domingo, 17 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 – P5669: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (33): Até os babuínos eram contra nós (Mário G R Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 33ª mensegem, em 14 de Janeiro de 2010:

Camaradas,

Num encontro habitual que, periodicamente faço na Costa da Caparica, com antigos camaradas meus, o Nobre lembrou-se de contar um episódio hilariante mas de uma crueza real nas matas do sul da Guiné.

ATÉ OS BABUINOS ERAM CONTRA NÓS

A nossa ZA, a sul de MAMPATÁ, entre Colibuia e Nhacubá, onde se situava o corredor de Missirã (passagem muito utilizada pelo PAIGC), com destino ao Sector de XITOLE, era a nossa zona operacional mais frequente na acção de contra-penetração, que nos obrigava a permanecer no terreno emboscados, e em patrulhamento 24 horas/dia, permanentemente.

Por questão táctica e operacional estavam sempre fora do aquartelamento 2 Grupos de Combate, em acções sobre o dito corredor, tentando impedir a infiltração do IN e dificultando as suas acções de movimentação.

Existiam vastas zonas de implantação de minas e armadilhas, por nós criadas, que eram autênticos labirintos de morte para quem por lá se atrevesse a passar, o que por diversas vezes viemos a constatar.

Nesta área era frequente verem-se bandos numerosos de babuínos (macacos kom), que por ali tinham o seu habitat e que produziam grande barulheira (ladrando), quando pressentiam a nossa presença.

Certo dia, perto de Colibuia, quando procedíamos à verificação de algumas armadilhas que montáramos na área, encontramos o terreno de implantação todo remexido e constatámos que parte delas haviam sido levantadas e se encontravam à superfície do solo. Algumas tinham rebentado, vendo-se indícios de mortandade, pedaços de macacos, por todos os lados.

Obviamente, concluímos que tinham sido os nossos “amigos” babuínos, movidos pela curiosidade, que tinham prestado tal serviço de sapadores ao IN.

Curioso, é que já não bastava o PAIGC, como também passamos a ter de contar com os bandos de macacos kom como seus aliados, contra nós.

Quem aquelas matas atravessou, certamente se lembra dos babuínos ladrando insistentemente, protestando contra a nossa violação do seu habitat natural, e, se por vezes transportavam crias, até se tornavam agressivos, com atitudes e gestos hostis, tentando intimidar-nos.

Enfim, sempre pensei que é caso para dizer que tudo era adverso às NT, e que até os babuínos não nos gramavam.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


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