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quinta-feira, 9 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17121: Consultório militar do José Martins (21): Trabalho de investigação do Aspirante de Cavalaria Pedro Nuno Guilhermino Marçal Lopes sobre "A tipologia das Unidades Mobilizadas pela Arma de Cavalaria durante a Guerra de África (1961-1974)" (Academia Militar, 2014)


Capa do trabalho de investigação do Aspirante de Cavalaria Pedro Nuno Guilhermino Marçal Lopes



O NOSSO BLOGUE COMO FONTE DE INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO

Foto à esquerda: José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), nosso colaborador permanente, autor da série "Consultório Militar".

Já não me recordo quando e como foi: se o pedido foi enviado à Tabanca Grande, ou se o interessado, no caso um Aspirante-Aluno, da Academia Militar - Curso de Cavalaria, Pedro Lopes, me contactou por e-mail pessoal.

Sei que houve troca de e-mails, entre ambos, quando o mesmo preparava o “Relatório Científico Final do Trabalho de Investigação Aplicada” no ano de 2014.

Escolheu estudar e desenvolver, como tema do seu trabalho de curso,  “A Tipologia das Unidades Mobilizadas pela Arma de Cavalaria durante a Guerra de África (1961-1974)”.

Pela minha experiência sei que foram largas horas que dedicou ao seu trabalho, nomeadamente nas pesquisas às várias Histórias das Unidades, que teve de consultar, sobre as forças de Cavalaria que operaram nos três teatros: Unidades de Reconhecimento, Polícia Militar e “tipo Caçadores”.

Sobre o trabalho, quem seria melhor para o apresentar, que o seu autor? É o resumo do trabalho, que transcrevo:

O presente Trabalho de Investigação Aplicada encontra-se subordinado ao tema “A Tipologia das Unidades Mobilizadas pela Arma de Cavalaria durante a Guerra de África (1961-1974)”. O principal objetivo é a caracterização da tipologia das unidades de Atiradores, de Reconhecimento e Polícia Militar, mobilizadas pelas unidades territoriais de Cavalaria da metrópole, para os Teatros de Operações de Angola, Guiné e Moçambique, durante a Guerra de África (1961-1974).


Numa primeira fase tratamos de contextualizar o leitor com a temática da Guerra de África, começando com a situação Portuguesa de então, no cenário internacional, passando pelas principais características da guerra subversiva e terminando com o papel da Arma de Cavalaria neste conflito.

Na segunda fase, relativa à mobilização de Unidades de Reconhecimento, inicialmente é apresentado o dispositivo da Arma de Cavalaria, e as principais Unidades Mobilizadoras. De seguida são apresentados os dados da mobilização de Unidades ao longo do tempo para os três Teatros de Operações, juntamente com o esforço relativo de cada unidade mobilizadora. No final são abordadas as principais viaturas que equiparam este tipo de Unidades, e é feita uma síntese conclusiva do capítulo.

À semelhança do terceiro capítulo, também no quarto são analisados os dados de mobilização e o esforço das Unidades Mobilizadoras, mas desta, das Unidades do tipo Atiradores. Na síntese conclusiva deste capítulo é demonstrado o esforço relativo de mobilização comparativamente às Armas de Infantaria e Artilharia.

Em seguida são apresentados os dados de mobilização das unidades de Polícia Militar, de forma semelhante aos capítulos anteriores.

Na fase final do trabalho são respondidas as questões derivadas e central, que nos indicam as Unidades Mobilizadoras, tal como o esforço relativo de cada tipo de unidades, para cada Teatro de Operações.

Conheci o autor pessoalmente quando, ocasionalmente, nos encontrámos no Arquivo Histórico Militar, que aproveitámos para trocar impressões sobre o trabalho que estava a organizar. Fiquei com a certeza de que seria um trabalho a não perder, mas a que só agora tive acesso, através de um alerta do Luís Graça.

Ainda não o li totalmente. (Poderão encontrar, em anexo, as listas das unidades e subunidades de Cavalaria mobilizadas para o TO da Guiné: Apêndices F - Batalhões; G - Companhias; H - Esquadrões de Reconhecimento; I - Pelotões de Reconhecimento;  J - Companhias de Polícia Militar; e K - Pelotões de Polícia Militar.)

Porém estou certo de que, quer pelo autor, quer o seu orientador, Tenente-Coronel de Artilharia Pedro Alexandre Marcelino Marquês de Sousa, Oficial Superior da Arma de Artilharia e Professor História na Academia Militar, quer por outros Oficiais que lhe transmitiram o seu saber e dedicação à causa castrense, este trabalho é um “louvor” aos antigos combatentes, que o autor não se esqueceu de lembrar e agradecer:

“A todos os ex-combatentes que mantêm acesa a chama da nossa história através dos seus contributos nos blogs relativos à guerra colonial, em particular ao camarada José Martins“ (p. iii).

Amigos e camaradas, caros leitores do nosso blogue, poderão, e deverão, ler este trabalho disponível, em formato pdf (119 pp., com anexos),  no RCAAP - Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal:

José Marcelino Martins
Odivelas, 7 de Março de 2017
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 22 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17074: Consultório militar do José Martins (20): Pelotão de Reconhecimento AML/Panhard 1106 (Guiné, 1966/68)

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13269: Agenda cultural (323): II Colóquio Internacional Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais “A Guerra e as Guerras Coloniais na África Subsaariana no Século XX (1914-1974)”: Universidade de Coimbra, Departamento das Ciências da Vida, Antropologia, amanhã e depois, 12-13/6/2014






1. Com pedido de divulgação, reproduz-se mensagem, de 7 do corrente,  do nosso leitor  José Matos [e investigador, especialista em aviação militar, filho de uma camarada nosso, já há muito falecido, fur mil José Matos, da CCAV 677 / BCAV 5499, 1964/66]

Boa noite

No final da próxima semana decorre em Coimbra um colóquio sobre “Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais” promovido pelo Grupo “História e Memória” do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século 20 (CEIS20). 

Já está disponível no site do colóquio o programa e a ficha de inscrição. Agradecia a divulgação deste evento no vosso site.

José Matos



II Colóquio Internacional Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais
“A Guerra e as Guerras Coloniais na África Subsaariana no Século XX (1914-1974)”



Em Fevereiro 2008, integrado na “X Semana Cultural da Universidade de Coimbra” e organizado pela linha de investigação “Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais” do Grupo “História e Memória” do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século (CEIS20), teve lugar o Colóquio Internacional “Comunidades Imaginadas. Nação e Nacionalismos em África”.

O livro (parcialmente homónimo) de Benedict Anderson foi o ponto de partida, pretendendo-se teorizar, documentar e ilustrar as múltiplas faces da complexa questão nacionalista e as peculiares tonalidades que estas assumiram no cenário africano. Ao longo de dois dias, especialistas consagrados, jovens investigadores, assim como personalidades de formação diversa, enquadraram a problemática e analisaram, em especial, os países nascidos no rescaldo do fim do colonialismo português.

Sendo intenção dar continuidade a iniciativas similares, os investigadores da mencionada linha pretendem organizar o II Colóquio Internacional Colonialismo, Anticolonialismo e Identidades Nacionais, subordinado ao tema “A Guerra e as Guerras Coloniais em África no Século XX (1914-1974)”.

Com o objectivo de assinalar o centenário do início da I Guerra Mundial e os 40 anos do fim da Guerra Colonial/de Libertação, propõe-se que todos os investigadores interessados dêem o seu contributo com o envio de propostas no âmbito das seguintes temáticas:

1) Das Campanhas de Pacificação” à “Grande Guerra”

2) Cultura, representações e memórias da guerra

3) Demografia, Migrações e Refugiados de guerra

4) A Guerra Colonial/de libertação

5) Psicopatologias em contexto de (pós) guerra



Chamada de Trabalhos : datas importantes

(i) até 31 de Março era  prazo limite para a submissão das propostas;  até 15 de Abril – Comunicação dos resultados; até finais de Abril – Publicitação do programa

(ii) 12 e 13 de Junho – Realização do Colóquio [vd. programa,  em detalhe, em baixo] ;

(iii) 20 de Junho – Data para o envio do texto final para publicação

Data limite para o pagamento da inscrição: 25 de Maio de 2014: (i) Participante com comunicação – 10€; Participante sem comunicação (com certificado e materiais) – 5€

O colóquio terá lugar na:  Universidade de Coimbra, Deprartamento das Ciências da Vida, Antropologia

 Comissão Científica:

Ângela Coutinho | Daniel Gomes | Fernando Pimenta | Joana Damasceno  José Lima Garcia | Julião Soares Sousa |  Sérgio Neto

Comissão Organizadora:

 Alexandre Ramires | Ângela Coutinho | Clara Serrano | Daniel Gomes | Joana Damasceno | José Lima Garcia | Julião Soares Sousa | Marlene Taveira | Sérgio Neto

Programa:

 [, entre outras, chama-se a atenção das comunicação a apresentar, no dia 13, no painel IV - Guerras Coloniais, às 10h00, por José A. Matos  e Matthew M. Hurley, "A arma que mudou a guerra", referência ao Strela; bem como pelo nosso amigo, o historiador guineense Julião Soares Sousa, "A 'guerra de fronteira': Guileje e o corredor de Guileje"; de destacar ainda  a apresentação de testemunhos orais de antigos combatentes da guerra colonial, na tarde do dia 13 ]





_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 6 de junho de 2014 >  Guiné 63/74 - P13244: Agenda cultural (322): Lançamento do livro "Guiné-Bissau, um país adiado - Crónicas na pátria de Cabral", de Manuel Vitorino, dia 12 de Junho de 2014, pelas 18h00 na Biblioteca Florbela Espanca, em Matosinhos.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10379: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (9): associações de militares e ex-militares, procuram-se (Valdemar Reis, doutorando em Ciência Política pela NOVA)








Lista (simplificada) das 123 associações militares, inventariadas pelo investigador Valdemar Reis. (Clicar nas imagens para ampliar)


1. Mensagem de Valdemar Reis, com data de 5 de julho pp.:

Exmº Sr.
Dr. Luís Graça

Tomo a liberdade de o incomodar com a seguinte questão:

Encontro-me a frequentar o curso de doutoramento em Ciência Política, na FSCH  [Faculdade Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa] (Aluno nº3949 ) e necessito de recolher um conjunto de dados sobre as associações de militares e ex-militares, a fim de as poder caracterizar sob vários pontos de vista, nomeadamente o institucional.

Da recolha já efectuada através da Net, consegui obter alguns elementos muito úteis para os meus objectivos. No entanto, há um conjunto significativo de associações, sobre as quais não consigo qualquer informação.

Pergunto-lhe se me podia ajudar a identificar a situação dessas mesmas associações. Caso esteja de acordo, enviar-lhe-ia a lista, bem como as variáveis que pretendo trabalhar.

Agradeço a atenção dispensada e reitero  o pedido de desculpa pela maçada.
Valdemar Reis


2. Resposta de L.G.,com data de 13 de julho:

Valdemar: Posso fazer a um apelo ás centenas, milhares, de ex-combatentes que nos leem... Mande a lista... Saudações académicas. LG


3. Resposta do doutorando Valdemar Reis, em 16 de julho:

Boa tarde, Dr. Luís Graça

Obrigado pela sua resposta. Junto envio o mapa das associações militares que já consegui recensear, que inclui alguma informação recolhida na Net.

De acordo com a informação disponível, distribuí as associações por três níveis: a) formal; b) semi-formal e c) informal.

No primeiro caso incluem-se as associações legalmente constituídas: CAE [, código de atividade económica]; estatutos publicados; órgãos dirigentes eleitos e publicitação das decisões (actas).

No segundo caso incluem-se aquelas de que apenas se conhece o CAE. Por fim, no terceiro caso, incluem-se aquelas de que não se dispõe de nenhuma destas informações.

Nesta altura não disponho do ano de fundação de um número significativo de associações que, em princípio, se encontrarão no nível c), dificuldade que não consigo ultrapassar com o recurso apenas à Net.
Agradeço a atenção dispensada e retribuo as saudações académicas.

Valdemar Reis

4. Pedido aos leitores do blogue, incluindo todos os membros (registados) da Tabanca Grande (n=577):

Amigos e camaradas: 

É possível dar uma ajuda a este investigador português, Valdemar Reis,  doutorando em Ciência Política pela minha universidade, a NOVA, respondendo a algumas das nas suas necessidades de informação ?

Indiquem por favor o nome de associações (de militares ou de ex-militares) de que façam parte (ou tenham feito parte) ou que conheçam,  ano de fundação, código de atividade económica (CAE: por ex., 94995), sede (concelho/distrito), data de publicação dos estatutos, contactos (nº telefone, email), página na WEB ou no Facebook, situação atual (com ou sem atividade ou sem atividade)... E outras informações que acharem úteis.

Contacto do Valdemar Reis: clicar aqui. Podem também enviar-nos cópia do mail para a caixa de correio do nosso blogue. Ou deixar as vossas informações na caixa de comentários. Os ex-combatentes são homens (e algumas mulheres, as enfermeiras paraquedistas) que valorizam e apoiam a investigação feita pelos nossos jovens sobre a instituição militar, os combatentes e ex-combatentes, as guerras do séc. XX, a nossa história recente, a nossa presença em África e no resto do mundo... Para que Portugal não morra, pelo menos,  de amnésia! (LG)
________

Nota do editor:

Último poste da série > 3 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10318: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (8): Porto de Bissau: ponte-cais... (Luís Calafate, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8896: Recortes de imprensa (51): Hoje como ontem, de África ao Afeganistão, a realidade (oculta) do stresse pós-traumático de guerra...

Reproduzido,  com a devida vénia,  do JN - Jornal de Notícias, de 8 do corrente:

Sociedade > Militares que serviram no Afeganistão têm sintomas de stress pós-traumático



Um estudo da Universidade do Minho aponta que mais de 10% dos militares portugueses em missão no Afeganistão entre 2005 e 2009 apresentam sintomas de perturbação de stress pós-traumático [PSPT], além de queixas físicas e outras doenças.

Em entrevista à Agência Lusa, o investigador da Universidade do Minho (UM) Carlos Osório, que é também militar, explicou que um dos objectivos desta investigação foi "perceber as consequências a nível de saúde" que a presença no Afeganistão teve para os militares portugueses "no imediato e a longo prazo". 

Assim, referiu, "foram feitos inquéritos a 113 militares do Exército português mobilizados no Afeganistão, integrados na International Security Assistance Force [ISAF], uma força que tem por objectivo restabelecer a paz entre forças beligerantes".   

Segundo Carlos Osório, estes inquéritos serviram para "avaliar a exposição a stressores específicos" a que os militares das forças especiais portuguesas estiveram expostos no Afeganistão e a "associação desta exposição com o desenvolvimento de problemas mentais e queixas físicas".  

Os resultados, revelou o investigador, mostram que destes 113 militares, "três por cento preencheram os critérios de PTSD [, acrónimo inglês de Post-Traumatic Stress Disorder] e 10 por cento os critérios de PTSD parcial", isto a nível de "sintomas de perturbação mental".

Quanto a problemas de saúde física, "os resultados mostraram a presença de queixas físicas como dores nas costas, fadiga, dores musculares, dificuldades em dormir, ou inclusivamente dores de cabeça", enumerou o investigador.

Já as doenças "mais comuns" identificadas foram "doença gastro-intestinal, nervosa, respiratória, alérgica e cardiovascular".

Sobre o "teatro" em que se movimentaram estes militares, o estudo mostra que:

(i)  "71% destes militares participaram em operações de combate onde poderiam ter perdido a vida",

enquanto  (ii) "81% observaram inimigos feridos, 

(iii) 23% observaram inimigos mortos,

(iv) 15% feriram inimigos em combate

e (v) 10% chegaram mesmo a matar inimigos".

Segundo Carlos Osório, "apesar de a presença de PTSD e PTSD parcial ser relativamente baixa", os sintomas destas perturbações mentais estão "associados a diversas queixas físicas e à presença de doenças". 

Com base neste estudo, o investigador concluiu ser "essencial a criação de programas que avaliem e monitorizem todos os militares portugueses regressados do Afeganistão" para lhes "providenciar sempre que necessário o acompanhamento psicológico e psiquiátrico".

Carlos Osório alertou ainda para a necessidade de "todos os militares que apresentem várias queixas físicas serem avaliados para PTSD" e que "aqueles diagnosticados com PTSD devem também ser avaliados para a presença de sintomas físicos".

[ Revisão / fixação de texto / links / título: L.G.]

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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de Outubro de 2011 >Guiné 63/74 - P8852 Recortes de imprensa (50): Medalha de mérito militar chega 43 anos depois... A história do 2º Srgt Mil Libério Candeias Lopes, de Penamacor (CCAÇ 526, Bambadinca e Xime, 1963/65)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6774: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (1): Pedido de colaboração da doutoranda alemã Tina Kramer

1.  Mensagem de Tina Kramer, jovem alemã, aluna de um programa de doutoramento por uma universidade alemã (Frankfurt, se não erro), com  data de 21 do corrente, e com quem já tive uma primeira entrevista exploratória:





Caro Luís, como está?


Escrevi um texto com o intento de explicar o meu tema. Peço a ajuda dos camaradas e amigos da Guiné. Você pode corrigir e, se necessário,  abreviar e modificar, e depois publicar o texto?


Mais além, eu falei com Eduardo Costa Dias [ do CEA / ISCTE]  e ele disse-me que talvez você possa dar-me os dados de contacto das pessoas seguintes:


Pedro Lauret
Carlos Matos Gomes
Mário Beja Santos


Muito obrigada de antemão!


Um abraço
Tina

2. Texto, dirigido ao pessoal do nosso blogue, e assinado por Tina Kramer:

Olá à todos!

Chamo-me Tina Kramer, sou uma dotouranda alemã e vou ficar em Lisboa por 3 meses.

Estou a elaborar a minha tese de doutoramento [, III Ciclo do Ensino Superior,] sobre a Guerra na Guiné-Bissau e como esta está na memória do povo em Portugal e na Guiné-Bissau. Tal significa que eu quero saber quais são os conteúdos da memória, de que maneira e através de que meios as pessoas se recordam dessa guerra. Este seu blogue  já é uma fonte rica de memórias e de história.

Além disso,  quero fazer entrevistas com pessoas que tenha participado na Guerra ou, mesmo que não tenham participado, desde que tenham ligações com este tema ou com a Guiné-Bissau em geral.

Ficaraia  muito contente se vocês conseguirem ter tempo para um encontro comigo.
O meu número de telefone é 917 091 484 e o meu e-mail é Tina-Kramer@gmx.de

Um abraço
Tina

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]


2. Comentário de L.G.:


Foi agradável o nosso primeiro encontro. Esta altura do ano não é a melhor, em Portugal, para encontrar pessoas, marcar encontros, fazer entrevistas. Meio mundo está de férias. O nosso próprio blogue ressente-se disso, reduzindo-se em um terço as visitas diárias... De qualquer modo, dar-lhe-emos toda a colaboração possível. Estou-lhe grato pelas elogiosas referências ao nosso blogue e ao interesse académico e científico que você lhe dedica. Convido os 430 membros do nosso blogue a colaborar consigo, no caso de virem a ser contactados. Poderão igualmente tomar a iniciativa de a contactar. Desejo-lhe boa sorte. Este fim de semana mando-lhe os contactos pedidos. Saudações académicas e bloguísticas. Luís Graça.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4038: Fauna & flora (19): Também os babuínos dizem Nós na pidi paz, ka misti guerra (Joana Silva)

1. Mensagem, de 5 de Março, da Maria Joana Ferreira Silva (*), membro da nossa Tabanca Grande, amiga da Guiné-Bissau, aluna de doutoramento da Universidade de Cardiff (Reino Unido).... [ Está a desenvolver um projecto de doutoramento no campo da genética do babuíno da Guiné, mais conhecido pelos bissau-guineenses por macaco Kom]:


Caro Sr. Doutor Luís Graça,

Envio a compilação dos testemunhos postados no blogue. Sei que talvez a altura não será a melhor (a Guiné está em observação por outros motivos) e entendo se a publicação deste meu contributo for demorada.

Queria agradecer-lhe toda a ajuda dispensada e mais uma vez desculpar-me pelo desaparecimento momentâneo. A avaliação por aqui ainda não terminou, mas pude respirar nas ultimas semanas!

Em anexo envio uma fotografia da manifestação de paz que assisti em Novembro de 2008.

Os meus melhores cumprimentos,

Joana Silva



2. Fauna & flora (19) > Também os babuínos dizem Nós na pidi paz, ka misti guerra
por Joana Silva


Caros bloguistas,

Nesta semana fatídica da história recente da Guiné-Bissau, em que este país apareceu nos noticiários das principais agencias noticiosas mundiais (foi um dos principais assuntos da Skynews aqui no Reino Unido), escrevo para vos agradecer toda a ajuda e empenho dos vossos testemunhos.

Devo dizer que me senti imensamente triste ver a Guiné-Bissau nas televisões pelos piores motivos possíveis (aqui foi descrito como um narco-estado, em que num fim de semana, dois principais líderes do país foram assassinados...). Com enorme angústia tentei explicar aos meus colegas ingleses e galeses a simpatia e gosto pela vida do povo guineense mas é complicado entender, quando nunca se visitou a Guiné e quando as poucas notícias que vêm são deste teor de violência.

Voltando ao assunto que me traz aqui. A vossa participação foi entusiasmante e, apesar alguns de vocês contribuírem com pequenas histórias que julgaram não ter relevância cientifica, todos os contributos foram úteis para a reconstrução da história dos babuínos da Guiné na Guiné-Bissau. Fico-vos imensamente grata!

Resumindo a minha compilação dos vossos testemunhos:

(a) Os babuínos eram vistos como “sentinelas” da presença de pessoas no mato. As suas vocalizações advertiam a presença de tropas inimigas e a presença dos babuínos chegaram a dar algum conforto a alguns combatentes.

(b) A carne de babuíno não era consumida com regularidade pelas tropas portuguesas. Todavia alguns bloguistas confessaram que consumiram babuíno: i) por escassez de recursos; ii) para experimentar; iii) por não saberem do que se tratava.

(c) As crias de babuíno, juntamente com outras espécies de primatas, foram mantidas como “mascotes” dos regimentos. O que não cheguei a perceber era se essas crias eram “encomendadas” ou órfãs, resultantes de caçadas a animais adultos. De qualquer forma, eram tratadas com estimação pelos combatentes (assim demonstram as fotografias que enviaram).

(d) As tropas do PAIGC consumiam a carne de babuíno com frequência.

(e) O consumo de carne de babuíno aumentou na capital , [Bissau,] depois dos anos 80.

Os vossos testemunhos coincidem com os testemunhos dos meus entrevistados na Guiné, o que torna a história ainda mais interessante. Segundo eles:

(f) Os babuínos estiveram sempre presentes na península de Cantanhez;

(g) Os grupos sociais começaram a diminuir depois dos anos 80;

(h) As tropas portuguesas não comiam carne de babuíno (muitos deles até referiram que as tropas portuguesas gostavam muito de porco do mato);

(i) O decréscimo (a partir dos anos 80) do número de babuínos deu-se devido à guerra (minas), caça intensiva pelas tropas do PAIGC, comercialização da carne em Bissau, armas mais baratas e fome generalizada;

(j) Durante o período de guerra, as tropas portuguesas compravam crias de babuínos mas não a sua carne. Ao contrário, as tropas do PAIGC caçavam e consumiam babuínos. (Sendo que os babuínos estiveram sempre presente no mato, os seus grupos eram grandes e as suas vocalizações advertiam a presença dos seus grupos sociais, faz sentido que as tropas do PAIGC utilizassem os babuínos como “ração de combate”.)

Houve ainda uma explicação alternativa para a presença ininterrupta dos babuínos: que utilizavam zonas de cultivo deixadas pelas populações obrigadas a deixar as suas aldeias. Do ponto de vista de um babuíno faz todo o sentido, já que eles são considerados oportunistas. A fome generalizada referida terá a ver com 3 anos de seca na década de 80, que provavelmente terá afectado a produção de arroz.

Devo acrescentar que achei particularmente interessante os contributos fotográficos que enviaram:

- Fiquei curiosa com os machos com pelo branco observados e fotografados pelo bloguista Joaquim Mexia Alves. Nunca vi babuínos com esse aspecto antes e estou ansiosa por amostrar no leste (e ver as diferenças físicas reflectidas em diferenças genéticas).

- Os "chapéus" feitos com peles de babuínos fazem parte de um ritual Balanta chamado "o Fanado". Não sei ainda a relevância de se usar peles de babuínos neste ritual (ou se se podem ser usados outros animais) mas este ritual simboliza a passagem à fase de adulto nesta etnia.

- As fotografias do leopardo (do bloguista José Brás) e do "irã cego" (do bloguista Mário Fitas) são fenomenais.

- As fotografias dos babuínos e dos seus curadores são espectaculares!

Devo deslocar-me à Guiné em breve (se a situação política assim o permitir). Caso desejem mandar mantenha (ou alguma encomenda) para algum amigo, tenho todo o gosto em poder ajudar.

Fico ainda a dever a cartografia das presenças dos babuínos indicadas pelos bloguistas. Será concluída em breve.

Em anexo envio uma fotografia da manifestação de paz que assisti em Novembro do ano passado, no dia seguinte ao atentado a Nino Vieira. A multidão gritava “Nós na pidi paz, ka misti guerra”. Mais actual que nunca.

Texto e fotos: © Joana Silva (2009). Direitos reservados
___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3714: Fauna & flora (1): Pedido de apoio para investigação científica sobre o Macaco-Cão (Maria Joana Silva)

Vd. último poste desta série > 13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3883: Fauna & flora (18): Um macaquinho principiante na arte do furto (José Brás)

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3734: Fauna & flora (8): O estudo do Papio hamadryas papio (Maria Joana Ferreira Silva)

Fig. 1: Fêmea sub-adulta encontrada presa em Bissau


Fauna & flora (8) > Os babuínos da Guiné na Guiné-Bissau (*)
por Maria Joana Ferreira Silva


Introdução

Os babuínos da Guiné (de nome científico Papio hamadryas papio, ver Fig. 1) são uma de cinco subspécies que constituem o género Papio. Este género tem sido um dos mais extensamente estudados dentro da Primatologia contemporânea, tanto em relação a características intrínsecas dos próprios babuínos (como a sua ecologia, estrutura social e sócio-ecologia, genética e filogenia), como em analogia com a evolução humana, já que ambos evoluíram durante o Pleistoceno (**) e sofrendo as mesmas pressões ecológicas (evoluíram em savana, um ambiente altamente imprevisível em termos de recursos alimentares).

O Babuíno da Guiné, no entanto, é das subespécies menos estudadas e menos compreendidas. Os mais recentes trabalhos publicados acerca de populações selvagens datam dos anos 80 (com excepção de um trabalho de 2006) e os trabalhos acerca de populações em cativeiro (como aquelas dos jardins zoológicos) apresentam inúmeras limitações metodológicas que impedem analogias com as populações selvagens.

Um dos constrangimentos dos estudos realizados com populações selvagens prende-se com o habitat (de baixa visibilidade, como todos os bloguistas puderam experimentar em situações bem mais difíceis que qualquer cientista...) e com a instável situação política dos países que constituem a sua pequena área de distribuição (ver Fig. 2).

Fig. 2: Área de distribuição dos babuínos da Guiné

Os babuínos da Guiné ocupam uma pequena área de distribuição (com apenas 250 000 Km2) na zona oeste do continente Africano, e porque se estende num eixo norte-sul, é caracterizado por uma elevada variação ambiental: o nível anual de pluviosidade varia entre os 200mm na Mauritânia até 1400mm no sul da Guiné-Conacri, e a temperatura máxima diária pode variar entre os 20ºC e os 50ºC. Ocorrem numa grande variedade de habitats e a sua dieta aparenta ser altamente variável, o que é também um indicador da elevada flexibilidade ecológica dos babuínos da Guiné.

Estudos recentes concluíram que os babuínos da Guiné possuem uma estrutura social multi-nível, em que 4 níveis podem ser distinguidos. Estes níveis fragmentam-se ou unem-se em ajustamento com determinada estação do ano e altura do dia, de forma a optimizar o número de indivíduos com as condições ecológicas encontradas. Assim, durante a procura de alimentos, ocorre a separação dos OMU (One male Unit, grupos com um macho adulto, 3 ou 4 fêmeas e respectivas crias) por forma a reduzir a competição alimentar dentro do grupo.

Em locais com um risco de predação acrescido, estas unidades reúnem-se para uma melhor defesa (e dão origem ao 2º, 3º e 4º nível de organização). Um exemplo desta união é os dormitórios (normalmente árvores de grande porte) onde se podem juntar centenas de indivíduos. As frequentes vocalizações emitidas durante o dia (os latidos que lhes deram o nome de macaco cão ouvidas pelos bloguistas) servem 2 propósitos: avisam as outras unidades fragmentadas de um qualquer perigo percepcionado e coordenam os movimentos das unidades (indicam onde está a unidade e onde se devem unir mais tarde) (***).

O meu trabalho:

Com a inovação das técnicas moleculares que aconteceu nos últimos 30 anos, é possível, neste momento, obter inúmeras informações acerca de animais selvagens sem requerer a sua observação. É possível, por exemplo, extrair quantidades razoáveis de ADN de excrementos, que depois de vários tipos de análises moleculares nos permite estimar:

i) o número de indivíduos em determinado local;

ii) distinguir entre “excrementos fêmea e macho”;

iii) estabelecer relações de parentesco entre indivíduos (quem é filho de quem, quem é primo de quem);

iv) determinar o grau de consanguinidade (que é inversamente relacionado com o estado de saúde de uma população);

v) determinar rotas de migração (quando são amostradas várias populações) ou se alguma população está isolada reprodutivamente de outra,

vi) determinar o sexo migrante;

vii) revelar os constituintes da dieta...

É costume dizer-se que o limite está na imaginação do investigador!

Estas potencialidades que são oferecidas pelos adeptos da “amostragem não-invasiva de ADN” têm, claro, um reverso: por norma, estas técnicas envolvem maior custo e maior investimento temporal, estando também mais sujeitas a maior taxa de erro. No entanto, em determinadas situações (como a que se apresenta no caso dos babuínos da Guiné) é a única forma de obtenção de informação relevante.

O meu projecto de doutoramento tem três principais objectivos:

1 – Determinar o estatuto de conservação dos babuínos da Guiné na Guiné-Bissau.

O actual estatuto de conservação dos babuínos da Guiné é de “Baixo risco, baixa preocupação” (IUCN 1994), pelo que não foram planeadas ou implementas medidas de conservação especificas. No entanto, existem indícios de que estas populações possam estar ameaçadas pela perda drástica de habitat que ocorreu nos últimos anos, pela elevada pressão de caça, pela captura de infantes como animais de estimação e ainda, pelo uso de peles ou partes de animais na medicina tradicional.

Os dados genéticos irão permitir a estimativa do número efectivo de indivíduos na Guiné-Bissau, que ao ser reduzido poderá levar a uma mudança no estatuto de conservação e à aplicação de medidas de conservação. Por outro lado, a existência de populações isoladas (e consequentemente mais consanguíneas) por causas antropogénicas (estabelecidas através dos dados genéticos) permitirão definir melhor essas medidas de conservação, criando por exemplo, corredores ecológicos entre populações isoladas.

2 – Investigação de aspectos socio-ecológicos:

Tendo em conta a sua enorme flexibilidade ecológica, gostaria ainda de testar a influência do habitat na estrutura social. Isto é, será que a fragmentação dos vários níveis se mantêm em habitats variáveis em termos de recursos alimentares ou risco de predação (por exemplo entre as florestas de Cantanhez e a savana do Boé)?
Isto será obtido com base nos dados de relações familiares entre grupos e na determinação do sex-ratio (número de machos para cada grupo de fêmeas). Por outro lado, os dados genéticos irão permitir determinar qual é o sexo migrante e como essa migração ocorre entre diferentes habitats, o que também terá implicações conservacionistas.

3 – Investigação da história demográfica passada

Esta parte do meu trabalho irá permitir responder às seguintes questões:

(i) Os babuínos da Guiné da Guiné-Bissau vieram de onde?

(ii) Há quanto tempo existem na Guiné-Bissau?

(iii) Sofreram algum evento demográfico no passado (como seja, uma diminuição drástica populacional, conhecido por bottleneck)?

(iv) Quando?

É nesta parte do trabalho que os depoimentos dos bloguistas se inserem. Imaginemos que é de opinião geral que, em Cantanhez, os babuínos existiam em grande número durante 1963-1974 e só diminuíram a partir dos anos 80 mas noutro local qualquer, a diminuição começou em 1963 ou nem existiam mas agora passaram a existir.

Todas essas pistas serão usadas para a interpretação dos dados moleculares que (espero...) terão resolução suficiente para determinar estas variações populacionais específicas. No caso de se sobreporem os dados moleculares e os depoimentos dos bloguistas, será um grande avanço científico, pois a causa mais provável da diminuição populacional terá sido determinada!

Texto e fotos: Maria João Ferreira Silva

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Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série Fauna & flora > 13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3733: Fauna & flora (7): Babuínos, chimpanzés, caçadores, militares, pitéus e... turismo científico (Pepito)

(**) Vd. Wikipédia > Pleistoceno:

(...) "Na escala de tempo geológico, o Pleistoceno ou Plistocénico é a época do período Neogeno da era Cenozóica do éon Fanerozóico que está compreendida entre 1 milhão e 806 mil e 11 mil e 500 anos atrás, aproximadamente" (...)

(***) Para saber mais: vd. artigo em inglês sobre o Baboon, Wikipedia