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segunda-feira, 24 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25679: As nossas geografias emocionais (25): Quase todos partimos, até 1972, num navio de transporte de tropas, a partir do Gare Marítima da Rocha Conde Óbidos, e não da Gare Marítma de Alcantara...



Lisboa > 22 de Março de 2009 > Cais e Gare Marítima de Alcântara, vistas da Ponte 25 de Abril... > Não, não foi o nosso cais de partida... A nossa "porta de saída" para África foi o Cais da Rocha do Conde Óbidos, que fica mais para leste, a 1600 metros de distância...  Às vezes confundimos os dois cais e as duas gares (que são do mesmo arquiteto, o Pardal Monteiro).  

O Cais de Alcântara também era usado, mais pontualmente, para as partidas  e as chegadas de tropas,  mas era o cais da Rocha do Conde de Óbidos que estava destinado a esse fim.  Aliás, eram onde atracavam os navios da CCN (Companhia Colonial de Navegação), enquanto o de Alcântara era o terminal da CNN (Companhia Nacional de Navegação) e a SG (Sociedade Geral). 

Pelo outro lado, não passávamos sequer pelas gares....pelo que nunca pudemos admirar os painéis do Almada Negreiros, obras-primas da pintura portuguesa do séc. XX.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 


Lisboa > Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos > Da autoria do arquiteto Pardal Monteiro, foi inaugurada em 1948... Foi daqui que partimos, muitos de nós,  para a Guiné... Nos últimos anos da guerra (a partir de meados de 1972), o transporte já se fazia por via aérea, através dos TAM - Transportes Aéreos Militares. (LG)

Foto do domínio público. Cortesia de Wikipedia.



1. O porto de Lisboa tem dois cais e duas  gares marítimas, a de Alcântara, a poente, e a da Rocha Conde de Óbidos,  a nascente. Ambas servidas por linha férrea... Mas muitos camaradas, sobretudo os de fora de Lisboa, confundem as gares...

Recorde-se a aqui, resumidamente, a história da sua construção:

(i) A modernização do porto de Lisboa é relativamente recente. as primeiras grandes obras remontam ao ano de 1887, no reinado de D. Luís. 

Até 1907 não havia cais acostável (!) para os navios de passageiros, de maior tonelagem. Ficavam ao largo do Tejo, fazendo-se o transbordo de passageiros e bagagens, "à moda antiga"...

Datam dos finais da monarquia, os trabalhos de dragagem, na margem norte do rio, a oeste do cais de Alcântara. 

(ii) Em 1918 começaram a poder atracar no porto de Lisboa os transatlânticos de maior arqueação bruta. 

(iii) A atracação de navios de passageiros passou a ser obrigatória em 1927.

(iv) O cais de Alcântara  e o molhe oeste (poente) do cais de Santos ficaram reservados para as companhias de navegação estrangeiras. 

(v) Os navios nacionais, com destino às ilhas adjacentes e às colónias de  África, partiam do cais da Fundição, Terreiro do Trigo (junto a Santa Apolónia) e molhe leste (nascente) do cais de Santos.

(vi) É no âmbito do “plano de melhoramentos do porto de Lisboa: margem norte do Rio Tejo”, da iniciativa do Estado Novo, que vão ser construídas as gares marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos; era então ministro das Obras Públicas e Comunicações, o eng Duarte Pacheco (1901-1943).

(vii) O projeto destas gares marítimas com 2 pisos, é do arquiteto Pardal Monteiro (1895-1957), um dos grandes arquitetos estadonovistas cua obra marcou a cidade de Lisboa, entre as décadas de 1920 e 1950, com edifícios icónicos como a Estação do Cais do Sodré, o Instituto Superior Técnico, a Igreja de N. Sra. de Fátima, o 
Hotel Ritz, etc.

(viii) A gare marítima de Alcântara será inaugurada ainda em plena II Guerra Mundial (a 7 de julho de 1943), quando afluíam a Lisboa dezenas de milhares de refugiados de um continente devastado pela tragédia da deriva totalitária e da guerra.

(ix) Por sua vez, a gare marítima Rocha de Conde de Óbidos (chamava-se assim em virtude do cais estar próximo do palácio do Conde de Óbidos, hoje edifício da Cruz Vermelha, ao lado do Museu Nacional de Arte Antiga, ou Museu das Janelas Verdes) só foi inaugurada em 1948; é 
 aqui se localizava o estaleiro naval que, em 1936, seria  concessionado a um empresa do grupo CUF, a primeira do país a construir navios com casco de aço.

Para muito de nós, antigos combatentes, o cais da Rocha de Conde de Óbidos foi o local de embarque para a guerra colonial... 

Vínhamos, geralmente de noite, de comboio, das unidades de mobilização (muitos vinham diretamente do Campo Militar de Santa Margarida). Nunca passávamos pela gare.  

Só mais tarde eu vim a conhecer os salões Almada Negreiros e admirar os seus painéis, hoje famosos ...

Já aqui confessei, em tempos,  que gosto mais dos painéis da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, pela sua modernidade e ousadia (temática e estética) (*). 

Todos os cais de partida (mais do que os de chegada) fazem parte das nossas geografias emocionais (**).


(**) Último poste da série > 2 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25327: As nossoas geografias emocionais (24): Nhamate, no sector Oeste 1, Bissorã, em 1970, ao tempo da CCAÇ 13, "Leões Negros"

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22785: Notas de leitura (1397): "Cartas de Amor e de Dor", por Marta Martins da Silva; Saída de Emergência, 2021, com prefácio do general Pezarat Correia (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
Não deixa de assombrar a variedade de cartas de amor que Marta Martins da Silva coligiu, uma paleta de cores muito garrida de sentimentos tão diversos, abarcando ansiedade dos pais que pedem insistentemente notícias, as namoradas e aqui vamos ter a temperatura de uma comissão por inteiro, desde do deslumbramento ao desalento, as mulheres, a quem nem sempre tudo se encobre e a rede das madrinhas de guerra, por vezes com remates felizes, radiantes descobertas de quem chega e tem a madrinha à espera e caem nos braços um do outro.
Deixa-se terceiro e último texto correspondência com muita dor... se também não nos esquecermos que há nestas cartas de amor implicitamente dor, tensão profunda na espera, o terror de vir a receber um aerograma como receberam aqueles vizinhos que ficaram em luto perpétuo.

Um abraço do
Mário



Cartas de Amor e de Dor, por Marta Martins Silva (2)

Mário Beja Santos

Descobriu na sua atividade jornalística na revista Domingo do Correio da Manhã, através de desabafos de antigos combatentes, que há uma vertente de guerras gradualmente sumidas na memória dos portugueses que merece ser revitalizada, é constituída por aerogramas, cartas, bilhetes-postais, folhas de apontamentos, fotografias, é um acervo de consulta marginal pelos historiadores e investigadores dos diferentes países envolvidos. No entanto, são documentos onde podemos aquilatar a vida emocional desses jovens, abruptamente retirados de um ambiente familiar, de uma profissão ou dos estudos, e que vazam na escrita o que descobrem em novas paragens, nem sempre contidos nas saudades, por vezes discretos na narrativa da hostilidade permanente, perguntando pela família e pelos amigos, disfarçando os estados de alma com descrições pacíficas sobre a comida, a vida do quartel, omitindo, tanto quanto possível, quem morre e quem se sinistra. Marta Martins Silva procura veios novos para interpretar o universo psicológico destes jovens vestidos de camuflado. Começou por os pôr a conversar com as madrinhas de guerra, e agora, em "Cartas de Amor e de Dor", Desassossego, chancela do grupo Saída de Emergência, 2021, parte de cartas da I Guerra Mundial, fala-nos do ano de 1961 em Portugal, explica a não-iniciados os dados fulcrais do Serviço Postal Militar e então entramos numa grande torrente, primeiro a do amor, os parentes mais próximos, as namoradas e as mulheres e todo este ímpeto epistológrafo desagua numa dor que não se pode esquecer, os pais que reclamam o corpo do filho, a carta que anuncia a morte de um amigo muito querido num outro teatro de guerra, as cartas anónimas infamantes.

A reportagem de investigação centra-se no fundamental em duas dimensões da correspondência entre os combatentes, os ente-queridos, as amizades e a todos aqueles a quem era imperativo dar notícia, mais não fosse para comunicar a morte de um filho, de um marido. A jornalista reparte o tema das Cartas de Amor em namoradas, mulheres e madrinhas. Procurando sempre contextualizar a correspondência do quadro de evolução da guerra, logo dá a estampa a carta de uma mãe para o filho em África, estamos obviamente no inicio da guerra, os chamados valores pátrios sobrelevam, de modo que esta mãe fala nos deveres, algo que nos recorda uma mãe patrícia nos tempos gloriosos do Império Romano quando escreve: “Se de si for exigido o sacrifício máximo: a vida, pois aceite, meu filho, com os olhos postos na Cruz de Cristo, Cruz que fomos nós mostramos ao Mundo inteiro, e na bandeira verde e rubra, que representa a pátria mais amada de todas as pátrias. A alma portuguesa é grande como este Portugal interno, amado e indivisível”.

Filhos que escondem às mães a aspereza das suas missões, filhos que nem se despediram dos pais para fugir aquelas cenas lancinantes no Cais da Rocha do Conde d’Óbidos, porque há pais que choram, mães que desmaiam, mulheres e namoradas que rabiam de dor e não a escondem. Numa sequência bem organizada, a autora põe estes pais e filhos dissimulando a saudade, pedindo mais notícias, e mesmo quando se dissimula não se resiste a um desabafo em conversa com a autora: “Um dos meus camaradas morreu em combate e nada disso a gente podia contar nas cartas. Vivia com eles mais de dezoito meses na frente militar norte e leste de Angola”. O camarada António Amadeu da Fonseca Frade, mortalmente atingido por uma rajada de Kalashnikov. O corpo deste soldado só viria a ser resgatado ao quinto dia por um grupo helitransportado. Há quem recorde que a mãe lhe entregou uma moeda embrulhada, como se fosse uma relíquia, muitos anos mais tarde, um dia depois da morte da mãe, deu com esta prova de amor indistinguível. Há uma mãe que pede ao filho que se faça acompanhar do seu terço, e que o ponha ao peito. E sempre falando ao querido filho, fazendo votos para que este ao receber o aerograma se encontre bem de saúde e, quando necessário, um pai pede ajuda ao filho combatente para admoestar o irmão mais novo um tanto rebelde: “Pedia-te que escrevesses ao teu irmão Jorge a dizer-lhe que estás informado ele não anda lá muito bem na escola, portanto a dares-lhe uma ensaboadela das tuas. Espécie de um conselho de um irmão mais velho experiente”. Há quem destetasse o bacalhau até ir para a guerra, depois habituou-se a tudo, quando faltava um mês para regressar a mãe escreveu-lhe um aerograma a perguntar “o que tu gostavas que a mãe te fizesse, estava a pensar fazer um almoço e um jantar para uns amigos, diz-me o gostavas que a mãe fizesse”. E ele respondeu: “Faz o que tu quiseres, até bacalhau com batatas”.

Há namoradas, súplicas, arrufos, desânimos, as fúrias dele quando ela conta que participou numa festa, há narrativas envinagradas, há pedidos de fidelidade, tais como: “Gostava de te pedir que nunca abusasses das africanas porque há quem diga aqui na metrópole que os soldados brancos se servem das raparigas daí”. Há desabafos de solidão, há quem conte a autora muitos anos depois que chegou o anoitecer, pegou na motorizada e foi à casa onde a namorada trabalhava como ama. “Dirigimo-nos um ao outro e o reencontro deu-se num forte abraço e num longo e recatado beijo. O tempo suficiente para nos apaziguar toda a saudade que evaporava de nós naquele momento”. Há quem ajudasse os camaradas analfabetos, recorda alguém escreveu cinco aerogramas com cinco endereços diferentes que começavam sempre assim: “Meu eterno amor: aqui longe de ti e das tuas caricias passei mais um domingo só. Só com a minha dor e o meu desespero e como este outros domingos já se passaram e muitos mais tenho de passar e eu tal como a maioria dos meus colegas temos de resistir a esta tragédia quando ainda há pouco tínhamos uma vida tão alegre”. E o escrevinhador de então comenta a autora: “Escrevia frases de todos os géneros. Muitas de cariz sexual. Pedidos dos maridos para as esposas se portarem bem. Muitas juras de amor que, na maioria das vezes, se foram perdendo com o decorrer dos dias. Li cartas de mães extremamente pungentes”. Há muitas zangas pelo caminho que vão sarar na carta seguinte, há quem escreva dando pormenores, caso das descrições da ceia de Natal.

Há correspondência de marido e mulher e quem, pelo caminho, também mantinha cartas com as madrinhas de guerra. O artista Manuel Botelho, com Marta Martins da Silva conversou, montou uma instalação baseada num grande maço de cartas que adquiriu na Feira da Ladra, explorou admiravelmente o entusiasmo narrativo dos primeiros meses, de ambos os lados, e gradualmente foi grassando uma melancolia, uma inquietação, os últimos meses eram manifestamente duríssimos, o casal afligir-se com a dor de tanta espera e até o medo de sucumbir mesmo em cima do regresso.

Às madrinhas de guerra, caso houve acabaram em casamento, um afilhado descobrira o mau casamento que fizera, houve divórcio e veio a entender-se muito bem com a sua madrinha. São histórias maravilhosas, nota-se que o grau de desabafo ganha intensidade, o tempo passa e a intimidade cresce. Há um relato soberbo que a autora apanha por inteiro e vale a pena reproduzir, ele regressa à metrópole, “vê-la pela primeira vez foi engraçado. Eu sabia que ela era pequenina, eu tinha 1,65m e era magrinho, cheguei ao pé dela para lhe dar um beijinho, mas ela baixou-se e deu-lhe um beijinho na cabeça”. Despede-se da fábrica em Alcobaça e vai para Setúbal, trabalham juntos. “Namorávamos quando íamos e vínhamos do trabalho, depois à noite ia à casa dela namorar mais um bocadinho, mas sempre vigiados, ninguém me conhecia e surgiram determinados boatos a meu respeito e a família dela tinha medo”. Para conseguir casar com a sua amada, que antes de ver ao vivo conheceu por carta, contou com grande ajuda do padrasto. “Foi ele que me deu tudo para eu casar. Eles queriam que eu vivesse com eles, mas eu quis alugar uma casa. A renda era cara, e embora eu ganhasse mais ou menos bem, as coisas foram difíceis no principio”.

E não há cartas de amor sem as cartas de dor, tantas vezes elas se confundiram, é dessas dores que falaremos em seguida, é um dos pilares determinantes desta bela reportagem de investigação que ninguém deixará indiferente.

(continua)

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Nota do editir

Último poste da série de 29 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22762: Notas de leitura (1396): "Cartas de Amor e de Dor", por Marta Martins da Silva; Saída de Emergência, 2021, com prefácio do general Pezarat Correia (1) (Mário Beja Santos)

sábado, 4 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22779: Os nossos seres, saberes e lazeres (480): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (27): O génio de Almada Negreiros nas gares marítimas do Porto de Lisboa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
Nestas gares marítimas do porto de Lisboa, Almada Negreiros trabalhou entre 1943 a 1949. Assombrou uns, desgostou outros, Duarte Pacheco terá dito desdenhosamente que teria sido um desperdício gastar aquelas centenas de contos com tais mamarrachos. Almada teve grandes defensores, logo no Arquiteto, Porfírio Pardal Monteiro, com quem já antigamente trabalhara na Igreja de Nossa Senhora de Fátima e na ampla sala do rés-do-chão do Diário de Notícias. Não deixa de ser curioso, cerca de três quartos de século depois, verificar a perfeita integração desta pintura naquele espaço, assenta como uma luva. O mundo da viagem marítima alterou-se radicalmente mas estas obras-primas da pintura modernista possuem tal vibração, deixam antever o olhar provocador do génio Almada, que é um gosto permanente aqui regressar. Para nós, antigos combatentes, nem sempre as recordações são boas, falando por mim, ali a umas centenas de metros, num lance de escada me despedi dos meus entes queridos debulhados em lágrimas, eu disfarçado de pimpão, era uma viagem de pouca mossa e com regresso assegurado, acreditassem todos. Foi grande a fezada e o regresso se assegurou, mesmo por debaixo dos painéis geniais de Almada, era agosto mas para mim era a primavera.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (27):
O génio de Almada Negreiros nas gares marítimas do Porto de Lisboa

Mário Beja Santos

Historiadores de Arte como José-Augusto França consideram que o trabalho de Almeida Negreiros nas gares marítimas da Rocha do Conde d’Óbidos e Alcântara é o ponto mais elevado das Artes Plásticas do chamado Modernismo Português, tal como ele se exprimiu entre os anos 1930 e 1940. Tudo terá começado pela necessidade de construir gares marítimas no Porto de Lisboa, era um apelo do início da década de 1930, a urgência consumou-se nas vésperas da II Guerra Mundial, entregou-se ao Arquiteto Pardal Monteiro a tarefa de executar o traçado das gares, pensou-se inicialmente em três, Alcântara, Rocha do Conde d’Óbidos e Cais do Sodré que nunca chegou a ser executada. Pretendia-se, dada a importância que as viagens marítimas tinham no tempo, de fazer um belo cartão de visita para um verdadeiro cais da Europa para os passageiros e para as malas postais da navegação marítima. Era indispensável dar uma boa impressão de conforto e igualmente de grandeza, era assim que se entrava no Portugal do Estado Novo. Porfírio Pardal Monteiro já trabalhara com Almada em dois projetos de tomo: a Igreja de Nossa Senhora de Fátima e a receção do Diário de Notícias, empreitadas hoje tidas como indiscutíveis pegadas do génio de Almada.

O pintor andou por aqui anos e anos, começou obviamente por Alcântara e arquitetou um espetáculo de cor e uma garridice temática que desgostou profundamente a Duarte Pacheco, felizmente que Almada tinha defensores de peso como António Ferro e o próprio Pardal Monteiro. No exterior, temos as linhas puras da Arte Déco, uma sábia entrada de luz e uma conveniente arrumação do espaço, naturalmente que não se suspeitava ao tempo ter ali na vizinhança a ponte sobre o Tejo. Há que recordar ao leitor que aqui se arribou em dia chuviscoso, pretendeu-se circunscrever a visita à gare de Alcântara. Para os interessados, chama-se a atenção que as gares marítimas são visitáveis nos sábados e domingos do último fim de semana de cada mês, com entrada gratuita.

Houve um apelo da memória, daqui se partiu em outubro de 1967 para Ponta Delgada, aqui o Uíge atracou em agosto de 1970, ao tempo o serviço de transporte de militares estava concentrado na Rocha do Conde d’Óbidos. Depois de contemplar o espaço do vestíbulo, hoje praticamente sem vida, sobe-se uma escadaria de linhas equilibradas, com uma bela entrada de luz, é-se rececionado por uma escultura dedicadamente patriótica onde não faltam o escudo com as quinas, e veio espreitar-se o dia brumoso por aquela janela e naquela varanda onde muitas lágrimas se devem ter vertido em dias de partida e aclamado com exclamações ululantes quem regressava para o convívio dos seus.

Ó mar salgado, que desta varanda guardaste a memória de dolorosíssimos acenos das partidas e júbilos de regressos, antes e depois de se erguer aquela ponte.
Aqui se fica em contemplação, atento aos pormenores, a entrada vigorosa da luz não se faz por acaso, o país era muito pobre mas o Estado era rico, havia que mostrar boa pedra marmoreada em todos os andares, em todos os espaços que o visitante trilhasse, como se se procurasse dar a sensação de se entrar numa infraestrutura quase apalaçada.
Outro pormenor que abona o talento do arquiteto, a relação entre o comprimento, largura e altura, a dimensão das portas, o espaço reservado para a pintura mural, as janelas rasgadas, a esplêndida iluminação do teto, é verdadeiramente uma sala de espetáculo, a voz ecoa, são pouquíssimos os visitantes, é uma vibração que enche de vida aquele enorme salão de espera ou boas-vindas e aonde era suposto que Almada Negreiros deixasse o traço resplandecente da grandiosidade do Estado Novo. Mas ele trocou-lhes as voltas, concebeu dois trípticos, um à volta da Nau Catrineta, uma lengalenga que recitávamos na escola e na continuação um mito, D. Fuas Roupinho e o milagre da Nazaré, a Aparição da Virgem, lá no Sítio; o outro fala-nos do Tejo, das embarcações do porto, as lides ribeirinhas e separadamente temos um par amoroso, talvez ele seja marujo e ela peixeira e há para ali uma festa campónia extremamente vistosa. É altura de irmos aos pormenores.
Tudo vai num reboliço a bordo na Nau Catrineta, os marinheiros têm umas solas para comer e há até quem insinue que a primeira vítima de antropofagia seja o capitão, vemo-lo afanoso no cesto da gávea, talvez aquele marinheiro ande à procura de terra à vista, e na vela enfunada vemos o espetro da morte em visita. Mas o mais belo de tudo é o ângulo em que Almada nos põe a ver a Nau Catrineta, de tresvês, como no segundo painel por ali anda a vista abismada por aquele longo mastro, também as velas enfunadas, do lado direito temos umas histórias de encantar, até prelúdios funestos, mas aquele anjo que parece caminhar na linha do painel tudo vai resolver a contento e daí o alvoroço do terceiro painel, as alegrias do reencontro, um esplêndido arraial em que Almada esmiúça os quadros da sociedade, em indumentária moderna. E lá temos o mural isolado com gente da Nazaré, a praia e os barcos e as lides que envolvem homens e mulheres, e milagre dos milagres um D. Fuas Roupinho transmudado em cavaleiro tauromáquico.
No outro tríptico, também de uma beleza extrema, e de um colorido quase efervescente, temos varinas descalças na descarga do carvão, um fabuloso painel com mastros, apetrechos marítimos e barcos, varinas dividindo o peixe e, separadamente, o que se pode chamar piquenique em dia de romaria, manifestamente Almada sentiu-se cativado pelo Tejo e exprimiu o realismo social, como é que aqueles senhores poderosos do Estado Novo não olharam enviesadamente as varinas descalças na descarga do carvão, não seria que o pintor Almada queria desconsiderar o que estava previsto como bonito bilhete-postal?
Perdoe o leitor este gosto pessoal de integrar a pintura de Almada em contexto arquitetónico, enche-me as medidas esta Arte Déco e não quero despedir-me sem pedir a vossa atenção para a natureza desta pintura mural, efetivamente ele trabalhou o fresco sobre a cal, mas introduziu imensos apontamentos pictóricos. Vêem-se para ali umas manchas de humidade, indispensável será o restauro dado que estamos a falar do que há de melhor da pintura portuguesa depois do génio meteórico de Amadeo Souza-Cardoso. E fica prometido um próximo fim do mês se irá visitar a gare da Rocha do Conde d’Óbidos.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22755: Os nossos seres, saberes e lazeres (479): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (19) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2525: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (7) (Carlos Silva)

A História do BCaç 2879.

Texto e imagens de Carlos Silva.

24 toneladas de material apreendido em Faquina, na zona de Cuntima, junto à fronteira com o Senegal (II)

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Continução do depoimento do nosso camarada Carmo Ferreira, Alf Mil da CCAÇ 2549, no seu trabalho A Luta Pelo Regresso, 1975, ainda não publicado, que a págs. 23 a 28 se refere a este Ronco nos termos seguintes:

"Entretanto, no vai-e-vem dos helicópteros, rogo ao Capitão Lourenço o envio de cerveja fresca para o pessoal. Ele mesmo aí se desloca, aproveitando uma boleia, a fazer entrega. A frescura desse líquido deu-nos de novo alento, se bem que por pouco tempo. É que isto dura já há cerca de 48 horas e o pessoal pela fome, cansaço e sono, vai atingindo a saturação física.

A retirada para o quartel é ordenada. Cerca de duas horas depois tínhamo-lo à vista.


Em Carantabá, os olhos têm ainda tempo para apreciar a beleza verdejante das árvores que rodeiam a tabanca há muito abandonada. Um recanto metropolitano autêntico, com os seus limoeiros e laranjeiras junto das casas totalmente destruídas.

Os obuses começam então a metralhar a zona abandonada. A sensação que as pesadas granadas de 50 quilos provocam a quem está no enfiamento do tiro é deveras peculiar. Quase em simultâneo com o estampido do disparo (a saída) parece que chega uma lufada de ar que nos sopra no cachaço!

A alegria de reentrar no quartel é enorme. Por parte dos novos-velhos camaradas que nos recebem a alegria é idêntica e recíproca. São nestes momentos que grandes amizades se cimentam. A camaradagem dos irmanados no perigo não é fictícia. É real, sincera.
Pela primeira vez os periquitos da 2549 cumpriram e cabalmente, o seu dever. A sua actuação não defraudara apesar de não ter ainda um mês desde a sua chegada. Disso se sentem orgulhosos.


Que se passara, entretanto, durante todo esse período no quartel?

Muitos dos que ficaram se ofereciam como voluntários para irem ajudar. Todos, concerteza, pensavam o pior que poderia acontecer. Todos desejavam, contudo, ansiosamente, o nosso regresso ao seio da sua sã camaradagem. Era o sofrer dos que vivem na incerteza, na incógnita do que se está a passar lá longe, fora do quartel.
Na noite do regresso, descansando o corpo, falou uma vez mais o sentimento, o recordar do que ainda havia bem pouco passara.”


A propósito desta operação, o meu camarada Fur. Mano Nunes da CCaç. 2549, do GrComb do Alf. Carmo Ferreira, refere que foi nesta acção que teve o seu baptismo de fogo e onde dessa vez, diz ele:

“...foi aquele "ronco"!

Até agora ainda não tinha sido superado. Foram 24 toneladas de material capturado ao IN e quando já vinham de regresso para o quartel em Cuntima, sucedeu aquilo que eles já não contavam, depois de terem galgado quilómetros sem conta - Porrada!

Eles (IN) começaram em força. Até levaram o 82 para a emboscada! E depois esperaram que as NT entrassem na bolanha, zona aberta e sem a mínima protecção, desencadearam o “fogachal”. Aquelas imensas nuvens de pó, que as morteiradas do 82 levantavam, metiam-lhe medo e cá uma confusão! Contudo a reacção das NT foi pronta. As armas cuspiam raiva, revolta e morte”(1).

O Cap. Vasco Lourenço comandante da CCaç 2549 faz a seguinte referência:

“Faquina!...nome que só por si era um mito.
Faquina!...local onde o pessoal da companhia (algum) tivera o seu baptismo de fogo, numa operação onde se fizera o maior ronco da Guiné, respeitante a captura de material, até então por alguém conseguido.


...Continuamos a batida e pouco depois, ao passar-se junto ao marco 99 (2), verifiquei quanto estivéramos ‘do outro lado’.
Continua-se, verifica-se a arrecadação do primeiro e grande Ronco feito em Faquina e eis-nos junto ao poço de água extraordinariamente amarela do barro e da sujidade, mas que urgia aproveitar.....”



Capa da 1ª Edição do Livro do Cap. Vasco Loureço – Militar de Abril

Depoimentos Pessoais

Segundo conta o meu camarada Fur. Albano Silva, do 1º Pel. da CCaç 2547, gondomarense e amigo de infância, também eles por determinação do nosso Comandante Ten. Cor. Agostinho Ferreira, avançaram para as “ Faquinas – Fula e Mandinga “ (antigas tabancas abandonadas) situadas junto à fronteira senegalesa “ marco 99” e à tabanca de Sare Demba Chucael. Aliás, conforme é referido na História da CCaç. 2529.

Foram helitransportados juntamente com Os Roncos, de Farim para aquela localidade onde foram lançados.

Referiu ainda que estiveram em território senegalês e que se avistaram com alguns elementos da tropa senegalesa sem que tivesse havido qualquer atrito com eles e posteriormente quando progrediam para o interior do nosso território, batendo a área mencionada, também detectaram um “chamado” depósito de armas e que também as transportaram para Farim, conforme documenta com uma foto, exibindo parte do célebre ronco.
Ainda a propósito desta famosa operação, segundo me contou o meu amigo M. Baldé, homem das transmissões, o qual integrava o GrComb Os Roncos (3), comandado na altura, pelo então Fur. Cherno Sissé, a descoberta do material capturado deveu-se ao acaso, aliás, muito interessante.

Segundo ele conta, o nosso Comandante de Batalhão, Ten. Cor. Agostinho Ferreira, naquele dia 13 de Agosto andava com tropas pára-quedistas de héli-canhão em missão de reconhecimento junto à fronteira com o Senegal e naquela zona avistaram uma viatura na bolanha, sobre a qual fizeram fogo a partir do héli-canhão, acabando por incendiá-la e destruí-la.

Em face de tal acontecimento pediram a Bissau o envio de tropas especiais para o local, pelo que foram de imediato enviados 5 ou 6 helicópteros com pára-quedistas, os quais foram lançados no terreno em Faquina Fula, tendo posteriormente aqueles aparelhos ido a Farim buscar o pessoal do GrComb Os Roncos para os transportar para aquela área a fim de reforçar as NT ali presentes, sendo lançados em Faquina Mandinga.

Nesse mesmo dia 13-08-1969 pelas 18 horas os homens do GrComb. Os Roncos, atravessaram a bolanha e sem se aperceberem entraram em território do Senegal, onde pernoitaram e onde segundo ele, A Balde, encontravam-se tropas senegalesas emboscadas, as quais não viram por ser já noite.

No dia seguinte ao amanhecer, acabaram por se avistarem uns aos outros, tendo o comandante da força senegalesa, Ten. Nham, dialogado e determinado à rapaziada dos “Roncos” para se retirarem dali imediatamente porque estavam a violar o espaço territorial Senegalês.

Apesar disso, o Fur. Sissé, não queria abandonar aquele local e determinou ao seu pessoal para abrirem fogo contra as forças senegalesas.
Contudo, apesar de insistentemente ordenar para que se fizesse fogo, no entanto, os seus homens não obedeceram a tais ordens sem que primeiramente falassem com o Comdt. do Batalhão, imperando assim o bom senso.
Por tal motivo, o nosso amigo Baldé, homem do rádio, comunicou através do AVP1 com o Ten. Cor. Agostinho Ferreira o qual se encontrava emboscado em Faquina Fula a comandar as operações, para lhe contar o sucedido e saber o que deveriam fazer; tendo ele dito e ordenado ao A Balde para dizer ao Cherno que se retirasse dali imediatamente, porque efectivamente estavam a violar o território senegalês, pelo que, em execução de tais ordens, o nosso amigo A Balde transmitiu de imediato as mesmas ao Cherno.

Mesmo assim aquele nosso amigo Cherno, não ficou convencido e continuou renitente em sair de lá, até que ele próprio resolve falar com o Ten. Cor. Agostinho Ferreira e só depois de ouvir da boca dele é que ficou convencido de que teria de retirar daquela zona.
Após a retirada do interior da linha de fronteira senegalesa e de regresso a Faquina Mandiga, durante o percurso e em momentos de descanso, um elemento do pelotão, o G Candé afastou-se um pouco do grupo e foi cagar, quando a certa altura, ao enterrar um pé num buraco, algo lhe despertara a atenção.

Logo de imediato procurou ver o que era, afastando com as mãos a folhagem que cobria parte daquele tesouro. De seguida dirigiu-se ao Sissé a quem contou que tinha descoberto algo de muito importante, mas que não lhe diria do que se tratava e que apenas transmitiria ao nosso Comandante o seu segredo, caso este o recompensasse; pelo que, não restou outra alternativa ao Sissé, ter de comunicar com o nosso Comandante.

Deste modo, o Ten. Cor. Agostinho Ferreira teve que deslocar-se de Faquina Fula para Faquina Mandinga, que distam uma da outra umas centenas de metros, para tomar conhecimento do precioso achado e belo tesouro, mas sem que antes tivesse de prometer uma contrapartida ao nosso amigo G Candé, que segundo crê o nosso amigo A Balde foi a promessa de o promover a alferes milícia, o que só muito mais tarde veio a acontecer.

Descoberto o “ ronco” e avaliada a sua dimensão, as NT acabaram por passar todo o dia 14 a carregar o material para os helicópteros, os quais andaram numa roda-viva de vai e vem de Faquina para Cuntima ou Farim e vice-versa.
O material foi posteriormente transportado de Dakota para Bissau.

Conta o Mamadu A. que tanto ele, como o B Embaló e A Baldé acabaram por ficar tão exaustos que tiveram de ser evacuados de heli para Cuntima onde o Cap. Vasco Lourenço os recebeu e lhes deu um maço de tabaco a cada um, bem como uma lata de leite.
Foi assim, segundo me relatou este meu amigo M Baldé, que Os Roncos, no decorrer da dita operação em Faquina descobriram e capturaram ao IN, parte do material (24 toneladas) que constituiu o maior ronco em toda a história da guerra da Guiné, o qual se ficou a dever ao acaso.

Bem-haja, e muito obrigado G Candé e todos os outros camaradas participantes nesta tão importante acção, que assim evitaram que tal armamento viesse mais tarde a ser utilizado contra as NT e pudesse eventualmente ter causado muitos dissabores bastante desagradáveis.
De facto, esta captura de elevada tonelagem de material ao IN foi o maior ronco do nosso Batalhão pela quantidade de munições e armamento capturado e tal como diz o meu camarada Fur. Mano Nunes, nunca até àquela data superada, aliás, nunca tal ronco foi superado durante todo o tempo em que se travou a guerra.

Foi, na verdade, um feito histórico de todo aquele pessoal que participou na célebre operação de Faquina onde foram capturadas 24 toneladas de material bélico, tendo sido o nosso amigo G Candé um dos protagonistas no meio daquilo tudo.

Na História dos Pára-Quedistas, Vol. IV, págs. 165 a 167 sobre este importante facto histórico é escrito o seguinte:

Operação Talião

A grande capacidade ofensiva e rapidez de aprontamento para o combate reveladas por mais de uma vez pelos homens do BCP 12, seriam novamente postas à prova durante a operação Talião.

No dia 12 de Agosto de 1969, durante um RVIS efectuado pelo Comandante da ZACVG, foi detectada uma viatura de carga pertencente ao PAIGC, na região de Faquina Mandinga, junto à fronteira norte.

Recebida a informação, foi imediatamente lançada a operação Talião, a cargo de um grupo de combate da CCP 121.
Helitransportados para a zona de acção, os homens da CCP 121 desembarcaram junto à viatura pesada com a matrícula FF556CN, que estava a ser utilizada pelo inimigo no transporte de material de guerra para as suas forças de guerrilha que actuavam no interior do território guineense.
Perto da viatura foi encontrado um morteiro 82 e várias caixas de munições, abandonadas precipitadamente pelos guerrilheiros em fuga.

Batida a zona, foram localizadas várias arrecadações contendo abundante material de guerra. Como não foi possível pôr a viatura em movimento, foi decidido incendiá-la, utilizando o combustível existente em vários bidões que se encontravam no seu interior.

No dia seguinte foi continuada a batida em toda a zona de acção, tendo o grupo de combate da CCP 121 sido reforçado com mais outro da CCP 122.

Foto extraída da História dos Pára-Quedistas, Vol. IV, págs. 166. Com a devida vénia

Quando a operação foi dada por finda, tinham sido recolhidas mais 12 toneladas de material de guerra, entre o qual se salientavam:
4 metralhadoras ligeiras Degtyarev, 1 Borsig, 1 morteiro 82, 4 espingardas semiautomáticas Simonov, 1 pistola-metralhadora Sudayev, 1 PPSH, 2 minas A/C, 209 granadas de canhão S/R B-10 e 7,5, 1110 granadas de morteiro, 82, 61 granadas de LGF RPG-7 e P-27, 8 granadas de morteiro 60, 114 granadas de mão F-1, 179.431 munições para armas ligeiras, além de grande quantidade de espoletas, cargas propulsoras e carregadores diversos.


Pista de Farim, Bombardeiros T6 que prestaram apoio aéreo


Na pista de Farim, os helicópteros que participaram na recolha e transporte do pessoal operacional e do material



Carta endereçada ao autor pelo Maj. Gen. Agostinho Ferreira sobre os factos do "Ronco das 24 toneladas” capturadas ao IN.

Face às referências atrás mencionadas, resulta claro, que houve uma participação conjunta das Unidades militares referenciadas que colaboraram na captura de grande quantidade de material ao IN e que foi designado pelo Ronco das 24 Toneladas”, sendo a maior quantidade capturada de uma só penada em toda a história da guerra na Guiné, pelo menos, até àquela data.



Esta captura de elevada de quantidade de material ao IN, não é referenciada globalmente e nem parcialmente pela Comissão para o Estudo das Campanhas de África, do Estado-Maior do Exército, no Livro, cuja capa aqui se junta “ Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974] – 7º Volume – Fichas das Unidades – Tomo II – Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002, pág. 127 ”, no que se refere à participação das Companhias do Batalhão de Caçadores nº 2879.

Estranhamos, por tal motivo, o fundamento da omissão da mencionada Comissão, em não se referir globalmente a este importante Ronco de 24 Toneladas de material capturado ao IN, pelas diferentes Forças intervenientes, principalmente pelas CCaç. 2547 e CCaç. 2549 do Batalhão Caçadores 2879, no Livro “ Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974] – 7º Volume – Fichas das Unidades – Tomo II – Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002, pág. 127 ”, tal como faz referência à CCaç 2529 com 7 toneladas, na obra citada a pág. 375.

Em História não se omite os factos, conta-se a verdade.... tanto quanto possível.

13-08-1969, Quarta-feira

Eram 20H00 quando se desencadeou uma violenta flagelação do IN ao Aquartelamento de Canjambari. Caíram várias morteiradas e roquetadas dento do Aquartelamento, O Ataque foi repelido com o rebentamento de armadilhas comandadas. (4)
As NT sofreram 1 ferido ligeiro e a danificação de diverso material. (5)

25 08-1969 – Segunda-Feira



Cuntima, 1969 – Foto cedida pelo Ex. Fur. Fragoso

Ataque ao aquartelamento de Cuntima, provocando 1 ferido grave, milícia, e 5 ligeiros.
Um GComb/CCaç. 2529 foi flagelado durante 5 minutos na região de Tonhatabá.

(Outrora era a guerra. Hoje nesta povoação situada junto à fronteira com o Senegal, o comércio transfronteiriço na zona está bastante desenvolvido. Realizam-se ali grandes feiras, verificando-se trocas comerciais entre as populações dos dois países, designadamente vestuário, gado, produtos hortícolas, artesanato, etc. ). Nota de Carlos Silva.

29-08-1969, Sexta-feira
1 GComb/CCaç. 2533 detectou e levantou 1 mina A/C na região da Colina do Norte
O 3º GComb. saiu para o mato e quando ia a caminho do carreiro detectaram uma mina anti-carro num rodado feito pelas n/ viaturas, a qual foi levantada

30-08-1969, Sábado

O Pelotão de Nativos nº 58, mais 1 Sec./3º GComb/CCaç. 2533 foi emboscado na Cova do Barril, tendo sofrido 2 feridos graves metropolitanos, um dos quais veio a falecer.

30-08-69, Sábado

1ª Operação Dungal

Nos dias 30 e 31, pelas 15 horas, o Comandante de Batalhão, as CCaç 2547 (-), o GrCom Os Roncos e a CCaç. 2548, saíram para um reconhecimento à região do Dungal, junto da fronteira com o Senegal, compreendida entre os marcos 120 e 121.

Regressaram no dia seguinte, tendo capturado 2 mulheres.
(HB-Cap.I, págs. 5).

O ataque das formigas ao Tavares


Segundo ouvi um dia mais tarde contar, pelo próprio, o furriel Tavares, espinhense de quatro costados, a operação de reconhecimento à região do Dungal, povoação que fica situada a Norte de Farim e junto à fronteira com o Senegal, foi muito dura para o pessoal, ainda periquitos e não adaptados ao clima do território.

Segundo ele contou, aquando do regresso a Farim devido à longa caminhada e ao calor, parte da rapaziada caminhava de pernas abertas em consequência da micose entretanto surgida nas virilhas.
Ele próprio também foi vítima de tais queimaduras e mais, segundo ele contou.

Quando numa das pausas de descanso e quando ele estava confortavelmente sentado ou deitado a descansar, as célebres formigas atacaram-no sem dó nem piedade. Furando por tudo quanto é sítio, mordiam, picavam ferozmente o rapaz, até ao ponto de ele se despir todo, ficando apenas em cuecas, para assim, aliviado da roupa poder sacudir-se.

O desespero do pobre homem e as circunstâncias em que ficou, obrigou-o a ter de prosseguir naquelas condições o resto da marcha de regresso até ao aquartelamento em Nema.

Estou a imaginar a linda figura do Tavares ao entrar no Quartel em cuecas com o cinturão e cartucheiras à cintura e ainda com dilagramas e espingarda G 3 na mão.

Segundo contam os camaradas intervenientes na operação, o nosso Comandante de Batalhão, Ten. Cor. Agostinho Ferreira, também foi vítima de uma cena de ataque das formigas.

A propósito de formigas, o nosso camarada Alf. Roda, mais conhecido pelo alfero hipnotizador pelos africanos da CCaç 14, Companhia de soldados nativos que estava sedeada em Cuntima, nos convívios de confraternização, tem contado que certo dia estava no mato em interdição ao corredor de Sitató e que a certa altura viu um dos soldados fazendo grandes movimentos com o pénis, presumindo algo que vocês estão a pensar!...Mas que não era.

Vai daí, ele pergunta para a generalidade dos soldados ali presentes que estavam próximos do soldado aferroado, o que ele estava a fazer.

O visado apercebendo-se da pergunta maliciosa, responde de imediato à curiosidade do jovem alferes:

Ó nosso alfero, mim ká bate punhe, é firmiga, nosso alfero, firmiga murdi...

Algures na zona de Faquina> Sitató, em Dezembro, 1969.Foto cedida pelo Alf. Roda

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Notas de Carlos Silva:

(1) In Lourenço, Vasco - No Regresso Vinham Todos - Relato da CCaç. 2549 - Portugália Editora, 1975 p. 51, 52 e 90.
(2) Os marcos foram colocados em resultado das negociações luso-francesas para delimitar a fronteira entre o Senegal e a Guiné desde a parte Nordeste do território até ao Cabo Roxo -Varela, junto à costa atlântica. A implantação de marcos inicia-se de Leste para Poente.
Sobre a delimitação de fronteiras vid. Esteves, Maria Luísa – A Questão do Casamansa e Delimitação das Fronteiras da Guiné – Instituto de Investigação Científica Tropical – Lisboa, 1988 e Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Bissau 1988.
(3) GComb. Os Roncos de Farim. Este grupo de combate foi criado formalmente em 15-11-1966 de acordo com a Ordem de Serviços do Bat. Caç. nº 1887, comandado pelo Ten. Cor. Manuel Agostinho Ferreira e aparece referido pela 1ª vez no mês de Novembro de 1966 na História da CCaç nº 1585 que estava integrada no dispositivo de manobra daquele Batalhão, bem como aparece mencionado pela 1ª vez no mês de Dezembro na História desta Unidade.
Este grupo de combate, bastante conhecido pela bravura dos seus elementos, foi inicialmente comandado pelo Alf. Mil. Filipe José Ribeiro da CCaç. 1585 e do qual faziam parte o então 1º cabo Marcelino da Mata (hoje Ten. Coronel na situação de aposentado) e o 1º cabo Cherno Sissé, O Mandinga (hoje com o posto de 1º Sargento na situação de aposentado).
Em 1970, convivi de perto com os homens que integravam este aguerrido grupo de combate, na medida em que estiveram algum tempo em Jumbembem de reforço à nossa Companhia, sendo seu comandante o Fur. Cherno Sissé, bom camarada e amigo.
Ambos foram guerreiros natos, destemidos e corajosos, sempre prontos para combater. Aliás, combateram até ao limite das suas forças.
Ambos foram louvados e condecorados diversas vezes. Receberam a mais alta condecoração que o País concede em tais circunstâncias, a Torre e Espada.
Cherno Sissé, 1º Sargento do Exército Português, vários louvores averbados, condecorado com duas Cruzes de Guerra, promovido por distinção, medalha da Torre e Espada de Valor Lealdade e Mérito com Palma.
Ferido por diversas vezes em combate, foi-lhe amputada uma perna e ficou cego de uma vista ao fazer accionar uma mina armadilhada algures na fronteira Norte da Guiné quando estava integrado na CCaç. 14.
1 - In, História da CCaç. 1565; Hist. da CCaç. 1585; Hist. do Bat. Caç. 1887; Hist. Bat. Caç. 2879
2 - In, Pais, José – Histórias de Guerra – Índia, Angola e Guiné, Ed. Prefácio, 2002, págs. 107 a 110
3 - Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974] - 5º Volume – Condecorações Militares - Tomo I – Torre e Espada e Valor Militar - edição, Lisboa 1990 - p. 112 e 114
4 - Hist. CCaç. 2533 Cap. II pág. 24
5 - Hist. Bat. Cap. II pág. 5

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Notas de vb: vd tb artigos de:

10 de Fevereiro > Guiné 63/74 - P2520: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (6) (Carlos Silva)

1 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2496: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (5) (Carlos Silva)

30 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2491: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (4) (Carlos Silva)

24 de Janeiro>Guiné 63/74 - P2477: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim : O Batalhão dos Cobras (3) (Carlos Silva)

20 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva)

15 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim : O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2520: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (6) (Carlos Silva)

Continuação da História do BCaç 2879.
Texto e imagens de Carlos Silva.

24 toneladas de material apreendido em Faquina, na zona de Cuntima, junto à fronteira com o Senegal (I)

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Actividade no TO - Teatro de Operações do Sector 02> Farim e do CTIG

Agosto de 1969

Durante este mês desenvolveu-se treino operacional intenso, manteve-se a actividade anteriormente delineada no que diz respeito ao esforço de contra-penetração nos corredores de Lamel e Sitató e começaram a alargar-se as zonas a patrulhar, com vista a um conhecimento mais profundo e à detecção de locais mais rendosos para a actividade operacional.

Paralelamente começaram a ser estudados pelo Batalhão, o problema relacionado com o reordenamento das populações e sua organização em auto defesa.

Neste mês salientam-se os seguintes factos.

10-08-69, Domingo:

O 4º GComb/CCAÇ 2533 que interditava o corredor de Sitató, na zona de Farincó, junto ao carreiro, teve contacto com um grupo IN avaliado em cerca de 15 elementos.

O 2º Gr Comb comandado pelo Cmdt da Companhia, Cap Sidónio Ribeiro da Silva, saiu de imediato em socorro daquelas forças e no caminho tiveram também contacto com o IN, causando-lhe 1 morto e alguns feridos confirmados e capturado:

1 Esp Aut Kalashnikov;
1 Caçadeira de 2 canos;
Munições diversas e
Saco de roupa e documentação.

11-08-69, Segunda-feira

Às 14h 30m o 3º Gr Comb/CCAÇ 2533 saiu para interditar o corredor de Sitató, na região de Farincó. Ao chegar lá, fez uma batida na zona de contacto havido com o IN do dia anterior e quando se preparavam para voltar para trás, avistaram um grupo IN composto de 5 elementos.
O pessoal imediatamente se instalou e quando o IN atravessava a zona de morte abriram fogo. Desse encontro resultou 1 morto e 2 ou 3 feridos para o IN.

13-08-69, Quarta-feira

Eram 20h quando se desencadeou uma violenta flagelação do IN ao aquartelamento de Canjambari do lado Este e Oeste. Caíram várias morteiradas e roquetadas dentro do aquartelamento. O ataque foi repelido com o rebentamento de armadilhas comandadas à distâncias e instaladas fora do perímetro do arame farpado. As NT sofreram 1 ferido ligeiro e a danificação de diverso material.

O Ronco : 24 toneladas capturadas ao IN na região de Faquina Fula>Faquina Mandinga (povoações junto à fronteira com o Senegal)

13/14-08-1969 - Operação Talião em Faquina - Subsector de Cuntima.

Tomaram parte nesta operação:

O Cmdt do BCAÇ 2879
Forças pára-quedistas
CCAÇ 2529 (-) reforçada com 1 Gr Comb da CCAÇ 2549
CCAÇ 2547 (-)
CARt 2478
Gr Comb Os Roncos




Faquina Mandinga, localização onde se desenrolou a acção

Capturada elevada tonelagem de material entre o qual avultou:

Granadas de canhão sem recuo : 185
Granadas de morteiro 82 : 123
Granadas de morteiro 60 : 63
Metralhadoras ligeiras : 5
Espingardas automáticas : 1
Espingardas semi-automáticas : 10
Pistolas-metralhadoras : 23
Lança-Roquetes : 1
Granadas de mão defensivas : 140
Granadas de LGF : 26
Granadas anti-carro : 19
Minas anti-carro : 7
Minas anti-pessoal : 83
Munições de armas ligeiras : 149.244
Munições de armas pesadas : 2.550



Cuntima, 13-08-1969 – Pista – Foto cedida pelo ex Fur Carlos Fragoso, da CCAÇ 2549.
Armamento capturado ao IN em consequência da operação Talião podendo-se observar diferentes espécies de armas, tais como: Espingardas automáticas (AK-47, Kalash), semi-automáticas, metralhadoras ligeiras, pistolas metralhadoras, lança-roquetes, pistola-metralhadora Shpagin (PPSH ) (ou costureirinha)

Durante a manhã do dia 14, o IN flagelou as NT que sofreram 3 feridos metropolitanos, 4 feridos milícias e 2 feridos caçadores nativos.



Cuntima, 13-08-1969 – Descarregamento do material na Pista. Transporte do material capturado nas bolanhas de Faquina Fula e Mandiga. Curiosidade e satisfação dos militares que não participaram na operação. Fotos cedidas amavelmente pelo camarada ex- Furriel Fragoso da CCAÇ 2549.


Descarregamento do material capturado na Pista de Cuntima. O armamento capturado seguiu depois para Bissau no Dakota.

Sobre este ronco consta na História da CCAÇ 2529 (1) o seguinte:

"... No dia 12 de Agosto pelas 15 horas observámos movimentos de vários helicópteros em direcção a Faquina. Inicialmente não sabíamos o que se estava a passar, mas decorrido algum tempo chegavam a Cuntima carregados de material capturado ao IN. Informaram-nos que junto à bolanha de Faquina havia uma viatura IN carregada de material que forças pára-quedistas se incumbiram da sua segurança a fim de ser retirado dali o mesmo.

Como regressaram a Bissau as forças que se encontravam no local, a nossa Unidade recebeu ordem para com os obuses do Pelotão de Artilharia bater a zona onde estava a referida viatura. Posteriormente recebemos ordem de deslocação para a região de Faquina a fim de no dia seguinte (13-08-1969) reforçar e permitir que fosse retirado o restante material não evacuado na véspera.

Sob o comando desta CCAÇ o 1º e 4º Grupo de Combate reforçado com um grupo de combate da CCAÇ 2549 e com um Pelotão de Milícias de Cuntima, pelas 3 horas e 30m do dia 13 saíu em direcção a Faquina Mandinga onde devíamos estar às 6 horas e 30m. A noite encontrava-se bastante escura o que dificultou a progressão.

Chegámos a Faquina Mandinga às 6 h e 15m onde instalámos e aguardámos ordens. Pelas 9 horas, os hélis transportando forças pára-quedistas desceram em Sare Demba Chucael iniciando a retirada do material.

Os bombardeiros sobrevoaram a zona e do PCV foi-nos dada ordem para batermos a zona em frente a Sare Demba Chucael (povoação senegalesa, situada junto à fronteira, marco 99, zona compreendida para Norte de Faquina Mandinga e Faquina Fula, na direcção de Sare Demba Chucael).

Iniciada a batida à bolanha encontrámos material de guerra (granadas de morteiro e de canhão s/r, LGFog, munições e minas), material escolar, sacos de sal e arroz, material este que foi evacuado em dois hélis.

Continuando em direcção a Faquina Fula e a 100 metros da bolanha, debaixo de uma árvore, havia certa porção de terra que parecia ter sido ali colocada há pouco tempo. Verificado o local e depois de serem tomadas medidas de segurança, concluímos tratar-se de uma arrecadação de material IN com apreciáveis quantidades.

Esteve no local o Com-Chefe, Gen Spínola, que observou a arrecadação e o material que lá se encontrava.

Faquina Fula foi totalmente batida encontrando-se várias casas de zinco que destruímos, retirando material de uso corrente (esteiras, arroz, açúcar e panelas) e mais, distribuídos pelo pessoal milícia que tomou parte na operação.

A fim de serem efectuadas batidas pormenorizadas a toda a zona e por ordem do ComChefe, foram deslocados para a área dois Grupos de Combate e CCAÇ 2547 e o Pel Milícias ”Os Roncos” de Farim.
Ao anoitecer e por ordem do Cmdt do BCAÇ 2879, foi montada segurança ao estacionamento, entre Faquina Mandinga e Faquina Fula. No local encontravam-se as forças sob o comando desta Companhia, um pelotão de pára-quedistas, 2 grupos de combate da CCAÇ nº 2547 e "Os Roncos” de Farim sob o comando do Cmdt do Batalhão, Ten Coronel Agostinho Ferreira.

A noite decorreu normalmente, apesar das enormes chuvadas que caíram a partir das 2 horas. Pelas 6 horas e 30 minutos do dia 14 o IN iniciou uma flagelação ao estacionamento, tendo duas granadas de Mort. 61 rebentado na zona em que se encontrava o 1º Gr Comb desta Unidade, de que resultaram 9 feridos graves e 1 ligeiro. As NT reagiram imediatamente pelo fogo e movimento, tendo "Os Roncos” de Farim saído em perseguição do IN.

Nos locais de retirada havia indícios sangrentos que nos levaram a concluir ter havido baixas para o IN. Durante este dia efectuaram-se batidas na área, não tendo sido encontrado qualquer vestígio nem material IN.

Pelas 16 horas iniciou-se o regresso ao aquartelamento de Cuntima pelo itinerário Faquina Mandinga - Jajalvo - Tendito – Tonhataba - Cuntima, enquanto os obuses batiam toda a zona em que decorreu a operação.

Esta Unidade (CCAÇ2529) capturou ao IN cerca de 7 toneladas de armamento e munições sendo de salientar o seguinte:


Metralhadoras ligeiras Degtyarev DP : 3
Carregadores circulares de Met Lig Degtyarev DP : 3
Metralhadoras Degtyarev - RDP : 1
Metralhadoras Degtyarev - mod. 52 : 1
Pistola metralhadora M-52 : 5
Pistola metralhadora Sudayev : 6
Pistola Met Shapagin (PPSH) ("ostureirinha” ): 11
Carregadores Pist Met Shapagin (PPSH) : 8
Espingarda semi-automática Simonov (SKS ) : 10
Espingarda automática Kalashnicov ( AK ) : 1
LGrFog - RPG 2 : 1
Pistola metralhadora M-23 : 1
Minas anti-carro A/C TMD : 3
Minas anti-carro A/C : 4
Minas anti-pessoal A/P G1 : 80
Granadas A/C do L. G. F - RGP 2 : 26
Granadas de canhão sem recuo S/R : 29
Granadas de canhão sem recuo S/R T-21 : 48
Granadas A/C c/ bem. canhão S/R 82 : 108
Embalagens vazias de gran A/C 82 : 7
Granadas de morteiro 82 : 123
Granadas de morteiro 61 : 63
Caixas de espoletas ( 25 cada ) : 12
7 caixas com um total de espoletas : 70
Granadas de mão defensivas F 1 : 140
Caixas de detonadores gran. de mão defensivas F 1 : 7
Cartuchos propulsores de morteiro 82 : 100
Munições 7,62 normal : 61.360
Munições 7,62 tracejantes : 23.680
Munições 7,62 tracejantes verdes : 880
Munições 12,67 : 1530
Munições 9 mm : 3000
Diversas : 2015
Caixas met. c/ cartuchos propulsores : 8
Cargas suplementares redondas : 163
Very lights : 18
Tubos c/ espoletas de bazookas : 4
Cunhetes met. transporte gran morteiro : 9
Peças de culatra do canhão S/R : 2
Caixas para transporte de espoletas : 2
Caixas c/ detonadores : 70

Foto do ex-Alf Mil Carmo Ferreira da CCaç 2549 (Cª do Cap Vasco Lourenço)

As populações da área de Cuntima receberam com entusiástica manifestação de alegria as notícias dos êxitos obtidos, colaborando activamente no transporte do material capturado.

Esta operação foi designada por Operação "Talião", tendo esta Unidade a honra de capturar 7 das 24 toneladas que foi a quantidade total de material apreendido.

Em consequência dos ferimentos obtidos nesta operação faleceu no dia 19 de Agosto no H.M.P, o soldado M. F. Gouveia.

Entretanto recebemos várias visitas, salientando-se a de um jornalista inglês que observou e fotografou o material capturado.

Definimos ao IN a nossa posição e valor dentro do sector, aguardando no entanto a sua reacção que não se fez esperar, pois a 25 de Agosto pela 1 hora, durante vários minutos, flagelou de 3 frentes o aquartelamento e a povoação de Cuntima, com canhões S/R, Mort 82, Mort 81, LGFog e armas automáticas, que, como de costume actuavam numa cadência infernal. A reacção das NT foi imediata e o fogo coordenado forçou o IN a pôr-se em retirada na direcção do Senegal.

As NT efectuaram a perseguição e batida, não tendo tido qualquer resultado.
Foram encontrados vestígios abundantes de sangue. As NT sofreram 6 feridos ligeiros...."



O nosso camarada Carmo Ferreira, Alf Mil da CCAÇ 2549, no seu trabalho “A Luta Pelo Regresso, 1975” ainda não publicado, a págs. 23 a 28 refere-se a este Ronco nos termos seguintes:

“....Chegou, enfim, a altura da actuação na qual, em simultâneo, somos actores e assistentes. O palco, esse era pisado pela primeira vez.
Faquina. Zona limítrofe do território, encostada à linha de fronteira, correspondente a uma grande bolanha cuja linha média é a própria fronteira com o Senegal. Constituía, para a grande maioria da malta estacionada em Cuntima, como que um bicho de sete cabeças. Na verdade, sempre que se entrava na zona, dizia-se, havia 'choça' É que o IN , acolhido do lado de lá, montava as suas baterias de morteiros e desancava uma vez que nem sequer se podia reagir. Os nossos morteiros 60, pouco mais de meia bolanha atingiam e para isso era necessário sair a campo aberto.

A 12 de Agosto, a acalmia da tarde soalheira igual a outras já passadas, ainda que poucas, é quebrada pelo ensurdecedor aparecimento de dois Fiat que sobrevoavam o quartel e daí seguem para leste em direcção a de Faquina. Duas centenas de interrogações, quatro centenas de olhos, seguem as evoluções dos aviões que a cada picagem vão metralhando o solo. Um rebentamento mais forte assinala o lugar de uma “ameixa” de maior calibre.
Uma palavra vai correndo, entretanto, de boca em boca, ao mesmo tempo que se divisam, ao longe, 7 helicópteros Alouette, em formação rumando para o mesmo objectivo.

- É “ronco”. Agora são os páras que vão acabar o “rancho”.

Havia “ronco” na verdade. O IN detectado no Senegal a descarregar material de uma viatura, havia sido posto em fuga pelo piloto que os detectara, abandonando o material. Entretanto, a tarde vai caindo. As primeiras evacuações de material vão aparecendo se bem que a grande maioria siga directamente para Bissau. É um delírio ver, apalpar, fotografar aqueles brinquedos mortíferos arrancados às mãos do “turra”.

E a noite cai calma, serena e quente. O jantar decorreu, como normalmente, na cubata indígena a que tínhamos a veleidade de chamar messe. O pensar, nestas alturas, nos “senhores” que às suas secretárias e nos seus gabinetes arejados pelo indispensável ar condicionado, exigiam sempre mais e mais esforço, fazia-nos já rilhar os dentes, desejar tudo virar às avessas.

O calor é tal que, enquanto se come, o suor vai caindo pingo a pingo dentro do prato. O ambiente, pouco a pouco, torna-se sombrio. Todos advinham que daí a nada a operação complemento será delineada.

Retiro para o quarto juntamente com outros camaradas. Sobre um esqueleto de ferro, que papelões de caixotes de bebidas amaciam, deitamos os corpos alagados de suor. Não notam a dureza. Um treino de cerca de uma vintena de noites consecutivas tornaram-nos já moldáveis.

Havia adormecido há pouco quando oiço:
- Meu alferes, meu alferes Ferreira, chegue ao nosso capitão.
Esfregando os olhos, estremunhado, adivinho o que se passa, ao mesmo tempo que sigo o Salgado – o “impedido” do capitão. Olho o relógio. São onze (23) horas quando entro na messe apertando ainda as calças.

- Ferreira, prepare-se para sair a qualquer hora - diz-me o capitão Lourenço.
- Para onde, meu capitão? – pergunto, adivinhando qual a resposta.
- Para Faquina.
- Vou eu – adianta o Capitão Homem da Costa – o pelotão de milícias, o do Costa, o do Rocha e o seu.
- Okay. Terei então de ir prevenir a maralha. Até já.

Passo a notícia ao Nunes e ao Ferreira, os furriéis do meu grupo de combate. Ponho-os ao corrente do que irá passar-se. Bem pouco, aliás, pois que, muito pouco, também sabia. Entretanto os soldados continuam a dormir despreocupados, não adivinhando que a qualquer momento serão acordados e mandados preparar para uma operação que, para os meus homens, seria talvez o baptismo de fogo e donde alguns poderíamos não voltar.
Com violência, irrompe então verdadeiramente a luta contra o medo de poder ser julgado covarde. O medo de ter medo, é enorme. O medo de poder com esse acto prejudicar outras lutas semelhantes é ainda maior. O sono falha-me e desgasta-me.

São três da manhã quando está tudo pronto para a arrancada. É dia 13. Como habitualmente a noite é breu, opaca, obrigando o pessoal a repetidas paragens e a constantes interrupções na coluna a fim de se evitarem perdas de contacto. Três horas nos separam ainda do objectivo, caminhando noite dentro, cruzando o rio Carantabá e bolanha adjacente, ainda com pouca água. Todo o peso da noite nos envolve. Cerca das 5h 30m da manhã, a coluna pára e a palavra de ordem vai passando até à cauda da coluna.

- Cuidado. Olhos e ouvidos atentos. Nada de ruídos. Estamos já muito próximos do objectivo.

Uns minutos mais e a coluna pára desta feita por completo. Instala-se aguardando as 6h 30m, hora em que chegará a Força Aérea. Na nossa frente, silenciada e misteriosa, Faquina, o objectivo, a incógnita das próximas horas. O mito e a realidade estavam frente a frente.
Os nervos, de tensos, parecem estalar ao primeiro ruído. Então quando uma manada de javalis, atravessa a coluna num estardalhaço do demónio....Uf!

São já nove horas. O pessoal aguarda impaciente o apoio aéreo que apesar das duas horas e meia de atraso, parece não mais chegar. O Comando decide que se avance e avança-se. Num vaivém contínuo, os olhos correm a mata, as árvores, o chão. Nenhum tiro. O inimigo fugira possivelmente para solicitar auxílio ou então, algures, espreita e mede a força com que terá de bater-se.

Chega finalmente o apoio aéreo: um heli-canhão e dois T6. No terreno e espalhado por todos os lados, começa a aparecer o material precipitadamente abandonado: cunhetes de granadas de mão , munições das mais diversas, candeeiros a petróleo, folhetos, livros, etc.

- Meu capitão, meu capitão, manga di ronco. Manga dele mesmo. Pessoal encontra “arrecadação”. Grita eufórico um milícia, o Faram, para o Capitão Homem da Costa.

Um toco oco, servindo de respiro e espetado no alto de um pequeno morro, havia sido detectado por um milícia que, intrigado, havia vasculhado o terreno acabando por encontrar a chapa que cobria o poço servindo de arrecadação. Dentro, várias centenas de granadas de morteiro 82 e canhão sem recuo, meia centena de armas, dois lança granadas e cerca de uma centena de minas anti-carro e anti-pessoal de todos os tamanhos, gostos e feitios. Quanto a munições era um nunca acabar. Desde as de calibre 7,62 às de 12,7 havia de tudo. Talvez umas 150 mil, sem exagero.

- Manga di ronco mi alfero.. Manga dele – vai-me dizendo o carregador.

E o frenesim da recolha continua. O grupo de milícias parte, entretanto, a fazer uma batida a Faquina Mandiga. Aí, a recolha de meios é em moldes diferentes, dado que, se encontram simplesmente géneros alimentícios que são destruídos – umas boas centenas de quilos de arroz foram transportadas de helicóptero – sacos de campanha de origem soviética, de óptima qualidade em comparação com os quais os nossos bornais se sentiam envergonhados, tachos, panelas, cantis, enfim, artigos dos mais diversos.

Com o aproximar da noite e com o levantar do último helicóptero, monta-se a segurança para aí ficarmos instalados até ao dia seguinte. A noite, calma e serena, passou sem que nada houvesse a registar. A presença inimiga, contudo, pairava constante. Sentia-se no ar.

Pela manhã, cerca das 6h e 30m, eles aí estão na sua “visita” já esperada de há muito. Com uma série de morteiradas logo de imediato acompanhadas pelo matraquear feroz das “costureirinhas” (como eram denominadas as metralhadoras ligeiras PPSH, de fabrico soviético)desencadeiam o ataque, feroz e certeiro. A reacção, de nossa parte, é imediata e em força.

- Cheguem-lhes duro. Protejam-se e dêem-lhes forte – grita o Ten Cor Agostinho Ferreira, Comandante do Batalhão (conhecido pelo metro e oito, em face da sua baixa estatura) que entretanto, chegara durante a tarde e que connosco quisera partilhar a situação.

Logo ao início da refrega alguns feridos há a lamentar. O fogo certeiro e objectivo dos seus morteiros, correndo quasi toda a linha defensiva, havia apanhado com estilhaços os nossos apontadores de morteiro que, um pouco recuados, cumpriam a sua missão de cobertura.
De soslaio observo o Reguila, o apontador do meu grupo de combate. Furibundo e urinando dentro do morteiro, roga pragas sem conta. Deixa entrar terra para dentro e agora o percutor não funcionava. Entre o desenroscar e enroscar frenético da parte inferior para a necessária limpeza do percutor vão uns segundos que, contudo, parecem uma eternidade. Com satisfação o vejo depois , a meter as granadas e, com um sorriso nos lábios, seguir a sua trajectória!
Bastante desenrascado sem dúvida. Aquilo que constantemente lhes havia sido dito e redito para terem cuidado com a terra e o pó dentro dos morteiros e outras armas teve a sua prova dos nove na altura mais imprópria. Como sempre as coisas acontecem quando menos se espera. Felizmente, foi possível ultrapassar o percalço.

A fuzilaria é enorme. Cada disparo parece ser um empurrão na má sina que se quer afastada. Pouco mais de meia hora volvida (uma eternidade para quem a viveu), tudo volta a acalmar. A evacuação dos feridos é imediata. São eles 3 metropolitanos, 4 milícias e um caçador nativo. Pela batida feita, logo de seguida, e pelos numerosos rastos de sangue, constata-se que o inimigo também tivera baixas e não poucas.

Pouco depois, é apanhado um nativo senegalês que se encontrava na zona . Com umas “carícias” ei-lo cantando. Dois outros depósitos se encontram, enterrados, a poucas dezenas de metros da arrecadação que localizáramos no início. Duas centenas mais de cunhetes de munições a juntar a tudo o resto já apanhado.

Porém, é do outro lado da linha de fronteira que se encontra a arrecadação-mãe. Esta informação, por isso, mobiliza de imediato as atenções para o assalto que se impunha, sem delongas.

Com o pelotão de milícias, sob o comando do Cherno, que entretanto chegara, em reforço, com outros elementos da CCAÇ 2547, passo a bolanha. Levávamos como missão trazer o mais possível e de seguida estoirar com tudo. A travessia não é fácil. Penosa, lenta e cansativa expõe-nos, abertamente, ao inimigo. Sem problemas, contudo, chegamos ao lado de lá. Emboscados. Junto à mata, no limite da bolanha, protegemos a entrada das milícias “ Os Roncos” além-fronteira.

Tropas senegalesas, contudo, fazem-lhes frente. Cherno não hesita. Aprisiona o comandante da força e quer avançar a todo o custo contra tudo e contra todos.

Pela rádio o Ten Cor Agostinho Ferreira é posto ao corrente do que se passa. Após várias trocas de impressões o rádio avaria-se. É por isso necessário alguém vir, pessoalmente, bolanha fora, narrar o que se passa. Venho eu.

A cada passo, com a arma acima da cabeça, as pernas enterram-se-me até às coxas no lodo negro e mal cheiroso. Analisada a situação, a retirada é ordenada, a fim de se evitarem complicações políticas a nível internacional. Retorno, portanto, para junto dos meus homens levando a ordem a cumprir, com toda a precaução. O esforço despendido no regresso ao convívio dos camaradas além bolanha é enorme. O nosso olhar não disfarçava a frustração que vivíamos... Quando regresso e cruzo a bolanha pela terceira vez, as energias vão-se faltando. Já não ando, arrasto-me, arrastam-me. A espaços, exausto , tombo de costas e deixo-me repousar.

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Notas de Carlos Silva:

(1) - História da Unidade da CCAÇ nº 2529 (Caixa nº 115 - 2ª Div./4ª Sec, do AHM)
(2) - Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África
Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África [1961-1974]
7º Volume - Fichas das Unidades- Tomo II - Guiné, 1ª edição, Lisboa 2002 - p. 375

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Notas de vb: vd tb artigos de:

1 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2496: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (5) (Carlos Silva)

30 de Janeiro de 2008>
Guiné 63/74 - P2491: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (4) (Carlos Silva)

24 de Janeiro>
Guiné 63/74 - P2477: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim : O Batalhão dos Cobras (3) (Carlos Silva)

20 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2464: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes a Farim: O Batalhão dos Cobras (2) (Carlos Silva)

15 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2440: História do BCAÇ 2879, 1969/71: De Abrantes para Farim : O Batalhão dos Cobras (1) (Carlos Silva)