Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > "Porto fluvial", no Rio Fulacunda, afluente do Rio Grande de Buba, que ficava a sul > Chegada de uma LDP com reabastecimentos.
[ Foto do álbum de Jorge Pinto, ex-alf mil da 3.ª CART/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), professor de história reformado; natural de Alcobaça, vive na Grande Lisboa e é também membro da nossa Tabanca Grande e da Tabanca da Linha]
Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Região de Quínara > Carta de Empada (1955) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Rio Grande de Buba, Rio Fulacunda (ou Bianga) e Rio Empada
Guiné > Carta da antiga Província Portuguesa da Guiné (1961) (Escala 1/500 mil) > Posição relativa de Fulacunda: do rio Fulacunda (ou Bianga), a sul; do rio Geba, a norte e oeste; do Rio Grande Buba a sudoeste, e do Rio Corubal a leste.
Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)
1. Por lapso, já temos dado o rio Fulacunda (ou Bianga) como estando situado a norte de Fulacunda,e como sendo afluente do rio Geba; ora, como é óbvio (vd acima as infografias), fica a sul de Fulacunda e é afluente do rio Grande de Buba...
As NT percorriam um pequeno troço que passava por Bianga (uma antiga tabanca abandonada no princípio da guerra) para chegar à margem direita do rio Fulacunda (cerca de 4 km).
Claro que não havia nenhum porto fluvial, pontão, ou cais acostável. Na maré-cheia as embarcações aproximavam-se o mais possível dá margem (direita). As LDP ou LDM da Marinha "abicavam". E só podiam regressar na maré-cheia.
Espero que os nossos leitores nos perdoem este lapso (involuntário), e sobretudo os fulacundenses (*)...
2. Segundo a história da unidade (BCAÇ 6520/72, Tite, 1972/74), o sector S1 (Sul 1, Tite)) tem uma configuração muito especial marcada pelos limites naturais dos rios Geba (a norte e a oeste), a sul (Rio Grande de Buba) e a leste (Rio Corubal), intransponíveis a vau na época seca. Esse obstáculo tanto o era para as NT como para o IN.
Todos os demais rios são praticamente intransponíveis na época das chuvas. Não existia floresta, mas as matas eram densas. A orografia era a típica da Guiné (ausência de relevo digno de nota). A vila e a tabanca de Fulacunda ficavam num "altinho" (cotas 32/33/34).
A superfície do setor era avaliado em 1000 km2.
3. Em conversa de quase uma hora (53' 6'') com o Jorge Pinto, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), pude confirmar ou corrigir o seguinte:
(i) desde o início da guerra (1963), Fulacunda (que era vila e sede circunscriçáo) (sendo Tite e São João postos administrativos), ficou completamente isolada;
(ii) em Bianga e outras tabancas à volta, a população fugiu: umas foram para o mato, onde se refugiaram, outras aderiram ao PAIGC (mais os biafadas do que os balantas, estes foram forçados), e outras ainda ficaram sob a proteção das NT;
(iii) em 1950, a população do Sector (S1, Sul1) era computada em 16,6 mil indivíduos, distribuindo-se assim pela sede e pelos postos administrativos (em %): Fulacunda = 26,8; Tite= 39,6; São João= 33,6. Total=100,0.
(iv) em 1972, quando o batalhão assume a responsabilidade do setor, a população era estimada em 13,9 mil, assim distribuída (em termos de controlo) (%): NT=59,5; NT/IN (duplo controlo)=21,9; IN= 18,6. Total=100,0.
(v) Fulacunda, em 1972/74, continuava completamente isolada, tendo perdido com o início da guerra em 1963 toda a sua importância (em termos administrativos, demográficos, económicos, comerciais, etc.);
(vi) a população era de 539 habitantes (na sua grande maioria biafadas, com alguns manjacos, balantas e fulas) (ou seja, 12,1% da população de 1950);
(vii) a única fonte de rendimento era a tropa: as mulheres eram lavadeiras, e os homens (umas 3 ou dezenas) eram milícias;
(viiii) havia apenas um caçador, fula; caçava um ma vez por mês: e fazia-se pagar bem pelo produto da caça;
(ix) havia um Balanta que vendia leitões (de pele e osso, secos, sem sabor...); bebia e batia na mulher; era conhecido da tropa: um dia foi-se queixar ao quartel da mulher, que lhe tinha mestrado... os "tintins";
(x) a tropa e a população tinham uma horta numa faixa estreita de terreno ao longo do arame farpado: faziam-se hortícolas, alguma mancarra e milho paínço (para autoconsumo); com a mancarra, fazia-se uma papa que as pessoas comiam;
(xi) não havia arroz de bolanha nem de sequeiro; simplesmente não havia condições de segurança psra se "lavrar arroz";
(xii) o arroz (base da alimentação na Guiné) vinha de Bissau, fornecido pela Intendência , quinzenalmente: uma parte era vendida, outra era distribuída gratuitamente;
(xiii) fechava-se os olhos aos "parentes do mato" que vinham "abastecer-se" também a Fulacunda (fazia parte da "psico"), oriundos de outras tabancas, nomeadamente sob duplo controlo ou controlo IN;
(xiv) o ex-fur mil vagomestre José Miguel Louro (que é membro da Tabanca da Linha, Algés) pode dar uma ideia das proporções do arroz que era vendido e que era oferecido;
(xv) e por fim, mas não menos importante: tenho que ressalvar que parte das fotografias ("slides" digitalizados) aqui publicados são do Jorge Pinto, que os partilhou em tempos com o Armando Oliveira; os dois têm de resto o melhor álbum fotográfico sobre Fulacunda: os créditos fotográficos são difíceis de individualizar; mas as fotos do Jorge Pinto são, para já, as que publicámos há mais de 10 anos atrás (incluindo algumas mais recentes, com camaradas, a quem ele fez questão de pedir autorização para as publicitar, comportamento ético louvável: as fotos da sua festa de anos, por exemplo).
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 6 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23765: Dando a mão a palmatória (34): nas nossas cartas militares, na escala de 1/50.000, cada centímetro corresponde a 500 metros... (e não a 1 km)