sábado, 23 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5698: Tabanca Grande (199): António Fernando R. Marques, ex-Fur Mil da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

1. Mensagem de António Fernando R. Marques, (ex-Fur Mil da CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71), com data de 18 de Janeiro de 2010:

Caro Luís Graça

António Fernando Rodrigues Marques, ex-Furriel Miliciano da CCaç 12 (CCAÇ 2590), Contuboel / Bambadinca 1969 / 1971, nascido a 24 de Agosto de 1946, venho inscrever-me como membro da Tabanca Grande, enviando para isso as duas fotografias uma antiga e outra recente.

Quanto à pequena história para contar não a tenho, tenho sim uma grande história a qual já te referiste no Blogue em 6 de Março de 2009*, que foi o rebentamento da mina em Nhabijões em 13 de Janeiro de 1971, onde íamos os dois e onde fiquei gravemente ferido e em perigo de vida.

Grato pela minha integração
Um grande abraço
Marques
Cascais, 18 de Janeiro de 2010


2. Comentário de CV:

Caro António Marques, bem-vindo à Tabanca Grande, onde por motivos menos bons foste falado em tempos.

São os votos da tertúlia que te encontres completamente restabelecido das mazelas provocadas pelo rebentamento daquela mina anticarro. És mais um dos que infelizmente têm a lamentar momentos e experiências horríveis daquela guerra, mas ao mesmo tempo, felizmente, um dos sortudos que hoje pode narrar o acontecimento porque está bem vivo.

Não quererás falar muito disso, o que se compreende, mas terás outras histórias para partilhar connosco, vividas com os teus e nossos camaradas guineenses da CCAÇ 12, onde foste companheiro do Luís Graça. Também nos podes enviar fotos que tenhas desse tempo para as publicarmos.

Esperamos então que brevemente nos voltes a contactar com mais pormenores da tua experiência enquanto graduado numa Companhia Africana. Falar, escrever neste caso, por vezes faz bem, e como em casa já ninguém quer ouvir falar de Guiné, este é o sítio onde nos estamos entre iguais.

Em nome da tertúlia envio-te um abraço de boas-vindas e votos de que sintas bem entre nós. Vê tu quantos mais amigos tens a partir de hoje.

Para ti uma saudação e um abraço especial do Luís.

Bambadinca > António Fernando Marques com o nosso Editor Luís Graça

Lisboa, Janeiro de 2010, António Fernando Marques e Luís Graça de novo juntos.

Foto de José Eduardo Reis Oliveira

__________

Notas de CV:

(*) Sobre o acontecimento de 13 de Janeiro de 1971, vd. postes de:

2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXIX: E de súbito uma explosão
e
23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971)

Vd. último poste da série Tabanca Grande de 29 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5561: Tabanca Grande (198): Rogério Cardoso, ex-Fur Mil da CART 643/BART 645 (Mansoa, 1964/66)

3 comentários:

Anónimo disse...

Um abraço,

Mário Migueis

Anónimo disse...

Caro Marques,
Acabei de chegar a casa e, como já tem acontecido antes, não quis deitar-me sem ler as últimas do nosso querido blogue. Em boa hora o fiz, porque tive a agradabilíssima surpresa e o enorme prazer de te rever ao fim de 39 anos. É verdade, meu caro, da última vez que te vi, estavas deitado, de barriga para cima, no fundo de uma GMC. Tinhas chegado a Bambadinca, vindo dos lados dos Nhabijões. Essa tua última imagem que me ficou gravada na retina e na memória era a de uma estátua de cera - tal era a tua palidez -, inerte e gelada, como estátua que era. Como se um artista plástico de vanguarda, num golpe de génio, tivesse rematado aquela obra (para mim) macabra, dois grossos fios de sangue saíam-te dos ouvidos e percorriam-te o pescoço até se esbaterem no pó do camuflado. Quando te olhei pela última vez, o sangue deixara de correr, ou porque todo o teu sangue tinha solificado ou porque, simplesmente, já não havia sangue para correr. Para mim, estavas morto e bem morto ou, então, andavas lá perto, muito perto. Seria uma questão de horas, talvez minutos apenas.
E, afinal e FELIZMENTE!, não te deixaste passar para o outro lado.
Confesso-te que estive convencido de que tinhas "batido as botas" até ao ano passado, altura em que, ao lêr neste blogue uma crónica ou coisa do género do Luís Graça (o nosso Henriques, em Bambadinca), pude, para meu espanto, concluir que, embora gravemente ferido, tinhas sobrevivido e continuavas "vivinho da silva", residindo para os lados de Lisboa. Para além de surpreso, fiquei, naturalmente, muito satisfeito, com a tua decisão de te manteres entre nós, embora te tivessem dado uma carga mais que suficiente para te passar para a outra margem.
Vou terminar este meu comentário por onde deveria ter começado, isto é, por dizer-te quem sou, embora isso seja o mesmo que dizer-te nada, na medida em que eu, na altura, em Bambadinca, não passava de um pobre "pira" com um mesito de Guiné. Tratavam-me por "Silva", esse meu apelido tão raro, era, como tu, furriel miliciano, pertencia ao Serviço de Informações e estava a estagiar na sede do BART 2917, onde a tua CCAÇ 12 estava "hospedada".
Um grande abraço,
Mário Migueis

PS: Embora o Luís Graça já tenha oportunamente relatado o episódio das duas minas anti-carro em causa (a foto do burrinho, cujo condutor morreu, foi, inclusivamente, publicada numa das últimas obras do nosso camarada Beja Santos), espero poder, logo que tal se proporcione, aflorar de novo o assunto, até porque, na sequência dos acontecimentos, fui parar aos Nhabijões, onde passei umas mini-férias. De ti, espero que, no mínimo, nos contes tudo o soubeste ter-se passado contigo após a tua evacuação para o hospital militar.

Anónimo disse...

Caro António Marques.
Durante aproximadamente um mês, tive o privilégio de ser o “Periquito” da Tabanca Grande. É com orgulho e satisfação que te passo o testemunho, te desejo felicidade, paz e saúde e te digo, Bem-Vindo.
Um abraço
José Corceiro