
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > 1 de janeiro de 1970 > Quem seria a enfermeira paraquedista que, nessa manhã, a do primeiro dia do novo ano de 1970, veio de DO 27 para tentar salvar o Sambu, do Pel Caç Nat 52 ? Tanto pode ter sido a Maria Ivone como a Rosa Serra, que nesse dia estava de serviço mas, que nos informou, nunca usou pulseira (para mais na mão esquerda).

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > 1 de janeiro de 1970 > O fotógrafo, o Jaime Machado, estava lá!... Uma enfermeira paraquedista prepara o moribundo Uam Sambu para a evacuação para o HM 241... O camarada, de costas, com o camuflado todo ensanguentado é o Mário Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52, À saída da Missão do Sono, em Bambadincazinho, reordenamento a escassas centenas de metros do quartel de Bambadinca, o Sambu foi vítima de um grave acidente com arma de fogo que lhe custou a vida. Apesar da evaciação Y, ele irá morrer na viagem, tal a gravidade do do seu estado. (`De pé, em tronco, por detrás da enfermeira que está debruçada sobre o ferido, reconheço o Fernando Sousa, o 1º cabo aux enf, fa CCAÇ 12).

Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > 1 de janeiro de 1970 > Outro pormenor dos primeiros socorros que foram prestados ao Sambu antes de ser evacuado. Era médico do batalhão o Vidal Saraiva, já falecido. À esquerda do Beja Santos, de camuflado ensanguentado (pelo transporte, às costas, do gferido), sob a asa do DO 27, com a mão direita à cintura, em pose expectante, o fur mil enf da CCAÇ 12, o João Carreiro Martins. Ao fundo estão camaradas do infortunado Sambu, do Pel Caç Nat 52.
Fotos: © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
1. Queridas senhoras enfermeiras paraquedistas, boas amigas, camaradas e grã-tabanqueiras Giselda, Arminda, Rosa, Aura:
Não importa que um deus menor tenha ordenado a vossa extinção, há 40 anos atrás...Ou que a tropa vos tenha maltratado... Uma vez enfermeiras pqdt, enfermeiras pqdt para a vida...
Ninguém ficará com ciúmes com este título antológico aplicado a vocês... Se pensarem nas vidas que ajudaram a salvar (nos 3 TO), não é nenhuma "boutade", ou enormidade, dizer-que, no vosso caso, "Nunca tantos ficaram a dever tanto a tão poucas", parafraseando o grande estadista inglês Winston Churchill...
Vocês foram 46, e agora são bem menos... Há saberes que se perderam irremediavelmente com a extinção do corpo de enfermeiras paraquedistas... Saber-ser, saber-fazer, saber-estar...Na guerra, nos cuidados de saúde aos feridos, militares e civis, a bordo do AL III ou da DO-27, no hospital, no quartel, na base, no mato, na cidade...
No vosso livro coletivo (que faz inveja a outros "corpos" que não conseguiram fazer nada parecido, por exemplo, os médicos, os capelães...), vêm ao de cima muitas dessas competências cognitivas, técnicas, relacionais, humanas, psicossociais... imprescindíveis a um profissional de saúde, na paz e na guerra,,,
Vocês ainda "não fecharam o livro", e até aos 100 (!) ainda irão surgir, bem "espremidinhas", outras histórias, memórias, "cenas"... Penso que faltam sobretudo histórias "sobre" vocês, contadas por nós...Daí o duplo desafio desta série, que tem um título que até pode parecer provocatório...
Andamos todos a "rapar" os baús da memória...Mas a questão não é tanto a falta de material como a "mudança de perspetiva"...Os acontecimentos, os factos, as situações, os lugares, as pessoas, etc. não têm uma única e definitiva leitura...Por isso, "não deitem nada fora", por enquanto...Tudo pode ser "reciclado"...
Será que vamos conseguir material para uma boa dúzia de postes ? O blogue precisa, e vocês merecem o palco (e a nossa gratidão)...
Boa continuação da caminhada pela "picada da vida", agora mais minada e armadilhada... Sobretudo, saudinha.
2. Quantas evacuações terão feito as nossas enfermeiras paraquedistas no TO da Guiné, entre 1962 e 1974 ? (1962 foi o primeiro ano em que se regista a presença de uma enfermeira paraquedista, a Maria Arminda, no CTIG, aonde chegou em julho, e a Eugénia, a seguir, quinze dias depois: foram elas que assistiram aos primeiros feridos da guerra, evacuados em Tite, em 23 de janeiro de 1963).
Impossível saber o número de evacuações sanitárias realizadas por elas, embora se possa tentar estimar, com a ajuda delas (enfermeiras) e deles (pilotos e especialistas da FAP)...
É uma pena que a FAP não tenha esses registos. Ou se tenham perdido. Ou não possam ser discriminadas as evacuações sanitárias dos restantes transportes de pessoal. (E se calhar até tem, é uma questão de ir procurar...)
Sabemos que o HM 241, em Bissau, tinha uma razoável capacidade de internamento: 320 camas. Sabemos que no TO da Guiné, se terão registado (só entre as NT)
- 2854 mortos (dos quais 1717 em combate);
- 9400 feridos graves (7200 em combate e 2200 em acidentes)
O Pedro Marquês dos Santos, no seu livro "Os números da guerra dce África" (Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2021), que estamos a citar, diz que rácio na Guiné foi de 1 morto para 3,6 feridos graves (superior ao rácio de Angola, 3,2, e de Moçambique, 1,4) (pág. 143).- e perto de 20 mil feridos ligeiros, segundo rácio 1 morto / 3 feridos graves e 1 morto / 10 feridos ligeiros: no entanto, para a Guiné, estimam-se em 34 mil o número de feridos.
Em teoria poderíamos apontar para cerca de 10 mil evacuações, ao longo de 11 anos e meio de guerra (princípios de 1963 / meados de 1974) (c. 3800 dias), o que daria, grosso modo, 2,6 evacuações de militares feridos gravemente durante o conflito...Os mortos em princípio não podiam "roubar" lugar aos vivos, no heli ou na DO-27, mas também eram evacuados nalguns casos.
Mas faltam também aqui as evacuações de feridos e doentes da população civil bem como dos guerrilheiros do PAIGC, aprisionados pelas NT e feridos... Impossível saber quantas foram.
Por outro lado, também não sabemos quantas enfermeiras paraquedistas (46 ao todo, de 1961 a 1974, nos 3 TO) poderiam estar em média na BA 12, em cada ano...
Num recente poste que publicámos com dados sobre transportes (aéreos e marítimos) do BCAÇ 1860 (Tite, abril 65/ abril 67), ficámos a saber que houve as seguintes evacuações sanitárias (no setor S1, neste período de tempo):
A = 6
B= 28
Y = 10
Achamos pouco para um batalhão que teve 16 mortos e 6 "desaparecidos em combate" (**)... 16 mortos a multiplicar pelo rácio 3,6, daria cerca de 58 feridos graves... Ora durante a comissão só terá havido 10 evacuações Y... (podendo o heli ou a DO-27 levar duas macas).
Recorde-se que havia três tipos de códigos para as evacuações sanitárias
- Tipo A; militares ou civis com necessidade de serem evacuado para o hospital: (i) no mesmo dia do pedido; (ii) ou no dia seguinte; (iii) para consulta urgente; (iv) não exigindo a presença de enfermeira;
- Tipo B: (i) transporte para consultas ou tratamentos programados (anteriormente, pelo próprio hospital), de modo a dar continuidade à vigilância ou tratamento em curso; (ii) não exigia a presença de enfermeira;
- Tipo Y (ou "Zero Horas", em Moçambique): (i) a mais urgente; (ii) de execução imediata; (iii) feita em helicóptero ou avioneta, passível de aterrar em pequenas pistas de mato; (iv) o ferido precisava logo de levar soro e/ou sangue; e (v) era obrigatório uma enfermeira a bordo.
Na carlinga do pequeno Dornier DO-27 e na caixa (acanhada) do heli AL III as enfermeiras só tinham espaço para colocarem duas macas sobrepostas. Como equipamenmto dispunham ainda de um gancho ou argola no teto onde se pendurava o frasco de soro.
O essencial da tarefa da enfermeira podia resumir-se ao controlo de três parâmetros:
(i) conseguir combater o choque, repondo a volémia (aumento de líquidos circulantes), e tentando ao máximo mantê-la estável;
(ii) aliviar a dor;
e (iii) manter as vias aéreas respiratória permeáveis.
Mantendo estes 3 parâmetros sob controlo, havia maiores probabibilidades dos feridos ou doentes chegarem com vida ao HM 241 e serem de imediato intervencionados no hospital e no bloco operatório.
Claro que havia outros casos, em que era preciso muito cuidado no manuseamento e posicionamento dos feridos,muitos deles com hemorragias muito ativas e graves traumatismos músculo-esqueléticos. (Fonte: adapt. de "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira; Porto: Fronteira do Caos, 2014, pág. 214).
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(***) Último poste da série > 15 de janeiro de 2025 >
Guiné 61/74 - P26392: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (2): O que é feito de ti, Maria Rosa Exposto ?... "Nunca vos esqueci nem esquecerei", escreveu ela em depoimento para o livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", 2ª ed., 2014, pág. 403)