos a falar de valores que chegaram aos 2,5 mil milhões (!) de coroas suecas [c. 269,5 milhões de euros] durante o período de 1974/75-1994/95 (sendo de 53,5 milhöes de coroas suecas, ao valor actual, ou sejam, cerca de 5, 8 milhões de euros, de 1969/70 até 1976/77).
Sáo factos que já pertencem ao domínio da História. Mas, passados estes anos todos, julgamos que ainda pode ter algum interesse, para os nossos leitores, saber um pouco mais sobre o envolvimento da Suécia, mesmo que indireto, na "nossa" guerra colonial.
Vamos continuar a seguir esta narrativa, reproduzindo, com a devida vénia, mais um excerto do livro de Tor Sellström. Já chamámos, logo no início, a atenção para alguns factos e dados que merecem a nossa contestação ou reparo crítico, nomeadamente quando o autor fala do trajeto do PAIGC e do seu líder histórico, não citando fontes independentes e socorrendo-se no essencial da propaganda do PAIGC (ou de fontes que lhe estavam próximas)...
Já apontámos, nos postes anteriores, para alguns exemplos desse enviesamento político-ideológico: (1) a greve dos trabalhadores portuários do Pijiguiti e o papel do PAI (mais tarde, PAIGC); (ii) a batalha do Como em 1964: (iii) o controlo de 2/3 do território e de 400 mil habitantes (!) por parte do PAIGC; (iv) as escolas, os hospitais e as lojas do povo nas "áreas libertadas"; (v) a morte de Amílcar Cabral e o seu contexto, etc.
O texto (na parte que nos interessa, a ajuda sueca ao PAIGC, pp. 138-172) tem demasiadas notas de pé de página, que são úteis do ponto de vista documental e até têm informação relevante mas são extremamente fastidiosas para a generalidade dos nossos leitores. (Vamos mantê-las, para não truncar a narrativa; podem ser lidas na diagonal)
Os negritos são nossos: ajudam a destacar alguns dos pontos importantes do texto. O "bold" a vermelho são passagens controversas, são uma chamada de atenção para o leitor, devendo merecer um comentário crítico (ou o recurso a leituras suplementares).
Corrigimos um ou outro erro de português. Os excertos, que reproduzimos, seguem o Acordo Ortográfico em vigor.
Para já aqui ficam os nossos agradecimentos ao autor e ao editor, Nordiska Afrikainstitutekl (em inglês, The Nordic Africa Institute).
Ficha técnica:
Tor Sellström - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Nordiska Afrikainstitutekl, Uppsala, 2008, 290 pp. Tradução: Júlio Monteiros. Revisão: António Lourenço e Dulce Åberg. Impresso na Suécia por Bulls Graphic, Halmstad 2008ISBN 978–91–7106–612–1.
Disponível em
https://www.diva-portal.org/smash/get/diva2:275247/FULLTEXT01.pdf
(Também disponível na biblioteca Nordiska Afrikainstitutekl (ou Instituto Nórdico de Estudos Africanos) aqui, em "open acess" .)
Resumo dos excertos anteriores (*):
Com base numa decisão parlamentar aprovada por uma larga maioria, a Suécia tornou-se em 1969 o primeiro país ocidental a dar ajuda oficial aos movimentos nacionalistas das colónias portugueses (MPLA, PAIGC, FRELIMO). O PAIGC vai-se tornar o principal beneficiário dessa ajuda (humanitária, não-militar). Muito também por mérito de Amílcar Cabral e da sua habilidade diplomática.
Até então, e sobretudo na primeira metade da década de sessenta, o debate na Suécia sobre a África Austral tinha quase exclusivamente sido centrado na situação na África do Sul, onde vigorava o apartheid.
O êxito da campanha contra a participação da empresa sueca ASEA no projecto de Cahora Bassa em Moçambique, por volta de 1968–69, na altura em que decorria a guerra do Vietname, levou a que os principais grupos de pressão (“Grupos de África”, oriundos de cidade como Arvika, Gotemburgo, Lund, Estocolmo e Uppsala) se ocupassem, quase em exclusivo, da luta armada nas colónias portuguesas, com destaque para a Guiné-Bissau (Parte I).
Em 3 páginas (pp. 141-143), o autor faz um resumo da "luta de libertação na Guiné-Bissau", usando unilatereal e acriticameente informaçáo propagandística do PAIGC, alguma particularmente grosseira como a pretensão deste de controlar 400 mil habitantes (numa população de pouco mais de meio milhão)... (Parte II).
Nas páguinas 144-147, fala-se dos primeiros contactos com o PAIGC e das primeiras visitas ao território (Parte III).
Nas páginas 148-152, é referido a primeira visita (de muitas) de Amílcar Cabral à Suécia em novembro de 1968 (Parte IV).
As conversações de Ström com o PAIGC foram bastante simples. No seu relatório, descreveu Amílcar Cabral, secretário geral do PAIGC, como ”um jovem agrónomo bastante jovial, elegante, intelectual e um conversador desenvolto e muito animado. Nada de apelos patéticos nem declarações solenes. As suas intervenções eram objectivas, claras e concisas” (Parte V, pp. 152-154).
Os suecos quiseram, na sua ajuda "não-militar", privilegiar os sectores da educação e a saúde. onde o PAIGC estava confrontado com "enormes desafios". O pressuposto era de que, em 1971, calculava-se que viviam 400.000 pessoas nas zonas libertadas da Guiné-Bissau, (...) na sua maioria artesãos e camponeses (sic) (Parte VI, pp. 154-157. Uma estimativa, disparatada, que fazia parte do arsernal de propaganda do PAIGC...
Uma das maiores "mistificações" foi a entrega de 100 toneladas de "sardinhas" (ou arenques juvenis) sob a forma de cerca de 400 mil latas de conservas, de 225 gr cada uma (peso líquido), e que terão sido profusamente distribuídas pelas "zonas libertas" (sic) até chegarem a Bissau... (O nosso amigo Cherno Baldé disse-nos que chegou a provar essas tais "sardinhas", e não lhe sabiam a nada...) (Parte VII, pp. 157-161).
Tor Sellström - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau: o caso da ajuda ao PAIGC - Parte VIII:
Amílcar Cabral e a ajuda sueea (pp. 161-168)
Excerto do índice (pág. 4)
O PAIGC da Guiné-Bissau: Desbravar terreno | Pág. |
As colónias portuguesas no centro das atenções | 138 |
A luta de libertação na Guiné-Bissau | 141 |
Primeiros contactos | 144 |
Caminho para o apoio oficial ao PAIGC | 147 |
Uma rutura decisiva | 152 |
Necessidades civis e respostas suecas | 154 |
Definição de ajuda humanitária | 157 |
Amílcar Cabral e a ajuda sueca | 161 |
A independência e para além dela | 168 |
Amílcar Cabral e a ajuda sueea (pp. 161-168)
A cooperação com o PAIGC da Guiné-Bissau dominou a ajuda oficial sueca aos movimentos de libertação africanos durante a primeira metade dos anos setenta. Começando a um nível relativamente alto (131), a ajuda em bens aumentou de forma sustentada ao longo dos anos e, apesar das diferenças culturais e das circunstâncias, em geral difíceis, baseou-se em confiança mútua entre as partes e foi aplicada de forma satisfatória tanto para os doadores como para os beneficiários da ajuda.
A experiência da cooperação com o PAIGC serviu como exemplo positivo para a ajuda humanitária posteriormente dada aos movimentos de libertação da África Austral.
O facto de o secretário geral do PAIGC se ter empenhado, pessoal e profundamente na concepção, aplicação e seguimento da ajuda oficial facilitou as operações de cooperação (132), como é natural.
Também ajudou o facto de, antes de se iniciar o relacionamento, o PAIGC ter já um
representante residente na Suécia, que participou activamente no debate, e com quem a ASDI teve consultas frequentes. Onésimo Silveira foi, contudo, destituído em novembro de 1972 (133) e apenas dois meses depois, a 20 de janeiro
de 1973, Amílcar Cabral foi assassinado (134).
Nessa altura, a cooperação com o PAIGC estava já firmemente
enraizada. O assassinato de Cabral não provocou uma crise aberta no movimento
de libertação, que fizesse com que o governo sueco tivesse de suspender a
ajuda, como aconteceu aquando do assassinato do presidente da FRELIMO, Eduardo
Mondlane, em Fevereiro de 1969.
Tanto o sucessor de Cabral no cargo de secretário-geral
(Aristides Pereira), como o seu irmão Luís Cabral, que viria a ser eleito
presidente da Guiné-Bissau independente, tinham trabalhado desde o início, de
forma estreita, com a ASDI e, a seguir ao assassinato, ficaram com os seus
contactos junto da agência de ajuda (135). A ASDI retomou as remessas de ajuda
para Conacri logo em meados de Fevereiro de 1973 (136).
A morte de Cabral teve um profundo impacto na Suécia (137).
Descrito como o ”mais profundo, do ponto de vista teórico, dos líderes
nacionalistas da África portuguesa” (138), tinha capacidades extraordinárias
para conseguir apoios para o PAIGC num espectro político vasto, da esquerda
não-parlamentar ao Partido Liberal.
Ao longo do tempo aproximou- se muito da
liderança social-democrata, à volta da pessoa do primeiro ministro Olofe Palme, mas
tinha relações calorosas com a ASDI e com o movimento de solidariedade.
Dizendo que ”a ideologia era, acima de tudo, saber o que se
pretendia nas circunstâncias particulares em que se estava”(139), as suas
ideias seriam, contudo, muitas vezes citadas, mas também distorcidas, em prol
de determinadas posições políticas.
Os Grupos de África consideravam Cabral como ”um dos mais
destacados líderes revolucionários dos nossos tempos” e a luta do PAIGC como
”um dos pregos no caixão do imperialismo” (140).
O movimento de solidariedade e
a esquerda sueca eram, em geral, muito críticos da ajuda humanitária dada pelo
governo social-democrata (no espírito da conferência de Cartum de 1969, onde se
exigiu apoio incondicional em dinheiro e a tomada de uma posição clara a favor da
luta armada do PAIGC) (141). Ao mesmo tempo, o próprio Cabral era o arquiteto
principal do programa de ajuda em géneros.
Recebendo armas da União Soviética e seus aliados, ele tinha
desde o princípio excluído o cenário da ajuda militar sueca, criando em vez
disso um programa de cooperação civil que, nos finais dos anos sessenta, mais
país nenhum dava.
Tal como o próprio Amílcar Cabral havia previsto, a ajuda
humanitária sueca acabou por aumentar o apoio internacional concedido ao PAIGC e
abrir o caminho para a disponibilização de ajudas semelhantes por parte de
outros países ocidentais, como foi o caso da Noruega, um membro da OTAN que, em
1972 desafiou a causa comum dessa organização com Portugal e criou uma
dissidência muito significativa, sob a forma de ajuda oficial directa ao
PAIGC (142).
A Suécia e a União Soviética eram os maiores doadores do
PAIGC (143). Enquanto a Suécia privilegiava a componente civil, os soviéticos eram
os principais municiadores da luta no campo militar (144).
Havia uma divisão não
coordenada, mas não menos real, de facto, entre os dois estados o que foi, em
larga escala, copiado para os movimentos de libertaçãoda África Austral (145).
O
facto de, aos olhos dos Estados Unidos e de outros grandes estados ocidentais, a
Suécia ser vista como estando a partilhar uma causa com o bloco comunista, não
desencorajou o parlamento nem o governo suecos de fornecer ajuda não
militar (146).
No início da década de setenta a maior crítica que se fazia
ao governo social- democrata (tanto por parte da oposição não-socialista do
Partido Liberal, como pelo movimento de solidariedade) tinha a ver com as
relações comerciais que a Suécia mantinha com Portugal, seu parceiro na EFTA,
pois dizia-se que aumentar a ajuda humanitária oficial ao PAIGC e seu aliados
da CONCP e, ao mesmo tempo, aumentar o comércio com a potência colonial
portuguesa era altamente imoral e contraditório (147).
Para os Grupos de África
este facto constituía a prova de que o governo ”protegia os interesses dos
imperialistas suecos” (148). O escritor e activista Göran Palm que, depois de uma
visita às zonas libertadas da Guiné-Bissau, nos finais de 1969, escrevera
entusiasticamente que fora recebido ”como um príncipe” por causa da ajuda
sueca (149), concluía em 1971 que ”a Suécia dá com a mão esquerda social-democrata, mas tira com a mão direita, capitalista” (150).
As conclusões de Palm foram apresentadas no prefácio de um
livro de textos em sueco, escrito por Amílcar Cabral, e publicado com o título A
nossa luta, a Vossa luta. O título foi retirado de um discurso feito em 1964,
no qual Cabral declarava que o Imperialismo era o inimigo comum da classe
operária internacional e dos movimentos de libertação nacionais. Daí que
devesse ser combatido numa ”luta comum” (151). O discurso de Cabral, incluído na
antologia Guerrilha (152), de Anders Ehnmark, foi muito citado pelo movimento anti-imperialista
sueco.
Numa conferência em Estocolmo em que participaram os Grupo de África de
Arvika, Gotemburgo, Estocolmo e Uppsala, que se auto-proclamavam ”grupos de
trabalho anti-imperialistas” (153) e que definiram como um dos seus principais objectivos ”estudar e combater o imperialismo, especialmente o da Suécia em África” (154), foi adoptada uma directriz, em jneiro de 1971 ”para a actividade dos grupos” (155).
Terminada conferência, os grupos enviaram cartas para os gabinetes da FRELIMO, do MPLA e do PAIGC, informando-os de que o trabalho do movimento de solidariedade se baseava ”no princípio formulado pelo camarada Amílcar Cabral”, nomeadamente que "a melhor forma de provar a vossa solidariedade é lutar contra o imperialismo nos vossos países,ou seja, na Europa. Enviar-nos medicamentos é positivo, mas secundário" (156).
Independentemente das suas posições quanto ao imperialismo, era difícil afirmar, pelo menos no caso da Suécia, que os líderes do PAIGC, da FRELIMO e do MPLA tenham ficado muito estimulados por, no início de 1971, terem sido informados da aplicação de uma declaração geral feita em 1964 e que se aplicava a uma situação concreta, existente nesse primeiro momento (157). É além disso improvável que considerassem a ajuda humanitária como algo secundário, ou que vissem de todo a Suécia como um país imperialista (158).
O líder citado do PAIGC participara activamente na ajuda sueca. Cabral tinha também uma enorme abertura de espírito face ao relacionamento entre a Suécia e Portugal. Durante a sua primeira visita, realizada nos finais de 1968, declarou, segundo narra Pierre Schori, que Portugal não devia ser excluído da EFTA, pois isso significaria ”que o país poderia agir com ainda mais à-vontade” (159).
Como consta das notas de uma reunião entre o representante das Nações Unidas, Sverker Åström, e Cabral, realizada em fevereiro de 1970, este último deixou clara a sua opinião, dizendo "perceber perfeitamente que a filiação de Portugal na EFTA impunha certos limites à Suécia, mas que queria destacar que não gostaria, de forma alguma, de recomendar uma interrupção das relações comerciais entre a Suécia e Portugal, corte esse que sabia ser exigido por certos núcleos radicais de jovens na Suécia" (160).
Uma vez que encabeçava uma luta de libertação que estava a correr bem e tendo a intenção de manter e desenvolver relacionamentos internacionais depois da independência da Guiné-Bissau, a diplomacia conduzida por Cabral caracterizava-se por um realismo pragmático.
De acordo com o académico guineense Carlos Lopes, o seu principal mote condutor era ”a nossa ideologia é o nacionalismo, obter a nossa independência, e obtê-la de uma forma absoluta, e fazendo tudo o que estiver ao nosso alcance usando as nossas próprias forças, embora cooperando com todos os outros povos para conseguir desenvolver o nosso país” (161).
Esta posição não só contrasta com a interpretação ideológica do conceito de
luta nacionalista feita pelo movimento de solidariedade sueco, como levou Cabral,
nessa altura, a retirar algum destaque a várias iniciativas, levadas a cabo na
cena internacional,
em prol do PAIGC.
Isso mesmo fica claramente demonstrado antes da Assembleia
Geral das Nações Unidas em novembro de 1972 quando, por deferência estratégica
para com a Suécia e os outros países nórdicos, recusou a possibilidade que lhe foi dada
de se dirigir ao pleno da assembleia, como primeiro representante de um movimento de
libertação.
O pano de
fundo para essa recusa foi o seguinte: O Comité das Nações Unidas para a
Descolonização (162) (também chamado Grupo dos 24) organizou uma visita única de apuramento
de factos à Guiné em abril de 1972 ”com o objectivo de desmistificar as afirmações
portuguesas segundo as quais não existiam quaisquer zonas libertadas e dar legitimidade
aos movimentos africanos de libertação” (163).
A delegação era composta por três jovens
diplomatas das Nações Unidas, um dos quais (de nome Folke Löfgren, o primeiro secretário
da missão permanente em Nova Iorque) representava a Suécia (164), país que, na
altura, era o único membro ocidental do Comité para a Descolonização (165).
Uma vez que o
governo sueco tinha alargado bilateralmente, e de forma considerável, a ajuda humanitária
ao PAIGC, a iniciativa foi seguida com todo o interesse pelo Ministério dos Negócios
Estrangeiros em Estocolmo.
Organizada ”de forma clandestina” (166), a missão das Nações
Unidas provocou indignação em Portugal (167). Durante a visita, os portugueses intensificaram
os bombardeamentos aéreos e a actividade militar em geral contra as zonas libertadas.
Löfgren diria depois que ”fomos ingénuos, ao ponto de não acreditar que Portugal
poderia tratar as Nações Unidas desta forma” (168).
As Nações
Unidas ficaram ”impressionadas com o entusiasmo e a cooperação abnegada que o PAIGC
recebe das populações nas zonas libertadas e o grau de participação dessa mesma
população na maquinaria administrativa criada pelo movimento de libertação” (169), concluindo que o PAIGC não apenas controlava
militarmente, mas governava de facto os territórios libertados.
Löfgren teve oportunidade
de registar in loco que a ajuda humanitária sueca (nomeadamente em termos de material
escolar, mormente na forma do livro escolar O Nosso Livro) chegava às populações no
interior do país (170).
Em geral,a missão confirmou o apoio popular de que gozava o PAIGC nas
zonas visitadas, tendo recomendado o reconhecimento da declaração planeada de
independência da Guiné-Bissau (171).
Com base nas suas conclusões, o Comité das Nações
Unidas para a Descolonização aprovou, numa reunião em Conacri a 10 de abril de 1972, na
qual participou Amílcar Cabral, uma resolução, em que reconhecia o PAIGC "como o único e autêntico representante do território da
Guiné-Bissau, solicitando a todos os estados e agências especializadas, bem como outras organizações do
sistema das Nações Unidas, que tomassem esse facto em consideração ao tratar de questões
que se relacionassem com a Guiné-Bissau e Cabo Verde" (172).
Tratou-se de um grande êxito politico e diplomático para o
PAIGC e, de uma forma mais geral, de ”um enorme avanço em termos da compreensão
internacional para a maior legitimidade dos movimentos africanos de libertação
junto das Nações Unidas”.173
Com base no relatório da missão (**), o Comité das
Nações Unidas para a Descolonização pôde então instar ao reconhecimento dos
movimentos de libertação enquanto observadores, e não apenas como
peticionários (174).
Ainda mais importante do que isso foi que, pela primeira vez na história das Nações Unidas, foi possível que um
representante de um movimento de libertação se dirigisse directamente à
Assembleia Geral das Nações Unidas, honra essa que teria cabido a Amílcar Cabral
mas que, devido às reservas da Suécia e dos países nórdicos, não se veio a
verificar. Numa entrevista datada de 1995, o presidente do Comité de Descolonização
das Nações Unidas, Salim Ahmed Salim da Tanzânia, relembra:
"Amílcar Cabral veio a Nova Iorque e nós tentámos que ele
falasse na Assembleia Geral dasNações Unidas. Nessa época era inconcebível que
um representante de um movimento de libertação se dirigisse à Assembleia Geral,
mas nós dispúnhamos dos apoios necessários para tal.
"Contudo, os países
nórdicos tinham reservas. Lembro-me do embaixador da Suécia e os outros
embaixadores nórdicos me dizerem: ”Olhe que não estamos satisfeitos com isto.
Em termos legais, teremos problemas se representantes dos movimentos de
libertação se dirigirem à Assembleia Geral. É algo sem precedentes e que vai
provocar imensos problemas.”(175).
"Fui então ter com Amílcar Cabral e disse-lhe:
”Sr. Secretário Geral, se quiser dirigir-se à Assembleia Geral, nós dispomos de
votos para tal. Temos o apoio necessário dos países africanos e asiáticos, bem
como de um conjunto de países sul-americanos. Mas quero que saiba que os países
nórdicos estão muito descontentes com isso. O que fazemos?” Cabral então disse:
”Olhe, os países nórdicos são nossos amigos. Ajudaram-nos nas alturas mais
difíceis e não queremos criar-lhes dificuldades. Não me dirigirei à Assembleia
Geral”.
"Havia imenso respeito pela posição dos países nórdicos. Nem
se punha a possibilidade de duvidar da sua integridade ou da sua sinceridade
relativamente aos movimentos de libertação. Se qualquer outro país ou conjunto
de países tivesse dito que não, nós teríamos trazido a questão ao conhecimento
da Assembleia Geral e recebido os votos necessários. [...] Nós sabíamos que a
posição dos países nórdicos era de apoiar os movimentos de libertação de uma
forma prática.
"Essa era, também, a única maneira de entender a posição de
Cabral, pois ele era um desses visionários, um gigante entre as pessoas, que não
hesita. Ele mostrou o respeito que nutria pelos países nórdicos e, como é
óbvio, esse respeito foi partilhado por aqueles que o apoiavam e que apoiavam a
luta (176).
__________
Notas do autor:
131. A primeira dotação ao PAIGC em 1969–70 foi de 1 milhão
de coroas suecas. O primeiro donativo à SWAPO da Namíbia, concedido em 1970–71,
foi de 30.000 coroas suecas e a ajuda regular ao ANC da África do Sul foi de 150.000
coroas suecas em 1972–73.
132. Amílcar Cabral opunha-se firmemente à ideia de receber
ajuda oficial sueca via o Comité de Libertação da OUA (Marianne Rappe:
Memorando (”Samtal med Folke Löfgren på SIDA den 21.4.1972: PAIGC”/”Conversa com
Folke Löfgren na ASDI 21.4.1972: PAIGC”), ASDI, Estocolmo, 24 de Abril de 1972)
(MFA).
As relações diretas e bilaterais não só aumentaram a influência do
movimento de libertação sobre o programa de apoio, mas fortaleceram também a
posição do mesmo na cena internacional. Deve-se acrescentar a isto as
limitações administrativas da OUA. Todos os movimentos de libertação da África
Austral apoiados pela Suécia partilhavam do ponto de vista de Cabral neste aspeto.
No caso do Zimbabué, o antigo vice-secretário das Finanças da ZANU, Didymus Mutasa,
explicaria depois: ”Nós sentimos muito o peso da burocracia que reinava no seio
da OUA. Eles diziam que tínhamos de esperar pela cimeira dos chefes de estado
que, depois de reunir, ainda iria demorava muito tempo a decidir se era ou não
necessário que avançássemos com a luta de libertação. Entretanto, nós ficávamos
sentados ao sol, à espera e na esperança de que chegasse ajuda. Daí que
tenhamos pensado porque não haveríamos de receber o dinheiro directamente”
(Entrevista com Didymus Mutasa, p. 218). Cf. Ansprenger op. cit.
133. De acordo com Aristides Pereira, que visitou Estocolmo
no início de janeiro de 1973, o afastamento de Silveira foi uma ”medida disciplinar”,
motivada pelo facto deste se ter recusado a viajar para a Guiné, para debates
com o PAIGC. Contudo, o movimento estava ”muito satisfeito com o trabalho feito
por Silveira na Suécia” (Anders Möllander: Memorando (”Minnesanteckningar från
besök 1973 01 02 av Aristides Pereira, PAIGC”/”Notas davisita de 1973 01 02 de
Aristides Pereira, PAIGC”), Estocolmo, 4 de janeiro de 1973) (SDA).
O novo
representante do PAIGC, Gil Fernandes, foi apresentado por carta de Aristides
Pereira pouco tempo depois (Carta de Aristides Pereira à ASDI, Conacri, 11 de janeiro de 1973) (SDA). Fez a sua primeira visita à ASDI em meados de fevereiro
de 1973, na companhia de Fernando Cabral, irmão do líder do PAIGC recentemente
assassinado (Carta (”Svensktvarubistånd till PAIGC”/”Ajuda sueca em géneros ao
PAIGC”) de Marianne Rappe, ASDI a Gun-Britt Andersson, Ministério dos Negócios
Estrangeiros, Estocolmo, 26 de fevereiro de 1973) (SDA).
Em resumo, quanto à
representação do PAIGC na Suécia, não houve grandes quebras no relacionamento.
Silveira veio depois a trabalhar para as Nações Unidas em vários países
africanos. Em novembro de 1998 formou um novo partido político, o Partido do Trabalho
e da Solidariedade (PTS) em Cabo Verde, seu país de origem.
134. O governo português sabia do plano do PAIGC de declarar
a Guiné-Bissau independente em 1973, e receava que isso se traduzisse num
aumento da pressão no sentido de se fazer a descolonização em Angola e
Moçambique, e num desafio à sua autoridade em Portugal.
O assassinato de Cabral
resultou duma operação iniciada pela PIDE, que contou com a ajuda de um grupo
de dissidentes do PAIGC. Cabral foi alvejado a tiro em pleno dia, em frente ao gabinete
do PAIGC em Conacri, por um antigo comandante naval do PAIGC (ver Chabal op.
cit., pp. 132–43).
135. Aristides Pereira foi confirmado como novo secretário
geral e Luís Cabral como vice secretário geral, no congresso do PAIGC realizado
no Boé (no leste da Guiné-Bissau) em julho de 1973.
136. Carta (”Svenskt varubistånd till PAIGC”/”Ajuda sueca em
géneros ao PAIGC”) de Marianne Rappe, ASDI para Gun-Britt Andersson, Ministério
dos Negócios Estrangeiros, Estocolmo, 26 de fevereiro de 1973 (SDA).
137. A memória de Cabral foi objecto de homenagem, entre
outras, do primeiro ministro Palme, no parlamento (”Extracto do discurso de
abertura do primeiro ministro, Olof Palme, no debate político na generalidade,
Riksdag”, 31 de janeiro de 1973, em Ministério dos Negócios Estrangeiros:
Documents on Swedish Foreign Pollicy: 1973, Estocolmo, 1976, pp. 19–20).
Palme
tinha já enviado as suas condolências ao PAIGC e à viúva do secretário geral assassinado,
caracterizando-o como ”um dos líderes mais proeminentes do Terceiro Mundo”
(Telegrama do Ministro dos Negócios Estrangeiros à delegação sueca nas Nações
Unidas em Nova Iorque, Estocolmo, 22 de Janeiro de 1973) (MFA).
Mostra das tensas relações entre o movimento de
solidariedade e o governo nessa altura é a forma como os pêsames de Palme foram
descritos pelos Grupos de África, ou seja, como ”uma desagradável tentativa de
tirar partido do bom nome e da reputação do PAIGC, à escala mundial, num
momento de dor” (Södra Afrika Informationsbulletin, nº. 19, 1973, p. 9).
138.
MacQueen op. cit., p. 21.
139. Carlos
Lopes: Guinea Bissau: From Liberation Struggle to Independent Statehood,
Westview Press, Boulder, Colorado
and Zed Books, Londres e New Jersey, 1987, pp. 57–58.
140. Södra Afrika Informationsbulletin, nº. 19, 1973, pp. 2
e 9.
141. Em janeiro de 1972, o presidente do Partido de Esquerda
Comunista, C.H. Hermansson, apresentou uma moção ao parlamento, exigindo o ”fim
do princípio de tutela para a ajuda humanitária aos movimentos de libertação nas
colónias portuguesas e a favor de um princípio de ajuda incondicional”
(Parlamento sueco 1972: Moção nº. 57, Riksdagens Protokoll, 1972, p. 5).
Entrevistado em
1996, Hermansson explicou que ”na nossa opinião, os movimentos de libertação
deveriam, por exemplo, ter a possibilidade de comprar armas (e tudo o que
precisassem para a sua luta) com a ajuda sueca” (Entrevista com C.H.
Hermansson, p. 291).
142. O governo norueguês decidiu, em março de 1972, atribuir
um milhão de coroas norueguesas ao PAIGC. Essa ajuda foi aumentada para 1,5
milhões de coroas norueguesas em 1973. Para mais informações sobre a Noruega e o
PAIGC, consulte Tore Linné Eriksen: ”As origens de um relacionamento especial:
Noruega e África Austral 1960– 1975” em Eriksen (ed.) op. cit., pp. 72–77.
Antes
de o governo finlandês tomar, em 1973, uma decisão de princípio em prol da
ajuda directa aos movimentos de libertação africanos, Cabral fez uma visita a
Helsínquia. Convidado por um comité ad-hoc, de um conjunto muito largo em
termos de base de ONGs, presidido pelo futuro primeiro ministro social
democrata Kalevi Sorsa, Cabral foi oficialmente recebido em outubro de 1971
pelo presidente Urho Kekkonen. Segundo Soiri e Peltola, Cabral ”foi o primeiro
líder dos movimentos de libertação africanos a ser tratado como um estadista na
Finlândia”. A visita ”foi um êxito e congregou, pela primeira vez, os partidos
políticos finlandeses à volta da questão de acabar com o colonialismo em
África” (Iina Soiri e Pekka Peltola: Finland and National Liberation in
Southern Africa /”A Finlândia e a Libertação Nacional na África Austral”/,
Nordiska Afrikainstitutet, Uppsala, 1999, pp. 51–52).
143. Marianne Rappe: Memorando (”Samtal med Folke Löfgren på
SIDA den 21.4.1972: PAIGC”/”Conversa com nFolke Löfgren na ASDI 21.4.1972:
PAIGC”), ASDI, Estocolmo, 24 de Abril de 1972 (SDA). A ASDI solicitou informação
sobre outros doadores ao PAIGC e aos movimentos de libertação da África
Austral. A informação era regularmente incluída nos documentos apresentados ao
Comité Consultivo para Ajuda Humanitária.
144. Na fase final da guerra de libertação, a União
Soviética forneceu ao PAIGC mísseis terra-ar, dando a supremacia, de forma
decisiva, ao movimento de libertação. Os mísseis foram pela primeira vez usados
em março de 1973, altura em que o PAIGC abateu dois caças-bombardeiros
fornecidos pela República Federal da Alemanha. No ano que se seguiu, os
portugueses perderam trinta e seis aviões (Rudebeck op. cit., pp. 52–53).
145. No caso da ZANU do Zimbabué, o principal fornecedor de
armas era a República Popular da China.
146. Ver, por exemplo, as entrevistas com o antigo director
geral da ASDI (1965–79) Ernst Michanek (p. 323) e com a antiga Ministra para a
Cooperação para o Desenvolvimento Internacional (1985–91) e dos Negócios
Estrangeiros (1994–98) Lena Hjelm-Wallén (p. 293). Em 1998, Hjelm-Wallén foi
nomeada vice primeiro ministro.
147. Esta perspectiva era também partilhada por importantes
grupos dentro do Partido Social Democrata, no poder. Birgitta Dahl, por
exemplo, levantou no parlamento sueco a questão da legislação contra
investimentos em Portugal e nas suas colónias (”Resposta do Ministro dos
Negócios Estrangeiros a uma interpelação pela Sra. Dahl”, 10 de dezembrde 1973,
em Ministério dos Negócios Estrangeiros: Documents on Swedish Foreign Policy:
1973, Estocolmo, 976, pp. 155–59).
148. AGIS op. cit., p. 194.
149. Göran Palm: ”Rapport från Guiné-Bissau”/”Relatório da
Guiné-Bissau” sem indicação de local nem data (SDA).
150. Introdução por Göran Palm a Cabral (1971) op. cit., p.
25.
151. Cabral
(1971) op. cit., p. 37.
152.
Ehnmark (1968) op. cit., pp. 139–58.
153. ”Protokoll”/”Actas” (”Konferens mellan Afrikagrupperna
i Sverige, 2–3 januari 1971”/”Conferência entre os Grupos de África na Suécia,
2–3 de janeiro de 1971”) sem indicação de local nem data (AGA).
154. Os Grupos de África na Suécia: ”Circular nº. 3”, sem
indicação de local, 8 de abril de 1971 (AGA).
155. Ibid. Ver também Södra Afrika Informationsbulletin, nº.
11, 1971, p. 2.
156. Carta (em francês) em nome dos Grupos de África de
Arvika, Lund, Estocolmo e Uppsala, escrita por Dick Urban Vestbro e enviada à
FRELIMO, ao MPLA e ao PAIGC, Estocolmo, 3 de janeiro de 1971 (AGA).
157. Pelo contrário, numa alocução conjunta com Göran Palm
na Universidade de Uppsala, em novembro de 1968, Cabral disse: ”Não se limitem
a manifestar-se. Façam também algo de concreto. [...] Enviem-nos medicamentos e
outros bens de que necessitamos” (Upsala Nya Tidning, 28 de novembro de 1968).
O primeiro pedido de ajuda sueca à luta de libertação nas colónias portuguesas
em África foi feito por Marcelino dos Santos em nome do MPLA, em 1961.
Centrava-se no pedido de medicamentos para os refugiados angolanos na região do
Baixo Congo.
Apercebendo-se da reacção positiva do jornal Expressen,
Cabral também pediu ao jornal liberal sueco que ajudasse a conseguir
medicamentos.
158. Cf. as entrevistas com Lúcio Lara do MPLA (pp. 18–21) e
Marcelino dos Santos da FRELIMO (pp. 47–52).
159. Citado em ”Portugals argumentnöd bevisar:
Kolonialkrigen går dåligt!” (”A falta de argumentos de Portugal prova que as
guerras coloniais não estão a correr bem!”), em Arbetet, 13 de dezembro de
1968.
160. Carta (”Samtal med Amílcar Cabral om läget i
Portugisiska Guinea”/”Conversa com Amílcar Cabral sobre a situação da Guiné
portuguesa”) de Sverker Åström para o Ministério sueco dos Negócios
Estrangeiros, Nova Iorque, 26 de fevereiro de 1970 (SDA).
161. Cabral citado em Lopes op. cit., p. 57.
162. Ou seja, o Comité Especial das Nações Unidas sobre a
situação relacionada com a Aplicação da Declaração de concessão de
independência aos países e povos coloniais, ou o Comité das Nações Unidas para
o acompanhamento dos acontecimentos relativos à Declaração de Descolonização de
1960.
163. Entrevista com Salim Ahmed Salim, p. 244. Na altura,
Salim era o presidente do Comité das Nações Unidas para a Descolonização.
Pessoa próxima dos movimentos africanos de libertação, foi depois nomeado
Ministro dos Negócios Estrangeiros (1980–84) e primeiro ministro (1984–85) da
Tanzânia. Em 1989, Salim foi eleito secretário geral da OUA.
164. A missão das Nações Unidas foi chefiada por Horacio
Sevilla-Borja, do Equador. O terceiro membro era Kamel Belkhiria, da Tunísia.
Acompanhados por uma numerosa escolta militar do PAIGC, os três diplomatas
fizeram-se acompanhar de uma secretária e de um fotógrafo. A visita realizou-se
entre 2 e 8 de abril de 1972.(**)
165. Carte de Brita Åhman ao Ministério dos Negócios
Estrangeiros, Nova Iorque, 7 de março de 1972 (MFA). A participação da Suécia
no Comité das Nações Unidas para a Descolonização foi da maior importância,
devido aos contactos que tinha e às políticas que desenvolvia com os movimentos
africanos de libertação.
Em abril de 1972, por exemplo, o representante sueco,
Brita Åhman, participou nos debates deste comité com um total de quinze movimentos,
em Conacri (Guiné), Lusaca (Zâmbia) e Addis Ababa (Etiópia). Num extenso
relatório das ”audições”, enviado ao Ministério sueco dos Negócios
Estrangeiros, fez uma avaliação das políticas e da força de cada um dos movimentos
de libertação, dando uma orientação preciosa ao governo sueco (Brita Åhman:
Memorando (”Kolonialkommitténs session i Afrika 1972”/”A sessão do Comité para
a Descolonização em África, 1972”), Nova Iorque, 19 de junho de 1972) (MFA).
166. Entrevista com Salim Ahmed Salim, p. 244.
167. De forma notável, o embaixador sueco em Portugal, Karl
Fredrik Almqvist, também repudiou a iniciativa.
Enquanto o secretário geral das
Nações Unidas, Kurt Waldheim, felicitava os membros da missão pela visita
difícil, mas bem-sucedida, Almqvist descrevia-a como ”uma violação da soberania
de outro país”, dizendo que a missão tinha ”violado a legislação internacional”
e que a participação da Suécia poderia prejudicar a ”boa-vontade internacional”
para com a Suécia (Carta de Karl Fredrik Almqvist ao Ministério dos Negócios
Estrangeiros, Lisboa, 14 de abril de 1972) (MFA).
168. Citado em Marianne Rappe: Memorando (”Samtal med Folke
Löfgren på SIDA den 21.4.1972: PAIGC”/”Conversa com Folke Löfgren na ASDI
21.4.1972: PAIGC”), ASDI, Estocolmo, 24 de abril de 1972 (SDA).
169. Nações Unidas: ”Relatório da Missão Especial das Nações
Unidas à Guiné-Bissau”, Reimpresso de Objective: Justice, Vol. 4, Nº 3, Nova
Iorque, setembro de 1972, p. 12.
170. Johnny Flodman: ”Svensk FN-diplomat jagades av
portugiser i Guinea” (”Diplomata sueco das Nações Unidas foi perseguido pelos
portugueses na Guiné”), em Svenska Dagbladet, 17 de abril de 1972.
171. A missão visitou a Guiné-Bissau numa altura em que o
PAIGC estava a conduzir os preparativos para as primeiras eleições nacionais no
país, nas zonas libertadas. As eleições para os conselhos regionais
realizaram-se em agosto de 1972. Os conselheiros elegeram, por sua vez, os
membros de uma Assembleia Nacional.
172. Nações Unidas: Secretariat News, Vol. XXVII, nº. 10,
Nova Iorque, 31 de maio de 1972, p. 9.
173. Entrevista com Salim Ahmed Salim, p. 244.
174. Ibid.
175. De acordo com a delegação sueca às Nações Unidas, foi
transmitido a Cabral que ”a Suécia votaria, naturalmente, a favor na questão da
sua proposta alocução perante a Assembleia Geral, mas [...] chamava a sua
atenção para o facto de parecer evidente que a própria causa de Cabral não vir
a sair beneficiada, se uma tal proposta der azo a divisões de opinião e a uma
votação” (Telegrama da representação sueca nas Nações Unidas ao Ministério dos Negócios
Estrangeiros, Nova Iorque, 24 de outubro de 1972) (MFA).
176. Entrevista com Salim Ahmed Salim, pp. 244–45.
[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / itálicos / bold, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G ]
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Notas do editor:
16 de março de 2019 >
Guiné 61/74 - P19592: (D)o outro lado do combate (48): A Missão Especial da ONU na Guiné - Abril 1972 (António Graça de Abreu / Luís Graça) - III (e última) Parte: capa + pp. 9-11.