Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27335 O vinho... pró branco de 2ª e pró tinto de 1ª (4): transporte e recipientes


Guiné > Zona Sul > Região de Tombali > Pel Rec Fox 42 > 1964 > Fev / mai 1964 >  Ganturé > O sold cond auto Armando Fonseca na hora do repouso do guerreiro  a escrever, sentado, à porta da sua morança; em segundo plano, do lado direito, assinalado a amarelo, um garrafão de 10 litros, 
usado pela Manutenção Miliutar para distribuir o vinho pelos destacamentos, guarnições mais pequenas que os aquartelamentos. Eram também usados pelos militares (e pela população) para transporte de água.

Foto (e legenda): © Armando Fonseca (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Em 1972/73, a fonte que abastecia o aquartelamento e a tabanca de Guileje, distava cerca de 4 km. Ficava no Rio Afiá. No tempo da CART 2140 (1969/70 e do Pel Caç Nat 51, o abastecimento era manual e fazia-se com recurso a bidões, jericãs e garrafões (de 10 litros) (assinalado um, a amarelo). No tempo da CCAV 8350, a companhia que retirou de Guileje em 22/5/1973, havia já um bomba de água de água, a motor. 

Foto  do álbum do Armindo Batata, comandante do Pel Caç Nat 5 (1969/70)

Foto (e legenda): © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Todos os direitos reservados [Ediºão e legendcagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

..

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O fur mil op esp José Casimiro Carvalho, cuidadndo do jardim...Em segundo plano um conjunto de barris, já desconjuntados...  No tempo da CCAÇ 3325, em 1971. terão tido melhor uso...

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > O com-chefe gen António de Spínola a chegar (faria duas visitas nesse ano). Originalidade: o pavimento do acesso do quartel . à pista de aviação (a chamada entrada VIP) era revestido com milhares de garrafas de cerveja. Numa série de barris sobrepostos (de 100 litros, parece-nos), no lado direito, lê-se, em Portuguès, a inscrição a tinta branca "Boa-V(iagem)". Por baixo, a frase árabe بيت السلام corresponde a "Casa da Paz". É a nossa leitura com a ajuda da Perplexity IA. "Em portuguêsA expressão nos barris ao lado, escrita em português como "Boa V-", provavelmente representa "Boa Viagem".Ambas as frases exprimem votos de boa jornada e segurança naquele contexto (que era de guerra).


​Foto nº 18 do álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho

Foto: © Jorge Parracho (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


 Transporte e recipientes do vinho



1. Num excerto do jornal "O Século", de 15 de janeiro de 1899 (citado por José Capela, "O Vinho para o Preto", Porto, Afrontamento, 1973, pág. 61), fomos encontrar expressão "barris de quinto ou décimo". 

O que eram exatamente estas medidas ? 

1. A "pipa"

No comércio vinícola português do século XIX (sobretudo no Norte), a pipa era a principal unidade de medida de capacidade para o vinho, equivalente a cerca de 520 a 550 litros, dependendo da região e do tipo de vinho. No Douro, por exemplo, 1 pipa ≈ 550 litros (às vezes também chamada “pipa de vinho do Porto”). Equivalente a 25 almudes.

A pipa fazia fazia parte do sistema das antigas unidades  de medida de capacidade para líquidos. A unidade da pipa acima era o tonel (2 pipas). O terno ficou no nosso léxico atual
 

2.  “Barril de quinto” e “barril de décimo”

As expressões “barril de quinto” e “barril de décimo” indicam a quinta parte ou a décima parte de uma pipa.

Assim:

  • Barril de quinto = 1/5 de pipa ≈ 105 a 110 litros

  • Barril de décima = 1/10 de pipa ≈ 52 a 55 litros

Portanto, tratava-se de submúltiplos da pipa, usados sobretudo em contextos de comércio, transporte marítimo e exportação, quando não se justificava enviar uma pipa inteira, mais difícil de manobrar e acondicionar nos navios.

Esses recipientes (em madeira, em carvalho ou castanho, feitos pelos tanoeiros) eram menores do que a pipa,por  isso  mais manejáveis nos navios e nos portos africanos, e adequados ao comércio por retalho ou escambo com intermediários locais (muitas vezes “lançados”, afro-luso-descendentes ou comerciantes cabo-verdianos).

Por outro lado, o uso de medidas fracionadas da pipa permitia ajustar melhor os volumes exportados conforme as taxas alfandegárias e o poder de compra nos destinos africanos.

 3.  O transporte de vinho da Manutenção Militar para a Guiné (1961/74)

O fornecimento de géneros alimentícios, incluindo o vinho, ao CTIG, era da responsabilidade do Serviços de Manutenção Militar... No entanto, a forma como esse vinho chegava  ao BINT (Batalháo de Intendència), em Bissau, e às unidades e subunidades no mato,  revela os enormes desafios logísticos daquele teatro de operações.

A Guiné era, de facto, um território logisticamente muito complicado, dependente de transporte aéreo (helicóptero, DO-27, ou paraquedas, etc.), fluvial (lancha da marinha, barco civi ou "barco-turra") ou terrestre ( coluna auto,  sujeita a minas e emboscadas).

Tudo indica que o transporte de Lisboa para Bissau fosse feito originalmente em barris (de 50 e 100 litros) e não em pipas. Mais tarde (não sabemos exatamente quando) terão aparecido os bidões metálicos, de 200/210 litros. 

Nenhuma das plataformas de IA por nós consultadas refere o transporte do vinho, metropolitano, para o CTIG em navios-tanque. Será que havia em Bissau infraestruturas portuárias para descarregar esses tanques ? Em Luanda e Lourenço Marques havia. Mas Bissau  também recebia navios-tanque com combustíveis...Enfim, é uma questão que fica em aberto.

Na Guiné, o vinho era fornecido pela Manutenção Militar (MM), com origem em Portugal continental. O circuito habitual era:

Portugal → Bissau (por navio) → Depósito do BINT →  Depósitos Regionais (Bissau, Tite, Bula, Bafatá, Farim, Bambadinca e Catió, com os respetivos PINT - Pelotões de Intendência).

Quanto aos recipientes, dependia da fase da guerra, do meio de transporte  e da acessibilidade do local:

  • na origem (Metrópole), o vinho era expedido em barris de 50 litros e bidões metálicos de 200–210 litros, dependendo do tipo de transporte e destino;
  • o  nosso camarada João Lourenço, ex-alf mil SAM, cmdt do PINT 9288 ( Cufar, 1973/74), escreveu:  "O vinho era fornecido pela MM [Manutenção Militar] em bidões de 215 lts, salvo erro, e usado assim mesmo, devido ao calor havia por vezes o hábito de usar um bidão sem a tampa onde eram colocadas barras de gelo feitas com água tratada e potável claro, o que dava sobras";
  • nos depósitos regionais (onde havia Pelotões de Intendência: Bissau, Bambadinca, Teixeira Pinto,Farim, Cufar), o vinho podia ser redistribuído em garrafões de 5 ou 10 litros, de vidro (mas já revestido a plástico (no caso dos de 5 litros). ou vime/madeira (os de 10 litros); ou seguir em barris e bidões  (para boa parte dos aquartelamentos);
  • os barris de 50 l ou 100 l (os tais barris de décinmo e de quinto), em madeira de castanho ou carvalho, eram uma solução tradicional e robusta para o transporte de vinho; eram relativamente manobráveis;
  • nos quartéis e destacamento do mato, os garrafões de 5 e 10 litros eram os mais práticos e comuns, porque podiam ser transportados  por Unimog,  jipe ou até à mão; eram demasiado frágeis para o transporte em condições de guerra (lançamento por paraquedas, transporte em camiões por picadas minadas); eram mais usados para o fornecimento das messes de oficiais ou sargentos, que por vezes recebiam vinhos de melhor qualidade em separado;
  • os bidões metálicos de 200/210 litros (semelhantes aos de combustível, mas estanhados por dentro, para não ooxidar o vinho) eram mais utilizados para transporte em massa; esta era, muito provavelmente, a forma mais comum de transportar o vinho  a granel para os depósitos dos PINT (Pelotões de Intendência (Bissau, Tite, Bula, Bambadinca, Bafatá, Farim, Cufar); estes bidões (semelhantes aos de combustível) eram extremamente robustos: podiam ser rolados, içados e até eventualmente lançados de paraquedas com relativa segurança.
Em suma: o vinho chegava a granel ao teatro de operações da Guiné em bidões metálicos e/ou  barris de várias medidas; a Intendência fazia a redistribuição para as 220 e tal guarnições militares do território (aquartelamentos e destacamentos). Se o transporte fosse em coluna auto, poderia ir nos próprios bidões ou barris. Se fosse por lancha para sítios mais isolados (rio Cacheu, rio Cumbijã, rio Cacine, por exemplo), o vinho era muitas vezes recondicionado em recipientes mais pequenos e manobráveis: aqui, barris de 50 l ou outros recipientes metálicos robustos (como jerricãs, embora menos comuns para vinho) seriam preferíveis aos frágeis garrafões.

 Os problemas logísticos ditavam que a robustez da embalagem era mais importante do que qualquer outra consideração. 



4. A cor dos bidões metálicos para vinho

 Quando apareceram  os bidões metálicos, de 200/210 litros, para vinho, tinha uma  cor exterior que permitia distinguí-los logo dos restantes bidões usados para combustíveis e óleos:

  • Vermelho = Gasolina
  • Azul = Gasóleo
  • Verde-Claro = Petróleo branco
  • Amarelo = Óleos
 

Os bidões metálicos de vinho, utilizados durante a guerra colonial na Guiné Portuguesa (1961–1974), tinham geralmente um volume de 200 a 210 litros, eram estanhados por dentro (para evitar a corrosão do recipiente e  a contaminação do vinho) e, no exterior, eram pintados de cor prateada ou cinzento-metálico (ou  cor metálica natural ou tinta alumínio) (vd. imagem à direita, de um bidão moderno, "made in China").

Os bidões para vinho não seguiam o mesmo código cromático que os combustíveis e óleos (vermelho, azul, verde-claro, amarelo), pois não transportavam produtos inflamáveis. Podiam ser  reaproveitados para outros fins, devendo ser em princípios devolvidos à Intentência.  (Ou não ?... Fica para confirmar.)

Em 1969/71, não me lebro de os ver em Bambadinca... (Mas eu nunca fui visitar o destacamento da Intendència, no cais fluvial de Bambadinca,)

 5. 
Conclusão provisória

Segundo a(s) assistente(s)de IA que consultámos, não foi encontrada, nas fontes de acesso aberto,   
descrição normativa padronizada do acondicionamento específico do vinho para a Guiné, ao tempo da guerra colonial (barris de 50 L,  barris de 100 l, bidões de 200-210 L, garrafões, etc.). A Intendència foi-se adaptando também, conforme a tecnologia de acondicionamento dos líquidos, a par da modernização dos portos, da estiva e dos transportes marítimos. 

 Em conslusão, o "vinho ... pró branco de 2ª"  (que foi o Rosinha em Angola e todos nós na Guiné...) era fornecido a granel, em embalagens de grande capacidade, para facilitar o transporte e reduzir custos.  Para o interior, para o mato, foi encontrando soluções à medida, conforme as necessidades e os obstáculos. 

Veremos, em detalhe, em poste a seguir, os problemas logísticos que levantavam o abastecimento de vinho às NT.

 (Contimua)

(Pesquisa: LG + Assistente de IA (ChatGPT, Gemini, Perplexity, Meta, Mistral)

(Condensação, revisão / fixação de texto, negritos: LG)

___________________

Nota do editor LG:


Último poste da série > 18 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27330: O vinho... pró branco de 2ª e pró tinto de 1ª (3): a ração diária do "tuga" seria de 1/4 de litro, o que dava 90 litros em média por ano, diz a "Sabe-tudo"

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Lembro-me dos barris, dos garrafões de 10 litros... No meu tempo (1960/71).

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Confesso que não me lembro dos bidões metálicos para o vinho...Bolas, e fiz segurança a diversas colunas logísticas, com dezenas de viaturas (militares e civis), de Bambadinca a Saltinho, e até de Bambadinca a Galomaro. No tempo das chuvas. E numa estrada que teve ser reaberta por nós, CCAÇ 12 e outros "brancos de 2ª" e "pretos de 1ª"...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Era um tempo em que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses, incluindo os tanoeiros. Ninguém sabe quantos eram. A "Sabe-tudo" não sabe nada... Na minha terra havia vários. E o filho do tanoeiro era tanoeiro. Uma vida inteira a aprender a arte, tal como o tocador de balafom em Tabato...

Desapareceram todos na voragem do tempo, os tanoeiros , e os tocadores de balafom, os "dgigius", os poetas, os cantores ambulantes, a música agro-mandinga... Era uma arte, a tanoaria. Desapareceu como tantas outras. Hoje é uma indústria. Um barril custa uma "pipa de massa". Nem matéria-prima temos... com tanto incêndio. E depois quem quer ser tanoeiro ? E tocador de balafom ? Ou de cora ?!...

O nosso Zé Manel Lopes que o diga, está por dentro do negócio. Ou a Quinta de Candoz, que também com começa a comprar barris de carvalho francês, para as experiências do "vinho de curtimenta" (um estilo de vinho branco onde as películas e as grainhas ficam em contacto com as massas, tal como se de um tinto se tratasse). . .

Em meados dos anos 60 havia centenas, milhares, de tanoeiros para fazer barris que levavam ao Império o vinho para o preto de 1ª e o branco de 2ª... Os barris, chegados a Bambabinca ou a Guileje, depois de bebido o conteúdo, serviam para a "bricolagem"... Faziam-se móveis, mesas, cadeiras, bancos....Ficava mais caro o transporte que o fabrico!... P`*ta de miséria a nossa...