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sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20230: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXIX: Henrique Ferreira de Almeida, alf art (Sátão, 1947 - Guiné, Cabedu, 1968); pertenceu à CART 1689 / BART 1913.







1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). 

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à direita], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.


Morais da Silva foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar. É membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 784, desde 7 do corrente.

O alf art Henrique Ferreira de Almeida (1947-1968), morto aos 21 anos, já tem várias referências ni nosso blogue. Pertencia à CART 1689 / BART 1913 (Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69).
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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de  setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20187: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXVIII: cap inf Artur Carneiro Geraldes Nunes (Sá da Bandeira / Lubango, 1934 - Guiné, Cabedu, 1968)

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6926: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (2): Alferes do QP Henrique Ferreira de Almeida da CART 1689 / BART 1913

1. Mensagem José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 24 de Agosto de 2010:

Caros Camaradas
Em seguimento às histórias anteriores, apresento esta para a série "Outras memórias da minha guerra".
Junto uma foto para publicar se julgar oportuno.

Um abraço do
Silva da Cart 1689


Outras memórias da minha guerra (2)

Alferes do Q.P. Ferreira de Almeida (CART 1689)
Notas sobre a homenagem póstuma


Outubro.2009

Nunca pensei que, 40 anos depois da guerra da Guiné, me visse a participar numa acção de cariz fundamentalmente militar. Fui a Sátão, perto de Viseu, para assistir à homenagem póstuma ao Alferes do Q.P. Henrique Ferreira de Almeida.

Após alguma insistência do Fernando Cepa (camarada ex-combatente), com quem tenho mantido um óptimo relacionamento, senti alguma curiosidade em saber o desfecho daquela morte incrível, ocorrida na noite de 13 para 14 de Julho de 1968, durante um violento ataque das forças do PAIGC ao aquartelamento de Cabedu.

O Capitão Comandante da Companhia, que havia sido evacuado por ferimento em Gandembel, em Abril, durante a implantação de um aquartelamento no corredor do Guilege, veio despedir-se e partira nesse dia 13, para Bissau, tendo como destino final Lisboa, para frequentar os Altos Estudos Militares no Estado Maior.

Por outro lado, o Furriel Matos também chegou nesse mesmo dia, para substituir o Furriel Belmiro, falecido em Gandembel, aquando do ferimento do Capitão.

Lembro-me de estarmos reunidos naquele degrau alargado, junto ao pequeno Bar, depois do jantar, em ambiente divertido, desta vez bastante enriquecido pela simpatia que o periquito Matos trazia. A dada altura e umas cervejolas depois, numa tentativa de amedrontar este recém-chegado, segredávamos uns para os outros a informação de que se esperava um ataque durante essa noite, o que era invenção nossa, claro. Certo é que ele não acreditou, sorriu e ficou, ali mesmo, adormecido e bastante “pesado”, a justificar a sua descontracção e o evidente cansaço da viagem, seguramente agravado pelo excesso de bebida.

Deveria ser cerca da meia-noite quando sofremos, efectivamente, um ataque. Foi bastante intenso e muito próximo, pois parecia-nos que o inimigo estava junto à vedação do lado da mata e dos coqueiros. Justamente ali, existiam uns fornilhos (bidões cheios de explosivos) enterrados e ligados por fio eléctrico aos abrigos do meu pelotão. Enquanto a Companhia reagia ao ataque, dirigi-me para o abrigo a fim de ligar as pontas dos fios aos pernos da bateria. Invadido pela excitação daqueles momentos, tremia com os fios agarrados, um em cada mão, imaginando a resolução imediata do ataque e os avultados estragos que iria provocar. Inclusivamente, até receei que o efeito das explosões nos atingisse. Cheguei a hesitar, mas a intensidade do ataque era tal que não tinha outra alternativa. E liguei-os. Porém, nada aconteceu. Insisti, mas em vão. (No dia seguinte verificámos que os fios haviam sido cortados junto do arame farpado).

Corri para o morteiro 81. Lancei as primeiras granadas, mas, apesar de o inimigo parecer estar ali, a cerca de 100 metros, foram parar longe. Fui encurtando a distância, até sentir que seria muito perigoso continuar a alterar a posição de fogo. Penso que foram disparadas 27 ou 28 granadas. (tenho uma foto que mostra alguma cedência do chão sob o prato do morteiro).

Após sofrermos qualquer ataque, e ainda sob o efeito da adrenalina, era normal o contacto imediato entre nós, especialmente entre os mais próximos, para sabermos das possíveis consequências e também para cada um exteriorizar o filme desta sua nova e indesejada experiência militar.

Logo que terminou o tiroteio, dirigimo-nos para junto do Bar. Ali estava o Matos que tendo estado exuberantemente exposto naquele mesmo lugar, nada sofreu. Disse que acordou bastante atordoado e como nunca tinha estado debaixo de fogo, confessou:

- Fooooda-se! Vocês fazem um barulho a experimentar as armas!...

E foi nesta altura que soubemos que o Alferes Ferreira de Almeida havia sido atingido no abrigo das Transmissões – o local mais seguro do aquartelamento. Era subterrâneo e localizava-se sensivelmente no meio do aquartelamento. Tinha uma seteira que se situava ao nível do chão exterior. Uma granada deflagrou ali perto e um dos estilhaços atravessou essa seteira e penetrou no pescoço do Alferes que se encontrava de pé.

Cabedú, 14JUL68 > 7 horas depois do ataque de 13 para 14 de Julho de 1968


A homenagem, em Sátão, foi promovida pelos seus camaradas da Academia Militar, conforme se pode verificar na placa colocada na casa onde nasceu. Naquela rua, agora baptizada com o nome do homenageado, estava um Grupo (Pelotão?), composto por militares de ambos os sexos que, em formatura, prestou as devidas honras militares.

Creio que estiveram lá 3 Generais e 2 Coronéis, além de vários outros oficiais do Q.P.. Um Coronel, que mostrou conhecer bem o homenageado, era o anfitrião e fez a sua intervenção, enaltecendo as qualidades do Henrique Ferreira de Almeida. Além do Presidente da Câmara Municipal de Sátão, também discursou o Chefe de Estado Maior do Exército, ficando sem intervir o nosso Comandante da CART 1689.

As cerimónias terminaram com uma romagem ao cemitério, presididas pelo pároco local, junto do Jazigo de mármore, onde é possível ler uma lápide, cuja identificação termina com as palavras “morto ao serviço da Pátria”. Um fim previsto(?) por um homem que, orgulhosamente, se identificava como oriundo dos Montes Hermínios e Terras de Viriato e que várias vezes deixava transparecer o seu principio militar: Morte ou Glória.

(Silva da Cart 1689)
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 19 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6871: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (1): O Chico do Palácio

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5058: In Memoriam (33): Alferes Henrique Ferreira de Almeida, morto em combate em 14JUL68 em Cabedu (António J. Pereira da Costa)

1. Em mensagem de 4 de Outubro de 2009, o nosso camarada A.J. Pereira da Costa, Coronel, ex-comandante da CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74, enviou-nos este texto com a notícia de uma homenagem prestada ao malogrado Alferes Henrique Ferreira de Almeida


Ontem fomos a Abrunhosa e ao cemitério de S. Miguel de Vila Boa, Concelho de Sátão

Fomos homenagear um camarada morto na noite de 13 para 14 de Julho de 1968 num ataque particularmente violento ao quartel e aldeia de Cabedu.
A homengem consistiu no descerramento de uma lápide evocativa na casa onde nasceu e viveu e na atribuição do seu nome a uma rua da Aldeia.

Fomos depois ao cemitério para uma pequena oração e colocação de uma coroa de flores. A sua acção foi reconhecida, naquela altura, com uma condecoração: a Cruz de Guerra de 2ª Classe.

No silêncio do seu processo individual, no Arquivo Histórico Militar, podemos ler a sua curta biografia. Os processos individuais dos heróis são sempre silenciosos, mas aqueles que os investigam sentem-nos a queimar nas mãos e, em cada linha, em cada indicação manuscrita, sabe-se lá por quem, um sentimento indescritível, misto de admiração e saudade.

E porque fomos ali: vizinhos ou amigos, mestres ou comandantes, camaradas, profissionais ou simples cidadãos fardados? Viemos dar um contributo para que a memória do Alferes de Artilharia Henrique Ferreira de Almeida possa manter-se por muito mais tempo, sustentada não apenas em silenciosos documentos, mas também na linguagem diária dos moradores deste lugar e até na actividade burocrática do dia-a-dia. Será essa a sua maneira de ser quase eterno.

Parece-me que seria boa ideia que conseguíssemos intensificar esta boa prática, pressionando as nossas autarquias a seguir o exemplo da de Sátão/S. Miguel de Vila Boa, tanto mais que alguns dos autarcas ainda serão ex-combatentes.

Em cada freguesia, recorrendo aos livros da CECA, é possível identificar os fregueses que foram ex-combatentes e morreram na guerra. Depois, com o recurso a relatos verbais e à documentação da Unidade, é possível pressionar os concelhos (responsáveis pela toponímida) e não as freguesias, a atribuirem nomes de ex-combatentes a ruas, de preferência em áreas novas da localidade (para evitar confrontos com designações tradicionais ou já implantadas e porque normalmente se inserem em áreas populadas de novo) de modo a que na vida diária dos cidadãos passe a figurar nome de um ex-combatente falecido na guerra.

Esteve presente uma grande parte da população, os autarcas locais e ex-combatentes, na maioria da CArt 1689 à qual o Ferreira de Almeida pertencia, quando morreu.

Um Ab.
António Costa


2. Discurso proferido por A.J. Pereira da Costa durante a cerimónia de homenagem

Que se poderá dizer de um jovem de 21 anos que morreu? É pouco provável que tenha deixado uma pegada na História do seu tempo que vá para além do desaparecimento dos seus familiares mais directos ou de um ou outro amigo. A memória de cada um de nós, sob a pressão do correr dos dias, não é tão grande que permita conservá-lo como uma lembrança indelével, para além de um período mais ou menos curto. Depois, recordamo-lo, de vez em quando, quando a saudade bate. Mas a memória colectiva faz pior: trucida rapidamente a sua recordação e, em pouco tempo, nada dela resta.

É uma lei. Vamos chamar-lhe natural por lhe não podermos fugir. Porém, absurda. Como seres inteligentes está na nossa mão tentar impedir, o mais possível, que ela se aplique na sua cegueira incontrolável, e fazer com que a memória, mesmo a dos jovens desaparecidos, perdure.

Traz-nos aqui a vontade de conservarmos a memória de um jovem que morreu com um sofrimento que nem a ciência consegue descrever. Os técnicos podem especular, mas não são capazes de nos dizer inequivocamente o que se sente naquelas alturas.

E se o jovem morreu na guerra, que diremos? E a se a guerra em que ele morreu foi desencadeada por questões de ordem sociológica, por ventura insolúveis, e teve causas políticas absurdas e incongruentes? Era um jovem, volto a lembrar. Teria hoje a nossa idade e, naquela altura, estaria cheio de certezas, como todos estávamos. É o amadurecimento que nos torna cépticos. As dúvidas chegavam depois, perante a realidade. Não era o medo que nos conduzia à dúvida. Era a inteligência e o questionar do que víamos e vivíamos. Em pouco mais de cinco meses, não sei se o Henrique terá tido tempo para se questionar. De qualquer modo, uma vez lá só havia um caminho a seguir e esse, ele identificou-o rapidamente. Perdi o contacto com ele à chegada a Bissau. Cada um foi para um destino que a sorte ditou e nem as contingências da acção nos voltaram a reunir. Sei que combateu em vários locais, um dos quais se chamava Gadembel e que era um quartel que o Exército abandonou ao fim de 8 meses, com uma média de ataques inimigos superior a um por dia e onde estar era já em si bastante para se ser considerado um homem com letras bem grandes.

Lembro-me de que embarcou, a 10 de Janeiro de 1968, como se fosse para uma festa. Iremos vê-lo, daqui a pouco, no uniforme n.º 1 que usou no momento do embarque. Tenho a certeza de que, durante os 13 anos de guerra, foi o único militar que assim embarcou e recorro ao testemunho dos presentes – alguns que embarcaram mais de uma vez – para saber se outro militar foi para a guerra assim uniformizado. Colhi informações junto dos que com ele serviram e todos me falam de grande empenho no cumprimento de algo que podemos identificar com uma missão. Todos me dizem que transmitia ânimo aos que serviam sob as suas ordens e que se expunha, se o momento era para tal. Hoje, sinceramente não sei se o seu esforço e a sua dedicação tinham justificação, para além do sentimento próprio e sempre gratificante dos homens de boa vontade: a consciência do dever cumprido.

O Henrique faleceu nos primeiros minutos do dia 14 de Julho de 1968, numa noite de Lua Nova. O inimigo atacou o quartel de Cabedú, a curta distância e com um invulgar volume de fogo. Foram localizados, na altura, três canhões. Em África, naquelas noites, os halos da luz dos aquartelamentos viam-se de longe. O terreno é plano e, mesmo a mais de 10 quilómetros, nas margens do rio Cacine, eu podia ver as luzes da pequena localidade. Naquela noite, ouvi também as explosões. Foram, certamente, quinze minutos longos e avassaladores, com as munições inimigas a rebentar dentro do aquartelamento. Depois, foi o silêncio. Pesado e doloroso. E, no final, aquele que tantas vezes se expusera, por ironia do destino, tinha sido atingido dentro de um abrigo enterrado, donde não era possível combater. Era o centro de comunicações da unidade, onde se acoitara, durante alguns minutos, depois de ter ido “debaixo de fogo a todos os locais mais ameaçados, incitando e orientando o seu pessoal”. Sabemos hoje que a “sua vontade férrea de pôr termo ao ataque fez com que o fogo inimigo diminuísse francamente de intensidade”. As seteiras do abrigo, vedadas com rede mosquiteira para proteger os operadores de rádio, não permitiam fogo para o exterior, mas não foram suficientes para travar a entrada dos estilhaços assassinos.

A sua acção foi reconhecida com uma condecoração: a Cruz de Guerra de 2ª Classe. No silêncio do seu processo individual, no Arquivo Histórico Militar, podemos ler a sua curta biografia. Os processos individuais dos heróis são sempre silenciosos, mas aqueles que os investigam sentem-nos a queimar nas mãos e, em cada linha, em cada indicação manuscrita, sabe-se lá por quem, uma sentimento indescritível, misto de admiração e saudade.

E porque estamos aqui hoje: vizinhos ou amigos, mestres ou comandantes, camaradas, profissionais ou simples cidadãos fardados? Viemos dar um contributo para que a memória do Alferes de Artilharia Henrique Ferreira de Almeida possa manter-se por muito mais tempo, sustentada não apenas em silenciosos documentos, mas também na linguagem diária dos moradores deste lugar e até na actividade burocrática do dia-a-dia. Será essa a sua maneira de ser quase eterno.

Homenageamos também o miúdo esperto, sisudo e de poucas falas e, muito para alem disso, o jovem que gostava de dar de beber às plantas…

Homenageemos o Henrique agora com um minuto de silêncio e depois, cada um segundo o seu credo e as suas convicções, com uns instantes de recolhimento junto dos seus restos mortais.

Bem hajam pela vossa presença.


3. RESUMO DA ACTUAÇÃO MILITAR DO ALFERES HENRIQUE FERREIRA DE ALMEIDA

Apresentou-se na Companhia de Artilharia n.º 1689 (CArt 1689/BArt 1913), em 26 de Janeiro de 1968, iniciando a comissão na Guiné, como adjunto de Comandante de Companhia. Na altura, a referida Companhia era uma subunidade de “intervenção”, portanto sem responsabilidades territoriais, mas podendo actuar em qualquer local do Teatro de Operações.

Durante a operação “Bola de Fogo”, iniciada a 8 de Abril de 1968, a unidade apoiou a construção do aquartelamento Gandembel. Durante a operação, o Alferes Ferreira de Almeida passou a comandar a Companhia, a partir de 17 de Abril de 1968, quando o respectivo comandante (Cap. Manuel de Azevedo Moreira Maia) foi ferido.

Terminada a missão em Gadembel, a CArt 1689 deslocou-se para outro sector, ficando aquartelada em Cabedú. O Alferes Ferreira de Almeida passou, então, a comandar a Companhia a partir de 12 de Julho de 1968, dia em que o Cap. Moreira Maia saiu para frequentar o curso do Estado-maior.

Da História da CArt 1689, no referente ao dia 13 de Julho de 1968, em Cabedú, transcreve-se o seguinte:

Um grupo de combate inimigo instalou-se em Cabedú Nalu e Sosso.

Cerca das 24H00, o inimigo desencadeou um vigoroso ataque, com grande e preciso potencial fogo de canhão, morteiro, espingarda automática, metralhadora pesada e lança-granadas-foguete, sobre o aquartelamento, sendo estimado o seu efectivo em 30 a 50 elementos.

O inimigo estava instalado na direcção de Cabedú Nalu e Sosso, a cerca de 300 metros do arame farpado e foram localizados 3 canhões: um na estrada para Cabedú Nalu e Sosso e os outros dois de um lado e doutro, distanciados de 15 metros.

No espaço entre os canhões, havia indícios de terem estado instalados atiradores com armas ligeiras e, atrás deste dispositivo, referenciou-se uma posição de morteiro 82.

O ataque durou cerca de 15 minutos.

O inimigo, depois de ter aberto fogo de canhão, seguido de espingardas automáticas, desencadeou grande fogo de morteiro e canhão, cujas granadas caíram dentro do aquartelamento ou muito perto. Por ter sido atingido com estilhaços de morteiro, um dos quais lhe cortou uma carótida, foi ferido mortalmente o Alferes de Artilharia HENRIQUE FERREIRA DE ALMEIDA, que comandava a Companhia.

As Nossas Tropas procederam, logo que a visibilidade o permitiu, a uma batida à zona do ataque, tendo encontrado 2 granadas de canhão 82 (uma normal e outra de grande potência), 63 invólucros de granadas de canhão S/R 82 (28 normais e 35 de grande potência), 1 carregador curvo para espingarda automática com 35 munições e vários rastos de sangue.

O inimigo retirou em direcção à bolanha do Rio Soco.


Devido às especiais condições de visibilidade, há testemunhas de aquartelamentos próximos que referem a particular violência do ataque.

Pelo louvor que serviu de base à condecoração1 que veio a receber sabemos que:

No ataque ao aquartelamento de Cabedú, em que recebeu ferimentos que provocaram a morte, dirigiu-se debaixo de fogo a todos os locais mais ameaçados, incitando e orientando o seu pessoal e, com palavras esclarecedoras, conseguiu incutir em todos um espírito agressivo e uma vontade férrea de pôr termo ao ataque, acção esta que fez com que o fogo inimigo diminuísse francamente de intensidade.

Recorrendo ao depoimento de testemunhas, sabemos que casualmente, estava desarmado quando foi atingido, dentro do abrigo do posto de comunicações, que era enterrado. As seteiras desse abrigo destinavam-se somente a ventilação, porque estavam abertas para dentro do espaço do aquartelamento e colocadas quase ao nível do solo. Por uma dessas aberturas entraram os estilhaços da explosão que lhe causaram a morte aos primeiros minutos de 14 de Julho. O corpo ficou caído sobre as escadas do abrigo, pelo que estaria em pé e ia sair.

Pelo seu desempenho, em pouco mais de cinco meses de comissão, foi condecorado com a Cruz de Guerra de 2ª Classe. Do louvor que serviu de base à condecoração2 destaca-se que:

(…) tomando parte em várias acções, em todas elas demonstrou possuir elevado espírito de missão, tenacidade, decisão, coragem, sangue-frio e serena energia debaixo de fogo (…). Oficial muito jovem, mas de marcada personalidade, pôs sempre (…) o melhor e mais generoso entusiasmo em bem servir e impôs-se pelo exemplo, (…) particularmente durante o desenrolar de uma das mais difíceis missões atribuídas à sua Unidade, durante a qual e por longo período, foi chamado a exercer o comando da Companhia, funções que desempenhou com notável acerto, espírito de sacrifício, lealdade e fé inquebrantável no cumprimento da missão.
Esta multiplicidade de predicados, a sua conduta leal e sólida formação moral, aliadas à coragem de que deu provas na sua infelizmente breve carreira, fizeram do Alferes Ferreira de Almeida, um oficial de quem muito havia a esperar e que pela sua acção muito prestigiou a sua Unidade e o Exército.


4. Comentário de CV

O camarada António José Pereira da Costa levanta um problema premente. Há autarquias e autarcas que mercê de algum pudor ou medo de conotação políca de direita, digo eu, mostram alguma resisitência em reconhecer o esforço de quase duas gerações que tiveram de fazer uma guerra, que se sendo considerada injusta para os povos das então Províncias Ultramarinas, foi trágica para os mancebos metropolitanos e até africanos, recrutados em massa para defenderem um ideal que então não era possível discutir.

Sei do que falo, porque, se no trato pessoal e directo somos acarinhados e reconhecidos, publicamente a coisa é mais complicada. Temos que reconhecer que somos um espólio incómodo na actualidade portuguesa. Estou convencido que daqui a 50 anos a Guerra Colonial será considerada um período que envergonha, a já tão mal estudada, História de Portugal, e tudo se fará para apagar o apagar das suas páginas douradas.

A ver vamos
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Notas de CV:

Negritos e itálicos da responsabilidade do editor

(*) Vd. poste de 18 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4831: (Ex)citações (40): Resposta a um comentário de Mário Fitas (A.J. Pereira da Costa)

Vd. último poste da série de 17 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4968: In Memoriam (32): Cap Mil Art Fausto Manteigas da Fonseca Ferraz, CART 1613, morto pelo Sold Cavaco, na véspera do Natal de 1966