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quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27183: "Una rivoluzione...fotogenica" (10): Vítima de napalm ou um caso de vitiligo ? Mais uma foto polémica do húngaro Bara István (1942-2025), alegadamente tiradas nas "áreas libertadas" do PAIGC em 1969

 


Foto nº 1A


Foto nº 1


Fotpo nº 1B
Ex-Guiné Portuguesa > s/l > 1969 > Uma das 7 dezenas de fotos da visita do foto jornalista húngaro István Bara (1942-2025), da agência noticiosa estatal MTI (Magyar Távirati Iroda), que esteve alegadamente embebbed com forças do PAIGC, no mato, em 1969/70, em "áreas libertadas".

Nesta imagem, da sua fotogaleria, mostram-se "os efeitos do napalm"... Pelo menos, a legenda (em húngaro) é isso que diz explicitamenmte: " István Bara: Napalm áldozata. Guinea-Bissau, 1969" (em português: "István Bara: vítima de napalm. Guiné-Bissau, 1969").

O fotojornalista da MTI (a agência noticiosa estatal húngara na época)  não diz onde foi exatamente tirada a foto (podia ter sido na Guiné-Conacri). A sua página (comercial) foi descontinuada há uns largos anos, sendo entretanto   capturada em 2009 pelo Arquivo.pt.

O fotógrafo morreu recentemente aos 83 anos.

Numa análise mais atenta e detalhada da imagem, com a ajuda da IA, concluimos que estamos perante um caso aparentemente de grosseira ignorância (clínica): tudo indica que se trataria de um caso de vitiligo (despigmentação da pele, comum em pessoas de pele escura, deixando manchas brancas), confundida intencionalmente ou não com queimaduras por napalm (que em geral atingem também outras partes do corpo, com o peito, o pescoço, a cara, o coro cabeludo... e não apenas as mãos... e deixam marcas profundas)

Temos de admitir o princípio da presunção da inocência, neste caso, da santa ignorância ... Mas a nós "cheira-nos", no mínimo, a aproveitamento propagandístico (*)... 

Sabemos que o PAIGC e sobretudo o seu líder histórico, Amílcar Cabral (Bafatá, 1924- Conacri, 1973) sempre beneficiou de uma "boa imprensa", a nível internacional, e nomeadamente nalguns países europeus, como a Suécia, a Itália ou até a França. Sem esquecer os países da Europa de Leste...

Foto: Foto Bara (com a devida vénia...)


1. Perguntámos ao assistente de IA / ChatGPT:
 
Pele escamada, despigmentada, branca, nas mãos de um africano, guineense de Bissau... Doença dermatológica ? O fotógrafo diz que foi vítima de napalm, em 1969... A vítima não foi atingida na cara, só nas mãos. O que é estranho... Ignorância ? Encenação fotográfica ? É mais que provável... O fotógrafo, húngaro, oriundo de um país do bloco soviético, esteve em 1969, nas "regiões libertadas" do PAIGC.  Não seria o primeiro caso de um fotojornalista manipulador, sem ética, usando encenações. 

A foto está aqui: 

https://blogueforanadaevao
tres.blogspot.com/2008/04/guin-6374-p2723-poemrio-do-jos-manuel-6.html
2. Resposta do Chat Português:

O caso que descreves levanta várias questões interessantes, tanto médicas como históricas e políticas.

(i) Aspeto dermatológico

  • Pele esbranquiçada e descamada nas mãos pode corresponder a várias condições:

    • Vitiligo (perda de pigmento, comum em pessoas de pele escura, deixando manchas brancas);

    • Ictiose (pele muito seca e escamosa);

    • Dermatite crónica (por contacto ou alergia);

    • Cicatrizes de queimaduras (mas estas costumam deixar pele lisa, brilhante e retraída, não apenas esbranquiçada).

  • Napalm: provoca queimaduras gravíssimas, destrói tecidos até ao osso; é pouco provável que atingisse apenas as mãos e deixasse a cara completamente intacta, sobretudo num conflito; além disso, as sequelas típicas são cicatrizes grossas, quelóides e retrações, não simplesmente pele branca e escamosa.

(ii) Contexto histórico e propaganda

  • Em 1969, o fotógrafo húngaro István Bara,a partir de Conacri, esteve nas "zonas libertadas" do PAIGC, num contexto de guerra colonial e guerra de propaganda.

  • Fotógrafos do bloco soviético muitas vezes produziam imagens com grande carga ideológica, destinadas a mobilizar a opinião pública internacional contra  Portugal.

  • Há registos de encenações e manipulações em várias coberturas de guerra, e o facto de o fotógrafo ter "fama de manipulador" reforça a suspeita.

(iii) A foto em questão

  • Na imagem, o que se vê parece mais compatível com vitiligo ou outra doença dermatológica crónica do que com sequelas de napalm.

  • A narrativa do fotógrafo (registo de um sobrevivente de napalm que ficou apenas com mãos brancas) é pouco verosímil clinicamente.

  • O objetivo pode ter sido produzir um símbolo visual de “crueldade colonial” para consumo internacional.

Portanto, a explicação médica mais provável é vitiligo ou ictiose

A explicação histórica mais plausível é que se trata de uma manipulação narrativa (ou mesmo encenação) feita pelo fotógrafo para reforçar a propaganda do PAIGC e do bloco soviético.

3. Pedimos ao ChatGPT, em português ( a IA dos pobrezinhos... que é por enquanto de borla) para fazer uma análise detalhada da fotografia em si (textura da pele, marcas visíveis, consistência com queimaduras vs. doenças dermatológicas). Aqui vai a resposta.

 Fiz uma análise cuidada da fotografia (link do blogue que me enviaste). Eis alguns pontos técnicos e médicos:

(i)  Textura da pele nas mãos

  • A pele aparece esbranquiçada, seca e descamada.

  • Não se observam cicatrizes espessas, retrações ou deformações, típicas de queimaduras graves.

  • O formato dos dedos mantém-se normal: em queimaduras profundas de napalm, é quase inevitável haver retracção cicatricial e perda de elasticidade.

(ii) Distribuição das lesões

  • Afeta principalmente o dorso das mãos, enquanto a face e os braços parecem poupados.

  • Isto é muito estranho para queimaduras de combate: o napalm adere à pele e espalha-se rapidamente, atingindo zonas expostas como a cara, pescoço e tronco.

  • A distribuição é muito mais compatível com vitiligo (que costuma atingir mãos, face, pés) ou ictiose/dermatite.

(iii) Consistência fotográfica

  • O contraste exagerado da foto (preto/branco) pode ter sido usado para acentuar o branco das mãos, criando um efeito dramático.

  • Nada indica lesões recentes; parecem condições crónicas e não traumáticas.

(iv)  Contexto político

  • A legenda sobre “vítima de napalm” não corresponde ao aspeto clínico real.

  • É altamente provável que tenha sido uma encenação ou interpretação manipulada pelo fotógrafo, István Bara, reforçando a narrativa de propaganda anticolonial.

Conclusão:

A fotografia não mostra sequelas de napalm, mas sim uma doença dermatológica crónica (provavelmente vitiligo). A explicação de queimadura é insustentável do ponto de vista médico e serve apenas a um propósito propagandístico.

4. Segue-se uma comparação lado a lado com imagens reais de queimaduras de napalm vs. vitiligo, para visualizar melhor as diferenças

 

Aqui tens um conjunto de imagens que ajudam a visualizar melhor a diferença entre queimaduras de napalm e alterações típicas de vitiligo:

  1. Primeira imagem: mostra uma vítima com queimaduras graves:  pele irregular, com áreas aparentemente destruídas e retrações visíveis, características compatíveis com lesões profundas por napalm ou substâncias semelhantes.

  2. Segunda imagem: retrata vitiligo nas mãos: manchas bem delimitadas, brancas e lisas, sem cicatrizes ou retrações.

  3. Terceira imagem: imagem histórica da Kim Phuc, a “Napalm Girl”, a menina do napalm, com queimaduras extensas acompanhadas de cicatrizes e áreas deformadas.

  4. Quarta imagem: outra representação de queimaduras de napalm, com textura visceral e evidente sofrimento físico. 

Comparação clínica

(i) Aparência das queimaduras de napalm

A ação do napalm envolve queimaduras profundas de segundo a terceiro grau, a temperaturas entre 800 e 1 200 °C, causando destruição extensiva da pele e dos tecidos subjacentes. Resultam frequentemente em escaras, ulceras, formação de queloides e contraturas, que impedem o movimento das articulações e deixam cicatrizes espessas e deformantes Wikipedia  Reddit.
  • Um testemunho histórico descreve vítimas com pele em “crosta púrpura”, ausência de orelhas ou lábios, olhos opacos — um quadro extremamente grave Reddit.

  • Vítimas como Kim Phuc passaram por anas de cirurgia profundas, com mobilidade reduzida, dor crónica e necessidade de tratamento durante dezenas de anos hrw.org | People.com | Wikipedia | The Guardian   l  Medium.

(ii) Aspecto do vitiligo

  • O vitiligo é uma condição autoimune crónica que destrói melanócitos, levando à formação de manchas bem delimitadas, lisas e esbranquiçadas, frequentes em mãos, pés, rosto e outras áreas expostas Wikipedia | MSD Manual | saafp.org.

  • Essas áreas não são doloridas nem apresentam cicatrizes; são simplesmente despigmentadas e se mantêm estáveis ou progridem lentamente patient.info | aafp.org.

  • Frequentemente aparecem em padrões simétricos, com bordas nítidas e ausência de textura alterada aafp.org.


Conclusão comparativa

CaracterísticaQueimaduras de NapalmVitiligo
Aparência
da pele

Cicatrizes espessas, deformações, retrações 

Manchas brancas, bem delimitadas, lisas
Textura / mobilidadePele rígida, retração, limitação de movimentoPele suave, sem alteração de textura

Tempo
de evolução
Lesões traumáticas
e agudas
Condição crónica, evolução gradual

A fotografia que mencionaste — mãos brancas, escamosas, mas com estrutura normal e sem sinais de cicatrização grave — corresponde muito mais às características do vitiligo do que a queimaduras de napalm.

Isso reforça a suspeita de que a legenda de “vítima de napalm” é, no mínimo, clinicamente questionável e possivelmente parte de uma encenação ou narrativa manipulada. (**)

(Pesquisa: LG | Assistente de IA / ChtaGPT) (Revisão / fixação de texto, negritos: LG)
___________________

Notas do editor LG:

(*) Vd.  poste de 3 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27179: Casos: a verdade sobre... (54): Napalm, fósforo branco e outros incendiários no CTIG - Parte I: O que diz a IA / ChatGPT

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24107: "Una rivoluzione...fotogenica" (9): Roel Coutinho, médico neerlandês, de origem portuguesa sefardita, cooperante, que esteve ao lado do PAIGC, em 1973/74 - Parte VII: A vida em Ziguinchor, Senegal

Senegal > Ziguinchor > PAIGC > 1973 >  Organizando um coluna logística que vai kevar armas até à base de Hermacono ou Hermancono, na fronteira / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - G 23 - Life in Ziguinchor, Senegal - Carrying weapons to Hermangono, Guinea-Bissau - 1973


Senegal > Ziguinchor > PAIGC > 1973 >  Kalashnikovs AK-47 para Hermacono / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - G 24 - Life in Ziguinchor, Senegal - Carrying weapons to Hermangono, Guinea-Bissau - 1973



Senegal > Ziguinchor > PAIGC > 1973 >   Vacinação contra o cólera. O dr. Roel Coutinh segurador um injetor de jato  / Foto: 
ASC Leiden - Coutinho Collection - G 02 - Ziguinchor, Senegal - Vaccinations - 1973


Senegal > Ziguinchor > Hospital > PAIGC > Primavera de 1973 >  Uma enfermeira / Foto:  ASC Leiden - Coutinho Collection - 2 25 - Ziguinchor hospital - Senegal - Nurse - 1973



Senegal > Ziguinchor > Hospital > PAIGC > 1973 > Enfermeira > ASC Leiden - Coutinho Collection - 8 05 - Nurse in Ziguinchor hospital - 1973


Senegal > Ziguinchor > Hospital > PAIGC > 1973 > A enfermeira francesa Nicole Dicop,   administradora do hospital do PAIGC  em Ziguinchor, desde 1971 até a primavera 1973; aqui com  o enfermeiro da Guiné-Conacri, Sekou Touré  / Foto: ASC  Leiden - Coutinho Collection - G 19 - Life in Ziguinchor, Senegal - French nurse Nicole with PAIGC male nurse Sekou Touré (in Ziguinchor) - 1973


Senegal > Ziguinchor > Hospital > PAIGC > 1973 > Anneke Coutinho-Wiggelendam no Hospital do PAIGC de Ziguinchor / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - 11 04 - Ziguinchor hospital, Senegal - 1973




Fonte: Wikimedia Commons > Guinea-Bissau and Senegal_1973-1974 (Coutinho Collection) (Com a devida vénia...) . Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)

1. Da coleção fotográfica de Roel Coutinho, relativa à sua estadia junto do  PAIGC na Guiné e no Senegal, entre março de 1973 e abril de 1974, apresentamos hoje mais uma seleção de imagens, editadas por nós, relativas  à base logística de Ziguinchor, Senegal. 

Aqui funcionava um hospital (onde durate muito tempo o único médico residente era o português, nascido em Angola, o dr. Mário Moutinho de Pádua) e daqui seguiam também, no final da guerra, colunas logísticas com armamento que era descarregado e levado para a base de Hermangono (ou Hermacono, segundo as autoridades militares portuguesas da época), na linha de fronteira.

Ainda não conseguimos localizar onde ficava Hermacono, talvez no corredor de Sambuiá (?). Segundo a instituição a quem foi doada a coleção de mais de um milhar de fotos e "slides", o African Studies Centre (ASC), Leiden, Hermangono (ou Hermacono)  seria "uma pequena aldeia na Guiné-Bissau, a um dia de distância da fronteira senegalesa", mas não se indica a sua exata localização...(Temos dúvidas se era dentro do território português, se era já no Senegal.)

Também não encontrámos este topónimo, nem na "Crónica da Libertação", do Luís Cabral (Lisboa, O Jornal, 1984) (que, cronologicamente, termina na data do assassinato de Amílcar Cabral, ou seja, em janeiro de 1972), nem no Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum, nem muito menos nas nossas antigas cartas militares.

Como fotógrafo (amador), Coutinho não se deixou deslumbrar pelas armas nem pela guerra... Não são muitas as fotos dos combatentes e do seu armamento, privilegiou antes outros aspectos da vida no "mato" (para usar um termo caro às NT): a prestação de cuidados de saúde, a educação, a população, as crianças, o quotidiano,  etc.

Com a esposa, Anneke Coutinho, escreveu um artigo, Report from Guinea-Bissau, publicado nº 2 da revista Kroniek van Africa, 1974, pp. 210-219.

Resumo do artigo (originalmente em inglês): 

"Os autores em 1973/74 integraram as actividades do Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde na Guiné-Bissau (ex-Guiné Portuguesa). Nestas impressões de observadores participantes,  descrevem, a partir de um esboço da criação do PAIGC (em 1956 sob a direção de Amílcar Cabral) e da sua luta armada pela libertação do país do regime colonial português, vários aspectos da política do PAIGC nas áreas liberadas, por ex. assistência médica (postos médicos, hospitais, instalações, fornecimento de medicamentos), solução democrática de conflitos, organização da educação escolar, provisão de necessidades essenciais através de lojas populares, mobilização da consciência política e motivação da população, da elite política e seu futuro. A conclusão dos autores é que as perspectivas futuras da Guiné-Bissau são mais promissoras do que naqueles outros países do Terceiro Mundo que não conheceram nenhuma luta armada".


2. São fotos de um  jovem  médico,   Roel Coutinho,  hoje um prestigiado médico, epidemiologista e professor,jubilado, de epidemiologia e prevenção de doenças transmissíveis: esteve no Senegal e na Guiné-Bissau, em missão sanitária que não excluia a simpatia política (não sabemos se durante um ou mais períodos, entre março de 1973 e abril de 1974).

Tinha acabado de se licenciar  em medicina (em 1972). Especializar-se-ia depois em microbiologia médica. Doutorou-se em 1984, em doenças sexualmente transmissíveis. É um especialista mundial em HIV/Sida, com mais de 600 artigos publicados em revistas científicas.

Recorde-se que Roel Coutinhyo nasceu  em 1946, nos Países Baixos, em Laren, perto de Amesterdão, província da Holanda do Norte.  

Tem ascendência luso-judaica, sefardita: os antepassados, marranos ou cristãos-novos, devem ter saído de Portugal para a Holanda no séc. XVII. Os portugueses, cristãos novos, e de novo reconvertidos ao judaísmo, constituíam uma comunidade prestigiada e influente, pela cultura, o dinheiro e o poder. Sempre usaram os seus apelidos portugueses até à II Guerra Mundial. 

Prova da importância da comunidade luso-judaica de Amesterdão (onde nasceu o grande filósofo Espinosa, 1632-1677),   é a "Esnoga", a monumental Sinagoga Portuguesa,   inaugurada em 1675, e chegou a ter 3 a 4 mil fiéis.

Hoje  a comunidade está reduzida a umas escassas centenas de pessoas: espantosamente o edifício da "Esnoga Portuguesa",  minumento nacional, escapou à destruição da II Guerra Mundial e à ocupação nazi; é visita obrigatória para os portugueses que forem a Amesterdão.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24014: "Una rivoluzione...fotogenica" (8): Roel Coutinho, médico neerlandês, de origem portuguesa sefardita, cooperante, que esteve ao lado do PAIGC, em 1973/74 - Parte VI: O quotidiano dos guerrilheiros na base de Hermacono (Senegal)...


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermancono > PAIGC > 1974 > Comandante militar / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 11 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military commander of Hermangono, Northern Guinea-Bissau - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermangono > PAIGC > 1974 >  Camas dos combatentes escavadas no chão / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 13 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military trench beds - 1974


Guiné > PAIGC > Região Norte, fronteira com o Senegal >  Soldado com a sua mulher / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 14 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldier with wife - 1974.tif

Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Combatentes em frente a uma palhota /Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 18 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldiers in front of a hut - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal > Hermacono > PAIGC > 1974 > Dois combatentes em frente a uma palhota, com uma criança / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 21 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldiers in front of a hut with a child - 1974


 
Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 >  Combatentes e carregadores num momento de descanso./ Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 22 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldiers and carriers relaxing - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Dois combatentes "à volta do tacho"/ Foto; ASC Leiden - Coutinho Collection - D 17 - Hermangono, Guinea-Bissau - Soldiers cooking - 1974


 Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 >Dois combatentes, no intervalo da guerra, fazendo o seu TOC escolar... / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 15 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military learning to read and write - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal > Hermacono > PAIGC > 1974 > A formatura da alvorada / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 19 - Hermangono, Guinea-Bissau - Morning roll call in Hermangono - 1974


 Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Inspeção às "tropas" (i) ... / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 16 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military inspection in Hermangono - 1974


 Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Inspeção às "tropas" (ii) ... / Foto: :ASC Leiden - Coutinho Collection - D 20 - Hermangono, Guinea-Bissau - Morning roll-call in Hermangono - 1974


Guiné > Região Norte, fronteira com o Senegal  > Hermacono > PAIGC > 1974 > Uma saída  / Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 12 - Hermangono, Guinea-Bissau - Military on the way - 1974



Fonte: Wikimedia Commons > Guinea-Bissau and Senegal_1973-1974 (Coutinho Collection) (Com a devida vénia...) . Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)
 
1. Roel Coutinho é um prestigiado médico, epidemiologista e professor, hoje jubilado, de epidemiologia e prevenção de doenças transmissíveis,  nascido em 1946, nos Países Baixos, em Laren, perto de Amesterdão, província da Holanda do Norte. Licenciou-se em medicina em 1972, esteve no Senegal e na Guiné-Bissau em 1973/74 em visita ao PAIGC, em missão sanitária. Especializou-se depois em microbiologia médica, doutorou-se em 1984, em doenças sexualmente transmissíveis; é um especialista mundial em HIV/Sida, com mais de 600 artigos publicados em revistas científicas. 

Tem ascendência portuguesa, e judaica: os antepassados, marranos ou cristãos-novos, devem ter saído de Portugal para a Holanda  no séc. XVII.  Os portugueses, cristãos novos, e de novo reconvertidos ao juadaísmo, constituíam uma comunidade prestigiada, pela cultura, o dinheiro e o poder. Sempre uaram os seus apelidos portugueses.  Prova doo seu estatuto, é a "Esnoga", a monumental Sinagoga Portuguesa, em Amsterdão, que chegou a ter 3 a 4  mil fiéis; hoje a comunidade está reduzida a umas escassas centenas de pessoas: espantosamente o edifício da "Esnoga Portuguesa", do séc. XVII, escapou à destruição da II Guerra Mundial e à ocupação nazi; é visita obrigatória para os portugueses que forem a Amesterdão.

Da coleção Coutinho, relativa à sua visita ao PAIGC na Guiné e no Senegal, entre março de 1973 e abril de 1974, apresentamos hoje uma seleção de imagens, editadas por nós, relativas ao quotidiano dos combatentes do PAIGC em Hermangono, na "região Norte,  junto à fronteira do Senegal".  

Como fotógrafo (amador), Coutinho não se deixou deslumbrar pelas armas nem pela guerra... Não são muitas as fotos dos combatentes, privilegiou antes outros aspectos da vida no "mato" (para usar um termo caro às NT):  a prestação de cuidados de saúde, a educação, a população, etc.

2. Não conseguimos, até hoje, localizar este lugar, Hermangono (ou Hermacono, segindo a 2ª Rep QG/CC/FAG.  

Segundo a instituição a quem foi doada a coleção de mais de um milhar de fotos e "slides", o African Studies Centre (ASC), Leiden, Hermangono seria "uma pequena aldeia na Guiné-Bissau, a um dia de distância da fronteira senegalesa", mas não se sabe a sua exata localização... 

Também não encontrámos este topónimo, nem na "Crónica da Libertação", do Luís Cabral (Lisboa, O Jornal, 1984), nem no Arquivo Amílcar Cabral / Casa Comum, nem nas nossas antigas cartas militares.

Pergunta-se a quem sabe: Hermangono (ou Hermacono)  seria no corredor de Sambuíá, que tinha início em Cumbamori?

3. Alguns pormenores interessantes sobre os combatentes do PAIGC aqui fotografados:

(i) não viviam nem dormiam em "resorts" turísticos de "luxo": os nossos, apesar de tudo, sempre eram melhores; 

(ii) não há estruturas edificadas, de alvenaria, nem propriamente abrigos ou trincheiras, e a camuflagem não era "famosa"; 

(iii) quase todos calçam sandálias de plástico, provavelmente "made in China"; 

(iv) o fardamento é de diferentes tipologias e cores;

(v) parte deles estão à civil; 

(vi) alguns tinham família (uma ou mais esposas, filhos); 

(vii) não tinham "rações de combate", tinham que fazer a sua própria "bianda" (não há messe nem cantina...);

(viii) aparentam ser jovens, alguns deviam ter sido recrutados recentemente, apesar das crescentes dificuldades do PAIGC em renovar as suas fileiras; 

(ix) as formaturas têm todo o ar de terem sido feitas para a "fotografia", para o "jovem amigo e médico holandês";

(x) botas, relógios de pulso e rádios portáteis deviam ser um privilégio (isto é, só para alguns, o comandante de bigrupo, o comissário político); 

(xi) não se veem armas pesadas;

(xii) Hermangono parece ser mais um "barraca" do que uma base (como Morés ou Sara) (e, pelo aparente à vontade dos seus  habitantes podia estar já situada em território senegalês, com menos riscos de ser bombardeada pela aviação ou pela artilharia dos "colonialistas"); 

(xiii) estamos, de resto, numa altura, 1.º trimestre de 1974 (as fotos devem ser de março / abril), em que o PAIGC já tinha carta branca do Senghor para poder circular pelo Senegal, com "armas e bagagens" (os primeiros anos não nada foram fáceis, segundo o testemunho do Luís Cabral nas suas memórias).
_________

Nota do editor:

Último poste da série > 13 de janeiro de 2023> Guiné 61/74 - P23977: "Una rivoluzione...fotogenica" (6): Roel Coutinho, médico neerlandês, de origem portuguesa sefardita, cooperante, que esteve ao lado do PAIGC, em 1973/74 - Parte V: os "hospitais" do mato e o pessoal de saúde cubano

sábado, 21 de janeiro de 2023

Guiné 61/74 - P24002: "Una rivoluzione...fotogenica" (7): Uma foto intrigante de um guerrilheiro do PAIGC morto, em 1970, da autoria do fotojornalista húngaro István Bara

 

Foto nº 1 


Foto nº 2

Guinea Bissau > 1970 >  István Bara > Elesett PAIGC katona / Guiné-Bissau > 1970 > Foto de  István Bara > Soldado do PAIGC caído

Não sabemos se estas  fotos são do domínio público. De qualquer modo, fica atribuída a sua autoria. Tentámos, há uns largos anos,  contactar o autor por e-mail, mas nunca recebemos resposta, para obtermos autorização para divulgação desta e de mais fotos da sua fotogaleria.

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria > Guiné-Bissau (com a devida vénia ...

1. Esta foto sempre me intrigou...  Já a conheço há uns largos anos... Mesmo sem se perceber húngaro, "vê-se" que é um "soldado do PAIGC caído", com a sua Kalash, ao lado... 

A foto é do fotojornalista  húngaro István Bara (n. 1942) que visitou, a partir de Conacri, algumas das áreas sob controlo do PAIGC, na região Sul, em 1970, "embebbed" nas fileiras da guerrilha... Não sabemos se ao serviço de algum órgão de comunicação social do seu país. 

Há mais 7 dezenas imagens da  reportagem fotográfica da visita, incluindo pelo menos duas do grupo de 26 prisioneiros portugueses que estavam na prisão da "Montanha", em Conacri, à guarda do PAIGC. (Daí que a visita do húngaro só pode ter sido realizada antes da Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970; também não se sabe a que título ele fez esta visita a Conacri e a áreas alegadamente sob controlo do PAIGC no interior da antiga Guiné portuguesa.)

Esta (e as outras fotos) estavam no sítio, "comercial",  "Foto Bara > Galeria" (http://www.fotobara.hu/galeria.htm) . Já não estão disponíveis neste URL, mas fomos recuperá-las  no Arquivo.pt: https://arquivo.pt/wayback/20090707123742/http://www.fotobara.hu/galeria.htm

A página foi capturada pelo Arquivo.pt em 7 de julho de 2009, às 12h37.

2. Pois é, há algo que  me intriga nesta foto (a original é a primeira de cima, Foto n.º 1, com a cabeça do guerrilheiro para baixo, no lado esquerdo; invertemos a segunda para que se possa ver o corpo de outro ângulo, com a cabeça no canto superior direito, Foto n.º 2).

Numa análise mais detalhada do corpo do guerrilheiro (Fotos nº 1A e 2A) não são visíveis ferimentos,  com sangue e orifícios de balas ou estilhaços... Ao ser atingido, seria normal cair de bruços, e a arma ser projetada para a frente ou para o lado... O guerrilheiro tem um "rosto sereno"... Sobre as pernas,  vêem-se alguns ramos de arbustos... E, mais estranho, não há vestígios de terra nem muito menos de formigas e moscas... É pouco provável que o fotógrafo tivesse conseguido um "instantâneo" da morte do guerrilheiro, num eventual reencontro com as tropas inimigas, até porque não há outras fotos que documentem nenhum emboscada ou ataque ao bigrupo do PAIGC...

Uma hipótese que levanto, é tratar-se de, não propriamente de uma "fotomontagem",  mas um foto resultante de um situação eventualmente simulada ou encenada...  O que eticamente seria grave para qualquer fotojornalista em qualquer parte do mundo, num cenário de guerra... Mas não seria o primeiro caso... Uma delas,que continua a ser polémica,  é a do "Falling Soldier", de Robert Capa, uma foto a preto e branco, mostrando o momento em que  um miliciano republicano é atingido mortalmente, durante a guerra civil espanhola, foto alegadamente tirada em Cerro Muriano, no sábado, 5 de setembro de 1936.

Estou de boa fé, não quero estar a ser injusto para com o fotojornalista húngaro, mas acho a imagem (que devia ser de horror) "demasiado perfeitinha"... O que acham os nossos leitores?

PS - Já o dissemos em tempos: não sabemos exactamente em que circunstâncias o István Bara esteve em Conacri e na antiga Guiné portuguesa: num das fotos, ele próprio, então com 30 anos, deixa-se fotografar com uma Kalash pendurada ao pescoço, o que para um fotojornalista de hoje seria altamente reprovável, do ponto de vista deontológico;  pelo que percebi do seu currículo (em húngaro...),  ele nessa altura, em que esteve na Guiné (1969/70), trabalhava como fotojornalista da MTI ("Magyar Távirati Iroda", em inglês "Hungarian Telegraphic Office", uma das mais antigas agências noticiosas do mundo, criada em 1880). 

Em resumo, julgo tratar-se de alguém com prestígio internacional como fotojornalista: pelo menos, foi eleito duas vezes  como membro do júri da "World Press Photo" e outras duas vezes da "Interpress Photo". Também foi docente, durante uma década, numa escola internacional de jornalismo no seu país.

Recorde-se, por outro lado, que na época (1969/70) a Hungria fazia parte do Pacto de Varsóvia e, portanto, era pelo menos politicamente um dos apoiantes do PAIGC.

Foto nº 2A

Foto nº 1A. 

Guinea Bissau > 1970 > István Bara> Elesett PAIGC katona / Guiné-Bissau > 1970 > Foto de István Bara> Soldado do PAIGC caído. Detalhe (Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2023)

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de janeiro de  2023 > Guiné 61/74 - P23977: "Una rivoluzione...fotogenica" (6): Roel Coutinho, médico neerlandês, de origem portuguesa sefardita, cooperante, que esteve ao lado do PAIGC, em 1973/74 - Parte V: os "hospitais" do mato e o pessoal de saúde cubano