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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27182: Felizmente ainda há verão em 2025 (30): A "política de terra queimada": a guerra peninsular (1807-1814) e a guerra colonial no CTIG (1963/74) - II (e última) Parte



PAIGC > "O Nosso Livro 2ª Classe".  Reprodução da Lição nº 8 - Morés, pp. 28-29. O manual era também um instrumento de propaganda e doutrinação política.  É óbvio que o PAIGC nunca poderia ter, a céu aberto, um tabanca no Morés (ou no Cantanhez ou no Fiofioli)....Mas a lição era também para ser "lida" pelos amigos suecos e outros... E quem elaborava estes manuais não tinha verdadeiro conhecimento do terreno nem da luta de guerrilha, procurando sobretudo glorificar o Partido (sic) e dar um retrato idealizado, heróico e até romântico da vida nas "áreas libertadas"...  

Sabemos, infelizmente, como eram "as escolas, os hospitais e os armazéns do povo" nas áreas sob controlo IN... Mas também sabemos que a guerra de contraguerrilha (ou antissubversiva) era implacável... A palavra de ordem era sempre, para nós, operacionais: (i) aniquilar o inimigo; (ii) destruir todos os seus meios de vida; e (iii) recuperar/ aprisionar a população sob o seu controlo... Como em todas as guerras, em todos os tempos...


Um exemplar deste manual escolar do PAIGC, "O Nosso Livro - 2ª Classe", foi-nos remetido em 2007,  pelo correio, pelo Paulo Santiago (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72).  O livro foi elaborado e editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné (sic). Tem o seguinte copyright: © 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)...  (Só faltava o SPM, quer dizer, o código postal.)

A  primeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares, tendo sido impresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Tofters/Wretmans Boktryckeri AB.

Não é novidade para ninguém que a Suécia (a par da Noruega,  Holanda e outros países da Europa do Norte) foi o país ocidental que mais apoiou o  PAIGC, durante a guerra de guerrilha, não só política e diplomaticamente, como em termos financeiros e logísticos  (nomeadamente, no campo da educação, saúde, alimentação, transportes e comunicação).

Foto: © Luís Graça  (2007). Todos os direitos reservados. Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Na Guiné-Bissau, as queimadas faziam (e ainda fazem)  parte de uma prática ancestral: eram utilizadas sobretudo para renovar a fertilidade dos solos e criar novas zonas de pastagem para o gado. Era uma técnica agrícola comum em várias regiões de África, adaptada ao clima de estação seca e às necessidades das comunidades locais.

Todavia, durante a guerra colonial (e em especial entre 1963 e 1974), essa prática assumiu um carácter diferente. Tanto o PAIGC como o Exército Português recorreram à chamada “política da terra queimada”. 

Nada, afinal,  que não se tenha visto antes em outras guerras do século, ou até mesmo no passado (como a guerra peninsular, 1808-1814) (*).

No caso da Guiné, as práticas de "terra queimada", utilizadas pelos dois contendores,  incluíam:
  • Fogo posto no capim (ervas altas e secas), no tempo seco, dificultando a movimentação, aproximação e/ou ocultação do inimigo, eliminação de possíveis pontos de emboscada, etc ;
  • Bombardeamentos (recorrendo inclusive a bombas, granadas e balas  incendiárias) que destruíam aldeias, plantações e meios de subsistência (de um lado e do outro);
  • Criação de zonas devastadas para privar o adversário de apoio logístico e alimentar (por exemplo bolanhas, esconderijos, hortas ou pontas, poços, cais acostáveis, pontões, poços, linhas de telefone...);
  • Abate indiscriminado de gado vacum,  suino e caprino  bem como de todos os animais de criação (galinhas e até cães);
  • Destruição de culturas (mancarra) e de  todas as reservas alimentares (arroz) ...
Este uso da terra queimada teve consequências graves:
  • Ambientais e geográficas: destruiu importantes extensões de savana arbustiva, floresta e biodiversidade;
  • Sociais e demográficas: obrigou populações inteiras a deslocarem-se; riscou do mapa muitas tabancas (veja-se as cartas militares elaboradas na década de 50, antes do início da guerra; compare-se as tabancas que existiam e as que desapareceram com o início da guerra);
  • Económicas: dificultou a agricultura, com o abandono de bolanhas, e limitou a criação de gado, levando à desnutrição e à fome.

Algo que era uma prática tradicional de uso agrícola, já de si devastadora para o ambiente, com  degradação dos solos, etc.,  transformou-se, no contexto da guerra, numa estratégia militar destrutiva.

O uso do napalm (e/ou outras bombas incendiárias como o fósforo branco), por parte da FAP, terá sido limitado.   Contrariamente ao que aconteceu, por exemplo,  na Argélia e no Vietname... De resto, a escala era outra.

Mas também temos falado aqui pouco do tema, o uso de napalm e outras bombas incendiárias na Guiné, no contexto da política  de "terra queimada". 

O assunto está, de resto,  mal documentado e prestou-se no passado  (e ainda hoje) a relatos fantasiosos e propagandísticos.

 (i) Contexto histórico

O nosso blogue,
 outros testemunhos de antigos combatentes, bem como fontes académica reportam que tanto os guerrilheiros do PAIGC quanto as forças portuguesas recorriam ao fogo, tanto através de bombardeamentos aéreos (FAP) e artilharia  como pela queima deliberada de capim e vegetação seca, para dificultar as movimentações adversárias e destruir infraestruturas. 

O ataque a tabancas fulas, com balas incendiárias, por exemplo, era vulgar por parte do PAIGC no meu te,mpo (1969/71).
  
 
(ii)  Destruição de recursos e animais domésticos

Além das queimadas e bombardeamentos, tanto o Exército Português como o PAIGC recorreram a métodos que visavam privar o inimigo e as populações civis de recursos básicos.

Entre essas práticas destacavam-se:

  • abate indiscriminado de gado bovino, suino e caprino,além de criação doméstica ( galinhas, etc.) que representavam a riqueza e sustento das tabancas  (nas chamadas "áreas libertadas");

  • destruição de arrozais, "pontas" (hortas) e palmeirais,  pilares da subsistência alimentar;

  • O incêndio de celeiros e depósitos de arroz, essencial na dieta guineense.

(iii) Consequências imediatas
  • Fome generalizada, desnutrição: ao destruir  o gado e os alimentos, a guerra atingia diretamente os mais vulneráveis, mulheres, crianças e idosos;
  • Deslocações forçadas: aldeias inteiras foram obrigadas a abandonar as suas terras para procurar sobrevivência noutras zonas;
  • Colapso económico local: ao destruir os animais e colheitas, a base produtiva da sociedade rural guineense foi desmantelada.
(iv) Exemplos e relatos

Testemunhos de ex-combatentes portugueses e relatórios de operações como a Op Lança Afiada, lembram que as operações de “limpeza” incluíam não só a queima do capim, mas também o abate sistemático de animais e destruição de outros víveres, como arroz, deixando as tabancas devastadas.

Um antigo guerrilheiro do PAIGC relatou que muitas vezes, depois de uma ofensiva da tropa, regressavam às tabancas e encontravam os celeiros queimados e os animais mortos, como forma de pressão psicológica para afastar a população do apoio à guerrilha.

Nas memórias orais recolhidas em comunidades guineenses, ainda hoje se recorda o período da guerra como “o tempo da fome e do fogo”.
 

2. A Operação Lança Afiada (8–19 de março de 1969, Setor L1, Bambadinca)

(i) Contexto e Objetivos

Operação Lança Afiada foi uma das grandes operações de “limpeza” executadas pelo Exército Português no setor Leste (L1), região de Bambadinca, em março de 1969. Contou com cerca de 1 300 efetivos (incluindo oficiais, sargentos, praças, milícias e carregadores)  sob comando do coronel Hélio Felgas blogueforanadaevaotres.blogspot.com.

O objetivo declarado era eliminar, capturar ou expulsar o IN (inimigo), aprisionar a população sob o seu controlo,  e também destruir os recursos de vida com os quais as populações ali se sustentavam, forçando seu retorno sob controle português.

(ii) Impacto sobre gado e arroz

Durante a operação, foram destruídas numerosas tabancas,  queimados arrozais e mortos milhares de animais,  incluindo gado e animais domésticos, como parte da estratégia de terramoto na subsistência.

(iii) Condições e consequências humanas

A operação decorreu sob calor extremo ( entre 39 °C e 44 °C à sombra, e até 55–70 °C ao sol) com os soldados frequentemente revoltados com as rações fornecidas (classificadas como "intragáveis"), gerando uma sede extrema e problemas alimentares sérios; após o segundo dia, muitos já não conseguiam comer, e havia sinais de desnutrição e esgotamento.

Muitos soldados foram evacuados:  110 foram retirados por desidratação, desnutrição, esgotamento físico ou stress psicológico.

(iv) Resultado tático e retaliações

Combatentes do PAIGC e populações civis conseguiram atravessar o rio Corubal juntamente com um mínimo de víveres  (como cães, porcos e galinhas), escapando da operação (não havia tropa na margem esquerda do rio, nomeadamente fuzileiros e paraquedistas, como tinha sido recomendado pelo cérebro da operação, o cor inf Hélio Felgas).

Além disso, conforme relatos posteriores, o PAIGC retaliou com flagelações, embora a distância e furtando-se ao contacto directo,  mostrando desse modo que a operação esteve longe de  neutralizar os seus bigrupos ( o número de baixas foi escasso face aos meios utilizados pelas NT). E dois meses e meio depois, em 28 de maio de 1969,  o quartel de Bambadincs, sede do BCAÇ  2852, foi atacado em força. 

Resumo sintético: abate de gado 
e destruição de arroz


Aspecto | Detalhes

  • Abate de gado e animais: morte em massa de bovinos e outros animais domésticos, visando destruir os meios de sustento das comunidades

  • Destruição de arrozais: arroz, celeiros e culturas queimadas, comprometendo gravemente a produção local de alimento. (Foram destruídas muitas toneladas de arroz.)

  • Condições extremas: altas temperaturas, rações de combate inadequadas, esgotamento e elevada necessidade de água resultaram em evacuações de soldados (cerca de 15%) .

  • Resposta do IN: populações fugiram com alguns dos seus parcos haveres, atravessando o Rio Corubal para a região de Quinara, e o PAIGC manteve, no essencial, a mobilidade e a capacidade de reação.

Conclusão

A Operação Lança Afiada, em março de 1969, foi um marco na guerra colonial e um exemplo claro de como a política de "terra queimada" se manifestou de forma devastadora. 

Ao dizimar  o gado e destruir dezenas de toneladas de arroz, as NT militares visavam desestruturar a base económica e alimentar das populações. 

De qualquer modo,  as dificuldades enfrentadas pelas NT,  aliadas à resiliência da guerrilha e população sob o seu controlo (estimada em alguns milhares) demonstraram os limites transversais dessa estratégia. Deixaram-se, de resto, de fazer  grandes operações como esta,  pelo menos no sector L1 e no meu tempo.

Tratou-se de uma operação onde se foi a lugares míticos (ou mitificados desde o início da guerra, como a mata do Fiofioli, junto ao Corubal), mas ninguém encontrou médicos e enfermeiras cubanas... Hospitais (?) de campanha, sim (ou melhor, pequenos postos e toscos postos sanitários),  mas já abandonados, uns meses antes. 

Destruíram-se muitas toneladas de arroz, mataram-se milhares de animais, queimou-se tudo o que era tabanca e "barracas"... 

Em contrapartida, houve 24 flagelações do IN, mas os guerrilheiros seguiram a regra básica da guerrilha: primeiro, retirar quando o inimigo, ataca: segundo, e quando possível, atacar, quando o inimigo retira...

 O autor do relatório, irritado, queria que os tipos do PAIGC se apresentasse de peito feito às balas e dessem luta...

O mais caricato (e hilariante, se fosse caso para rir) desta operação é que o pessoal deitou fora... as intragáveis rações de combate e desatou a comer... leitão assado no espeto!... E até poupou algumas vacas, que trouxe para os seus aquartelamentos...

Este é um cínico relato da dura condição da guerra da Guiné, vista pelo lado da hierarquia militar. O relatório tem a chancela do então Cor Hélio Felgas, já falecido como maj gen ref, Torre e Espada, considerado um dos mais brilhantes oficiais da sua geração.  

Tem  críticas veladas, se não mesmo picardias,  ao Comandante-Chefe, ao Quartel General, à Marinha e à Força Aérea...

 O seu relatório é uma peça de antologia.  Dizia-se que o Hélio Felgas sempre se batera ao lugar de Spínola. O desastre de Cheche, em 6 de fevereiro de 1969, manchou a sua reputação.  O falhanço da Op Lança Afiada foi outra machadada no seu prestígio.  Tornou-se um azedo crítico do spinolismo. 

 
 (Revisão / fixação de texto: LG)
 
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domingo, 17 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27128: A nossa guerra em números (34): Colonos - Parte I: os sírio-libaneses


Guné > Região de Gabu > Nova Lamego > Pel Mort 4574 (1972/74) >  Eram tapetes, de estilo oriental, com motivos exóticos (como a fauna e a flora africanas), que os militares compravam aos comerciantes libaneses. Eles também aproveitaram a "economia de guerra"... Foto do álbum de Joaquim Cardoso [, ex-sold trms, Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74].

Foto (e legenda): © Joaquim Cardoso  (2014).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Caamaradas da Guiné]



Guiné > 1951 > Anúncio comercial da casa Fouad Faur > Tinha sede em Bafatá e "feitorias" em Piche, Paunca, Bajocunda e Bambadinca.

Fonte:  edição do "Diário Popular", de 20 de outubro de 1951 (e não 1961, como vem escrito por lapso na página da Hemeroteca Digital de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa, a quem agradecemos a cortesia).  É uma raridade bibliográfica: o suplemento dedicado ao Ultramar tem 218 páginas (22 dedicadas à Guiné, pp. 45-66).  Disponível  aqui em formato digital. 









Guiné > 1956 >  Amostra de anúncios de casas comerciais, pertencentes a sírio-libaneses ou seus descendentes.
 Foram publicados em Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2.

 
Havia, pelo menos, 6 comerciantes libaneses em Bafatá, em 1956, de acordo estes anúncios: 

(i) Jamil Heneni, com grandes plantações de arroz em Jabadá [e não Janbanda], na região de Quínara [mais um imperdoável  gralha!]; 

(ii) Toufic Mohamed [ou não seria Taufic ? Muitos dos anúncios vêm gralhados: por ex, Bambadinga, em vez de Bambadinca, Bajicunda em vez de Bajocunda; o que quer dizer a toponímica da Guiné era "estranha demais" aos nossos jornalistas e tipógrafos...];

(iii) Rachid Said

(iv) Salim Hassan ElAwar e irmão (com sede em Bafatá e filial em Cacine, e não Canine, como aparece no anúncio: mais uma gralha tipográfica a juntar-se a muitas outras desta edição especial da revista de Turismo...); há um membro da família, presume-se, Mamud ElAwar, que era um conceituado comerciante de Bissau;

(v) Fouad Faur, com lojas também em  Piche (grafado "Pitche"),  Paunca, Bajocunda  (grafado "Bajicunda") e Bambadinca.


Tinham peso económico e social... Por exemplo, Mamud ElAwar, tal como Aly. Souleiman e  Michel Ajouz,  era então um dos mais conhecidos comerciantes da Guiné, de origem libanesa.

 O  Salim Hassan ElAwar devia ser seu irmão  (ou membro da família):tinha lojas em Bafatá e Cacine.  E quem não conhecia o Tauffik  Saad, uma das melhores lojas de Bissau (onde havia de tudo de relógios a máquinas fotográficas) ?!.

Não sabemos se o Mamud ElAwar era muçulmano (provavelmente era, pelo nome e apelido). Já o Michel Ajouz devia ser cristão maronita, por celebrar o natal cristão e ter uísque em casa para oferecer aos militares de Bissorã, como foi o caso do nosso camarada Manuel Joaquim, que passou com ele o natal de 1965.  

Recorde-se que os  cristãos maronitas  são cerca de de 3,2 milhões em todo o mundo,  obedecem ao Papa da Igreja Católica, mas têm uma liturgia própria; no Líbano, serão um pouco mais de 1 milhão, constituindo cerca de 20% do total da população).



Guiné > Região de Bafatá > Bafatá : A zona da "Mãe de Água" ou "Sintra de Bafatá" > c. 1969/70 > Um piquenique

 Guia e especialista de Bafatá dos anos 1968/70, o arquiteto Fernando Gouveia ( que lá viveu como alferes miliciano, com a sua esposa,  a saudosa Regina Gouveia ), descreve esta zona num dos seus postes do roteiro de Bafatá como  sendo a "Mãe d'Água" ou a "Sintra de Bafatá", local aprazível e romântico onde havia umas mesas para piqueniques e que, de vez em quando, a esposa do comandante do Esquadrão organizava uns almoços dançantes em que eram convidados, além dos alferes, e alguns furriéis, "todas as meninas casadoiras de Bafatá, libanesas e não só"... 

O esquadrão acima referido deveria ser o  Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71, cujo comandante era o cap cav Fernando da Costa Monteiro Vouga (reformou-se como coronel, e é autor de diversos livros sob o nome de Costa Monteiro).

Foto (e legenda): © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Pormenor de "A rapariga com brinco de pérola" (c. 1665)... Uma das obras primas da pintura ocidental, da autoria do pintor holandês (ou neerlandês) Johannes Vermeer (1632-1675). Óleo sobre tela (44,5 cm x 39 cm). Localização atual: Galeria Mauritshuis, Haia. Imagem do domínio público. Cortesia de Wikipedia.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025) (Vd. poste P27127)


1. Os colonos na África Portuguesa não eram só cidadãos portugueses da metrópole (*), mas também das ilhas atlânticas (Madeiras, Açores e Cabo Verde) e igualmente  estrangeiros como os libaneses, ou sírio-libaneses, sem esquecer os luso-indianos de Goa, Damão e Diu, e até os macaenses. Pode-se falar de um mosaico de
 povos para classificar a  diversidade humana da colonização da África Portuguesa, de Cabo Verde a Timor.

É uma afirmação historicamente correta e de grande pertinência: a população de "colonos"  na África sob domínio português não era composta exclusivamente por cidadãos da metrópole. Pelo contrário, estes territórios acolheram uma diversidade de gentes oriundas de várias partes do Império Português e de outras regiões, formando uma sociedade colonial complexa e multifacetada. 

Entre estes grupos, destacam-se os libaneses (ou sírio-libaneses), os cabo-verdianos, os luso-indianos de Goa, Damão e Diu, e os chineses de Macau, cada um com as suas próprias idiossincrasias e só sobretudo razões para migrar,  e com papéis distintos na estrutura social e económica das colónias.

Hoje damos, mais uma vez, no nosso blogue, o devido destaque aos libaneses (ou sírio-libaneses, oriundos do império otomano a que a I Grande Guerra pôs fim),  comerciantes e empreendedores. 

A presença de comunidades sírio-libanesas, cristãos mas também muçulmanos, tornou-se notável em Angola e Moçambique a partir do final do século XIX e início do século XX. E sobretudo na Guiné (no tempo da I República). 

Estes imigrantes dedicaram-se principalmente ao comércio, estabelecendo redes de distribuição que iam dos centros urbanos às zonas mais recônditas do interior. 

Eram conhecidos pela sua capacidade de iniciativa e pelo seu papel no comércio de retalho, vendendo tecidos, utensílios e outros bens de consumo. A sua posição era frequentemente a de intermediários económicos entre as grandes companhias europeias (portuguesas e francesas)  e a população africana.


A Presença Libanesa na Guiné: Um Século de Comércio

 A presença de comerciantes libaneses, e mais amplamente sírio-libaneses, na Guiné é um facto histórico bem documentado, que remonta à transição do século XIX para o século XX. Estes imigrantes desempenharam um papel fundamental e duradouro na estrutura comercial do território, hoje Guiné-Bissau.

A chegada destes levantinos enquadra-se num movimento migratório mais vasto, que os levou a estabelecerem-se na Amércia do Suil (com destaque para o Brasil) e em vários pontos da África Ocidental (com destauqe para a Costa do Marfim: maior comunidade libanesa na África Ocidental; muito presentes em Abidjan e no setor comercial).

Na então Guiné Portuguesa, encontraram um nicho económico, posicionando-se como intermediários cruciais no circuito comercial. A sua principal atividade consistia em fazer a ponte entre as grandes casas comerciais europeias e a população local.

O termo “sírio-libaneses” refere-se sobretudo à emigração anterior a 1920, quando a Síria e e o Líbano ainda eram parte do Império Otomano e depois do Mandato francês-

O Papel dos Comerciantes Sírio-Libaneses:

  • Comércio de Proximidade: ao contrário das grandes companhias portuguesas (como a Casa Giouveia ou a Ultramarin), que se focavam na exportação de produtos como a mancarra (amendoim) e o coconote, os sírio-libaneses especializaram-se no comércio a retalho; montaram lojas e estabelecimentos nos principais centros urbanos e vilas do interior, como Bissau, Bolama, Bafatá, Teixeira Pinto, Bissorã, Farim, Geba, Bambadinca, Xitole, Jabadá, Catió, Cacine, Gadamael, etc.
  • Rede de Distribuição: forneciam às populações locais bens de consumo importados da Europa, como tecidos, utensílios domésticos, e outros produtos manufaturados, a sua mobilidade e capacidade de se fixarem no interior permitiu-lhes criar uma rede capilar que penetrava profundamente no território;
  • Impacto Económico: o seu sucesso foi notável; de acordo com registos da época, em meados do século XX, as firmas pertencentes a sírio-libaneses representavam uma fatia muito significativa, por vezes perto de metade, dos estabelecimentos comerciais em importantes centros de trocas do interior da colónia.

Esta comunidade, embora não numerosa em termos absolutos (umas escassas centenas., concentrados hoje em Bissau), teve um impacto desproporcional na vida económica e social da Guiné. 

Tornaram-se uma figura familiar e indispensável no quotidiano de muitas regiões, consolidando a sua presença ao longo de todo o século XX e mantendo a sua relevância até à atualidade. A sua história é um testemunho da complexa teia de relações comerciais e migratórias que moldaram a África Ocidental na era colonial.

No nosso blogue temos cerca de meia centena de referências aos libaneses.

Os sírio-libaneses, que se começaram a radicar no território a partir de 1910, alguns acabaram por ligar-se, pelo casamento, a famílias portuguesas... Inicialmente não eram, porém, bem vistos pela concorrência nem até pelas autoridades locais.

Por outro lado, em 1974, todos já teriam a nacionalidade portuguesa...Mas parte desta comunidade optou por ficar no novo país lusófono, a Guiné-Bissau. Mas não se deram bem com o regime de Luís Cabral...


Fontes...

Segue  uma lista de fontes académicas e publicações que corroboram e aprofundam a informação sobre a presença de comerciantes sírio-libaneses na Guiné desde o início do século XX. Estas fontes são essenciais para quem deseja estudar o tema com rigor académico.

Fontes Académicas Específicas:


Janequine, Olívia Gonçalves. Os sírio-libaneses na Guiné Portuguesa, 1910-1926. Dissertação de Mestrado em História, Universidade de Évora, 2011.(*)

Resumo: Este é talvez o trabalho académico em língua portuguesa mais focado e detalhado sobre o início da presença sírio-libanesa na Guiné. A autora analisa a sua chegada, o estabelecimento das suas redes comerciais e a sua relação com a administração colonial e com as populações locais no período crucial de 1910 a 1926. É uma fonte primária.


Forrest, Joshua B. Lineages of State Fragility: Rural Civil Society in Guinea-Bissau. Ohio University Press, 2003.

Resumo: Embora o foco seja a sociedade civil e a formação do Estado, este proeminente historiador da Guiné-Bissau dedica várias passagens à estrutura económica da colónia. Ele descreve o papel fundamental dos comerciantes sírio-libaneses como intermediários económicos, destacando como eles preencheram um vácuo deixado pelas grandes companhias portuguesas, especialmente no interior.

Galli, Rosemary E. & Jones, Jocelyn. Guinea-Bissau: Politics, Economics and Society. Frances Pinter Publishers, 1987.

Resumo: Um estudo clássico sobre a Guiné-Bissau que, ao analisar a economia colonial, faz referência explícita à importância das comunidades de comerciantes estrangeiros, nomeadamente os sírio-libaneses, na estrutura do comércio a retalho.

Fontes sobre a Diáspora e Contexto Regional:

Leite, Joana Pereira. "Comerciantes sírio-libaneses em Moçambique: perfis e percursos de uma minoria." Revista de História da Sociedade e da Cultura, vol. 18, 2018, pp. 245-266.

Resumo: Apesar de o foco ser Moçambique, este artigo é útil porque contextualiza o fenómeno da migração sírio-libanesa para as colónias portuguesas em geral. Explica os padrões de migração, as redes familiares e os modelos de negócio que eram comuns a estas comunidades em toda a África Lusófona, incluindo a Guiné.

Boumedouha, Said. "Change and continuity in the relationship between the Lebanese in Senegal and the Mouride brotherhood." In The Lebanese in the World: A Century of Emigration, editado por Albert Hourani e Nadim Shehadi, I.B. Tauris, 1992.

Resumo: Este livro é uma obra de referência sobre a diáspora libanesa a nível mundial. O capítulo sobre o Senegal é particularmente relevante porque a Guiné-Bissau partilha muitas dinâmicas históricas e comerciais com a sua vizinhança na África Ocidental. Descreve o modelo de negócio dos comerciantes libaneses na região, que é perfeitamente aplicável ao caso da Guiné.

Estas fontes demonstram que a presença e a importância dos comerciantes libaneses e sírio-libaneses na Guiné-Bissau não são apenas um facto conhecido, mas também um objeto de estudo académico consolidado. A dissertação de Olívia Janequine (**), em particular, é a referência mais direta e aprofundada sobre o tema.

Face à indepenmdência, os comerciantes sírio-libaneses dividiram-se: uns partiram para Portugal e outras paragens; outrros acrediataram nas promessas d0 PAIGC e ficaram. O regime de partido único e de economia planificada (1974/91) dei cabo deles, com a inesperadda ajuda dos suecos  (***).

(Pesquida: IA / Gemini / ChatGPT /  LG | Revisão / fixação de texto, negritos, itálicos: LG)
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Notas do editor LG:


(**) Vd. poste de 29 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18962: Antropologia (28): Os sírio-libaneses na Guiné Portuguesa, 1910-1926; Dissertação de Mestrado em Antropologia Social por Olívia Gonçalves Janequine (Mário Beja Santos)


(...) "A principal produção da Guiné-Bissau, além da agricutura de autossubsistência, era o arroz e o amendoim, os dois produtos de exportação.

O comércio entre os produtores e o porto de Bissau estava nas mãos dos libaneses. Estes usavam carrinhas de marca Peugeot, em estradas lamacentas e com pouca manutenção, para transportarem para o interior produtos importados (artigos de plástico, tecidos e outros), consumidos pelas populações, e no regresso a Bissau voltavam carregados com arroz e amendoim.

O governo não estava nada satisfeito com este sistema por considerar que os libaneses ganhavam demasiado com estes negócios de verdadeira exploração dos produtores locais. Considerava também que as pequenas quantidades transportadas não eram economicamente viáveis na perspetica da exportação em grande escala.

Ambos os problemas foram resolvidos com um plano que previa a nacionalização do comércio por grosso e a retalho e o transporte das mercadorias a realizar por camiões modernos.

Claro está que foi a Suécia quem, a meu pedido, veio a fornecer umas dúzias de moderníssimos camiões Volvo, desembarcados em Bissau em poucos meses.

Estes camiões último modelo,com ar condicionado, rádio estereofónico e confortável cabine para o condutor dormir, eram naves espaciais aos olhos da populção, e depressa se tornaram num instrumento de "engate" das belezas locais nas ruas de Bissau.

Durante uns tempos era mais importante esta "mercadoria" do que os tradicionais produtos de plástico e tecidos a serem transportados para o interior.

Se o problema tivesse sido só esse, as coisas näo teriam sido tão graves. Mas...quando os camionistas mais consciencios finalmente se puseram a caminho do interior (o que não deveriam ter feito!), concluiu-se que as estradas existentes ["picadas",] não foram feitas para estes mastodontes ma sim para as carrinhas Peugeot.

Todos os tipos imagináveis de problemas surgiram, acabando por liquidar este tipo de transporte. Em menos de seis meses todos os camiões Volvo estavam parados.

Sendo as marcas de camiões Volvo e Scania as mais vendidas mundialmente, e utilizadas nas condições mais extremas, foi enviada a Bissau uma equipa de mecâncios para estudar o problema surgido.

Chegou-se à conclusão de que, para além dos problemas quanto ao peso que as estradas não suportavam, ambém tinham surgido pequenos problemas de manutenção das viaturas, do tipo: esqueceram-se de mudar o óleo, houve componentes dos motores que desaparecera, etc.

Com a falta de intermediários tradicionais, como os comerciantes libaneses, os camponeses não conseguiam escoar a sua produção, pelo que se voltaram a concentrar-se na produção para consumo local.

O arroz passou a não chegar para alimentar a população de Bissau. Aí a coisa tornou-se grave! 

O Presidente [Luís Cabral,] justificou perante mim, que as coisas tinham-se agravado por razões climatéricas que teriam acarretado doenças para as plantas. Devido a isto, perguntou-me de imediato se seria possível um aumento da ajuda económica estipulada para estas situações de emegência.

Telegrafei de imediato para os escritórios centrais da SIDA (que são as iniciais ou o acrónimo da Agência Estatal Sueca para a ajuda aos países em vias de desenvolvimento) e, em muito curto espaço de tempo, tínhamos em Bissau um barco fretado, chinês, que transportava 3 mil toneladas de arroz para que a população não morresse de fome.

Estou a simplicar mas as coisas passaram-se basicamente assim.

História semelhante poderia ser aqui contada quanto ao enorme apoio económico sueco à indústria da pesca local"  (...)

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27116: Felizmente ainda há verão em 2025 (16): Key West, na Flórida, EUA: é um casa portuguesa, concerteza, onde, além do pão e vinho sobre a mesa, também há cobras venenosas no quadro da electricidade... (José Belo)








EUA  > Flórida > Key West > Casa do Joseph Belo... com um triplo "look", luso-sueco-americano,,,


Fotos: © José Belo  (2025. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]



1. Mensagem do
Joseph Belo (Key West, Florida, EUA)

Data - 12 agosto 2025 17:03

Assunto - Numa casa portuguesa fica bem pão e vinho sobre a mesa...

... Mas na solarenga Key West, na Flórida, além do pão e vinho sobre a mesa, surge cobra venenosa no quadro da electricidade.

A um veterano de destacamento isolado no Sul da Guiné dos finais dos anos sessenta só lhe faltava……isto!

Um abraço amigo do J. Belo


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Nota do editor LG:

Último poste da série > 12 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27115: Felizmente ainda há verão em 2025 (15): Camaradas, perguntar não ofende: "Pode a CPLP vir a transformar-se em CPLB" ?... E a gente a pensar que em bom português "nois sintendi"... (António Rosinha, ex-colon, ex-retornado de Angola, ex-cooperante na Guiné-Bissau)

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27048: Recortes de imprensa (146): Suécia, Guiné-Bissau e Cabo Verde: já não vale a pena corrigir os jornalistas portugueses: o PAIGC nunca declarou a independência em Madina do Boé nem nunca teve 400 mil habitantes nas "zonas libertadas" - Parte I

 

Foto do secretário geral do PAIGC, incluída em O Nosso Livro, 2ª Classe, Autor desconhecido. Amílcar Cabral, que passou a visitar regulamente a Suécia, a partir de finais de 1968, era visto pelos seus admiradores suecos como ”um mestre da diplomacia [...], uma pessoa notável e uma grande figura internacional, que era portador de uma mensagem extremamente positiva”.

"O Partido Social-Democrata e a Liga da Juventude Social-Democrata, da Suécia, recolheram fundos para a produção, no final dos anos sessenta, por parte do PAIGC, dos primeiros manuais escolares em português.

"O primeiro livro (PAIGC: O Nosso Livro: 1ª Classe) foi impresso em 1970 pela Wretmans Boktryckeri em Uppsala, com uma tiragem de 20.000 exemplares. Nesse mesmo ano a Wretmans publicou O Nosso Livro: 2ª Classe, com uma tiragem de 25.000 exemplares.

"Ao lado do nome da editora, na capa do segundo livro, dizia-se que o livro era publicado pelo PAIGC nas zonas libertadas da Guiné." 

(Fonte: Tor Sellström - A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Nordiska Afrikainstitutekl, Uppsala, 2008, pág. 152)




Capa do Livro da 1ª Classe do PAIGC... Um menino escreve no quadro preto: "Amo a minha Terra" | "3 + 2 = 5" | "P. A. I. G. C. "... 

Exemplar capturado pelo nosso camarada Manuel Maia no Cantanhez, possivelmente em finais de 1972 ou princípios de 1973. Vê-se que esse exemplar tinha uso. A capa teve de ser reforçada com uns improvisados adesivos (aparentemente autocolantes, que acompanhavam embalagens de apoio humanitário, vindas do exterior).  

Sabe-se que  foram impressos, na Suécia, 20.000 exemplares deste livro,  numa primeira edição. "Neste mesmo dia apanhei ainda duas cartas, uma escrita em árabe e outra em crioulo", diz-nos o nosso camarada Manuel Maia, ex-fur mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissau Naga, Cafal Balanta e Cafine (1972/74).

Foto (e legenda): © Manuel Maia (2009).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Referência > João Diogo Correia (jornalista) na Suécia > "O aliado nórdico que ajudou a mudar o destino de Cabo Verde". Expresso, semanário, nº 2749, 4/7/2025, Revista (*)


Os 50 anos da independência de Cabo Verde foram um pretexto para o semanário Expresso, publicação prestigiada da nossa imprensa,  recordar o papel da Suécia que, "sem laços históricos nem afinidades culturais óbvias, (...) se tornou  um dos principais aliados das lutas de independência das ex-colónias portuguesas", com destaque para o apoio ao PAIGC.

Com o fim da guerra do Vietname e no rescaldo do Maio de 68 em Paris, a juventude sueca, universitária, mais politizada,  virou-se para a África e começou a gritar palavras de ordem como “Portugal ut ur Afrika” (“Portugal fora de África”). Sem saber onde ficava Portugal nem muito menos a Guiné portuguesa, os jovens suecos agarraram e abraçaram a causa do anticolonislianismo e da luta contra o "apartheid". 

Portugal era, em África, o último avatar do colonialismo europeu em África. A Suécia, mesmo com  tradição imperial e colonial (que o digam os "sami" e outros "vizinhos"...), não tinha "interesses" em África... 

Por outro lado, "país neutro", queria mostrar-se equidistante tanto em relação ao "imperialismo americano" (e aos demais "membros da NATO"), como ao "imperialismo soviético" e aos seus "satélites do pacto de Varsóvia". 

O mundo, desgraçadamente, estava polarizado, em plena guerra fria. Portugal era um estorvo, uma sucata da História. E a Suécia, pondo-se em bicos de pés,  podia fazer o papel de fiel da balança entre dois mundos em confronto.

 Os suecos, alardeando então o melhor do capitalismo e da social-democracia, gozavam com Portugal, país em vias de desenvolvimento, membro da EFTA (Associação do Comércio Livre), parceiro comercial da Suécia (!), mas com um império anacrónico e desmesurado para a sua capacidade política, militar, demográfica, financeira e económica:

  •  1/4 da área da Suécia; 
  • menos de 9  milhões de habitantes;
  • uma colônia como Angola que era “duas vezes o tamanho da Suécia”, com 6 milhões de habitantes, dos quais apenas 500 mil europeus;
  •  Guiné-Bissau e Cabo Verde, juntas, com um população de 830 mil habitantes,  dos quais apenas 6 mil  europeus (7,2%)

Upsalla, a Coimbra sueca,  onde se situava  a mais antiga universidade na Escandinávia, fundada em 1477, tornou-se então um dos principais centros do ativismo contra o colonialismo e o "apartheid". Em Upsalla tinha sede o Afrikagrupperna (Grupos África da Suécia) e o NAI (The Nordic Africa Institute).

A ida de Amílcar Cabral à Suécia em 1969 foi um dos momentos-chave. O Partido Social-Democrata (SAP), membro da Internacional Socialista, governava o país quase ininterruptamente desde entre 1932 (e até 1976). 

O jornalista, João Diogo Correia (JDC), autor do artigo supracitado, diz de Olof Palm (OL):

(...) figura central da social-democracia europeia, que aliava rebeldia, ao marchar ao lado do embaixador do Vietname do Norte em Moscovo, em oposição aberta aos Estados Unidos, com diplomacia e pezinhos de lã, fazendo valer a posição de não alinhado para não chocar de frente com nenhum dos blocos da Guerra Fria"...

 O contexto, económico,  social, político e ideológico, torna-se pois favorável ao apoio (financeiro e humanitário) primeiro da sociedade civil e depois do Estado sueco aos "movimentos de libertação africanos", da Namíbia ao Zimbabué, passando pela África do Sul, na luta pelo fim do 'apartheid', aos territórios sob domínio português. 

JDC cita o livro, já nosso conhecido, “Sweden and National Liberation in Southern Africa” (“A Suécia e a Libertação Nacional na África Austral”), da autoria de  Tor Sellström (TS),  cientista político. (Já reproduzimos largos excertos deste livro, na sua versão portuguesa, em 9 postes da série "Antologia") (**). 

Na altura,  chamámos, logo no início, a atenção para alguns factos e dados que mereciam a nossa contestação ou reparo crítico, nomeadamente quando o autor, o TAS, fala do trajeto do PAIGC e do seu líder histórico, não citando fontes independentes e socorrendo-se no essencial da propaganda do PAIGC (ou de fontes que lhe estavam muito próximas)...

Já apontámos alguns exemplos desse enviesamento político-ideológico (que iremos retomar em próximo poste):

 (i) a greve dos trabalhadores portuários do Pijiguiti e o alegado papel ativo do PAIGC;

 (ii) a batalha do Como;

 (iii) o controlo de 2/3 do território e de 400 mil habitantes por parte do PAIGC;

 (iv) as escolas, as clínicas de saúde e as lojas do povo nas "áreas libertadas";

 (v) o assassinato de Amílcar Cabral. etc. 

O jornalista JDC cita dados também já nossos conhecidos, relativos ao montante da ajuda sueca : 

(...) "Dos 67,5 milhões de coroas suecas, à época perto de 13,5 milhões de dólares, distribuídas aos movimento de libertação entre os orçamentos de 1969-70 e 1974-75, 45,2 milhões de coroas foram para o Partido da Independência de Guiné e Cabo Verde (PAIGC), ou seja, dois terços do total. " (...)  (JDC)

Enfim, é de há muito sabido por nós, que a partir de 1969 a Suécia passou a dar uma "ajuda humanitária" (sic) ao PAIGC, substancial, que se prolongou muito para além da independência (da Guiné-Bissau e de Cabo Verde), até meados dos anos 90.  

Citando TS, sabemos que "as exportações financiadas com doações da Suécia representavam, durante este período, entre 5 por cento e 10 por cento do total das importações da Guiné-Bissau".

Estamos a falar de valores que chegaram aos 2,5 mil milhões (!) de coroas suecas [c. 269,5 milhões de euros] durante o período de 1974/75-1994/95

Pode então perguntar-se, como o faz JDC:

Porque é que os dois pequenos territórios, a futura Guiné-Bissau e o arquipélago de Cabo Verde, caíram no goto dos suecos ?

 A explicação estaria num conjunto de circunstâncias favoráveis: 

(i) a participação de Amilcar Cabral (AC) no congresso do Partido Social-Democrata (SAP), em setembro de 196;

(ii) a sua ida á Universidade de Uppsala, uns dias depois

(iii) As eleição de OP como  novo secretário-geral do  SAP,  tornando-se primeiro-ministro em 14/10/1969, e sucedendo a Tage Erlander.

JDC socorre-se das memórias de Pierre Schori, "membro do SAP", "um dos mais próximos de Palme, do qual viria a ser conselheiro para a política externa, e figura central desta história com 50 anos": 

(...) “A audiência perguntou ao Amílcar Cabral o que podíamos fazer por eles, e ele disse duas coisas: ‘a vossa própria revolução, porque tudo começa em casa’, e a segunda: ‘precisamos de um livro para que os nossos alunos comecem a ler corretamente’.” (...)

 Já conhecemos  o resto  da história, e fartámo-nos de apanhar, em operações no mato, exemplares do livrinho de capa amarela, impresso na Suécia, em 1970,  “O Nosso Livro, 1ª Classe”.  (Convenhamos que 20 mil cópias era pouco  para as necessidades do PAIGC, que reclamava ter o controlo de 400 mil habitantes (!) nas "áreas libertadas", ou seja, 80 % do total da população, quando o inverso é que era correto: os 20% da quota do PAIGC era obtida com os refugiados nos países vizinhos, Senegal e Guiné -Conacri mais os desgraçados que viviam, mal e porcamente, nas "regiões libertadas", Oio, Cantanhez e pouco mais).

Além do AC, há outro militante do PAIGC que entra nesta história,  o mindelense Onésimo Silveira (OS), que foi aluno de Lars Rudebeck (LR), talvez o académico sueco mais influente neste processo, para além de alguns dos político já citados  (é autor de Guiné-Bissau: A Study of Political Mobilization, Scandinavian Institute of African Studies, Uppsala, 1974).

(Continua)

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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 14 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26798: Recortes de imprensa (145): José Claudino da Silva (ex-1º cabo cond auto, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/73, nosso grão tabanqueiro nº 756): "O 25 de Abril deu-me voz, deixei de ter medo" (entrevista recente ao jornal "A Verdade", do Marco de Canaveses)... Um camarada que tem um espólio de c. 1800 cartas e aerogramas, escritos e recebidos, durante a comissão.

(**) 17 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24560: Antologia (98): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: O caso da ajuda ao PAIGC – IX (e última) Parte

Vd. em especial > 28 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24510 Antologia (93): "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau", por Tor Sellström (2008). Excertos: o caso da ajuda ao PAIGC – Parte IV

terça-feira, 10 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26906: (In)citações (273): Envelhecer... com dignidade ?!? (Joseph Belo, José para os "tugas")









O José Belo, no seu melhor...


Foto: © José Belo  (2025. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1. Mensagem de Mr. Joseph Belo  (José para os "tugas") que, tem como Deus, o dom da ubiquidade (a par da arte da camuflagem), conseguindo estar ao mesmo tempo 
 pelo menos em 3 ou até mais sítios (Lapónia / Suécia, Estocolmo / Suécia, Key West / Florida / USA, Tabanca Grande...).  

O que muito nos apraz. O seu sentido de humor, a sua sabedoria de cidadão  do mundo, a sua capacidade de "destilar" e beber o melhor da cultura  dos povos com  quem tem lidado, a sua resiliência, ...,. enriquecem também a nossa Tabanca Grande, ajudam-nos a lidar melhor com as nossas diferenças (reais ou imaginárias),  tornam-nos mais tolerantes e até mais empáticos... 

Tenho aprendido com ele, sobretudo, a capacidade de saber ouvir...  Deus deu-nos o sentido do ouvido, mas não nos ensinou a saber ouvir...o outro. 

No Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades (que continua a fazer sentido celebrar... com amor & humor), fica aqui o seu pequeno contributo para que a nossa tertúlia continue a ser um elo de ligação entre nós e as nossas "sete partidas"... (E a cumprir mais um ano de calendário: fizemos 21 anos, no passado 23 de abril, sem pompa nem circunstância...).

Gosto da imagem das 7 partidas... Isto quer dizer também que chegámos (quando conseguimos chegar) às mais desvairadas partes do mundo... Não foram 7 partidas, e 7 chegadas. Chegámos, ficámos, voltámos a partir, demos um oontributo importante para a universalidade da cultura humana.. Isto quer dizer também que ficámos mais ricos depois de chegar do que antes de partir...Ricos, em termos mais imateriais do que materiais. 


Data - sábado, 7/06, 11:57 (há 3 dias)
Assunto - Envelhecer...com dignidade ?!? (*)


Logicamente o blogue sofre os inexoráveis “atritos” relacionados com a passagem das já muitas décadas.

O envelhecimento dos participantes, a somar-se a uma diminuição da popularidade dos blogues em geral (e a queda em convenientes “evitar balançar o barco” ) poderá levar a uma diminuição de “militância”.

A aparente incapacidade de muitos de, por saudáveis minutos, não levarem as opiniões próprias (ou alheias) demasiado “a sério",  acabará por contribuir para alguns dos afastamentos.

Os já quase cinquenta anos de afastamento das realidades portuguesas do dia a dia talvez acabem por contribuir para uma mais “desinibida apreciação”, seja ela desde Key West/Florida ou do extremo norte sueco.

Talvez.

Um abraço
J. Belo


2. O pretexto do comentário acima foi o comentário, abaixo, que eu fiz há uns dias ao poste do Zé Teixeira  (*):

Zés, Josés, Zé Teixeira, Zé Belo: andamos a blogar há mais de 20 anos (desde 2004, ano que praticamente não conta, publicámos "apenas" 4 postes")... 

Este poste do Zé Teixeira é o P26888 (!)...Publicamos, em média, mais de 1300 postes por ano... Todos os dias (!), como se fosse um jornal diário, o nosso blogue muda de cara, há sempre "coisas novas", mais interessantes ou menos interessantes, que chamam a atenção do leitor...

Ao fim de 20 anos, há naturalmente um "cansaço bloguístico"... Já fizemos pelo menos 10 "comissões na Guiné", cada uma de 2 anos... Não há "tuga" nem "turra" que aguente!... 

Tudo isto para dizer que é uma pena o texto intimista do Zé Teixeira passar um pouco ao lado, na voragem dos dias... Merecia ter, pelo menos, uma boa meia dúzia de comentários... Há uns anos atrás tê-los-ia... Desculpas ? Estamos "velhos e cansados"... Não vale a pena arranjar desculpas !...

O Zé Belo, distante, enigmático, lapónico..., interpelou-nos, mais um vez com uma questão existencial: "Será possível regressar de onde nunca se chegou para o que já não existe?"... 

A esta hora da manhã, sem tomar o meu pequeno almoço ("uma salada de banana, maçã reineta ou pera rocha, morangos, nozes da Califórnia e iogurte grego"... + um café!), não me atrevo a sequer a equacioná-la... quanto mais a tentar respondê-la... Mas mexe com a gente..., mexeu comigo!...

Como mexeu a leitura, a primeira que fiz hoje (e só hoje!, às 7 da manhã), da reflexão, pungente, do Zé Teixeira:

"A guerra nunca acaba, fica connosco"... 

Levei um murro no estômago vazio!...Revi-me em grande parte na história de vida do Zé, o seu percurso foi o de muitos de nós... Um calvário doloroso que cada um de nós, antigos combatentes, percorreu... antes, durante e depois da Guiné....Solitário!...

Mesmo nos momentos mais exaltantes das nossas vidas, pessoais, familiares e coletivas, tivemos de pôr entre parênteses a p*ta da guerra que fomos obrigados a fazer e da qual regressámos com um sentimento, pesado, opressivo... Regressámos com vida, mas, muitos de nós, com a "morte na alma"... Cumprimos o "dever para com a Pátria! (!)" (que está sempre acima dos regimes políticos), ou seja, pagámos-lhe o "imposto de sangue" que ela nos exigiu... Retomámos o nosso lugar (que já não era o mesmo!), continuámos a ter o direito de viver aqui e agora, mesmo que muitos também tenham optado por seguir os caminhos da diáspora (e de "novos exílios", como o Zé Belo)...

Zé Teixeira, está lá tudo. De facto, a guerra nunca acaba, fica connosco. Nenhum de nós faria melhor. E arrematas com um sorriso e uma nota de esperança e de fé, reveladores da tua grandeza humana... Por outras palavras, e parafraseando o Pablo Neruda, disseste o que é importante: "Confesso que vivi"...(Horrível, ou pelo menos "chato", é chegar à porta do São Pedro, de mãos vazias, sem nada para negociar...).

C/ um alfabravo fraterno, Luís

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 5 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26888: (In)citações (272): "A guerra nunca acaba, fica connosco" (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro)

terça-feira, 3 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26876: Questões politicamente (in)corretas (60): Afinal o "tuga" também jogava xadrez no CTIG (José Belo /António Graça de Abreu / Carlos Vinhal / José Botelho Colaço / Ernestino Caniço / Eduardo Estrela)



Guiné > Bolama > CIM - Centro de Instrução Militar > 1969 > CCAÇ 2592 (futura CCAÇ 14) > O fur mil Eduardo Estrela a jogar zadrez com o seu camarada Abel Loureiro.



Mensagem do Eduardo Estrela, a propósito do poste P26873 (*):

Data - 2 jun 2025 10:32;

Bom dia, Luís!

Nós também jogávamos xadrez.

Como prova anexo uma fotografia tirada ainda em Bolama. À esquerda estou eu e na direita o Abel Loureiro que foi Fur Mil na minha companhia.

Para além da lerpa, abafa e outros que tais, também se jogava xadrez.
A qualidade da fotografia não é a melhor, mas sei que vais conseguir melhorar a mesma.

Grande abraço
Eduardo Estrela


Foto (e legenda): © Eduardo Estrela (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Suécia > Estocolmo >7 de maio de 2017 > Jogando xadrez (em grande formato) no Kungsträdgården" (o "Jardim do Rei"), parque muito conhecido e central em Estocolmo. 

Link enviado ontem pelo Joseph Belo.


Foto: © Tommy Gerhad (2017) (com a devida vénia...)


1. Afinal, o "tuga" também jogava xadrez, no CTIG... Comentários ao poste P26873 (*):


(i) António Graça de Abreu

Em Cufar, 73/74,  joguei muitas vezes xadrez com o alferes Eiriz, o oficial das Transmissões no nosso CAOP 1. Normalmente era depois do jantar, na nossa pequeníssima messe de oficiais, ao lado do gabinete do capitão miliciano Dias da Silva, comandante da CCaç 4740.

Logo ao lado tínhamos as valas para onde mergulhávamos em caso de ataque do PAIGC. No meu caso, naquela maravilhosa colónia de férias, Cufar sur Cumbijã, aconteceu quatro vezes. Não nos deixavam jogar xadrez em paz.

António Graça de Abreu
segunda-feira, 2 de junho de 2025 às 13:10:11 WEST


(ii) Carlos Vinhal

Não me lembro de na nossa messe se jogar xadrez, os jogos mais vulgares eram as damas, a lerpa, o king e o rummy, este muito parecido com o bridge, ao que sei. Os mais solitários jogavam paciências de cartas. Tínhamos também uma mesa de ténis para destilar as gorduras (?).

Cá fora jogava-se a bola no campo de futebol ou contra as paredes dos dormitórios, onde havia alguém a centrar a bola e outros a cabeceá-la, conforme a habilidade que tinham, para uma baliza imaginária, onde estava um guarda-redes de ocasião.

Eu nunca fui grande jogador de cartas, mas uma noite aventurei-me a jogar lerpa. Ao fim de pouco tempo tinha já perdido 100 "paus". O 1.º Rita chegou-se a mim e disse-me: "Vinhal. deixe-me ocupar o seu lugar".

Ao fim de algum tempo, tinha ele ganho já uma boa maquia, levantou-se e discretamente deu-me os 100 pesos que havia perdido. Aceitei o dinheiro e a lição e, nunca mais na minha vida joguei cartas a dinheiro.

Carlos Vinhal
segunda-feira, 2 de junho de 2025 às 13:57:25 WEST


(iii) José Botelho Colaço


No Cachil, CCAÇ  557, havia quem jogasse Damas: ganhar um jogo ao capitão Ares era caso raro. Mas como diz o camarada Graça Abreu, também no Cachil por vezes o jogo era interrompido pelo som das costureirinhas do PAIGC a quererem entrar: Não no jogo; mas sim no aquartelamento. 

Abraço Colaço.
segunda-feira, 2 de junho de 2025 às 14:04:44 WEST

(iv) Ernestino Caniço

Enquanto estive em Mansabá (na primeira metade de 1970 ) joguei muitas vezes xadrez com o ex-capitão Carreto Maia, cmdt  da CCAÇ 2403. Os jogos eram no bar de oficiais (preferencialmente junto ao balcão, que era feito de cimento e pedra,  se bem lembro), que obviamente poderia proporcionar alguma "proteção". Não me lembro de quem era o tabuleiro nem a sua origem. Registo que não tinha ar condicionado como na Amura em Bissau.

Abraço,
Ernestino Caniço
segunda-feira, 2 de junho de 2025 às 17:10:16 WEST

 (v) Eduardo Estrela

Jogar à batota na messe?

Nunca o fiz! Somente no abrigo e com muito recato. E,  quando não havia batota, havia xadrez e paciências.

A propósito, mandei pela manhã um mail ao Luís com uma foto dum jogo de xadrez.

Grande abraço
Eduardo Estrela
segunda-feira, 2 de junho de 2025 às 19:17:30 WEST

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 2 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26873: Questões politicamente (in)corretas (59): Porque é que os "turras" jogavam xadrez e os "tugas" não ? (José Belo, Suécia)