1. Mensagem do nosso camarada António Paiva, (ex-Soldado Condutor Auto no HM 241, Bissau, 1968/70), com data de 2 de Julho de 2011:
Caro Carlos,
Esperando que tudo esteja bem contigo, aí te mando uma História, faz dela o que bem entenderes.
António Paiva
Histórias de um Condutor do HM 241 (13)
Cristo Rei na Arnaldo Schultz… e eu a dizer adeus.
Casa dos Médicos em Bissau
Foto © Mário Bravo (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
Quanto fui colocado no lugar que me estava destinado, já com mais de um mês de Hospital por ser lá que se encontrava o camarada que eu ia render, entregaram-me um Rolls Royce, descapotável, novinho em folha (pois tinha sido todo reparado e pintado de novo), era mais claro que os outros ME-66-11, potente, rápido e bem desenvolvido, com acelerador de chumbo, nunca recusando um bom desafio.
Como sabem de Histórias anteriores, aos sábados e domingos eu era uma ave livre, mas, se num destes dias me encontrasse dentro do Hospital, poderia de um momento para o outro, em caso de emergência, ter de levantar voo em qualquer direcção.
Num desses dias, mandaram-me ir buscar o Dr. Saavedra [Machado] , à casa onde ele se encontrava, situa na Arnaldo Schultz, apesar de haver outra na Guerra Junqueiro.
Pois bem, não fui de modas nem perdi tempo. Meti-me no meu Espada e ala que se faz tarde… prego a fundo, que ele gostava.
Quando cheguei à rotunda Teixeira Pinto, a besta tinha ficado com o freio nos dentes e dificultou-me a manobra. Com alguma destreza lá consegui que ela fizesse a curva sobre as duas patas direitas e com as esquerdas no ar. Quando consegui ficar direito na Avenida, e continuando a acelerar, logo lhe disse:
- Cabrão de merda ou tomas juízo ou levas nos cornos… agora vais dar, f... da p....
Como sabem, indo nesse sentido, lá mais à frente, curvava à direita e começava a descer, a Casa dos Médicos era 20 ou 30 metros mais à frente.
Não tinha abrandado, quando entro na curva, já o Dr. Saavedra Machado estava à porta. Passei por ele que abriu os braços (como Cristo Rei) dizendo-me:
- Então?
Com a mão direita disse-lhe adeus. A partir daquele momento, tinha duas hipóteses: Virar à direita… Praça do Império; ou seguir em frente, a descer ainda mais… Estrada de Santa Luzia.
Não e não, não queria, vi o descampado enorme à esquerda e virei para lá. A besta parou numa poça com água… coitada, tinha sede!
Engatei marcha atrás, subi a avenida e parei para que entrasse o grande companheiro que eu tinha de levar até ao Hospital. Como devem imaginar, houve perguntas e respostas, mas em conversa animada e marcha moderada, lá chegámos ao destino… usando o travão de mão.
Terminada a missão, tive de levar o malfadado jeep, que tantos nomes teve, para a oficina, por ter um buraco na tripa, ou seja, um buraco no tubo do circuito do óleo do sistema de travões (dáí eu ter ficado sem o de pé).
Devia ser giro se a PM me visse fazer a curva de Teixeira Pinto.
Um abraço
António Paiva
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Notas de CV:
(*) Vd. poste de 28 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8482: Os nossos médicos (28): Diamantino Lopes, cirurgião do HM241, praxista coimbrão, com grande sentido de humor (António Paiva / J. Pardete Ferreira)
Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6445: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (12): Um PM devidamente fardado apesar das circunstâncias (António Paiva)