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quarta-feira, 29 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20920: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento, ex-Fur Mil Art) (17): Um condutor zeloso e cumpridor do seu dever

1. Em mensagem do dia 23 de Abril de 2020, o nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) manda-nos mais uma recordação da sua CART, hoje o exemplo de "Um condutor zeloso e cumpridor do seu dever".


RECORDAÇÕES DA CART 2520

Um condutor zeloso e cumpridor do seu dever

Uma das missões da CART 2520 era manter a segurança da estrada Xime/Bambadinca às colunas de viaturas militares que desembarcavam no Xime vindos de Bissau pelo rio Geba e seguiam depois para o interior da Guiné, ou vice-versa. A segurança da estrada consistia na picagem do itinerário até à Ponta Coli e uma vez aí chegados emboscávamos à beira da estrada, normalmente junto às árvores existentes e eventualmente junto aos chamados "baga-baga". Também montávamos o nossa própria segurança quando era necessário deslocarmo-nos a Bambadinca ao Batalhão 2852 e a Bafatá para a compra de víveres. Normalmente assim que as colunas de viaturas passavam, regressávamos à nossa base.

Certa tarde o Capitão Maltez, à falta do Alferes Marques, ordena-me para ir fazer uma segurança à Ponta Coli, iria desembarcar no Xime e seguir para Bambadinca uma coluna militar. E lá vamos nós cumprir a nossa missão com o pelotão bastante desfalcado, Furriel Monteiro "cá tem", estava no Enxalé; Furriel Soares "cá tem", estava nos reordenamentos em Nhabijões com outro militar do nosso pelotão. Como seria normal nestas ocasiões deveria seguir também um elemento de transmissões e um enfermeiro, mas como era para voltar de seguida, o capitão entendeu que estes elementos ficariam no quartel.

Estrada Xime-Ponta Coli-Bambadinca
Infogravura Luís Graça & Camaradas da Guiné

Instalados e emboscados no local a segurança está montada e passados alguns minutos as viaturas começam a passar. Uma, duas... até que uma das viaturas que seguia rebocada por outra, fica imobilizada em virtude de ser partido o cabo de reboque. Esta viatura tinha a mobilidade bastante reduzida porque creio eu, tinha sofrido um acidente ou se tinha incendiado. Feitas algumas tentativas em vão para seguir percurso, um dos responsáveis pela coluna pergunta-me se posso ficar ali mais algum tempo a fazer a segurança enquanto iriam a Bambadinca, voltariam muito breve para rebocar a viatura sinistrada, ao que eu acedi. Ficou junto a nós o militar condutor responsável pela viatura.

O tempo passa e a noite começa a cair sem que se vislumbre o regresso dos militares para fazer o necessário reboque. Dou indicações aos meus elementos para que se juntem mais, devido ao dia começar a escurecer e a visão entre os operacionais ser menor. Na minha cabeça começa a pairar o panorama ter de permanecer no local durante a noite sem estarmos preparados para tal, sem alimentação, com munições em quantidade mínima para a ocasião, sem enfermeiro e com a impossibilidade de comunicar com o nosso quartel por falta do operador de rádio e iria pôr em risco a vida de mais de 20 operacionais.

Uma ideia que me ocorreu foi regressar ao Xime e aí chegados, o Capitão Maltez decidisse o que fazer, mesmo que fossemos nós a voltar ao local, mas devidamente preparados para permanecermos naquele lugar extremamente perigoso durante uma noite, de guarda a uma viatura assucatada. Dirijo-me então ao condutor e digo-lhe o que pretendo fazer, ao que perentoriamente me responde: - Eu não abandono a viatura!
Fico a ferver de raiva, o que fazer com este gajo? - pergunto a mim mesmo. Levá-lo obrigado era completamente impossível e abandoná-lo junto à viatura, nunca o iríamos fazer, era impensável. Faço várias tentativas de o persuadir, mas em vão, a sua recusa em sair do local é determinante.

Esperamos, esperamos, a noite já havia caído, a nossa ansiedade aumentava a cada minuto, quando do lado de Bambadinca se ouve o barulho característico dos motores das viaturas a trabalhar, são os elementos que vêm proceder ao reboque da teimosa viatura e recolher o bravo e determinado condutor de que nada o demoveu de cumprir a sua missão como militar português. A salientar que as viaturas já vinham de luzes acesas o que não era muito aconselhável para a situação, talvez por desconhecimento da zona. Regressamos enfim, à nossa base, chegados ao nosso Xime já o sol tinha ido iluminar outras paragens havia mais de uma hora.

Para todos os camaradas desta Tabanca Grande um abraço.
José Nascimento
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20768: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (16): O Furriel Pestana

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15561: (De)Caras (27): As últimas perdas de 2015: a minha mãe, uma amiga do Fundão e o camarada António Vaz (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1971/74)


VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Leiria. Monte Real > 21 de abril de 2012 > Da esquerda para a direita, o António José Pereira da Costa, o António Vaz, o Acácio Correia e o Jorge Araújo


VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Leiria. Monte Real > 21 de abril de 2012 > Da esquerda para a direita,  o Jorge Araújo (ex-fur mil op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1971/74) e o António Vaz, ex-cap mil art, cmdt CART 1746  (Bissorã e Xime, 1967/69).

Fotos (e legendas): © Jorge Araújo (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem de Jorge Araújo, com data de hoje, enviada às 21:01

Camaradas,

Depois de ter perdido minha mãe na terça-feira, de ontem ter seguido para Castelo Novo, Alpedrinha, para o último adeus de despedida de uma amiga que faleceu no mesmo dia dela e que havia completado na véspera meio século de vida, e agora receber a notícia da morte do camarada António Vaz, são três acontecimentos dramáticos sucessivos que me deixam perplexo e apavorado, a poucas horas de um Novo Ano.

Sobre o camarada Cap António Vaz, tive o grande prazer de o conhecer no VII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, no dia 21 de abril de 2012. Tomou a iniciativa de a mim se dirigir, cumprimentando-me com um forte abraço, carregado de significado, depois de ter tido conhecimento de que eu estivera no Xime, tal como ele em período anterior. Saudou-me pelos meus textos publicados no blogue sobre as duas emboscadas na Ponta Coli, sofridas pela CART 3494, em 1972. Conversámos algum tempo sobre esse contexto e as principais dificuldades de cada uma das épocas.

Fiquei muito sensibilizado pelo seu humanismo e agora muito triste pela notícia da sua morte. Que descanse em paz.

Jorge Araújo
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sábado, 4 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14832: (De)caras (23): O mistério dos autocarros no Xime... Para mim, este "slide" é de março/abril de 1974... (António Manuel Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972/74)

1. Mensagem, de 3 do corrente,  enviada pelo António Manuel Sucena Rodrigues, em complemento da informação prestada no poste P14810 (*)

Assunto: Os autocarros no Xime

Olá,  Luís,

Voltando à carga com a data da foto que mostra os autocarros, pareceu-me que fazes depender a presença destes na Zona Leste, da passagem do 25 de abril. Ora,  embora eu não possa garantir absolutamente nada, quero, no entanto, dar a seguinte explicação:

(i) estivemos (a CCaç 12) no Xime bem mais de um ano [, desde março de 1973]; não me lembro de ter alguma vez assistido ou sequer ouvido comentar algo acerca da descarga, no cais do Xime, de quaisquer autocarros civis (muito menos militares) destinados à Zona Leste e aí largados de uma LDG; suponho que seria um acontecimento que não passaria despercebido;

(ii) o cais do Xime, conforme já referi antes, era a única ligação terrestre com o resto do mundo; concluo daí que já lá existiam estes autocarros há bem mais de um ano; tenho ideia de ter visto algum em Bafatá; logo, não dependeu  (???) do 25 de abril a sua existência na Zona Leste, se algum camarada me poder esclarecer ou comentar, eu ficaria muito agradecido;

(iii) a estrada entre Xime e Bafatá e mesmo Nova Lamego (Gabu) era toda alcatroada em 1972/74 (e recentemente, a julgar pelo bom estado do piso), daí que os camaradas que estiveram lá pouco antes, estranhem a facilidade com que se viajava nessa estrada;

(iv) em termos de segurança, o único ponto vulnerável era a Ponta Coli (entre Xime e a tabanca de Amedalai); mas, para ultrapassar esse problema, estava lá todos os dias do ano, quer houvesse barco ou não, um pelotão da CCaç 12 (ou da milícia de Amedalai, no caso de impedimento desta) desde manhã (8 ou 9 horas ???) até ao fim da tarde;

(v) além disso, para mim, e certamente para todos os camaradas que estiveram comigo nessa época, não me lembro que a presença destes autocarros tenha alguma vez sido uma surpresa, isto leva-me a concluir que se tratava de um cenário algo habitual, embora admita que fosse relativamente recente.

Por tudo isto continuo a manter a data provável da foto para março ou abril de 74, embora sem poder dar uma garantia absoluta.

Estas fotos foram digitaizadas a partir de slides.Os slides da Agfa vinham encaixilhados com caixilhos de plástico e esses não têm data da revelação marcada, Os slides da Kodak vinham encaixilhados com caixilhos de papelão e esses trazem as datas da revelação, que ainda são visíveis. Logo por azar este, de onde foi retirada a foto, era da Agfa.

Fico a aguardar esclarecimentos de algum camarada que possa trazer luz nesta matéria.

Um abraço
Sucena Rodrigues

[ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972/74]


2. Comentário de L.G.:

Como comentei (ª), "estas fotos são preciosas e deliciosas", daí eu ter-te pedido  um "esforço de memória"... Obrigado pelo teu esforço... A verdade é que não tens "elementos objetivos" para conmfirmar a data... Continuo a pensar que podem não ser de março de 1974... "E mesmo abril de 1974 parece-me cedo"... 

Como sabes, em Bissau, os primeiros vivas ao 25 de Abril, ao MFA, ao Spínola, os primeiros abaixo a PIDE/DGS, as primeiras manifestações de regozijo "popular" (e já de contestação....) são de 27 de abril de 1974, depois da prisão de Bettencourt Rodrigues em 26... O Carlos Matos Gomes, que era do MFA da Guiné, e com quem falei ao telefone, diz-me que os autocarros podem ter vindo do Senegal... Se sim, eu apontaria mais para maio/junho de 1974 o seu aparecimento no TO da Guiné... Mas tu ainda não me disseste quando saiste do Xime... Pergunto-te se tu aguentaste até ao fim, até à extinção da CCAÇ 12, em agosto de 1974 ?  Ou se acabaste mais cedo a comissão, já que eras de rendição individual  ? Essa data pode ser a chave para esclarecer este pequeno mistério dos autocarros... 

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Nota do editor:

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14810: (De)caras (22): Quando os autocarros (de Bafatá e de Gabu) chegavam ao porto fluvial do Xime com população e até com provocadores, simpatizantes do PAIGC... Um dia, já depois do 25 de abril, ía havendo uma tragédia: estava eu a montar segurança na Ponta Coli e os meus homens, fulas, quiseram fazer fogo de bazuca, em resposta às provocações da malta do autocarro (António Manuel Sucena Rodrgues, um dos últimos guerreiros do império, ex-fur mil, CCAÇ 12, Xime, 1973/74)


Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > CCAÇ 12 (1973/74) > Pós-25 de abril de 1974 > Até aqui chegavam autocarros de passageiros!... Não dá para acreditar, diz o Valdemar Queirós, um rapaz do leste de 1969/70!... Mas com a com a nova "autoestrada", Xime-Piche (não sei se chegou mesmo a Buruntuma e a Pirada em 1974!), era já possível recorrer a autocarros de passageiros para transportar populção civil (, não tropa).

Foto ( e legenda): © António Manuel Sucena Rodrigues (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]



I. Mail que enviei ao António Manuel Sucena Rodrigues, em 26 do corrente:

António: Explica lá direitinho o que é que tu fotografaste no cais do Xime em "dia de barco"... Autocarros no Xime ? Bate certo  a bota com a perdigota ?  Não estamos a delirar ?... A verdade é que a tua foto, ampliada, não engana...

Tens a data da foto ?... Fico a aguardar o teu precioso esclarecimento. As fotos do macaréu são para outro poste..

Ab do camarada da CCAÇ 12, Luís Graça

II. Sobre a foto acima, também comentou o Valdemar Queiroz, ex-fur mil art, CART 2479 /CART 11 (Contuboel, Gabu e Piche, 1969/70) (*);

Que confusão, que grande confusão ver estas fotografias do cais do Xime.
Gente que vinha em autocarros de passageiros até ao cais para, depois, seguir de barco para Bissau ??? Em que ano foram tiradas estas fotos? 

Lembro-me, em 1969/70, como era perigoso ir de Bambadinca ao Xime. Só com grande segurança se ia ao Xime buscar frescos vindos de Bissau. Reparavamos como o Xime tinha 'embrulhado', se calhar na noite anterior.
Mas ver agora autocarro de passageiros, nem dá para acreditar. Extraordinário!


III. Resposta, pronta, no mesmo dia, do António Manuel Sucena Rodrigues  [ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972-74]

 Assunto: Autocarros no Xime

Luís,

1. Bate certíssimo. Nos dia de barcos destinados à população, por exemplo a Bor e mesmo a LDG (também havia barcos destinados prioritariamente a transporte de manadas de gado) havia autocarros que vinham de Bafatá (e não sei mesmo se vinham de Gabu), carregados de população (só população).

Tanto quanto pude observar, havia destes autocarros em Bafatá. Como sabes,  o cais do Xime era a única ligação da zona leste com o "resto do mundo". 

Este dia foi um dos dias de grande afluxo de população, Não era sempre assim mas quase sempre havia pelo menos um ou mesmo dois autocarros. Nunca andei em nenhum, eram civis e não tinham nada a ver com a tropa.

Esta foto deve ter sido tirada em março ou abril de 74.

Tínhamos um pelotão permanente, durante o dia,  montando  segurança na Ponta Coli, entre o Xime e Amedalai, daí ser possível viajar com alguma segurança na estrada [alcatroada].

Conheci a estrada Xime, Bambadinca, Bafatá sempre alcatroada e certamente havia pouco tempo, uma vez que ainda não tinha "remendos" e estava em bom estado. Já bem depois do 25 de abril, fomos um dia a Pirada (???) apenas passear (os capitães conheciam-se). A estrada era toda alcatroada até Gabu.

2. Tenho um pequeno episódio passado na Ponta Coli depois de 25 de abril, com um destes autocarros carragados de "revolucionários de ocasião" e em que me vi perdido para evitar um catástrofe humana. 

Foram nitidamente ao Xime apenas para provocar os militares da CCaç 12, que eram fulas e anti-PAIGC. Eu estava de serviço na Ponta Coli, de segurança à estrada, com cerca de 10 homens. Não havia barco nesse dia, logo não havia justificação para o autocarro estar ali. O autocarro aproximou-se, reduziu a velocidade sem parar (felizmente), e a rapaziada "revolucionária" irrompeu das janelas com os maiores insultos e provocações aos militares da CCaç 12. Estes ficaram indignados e quiseram mesmo abrir fogo. 

O autocarro seguiu até ao Xime enquanto eu os tentei acalmar. Passado cerca de 15 a 20 minutos regressaram com os mesmos insultos e provocações. Passei por dificuldades ainda maiores, pois os meus homens quiseram abrir fogo de bazuca. Eu era o único branco que estava ali e por isso indiferente às rivalidades políticas dessa ocasião. Não sei como consegui acalmá-los. O autocarro aumentou de novo a velocidade. Tinham ido ao Xime apenas para provocar desordem. Estávamos em plena época revolucionária.

Foi por muito pouco que a situação não descambou para uma catástrofe.

Tenho mais fotos do Xime que em breve enviarei.

Um abraço, Sucena Rodrigues (**)

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 Notas do editor:

(*) Vd, poste de 25 de junho de  2015 > Guiné 63/74 - P14797: Memória dos lugares (294): O porto fluvial do Xime, no final da guerra (António Manuel Sucena Rodrigues, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca e Xime, 1972/74)

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Guiné 63/734 - P14495: História da CART 3494 (6): RECORDANDO A 1.ª EMBOSCADA NA PONTA COLI EM 22ABR1972 E A MORTE DO FURRIEL BENTO - A única baixa em combate da CART 3494 (Jorge Araújo)


1. Mensagem do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), com data de 20 de Abril de 2015: 

Camaradas

Com a presente narrativa procuro recuperar duas das principais memórias do nosso percurso militar como ex-combatentes no CTIGuiné [1972-1974], ambas ocorridas no mês de Abril, mas com dois anos de intervalo, e que ficarão para sempre na historiografia do contingente da minha CART 3494/BART 3873.

A primeira, com quarenta e três anos [faz hoje!], relembra os episódios das emboscadas na Ponta Coli, com particular destaque para a 1.ª [22ABR1972]. A outra efeméride, já com quarenta e um anos, recorda a chegada à Metrópole [como se dizia à época], em 03ABR1974, a derradeira etapa após o dever cumprido.

Como o tempo passa veloz…

RECORDANDO A 1.ª EMBOSCADA NA PONTA COLI 
EM 22ABR1972 E A MORTE DO FURRIEL BENTO
- A única baixa em combate da CART 3494 -

1.- INTRODUÇÃO

Para o contingente dos ex-combatentes da COMPANHIA DE ARTILHARIA 3494 [CART 3494 - Xime-Enxalé-Mansambo / 1971-1974], do BART 3873,ABRIL passou a ser, desde 1972, um mês onde, por motivos opostos, se comemoram duas efemérides de grande significado colectivo; uma de dor, tristeza e revolta [1972] a outra de felicidade pelo regresso às origens depois do dever cumprido [1974].

A primeira, de muitas emoções e tensões, está relacionada com o «baptismo de fogo» da Companhia ocorrido na emboscada em22ABR1972 [sábado], experiência que classificamos de superação extrema [ou superior transcendência] vivida por vinte e dois elementos continentais do 4.º GComb, mais um Guia guineense, atacados [à má fila…] no contexto damissão/acção de segurança à Estrada Xime-Bambadinca, no sítio da Ponta Coli, onde se registou, lamentavelmente, a primeira e única baixa da Unidade contabilizada em combate durante a sua presença no CTIGuiné, a do nosso camarada Furriel Manuel Rocha Bento, natural da Ponte de Sor, a quem justamente prestamos a nossa sentida homenagem.

Foto 1 – Xime - Uma semana antes do trágico acontecimento em 22ABR1972. O camarada Manuel Bento acompanhado por dois homens do “rancho”; à sua dtª o João Machado e à sua esqª o João Torres [cozinheiros], com o Geba ao fundo.

Foto 2 – Xime - Alguns dias antes do 22ABR1972. O trio de furriéis responsáveis pelo 4.º GComb, que foram apanhados na emboscada na Ponta Coli, pousando antes de um «jogo da bola». Da esqª/dtª, o Manuel Bento, eu e o Sousa Pinto [1950-1912.04.01].

Sete meses depois, uma segunda emboscada voltou a ser perpetrada pelo PAIGC no mesmo local e à mesma hora, ou seja, em 01DEC1972 [6.ª feira], em que o alvo foi, naturalmente por coincidência, o mesmo 4.º GComb, mas desta vez não se verificaram baixas mortais nas NT, registando-se dois feridos que foram evacuados para o HM 241, em Bissau. 

Do lado IN, que era constituído pelo grupo de «Bazookas» de Coluna da Costa e pelo bigrupo de Mamadu Turé e Pana Djata [substitutos de Mário Mendes, morto em combate, em 25MAI1972 [5.ª feira], na Ponta Varela, e responsável pela 1.ª emboscada], os guerrilheiros deixaram, no terreno, dois cadáveres, que foram sepultados no cemitério de Bambadinca, em campas separadas, bem como uma pistola, uma espingarda automática e um RPG com duas granadas.

Mapa-itinerário (linha vermelha) utilizado entre o Aquartelamento do Xime e o sítio da Ponta Coli – Estrada Xime-Bambadinca.

2.-RECORDANDO A EMBOSCADA…

Hoje, ao recordar aquele episódio de há quarenta e três anos, continuo incrédulo como foi possível superar aquela batalha, perante tamanha inferioridade física e numérica das NT, com um morto, dezassete feridos, desmaiados e poucos em condições de estabelecer um equilíbrio com quem iniciou a contenda.

Actuando de surpresa a cinquenta/sessenta metros dos alvos [humanos] colocados em cima de duas viaturas, ainda que em movimento lento, estaríamos nos centros das miras das suas “costureirinhas” e “RPG’s”,é inacreditável como não conseguiram fazer um “ronco” maior neste (des)encontro? 

Em primeiro lugar, porque as NT eram piriquitas nestas andanças da guerra de guerrilha, pois tinham apenas oitenta dias de mato, equivalente a mês e meio de sobreposição com a CART 2715 e os restantes dias [ainda poucos] de autonomia plena. Em segundo, pela experiência dos líderes do PAIGC, acumulada nas emboscadas anteriormente montadas no mesmo local desde 10ABR1968, data da primeira acção, a que se adicionam todos os outros conhecimentos adquiridos ao longo de muitos anos de prática neste contexto.

No meu caso, esta deslocação à Ponta Coli era a oitava vez que a fazia, pois havia chegado ao Xime somente nos últimos dias do mês de Março, e onde encontrei muitas rotinas já instaladas, em particular o exemplo da segurança à Ponta Coli.

Foto 3 – Xime [Ponta Coli] – Local do combate travado com o IN pelo 4.º GComb, em 22ABR1972, onde o camarada Bento foi atingido mortalmente por efeito de uma granada de RPG na zona da cápsula articular/clavícula do ombro direito, uma vez que se encontrava na 1.ª viatura, no banco da frente, ao lado do respectivo camarada condutor.

Foto 4 – Xime [Ponta Coli] – Árvore sinalizada como posto de vigia e onde ficava instalado o CMDT da força em acção/missão de segurança diária. Foi a partir deste local que o IN deu início à emboscada no dia 22ABR1972. 

Foto 5 – Xime [Ponta Coli] – A mesma árvore da imagem anterior, agora no seu plano superior, donde se tinha uma observação de maior alcance.

Quanto ao menor sucesso do IN [e ainda bem…], acredito que uma possibilidade ficou a dever-se à gestão do tempo, que correu a nosso favor, pois [como referi na narrativa original, a 1.ª que publiquei no blogue] aos poucos, ao ritmo de um tempo que parecia não passar, os desmaiados começam a acordar, os feridos tomam consciência de que ainda têm força suficiente para reagirem, e com os cinco ilesos que continuavam activos e operacionais, através de um impulso colectivo vindo das entranhas e de um grito de contra-ataque, contribuímos para anular a terceira tentativa de sermos apanhados à mão por parte dos elementos do PAIGC, que muito porfiaram mas sem sucesso. 

Por outro lado, é da mais elementar justiça referir o desempenho do nosso camarada guineense MALAN [guia e também ele combatente - imagem ao lado (6)], que sempre me mereceu o maior respeito, admiração e apoio, pois era um homem solitário, tendo como única companhia o seu cachimbo artesanal, mas nosso amigo, e que muito nos ajudou nos diferentes itinerários que tivemos de percorrer, numa mata extremamente difícil, com muitas armadilhas, ratoeiras e outros obstáculos [já relatados neste espaço por outros camaradas que por lá passaram] e que hoje, certamente, ele já não faz parte do grupo dos vivos. 

Parece que ainda o estou a ver sangrando com alguma abundância da cabeça, onde existiam pelo menos duas perfurações, empunhando duas G3 [a sua e outra que encontrou abandonada no solo].Com uma em cada membro superior, apoiadas nas suas axilas e, em plena estrada, de pé, defendia-se contribuído, também, para o sucesso do grupo. Foi depois evacuado para Bissau, onde ficou internado algumas semanas, regressando ao Xime ainda a tempo de participar na segunda emboscada. 

Outra situação que também ajudou, certamente, na debandada dos guerrilheiros teve a ver com a circunstância dos municiadores de morteiro e de bazuca, após recuperarem a consciência, depois de terem ficado atordoados na sequência do salto das viaturas em andamento, fazerem uso das suas armas a uma cadência de tiro inconstante, mas mesmo assim relevante, uma vez que o desempenho de ambos estava/ficou dependente da localização das suas munições [granadas] que acabaram por ficar dispersas ao longo da estrada, numa frente de cento e vinte metros, mais ou menos, dando a ideia de que estávamos fortemente armados.

Foto 7 – Xime [Ponta Coli] – Linha recta da zona de segurança à Ponta Coli. A estrada Xime-Bambadinca fica do lado direito da imagem, paralela às árvores. Os elementos IN estavam emboscados ao longo do trilho, enquanto as NT se encontravam na estrada asfaltada, à direita.

Depois deste episódio negativo, que provocou dor, sofrimento e algum temor entre nós, nada mais ficou como dantes, a exemplo do que nos diz a metáfora popular «depois de casa roubada trancas à porta», tendo apresentado de imediato outras metodologias e procedimentos assimilados durante a instrução no CIOE, em Lamego, visando a salvaguarda da minha/nossa sobrevivência perante este contexto adverso e muito exigente.

A prová-lo estava, ainda, o facto do CMDT da Companhia se ter autoexcluído no dia seguinte à 1.ª emboscada, ao assinar a sua própria baixa ao Hospital Militar [Serviço de Psiquiatria],em Bissau, para não mais regressar ao Xime.

Devido a essa sua decisão de se autoexcluir é nomeado para novo CMDT da CART 3494 [o 2.º], o então ex-CapArt António José Pereira da Costa [hoje, Cor Art Ref], meu/nosso camarada e tertuliano deste blogue. A sua chegada ao Xime ocorreu dois meses após a 1.ª emboscada, ou seja, no dia 22JUN1972 [5.ª feira], dia do seu aniversário… que coincidências!

As duas histórias originais que foram escritas na primeira pessoa em 2012, quarenta anos depois de as ter vivido in loco, e que agora recordei em síntese, fazem parte do espólio de narrativas divulgadas neste blogue [P9698 e P9802], no separador “Ponta Coli”e que, por sinal, correspondem às minhas duas primeiras memórias com que iniciei a participação na «Tabanca Grande», o grande batalhão de ex-combatentes que no passado sábado, em Monte Real, se reuniram no seu X Encontro Nacional, e que na próxima 5.ª feira, 23ABR2015, comemorará o seu 11.º Aniversário.

PARABÉNS aos Editores e a todos os camaradas Tertulianos que dela fazem parte.

Entretanto, em resultado da experiência e das emoções contabilizadas nesse 1.º episódio no sítio da Ponta Coli, e como modo de as traduzir no papel, decidi baptizá-las como «Era uma vez uma estrada, palco de jogos de sobrevivência (Xime-Bambadinca) – o caso da Ponta Coli».

Quanto à segunda efeméride, reportada ao mês de Abril,esta está datada desde03ABR1974 [4.ª feira],quando o contingente regressou definitivamente à Metrópole, ao aeroporto de Figo Maduro, em Lisboa, a bordo de um boeing 707, dos Transportes Aéreos Militares [TAM]. Este acto [ou facto] ocorreu oitocentos e vinte e sete dias depois do embarque no Cais da Rocha, em Lisboa, encerrando-se assim o ciclo de vida ultramarino previsto nos deveres individuais para com a Nação inscritos, à data, na Lei do Serviço Militar Obrigatório [SMO].

Esta referência normativa é dirigida, justamente, aos mais jovens leitores deste blogue, uma vez que o SMO foi extinto em meados de 1999. A partir de 2004, passou a ser atribuída às Forças Armadas a capacidade de captar os seus próprios recursos humanos concorrendo directamente no mercado de trabalho com outras entidades empregadoras.

Termino, prometendo voltar logo que possível a este tema, resumindo num só texto o mapeamento cronológico e histórico relacionado com as emboscadas na Estada Xime-Bambadinca, com destaque para a Ponta Coli, e as suas consequências.

Com um fraterno abraço de amizade,
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
___________
Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em: 


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12232: A CART 3494 e as emboscadas na Ponta Coli (Xime, Bambadinca), 1972: A verdade dos números... (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp, CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/74)

1. Mensagem,  de 26 de outubro, do Jorge Araújo (ex-fur mil op esp,  CART 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/74):

Assunto - A CART 3494 e as Emboscadas na Ponta Coli

Caríssimo Camarada Luís Graça, os meus melhores cumprimentos.

A consulta do espólio do Arquivo Amílcar Cabral, pertença do Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares, que em boa hora,  fizeste o favor de nos dar conta neste espaço plural da "Tabanca Grande", onde, diariamente, os ex-combatentes da/na Guiné partilham diferentes vivências/experiências ocorridas em locais diferentes e em tempos diferentes, vem-nos permitir abrir um novo caminho de reflexão e debate.

No nosso caso, e independentemente de a ela [consulta] todos terem acesso, não deixou de nos influenciar para a elaboração do presente texto, na justa medida em que, como testemunha ocular de muitos dos episódios que marcaram a historiografia da minha companhia [CART 3494], defendo, em tese, de que nos deveremos aproximar da verdade, ainda que não seja no imediato, pois esta Guerra já acabou.

Com efeito, os comunicados mensais consultados referentes aos principais eventos que conduziram ao confronto nos palcos da guerra de guerrilha entre os elementos da CART 3494 e os do PAIGC, particularmente as emboscadas à Ponta Coli, e que já tive a oportunidade de vos dar conta em duas narrativas [Abril/2012], demonstram e confirmam a importância do valor quantitativo [os números] como factor propagandístico.

Assim, para corrigir as discrepâncias  entre os documentos ditos oficiais,  a que a estes episódios
dizem respeito, segue uma nova narrativa  melhorada e aumentada.

Obrigado pela atenção. Um forte abraço, Jorge Araújo.
2. A CART 3494 e as emboscadas na Ponta Coli (Xime, Bambadinca), 1972: A verdade dos números

por Jorge Araújo

Há pouco mais de ano e meio [Abril/2012] tomei a iniciativa de narrar aqui no blogue da nossa «Tabanca Grande» [postes: 9698 e 9802] (*), bem como no da minha companhia «CART 3494 & camaradas da Guiné» [postes: 148 e 152], na primeira pessoa, o que ainda estava bem presente na minha memória referente às ocorrências observadas nas duas emboscadas sofridas pelo 4.º GComb da CART 3494, na fatídica e sempre arriscada segurança à Ponta Coli.

Relembro que esta segurança era organizada num «ponto X», dito estratégico, entre a bolanha de Taliuará e a tabanca de Amedalai, na Estrada Xime-Bambadinca [ver mapa], estrada que tinha o seu início vs fim no Cais do Xime e que era a única via que dava acesso ao extremo leste do território, nomeadamente às localidades de: Bafatá, Nova Lamego, Piche, Canquelifá, Galomaro, Mansambo, Xitole, Saltinho, entre outras.


Pelo elevado grau de dificuldade, à qual se adicionou o historial de confrontos com os guerrilheiros do PAIGC anteriores à nossa companhia, como são os sucessivos exemplos da CCAÇ 1550 (1966/68), CART 1746 (1967/69), CART 2520 (1969/70) e CART 2715 (1970/72), a segurança diária à Ponta Coli era sempre uma acção/ missão única, dando lugar continuamente a novos desafios, por estar carregada de interrogações onde emergia o conceito «surpresa», principal característica na guerra de guerrilha.

Por esse motivo, e em função das inúmeras experiências que aí vivi (vivemos), decidi chamar-lhe: «palco de jogos de sobrevivência», já que a única regra desse “jogo” era a eliminação física do opositor ou dos opositores por antecipação e perícia, independentemente dos argumentos e motivações que a cada qual pudessem assistir, à época.

Para identificação desse «palco» e caracterização do seu contexto, eis algumas imagens:


Foto 1 – Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca> Xime > Ponta Coli > Maio de 1972 > Espaço onde se concentravam e distribuíam os nossos militares em serviço de segurança à estrada Xime-Bambadinca.


Foi exactamente no local representado na imagem que um bigrupo do PAIGC, comandado muito provavelmente por Mário Mendes, constituído por mais de cinco dezenas de guerrilheiros, se instalou no dia 22Abr1972, sábado, e donde emboscou o nosso GComb.

O baptismo de fogo da CART 3494 [ao vivo e a cores] aconteceu, assim, ao trigésimo nono dia depois de ter assumido na plenitude o controlo do seu território de intervenção – o XIME –, na sequência de ter finalizado o tempo de sobreposição com a CART 2715, do BART 2917 (1970/72), que decorreu entre 28Jan e 14Mar1972.

De referir, a propósito do nome de Mário Mendes, que este CMDT do PAIGC viria a morrer no dia 25 de Maio de 1972, 5.ª feira [um mês depois da emboscada], na acção «GASPAR 5», realizada por 6 GComb [3 da CART 3494 e 3 da CCAÇ 12]. O “encontro” com Mário Mendes aconteceu na Ponta Varela, tendo-lhe sido capturada a sua Kalashnico, bem como 3 carregadores da mesma e documentos que davam conta das “acções” a desenvolver na zona de que era responsável.

Sabendo-se que era um líder temido e um guerrilheiro experiente, conhecedor dos terrenos que pisava e consciente dos riscos que corria, estas dimensões conjugadas não foram suficientes para garantirem estar a salvo e sobreviver, mais uma vez, aos muitos sustos que certamente apanhou ao longo dos anos que viveu no mato.

Depois de alguns elementos (5/6) do seu grupo terem sido detectados pelas NT na acção sobredita, e que não se sabia, naturalmente, de quem se tratava, um daqueles elementos [Mário Mendes] liderou uma estratégia de fuga que não lhe foi, desta vez, favorável, por via de lhe(s) ter sido movida perseguição, obrigando-nos a serpentear várias vezes os mesmos trilhos, entre itinerários de vegetação e clareiras.

Por isso, estou crente que Mário Mendes, a partir do momento em que ficou sem rumo certo e sem portas de saída, movimentando-se em várias direcções, sem sucesso, tomou consciência de que aquele seria o último dia da sua vida. E foi … por intervenção de elementos da CCAÇ 12, no mesmo dia em que se comemorou o 9.º aniversário da fundação da Organização de Unidade Africana (OUA), criada em Adis Abela, na Etiópia, em 1963. Que coincidência …



Foto 2 – Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca> Xime > Ponta Coli > Maio de 1972 >  O  mesmo espaço anterior, onde se observa um trilho à esquerda. Este trilho ligava o itinerário entre várias árvores, em que cada uma delas era utilizada como posto de observação e protecção.




Foto 3 – Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca> Xime > Ponta Coli > Maio de 1972 >  O  mesmo espaço anterior, vendo-se a base de um tronco da árvore "bissilão" (ou "poilão" ?), de grande porte, situada mais ou menos a meio da linha de segurança, numa frente de aproximadamente cem metros, e onde se fixava o comandante do GComb.




Foto 4 – Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca> Xime > Ponta Coli > Maio de 1972 >   O mesmo contexto e o mesmo tronco da árvore da imagem anterior, agora num plano mais elevado.




Foto 5 –Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca> Xime > Ponta Coli > Maio de 1972 >  O mesmo espaço anterior com a observação de um «bagabaga», que funcionava como posto de vigia.


Fotos (e legendas): © Jorge Araújo  (2013). Todos os direitos reservados.


Considerando o historial dos dois confrontos contabilizados pela CART 3494, [22Abr e 01Dez1972], de que resultaram baixas de ambos os lados, importa dar-vos conta da «verdade dos números», agora por contraditório com os divulgados pelo opositor da contenda – o PAIGC.

Sei [ou sabemos] que esses números, agora que estão decorridos mais de quatro dezenas de anos, pouca relevância têm entre nós, ou seja, não interessam nada. Mas, porque a eles continuaremos ligados emocionalmente, importa, do ponto de vista histórico [que é a ciência dos factos reais], corrigi-los, em nome da verdade por oposição à ficção.

Para o efeito, foi consultada a História da Unidade do BART 3873, em particular a da companhia CART 3494, bem como o arquivo Amílcar Cabral disponível na Net com o endereço http://casacomum.org/cc, pertença do Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares, em contraponto com o que foi a nossa observação naquele contexto.

1. – EMBOSCADA DE 22 DE ABRIL DE 1972 – Os números

a) – O que aconteceu …

Naquele dia, o grupo escalado para cumprir a missão de efectuar a segurança à Ponta Coli era o 4.º GComb, constituído por vinte operacionais, entre sargentos e praças, uma vez que não havia nenhum oficial adstrito, e mais dois condutores e um Guia, no caso o Malan, o que totalizava vinte e três elementos.

Estes elementos seguiram em duas viaturas [12+11] Unimog.

Na sequência do confronto, o balanço da primeira emboscada sofrida pela CART 3494 foi de um morto, o camarada furriel Manuel Rocha Bento [a única baixa em combate ao longo dos mais de vinte e sete meses de comissão], dezassete feridos entre graves e menos graves, e, por exclusão de partes, cinco dos militares saíram ilesos, sendo eu um deles. As viaturas não sofreram qualquer dano significativo.

b) – O que consta na História da Unidade – BART 3873

- Em 220600ABR72 grupo IN emboscou a segurança da PTA COLI (01 GRCOMB da CART 3494). As NT e a Artilharia do XIME pôs [puseram] o IN em fuga. Sofremos 01 morto (Furriel), 07 feridos graves e 12 feridos ligeiros [p.59].

c) – O que consta no Comunicado do PAIGC sobre as acções militares do mês de Abril (1972)


Transcrição do comunicado do PAIGC em língua francesa, sobre as acções militares do mês de Abril (1972) e assinado por Amílcar Cabral.

Tradução do parágrafo em que é referida a emboscada à Ponta Coli.

(…) “As emboscadas mais mortíferas para o inimigo foram as que ocorreram nos itinerários do Saltinho/Kirafo [CCAÇ 3490/BCAÇ 3872 - 72/74 #] (a 17 de Abril, 2 viaturas destruídas, 20 mortos e vários feridos) e a do Xime/ Bambadinca (a 22 de Abril, 4 viaturas destruídas e 12 mortos).” (…)

Data: 8 Junho 1972
Amílcar Cabral
Secretário Geral

Fonte: Casa Comum
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07/197.160.014
Título: Comunicado do PAIGC sobre as acções militares do mês de Abril
Assunto: Comunicado do PAIGC sobre as acções militares do mês de Abril (66 operações), com destaque para o ataque a Mansoa e Bolama. Denuncia a destruição de escolas, hospitais e vilas, a utilização de napalm e os bombardeamentos aéreos efectuados pelo exército português. Comunicado assinado por Amílcar Cabral.
Data: Quinta, 8 de Junho de 1972
Observações: Doc. Incluído no dossier intitulado Documentos.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos

(#) Blogue: Luís Graça & Camaradas da Guiné: Vd. 22 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4068: Recordando a tragédia do Quirafo, ocorrida no dia 17 de Abril de 1972 (Luís Dias).

– A VERDADE DOS NÚMEROS

Perante os elementos acima referenciados, em particular os números oficiais das NT e do PAIGC, deixo-os à V. consideração.

Um forte abraço para todos, com muita saúde e energia.

Jorge Araújo.

Outubro/2013.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11522: Memórias de um capitão miliciano (António Vaz, cmdt da CART 1746, Bissorã e Xime, 1967/69) (3): A emboscada de Ponta Coli, em 14 de novembro de 1968, em que morreu o fur mil SMA Fernando Dias, e sofremos 15 feridos









Guiné > Setor L1 (Bmabadina) >Xime > CART 1746 > Copia do relatório da emboscada, realizada em 14 de novembro de 1968, em que morreu o fur mil SAM Fernando Maria Teixeira Dias. Documento da autoria de António Vaz, e por ele digitalizado.

Fotos: © António Vaz (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Mensagem de 18 de abril último, enviada pelo nosso camarada António Vaz, ex-cap mil art, cmdt da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69)  [, foto atual, à direita]

Olá,  camaradas

Quando estive no almoço anual da Tabanca em Monte Real em 2012,  tive, entre outros bons momentos, a oportunidade de conhecer o camarada Jorge Araújo,   também ele militar que passou pelo Xime e que sofreu, como eu e a minha CArt, a passagem pela Ponta Coli que ao longo da guerra se revelou um sítio nada recomendável.

Além da colaboração no Blog de J. Araújo,  teve ele naquela ocasião a amabilidade de oferecer dois textos de sua autoria em que relatava minuciosamente e saborosamente as duas emboscadas no trajecto Xime/ Bambadinca. Nomeadamente entre Ponta Coli / Taliuara, podemos considerar sem grande erro, zona onde muitos de nós sofreu alguns dos maus momentos na Guiné.

Embora já tenha ouvido críticas à descrição de emboscadas como se de casos menores se tratassem, coisa que eu não acho, não quero deixar de dar o meu testemunho da que a CArt 1746 sofreu em 14 de Novembro de 1968 naquele local,  cerca de 4 anos antes. Embora já tenha sido abordado pelo camarada Moreira este relato apenas o completa e confirma.

O relatório que junto foi o único documento que trouxe da Guiné e isso quererá dizer alguma coisa…

Passo assim a abordar o tema:

(1)  Durante a permanência da CArt 1746 no Xime, de Janeiro de 68 a Junho de 69,  fizeram-se, no mínimo, 820 vezes o percurso Xime/ Bambadincaa e volta no qual tivemos oito flagelações, sendo a citada de 14 de Novembro a mais grave.

(2) Este percurso nunca foi feito "à borla", tendo a Companhia, desde o princípio, tido a consciência que aquele era o percurso terrestre que nos ligava ao "resto do Mundo". Não houve dia nenhum em que o pessoal não o tivesse feito,  sobrepondo-se à Milicia de Amedalai, à época comandada pelo Carfala, indivíduo em quem tinha a maior confiança, tendo sido esse pessoal que detectou uma mina junto ao pontão na extremidade da bolanha ao alvorecer do dia 1 de Janeiro de 69.

(3) No dia 14 de Novembro nada se fez de muito diferente pois só a hora de saída mudava, mas não muito. O pessoal a pé composto por 2 Secções acompanhava o grupo dos picadores, seguiram até Ponta Coli, sem nada detectar, tendo montado a segurança.




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca > Subsetor do Xime > Carta do Xime (1955) > Escala 1/50 mil > A  sempre temível Ponta Coli, à saída do Xime...O traçado a vermelho indica a antiga estrada Xime-Bambadinca, passando por Taliuara, Ponta Coli, Amedalai, ponte do Rio Udunduma... Em dezembro de 1970, ainda estava em construção a nova estrada, a cargo da Tecnil... Será inaugurada em 1971 ou 1972, já não no meu tempo...(Saí em março de 1971) (LG).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013).



(4) Algumas considerações:

(i) Os primeiros tiros foram de armas ligeiras,  logo seguidos por rockets. Saltei do Unimog (ou foi cuspido pela travagem brusca, seguindo eu sempre no "lugar do morto" normalmente com o pé direito no retrovisor) tendo um desses primeiros tiros atingido o condutor, comigo já no chão, o alvo portanto foi ele. A bala trespassou-o lado a lado sem atingir a coluna nem qualquer órgão vital.


(ii) A reacção do pessoal foi imediata,  tendo alguns dos feridos sido atingidos por estilhaços dum rocket que acertou na longarina da viatura em que vinha. Lembro-me, ainda, da onda de choque do calor e do cheiro do explosivo, tendo as minhas calças a ficar ensanguentadas embora nada me doesse.

(iii) Algumas imagens que recordo: o bazuqueiro ( Ramos ?), de pé, a disparar enquanto teve granadas disponíveis; o Caç Nat. Tcherno Baldé com um ferimento na cara segurando o globo ocular; ouvia os tiros na Ponta Coli,   o que significava que havia um grupo que atacava a segurança; a lama da laterite feita com o sangue dos feridos.

(iv) Com a chegada, precedida de tiros do pessoal do Xime que acorrera, à frente dos quais vinha o soldado Deodato apenas em cuecas, com a bazooka disparando sobre elementos que estavam na orla da mata tendo os tiros terminado.

(v) A lamentar acima de tudo os ferimentos em vários locais do corpo que vieram a causar a morte ao Furriel Fernando Dias, já no Xime enquanto aguardava, ele e os outros, pelos Helis para a evacuação. O Fur Dias,  depois de já estar no chão e para se proteger,  levantou-se, provavelmente para se abrigar melhor, e teve o azar de ser atingido. Contaram-me posteriormente outros Furrieis que a namorada que deixara na Metrópole, não quis acreditar na morte dele.

(vi) A batida feita à zona da parte da tarde pelo Pelotão do Alf [Gilberto] Madail encontrou do lado direito dum enorme baga-baga cartuchos vazios de G-3 e do lado esquerdo e oposto cartuchos vazios de 7.72 Soviet.

(vi) Junto ao sítio onde" aterrei " encontrou uma granada de mão de fabrico chinês, por rebentar, que ficou até ao fim da comissão em cima dum armário frente à minha mesa de trabalho.

(vii) Sem ser os casos anteriormente, todos lamentáveis, outro houve que teve grande gravidade: o Alferes António Teles não recuperou daquela acção. Manteve durante algum tempo um mutismo que não augurava nada de bom. Sendo uma pessoa reservada, essa reserva a meu ver tornava-se patológica. Respondia por monossílabos e tinha terrores por vezes nocturnos que punham em perigo a recuperação do pessoal. Contou-me o Furriel Martins que a meio da noite apareceu no abrigo empunhando a G-3, indagando onde estavam os aviões que não o deixavam dormir. Convenci o Alf Teles a ir comigo a Bambadinca falar com o médico Aferes David Payne, que merecia páginas de elogios, que o aconselhou a ficar lá uns dias até ir para Bissau. Daí foi evacuado no mesmo dia para Lisboa para o HMP que os soldados Antunes e Oliveira feridos na mesma emboscada. Só o voltei a ver no dia da chegada a Lisboa onde nos foi esperar e acompanhou até Torres Novas.

(viii) De notar que que da viatura em que seguia, apenas eu não fui evacuado.

(ix) Para finalizar: os minutos que durou a emboscada foram poucos mas os segundos pareciam não ter fim. Ainda hoje estou para saber porque escrevi no relatório ter sido atingido de raspão por um estilhaço quando, embora pequeno, se encontra ainda na minha perna. Mistério.

António Vaz
ex-cap mil art,
cmdt da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11090: Tabanca Grande (386): João Ruivo Fernandes, ex-fur mil, de rendição individual, CART 3494 (Xime, dez 1972 / jan 1973), onde foi praxado... É agora o grã-tabanqueiro nº 605, apadrinhado pelo Sousa de Castro, grã-tabanqueiro nº 2



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Xime > CART 3494 > Dezembro de 1972 > O fur mil João Ruivo Fernandes, "periquito", em Bafatá, depois de um almoço na véspera de Natal.


1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro nº 2, o Sousa de Castro, com data de 7 do corrente:

Caríssimos camarigos editores,

Apresento mais um camarada d’armas João Ruivo Fernandes,  ex-Furriel Miliciano,  que rendeu na CART 3494 o malogrado, fur mil Manuel da Rocha Bento, morto em combate no dia 22 de abril de 1972.

Um abraço, 
Sousa de Castro

2. Mensagem do João Ruivo Fernandes, com data de 7/2/2013 (enviada diretamente para o mail do Sousa de Castro)

Assunto: Pedido de admissão à Tabanca Grande

Caro Sousa Castro


Junto as 2 fotografias, antiga e actual e a história da minha chegada e lembranças do Xime. Vou entrar na vossa Grande Tabanca e, quem sabe, futuramente participar nos vossos convívios anuais. Vou muitas vezes ao Norte, tenho um filho a morar em Braga.

Sou dos Lentiscais, uma aldeia situada a 18 Km de Castelo Branco, mas a minha morada é em Oeiras.

Junto mais 2 fotografias: uma, em almoço em Bafatá; outra em Bissau, mas não tenho a certeza do nome do Furriel que está comigo.

Sem mais de momento, um abraço,

João Ruivo Fernandes



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Xime > CART 3494 > Dezembro de 1972 > O fur mil João Ruivo Fernandes, "periquito" > Almoço de Natal. Legenda do Jorge Araújo (ex-fur mil op esp e também membro da nossa Tabanca Grande): "Da esquerda para a direita, furriéis Pacheco, Araújo, Neves, Fernandes e Godinho".

Fotos: © João Ruivo Fernandes (2013). Todos os direitos reservados



3. Praxado no Xime, no próprio dia da minha chegada  à CART à 3494 

por João Ruivo Fernandes

Sou o João Ruivo Fernandes, ex-Furriel Miliciano de Infantaria, colocado no Xime, em rendição individual.

Desembarquei no Xime, no dia 7 de Dezembro de 1972, para substituir um Furriel que, segundo informação recebida, tinha falecido numa emboscada, penso que era o Manuel da Rocha Bento. (**)

No próprio dia em que cheguei ao Xime, sem que me apercebesse, fui sujeito a uma "praxe" que, inicialmente, foi violenta mas no final tornou-se engraçada. Puseram-me a comandar o meu pelotão e mandaram-me fazer uma operação no mato, a uma zona muito perigosa. Enfrentei vários problemas, soldados completamente "pirados", outros a não quererem continuar na missão, outros a não obedecerem às minhas ordens, etc. etc. Quando cheguei ao Quartel é que me informaram que tinha sido tudo a fingir. Paguei 2 garrafas de whisky e houve alegria.

Mas a minha estadia no Xime não chegou a 2 meses. Durante esse tempo participei na actividade regular do meu pelotão, penso que era o 4.º, não posso precisar. Participei várias vezes, na segurança à estrada de Xime para Bambadinca , em Ponta Coli.

Lembro-me que na véspera de Natal de 1972, num domingo, eu e outros ex-camaradas fomos almoçar a Bafatá (junto fotografia).

Dia de Natal, segunda-feira, saímos para o mato às 6 horas da manhã e regressamos cerca das 11 horas. Houve depois um almoço para graduados e praças no qual esteve presente a mulher do Comandante.

No dia 31, final do ano, tivemos a visita do General Spínola da qual tenho ainda uma frase que ele proferiu no seu discurso: "Estais longe das vossas famílias mas estais perto da Pátria"

Na segunda quinzena de Janeiro de 1973, devido a doença, fui enviado para Bissau (Quartel dos Adidos) e posteriormente internado no Hospital Militar 241, até Abril de 1973. Aqui vi os piores horrores da guerra colonial, tantos militares mutilados.

Durante esta estadia em Bissau (, nos Adidos), opir volta de final de Janeiro de 1973, estive várias vezes com o Furriel Araújo ou Godinho, não me lembro do nome, mas junto fotografia que tirei com ele [, foto à direita,  sendo o  Fernandes o primeiro da direita]. Se algum ex-camarada me puder confirmar o nome, desde já agradeço. [No seu blogue, o Sousa de Castro, diz que o outro furriel é o Godinho].

Durante o mês de Abril de 1973, fui evacuado para Lisboa, estive no hospital da Estrela durante 6 meses. Em junta médica, passei aos Serviços Auxiliares e enviado novamente para a Guiné em Dezembro de 1973, onde permaneci até Agosto de 1974. Este percurso na Guiné, contá-lo-ei mais tarde se estiver dentro do espírito que o Blogue pretende atingir.

Um abraço, João Ruivo Fernandes

3. Comentário do editor:

Antes de mais, o meu/nosso obrigado ao Sousa de Castro, grã-tabanqueiro nº 2, que bem poderia ganhar o prémio de melhor angariador da Tabanca Grande!... Ele é o mais entusiástico e indefetível apoiante da nossa causa. Já perdi a conta aos camaradas cuja entrada ele apadrinhou, sendo uma boa parte pessoal da CART 3494 (, a companhia mais representada na Tabanca Grande). É um valente minhoto, e o primeiro camarada a bater à porta do nosso blogue, vai já fazer 9 anos!

Quanto ao João Ruivo Fernandes (que chegou ao blogue do Sousa de Castro através de um vídeo no You Tube), o nosso novo grã-tabanqueiro, com o número de entrada 605, é bem vindo, e fica a saber que vem enriquecer uma vasta e diversificada "caserna virtual", composta de gente oriunda das mais desvairadas  partes do país e da diáspora portuguesa, dos EUA à Austrália.

João: és o primeiro grã-tabanqueiro de Lentiscais, sítio por onde ainda não passei (, tanto quanto me diz o meu GPS mental)... Segundo leio na Wikipedia, a tua aldeia natal pertence à  freguesia e concelho de Castelo Branco, situando-se aproximadamente a 2 Km da margem esquerda do Rio Pônsul e albergando uma uma população de  200 almas, na sua maioria já idosas. "A população ativa dedica-se à agricultura, principalmente horticultura, olivicultura e vinicultura. Historicamente começou por ser um Monte, conforme outras aldeias vizinhas. As primeiras habitações foram construídas ao início da Rua Velha. Julga-se que contribuíram para o seu povoamento os pastores da Serra da Estrela que deixavam a Serra no inverno devido à neve (transumância). Hipóteses disso são a padroeira de Lentiscais (Nossa Senhora da Estrela) e várias famílias de apelido Serrano"... Enfim, fico com curiosidade em passar por lá, um belo dia destes. Até para relembrar os tempos (, escassos 2 meses, jan/fev 1969,   em que rapei o maior frio da minha vida) no BC 6, em Castelo Branco antes de ser mobilizado para o TO da Guiné...

O Sousa de Castro já te explicou as regras do jogo. Já pagastes as quotas e a joia: 2 fotos da praxe + 1 história. Queremos naturalmente saber o resto das tuas aventuras e desventuras pela Guiné. Pelo que percebi, terás ficado em Bissau, depois do teu demorado tratamento hospitalar (que te levou ao HM 241, em Bissau, e depois ao HMP, em Lisboa). Fica bem, desejo-te muita saúde, e que nos faças boa companhia, aqui à volta do poilão da nossa Tabanca Grande.  Espero poder conhecer-te brevemente. (LG)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 10 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11084: Tabanca Grande (385): José Carlos Lopes, ex-fur mil reabastecimentos, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), grã-tabanqueiro nº 604

(**) Vd. poste de 8 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9457: Memória dos lugares (174): 1.º e 4.º GCOMB da CART 3494/BART 3873 emboscados na Ponta Coli - Xime em 1972 (Sousa de Castro)

(...) Em 22 de Abril 1972 (...), na primeira emboscada, em Ponta Coli, o 1º Gr Comb sofreu um morto, o Fur Mil Manuel da Rocha Bento, natural de Ponte de Sor, onde está sepultado, teve 19 feridos, 7 dos quais graves. Foram louvados em 23 de abril de 1972, pelo comandante do CAOP 2 [, Bafatá,] o Fur Mil Manuel da Rocha Bento a título póstumo e o Fur Mil António Espadinha Carda. (...).

Vd. também poste de 3 de abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9698: O caso da ponta Coli, Xime-Bambadinca (Jorge Araújo)