quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5761: Núcleo MuseolÓgico Memória de Guiledje (13): intervenção da Presidente da AD, Isabel Miranda, no dia 20 de Janeiro de 2010

Intervenção da AD - Acção para o Desenvolvimento, na pessoa da sua presidente, Sra. Dona Isabel Miranda (aqui, em foto de 5 de Março de 2008, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje, Bissau, 1-7 de Março de 2008):

Exmº Senhor Malam Bacai Sanhá, Presidente da Republica da Guiné-Bissau
Exmº Senhor Carlos Gomes Junior, Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau
Senhores Membros do Governo
Senhores Deputados
Senhores Embaixadores
Senhores combatentes da Independência da GB
Senhores Internacionalistas Cubanos
População da Guiné-Bissau, de Tombali, de Guiledje
Meus Senhores e minhas Senhoras


Bem Vindos a Cantanhez, berço da Nação Guineense!

Há 18 anos que a nossa ONG, a AD, vem trabalhando nesta zona histórica do país, tendo como permanente referência Amilcar Cabral que, para além de ser um agrónomo visionário, era também um antropólogo de profunda sensibilidade, que sempre colocou o Homem, as suas preocupações, as suas convicções e as suas percepções do mundo, no centro de todos os processos de desenvolvimento.

Com a Luta pela Independência aprendemos, entre outras coisas:

- A ter a nossa própria agenda de prioridades, baseada nas dinâmicas e vontades locais e não as que nos são impostas do exterior. Cabral dizia que "ninguém luta pelas ideias que estão na cabeça dos outros…";

- A importância de percorrer e encontrar caminhos inovadores para a solução dos problemas e desafios. A declaração da Independência da Guiné-Bissau durante a ocupação colonial foi uma decisão ímpar e única de repercussões universais;

- Que os processos mais duradouros são aqueles que são inicialmente minoritários e que vão crescendo com a adesão das comunidades à medida que provam que são viáveis e eficazes. A criação do PAIGC em 1956 por um punhado minoritário de nacionalistas, transformou-se em 17 anos numa onda gigante maioritária que nos levou à independência;

- O valor da solidariedade e entreajuda entre os actores dos processos de desenvolvimentos é determinante para ultrapassar as dificuldades, em vez de se estar sempre a queixar de falta de meios.

Meus Senhores e Minhas Senhoras,

Quando há 2 anos a AD, o INEP e a Universidade Colinas do Boé organizaram o Simpósio Internacional de Guiledje, estavam a contribuir para o reconhecimento nacional do papel único de uma geração que abdicou da sua própria vida pessoal e profissional, para criar um país, em que as pessoas fossem elas próprias, donas do seu destino promovendo os valores da gesta da libertação.

O Museu "Memória de Guiledje" é, antes de tudo, uma homenagem à geração de Cabral, a todos os que com o seu exemplo escreveram uma das mais belas páginas da nossa História. Mas é também um lugar de confluência de rios anteriormente desencontrados que hoje procuram um caminho comum.

Encontro com os militares portugueses, aqueles que, embora em campo oposto, aprendemos a respeitar pela sua coragem e capacidade militar numa luta de longa duração e que, afinal, partilham os mesmos sentimentos de amor pela Guiné-Bissau e pelo seu povo, pela sua humildade, dignidade, valentia e determinação, os quais sempre souberam distinguir o povo português do regime colonial que a ambos oprimia .

Hoje, em liberdade, reencontramo-nos com emoção, com vontade de juntar memórias, recordações, encontros e desencontros, voltar a caminhar juntos num caminho de respeito e progresso.

Saudamos a presença da Srª Julia Neto, esposa do capitão José Neto que tanto amou este canto e que tanto contribuiu para que o Museu "Memória de Guiledje" fosse um êxito. Poucos dias antes de falecer, deixou-nos o seu desejo mais profundo: "hei-de voltar a Guiledje", disse. A sua esposa, Srª Julia Neto, está hoje entre nós para realizar esta sua última vontade. Através dela saudamos todos os militares portugueses das 12 companhias que passaram por Guiledje e que quiseram deixar um pouco das suas recordações (aerogramas, fotografias, filmes, contos e narrativas).

Saudamos por fim os nossos irmãos internacionalistas cubanos que verteram o seu sangue e suor nesta Pátria de Combatentes valorosos e, na pessoa dos hoje aqui presentes, saudamos todo um povo que prossegue a sua gesta de solidariedade para com a GB nos domínios da saúde, educação e desenvolvimento do nosso país.

A AD propõe-se

(i) assegurar o funcionamento do Museu de Guiledje e perpetuar a memória histórica da luta pela independência da Guiné-Bissau no sul do país;

(ii) contribuir para criar aqui neste local a sede do Parque Transfronteiriço de Guiledje para promover a conservação e gestão correcta dos recursos naturais e humanos, em especial os Corredores de Animais Selvagens de Balana e Bendugo, fortemente ameaçados actualmente, estabelecendo uma cooperação entre as comunidades da Guiné-Bissau e Guiné-Conakry;

(iii) construir o Centro de Aprendizagem Rural, com o objectivo de formar e capacitar jovens para actividades profissionais, agrícolas e associativas: construção de poços, carpintaria, serralharia, mecânica, construção civil, energia solar, condução de pomares de fruteiras e jardins hortícolas e transformação de produtos agrícolas;

(iv) criar aqui um Pólo de Turismo Histórico com antenas nos quartéis de Cacine, Gadamael, Gandembel, Iemberém, Cadique, Cabedú e Bedanda, bem como nos acampamentos da guerrilha nas matas de Cantanhez, na Base Central e Hospital Donga.

Garantimos que a AD tudo fará para que este local dignifique o seu rico passado, valorizando o Museu, resgatando a cultura do povo de Cantanhez, assim como de mãos dadas com os agricultores, as mulheres e os jovens deste canto apoiar a seu desenvolvimento para que todos possamos dizer "A independência valeu a pena"

Obrigado

Isabel Miranda, Presidente da AD (*)

_____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 4 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5760: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (12): Cerimónia da inauguração, a 20 de Janeiro de 2010, e visita, a 29, de uma delegação cubana (Pepito)

1 comentário:

Hélder Valério disse...

Gostei da intervenção da Presidente da AD.
Enalteceu o passado e especificou tarefas para o futuro.
O programa parece bom, exequível e permite acalentar esperanças para um melhor e maior desenvolvimento.
Hélder S.