1. Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande, tem mais de meia centena de referências no nosso blogue. É professor do ensino básico em Vila Verde e é filho do falecido Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74). (tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974). E enviou-nos mais esta achega histórica dos últimos dias do Império.
A Retirada Final: os últimos militares portugueses a abandonar o TO da Guiné (últimas notícias)
Assinaturas do Acordo entre o Governo Português e o Partido
Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), no âmbito da
Descolonização de Cabo Verde (19 de Dezembro de 1974). Documento do Arquivo Nacional Torre do Tombo.
Caros Amigos:
Acabei de ler o o livro da
autoria de Jorge Sales Golias, A Descolonização Da Guiné-Bissau e o Movimento
dos Capitães, que vos aconselho a ler vivamente. Neste livro com prefacio de
Carlos de Matos Gomes que afirma mesmo que "... é o trabalho sério e
rigoroso, pessoal, de colocação no seu devido lugar do que aconteceu na Guiné
...", pude constatar depois de o ler com muita atenção, que apesar de no
global, não dizer nenhuma "inverdade" no meu artigo (Retirada Final),
já que que os principais acontecimentos históricos, bem como as suas datas
coincidem com as apresentadas neste artigo e noutros também da minha autoria, existirá
no entanto um erro na "cronologia dos últimos acontecimentos".
A
título de exemplo poderei referir que o pedido do PAIGC no dia 4 de Outubro de 1974, para que as
nossas tropas se retirassem na totalidade da Guiné até 15 de de Outubro, o que
invariavelmente obrigou na altura "à revisão total do planeamento de
evacuações via aérea e marítima", coincide de facto com os registos do CEM
da altura, pois o coronel Henrique
Gonçalves Vaz afirma nos seus registos pessoais a 4 de Outubro de 1974 que:
"...Soubemos hoje que o nosso regresso se efectuaria a 15 deste
mês! Novos planos, novas missões e novos aspectos de vários problemas a
encarar! ..."
No entanto, volto a referir que existe neste meu artigo sobre a
"Retirada Final" uma incorreção, que gostaria de corrigir com base na
Narrativa apresentada neste livro por este oficial do MFA e protagonista muito
importante neste processo de descolonização da antiga Província Ultramarina da
Guiné, que se relaciona com a (cronologia dos acontecimentos) entrega do último
bastião das tropas portuguesas na Guiné, o Forte da Amura, da retirada das
últimas forças militares por via marítima e a saída do comandante chefe das
tropas portuguesas (Brigadeiro Carlos Fabião), o seu Estado Maior e os oficiais
do MFA por via aérea. Como tal e segundo li neste livro do sr. coronel Jorge
Sales Golias, a cronologia destes mesmos acontecimentos deu-se da seguinte
forma, a saber:
Foto: © João Martins
(2012). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]
- O último acto oficial do brigadeiro
comandante-chefe Carlos Fabião foi a deslocação ao Boé a pedido Comité Central
do PAIGC, no dia 12 de Outubro de 1974 (dois dias antes de abandonar a Guiné)
onde foi recebido por Luís Cabral;
In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angol,a Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d. , pp. 332 e 335. Autores das fotos: desconhecidos. (Reproduzidas com a devida vénia).
- No dia 14 de Outubro, pelas 3
da manhã, o comandante-chefe Carlos Fabião partiu do aeroporto de Bissalanca,
juntamente com os comandantes do CTIG, da Zona Aérea, do seu Estado-Maior (onde
se encontrava também o seu CEM) e os oficiais da Comissão Coordenadora do MFA
na Guiné. Este voo representou o
penúltimo contingente das nossas tropas, e não o último. No aeroporto
encontravam-se representantes do PAIGC em Bissau, nomeadamente Juvêncio Gomes,
Vítor Monteiro, Constantino Teixeira, Paulo Correia e o comandante Silva Cabral
(o célebre comandante Gazela);
O Alto Comissário (Vice Almirante Vicente
Manuel de Moura e Coutinho Almeida d´Eça) ao lado de Aristides Pereira, futuro
presidente da República, na abertura da primeira sessão da Assembleia
Representativa do Povo de Cabo Verde.
Documento
fotográfico do Arquivo Nacional Torre do Tombo.
Nota: O então Comodoro Vicente Manuel de Moura Coutinho de Almeida D´ Eça,
além de ter sido nomeado comandante
de todas as forças dos três Ramos presentes no Teatro de Operações da Guiné a
partir de 14 de Outubro, posteriormente desempenhou as funções de Governador e Alto-Comissário, de Cabo Verde (Jan75).
- O último comandante das Forças
Portuguesas dos três Ramos das Forças Armadas, ainda estacionadas em Bissau,
foi o Comodoro Almeida D´ Eça, já que em
7 de outubro o brigadeiro comandante-chefe determinou: "É nomeado
comandante de todas as forças dos três Ramos presentes no TO (Teatro de
Operações) a partir de 14 de Outubro à uma hora, o Exmo Senhor comodoro Vicente
Manuel de Moura e Coutinho Almeida d´Eça com a missão de:
- O comandante das Forças
Terrestres a embarcar (este sim o último
contingente militar a abandonar o TO da Guiné), foi o coronel de infantaria
António Marques Lopes;
- O comandante do destacamento da Força Aérea foi o tenente-coronel piloto aviador, Fernando João de Jesus Vasquez;
- Em 9 de outubro foi emanada pelo comandante-chefe a última diretiva, que detalhava o planeamento da entrega das instalações ao PAIGC (Ordem de Operações nº 1/74);
- Na manhã do dia 14 de outubro realizou-se a entrega do Palácio do Governo, tendo assistido a esta cerimónia o comodoro Vicente Almeida d' Éça em representação do Governo Português (segundo Jorge Sales Golias, este foi o último acto oficial antes da retirada de todas as Forças Portuguesas);
- Segundo o Relatório Final do CDMG (Comando da Defesa Marítima da Guiné),
- Neste mesmo dia e depois da cerimónia do último arriar da Bandeira Nacional, embarcavam as últimas tropas portuguesas (este sim, o último contingente a abandonar o TO da Guiné), para o navio NIASSA, em diversas LDG (Embarque simultâneo em LDG´s entre as 142300 e as 150130 segundo o Programa de embarque das Forças).
Como já disse todas estas informações, são fruto das investigações do sr. coronel Jorge Sales Golias, plasmadas no seu livro "A Descolonização Da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães", Edições Colibri, com prefácio de Carlos de Matos Gomes.
Aconselho a sua leitura, pois narra de uma forma sábia o fim do nosso Império nesta antiga Província Portuguesa, mas sempre com uma contextualização dos acontecimentos políticos/militares na Guiné em relação aos acontecimentos políticos que decorriam na "antiga Metrópole", dos encontros de Dakar, de Londres e as negociações/acordos de Argel. Penso que com estas informações terei contribuído para um maior esclarecimento da "Retirada Final da Guiné" no ano de 1974.
Abraço para todos vós
Luís Gonçalves Vaz
Imagem do Livro do sr. coronel Jorge Sales Golias
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Notas:
(**) Vd. postes de