Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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sábado, 15 de novembro de 2025
Guiné 61/74 - P27426: Efemérides (473):"O T de Teixeira - com o mesmo T se escreveu tragédia", no dia em que se cumpre mais um aniversários sobre a morte do soldado PelRec Teixeira
1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 14 de Novembro de 2025:
Camaradas
Amanhã cumpre-se mais um aniversários sobre a morte do soldado PelRec Teixera.
A foto vai neste mail.
O poema vai no outro
Abraços
Juvenal Amado
O T de Teixeira com o mesmo T se escreveu tragédia
O seu sorriso tímido
O seu rosto de menino
O seu olhar azul
Era uma figura suave
Caminhou sem protecção
Confiante na vara que empunha
Tentava enganar o destino
Enquanto espetava à frente dos pés
Naquela madrugada
Perdeu tudo
O sangue escorreu até fazer lama
Encheu-nos de terror
O ar irrespirável
No silencio ecoaram os gritos
Semelhantes a um animal ferido
Ecoavam doutra dimensão
As suas passadas no chão
O seu corpo amputado
Suas mãos e rosto flagelado
Negro de morte
O alivio possivel foi a morte
No meio da dor, a paz
No meio do suor e sangue
A redenção
Era um homem silencioso
Discreto
Não dava nas vistas
Só a que a morte o viu?
15/11/1982
Juvenal Amado
_____________
Nota do editor
Último post da série de 11 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27410: Efemérides (472): Fotos da Festa do Fanado que decorreu em Tite no mês de Novembro de 1969 (Aníbal José Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)
domingo, 14 de setembro de 2025
Guiné 61/74 - P27219: Blogpoesia (807): "O nosso segredo", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
© ADÃO CRUZ
O NOSSO SEGREDO
O mais belo segredo da minha vida
onde o horizonte foge contra o tempo
é só nosso e de mais ninguém.
Quando as sombras negras desaparecem
ele procura ver-me na janela dos teus olhos
e tenta falar-me no silêncio do desdém.
ele procura ver-me na janela dos teus olhos
e tenta falar-me no silêncio do desdém.
Mais além veste-se de branco
de alma enorme e de pão quente
e do eco à volta do teu ninho
nascem reflexos de sol poente
vermelho de sangue em coração de gente.
de alma enorme e de pão quente
e do eco à volta do teu ninho
nascem reflexos de sol poente
vermelho de sangue em coração de gente.
Não consigo ver-te assim ausente
fora do calor do deserto que aqui mora
sem o dilúvio deste desejo permanente
que enche os verdes rios do meu segredo
e adormece sempre nos alvores da aurora.
fora do calor do deserto que aqui mora
sem o dilúvio deste desejo permanente
que enche os verdes rios do meu segredo
e adormece sempre nos alvores da aurora.
Tudo me encaminha para os teus braços
quando te sentas à porta da minha idade
nesta entrada de enganos e algemas
onde o segredo que a vida encarna
entre as mãos livres e serenas
veste de beleza a mentira da verdade.
quando te sentas à porta da minha idade
nesta entrada de enganos e algemas
onde o segredo que a vida encarna
entre as mãos livres e serenas
veste de beleza a mentira da verdade.
Quase me obriga a pedir ao vento
uma lufada de Primavera e sentimento
mas as palavras fazem ninho
no mais doce recanto do sofrimento
e adormecem de mansinho.
uma lufada de Primavera e sentimento
mas as palavras fazem ninho
no mais doce recanto do sofrimento
e adormecem de mansinho.
Vou embora…
São horas de saber se a vida vale a pena
neste dobrar de avessos e fantasias
junto ao rio que os sentidos fazem e desfazem.
São horas de saber se a vida vale a pena
neste dobrar de avessos e fantasias
junto ao rio que os sentidos fazem e desfazem.
Vou [a] correr para o lado da nascente
sabendo que o rio me arrasta para o fim da tarde
na implacável força da corrente.
na implacável força da corrente.
Ainda bem que esta margem é clara e amena
e do outro lado é tudo escuro quase negro
mas quando o fogo queima o pensamento
até o segredo azul de um pálido coração
escondido no ventre dos pinheiros
parece verde como o verde da ilusão.
adão cruz
e do outro lado é tudo escuro quase negro
mas quando o fogo queima o pensamento
até o segredo azul de um pálido coração
escondido no ventre dos pinheiros
parece verde como o verde da ilusão.
adão cruz
(Revisão / fixação de texto: CV / LG)
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Nota do editor
Último post da série de 12 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27114: Blogpoesia (806): Versejar em Nova Sintra - 3: "Nova Sintra", pelo Cap Fonseca e Silva da CCS/BCAV 2867 (Aníbal José da Silva, ex-Fur Mil Alimentação)
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Nota do editor
Último post da série de 12 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27114: Blogpoesia (806): Versejar em Nova Sintra - 3: "Nova Sintra", pelo Cap Fonseca e Silva da CCS/BCAV 2867 (Aníbal José da Silva, ex-Fur Mil Alimentação)
terça-feira, 12 de agosto de 2025
Guiné 61/74 - P27114: Blogpoesia (806): Versejar em Nova Sintra - 3: "Nova Sintra", pelo Cap Fonseca e Silva da CCS/BCAV 2867 (Aníbal José da Silva, ex-Fur Mil Alimentação)
Vista aérea de Nova Sintra
1. Em mensagem de 1 de Julho de 2025, o nosso camarada Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos alguns versos alusivos a Nova Sintra.
Publicamos hoje "Nova Sintra", da autoria do (então) Capitão Fonseca e Silva da Companhia de Comando e Serviços do BCAV 2483.
VERSEJAR EM NOVA SINTRA - 3
NOVA SINTRA
Em largo de areia e terra,
No meio de mata cerrada,
Vivem homens em buracos
Na corrida do tempo passado!
Fazendo dum sorriso
Uma boa e larga anedota!
Fazendo duma palavra dada
Conversa para dias e anos!
Em casa de chapa e tronco
Vivem homens de olhos encovados,
Sempre os mesmos, meses e meses,
Na amizade sã dos deserdados.
Olhando outros em local farto
De quartos limpos em parede caiada,
Não olham com inveja ou enfado,
Mantêm a noção de camarada!
Na singeleza destas quadras
Vai o amor de um poeta pelintra
Que sentiu o que outra devia sentir
Em terras de Nova Sintra.
Autor
Capitão Fonseca e Silva
*************************
O Capitão Fonseca e Silva foi o Comandante da CCS do meu Batalhão, o BCAV 2867, que esteve sediado em Tite nos anos 69/70.
Por divergências havidas com o Comandante do Batalhão, Tenente Coronel Trinité Rosa, o Capitão como castigo ou punição foi desterrado durante duas semanas para o quartel de Nova Sintra. Pela leitura das duas últimas quadras conclui-se que os versos lhe são dirigidos.
De referir que o Comandante do Batalhão nunca passou qualquer noite em Nova Sintra, bem como o Capitão de Operações do Batalhão, o médico e até o Padre. O único que lá esteve durante uma semana foi o 2.º Comandante, o Major Martins Ferreira.
Aníbal Silva
Arcozelo/Gaia 01 de Julho de 2025
_____________
Nota do editor
Último post da série de 5 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27093: Blogpoesia (805): Versejar em Nova Sintra - 2: "Despedida de Nova Sintra", por Manuel Gouveia de Oliveira, Soldado Atirador (Aníbal José da Silva, ex-Fur Mil Alimentação)
terça-feira, 5 de agosto de 2025
Guiné 61/74 - P27093: Blogpoesia (805): Versejar em Nova Sintra - 2: "Despedida de Nova Sintra", por Manuel Gouveia de Oliveira, Soldado Atirador (Aníbal José da Silva, ex-Fur Mil Alimentação)
1. Em mensagem de 1 de Julho de 2025, o nosso camarada Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos alguns versos alusivos a Nova Sintra.
Publicamos hoje a "Despedida de Nova Sintra" da autoria do Soldado Atirador Manuel Gouveia de Oliveira, o "Xabregas".
VERSEJAR EM NOVA SINTRA - 2
Não me recordo de haver muitos militares a fazer versos e a havê-los não os davam a conhecer.
Eventualmente enviavam as suas “obras” à mãe, à esposa, à namorada, ou à madrinha de guerra.
Mas recordo com muita saudade o amigo Xabregas, sempre bem disposto e risonho, soldado atirador de Cavalaria de seu nome completo Manuel Gouveia de Oliveira que, sobre qualquer tema ou pretexto, repentinamente fazias as suas quadras. De várias que ele compôs, partilho com os camaradas do blogue, as duas únicas que tive a oportunidade de guardar.
DESPEDIDA DE NOVA SINTRA
Dezassete chegam bem para quem tem
Esta missão cumprida
Por isso eu digo agora chegou a hora
De merecermos a partida
Vamos todos pra Bissau, que já não é mau
E dormir
descansadinhos
Vamos entregar a farda camufleda
Porque já somos velhinhos
Adeus Nova Sintra, nunca mais quero voltar
Saudade são meus desejos
Mas tu não leves a mal.
Adeus Bissau, também não quero voltar
Quero ir para a mimha terra
Quando a missão terminar.
Marchando na escuridão, em paliçadas
Em qualquer operação
Sempre unidos e velozes as nossas vozes
Nunca disseram que não
Adeus Nova Sintra
Colunas a S. João
Adeus Mata do Jorge
Uanadim e Brandão
Autor
Manuel Gouveia de Oliveira
Soldado Atirador de Cavalaria
CCAV 2483
_____________
Nota do editor
Último post da série de 29 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27068: Blogpoesia (804): Versejar em Nova Sintra - 1: "Marcha de Nova Sintra", por Manuel Gouveia de Oliveira, Soldado Atirador (Aníbal José da Silva, ex-Fur Mil Alimentação)
terça-feira, 29 de julho de 2025
Guiné 61/74 - P27068: Blogpoesia (804): Versejar em Nova Sintra - 1: "Marcha de Nova Sintra", por Manuel Gouveia de Oliveira, Soldado Atirador (Aníbal José da Silva, ex-Fur Mil Alimentação)
1. Em mensagem de 1 de Julho de 2025, o nosso camarada Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos alguns versos alusivos a Nova Sintra.
Publicamos hoje a "Marcha de Nova Sintra" da autoria do Soldado Atirador Manuel Gouveia de Oliveira, o "Xabregas".
VERSEJAR EM NOVA SINTRA - 1
Não me recordo de haver muitos militares a fazer versos e a havê-los não os davam a conhecer.
Eventualmente enviavam as suas “obras” à mãe, à esposa, à namorada, ou à madrinha de guerra.
Mas recordo com muita saudade o amigo Xabregas, sempre bem disposto e risonho, soldado atirador de Cavalaria de seu nome completo Manuel Gouveia de Oliveira que, sobre qualquer tema ou pretexto, repentinamente fazias as suas quadras. De várias que ele compôs, partilho com os camaradas do blogue, as duas únicas que tive a oportunidade de guardar.
MARCHA DE NOVA SINTRA
Defendemos Nova Sintra
Com muito orgulho e altivez
Pertencemos à companhia
Que é, a dois quatro oitenta e três
Aqui vai Nova Sintra
Que vai a Tite pra dar nas vistas
Andam por aqui e além
À procura dos terroristas
Terroristas venham cá
Que nós estamos à vossa espera
Agora não são catanas
Nós temos armas da nova era
Terroristas, Terroristas
Nova Sintra está cá
Se precisarem de ajuda
Nós iremos a Jabadá
Defendemos Nova Sintra
Com muito orgulho e presunção
Pertencemos à Companhia
Que é a melhor do Batalhão
Viva a nossa Companhia
Que é a melhor do Batalhão
Viva o nosso Homem Grande
Que é o nosso CAPITÃO
Autor
Manuel Gouveia de Oliveira
Soldado Atirador de Cavalaria
CCAV 2483
_____________
Nota do editor
Último post da série de 21 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26602: Blogpoesia (803): No Dia Mundial da Poesia: "A Noite Mundial da Poesia", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
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sexta-feira, 4 de julho de 2025
Guiné 61/74 - P26982: (in)citações (275): Jorge Ferreira, "um dos nossos mais velhos"... "Jorge, até aos 100 é sempre em frente!... É só preciso ter cuidado com as minas e armadilhas!... E um dia Buruntuma ainda será grande!" (Luís Graça)
1. O Jorge Ferreira faz hoje 87 aninhos! É da colheita de 1938... É capaz de ser "um dos nossos mais velhos", a par do António Rosinha, do George Freire, do Mário Arada Pinheiro , do Alberto Nascimento (cito de cor) ... Falo dos nossos grão-tabanqueiros que ainda continuam ativos, saudáveis, produtivos e proativos!... Enfim, o Jorge é uma figura sempre presente na Magnífica Tabanca da Linha e, de vez em quando, telefonamo-nos. E na Tabanca Grande a idade é um posto.
Tenho por ele uma grande estima e carinho. É um vê-cè-cê, um veteraníssimo, ainda do tempo da farda amarela, que honra a nossa Tabanca Grande. E merece, hoje, um destaque especial.
Tive o privilégio de o apresentar à Tabanca Grande em 19/9/2016 nestes termos (**):
Tive o privilégio de o apresentar à Tabanca Grande em 19/9/2016 nestes termos (**):
(...) o Jorge, veteraníssimo camarada que esteve um ano em Buruntuma, entre novembro de 1961 e julho de 1962, quando ainda a guerra não tinha começado oficialmente, tem um livro lindíssimo sobre aquela terra e as suas gentes que ficaram no nosso coração (...)
Conhecemo-nos há dias, pessoalmente, embora já desde meados de junho que temos vindo a falar ao telefone. (...)
Eu e o Jorge Ferreira, que mora no concelho de Oeiras, para além da Guiné, temos várias coisas em comum:
Eu e o Jorge Ferreira, que mora no concelho de Oeiras, para além da Guiné, temos várias coisas em comum:
(i) a frequência do ISCSP - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, onde ele se licenciou depois de ter vindo da Guiné, (e onde eu frequentei o 1º ano da licenciatura em ciências sociais, em 1975/76, na mesma altura em que lá esteve o cap cav Salgueiro Maia);
(ii) vários amigos do Instituto de Informática do Ministério das Finanças e da DGOA - Direção Geral de Organização Administrativa);
(iii) a paixão pela fotografia, etc...
Trabalhou, depois do regresso, em maio de 1963, da Guiné , nos serviços mecanográficos do exército até 1972 onde teve, entre outros, como colega o Manuel Barão da Cunha, conhecido escritor da guerra de África, bem como o seu irmão Francisco.
O Jorge [da Silva] Ferreira, que passa a ser o nº grã-tabanqueiro nº 728 , tem um blogue de fotografia que merece ser divulgado e conhecido.
O Jorge [da Silva] Ferreira, que passa a ser o nº grã-tabanqueiro nº 728 , tem um blogue de fotografia que merece ser divulgado e conhecido.
É um homem culto e viajado. e que cultiva a memória. No seu blogue, diz com modéstia que não é "um fotógrafo profissional nem mesmo um amador". Descreve-se apenas como um" caçador de imagens" (...) "que desde muito jovem se sentiu atraído pela fotografia, passando a fazer parte do [seu] quotidiano".
Retomou a fotografia depois de enviuvar há 5 anos, fazendo do seu blogue também uma tocante homenagem à sua companheira de uma vida, Gabriela, e mãe do seu filho (...)
2. Em plena pandemia, há 5 anos atrás, quando estávamos a olhar o mundo através do vidro embaciado da janela, trancados em casa, à espera que o pesadelo da pandemia de covid-19 passasse, escrevi ao Jorge as seguintes quadras (estava "desenfiado" na Quinta de Candoz, a quase 400 km do meu poiso habitual). É uma forma de lembrar quão resistentes, afinal, temos sabido ser, e graças também ao nosso humor, às nossas tabancas, às nossas tertúlias (físicas e virtuais)...
Reitero os votos que sempre lhe faço, desde que nos encontrámos, em 2016: Jorge, até aos 100 é sempre em frente!... Cuidado com as minas e armadilhas!... E um dia Buruntuma ainda será grande!" (***)
Ao Jorge Ferreira (e aos demais aniversariantes da nossa Tabanca Grande que foram obrigados a cantar "os parabéns a você", sozinhos em casa):
Amigo Jorge Ferreira,
Amigo Jorge Ferreira,
És dos nossos veteranos,
Mas não caias na asneira,
De dizer que fazes anos.
Não há copos p’ra celebrar,
Nem na Tabanca da Linha,
Mas logo que a crise passar,
Abre o Resende a cozinha.
Em Buruntuma, as bajudas
Foram todas retratadas,
Fossem belas ou feiudas,
Solteirinhas ou casadas.
Desse tempo tens saudade,
Até marcos tu puseste,
Não te pesava a idade,
Grande alfero lá do Leste.
Retificaste a fronteira
C’o a Guiné-Conacri,
E juraste p’la bandeira:
“Sou eu quem manda aqui”.
Saia um peixinho da bolanha,
Feito à maneira, no forno,
Quem não tinha arte e manha,
Apanhava com um corno.
Paludismo, hepatite,
E até bilharziose,
Não faltava o apetite,
Cada um c’o sua dose.
De Paunca até Pirada,
Do Gabu até Bolama,
Não me queixo, camarada,
Dormi no mato e na cama.
Tive farda de caqui,
E chapéu colonial,
Mas só de amores morri
Pl' aquela terra, afinal.
Convivi com o Sané,
Senhor de Canquelifá,
Percorri meia Guiné,
Fiz amigos como os de cá.
E chapéu colonial,
Mas só de amores morri
Pl' aquela terra, afinal.
Convivi com o Sané,
Senhor de Canquelifá,
Percorri meia Guiné,
Fiz amigos como os de cá.
Em resorts de muitas estrelas,
Deixei pedaços de mim,
Não me lembro das caravelas,
Mas a história foi assim.
Buruntuma, hás de ser grande,
Não importa em que ano ou dia,
Seja o povo quem mais mande,
Em passando a pandemia.
Hoje o Jorge é menininho,
Vai ter ronco na tabanca,Toda a gente, preta ou branca,
Lhe vai dar um miminho.
Luís Graça,
Tabanca de Candoz, 4 de julho de 2020 (****)
___________Luís Graça,
Tabanca de Candoz, 4 de julho de 2020 (****)
Notas do editor LG:
(*) Vd. poste de 4 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26980: Parabéns a você (2392): Jorge Ferreira, ex-Alf Mil Inf da 3.ª CCAÇ (Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63)
(**) Vd. poste de 19 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16502: Tabanca Grande (495): Jorge Ferreira, ex-alf mil, 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego e Buruntuma, 1961/63), nosso grã-tabanqueiro nº 728...
(***) Último poste da série > 14 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26921: (In)citações (274): Brancos, pretos e morenos (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR)
(****) Vd. poste de 4 de julho de 2020 > Guiné 61/74- P21140: E as nossas palmas vão para... (20): o veteraníssimo Jorge Ferreira, que hoje faz anos, e foi o etnofotógrafo da Buruntuma de 1961/63 que não existe mais...
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pandemia,
parabéns a você,
Tabanca da Linha
sábado, 14 de junho de 2025
Guiné 61/74 - P26918: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (37): os arraiais e as fogueiras dos santos populares
Alcachofra brava (Cynara cardunculus)
Coisas & loisas do nosso tempo de meninos
e moços > Os arraiais e as fogueiras dos santos populares
por Luís Graça
Havia as fogueiras do Sant'António,
do São João, e do São Pedro,
os arraiais populares,
a queima das alcachofras,
Não se dizia “alcachofra”, mas “cardo”…
“Cardo florido”,
no dia seguinte, posto à janela,
Com os tostões angariados,
os pequenos donos do arraial dos santos populares
Lourinhã, Luís Graça (2005). Revisto, 13/6/2025.
__________________
Nota do editor LG:
os arraiais populares,
a queima das alcachofras,
os balões, os refrões
("um tostãozinho, vizinho, vizinha,
p'ros santos populares,
primeiro o Sant'António,
depois o Sã João
e por fim o Sã Pedro,
p'ra nossa reinação!”)
("um tostãozinho, vizinho, vizinha,
p'ros santos populares,
primeiro o Sant'António,
depois o Sã João
e por fim o Sã Pedro,
p'ra nossa reinação!”)
Havia as bichas-de-rabear,
as bombas de carnaval,
o calvário e as suas catorze estações…
as bombas de carnaval,
o calvário e as suas catorze estações…
Alguém sabia lá o que era o solstício de verão,
e o eterno retorno,
e as festividades cíclicas,
e a purificação do corpo
e o exorcismo do mal...
E, muito menos, as fogueiras da Santa Inquisição.
Sabia-se da salvação da alma,
e dos raspanetes do padre vigário
e dos puxões de orelhas da catequista
quando a malta não decorava a doutrina,
porque só queria jogar à bola.
Não se dizia “alcachofra”, mas “cardo”…
“Cardo florido”,
no dia seguinte, posto à janela,
depois de queimado na fogueira,
era sinal, para as raparigas, de amor correspondido.
Tinha que ser sofrido, mas eterno, o amor, naquele tempo.
Saltei três vezes á fogueira,
Fazendo fisgas à morte,
Sant'António, dai-me sorte,
E amor p'ra vida inteira.
P'ra que o mê amor não sofra,
Oh Sant'António querido,
Queima-me bem a alcachofra,
E dá-lhe o cardo florido.
Havia as fogueiras dos santos populares.
E a rivalidade dos bandos dos rapazes da tua rua
E a rivalidade dos bandos dos rapazes da tua rua
e das ruas vizinhas,
da rua Grande, do Clube, das Aravessas...
Faziam-se e desfaziam-se por essa altura, os bandos, as alianças,
E tudo por causa dos santos da nossa devoção.
Era ver quem conseguia roçar, juntar e acarretar
mais mato e lenha para as fogueiras.
Faziam-se e desfaziam-se por essa altura, os bandos, as alianças,
E tudo por causa dos santos da nossa devoção.
Era ver quem conseguia roçar, juntar e acarretar
mais mato e lenha para as fogueiras.
Durante as semanas anteriores,
já andavam a roçar mato
e a escondê-lo uns dos outros.
Chegava a haver assaltos, roubos, ataques, cabeças rachadas…
Arranjavam-se aliados ocasionais, guardas e sentinelas,
nos mais velhos que tinham currais ou fazendas por ali perto,
Chegava a haver assaltos, roubos, ataques, cabeças rachadas…
Arranjavam-se aliados ocasionais, guardas e sentinelas,
nos mais velhos que tinham currais ou fazendas por ali perto,
à volta dos moinhos de vento
e do castelo dos mouros.
O Néu, da ti Albertina, que já morreu,
O Néu, da ti Albertina, que já morreu,
emprestava a carroça,
puxada por uma burra…
Era um mundo estritamente masculino,
de brincadeiras de rapazes, aprendizes de machos,
Era um mundo estritamente masculino,
de brincadeiras de rapazes, aprendizes de machos,
futuros bravos soldados do império.
As meninas, essas, de saia de chita, brincavam entre elas
com bonecas de papel ou matrafonas de pano
sob a supervisão das irmãs mais velhas, das mães ou das avós.
As fogueiras faziam-se no largo inclinado dos Celeiros
(ou da Bica, por que havia lá um fontanário de 1936,
obra pública do Estado Novo).
com bonecas de papel ou matrafonas de pano
sob a supervisão das irmãs mais velhas, das mães ou das avós.
As fogueiras faziam-se no largo inclinado dos Celeiros
(ou da Bica, por que havia lá um fontanário de 1936,
obra pública do Estado Novo).
Na rua mais alta da vila,
a do Cemitério ou do Castelo ou dos Valados.
Só havia uma fogueira.
A rivalidade consistia em saber alimentá-la,
e não deixar apagá-la.
E, quanto maior fosse a labareda, melhor.
A rivalidade consistia em saber alimentá-la,
e não deixar apagá-la.
E, quanto maior fosse a labareda, melhor.
E só os valentaços se atreviam a furar aquela parede de fogo.
O arraial do largo dos Celeiros
era o orgulho dos meninos da vila velha
e atraía os vizinhos das ruas adjacentes
e os parzinhos,
e os parzinhos,
mais os casados e os solteiros.
“Um tostãozinho, vizinho, vizinha,
“Um tostãozinho, vizinho, vizinha,
p'ro Sã João!”…
Era o mais querido dos três santos populares, o São João,
Era o mais querido dos três santos populares, o São João,
porque era menino.
A seguir vinha o Santo António,
A seguir vinha o Santo António,
matreiro, casamenteiro e brejeiro.
Ao São Pedro, de barbas brancas compridas,
Ao São Pedro, de barbas brancas compridas,
já ninguém lhe ligava nenhuma.
E depois já se tinha gasto a lenha toda…
E depois já se tinha gasto a lenha toda…
P'lo São Pedro os felizardos juravam amor eterno.
E os rapazes iam às sortes.
Com os tostões angariados,
os pequenos donos do arraial dos santos populares
compravam bichas-de-rabear,
estalinhos,
estalinhos,
serpentinas
e até bombas de Carnaval…
E, claro, guloseimas e pirolitos.
Os sonhos pequenos de gente de palmo e meio,
e até bombas de Carnaval…
E, claro, guloseimas e pirolitos.
Os sonhos pequenos de gente de palmo e meio,
ás guerras de índios e cobóis.
Mal sabiam eles que dentro em breve
iria estalar uma guerra a sério,
e que os brinquedos da guerra
já não seriam as bombas de carnaval
nem as bichas-de-rabear
nem as fogueiras de saltar.
Lourinhã, Luís Graça (2005). Revisto, 13/6/2025.
__________________
Nota do editor LG:
sexta-feira, 21 de março de 2025
Guiné 61/74 - P26602: Blogpoesia (803): No Dia Mundial da Poesia: "A Noite Mundial da Poesia", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
© ADÃO CRUZ
A NOITE MUNDIAL DA POESIA
Voa no céu o som de um violino
chorando um poema perdido
não se sabe onde nem quando
se na claridade dos poetas mortos
se nas sombras da vida errando.
O dilema entre o silêncio e a palavra
nasce da lógica discursiva
que cabe no ridículo do poema
quando o poeta tudo vê e nada sabe.
Há um dilema entre o silêncio e a palavra
quando em teatral mensagem de poema
o poeta sonha e delira
ao enganar a poesia
nos buracos negros da mentira.
Morre a razão
nas palavras perdidas na aridez do verso
e foge a poesia da rima e dos espaços
quando do poema corre o sangue
de um mundo feito em pedaços.
Reside a poesia no silêncio de quem um dia
espera ouvir a sua voz
com ouvidos que a mereçam
mas neste tempo de ruídos e ruínas
só mudos ecos chegam até nós.
A poesia tem olhos de céu infindo
olhos de distância e de mil fontes
na planura de mil campos e horizontes.
Mais rente ao chão
voa a poesia ao redor do sentimento
como borboleta em jardim disperso
poisando na flor apetecida
onde canta a beleza de um verso.
No mundo de hoje
sem alma nem sentimento
amordaçado de mil gritos levados pelo vento
debate-se a verdade e a mentira
entre o rosto e a máscara do poema
sobrando nas entrelinhas da secura
sem dor no coração
os restos mortais
de milhões de crianças caídas no chão.
No mundo de hoje
não pode haver poetas vivos
alheados de hipócritas metáforas
estendidas sobre a mesa da vaidade
ou penduradas nos olhos da cidade.
No mundo de hoje
não pode haver poetas de almas caladas
adormecidas na noite mundial da ilusão
dando apenas ares de acordadas
quando sonham poesia nos avessos da razão.
adão cruz
_____________
Nota do editor
Último post da série de 15 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26269: Blogpoesia (802): "O sonhador é um fazedor de carências", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Guiné 63/74 - P26408: Manuscrito(s) (Luís Graça): A gramática da vida (poema dedicado ao João, que hoje faz anos)
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez > Iemberém > Dezembro de 2009 > O Dr. João Graça, médico e músico, ofereceu cinco dias (de 6 a 10 de Dezembro de 2009) das suas férias de quinze dias (de 5 a 19 do corrente), para trabalhar como médico no Centro de Saúde Materno-Infantil de Iemberém. Para além de Bissau e do Cantanhez, esteve também nos Bijagós, na zona leste (Bambadinca, Tabató, Bafatá, Contuboel e Gabu) e na região do Cacheu (São Domingos)
Aceitou, no regresso, integrar a nossa Tabanca Grande e a publicar alguns apontamentos e fotos do seu diário de viagem.
Espantosa, a primeira foto de cima, em que o menino de Iemberém, a aprender a gramática da vida, como que nos interpela, a todos, não só os pais-fundadores e os homens grandes da Guiné-Bissau mas também todos nós, portugueses, europeus e cidadãos do mundo... "Que lugar há para mim neste mundo que devia ser meu e teu, o nosso mundo, o único lugar que temos para nascer, crescer, viver e morrer com saúde, em liberdade, com dignidade, em paz ?"
A gramática da vida
Ao João, que hoje faz anos
Contra o ponto (.) a vírgula (,)
Contra o ponto de exclamação (!) as reticências (…)
CONTRA OS TíTULOS DE CAIXA ALTA,
o ponto de interrogação (?).
Ou então abram alas, malta,
parênteses, curvos ( ) ou rectos [ ],
e parem só aos sinais de proibição.
... Por precaução.
E ao Não!, digam Não!, ponto de exclamação (!).
E aqui carreguem nos sinais de interjeição:
Ai! ei! ii! oi! ui!...
... Que, com a vida sem pica, a gente fica
sem palavras nem (lo)comoção!
Ao sinal verde, toca a arrancar e a marchar
contra os OOO da arrogância,
os UUU da flatulência,
os III da intolerância,
os EEE da estupidez,
os AAA da bravata e os RRR do arroto,
mais os ÇÇÇ do caraças da doença,
e, pior, os acen(t)os da demência.
Cuidado, ao final das escadas,
â direita,
o cano de esgoto,
não escorregar em contramão.
... Não há receita contra as gralhas e as calinadas,
e os atropelos à decência.
War is over, baby,
bela bajuda de mama firme,
tira fora o chapéu de abas largas
e atira flores aos que morreram,
em terra, no ar e no mar,
pelas causas que não têm deferimento.
... Não os deixes inumar
na vala comum do esquecimento!
Cuidado, camarada,músico do mundo,
trânsfuga, refractário, desertor,
prisioneiro, inimigo, comissário,
capelão, comandante, detrator,
miliciano, agente duplo, lavadeira,
escriturário, artilheiro, piloto,
grumete, xico, cadete, capitão,
crente ou ateu, tanto faz,
e olha o robô,
que, no fim da picada, podes ser cuspido, zás!,
pela força centrífuga do silvo da cobra cuspideira
que se mordeu a si própria.
... Mas, a sério, ninguém se magoou ?
Quanto ao macaréu, já não é o que era,
garantiram-te no Xime...
Deixaram assorear o Geba Estreito,
que crime!,
os administradores das águas fluviais
braços de mar, tarrafes e canais de irrigação
da liberdade criativa.
... Dizer que o trabalho é bom p'ró preto
já não é politicamente correcto. Corta.
Mas que importa,
se já nem vocês se afoitam, pessoal,
de peito feito, aberto,
contra os jagudis imperiais do Corubal
que comeram as últimas letras do alfabeto.
... Morreram todos, os cabras-machos!
Para que serve afinal a liberdade sem a poesia nem a "bianda" ?
Há que pôr os pontos nos ii,
no semáforo intermitente,
engraxar as botas,
brunir os colarinhos,
escovar o camuflado,
serrar fileiras e os dentes,
pensar na puta da vida,
e no povo, agora, murcho, calado e tolo,
e abrir aspas entre as falas em crioulo.
... Enquanto o corpo está quente e o sangue sai às golfadas.
Até o barqueiro, coitado, perdeu o k da kanoa,
varada no tarrafo do Mato Cão.
Sem o til.
... Levaram-no, ao pobre do til, para o canil de Lisboa.
Há agora um fantasma de um quarteleiro
à procura das estrias, frias, do morteiro...
Triste samurai, aquele, que não encontra o fio nu da espada,
E em vão procura o historiador o rumo da história.
... E, ai! do pobre (a)tirador,
aquele que se mata a (a)tirar
o acento circunflexo da bala na câmara.
Encontraste um 'djubi', numa escola do mato,
exercitando o seu estilo caligráfico,
em caderno de duas linhas,
de acordo com a norma do acordo pouco ortográfico.
... Oxalá, Insh'Allah, Enxalé!
Resta o humorista, o velhaco,
que é sempre o último a perder
os quatros humores,
já no fundo da pista onde acabam todas as peugadas:
sangue, pouco e fraco, diz o o doutor,
fleuma, de mal a piores,
bílis amarela, quanto baste,
e bílis negra, às carradas.
... Que o último a morrer,
nem sempre é o que morre melhor.
Que o que faz bem ao braço, faz mal ao baço
e já não há coração que aguente
a pressão hiperbárica do pulmão.
O fígado, esse, mesmo de aço e de inox,
é um passador crivado....
... De balas sem ética nem estética, diz o raio X.
Não sabes o que é que faz mais urticária,
ao tabanqueiro viril, que não arreda pé,
se a inveja do pobre em hidratos de carbono
ou a pesporrência do rico em sais minerais.
Resta a cruz de guerra
da guerra de mil e troca o passo, na Guiné,
e os seus heróis.
Não sabes o que é que faz mais urticária,
ao tabanqueiro viril, que não arreda pé,
se a inveja do pobre em hidratos de carbono
ou a pesporrência do rico em sais minerais.
Resta a cruz de guerra
da guerra de mil e troca o passo, na Guiné,
e os seus heróis.
... Todos diferentes, todos iguais.
Quanto à vida, baby,
no fundo, é tudo tretas:
sangue, suor e lágrimas...
é quando se tem 20 anos,
força nas canetas,
e muito esperma para dar e vencer.
Agora já se não usam palavras com trema.
... Nem tu sabes o que fazer com este poema.
De qualquer modo,
quando a gente morrer,
que não seja por falta de imaginação,
ou de habit(u)ação,
ou de fim do prazo de validade,
que seja ao menos numa cama fofa,
de consoantes e vogais.
Sem travessão. E com piedade.
...E mais:
dispensemos a notícia nos jornais.
dispensemos a notícia nos jornais.
Luís Graça
© 2008 | Revisto em 21/1/2025
____________
© 2008 | Revisto em 21/1/2025
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Nota do editor:
Último poste da série > 30 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26326: Manuscrito(s) (Luías Graça) (264 ): Volta sempre, Irmão Sol
domingo, 15 de dezembro de 2024
Guiné 61/74 - P26269: Blogpoesia (802): "O sonhador é um fazedor de carências", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
O sonhador
é um fazedor de carências
Tu és uma profunda sonhadora
a minha carência
de um belo sonho de uma noite de luar
à beira de um imenso mar azul
o colo cintilante de estrelas
e os lábios húmidos de poemas.
Os olhos são os mesmos
a boca não mudou de lugar
e os beijos ainda lá estão
a atear a última chama do verão.
Diz-me onde tens a alma
gostava tanto de saber
gostava tanto de beber
um cálice de Vodka
ou de Porto
à saúde da tua alma
Ou de fel…não importa.
Vagueio horas a fio
preso aos dias e às noites
se calhar a vida inteira
à procura de um verso que perdi
não sei onde nem quando…
não sei se na vida errando
não sei se dentro de ti.
adão cruz
_____________
Nota do editor
Útimo post da série de 2 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26002: Blogpoesia (801): "Preso à cidade", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
é um fazedor de carências
Tu és uma profunda sonhadora
a minha carência
de um belo sonho de uma noite de luar
à beira de um imenso mar azul
o colo cintilante de estrelas
e os lábios húmidos de poemas.
Os olhos são os mesmos
a boca não mudou de lugar
e os beijos ainda lá estão
a atear a última chama do verão.
Diz-me onde tens a alma
gostava tanto de saber
gostava tanto de beber
um cálice de Vodka
ou de Porto
à saúde da tua alma
Ou de fel…não importa.
Vagueio horas a fio
preso aos dias e às noites
se calhar a vida inteira
à procura de um verso que perdi
não sei onde nem quando…
não sei se na vida errando
não sei se dentro de ti.
adão cruz
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Nota do editor
Útimo post da série de 2 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26002: Blogpoesia (801): "Preso à cidade", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
domingo, 6 de outubro de 2024
Guiné 61/74 - P26015: (In)citações (265): "Entre o Sono e Sonho, Pesadelos", por Juvenal Amado, dedicado a "Manuela"
1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 4 de Outubro de 2024:Caros camaradas
A nossa geração foi moldada por tempos difíceis, mas nada nos preparou para vermos os nossos sofrer com impiedosas maleitas de fim incerto que a vida nos presenteia. 20 meses passados veio a notícia de que o mal disseminado pelo o corpo todo, tinha sido derrotado.
Mais uma vez o SNS na forma do hospital S. Francisco Xavier e IPO foram o caminho para esta vitória sobre o sofrimento e a adversidade. Bem hajam os médicos , técnicos e enfermeiros pelo o trabalho e carinho.
Abraços
ENTRE O SONO E SONHO
PESADELOS
A notícia chegou nas asas negras do desespero
Ouvíamos silenciosos
Expectantes incrédulos
Estaria a falar de ti ou seria um sonho?
A portadora tentava modelar o impacto
devastador da confirmação
A negritude da noite pairava
Apertei-te a mão
Vieram as sessões de quimioterapia
Num acto de coragem rapaste o cabelo
Ali estavas desprovida de adornos
Bela na sua face mais primária
Os vómitos as dores os desânimos
O internamento as transfusões
Regressaste a casa com uma força que nunca julgaste ter
A pele cor de terra
Afundada na neutropenia
A seguir emergias
Reerguias-te do vale de sombras
Para continuar o combate desigual
Perguntavas se terias salvação e sorrias
Orgulhosamente olhaste a morte de frente
O calvário continuou com a rádioterapia
Sem queixume sem pragas
Só doçura só amor pelos outros
Esperas o que Futuro nos trás
És a imagem própria coragem
Tu nunca aceitaste a finidade sem luta
O longo sono pode esperar
Mais uma vez venceste.
“Para Manuela”.
Juvenal Sacadura Amado
_____________
Nota do editor
Último post da série de 26 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25984: (In)citações (264): Naquela época era-nos proibido falar muito sobre a política da guerra em África (Tony Borié, ex-1.º Cabo Op Cripto)
quarta-feira, 2 de outubro de 2024
Guiné 61/74 - P26002: Blogpoesia (801): "Preso à cidade", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
©Foto de Manuel Cruz
PRESO À CIDADE
Preso à cidade
nesta inquietante angústia das sombras
ao redor de um tudo-nada que nos prende e constrange
cai dos telhados o pó cinzento de uma neblina estranha
que definha as ruas e arrasta as horas na lentidão dos passos.
Lá atrás
uma réstia de luz presa ao vidro de um candeeiro partido
sob as janelas podres
lembra que se alma houvesse
seria fácil presa de um qualquer rígido corpo
enjoado de farsas e falácias amontoadas no lixo.
A noite caiu de forma estranha sobre a cidade sem corpo
definhada de luz e consciência
deixando atrás de si os últimos passos de uma existência
presa a todas as obscurantistas ordens estabelecidas.
Até o vento se foi
para não arrastar a neblina estranha
e para não calar o pesado silêncio que se prende ao corpo
como mortalha do tempo que desfaz a réstia de luz
presa ao vidro de um qualquer candeeiro partido.
Ainda ontem era dia nos braços do trabalho
e nas carnes que não conheciam o exílio
recusando morrer fora dos sonhos e da vida
e o vento varria o silêncio
para libertar o corpo e a mente
da neblina das noites pegajosas.
Havia certezas por entre os tremores da indecisão
havia sorrisos verdades e ilusões
e havia brisas sonâmbulas calando os medos
e havia rios arrastando as paredes negras
e todas as sombras dos candeeiros partidos.
Preso à cidade
na tristeza que nos envolve e nos liberta o pensamento
cai dos telhados a poeira do tempo
que cala as ruas e prende as horas na lentidão dos passos
e abre no chão quadriculado um espelho negro
com um menino tocando o céu azul
rodeado de pássaros e flores e rios cristalinos
e nos estende a mão num gesto de paz que nos acalma e nos perdoa
e carinhosamente
e sigilosamente
nos devolve ao nada por um caminho oculto
irreversível.
adão cruz
_____________
Nota do editor
Último post da série de 19 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25660: Blogpoesia (800): "O Amor e a Vida", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
quarta-feira, 19 de junho de 2024
Guiné 61/74 - P25660: Blogpoesia (800): "O Amor e a Vida", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
O AMOR E A VIDA
Se o amor vive longe da vida e a vida longe do amor
não sei onde fica a vida.
Sei que ela vive no caminho simples dos montes e mora na música das flores
talvez na casa da poesia.
A vida só é poema quando se encontra o amor no caminho da vida e se descobre que o homem e o sol são irmãos naturais.
A vida só é poema quando o amor diz à vida que a neve pode ser pintada de cores quentes e o mar cabe dentro de uma gota de orvalho.
O amor é o lugar das palavras e dos versos onde a vida se faz poema.
A vida é a voz do silêncio quando o sonho dorme
e o amor a canção da vida quando o sonho acorda.
Nunca a vida foi aurora resplandecente nem infindo vazio de nada.
A vida é o criar flor a flor
fio a fio
espinho a espinho
a esperança no alvor da madrugada.
Porque a vida é dar e não ter nada.
Há sempre um raio de luz ou apenas um copo de vinho
para acender o sol em qualquer horizonte rente ao chão ou rente ao mar.
Os dias são cada vez mais curtos e as noites mais pequenas para acordar no meio de um sonho bonito.
Por isso o mar e o rio
o Amor e a Vida.
As margens do rio não secam
e as ondas do mar nunca estão de partida.
Mais doces ou mais agrestes
beijam sempre as águas revoltas de tudo o que mexe dentro de nós.
Nós não somos mais do que a vida.
A vida não é mais do que nós.
adão cruz
_____________
Nota do editor
Último post da série de 21 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25294: Blogpoesia (799): No Dia Mundial da Poesia - "Lágrimas" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil Art MA)
quinta-feira, 21 de março de 2024
Guiné 61/74 - P25294: Blogpoesia (799): No Dia Mundial da Poesia - "Lágrimas" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil Art MA)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Gaspar, ex-Fur Mil Art, Minas e Armadilhas da CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), com data de hoje, 21 de Março, Dia Mundial da Poesia:
Caros Camaradas do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné
Os anos passam e os jovens que partiram para uma guerra, e deixaram de sonhar – o meu caso – atingiram uma outra idade mascarada com um rosto de cabelo grisalho.
Tive ontem Alta do Hospital Pulido Valente. Foi mais um internamento, a juntar a outros. Em pouco tempo, desde 2022 estive hospitalizado 7 longos meses, sem resultado algum.
Sou Deficiente das Forças Armadas, diz-se com um mundo de benefícios – e com razão de ser – mas verdade seja dita que sempre me considerei alguém com Saúde e hoje sou simplesmente um bicharoco sem significado para aquilo que denominaram de Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Mas, não é essa a razão que considero importante para hoje. É o Dia Mundial da Poesia. Chorar não choro. Não recordo sequer qual a última vez que chorei. A Guerra Colonial foi uma fonte de lágrimas.
Aqui vai o contributo de um Aprendiz, também da Poesia, referente a este dia.
A Minha Homenagem aos Soldados Portugueses – os Melhores Soldados do Mundo – sempre foi a minha opinião.
Abraço a todos os combatentes
Mário Vitorino Gaspar
“Ninguém vê as minhas lágrimas, mas choro
A coragem do último sorriso…”
José Gomes Ferreira
Lágrimas
Lágrimas nascem…
correm ao desafio!
Umas crescem,
outras, ao desvario
desaparecem
fio a fio!
Perdidas aos molhos,
brotam dos olhos!
Lágrimas aos bocados,
são versos,
beijos chorados…
Vagos, dispersos,
de todos os lados,
pontos diversos!
Mulher que chora…
Ama, a cada hora...
Lágrimas são lume,
ardem… É cruel!
Doce volume,
favo de mel,
vermelho de rosa…
cor da alma!
Flor cheirosa,
escorre com calma…
Lágrimas têm o rumo,
e, num instante –
presumo –
de modo elegante,
assumo,
e cativante,
tem o seu caminho,
o rosto, seu ninho!
____________
Nota do editor
Último poste da série de 8 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25251: Blogpoesia (798): No Dia Internacional da Mulher - "A Mulher que amanha o peixe", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
sexta-feira, 15 de março de 2024
Guiné 61/74 - P25275: Os 50 anos do 25 de Abril (1): Nos 50 Anos de Abril... O Meu Herói de Abril: Cap Salgueiro Maia (António Inácio Correia Nogueira)
Salgueiro Maia - A partir de foto do Afredo Cunha (1974).
Wikipédia (com a devida vénia...)
Caros camaradas
Grato vos fico pelo gesto que tiveram p´ra comigo.[1]
Como agradecimento ofereço-vos esta despretensiosa poesia que acabo de produzir.
Abraço amigo
António Inácio Correia Nogueira
TESTEMUNHOS
Nos 50 Anos de Abril… O Meu Herói de Abril
Trouxeste as G3, as Chaimites e os velhos tanques d´aço,
E muitos jovens estremunhados, mas de rosto novo; e Santarém deixaste.
Ó Maia tu nunca quebraste!
E ao som do rom-rom da coluna militar,
Numa mão agarraste a G3 e na outra a liberdade, e puseste-te a andar;
Nas sacudidelas da estrada sonhaste com a guerra em Guidage, na mártir picada,
P´ la tormenta do combate esburacada,
Da sua terra vermelha, salpicada de sangue, que trilhaste,
Nos senhores da Guerra, perversos, que encontraste.
Ó Maia tu nunca quebraste!
Chegou a hora, olhas o despontar da imaginada madrugada,
O casario lisboeta, as colinas e o mar dos Descobrimentos de espuma prateada;
Tudo já te parecia novo, libertado,
Enquanto os ditadores dormiam, o sono na tirania, sossegados.
Paraste, sem medo; puseste firme a bota na calçada e, logo a vitória vislumbraste.
Ó Maia tu nunca quebraste!
A Capital do Império, a Praça,
De repente ela é tua; o concebível revés, de repente é graça!
Sobes ao Carmo, o sangue da picada que lembraste, está de cravos vermelhos festejada,
O povo clama, arrebatado, liberdade, liberdade, liberdade!...
Embriagado, lança o mito o “povo unido jamais será vencido”.
As armas, lá longe no calor do capim, calaram,
Os soldados de além-mar regressaram.
O povo é todo teu,
Ai, quem diria, o ditador pereceu.
Porque tu, Maia, nunca quebraste!...
Fizeste tudo para além do que baste.
Tu és o herói, a essência, o corpo maior,
O âmago das coisas boas de Abril,
Da liberdade celebrada,
Há 50 anos.
Tu és um Salgueiro que não desfalece, não desalenta.
Eterno serás,
Porque não voltaste atrás.
Ó Maia, sabes, o meu herói de Abril és tu!... Sempre.
____________
Nota do editor:
[1] - Vd. Post de 7 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25247: O nosso livro de visitas (221): O nosso camarada António Inácio Correia Nogueira pôs à disposição da tertúlia a Tese que apresentou à Universidade Fernando Pessoa como parte dos requisitos para obtenção do grau de Doutor em Ciências Sociais, especialidade em Sociologia
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sexta-feira, 8 de março de 2024
Guiné 61/74 - P25251: Blogpoesia (798): No Dia Internacional da Mulher - "A Mulher que amanha o peixe", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

A MULHER QUE AMANHA O PEIXE
Sempre que a vejo
no supermercado onde vou
reconheço que não é por acaso.
Muito bonita a mulher que amanha o peixe
(não sei se amanha se amanhece).
Rosto combatido
dorido
olhar sofrido e manso
não sei o que faz desta mulher um poema
se os olhos negros e fundos
se o desenho rasgado da face
se um gesto brusco da natureza
revoltada de cansaço.
Um vale profundo entre o cá e o lá
banca de peixe
mar imenso
mar morto
do outro lado um peixe vivo no céu
tocando o mar
estripando com mãos invisíveis
entre lágrimas e sangues
as entranhas da vida
nas elegâncias difíceis dos plásticos
cobertos de escamas.
Passos molhados
encharcados
pesados
cheirando a algas
ondas de tempestade
no lindo rosto marcadas
pela ânsia de voar.
Com tantos apetrechos de borracha
botas altas
luvas e avental
não sou capaz de adivinhar
o corpo que tem por baixo
nem quero que aconteça o tal.
A mulher é segredo
a mulher é sonho
sonho de si mesma
no olhar dos outros
sonho de ventre liso
crescente de imensidão
fonte de pão e de leite
eternidade e sorriso
dança de movimento
para além das formas
e da imaginação.
Trepadeira de vida e de morte
olhos que se abrem no céu
e repousam no mar
mãos de todas as direções
ainda que vestidas de plástico
amanhando o peixe.
Não sei se é casada ou mãe
se é tudo ou nada
no reduto escasso do dia-a-dia
nem me interessa.
Bastam-me os olhos infinitos
a boca seca de beijos
a dor-desenho dos lábios
a doçura-criança que não cresceu
por falta de uso
tempo e espaço.
O corpo desta mulher está na face
oculta e sedenta
na ânsia fervente do impulso
na mais íntima agitação do mundo
e da dimensão
que pode caber numa banca de peixe.
Difícil acertar ideias e olhares
quando só olhares fazem ideias...
Enfeita-se a beleza desta forma estranha
criando beleza no amanhar do peixe.
Cruel seria descobri-la a dançar
pesadamente etérea e volátil
nos salões de púrpura da mulher vulgar
entre rendas e espumas
que não são espuma do mar.
Como sempre, tenho de dizer até amanhã
sou forçado a serenar as ondas
a desnavegar meu barco.
Muito obrigado.
Não tem de quê.
Você é das mulheres mais lindas que já vi.
Muito amável, um exagero...
Faça o senhor o resto das compras
e depois passe por cá.
Buscar o peixe... ou voltar a vê-la?
Sei lá!
adão cruz
____________
Nota do editor
Último post da série de 11 DE FEVEREIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25158: Blogpoesia (797): "Mãos de hoje que foram de sempre", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
domingo, 11 de fevereiro de 2024
Guiné 61/74 - P25158: Blogpoesia (797): "Mãos de hoje que foram de sempre", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
MÃOS DE HOJE QUE FORAM DE SEMPRE
Na noite que já não é mais noite de madrugadas perpassa em doce silêncio por entre os dedos dormentes uma brisa dolente esquecendo as mãos na paz adormecida.
Por entre os frágeis dedos de quietude e silêncio perpassa agora em suave melancolia o magro regato da secura da vida arrastando em seu leito rugoso a triste canção de um tempo sem cor nem movimento.
O lento gesto do abrir destas mãos de tantos anos vividas cai agora em pesado silêncio por entre as malhas da sombra no impiedoso vazio das mãos cheias de nada.
Foi-se embora a madrugada das manhãs perdidas no tempo em que o sol sorria por entre os sonhos e as mãos cantavam a força da vida como ondas do mar entre os dedos frementes.
No penoso abrir e fechar de mãos deste plangente gesto do fim do dia feito canção de tão gélido silêncio apenas a saudade se aninha no fundo escuro para morrer sozinha.
Adão Cruz
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Nota do editor
Último poste da série de 28 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25116: Blogpoesia (796): "A Mensagem que deixaste", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
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