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segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26140: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (40): No porto-cais de Quinhamel, comendo umas ostras de tarrafe (entrada) e uma bentana grelhada (prato de peixe) no restaurante do Ti Aníbal, ao som da música dos "catchus" e na companhia de um camarada "jadudi"...


Foto n º 1 > Guiné-Bissau  > Região de Biombo > Quinhamel > Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal >    O meu almoço: entrada,  uma travessa de ostras de tarrafe




Fotos nº 1A  e 1B> Guiné-Bissau  > Região de Biombo > Quinhamel >  Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal >  As belas ostras de tarrafe.. Grelhadas.



Fotos nº 2 e 2A> Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel >Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > Prato principal: "Bentana" grelhada


Foto nº 3 > Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel > Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > Camarada convidado, um jagudi


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel > Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal >





Foto nº 5 e 5A> Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel >Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > Música, e cantares dos donos do lugar, os "catchus". Que também já foram em outro tempos servidos à mesa.


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel > 10 de novembro de 2024 > Estrada, para o restaurante e porto cais. Talvez não a encontrem no GPS




Fotos n º 7 e 7A> Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel >Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > A água e lama que se vê na foto é doce...por este motivo é que alguém ...mandou construir o porto cais neste local...não é facil encontar água doce a correr para o mar todo o ano como aqui.


Foto n º 8 > Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel > Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > Os mangueiros, muitos dos antigos combatentes já os conheceram são os mesmos. O tarrafe e o protector de toda a fauna maritima, esta região do Biombo, tem muita área de tarrafe, nas tabancas as mulheres com as suas redes apanham os camarões que vão vender...


Foto n º 9 > Guiné-Bissau > Região de Biombo > Quinhamel > Porto-cais > 10 de novembro de 2024 > Restaurante do ti Aníbal > A piscina privada, que a meio da tarde mandei encher, estavam 36 graus ...A água e a lama fazem bem à pele, depois das chuvas que terminaram há 2 semanas.

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. São fotos devidamente legendadas, acabadas de chegar hoje entre a meia noite e meia e as duas,,, Como a Net é mais lenta na Guiné-Bissau, são mandadas por e-mail, uma a uma... É preciso paciência de santo. Uma operação, como esta, pode levar meia-hora a uma hora...(O Patrício deitou-se às duas da matina.)

Este fim de semana o "nosso embaixador em Bissau" foi almoçar a Quinhamel, a um sítio secreto (de que ele não quis divulgar as coordenadas)... 

O resturante do Ti Aníbal não vem no GSP nem no Google Earth...nem muito menos no TripAdvisor...Quando lá voltarmos, tem que ser à boleia, no jipe do Patrício...  Ele é o melhor guia da Guiné-Bissau...

Quinhamel, a capital da região do Biombo (a nmenos de 30 km de Bissau), tem meia-centena de referências no blogue. 

O Patrício tem já vai perto de 170 referências. É autor da série "Bom dia desde Bissau" (iniciada em 3 de abril de 2017).  Mas ele já está atabancado, aqui connosco,  desde 1 de junho de 2006 (!)...É um dos "dinossauros" da Tabanca Grande.

Obrigado, Patrício. Não acredito que tenhas comido esses "calhaus" todos... Vais pôr a malta toda a salivar...No meu tempo comiam-se as ostras (cruas) à fartazana em Bissau, a 20 paus uma travessa... Com muita "lima" e cerveja... Comecei a adorar ostras em Bissau... Agora parece que temos de as ir comer a Quinhamel. Por causa da poluição do Rio Geba... E não há depuradoras para os bivalves na Guiné-Bissau... (Fazem muito bem à saúde... mas cuidado com as ostras cruas, para mais em ambiente tropical, há sempre o risco de complicações relacionadas com gastroenteristes e ingestão de metais pesados.)

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26089: O melhor de... A. Marques Lopes (1944-2024) (14): assim nasceram os Jagudis, nome de guerra do meu grupo de combate, na CCAÇ 3 (Barro, 1968/69)


O A. Marques Lopes e o seu guarda-costas









Os meus "Jagudis"

Fotos (e legendas): © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados. [Edução e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Em maio de 1968, o alf mil  at inf A. Marques Lopes está de regresso à Guiné para completar o resto da sua comissão de serviço, depois de nove meses no HMP, em Lisboa (*).

Em junho de 1968 está em Barro, na região do Cacheu, na fronteira com o Senegal, comandando 3º Gr Com da CCAÇ 3.  À frente do COP 4 está o major Correia de Campos.  E da CCAÇ 3, o  cap art Carlos Alberto Marques de Abreu.

Na altura, e de visita a a Barro, o gen Spínola "deu indicação para se dividir a companhia em pelotões de acordo com as etnias (o tirar partido das rivalidades entre eles)"... 

Vamos ver como foi feita essa "partilha" étnica, conforme a "ordem" do Spínola (**).


2. Do livro de memórias do A. Marques Lopes, "Cabra Cega" (Lisboa, Chiado Editora, 2015), reproduzimos as pp.  496 e 500/503) (que também constam  parcialmente da sua página do Facebook, em postagem de 16 de abril de 2022).


Como nasceram os "Jagudis", o nome de guerra do meu grupo de combate, 
na CCAÇ 3 (Barro,1968/69)

por A. Marques Lopes (1944-2024)



 (...) Como eu era o alferes mais antigo, o comandante da companhia perguntou-me o que é que eu queria:

– Quero os balantas – disse eu.

E o meu grupo de combate foi quase todo de balantas (tinha um cabo fula, o Mamadu, e três furriéis brancos, além de mim). Ouviam a rádio do PAIGC mas demo-nos sempre bem. Porque eu sempre fiz por isso. Por exemplo: um dia, fui com um que estava doente através da mata até Bigene, porque em Barro não havia médico; emprestei dinheiro a todos, mas todos me pagaram quando me vim embora...

Foi sempre minha preocupação não matar população civil (o tal alferes Gonçalves terá alguma coisa a dizer sobre isto... lembro-me de uma situação). Mas era difícil, pois a visão e a filosofia da vida deles era diferente. Um dia, por exemplo, foi apanhado no meio de um tiroteio um velho cego.

 – Mata!  – foi a reacção.

 – Não  –  disse eu.

Mas foi complicado.

Numa das tais operações do COP 3, não sei já qual, um guerrilheiro do PAIGC levou uma rajada no baixo ventre e ficou com os tomates pendurados. Disse para fazerem uma maca para o levarem. Fizeram a maca, mas não o quiseram levar:

–  Alfero, deixa estar, vem jagudi [abutre] e come ele...

– Não!

Eu e um furriel pegámos na maca e começámos a atravessar uma bolanha com água pelo pescoço. A meio da bolanha, vieram dois e disseram:

– 
Alfero, a gente pega.

Chegámos à base de operações, onde estava o tenente-coronel Correia de Campos, um helicóptero e uma enfermeira paraquedista, e, azar, o homem do PAIGC morreu.

Em frente destes, formei o grupo de combate e, porque estava furioso, chamei-lhes todos os nomes. O tenente-coronel Correia de Campos estava de boca aberta. É evidente que nós, os ocidentais, temos uma maneira de ver as coisas, a vida e a morte, de uma forma diferente. Assim como outras, por exemplo, a democracia e a política.

Numa outra situação, houve um deles que ficou com a garganta aberta por um estilhaço de RPG2. Sucedeu mais ou menos a mesma coisa. Mas, com visões diferentes da nossas, era gente muito fixe, amigos. Tenho saudades deles e pena de não me poder encontrar com eles. Vou mandando fotografias e vou contado mais alguma coisas. (...).  (**)

(...) Gostava mais dos balantas. Eram pão pão, queijo queijo. Se gostavam, gostavam, se não gostavam, mostravam logo que não gostavam. Os fulas, está bem,  estavam abertamente com a tropa, mas as suas falinhas mansas e de submissão deixavam-me muitas interrogaçóes sobre o que estaria no interior,

Desconfianças minhas,  talvez, mas era facto que gostava mais da natural frontalidade dos balantas. No grupo de combate anterior tinha uns e outros e ficara com essa sensação. (pág. 496).

(...) A seguir houve ordem para destroçar. Disse aos meus para ficarem.  Já tinha magicado umas coisas. Havia um ou outro mais maduro  mas a maioria era  muito jovem,  tinha que lhes incutir motivação.

– Eu quero que vocês sejam o melhor grupo de combate da companhia. Que todos vos admirem e respeitem.  Vou mandar fazer uma boina camuflada e um lenço preto para cada um. Será o nosso distintivo.

Deu resultado, já sabia. Ficaram contentes e cochiraram entre eles. (....)

Vi que estavam satisfeitos e avancei com outra,

– Além disso o nosso grupo de combate tem de ter um nome paar que todos npos conheçam bem, mesmo os turras no mato quando nós aparecermos. Quem dá uma ideia ?

Fiquei a olhá-los por um momento.

–  Jagudis! – disse um deles.

– Ficam com esse nome, é ? – perguntei alto.

Ficaram. Assim nasceram os "Djagudis". Tá bem, fossem abutres. A minha intenção era ganhar a confiança e a simpatia deles. Não propriamente para fazer a guerra, porque já não acreditava nela, mas sim porque tinha que estar ali e queria ter influência sobre aquela gente que desconhecia. Já me apercebera que, no fundo, eram soldados como aqueles que tivera antes, os da metrópole. Tinham sido recrutados como estes e estavam na companhia por isso. Procurei conhecê-los um a um.

O Watna, o Sumba, o Bidinté, o Abna, o N’dafá, o Kuluté, e outros, eram normais, sem nada de especial. Mas havia uns que se distinguiam. Por exemplo:

  • o Falcão, o que avançara com o nome para o grupo de combate e que era o apontador da metralhadora ligeira; apresentava um rosto sempre com ar de dureza e usava umas botas de borracha, chovesse ou fizesse sol; tinha voz seca mas não era conflituoso;
  • o André Gomes, a quem chamavam “o professor”,  porque estudara no Liceu Honório Barreto antes de ser recrutado, que era de etnia balanta mas cristão, sempre impecável com uma camisola branca limpinha por baixo do camuflado;
  • o Blétche Intéte, aquele a quem eu dera um murro por ter abandonado o posto, pequeno de altura mas entroncado, ficara seu amigo, talvez por isso; não lhe dissera que o preterira como guarda-costas mas ele andava sempre por perto com ar protector;
  • e o Otcha, fula no meio de balantas, distinto só por isso, porque, sempre sereno e com voz calma, ia ganhando a simpatia de todos.
Mas o caso deveras singular era o de dois irmãos, o Etudja e o Moba. O Moba, apontador do morteiro 60, era um matulão com cerca de um metro e oitenta e o Etudja não devia ter mais que um metro e sessenta e cinco. Além disso, este era mais novo, um rapazinho meigo e de boas falas enquanto o Moba era um brutamontes sempre sério e pouco atreito a amizades.

Achara tanta piada a esta situação que tentei tirar-lhes uma fotografia em conjunto mas o Moba não deixou. Disse que o Diancong, uma espécie de entidade dos animistas balantas, não permitia porque ele era Ngahy, uma categoria social deles, e o Etudja era Fuur, outra categoria social entre os 17 e os 20 anos., podia fazer com que ele não arranjasse mulher.

Não entendi bem, tal como me custara antes a entender muitas coisas e costumes daquela gente da Guiné. O Moba também não explicou, porque não tinha explicação, era só crença.

Encarreguei o André Gomes de dar aulas de português aos que quisessem, não obriguei ninguém. Nunca foram muitos os alunos porque aquilo era voluntário e a maior parte estava-se borrifando para o português.

O Blétche, se bem que já soubesse o que queria dizer “um murro no focinho”, foi um dos que quis ir, talvez por, tendo sido antes guarda-costas do Rodolfo, ter visto que era bom saber mais português.

Assisti algumas vezes às aulas e fora interessante ver “o professor” explicar palavras em português ao Otcha. Como o André era balanta e não sabia fula, a base da explicação tinha de ser em crioulo.

Com este contacto os três até se tornaram bons amigos. Mas esta amizade teve outra razão mais profunda. É que eu, informalmente mas na prática, tornei os três meus adjuntos. O Otcha por ser o meu guarda-costas, é claro, o André por ser ponderado e ter influência sobre os outros e o Blétche porque, desde o episódio do murro, se tornara um fiel admirador meu.

Mas houve também outro factor de peso nesta escolha. Na primeira noite que saíra com eles para uma emboscada num dos carreiros de infiltração, ficara admirado por vê-los todos a ir munidos de cantil. Não ia ser preciso assim tanta água, mas tava bem, não liguei.

Ao fim de uma hora depois de se instalarem fui dar uma vista de olhos pelos locais onde estavam distribuídos. Espanto. Grande parte deles estava a dormir e os que não dormiam estavam quase bêbedos. Vi logo que o que tinham levado nos cantis era aguardente de cana.

Só o Otcha não, estava ao pé de mim, além de que era fula e não bebia. O André também não, estava atento, só bebia às vezes e pouco, não era por hábito. O Blétche estava bem desperto. Sabia que bebia, mas ele mostrou-me que não tinha levado aguardente de cana. Mas os outros estavam todos mais ou menos apanhados pela cana. Dei um raspanete aos furriéis e ficou assente que, de futuro, ninguém saía à noite com o cantil.

E foi assim em todas as noites que saímos aos corredores para emboscadas (pp. 500/503)

(Seleção, revisão / fixação de texto, título, negritos: LG)

______________

Notas do editor:




quinta-feira, 6 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24203: Blogoterapia (311): A sombra do jagudi (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68)

A SOMBRA DO JAGUDI

adão cruz

Acordei com um sol baço, esfreguei os olhos, espreguicei-me a todo o comprimento dos braços e bocejei a toda a largura da boca. Na rede mosquiteira, um grande insecto, enredado nas malhas, desesperava por se libertar, arrancando das asas um zumbido estridente de raiva e de agonia. Ainda ensonado, achei que era eu próprio a libertar-me da prisão onde me enfiaram.

Só tinha adormecido pela madrugada, com um peso no peito e um amargo na boca, deixado pela repetida leitura da carta da mãe da Sónia.

A Sónia vivia na África do Sul. Conheci-a em Lisboa, onde ela passava as férias com os pais, que eram amigos da família do meu colega Carvalho Santos. Era uma lindíssima miúda de vinte anos, cheia de sol e futuro. Com ela convivi durante os dias que precederam o meu embarque para a guerra da Guiné e o regresso da Sónia à África do Sul. O tempo suficiente para que dentro de nós se criasse uma linda relação e uma promessa de correspondência futura.

Entra a Guiné e a África do Sul, trocámos tantas cartas quantas o tempo e a distância o permitiram. Todas levavam e traziam as mais bonitas palavras que cada um de nós tinha dentro de si. Mas este fio de água cristalina que tão bem refrescava o calor da Guiné, subitamente secou. Durou metade da guerra. De um momento para o outro, as cartas deixaram de aparecer, como se no céu as estrelas se apagassem. A última que recebi foi da mãe da Sónia, dizendo que a filha morrera, vítima de um cancro da medula. Nunca de tal coisa a Sónia me falara. Nunca as suas cartas se escureceram. O estrondo que senti dentro do peito não foi menor do que o duma bazuca. Fugi para o meu quarto e encolhi-me até onde as carnes se dobraram. Dentro da carta vinha um pequenino alfinete de ouro, “a singela joia de que ela mais gostava” e que ainda guardo… mas não sei onde.

(Jagudi era o nome dos abutres, na Guiné)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 3 DE JANEIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P23944: Blogoterapia (310): Não estou bem, e como anteriormente já dissera, voltei a ir para o "Corredor da Morte" (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA)

segunda-feira, 13 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24140: Blogues da nossa blogosfera (180): Lista de provérbios crioulo-guineenses (página do professor Hildo Honório do Couto, departamento de Linguística, Universidade de Brasília) - Parte I (de A a L)

Portal dos animais > Abutres  (com a devida vénia...)

1. Os animais "também falam" nos provérbios guineenses...  Já aqui lembrámos, em tempos,  o jagudi (lê -se djagudi)  (abutre-de-capuz, nome científico Necrosyrtes monachus) numa fábula em que entra o falcão (*):  o jagudi não é ágil, elegante, superior, altivo, nobre, aristocrático e guerreiro como o falcão  mas nem por isso deixa de ter o seu lugar na criação e de desempenhar o seu papel na natureza. É certo que ele é pouco considerado tanto pelos humanos como pelos outros animais. É feio, é repelente, é desastrado, é  necrófago... E citávamos alguns provérbios. crioulo-guineenses:

(i) Kal dia ku sancu fala jugude manteña si ka pa rispitu di kacur;

ou, noutra variante:

(ii) Kal dia ku sancu fala sakala manteña si i ka na disgustu di kacur

Entenda-se: o macaco só conhece ou cumprimenta o jagudi no velório do cão.

Mas também há um outro provérbio que, de certo modo, vem em defesa do jagudi:

(iii) Jugude ka bai fanadu, ma i kunsi uju... Leia-se: o jagudi não foi à circuncisão, não passou pelo ritual do fanado, mas consegue ver as coisas, ou seja, não é parvo de todo, não o tomem como tolo...

2. Continuamos a rever a nossa lista (já antiga e que nunca tinha sido  atualizada, aumentada, corrigida,  melhorada até agora...) dos cento e poucos blogues e outras páginas na Net  que faziam parte da nossa blogosfera (c. 110) (**)... 

Essa  lista constava (e continuará  a constar,   depois de revista)  na coluna estática do nosso blogue, no lado esquerdo.

Cerca de metade desses blogues e outras páginas deixaram de estar "on line".  Nalguns casos têm novos endereços. Noutros casos, pura e simplesmente desapareceram. Alguns destes  blogues e  "sítios" (ou "web pages")  felizmente foram "capturados" (podendo por isso ser recuperados) através do Arquivo.pt.

É o caso da página de 
Hildo Honório do Couto, professor de linguística  (Departamento de Lingüística, Universidade de Brasília).sobre provérbios crioulo-guineenses.

Antigo endereço: 

http://www.unb.br/il/liv/crioul/prov.htm.

Endereço no Arquivo.pt:

https://arquivo.pt/wayback/20090520131527/http://www.unb.br/il/liv/crioul/prov.htm

Era uma página que consultávamos com alguma frequência, e que vem citada várias vezes no nosso blogue. Servia também para refrescarmos os nossos elementares conhecimentos do crioulo da Guiné. A sua utilidade e o seu interesse justificam a nossa opção por recuperá-la, através do Arquivo.pt.  

Aqui o valioso trabalho, de recolha e sistematização destas pérolas da sabedoria popular guineens (irónicas umas,  corrosivas  outras,  deliciosas quase todas ) feito pelo  prof  Hildo Honório do Couto,  fica   ao alcance de todos os lusófonos . Fizemos algumas pequenas correcções (de uma ou outra gralha) e adaptações. O autor aceita e agradece os comentários  do leitor.  

Também nesta matéria (a da paremiologia, a recolha , o  estudo e a interpretação  dos provérbios populares da sua terra) contamos com a preciosa ajuda do Cherno Baldé, nosso assessor para as questões etno-linguísticas...


PROVÉRBIOS CRIOULO-GUINEENSES  

Prof Hildo Honório do Couto (Brasil)


Aqui estão 217 provérbios do crioulo português da Guiné-Bissau. Como se pode ver, alguns deles apresentam variantes, algumas apenas de escolha de determinado vocábulo, outras mais radicais. Nesse caso, apresento as variantes com a sub-numeração (i), (ii) e assim por diante. Entre parênteses, encontra-se uma tradução relativamente livre, que sempre tem por base a primeira variante (i), no caso de haver variantes.

Infelizmente, os provérbios não estão acompanhados de uma interpretação. Na verdade, para entendê-los é imprescindível saber-se que fatos culturais estão implícitos. Quem quiser embrenhar-se nesse domínio pode consultar a bibliografia apresentada mais abaixo [Vd, poste a seguir, nº 181, desta série]

Andreoletti (1984) é a maior coleção de provérbios crioulo-guineenses que já veio a lume, ou seja, 466. Ele não fornece tradução nem explicação. Parece que não foi feita uma revisão da publicação. Entretanto, tem o mérito de ser o primeiro livro inteiramente dedicado só aos provérbios guineenses.

Quanto a Biasutti (1987) , trata-se de um dicionário crioulo-português. Em apêndice ele elenca 60 provérbios, muitos deles reproduzidos de notas manuscritas de Andreoletti.

Em Bull (1989), que é falante nativo de crioulo, temos uma seção inteira dedicada aos provérbios - são 95 ao todo -, acompanhados de tradução em português e comentários bastante detalhados.

Chataigner (1963) é um artigo que faz um apanhado geral do crioulo, incluindo 77 provérbios. Este texto tem a peculiaridade de tratar da variedade do crioulo falada na região do sul do Senegal, chamada de Casamansa. É uma variedade muito mais conservadora do que a da Guiné-Bissau, sobretudo porque perdeu o contato com a língua portuguesa desde o final do século passado. Como se pode constatar, nos provérbios guineenses - e no crioulo guineense em geral - pode-se notar a influência da língua e da cultura portuguesa.

Quanto a Montenegro (1994a, 1994b), trata-se de um dos estudos mais percucientes sobre os provérbios crioulo-guineenses, sempre seguidos de ampla exemplificação. Ela mora na Guiné-Bissau há muitos anos, portanto conhece a cultura local como ninguém.

Em Couto (1996, 1998), finalmente, pode-se encontrar, além de interpretação de alguns provérbios, muitas referências bibliográficas. Inclusive comentários sobre as tarefas da paremiologia.

Espero que este pequeno inventário paremiológico guineense possa ser de interesse para algum internauta. Gostaria de ouvir seus comentários, sugestões e críticas.

Hildo Honório do Couto | Departamento de Lingüística | Universidade de Brasília | 70910-900 Brasília, DF, Brasil | e.mail: hiho@unb.br

* * * * *

LISTA DE PROVÉRBIOS - Parte I (de A a L)

NOTA: As seguintes letras têm valor especial:

N = "ng" do inglês (como em "song"); 

c = "ch" em inglês (church); 

j = também como em inglês (judge); 

ñ = como no português "nh" ou "ñ" em espanhol; 

s = "s" mesmo (saco), nunca como [z] de "casa".

A

(1) Abo i rasa goiaba: bu ka ten kabaku (=você é como a goiaba, não tem cavaco)

(2) Abo i rasa polon: si bu na kai, bu ka ta kai abo son (=você é como o poilão: se cair não cai sozinho)

(3) 

(i) Abo k' ten caga, bu ka ta sinti si ceru; 

(ii) Nunka algin ka ta fala kuma si caga na fedi (=você que tem ferida não sente o seu cheiro)

(4) Ami i lubu k' kema kosta (=eu sou a hiena que tem as costas queimadas)

(5) Ami i rasa papaia: N ka ta durmi na bariga di algin (=eu sou como o mamão: não fico parado na barriga de ninguém)

(6) Anduriña kuma i na pupu riba di kabesa di ñor deus, i ba kai riba di si kabesa (=a andorinha disse que caga na cabeça do senhor deus, mas caiu sobre sua própria cabeça)

B

(7) Baga baga i ka ten tarsadu, ma i ta korta paja (= o cupim não tem terçado, mas corta capim)

(8) 

(i) Baga baga ka ta kata iagu, ma i ta masa lama; 

(ii) Baga baga i ka ta kata iagu ma i ta masa lama (= o cupim não busca água, mas amassa o barro)

(9) Bagic ta masi ku si fortuda (= o hibisco cresce com sua sorte)

(10) 

(i) Baka ki ka ten rabu, Deus ta banal; 

(ii) Baka ku ka ten rabu Deus ku ta banal (= à vaca que não tem rabo, abana-a Deus)

(11) 

(i) Baka misti korda, i ka tenel, kabra tenel, tok i na rasta; 

(ii) Kabra ten korda tok i na rastal; baka mistil, ma i ka ta oja; 

(iii) kabra tene korda i ta rastal, baka misti i ka ta oca (= a vaca quer corda mas não a tem; a cabra a tem mas a arrasta)

(12) 

(i) Bakia baka di kunankoi; 

(ii) Bakia baka di kunankoi: sin liti, sin nata;

 (iii) Bakia baka di kunankoi sin litti nin nata (= a boeira pastoreia a vaca mas não aproveita nem o leite nem a nata)

(13) 

(i) Bardadi i suma malgeta: i ta iardi; 

(ii) Bardadi i malgos, ma i sertu (= a verdade é como a malaguete: ela arde)

(14) Bariga i ka ta kosadu ku laska di kana (= não se coça a barriga com lascas de cana)

(15) Bariga ka fila ku arus, ki-fadi miju (= barriga que não se dá bem com arroz, muito menos se dará bem com milho)

(16) Bariga pode debu o debu ma bu ka ta toma faka bu rumpil (= por pior que a barriga esteja, você não a corta com a faca)

(17) Bentana fiu na bida teña (= a carpa é feia mas vira tainha)

(18) 

(i) Bentana mora ku lagartu, si falau kuma lagartu ka ten uju, fia; 

(ii) Si bentana falau kuma lagartu fura uju, fia, pa bia elis ku ta kume lama juntu (= a carpa mora com o crocodilo: se ela lhe disser que ele não tem olho, acredite)

(19) 

(i) Bianda di kaleron ka ten dunu;

(ii) Bianda, ora ki kusidu, i ka ten dunu (= comida na panela não tem dono)

(20) Bianda sabi ka ta tarda na kabas (= comida saborosa não demora muito na panela)

(21) Bias bu ta sibi dia di bai, ma bu ka ta sibi dia di riba (=em viagem, só se sabe o dia de ir, mas não o de voltar)

(22) Bibidur di lagua ka ta dibi fabur (=quem bebe água na lagoa não deve favor a ninguém)

(23) Bibus na cora, ki-fadi mortus (=se os vivos choram, que dizer dos mortos)

(24) 

(i) Boka ficadu ka ta ientra moska;

 (ii) Na boka ficadu i ka ta ientra moska (= em boca fechada não entram moscas)

(25) Bolta di mundu i rabu di punba (=as voltas que o mundo dá são como as asas da pomba)

(26) Bon sapatu pe jingidu (= sapato bom em pé tordo)

(27)

 (i) Bu ka sibi si bu mama di bunda i gros, son ora k'i tene mandita; 

(ii) Bu ka ta sibi si bu mama di bunda gros, son ora ki tene mandita (= você não sabe se sua bunda é grande, a não ser quando ela tem furúnculo)

(28) Bu kunbidadu sala, bu ientra kuartu (= você é convidado para sala, você entra no quarto)

(29) Bu na duguña fundu, bu ka punta bentu (= você debulha muito sem perguntar ao vento)

(30) Bu na kuji manpatas, bu ka na jubi riba (= você apanha está colhendo mampatás sem olhar para cima)

(31) Bu na toka bu na baja (= você toca, você dança)

(32) Bunitasku di iagu salgadu i bunitu, ma i kansadu bibi (= a beleza da água salgada é grande, mas ela é desagradável para beber)

(33) Bu osa nomi suma lubu (= você desafia a sorte como a hiena)

(34)

 (i) Bu purba liti, bu pidi baka;

 (ii) Garandis kuma bu purba liti, bu pidi baka (= você provou o leite, você pediu a vaca)

(35) Burguñu i ma morti (=a vergonha é pior do que a morte)

(36) Buru tudu karga ki karga si ka sutadu i ka ta janti (= o burro, com pouca ou muita carga, se não é açoitado não anda)

(37)

(i) Bu sai na pilon, bu kai na balai; 

(ii) I sai na pilon, i kai na balen (= você saiu do pilão, caiu no balaio)

(38) Bu sinta riba di baga-baga, bu na rui con (= você está sentado sobre a termiteira, e fala mal do chão)

(39) Bu ten kujer, bu na kume ku mon (= você tem colher, mas come com a mão)

C

(40) 

(i) Cuba cobi i oca kamiñu lalu; 

(ii) Cuba tarda, oca kamiñu lalu; 

(iii) Cuba tarda oca kamiñu latu (= a chuva cai quando a estrada está molhada)

(41)

 (i) Cuba di Kabu Berdi, son di un banda; 

(ii) Anta, es cuba di Kabu Verdi? (= chuva de Cabo Verde, só em um lugar)

D

(42) Deus fala: pui mon, N judau (= Deus disse: faça sua parte que eu lhe ajudo)

(43) Deus ka ta sinta na rabada di ningin (= Deus não senta no traseiro de ninguém)

(44) Deus sibi ke k' manda iagu di mar salga (= Deus sabe porque a água do mar é salgada)

(45) Di li pa pó sinti, kabaku prumedu ku ta sinti (= para o tronco sentir, primeiro a casca tem que sentir)

(46) Dinti mora ku lingu, ma i ta daju i murdil (= os dentes moram com a língua, mas às vezes eles a mordem)

(47) 

(i) Dinti, tudu branku ki branku, i ka ta sai sangi;  

(ii) Garandis kuma dinti ka ten sangi (= os dentes, por mais brancos que sejam, não sangram)

(48)

 (i) Dun di boka i ka ta pirdi si kamiñu;

 (ii) Dun di boka ta tene pe; (iii) Dun di boka ka ta pirdi ku kamiñu (= quem tem boca não se perde no caminho)

(49) 

(i) Dun di boka mas di ke dun di fraskera; 

(ii) Dun du boka, mas dun du fraskera (= quem tem boca vale mais do que quem tem a carteira)

(50) Dun di kujer na kume ku mon (= tem colher, come com a mão)

(51) Dun di un uju ka ta brinka ku reia (= quem tem olho não brinca com areia)

(52) 

(i) Dun du caga ka ta sinti fedos di si pe; 

(ii) Dun di mal ka ta obi si mal (= quem tem chulé não sente o cheiro do próprio pé)

(53) Dus galu ka ta kanta na un kapuera (= dois galos não cantam no mesmo terreiro)

E

(54) E fila suma gatu ku kacur (= eles se dão como gato e cachorro)

F

(55) 

(i) Faka di atorna ka ta moku, i ta moladu;

 (ii) Faka di atorna nunka i ka ta moku;

 (iii) Faka di atorna ka ta moku (= a faca da vingança não está sem corte, está afiada)

(56) 

(i) Fala di magru ka ta ciga na tabanka; (ii) Palabra di magru ka ta obidu na kau di fola baka;  (iii) Kunbersa di magru ka ta obidu na kau di f ola baka (= palavra de magro não é ouvida no lugar de esfolar vaca)

(57) Falta di mame, bu ta mama dona (= na falta de mãe, mama-se na avó)

(58) Febri medi katar (= a febre tem medo do catarro)

(59) 

(i) Fiansa ta kebra kujer di prata;  (ii) Fiansa ta kebra kujer di po (= confiança excessiva pode quebrar colher de prata)

(60) Fiju di gatu ta raña (= filho de gato arranha)

(61) Fiju di sinsibi ka ta maradu di kampaiña (= filho de se-eu-soubesse não traz amarrada em si a campainha)

(62) 

(i) Fiju ta padidu tras di si pape, ma i ka tras di si mame; 

(ii) Fiju ka ta padidu tra di si mame (= filho pode nascer longe do pai, mas não longe da mãe)

(63) Filanta ma panga uju (= combinar antes vale mais que que um piscar de olho)

(64) Firminga ka ta janti, ma i ta ciga (= a formiga não toma a dianteira, mas ela chega)

(65) Forsa di pis, iagu (= a força do peixe é a água)

(66) 

(i) Fulanu ten boka di sanbasuga: i ta murdi, i ta supra; 

(ii) Fulanu i tene boka di sanbasuga, i ta murdi i ta supra; 

(iii) Sanbasuga i ten dus boka, ma i ka ta murdi si kabesa (= ele tem boca de sangue-suga: ele morde, ele sopra)

G

(67) Galiña garbatadur ta fas di kontra ku os di si mame o di si dona (= galinha esgaravatadora pode encontrar osso de sua mãe ou de sua avó)

(68) 

(i) Galiña kargadu ka sibi si kamiñu i lunju; 

(ii) Galiña ka konse si kamiñu lonji; 

(iii) Galiña pindradu ka ta sibi si kamiñu lunju (= galinha carregada não sabe se o caminho é longo)

(69) Galiña ta guarda si frangas bas di si asa, ma kil ku sta fora mañote ta rabatal (= a galinha proteje seus pintinhos debaixo das asas; aquele que escapa o milhafre o arrebata)

(70) 

(i) Garafa ka ta juntu na jugu di pedra; 

(ii) Garafa ka ta ientra na jugu di pedra; 

(iii) Garafa ka dibi di miti na jugu di pedra; 

(iv) Kin k' miti garafa na jugu di pedra, si ka kebra ki ba buska; 

(v) Ku mati garafa na jugu di pedra, si ka kebra ki misti? (= garrafa não se mete em jogo de pedras)

(71) 

(i) Garandi i polon, ma mancadu ta durbal; 

(ii) Polon podi grandi-o-grandi, ma macadu podi durbal; 

(iii) Polon tudu garandi ki garandi, mancadu ta durbal (= o poilão é grande, mas o machado o derruba)

(72) Garandi i puti di mesiñu (= o ancião é um pote de remédios)

(73) 

(i) Garandi ki jungutu, ta ma oja lunju di ke mininu ki sikidu;

 (ii) Beju ki jokoni ta ma uja lonji di ke mininu ki sikidu (= um ancião acocorado vê mais longe do que um menino em pé)

(74) Garandi ku firma ka pasa mandadu; (ii) Garandi en pe ka pasa mandadu (= ancião em pé pode ser incomodado)

(75) 

(i) Garandis fala kuma: joia ku bu kuji na kau di baju, na kau di baju ki ta bin pirdi; 

(ii) Garandis fala kuma joia ku bu kuji na kau di baju, na kau di baju ki na bin pirdi (= os anciãos dizem que o que se ganha na festa, na festa se perde)

(76) 

(i) Garandis fala kuma manganas si ka hululidu i ka ta padi; 

(ii) Manganas si bu ka uli-ulil, i ka ta padi; 

(iii) Manganasa, si bu ka uli-ulil bunda i ka ta padi; 

(iv) Garandis fala kuma manganasa si ka ululidu i ka ta padi (= o manganás, se não chamuscado, não dá frutos)

(77) 

(i) Garandis fala kuma sen mantanpadas i ka sabi tama, ma i sabi konta; 

(ii) Sen mantanpada i ka sabi tama, ma i sabi konta (= os anciãos dizem que cem chibatadas não são agradáveis de tomar, mas de contar)

(78) 

(i) Garandis kuma kasa linpu ka ta somuna; 

(ii) Kasa linpu ka ta somna (= os anciãos dizem que em casa vazia não há barulho)

(79) 

(i) Garandis kuma kanua sin remu ka ta kanba mar; 

(ii) Kanua sin remu ka ta kamba mar (= os anciãos dizem que canoa sem remo não atravessa o mar)

(80) Gatu fartu ka ta montia (= gato farto não caça)

I

(81) 

(i) I ka ten sabi ku ka ta kaba;

 (ii) Puti di mel, i na sabi o sabi, mas i ta ten dia ki ta kaba (= não existe nada agradável que não acabe)

(82) I sabi moska, ki-fadi bagera (= isso agrada a mosca, que dizer da abelha)

(83) I sancu di dus matu (= é macaco de dois matos)

J

(84) Jisilin ka ta kema ku beja dus bias (= o gergelim não queima com vela duas vezes)

(85) 

(i) Jugude ka bai fanadu, ma i kunsi uju; 

(ii) Jugude ka bai fanadu, ma i kunsi uju (= o abutre não foi à circuncisão, mas consegue ver as coisas)

(86) Jungutudu ka ta pui na ragas (= o acocorado não carrega nada no colo)

(87) Justu di bai cur, ka ciga karga don (= só ir ao velório não implica em chorar)

K

(88) 

(i) Kabra nunka i ka ta misa dianti di lubu; 

(ii) Kabra ka ta misa dianti di lubu (= ba cabra nunca mija perto da hiena)

(89) Kabra rispitadu pa bia di si barba (= o cabrito é respeitado por causa de sua barba)

(90)

 (i) Kabra tene barba, ma baka ki si garandi; 

(ii) Kabra tene barba, ma baka ki si pape (= o cabrito tem barba, mas a vaca é sua anciã)

(91) 

(i) Kacur di mangu kuma pa kada kin sibi di si kabesa; 

(ii) Kacur di mangu konta kuma kada kin sibi di si kabesa (= o mangusto diz que cada um sabe de si)

(92)

 (i) Kacur endadur os o pankada; 

(ii) Kacur iandadur, os o pankada (= cachorro vadio encontra osso ou pauladas)

(93) Kacur ka ta tene kacur (= cachorro não tem cachorro)

(94) 

(i) Kacur, tudu brabu ki brabu, nunka i ka murdi si dunu ku ta dal di kume; 

(ii) Kacur, tudu brabu ki brabu, nunka i ka murdi si dunu (= o cachorro, por mais feroz que seja nunca morde quem lhe dá comida)

(95) Kal dia ku galiña di matu pistadu po di dismanca kabelu (= quando é que se emprestou o pau de arrumar o cabelo à pintada)

(96) Kal dia ku galiña di matu sinta na kapuera (= quando é que a pintada ficou no mato)

(97) 

(i) Kal dia ku lubu Ntergadu fumer;

 (ii) Jintis kuma kal dia ku lubu Ntergadu fumer (= quando é que se entregou o fumeiro à hiena)

(98) 

(i) Kal dia ku paja juntadu ku fugu si ka kema ki misti;

 (ii) Kal dia du paja i juntadu ku fugu si i ka kema ki misti (= quando é que se junta palha com fogo que não seja para queimar)

(99)

 (i) Kal dia ku sancu fala jugude manteña si ka pa rispitu di kacur; 

(ii) Kal dia ku sancu fala Sakala manteña si i ka na disgustu di kacur (= quando é que o macaco cumprimenta o abutre a não ser no velório do cachorro)

(100) 

(i) Kama ku bu ka dita nel, bu ka sibi si ten dabi; 

(ii) Dun du kama ki konse si dabi (= você não pode saber que a cama em que não deitou tem percevejos)

(101) Kamalion kuma janti i ka nada, ciga ki tudu (= o camaleão diz que andar depressa não importa, o importante é chegar)

(102) 

(i) Kana seku i ka ta dobradu; 

(ii) kana seku ka ta dobra (= cana seca não se dobra)

(103) Karna di buru ta kumedu na tenpu di coba, di fugalgu na tenpu di seku (= carne de burro se come na estação, a de animal nobre na seca)

(104) Karu beju lestu dana (= carro velho estraga depressa)

(105) Kasa beju ka ta falta barata (= em casa velha não faltam baratas)

(106) Kasamentu ta kaba, ma kuñadadia ka ta kaba (= o casamento pode acabar, mas os laços familiares não)

(107) Kaska fison ka ta kontra ku uña kunpridu (= descascar feijão não combina com unhas grandes)

(108) Kau k'i kosau bu ta kosal; ma kau k'i ka kosau, ka bu kosal, pa bia, si bu kosal, i ta fola (= coce onde há coceira, onde não há coceira não coce, do contrário esfola)

(109) Ken ki basau iagu, son bu ferga kurpu pa i linpu (= se o puserem na água, você tem que esfregar o corpo para que fique limpo)

(110) Ken ki ka ta coranta si fiju, amaña si fiju ta corantal (= quem não faz seu filho chorar, fa-lo-á chorar seu filho)

(111) Ken ki ma bu leña, ta ma bu sinsa (= quem é mais lenha do que você é também mais cinza)

(112) Kil ku urdumuñu tisi na bu mon, bentu ku na bin lebal (= o que a tempestade lhe trouxe o vento levará)

(113) 

(i) Kin ku mata, i ta kabanta fola; 

(ii) Si bu misti forel, para balei (= quem mata, deve esfolar)

(114) 

(i) Kin ku misti forel, i ta para balen; 

(ii) Kin ku misti forel, ta para balei (= quem quer farelo apresente o balaio)

(115) 

(i) Kin ku misti pis, i ta ba moja rabada na iagu; 

(ii) Si bu misti pis, bu ten ku moja rabada (= quem quer peixe tem que molhar o traseiro na água)

(116) 

(i) Kin ku ta durmi ka ta paña pis; 

(ii) Kin ku ta durmi i ka ta paña pis (= quem dorme não apanha peixe)

(117) 

(i) Kin ku ta labra kifri, el prumeru ku ta fidi; 

(ii) Kin ku ta labra kifri, el prumeru ku ta fidi (= quem lavra o chifre é o primeiro a se ferir)

(118) Kin ku ten kabelu na pe, i ka ta kanba fugu (= quem tem pelo nas pernas não deve atravessar o fogo)

(119) Kobra kuma riba tras ka ta kebra kosta (= a cobra diz que dobrar-se para trás não quebra as costas)

(120) Kombe kuma i medi iagu salgadu ma la ki ta mora nel (= o combé diz que tem medo de água salgada, mas é nela que mora)

(121) 

(i) Kon kuma lebsimenti na rosta ki sta; 

(ii) Kon kuma lepsimentu i na uju; 

(iii) Kon kuma lebsimentu na uju ki sta nel (= o macaco-cão diz que a ofensa está no rosto)

(122) Konsiju di beja i misiñu (= conselho de anciã é remédio)

(123) Korda ta kansa kabra, ma i ka ta matal (= a corda cansa a cabra, mas não a mata)

(124) 

(i) Kunpra saniñu na koba; 

(ii) N ka ta kunpra saniñu na koba (= comprar saninho na toca)

(125) 

(i) Kuri ku kosa juju ka ta ndianta; 

(ii) Kuri ku kosa juju ka ta fila; 

(iii) Kore ku konsa juju, ka pode njenta (= correr e coçar o joelho não é possível)

(126) Kusa ki mankañ kuda, tarda ki lingron sibil (= o que faz o mancanha conhece-o há muito o lingueirão)

L

(127) Lagartisa ta bibi ku galiña (= a lagartixa bebe água da galinha)

(128) Lagartu ka ta sinadu murguja (= não se ensina o crocodilo a mergulhar)

(129) 

(i) Lanca fundiadu ka ta gaña freti; 

(ii) Lanca fundiadu ka ta gaña freti (= barco fundeado não ganha frete)

(130) 

(i) Lifanti ka pirgisa ku si dinti; 

(ii) Lifanti ka ta prgisa ku si dinti (= o elefante não se cansa com seu dente)

(131) Lifanti ka ta sinti si tuada (= o elefante não sente o próprio barulho)

(132) 

(i) Lifanti ki nguli kuku, i pa bia i fiansa na si bunda;

(ii) Lifanti ki nguli kuku, i fiensa na si kadera; 

(iii) Si bu oja lifanti na Nguli kuku di sibi, bu ta sibi kuma i fiansa na si trasera (= o elefante engole coco porque confia em seu cu)

(133) Lifanti si na jubi tapada, te i ka entra, i pa bia i ka tene parenti dentru (= se o elefante vê uma cerca e não entra é porque não tem ninguém seu lá dentro)

(134) Lobu ki kema kosta, di sol ki sebedu (= a hiena que tem as costas queimada, é dela que se fala)

(135) Lubu kuma i ka son kusa sabi ki ta incisi bariga (= a hiena diz que não é só o que é saboroso que enche a barriga)

(136) Lubu kuma si sol mansi di repenti, i ka el son ku ta burguñu (= a hiena diz que se amanhecer de repente não é só ele que passará vergonha)

(137) Lubu nin ki bu negal, ka bu dal paja di bobra (= não dê folha de abóbora à hiena mesmo que não gostes dela)

(138) Lutu di mar ka ciga kuspi mon (= luta no mar não exige cuspir na mão)

 (Continua)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 11 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23775: Fauna e flora (21): "Ó Falcão, o Jagudi não vai ao fanado, mas olha que não é parvo de todo!"... Uma "fabulosa fábula" guineense sobre o último dos últimos, o que ri melhor...

(**) Último poste da série > 25 de fevereiro de 2023 > Guiné 61/74 - P24095: Blogues da nossa blogosfera (179): "Reserva Naval", criado e mantido pelo nosso camarada Manuel Lema Santos, chega ao fim... por razões pessoais e familiares do autor (mas também, em parte, pelo cansaço bloguístico e pela ingratidão das nossas instituições e associações)