Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > c. 1972/74 > A avioneta Dornier DO-27 que o ex-ten pilav António Martins de Matos (BA 12, Bissalanca, 1972/74) (nome de guerra, "Batata") também pilotou muitas vezes, sobretudo no primeiro ano da comissão. A Alemanha forneceu à FAP 147 avionetas Dornier DO-27, ao abrigo do acordo da Base Aérea de Beja. Algumas eram novas, outras usadas, todas as revisões foram feitas na OGMA.
1. Devido ao boicote internacional (e às pressões políticas dos nossos aliados da NATO, a par das proibições dos EUA no que dizia respeito ao uso de certas aeronaves como, por exemplo, o F-86, cedidos no âmbito do Programa de Assistência Militar), não foi fácil garantir o armamento e as munições necessárias aos helicópteros e aviões da FAP durante a guerra do ultramar / guerra de África / guerra colonial.
A nossa indústria de guerra teve de encontrar "soluções criativas" (sic), tendo chegado a usar "munições de artilharia do exército, para fabricar bombas para os aviões" (Pedro Marquês de Sousa, "Os números da Guerra de África". Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, pág. 229).
Segundo esta fonte, uma das bombas mais usadas terá sido a bomba de fragmentação FR M/62, de 20 kg., adaptada da granada da peça de artilharia 11,4 cm, britânica.
"Na fábrica de Barcarena, foram retiradas as cargas explosivas dessas granadas de artilharia para serem adaptadas na empresa Precix e serem novamente carregadas em Barcarena" (ibidem, pág. 229).
O mesmo terá acontecido, mas com outras empresas ligadas à indústria da defesa, com as bombas FG M761, de 50 kg, FR M/64, de 200 kg, e ainda as bombas incendiárias IN M/65, de 100 litros. A Precix, uma empresa metalúrgica, especializou-se também no fabrico de espoletas.
2. No que diz respeito ao armamento, usado pela FAP, é de destacar o canhão MG-151, de 20 mm, que equipava os AL III (helicanhão ou "Lobo Mau").
Foram também utilizadas metralhadoras Browning, de calibre 7,7 mm e 12,7 mm, bombas gerais e de fragmentação de 500 libras e de 750 libras, e de 15, 50 ou 200 kg; foguetes FFAR 2,75, SNEB 37 mm, etc.. Tratava-se de adaptações da indústria nacional.
As munições de 20 cm para o helicanhão eram as únicas que se adquiriam, diretamente aos fabricantes estrangeiros, usando os circuitos normais do mercado.
A OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico), com instalações em Alverca, fez milagres nesta época.
Foi a OGMA que fez "as grandes adaptações nacionais para a guerra em África" (Ibidem, pág. 231): podiam-se citar, a título meramente exemplificativo:
- os aviões Harpoon (P2V5 Neptune), aviões de luta antissubmarina, transformados logo em 1961 em bombardeiros adaptados às condições dos trópicos;
- os T-6 G Texan (um avião monomotor, originalmemte de treino e instrução), provenientes de várias origens (EUA, França, RFA, África do Sul);
- os sete aviões B-26 Invader, comprados clandestinamente e usados em Angola e na Guiné;
- os 147 aviões ligeiros Auster fabricados sob autorização da empresa inglesa, e dos quais 60 foram atribuídos à FAP e enviados para o ultramar.
A Alemanha também forneceu 147 avionetas Dornier DO-27, "ao abrigo do acordo da Base Aérea de Beja". Algumas eram novas, outras usadas, todas as revisões foram feitas na OGMA.
Estas avionetas tiveram um papel fundamental durante a guerra de África, devido à sua flexibilidade e capacidade para operar em pistas de mato, improvisadas. Tiveram papel fundamental em missões como o transporte de correio, frescos epassageiros, a evacução de feridos, a observação e ligação, etc.).
Os aviões de transporte mais usados foram o C-47 Dakota e o Nordatlas, também de diferentes origens e fornecedores.
Já os helicópteros (AL II, AL III e SA-330 Puma) eram todos de origem francesa. Entre 1963 e 1975, a FAP adquiriu 142 Alouettes III e, entre 1969 e 1971, 13 Pumas. (Ibidem, pág. 232).
Nem a Fábrica da Pólvora da Barcarena, nem a Fábrica Braço de Prata nem a empresa metalúrgica Precix existem hoje... Resta a OGMA, ciada em 1918, e agora integrada no grupo brasileiro Embraer.
Ainda quanto a armamento, refira-se ainda o de mais três, a par do heli AL III, das aeronaves que conhecemos bem no TO da Guiné:
- T-6 Harvard: 2 + 2 metradlhadoras Btrowning 7,7 mm | foguetes 37 mm e 68 mm | lança-granada m/64 | bombas de 15 kg,, 50 kg e inendiárias de 80 kg / 100 l e 300 kg / 350 l;
- Fiat G-91: metradlhadoras Btrowning 12,7 mm | foguetes 75'' | bombas de 50 kg, FR 200 kg, 250 lbs, 500 lbs e 750 lbs;
- Dornier DO 27: foguetes 37 mm | foguetes fumígenos 70 mm / 27 | Fitting L19 (Ibidem, pp. 232/233)
3. Resumem-se aqui, por anos, algumas das principais aquisições de aeronaves pela FAP, entre 1960 e 1974 (entre parênteses, a quantidade)
- 1960 - Nordatlas (8);
- 1961 - T-6 G Texan (56) (+ 130, mais tarde) | Dakota (8) (+15, mais tarde) | Nordatlas (6)| Auster (ligeiro) (99) | Dornier DO 27 (133) ( + 14, mais tarde) | Douglas D-6 (transporte) (10) (...);
- 1962 - Nordatlas (3);
- 1963 - Helicópteros AL III (142) entre 1963 e 1975) | Cessna T-37 (instrução) (30);
- 1965 - T-6 (74) | B-26 Invader (7) | Nordatlas (14) (entre 1965 e 1970);
- 1966 - Fiat G-91 (caça) (40) | Douglas B-26 (bombardeiro) (7);
- 1969/71 - Helicóptero SA-330 Puma (13);
- 1970 - T-6 (69);
- 1971 - Boeing 707 - 3F5C (transporte, TAM) (2).
Fonte: Ibidem, pág. 233.
Esperemos que os camaradas da FAP possam acrescentar algo mais sobre esta matéria (ou corrigir o que está escrito, se for caso disso).
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Nota do editor:
Último poste da série > 26 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23462: A nossa guerra em números (19): Meios e operações da FAP - Parte I: número e tipo de aeronaves: helicópteros, aviões de combate, de transporte e outros