sábado, 30 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5733: História de vida (26): António Marques, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), um sobrevivente nato (Mário Miguéis / Luís Graça)

1. Comentário, ao poste P5698 (*), com data de 24 do corrente, e da autoria de Mário Miguéis da Silva (**):

Caro Marques,

Acabei de chegar a casa e, como já tem acontecido antes, não quis deitar-me sem ler as últimas do nosso querido blogue. Em boa hora o fiz, porque tive a agradabilíssima surpresa e o enorme prazer de te rever ao fim de 39 anos. É verdade, meu caro, da última vez que te vi, estavas deitado, de barriga para cima, no fundo de uma GMC. (***).

Tinhas chegado a Bambadinca, vindo dos lados dos Nhabijões. Essa tua última imagem que me ficou gravada na retina e na memória era a de uma estátua de cera - tal era a tua palidez -, inerte e gelada, como estátua que era. Como se um artista plástico de vanguarda, num golpe de génio, tivesse rematado aquela obra (para mim) macabra, dois grossos fios de sangue saíam-te dos ouvidos e percorriam-te o pescoço até se esbaterem no pó do camuflado.

Quando te olhei pela última vez, o sangue deixara de correr, ou porque todo o teu sangue tinha solidificadoou porque, simplesmente, já não havia sangue para correr. Para mim, estavas morto e bem morto ou, então, andavas lá perto, muito perto. Seria uma questão de horas, talvez minutos apenas.

E, afinal, e FELIZMENTE!, não te deixaste passar para o outro lado.

Confesso-te que estive convencido de que tinhas "batido as botas" até ao ano passado, altura em que, ao ler neste blogue uma crónica ou coisa do género do Luís Graça (o nosso Henriques, em Bambadinca), pude, para meu espanto, concluir que, embora gravemente ferido, tinhas sobrevivido e continuavas "vivinho da silva", residindo para os lados de Lisboa. Para além de surpreso, fiquei, naturalmente, muito satisfeito, com a tua decisão de te manteres entre nós, embora te tivessem dado uma carga mais que suficiente para te passar para a outra margem.

Vou terminar este meu comentário por onde deveria ter começado, isto é, por dizer-te quem sou, embora isso seja o mesmo que dizer-te nada, na medida em que eu, na altura, em Bambadinca, não passava de um pobre "pira" com um mesito de Guiné. Tratavam-me por "Silva", esse meu apelido tão raro, era, como tu, furriel miliciano, pertencia ao Serviço de Informações e estava a estagiar na sede do BART 2917, onde a tua CCAÇ 12 estava "hospedada".

Um grande abraço,

Mário Migueis

PS - Embora o Luís Graça já tenha oportunamente relatado o episódio das duas minas anti-carro em causa (a foto do burrinho, cujo condutor morreu, foi, inclusivamente, publicada numa das últimas obras do nosso camarada Beja Santos), espero poder, logo que tal se proporcione, aflorar de novo o assunto, até porque, na sequência dos acontecimentos, fui parar aos Nhabijões, onde passei umas mini-férias. De ti, espero que, no mínimo, nos contes tudo o que o soubeste ter-se passado contigo após a tua evacuação para o hospital militar.



Castro Daire > Freguesia de Monteiras > Zona Industrial da Ouvida > Restaurante P/P > 30 de Maio de 2009 > 15º Convívio do pessoal de Bambadinca, 1968/71, CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras subunidades adidas >

Três camaradas da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, Junho 69/ Março 71)... Da esquerda para a direita, o ex-Fur Mil At Inf Joaquim Fernandes, ex-1º Cabo Aux Enf Fernando Sousa e o ex-Fur Mil At Inf António Marques... O Fernandes e o Marques foram vitimas de explosão de minas A/C, à saída do reordenamento de Nhabijões, a 13 de Janeiro de 1971, com vinte meses de comissão... O Marques, que esteve às portas da morte (se não fora a evacuação Y para o Hospital de Bissau), esteve dois anos em tratamento e reabilitação no Hospital Militar Principal, para onde foi transferido em 12 de Fevereiro de 1971... É um sobrevivente nato! (LG)

Foto: © Luís Graça (2009). Direitos reservados

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Miguéis: Não leves a mal, mas o Marques (Fernando Marques, para a família) não se lembra de ti… Aliás, não se lembra de nada... O que não admira, dadas as circunstâncias em que ele se separou de nós, em 13 de Janeiro de 1971… Entre a vida e a morte, seguiu para o HM 241, em Bissau, onde esteve em estado de coma até ao final do mês… Mais exactamente, 17 dias… Estive ontem ao telefone a recapitular, com ele, estas coisas dolorosas. Ele chegou ao hospital politraumatizado, com lesões muito graves, incluindo o fémur partido… Começou a retomar a consciência no final do mês de Janeiro… Por coincidência, quem cuidava dele era um 1º cabo enfermeiro que tinha estado na tropa com o seu (dele, Marques) irmão mais velho. Foi este homem que fez a ponte com a família, que não sabia de nada. E andava naturalmente inquieta. O Marques escrevia praticamente todos os dias à dua namorada, e hoje esposa, Geni. Ela trabalhava num escritório de uma fábrica de cerâmica, existente na época perto do Hospital Egas Moniz. Alarmada com a falta de notícias, removeu montanhas – juntamente com o irmão mais velho do namorado – para saber dele… O Exército era pródigo em palavras: só costumava dar as notícias fatais. E fazia-o de forma lacónica e brutal.

Em, 12 de Fevereiro, o nosso Marques vem num avião da TAP, expressamente acompanhado com um tenente miliciano médico, de que ele infelizmenmte não se lembra o nome. Esta diligência era habitual, quando o doente estava em perigo de vida…

Recorda-se de ter chegado a Lisboa e ter á sua espera a Geni e a família, o irmão mais velho… Depois foi o longo calvário do tratamento e da reabilitação no Hospital Militar da Estrela e do Anexo de Campolide… Só seis meses depois da mina, é que ele tentou levantar-se da cama… A Geni, uma grande mulher, teve um papel excepcional na sua reabilitação. Poucos acreditaram que ele se safava… Resolvido o problema do foro neurológico, era preciso consertar o fémur… A perna esteva para ser amputada… Os pessoal do Hospital Militar fez milagres…

Ainda em 1971 ou princípios de 1972, o Marques casou-se com a Geni, de quem tem dois filhos, um casal, de 34 anos e 26 anos, respectivamente. E já é avô de 4 netos. Creio que foi também nesta altura que ele tirou a carta de condução, fazendo o exame que não chegou a fazer em Bissau (estava marcado para meados de Janeiro de 1971, mas a mina de Nhabijões estragou-lhe os planos …).

Entretanto, o HMP vai continuar a ser a sua casa durante mais um ano. Aqui fez amizade com um conhecidíssimo DFA, o Patuleia, o Fur Mil Patuleia que em Angola fora vítima da explosão de uma mina. Ficou cego. Ficaram amigos para o resto da vida. O Patuleia é natural do Bombarral, meu vizinho, portanto. Encontrei-o muitas vezes na Repartição de Finanças da Reboleira onde trabalhava. Já está hoje reformado. Já o vi em dois ou três convívios nossos (****) . Esteve, nomeadamente no IV Encontro Nacional da nossa Tabanca Grande, em Monte Real, em Junho de 2009.

O nosso António Fernando Rodrigues Marques, depois deste calvário todo, tornou.se empresário. Largiu o seu emprego de escriturário numa obscura secção dos serviços sociais das Forças Armadas. Com o irmão ou irmãos e com a Geni, foi abrindo lojas de pronto a vestir, a última das quais onde vive. O trabalho ajudou-o a superar as sequelas da guerra...

Ficámos, um dia destes, de almoçar juntos, para continuarmos esta conversa... É uma fantástica história de vida, a do Marques (******). Tenho uma grande admiração e carinho por ele. É um sobrevivente nato. De alguma maneira, ainda não ultrapassei, ao fim destes anos todos, o meu estranho sentimento de culpa por ter sido eu a seguir no 'lugar do morto', uma decisão de lotaria), nesse fatídico dia 13 de Janeiro de 1971, e ter sido justamente o Marques a grande vítima da mina A/C...
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 23 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5698: Tabanca Grande (199): António Fernando R. Marques, ex-Fur Mil da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

(...) António Fernando Rodrigues Marques, ex-Furriel Miliciano da CCaç 12 (CCAÇ 2590), Contuboel / Bambadinca 1969 / 1971, [vítima de] rebentamento da mina em Nhabijões em 13 de Janeiro de 1971, onde íamos os dois e onde fiquei gravemente ferido e em perigo de vida. (...)

(**) Membro da nossa Tabanca Grande desde Abril de 2009 > Vd. poste de 16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4194: Tabanca Grande (134): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné 1970/72)

(...) Posto: Furriel Miliciano
Especialidade: Reconhecimento e Informação
Unidade: C.C.S. - Q.G. (Bissau)
Colocação: Com-Chefe / Rep-Info (Amura-Bissau)
Função: Serviço de Informações Militares (SIM)

Unidades em que estive em diligência:
Bart 2917 / Bambadinca (Novembro 70 a Janeiro 71, incl.);
CCaç 2701 e CCaç 3890 / Saltinho (Março 71 a Outubro 72, incl.)

Outros sítios importantes onde, ao longo da comissão, estive amiúde, em curtas estadias de serviço ou, simplesmente, em trânsito para outros pontos do território: Galomaro, Bafatá, Nova Lamego, Xitole, Xime, Mansambo, Aldeia Formosa (...)

(***) Vd. poste de 28 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5717: Blogpoesia (64): À uma e meia da tarde... Em homenagem ao António Marques, que sobreviveu, dois anos depois, à explosão de um vulcão (Luís Graça)

(****) Vd. poste de 2 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4454: Convívios (140): Castro Daire, agora chão de Bambadinca, 1968/71 (3): Gente feliz, com lágrimas...

(*****) 12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5099: História de vida (16): Patrício Ribeiro, 62 anos, ex-fuzileiro, empresário, apanhado do clima...

Guiné 63/74 - P5732: Os nossos médicos (15): Professor Doutor Pereira Coelho (ex-Alf Mil Méd do BCAÇ 3872 e Director do Hospital Civil Bafatá, 71/74


1. O nosso Camarada Luís Dias*, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74, enviou-nos a seguinte mensagem:

Camaradas,Conforme havia sido combinado com o Luís Graça, junto extractos de uma entrevista com o Professor-Doutor Pereira Coelho, que foi médico do Batalhão de Caçadores 3872 (Guiné 1971-74) e, mais tarde, Director do Hospital Civil de Bafatá.Material este publicado inicialmente no blogue da CCAÇ 3491 (wwwccac3491guine7174.blogspot.com).

A nossa publicação está já devidamente autorizada pelo nosso camarada Ex-Alf Milº Médico.

Amigos e Camaradas,

Há uns dias atrás, mais propriamente no dia do jogo de futebol entre Portugal e a Hungria, fui surpreendido com um telefonema do meu caríssimo amigo - o Professor-Doutor Pereira Coelho - que me disse que o seu contributo para o blogue estava num artigo que saíra naquele dia na revista do Jornal "i".

É claro que parti logo para a compra do jornal e depois de ler o artigo telefonei-lhe de volta e falámos um pouco sobre o artigo e que, a meu ver, era extremamente importante, permitindo-me que transcrevesse para o nosso blogue alguns dos seus pontos de vista sobre aquela guerra, expostos no citado artigo. Parece-me dispensar apresentações o nosso querido médico de Batalhão, o então Alferes Miliciano Médico, Pereira Coelho.

Permitam-me, no entanto, salientar que, para além das inegáveis qualidades profissionais, tantas vezes demonstradas no apoio aos nossos combatentes, na forma como se dedicava aos problemas que surgiam de âmbito médico nas companhias do batalhão e também nas tabancas que de nós dependiam e estavam inseridas na nossa quadrícula, mas também destacar o seu elevado humanismo e sentido de camaradagem, a forma como se disponibilizava para ajudar, muitas vezes ultrapassando o seu dever, correndo risco de vida. Estas qualidades levaram a que fosse estimado por todos os oficiais, sargentos e praças e tendo conquistado, rapidamente, a amizade e admiração das populações locais.

Como também todos sabem, o Professor - Doutor Pereira Coelho foi a alma pioneira de um projecto iniciado no nosso país - a Fertilização in-vítro. Em resultado do seu trabalho e em conjunto com a sua equipa do Hospital de Santa Maria, nasce, em 25 de Fevereiro de 1986, em Lisboa, a primeira criança, graças à técnica FIV. O rapaz, de nome Carlos Saleiro (é hoje avançado no Sporting) veio dar esperança a muitos casais com problemas de infertilidade.

Este acontecimento encheu-nos, claramente, de orgulho.O Alferes Médico Pereira Coelho adoeceu em Galomaro e foi evacuado por coluna até Bafatá e depois seguiu de avioneta para Bissau, isto porque as evacuações por hélio estavam proibidas, sendo apenas usadas para casos extremos. Este facto, que se espalhou rapidamente pelas tropas, veio provocar alguma instabilidade nas nossas forças, porque muitos perguntavam: "Se eles não vêm a Galomaro, sede do batalhão, buscar o médico, com receio de serem atingidos pelos strella, como é que vão ao mato buscar alguém, se ficar ferido?"

O nosso médico, como ele conta na entrevista, foi desvinculado mais tarde do Batalhão e passou a ser o Director do Hospital Civil de Bafatá, onde continuou a exercer com a competência e a responsabilidade que lhe são conhecidas. Foi substituído no Batalhão pelo Alferes Miliciano Médico, Rui Coelho, também ele um óptimo profissional e um excelente camarada (estabelecido na cidade do Porto).

Extractos da entrevista do Alferes Médico Pereira Coelho, salientados pelo editor, com a devida vénia ao entrevistado e ao jornal "i".O António Manuel (Pereira Coelho) que regressa no dia 25 de Outubro de 1973 (a) é uma pessoa muito mais forte e personalizada do que aquela que sai daqui em 22 de Dezembro de 1971 (b). Melhor. Mais preparado para enfrentar a vida. Munido de resistências fantásticas reunidas en terrenos pantanosos, por entre capins colossais, mercúrio severo e iminência de assaltos e emboscadas com desfecho imprevisto".

"Posso garantir que se a nossa atitude fosse de coragem e de espírito de luta pela sobrevivência, por muito maus bocados que tivéssemos passado, acabávamos por sair de lá mais determinados do que tínhamos ido"."Fazendo uma retrospectiva da minha vida, quase me atrevia a dizer que o mais marcante foi a minha experiência na guerra, particularmente naquele período e naquele local" (c).


"Estávamos completamente sozinhos. Tínhamos de decidir as coisas mais inesperadas, particularmente quando foram proibidas as evacuações, a não ser em casos extremos".

Depois de em certo dia lhe caírem em mãos duas raparigas em estado comatoso com quadro de meningite. "Caí na asneira de fazer respiração boca a boca a uma delas. Passados uns dias apareci com febre enorme, rigidez na nuca, falta de ar. Achei que tinha contraído a doença e pedi evacuação". Em termos de assistência civil às populações vê-se ainda a braços com uma epidemia de febre tifóide e sarampo, com exótica manifestação nos negros... Febre, manchas brancas, tosse e conjuntivite, em centenas de miúdos.

Um flagelo desenrascado com sucesso à colherada de uma solução lenta improvisada.Num ataque medonho à tabanca (d) incendeiam os telhados de colmo e o número de mortos explode à frente dos olhos. Nesse dia debate-se com 32 feridos graves queimados e uma das situações mais críticas, na sequência da morte de um dos enfermeiros (e) que estagiara com o grupo. "O pessoal que trabalhava comigo recusou-se a acudir alguns terroristas que tinham sobrevivido.

Tive de ser eu sozinho a tratar dos homens do PAIGC."Na chegada do correio a má nova faz estalar a polvorosa. Um dos elementos do batalhão apura por carta a traição da mulher. A loucura não faz a coisa por menos. Passeia-se (f) no aquartelamento com uma granada descavilhada pronta a desfeitear a harmonia.

"Andei uma noite inteira atrás dele a convencê-lo a dar um destino à granada. Não podia sair do pé dele. Se a deixasse cair por cansaço ou por livre vontade, nós os dois íamos logo. Já pela madrugada concordou atirá-la no campo de futebol. Jamais me vou esquecer dessa noite, entre as sete da tarde e as cinco da manhã".

Quando certo dia se inteiram da iminência de um ataque a Bafatá, é destacada uma companhia de pára-quedistas para bater aquela zona e tentar localizar e interceptar o grupo. Os páras cumprem a operação.

Quando regressam, o sargento que os comandara pede por tudo para ser recebido pelo médico. Nenhum mal lhe acometera a carne. Tem necessidade de desabafar depois de ter localizado o grupo de combate. "O grande dilema era o que fazer. Atacar e matá-los a todos ou podre vir a ser responsável pelas consequências de um ataque quando actuassem. Ignorou-os. Mas não conseguiu aguentar sozinho aquela responsabilidade." (g)

Pela conduta em missão, é-lhe concedido um louvor pelo comandante militar, Brigadeiro Bettencourt Rodrigues. Nunca prescinde da sua arma sempre que se desloca em coluna. "Entendiam que o médico não devia usar arma. Sim, mas era médico militar. Um mero alferes no meio dos outros soldados".

Regressa à Guiné em 1992. A saudade é apenas saciada em Bafatá. O seu aquartelamento em Galomaro dista por estrada 35 tortuosos quilómetros avessos a viaturas comuns. A realidade que os sentidos alcançam decepciona. "As condições eram fantásticas comparadas com o que fui encontrar vinte anos mais tarde".

O hospital militar em Bissau, um modelo na altura, assente num lençol de água, afundara-se até ao ponto de inutilização completa. No Hospital Civil Simão Mendes, albergue próprio de "quinto mundo", as condições indignas facultam pouca assistência aos locais. Cheiro nauseabundo, fezes, urina. Gente prostrada. Enfermarias irrespiráveis...".

Impressionado mas também comovido depois da passagem por Bafatá. Uma consulta de manhã. E qual não é o espanto quando os enfermeiros que com ele trabalharam o reconhecem. "Foi indescritível porque todos se agarraram a mim a pedir por tudo para os trazer para Portugal, porque a vida não se comparava com o outro tempo. Foi um drama ter de os afastar".

O calor da recepção aumenta depois do almoço. Defronte do hospital uma multidão de 4ooo pessoas espera-o com a recordação fresca na fala. "Ainda sabiam o meu nome. Revela até que ponto o pouco que lhes podíamos dar os marcou."

Caro Amigo,

Confesso, como aliás já te disse, que gostei da tua entrevista e do contributo aqui para o blogue, e também te digo que me levantaste as saudades, não da guerra, mas da sã camaradagem que vivemos naquelas terras, dos amigos que lá deixámos e do apuramento de virtudes e de carácter que transformou meninos em homens. (h)

Sabes que eras bastante apreciado pelo pessoal do batalhão e fizeste por merecer esse reconhecimento. Bem hajas.

Um grande abraço para ti e que o nosso Benfica continue em grande (este ano é que é!!!).

O Professor – Doutor Pereira Coelho actualmente.

O Professor – Doutor Pereira Coelho actualmente.

O Alf. Milº Médico, Dr. Pereira Coelho, na Guiné

NOTAS DO EDITOR:

(a) O nosso Batalhão chega a Lisboa a 4 de Abril de 1974.

(b) O Dr. P. Coelho vai para a Guiné no navio Niassa, juntamente com o BART 3873, em 22 de Dezembro de 1971, enquanto o nosso batalhão - BCAÇ3872, partira uns dias antes, em 18 de Dezembro. Contudo, o Alf. Médico vai para Galomaro directamente, chegando à nossa zona de intervenção um mês antes de nós, porque ficámos em IAO no Cumeré.

(c) A zona de actuação do BCAÇ 3872 situava-se no leste da Guiné, com a sede do Batalhão em Galomaro e as companhias sediadas em Cancolim (3489), Dulombi (3491) e Saltinho (3490).

(d) A tabanca era a de Campata, que foi violentamente atacada, mas onde o IN também sofreu bastantes baixas, face à reacção do pelotão de milícias ali instalado.

(e) Tratava-se de um auxiliar de enfermagem de origem local e que dormia na tabanca atacada.

(f) Quartel da sede do batalhão em Galomaro.

(g) De facto uma força de pára-quedistas localizou na área de intervenção da companhia de Cancolim uma força inimiga estimada em cerca de 100 elementos e solicitou ataque aéreo, recuando da zona. O grupo IN terá primeiramente debandado, mas reagrupou-se e terá sido responsável pelo ataque com foguetões a Bafatá. O Sargento que comandava a força terá sido alvo de processo disciplinar por ter evitado o contacto com as forças do PAIGC. O caso foi bastante comentado entre as nossas forças, pois não era habitual que tropas especiais "retirassem" numa situação daquelas!

(h) Era normal, no discurso de regresso à metrópole proferido pelo General António Spínola, ele referir-se ao facto das tropas chegarem ao território ainda meninos e partirem feitos homens. "Chegastes meninos! Partis homens!".

Um grande abraço a todos,
Luís Dias
Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

Guin é 63/74 - P5731: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (11): Inauguração da mesquita, almadjadja, com a presença do filho do Cherno Rachide e da Júlia Neto (Pepito)





1. Fotos e mensaqem de 28 do corrente, do nosso amigo Pepito (*)

INAUGURAÇÃO DA “MESQUITA” DE GUILEDJE

Também no dia 20 de Janeiro de 2010 foi reconstruída a antiga Almadjadja existente no Quartel de Guiledje (A Almadjadja está para a Mesquita como a Capela está para a Igreja) (*).

Os Homens Grandes e lideres espirituais de Guiledje e de Quebo (Aldeia Formosa) fizeram questão de ter um encontro especial com a Srª Júlia Neto, para lhe manifestarem a sua alegria em a receber no chão que foi do marido e de todos os militares que passaram por estes dois quartéis.

Pepito
________________________

Nota de L.G.:

(`*) Vd, poste anterior, 29 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5726: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (10): A inauguração da capela, em 20 de Janeiro, na presença do embaixador de Portugal (Pepito)

Guiné 63/74 - P5730: Blogues da nossa blogosfera (33): Site da CCAÇ 4740 (Armando Faria)



1. O nosso Camarada-de-armas Armando Faria, ex-Fur Mil da CCAÇ 4740, enviou-nos a seguinte mensagem, convidando-nos a visitar e a assim conhecer o site da sua companhia:

Boa tarde amigos, companheiros/camaradas/irmãos, de outras “aventuras”.

Verifico com agrado, que as dificuldades que um dia todos vivemos e quiçá as alegrias nela encontradas, servem hoje para nos unir em torno, senão mais, pelo menos de uma juventude deixada no tempo de uma vida que se vai aproximando do seu pleno.

Ao procurar, passados que foram mais de trinta e três anos, reencontrar aqueles que comigo andaram por Cufar entre 1972/74, tenho tido a felicidade suprema de ter neste momento reunido a quase totalidade da minha companhia, a CCAÇ 4740, oriunda do BI 17 em Angra do Heroísmo.

Temos criada uma pagina, o Site CCAC4740 - http://www.ccac4740cufar.com/,e nela vamos dando a conhecer a nossa gente àqueles que passaram por Cufar e que, como nós, têm as suas historias e a vontade de se reencontrarem.


É neste espírito que temos vindo a organizar os nossos Encontro Anuais. Em 01 Dezembro de 2007 (em Fátima) realizamos o 1º Encontro, que passou a ser regular nos meses de Junho. Assim, já realizados Encontros em 01-12-2007, 21-06-2008 e 20-06-2009). O próximo será em 19 Junho 2010.

A estes encontros têm estado presentes alguns companheiros da CCAÇ 4740 e de grupos que estiveram aquartelados connosco em Cufar, no mesmo período de Junho de 1972 a Julho de 1974.

Como sabem, por experiência, são estes momentos de muita alegria e de elevada amizade, que só quem como nós sabe o quanto significam tais eventos.

Hoje, porém, apenas vos solicito que dêem a conhecer a nossa página, para que outros se possam juntar e vir a dar corpo, quem sabe um dia, a um grande movimento de antigos combatentes a favor de outras causas que são hoje tão precisas pela nossa querida Guiné.

Um abraço a todos do tamanho do Cumbijã,
Armando Faria
Fur Mil da CCAÇ 4740
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 – P5729: Histórias do Eduardo Campos (7): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 7): Nhacra 2


1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a 7ª fracção da história da sua Companhia:

CCAÇ 4540 – 72/74
"SOMOS UM CASO SÉRIO"

PARTE 7

NHACRA 2


Em Nhacra, fomos encontrar os camaradas do Pelotão de Morteiros 4581/72 e os do 3º Pelotão AA da Batª AA 7040, além de dois pelotões de Milícias: o 329 aquartelado em Oco Grande e o 230 aquartelado em Bupe, ambos pertencendo à Companhia de Milícias de Nhacra e que ficaram adidos à CCAÇ 4540.

O IN não possuía dentro da ZA, pessoal suficiente em quadros e grupos que lhe permitisse desenvolver uma actividade dinâmica e poderosa, quer para flagelar e atacar o aquartelamento e o Centro Emissor de Nhacra, quer para emboscar as NT fora do aquartelamento.

No entanto, fomos informados que Nhacra e o Centro Emissor foram flagelados pelo IN duas vezes: a primeira ao tempo da CCAÇ 3326, em Maio de 1972, por um grupo equipado com armas automáticas e RPG-2 e 7, e a segunda em Agosto de 1972, utilizando também um canhão s/r. Em ambos os casos sem qualquer consequência material ou pessoal para as NT.

Sabíamos que o IN andava por ali perto e que atravessava, frequentemente, algumas linhas principais de infiltração, para o interior da nossa ZA a saber: de Choquemone, Infaide, Biambe, pela península de Unche para Iuncume, quando se dirigiam para Nhacra.

As principais prioridades da nossa Companhia eram: a garantia da segurança do Centro Emissor de Nhacra, o itinerário Bissau–Mansoa e, através de intensa actividade (patrulhamentos e reconhecimentos), evitar que o IN se aproximasse de forma a evitar que pudesse atacar a cidade/capital de Bissau, o Aeroporto de Bissalanca, os complexos miltares de Brá e da Sacor, bem como as instalações militares e civis do Cumeré.

Em onze meses de permanência em Nhacra, nunca tivemos contacto com IN, nem as instalações sofreram qualquer ataque.

Os aglomerados populacionais da ZA da nossa Companhia, distribuíam-se por dois regulados: o Regulado de Nhacra com as tabancas de Nhacra (Nhacra, Teda, Sal, Bupe, Sucuto, Incume, Sumo, Nhoma e Cholufe) e o Regulado do Cumeré com as tabancas do Cumeré, Com, Cuntanga, Quide, Birla, Caiana, Som Caramacó, Cola, Nague, Ocozinho, Rucuto e Oco Grande (reordenamento zincado).

A estrutura agrícola existente baseava-se numa economia básica de subsistência, cujos produtos, que ocupavam lugares especiais de relevo, eram o amendoim, o arroz, o milho, a mandioca, o feijão, a cana sacarina e pouco mais.Na pecuária existiam boas condições para a criação de gado, condicionante porém pelo ancestral costume tribal, que considerava o gado como um sinal exterior de respeito e riqueza e não com um factor económico.

Era evidente e manifesto o desagrado em abater, ou mesmo vender, qualquer cabeça de gado, fosse para alimentação ou para outros fins industriais. Em toda aquela zona predominava a etnia Balanta, coexistindo com algumas minorias étnicas que se estabeleceram em chão Balanta, vindas de outras regiões, escorraçadas pela insegurança que a guerra originava, principalmente Fulas, Mandingas e alguns Manjacos.

Os Balantas eram dotados de uma impressionante constituição física, trabalhadores, valentes, enérgicos e com grande força de vontade pela vida, ao que acrescentaria que eram bons agricultores, arrancando da terra os meios de subsistência de que necessitavam, alimentando-se à base de arroz, azeite de palma, milho e mandioca. Além disso, eram polígamos e condenavam o celibato. Extremamente supersticiosos, acreditavam na transfiguração da alma, atribuindo à feitiçaria as suas desgraças.

Praticavam o roubo, em especial de gado, com a consciência de um acto não criminoso, mas sim um admirável e enaltecedor sinal que revelava a perícia pessoal, bem com de toda a sua própria tribo. O gado bovino que possuíam destinavam-no às cerimónias de sacrifício, nomeadamente nos seus rituais de acompanhamentos fúnebres (choros).

Os Fulas de um modo geral eram hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado.Apesar da influência que o Islamismo tinha entre eles, praticavam ainda o feiticismo e criavam gado, considerado este facto como um sinal de respeito e nobreza.

A acção psicológica desenvolvida pela NT na zona era bastante intensiva, apesar de se constatar em alguns núcleos, certa reserva em relação à mesma, quando não nula, com maior evidência nas tabancas de Sal e Bupe.

As populações tinham apoio médico/sanitário, transporte em viaturas militares, assistência educativa prestada por missões religiosas em várias escolas, um professor militar e vários elementos africanos que estavam adidos à Companhia, sendo também de salientar a assistência religiosa prestada por padres missionários aos domingos.


A Capela dentro do Aquartelamento de Nhacra. Eu (à esquerda) e o Charneca


No posto Rádio, "afogando" as nossas mágoas e saudades (da esquerda para a direita): Cristóvão, Saraiva e Eu


Amigos inesquecíveis (da esquerda para direita): Adriano, Cristóvão, Pinto, Eu e Charneca


Igreja, escola e campo de futebol em Nhacra


Mulher Balanta transportando lenha e as redes das lides da pesca do camarão e lenha


Armas de guerra artesanais em madeira, autênticas obras de arte, capturadas ao IN (serviam-lhes para instrução do seu pessoal), perto do Cumeré


A casa do Administrador em Nhacra

Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCaç 4540

Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5728: Convívios (181): 1.º Encontro da Tertúlia do Centro, aconteceu no dia 27 de Janeiro de 2010 em Monte Real



1. Quarta-Feira, dia 27 de Janeiro com repetição, para já, uma vez por mês, inaugurou-se a Tertúlia do Centro, concretizando-se o programado previsto para o repasto, que foi servido na Pensão Montanha, em Monte Real, tendo a concentração das tropas iniciado por volta das 12h00.


Feita chamada dos convivas que haviam marcado presença, todos responderam afirmativamente, sendo o pelotão constituído pelos seguintes convivas:

Álvaro Basto
Ana Maria e António Pimentel
António Martins Matos
António Graça de Abreu
Agostinho Gaspar
Américo Pratas
Artur Soares
Antonieta e Belarmino Sardinha
Carlos Neves
Daniel Vieira
Dulce e Luís Rainha
Eduardo Campos
Eduardo Magalhães Ribeiro
Gina e Fernando Marques
Giselda e Miguel Pessoa
Gustavo Santos
Joaquim Mexia Alves
Jorge Canhão
José Eduardo Oliveira e Esposa
José Belo
José Brás
José Carvalho
José Diniz
José Moreira
José Teixeira
Juvenal Amado
Lobo
Manuel Reis
Mendonça
Teresa e Carlos Marques
Vasco da Gama
Vasco Ferreira
Victor Caseiro


É sempre um caso sério descrever, por simples palavras, a animação, a alegria e a camaradagem que estas confraternizações proporcionam aos seus intervenientes.

Melhor que as palavras, porque como bem sempre ouvi dizer que uma fotografia vale mais que mil palavras, juntam-se algumas dos nossos fotógrafos de serviço: Miguel Pessoa, José Eduardo Oliveira (Jero) e Jorge Canhão.
A seguir transcrevem-se 3 mensagens recebidas, entretanto, dos nossos Camaradas Joaquim Mexia Alves, José Eduardo Oliveira (Jero) e Jorge Canhão.

1 - Mensagem do Joaquim Mexia Alves:

1º ENCONTRO DA TABANCA DO CENTRO

RELATÓRIO DA OPERAÇÃO “COZIDO À PORTUGUESA”



Manhã cedo, aí pelo raiar das 11.15, aterrou em Monte Real a Força Aérea, acompanhada da Enfermagem Especializada em saltos de pára-quedas, prontos para as primeiras instruções sobre a Operação “Cozido à Portuguesa”.

À sua espera, a minha pessoa, “graduada” em Comandante Improvisado, aguardava-os no Palace Hotel Monte Real, onde pernoitaram para o dia seguinte, pois a Operação revelava-se cansativa.Acertados os primeiros pormenores, rumámos para o ponto de encontro, onde esperaríamos pelo resto das forças, para depois prosseguirmos para o teatro de operações.

Qual não é o nosso espanto quando verificámos que numa dedicação total à operação, já alguns camarigos se tinham adiantado, quais batedores/picadores, (até lá estava um das “especiais”), e desbravando terreno, nos receberam com alegria incontida.

Entretanto o resto das forças foram chegando, tais como reforço para a Força Aérea, (que a operação era de vulto), transmissões, enfermeiros, operacionais e outras coisas mais, um homem de Astrolábio e Sextante, e também calculem bem, um enviado julgamos que da Nato, vindo expressamente da Lapónia para ver as forças a actuarem e com elas participar nesta Operação de grande envergadura.

Ansioso por entrar em combate, o pessoal olhava e questionava o Comandante Improvisado, que assobiando para o lado tentava disfarçar, dizendo que o inimigo ainda não estava pronto, que a Operação devia iniciar-se à hora marcada, que ainda faltavam algumas forças importantes para a Operação, e todo o género de desculpas esfarrapadas, que não conseguiam demover as forças presentes de avançar para o objectivo.



Assim decidiu o Comandante Improvisado rumar ao teatro de operações e questionar da possibilidade de se avançar desde logo para o terreno e fazer alguns exercícios degustativos mesmo antes de o inimigo estar pronto para o combate.

Tendo obtido luz verde, correu, (devagarinho que a idade conta), a chamar os operacionais, que muito ordeiramente, ao magote, se dirigiram para o terreno de combate.

Tranquilamente e em silêncio quase absoluto, como é apanágio dos Portugueses, (não se ouvia uma mosca, tal era o barulho), ocuparam as suas posições e cada um deu início aos primeiros exercícios, utilizando para tal uma broa divinal, um pão a sério, azeitonas de rija têmpera e um tinto de se lhe tirar a barretina!

Convém informar que, apoiando-se nas medidas em boa hora tomadas em Portugal de aceitar nas Forças Armadas as Senhoras deste país, algumas delas, convocadas pelo dever pátrio e também para controlarem os copos dos maridos, responderam sim à chamada, abrilhantando assim com graciosidade esta Operação que se poderia revestir de graves riscos para as nossas forças, causados por alguns possíveis excessos.

Chegada a hora aprazada, deu-se a conhecer o inimigo, que se apresentou bem ataviado, nas couves com sabor a campo, na cozedura certa, as batatas sabendo a batata e não a terra, uns nabos bem melhores do que este nabo que escreve, uns enchidos que se percebia nunca terem conhecido plástico de embalagem no vácuo e umas carnes suculentas, recheadas dos seus líquidos próprios e que se desfaziam na boca.

Nesse momento houve algum descontrolo, (perfeitamente aceitável dada a ansiedade de entrar em combate), e mesmo sem esperarem a voz de ataque, todos se atiraram ao inimigo com notável empenho e valentia.

“Dos fracos não reza a história”e ninguém se negava, (com risco da própria barriga), a ir lutando denodadamente tentando esgotar o inimigo, o que se afigurava tarefa assaz difícil, visto que o mesmo ia sendo reforçado em permanência pela Senhora Dona Preciosa e seu apoio logístico, incansáveis nessa missão.

O representante da Nato, (acreditamos que o fosse), vindo da Suécia, ia conversando e tentando inteirar-se deste tipo de combate tão usual no nosso país, e integrando-se totalmente nas forças presentes lutava também ele incansavelmente para chegar á vitória final.

Há derrotas que são vitórias, e humildemente temos que, dizendo a verdade, dar a conhecer a nossa derrota, a nossa capitulação, perante a qualidade e quantidade do inimigo.

De tal forma a batalha foi, que houve alguns que ainda levaram inimigo para casa a fim de prosseguirem o combate, depois de um merecido interregno.Começou então o rescaldo da Operação à volta de uns quantos bafejados pela sorte que ainda tiveram direito a arroz doce, mas não ficando os outros atrás, perante uma mesa ataviada de doces e frutas em qualidade e quantidade.

Começou então também a perceber-se pelo meio das conversas, o nome de um tal Luís Graça, havendo unanimidade no reconhecimento que só era possível agora convocar estas forças para tais Operações devido à sua brilhante ideia de ter fundado e liderar a Tabanca Grande, que é afinal o Quartel-general onde acabam por reportar todas estas forças já disseminadas em boa hora, pelo nosso Portugal.

O tal representante da Nato, (seria ou não?), embalado nesta união de forças e depois de já ter recebido uns vinhos Portugueses para o aquecerem nas longas noites da Lapónia, decidiu brindar o Comandante Improvisado com um “capacete” típico das terras mais a Norte da Suécia, bem como, um artefacto que imitava a “voz” das renas daquelas paragens, que servirão ou não, para fazer o “Cozido à Laponesa”.

Coube então a vez ao Comandante Improvisado de usar da palavra para ler um relatório circunstanciado, em verso, sobre a Tabanca do Centro escrito e trazido por quem veio das planícies alentejanas.

Pediu então que cada um colaborasse nos custos da Operação que se revelaram assustadoramente elevados, 8,50 € por cada combatente, e a Preciosa, (tratemo-la assim carinhosamente), num rasgo de generosidade ainda colocou à disposição das forças, duas garrafas de um líquido amarelado, que segundo diziam teria vindo da Escócia.

Depois desse momento o Comandante Improvisado continuou a falar para acertar agulhas sobre o combate já em momentos finais, e alertar as forças para a necessidade de se traçarem novas Operações, e sobretudo como aproveitar as sinergias, (estava a ver que não utilizava esta palavra!), geradas neste grupo, passando depois a palavra ao homem da água que se queixou amargamente que a picada para a fonte tinha muito mau piso e que precisava de materiais para arranjar a dita cuja.


Como “quem não chora não mama”, logo ali se lhe arranjaram creio que 155,00 €, o que não dando para alcatroar a picada, já dá para a desmatação.Aproveitando a deixa, outro homem da logística veio alertar as forças para a necessidade de ajudar de várias formas o povo irmão da Guiné, pelo que pedia a compreensão das forças presentes.

Estas intervenções levaram o Comandante Improvisado a dizer que, não colocando de lado essas ajudas, este grupo de combatentes reunidos na Tabanca do Centro se deveria preocupar em ajudar os ex-combatentes que nada têm e vivem em dificuldades, o que foi de um modo geral bem aceite, ficando cada um de dar o seu contributo em ideias para melhor se colocar em prática tal acção.

Perante o dever cumprido, e bem cumprido, e dada a ordem de desmobilização, o pessoal começou a retirar em boa ordem, não deixando nunca de gabar a qualidade e quantidade do inimigo que se apresentou a combate.

Outras Operações irão ser agendadas e em tempo será dado conhecimento aos denodados combatentes.
Monte Real, 29 de Janeiro de 2010

O Comandante Improvisado,
Joaquim Mexia Alves



2. Mensagem do José Eduardo Oliveira (Jero):

Camaradas,

Gostei muito do convívio e de conhecer alguns camaradas.

Não deu para falar com todos mas sinto que estou mais dentro do blogue depois desta tarde de Monte Real.

Seguem algumas fotos.

Abração,
JERO


3. Mensagem do Jorge Canhão:

Camaradas,

O encontro foi muito bom, mas apesar do cozido estar excelente o melhor, para mim, foi o convívio e, especialmente, ter conhecimento directo do que antigos combatentes, numa terra então desconhecida, estão a fazer por amor a um povo que em tempos foi o "deles".

Parabéns para a Tabanca Mãe pelo que tem andado a fazer pelos ex-Combatentes da Guiné, e por ser mãe de várias “tabanquinhas”.Parabéns para a Tabanca de Matosinhos pelo trabalho excelente que tem andado a fazer (há quem faça blá... blá... ), vocês fazem na prática o que outros tinham obrigação de fazer.

Parabéns para a Tabanca da Lapónia.

Parabéns para a Tabanca dos Melros.

Parabéns para a bebé.

Tabanca do Centro.

Abraços a todos,
Jorge Canhão


Fotos e legendas: © Miguel Pessoa, José Eduardo Oliveira (Jero) e Jorge Canhão (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

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