segunda-feira, 24 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25679: As nossas geografias emocionais (25): Quase todos partimos, até 1972, num navio de transporte de tropas, a partir do Gare Marítima da Rocha Conde Óbidos, e não da Gare Marítma de Alcantara...



Lisboa > 22 de Março de 2009 > Cais e Gare Marítima de Alcântara, vistas da Ponte 25 de Abril... > Não, não foi o nosso cais de partida... A nossa "porta de saída" para África foi o Cais da Rocha do Conde Óbidos, que fica mais para leste, a 1600 metros de distância...  Às vezes confundimos os dois cais e as duas gares (que são do mesmo arquiteto, o Pardal Monteiro).  

O Cais de Alcântara também era usado, mais pontualmente, para as partidas  e as chegadas de tropas,  mas era o cais da Rocha do Conde de Óbidos que estava destinado a esse fim.  Aliás, eram onde atracavam os navios da CCN (Companhia Colonial de Navegação), enquanto o de Alcântara era o terminal da CNN (Companhia Nacional de Navegação) e a SG (Sociedade Geral). 

Pelo outro lado, não passávamos sequer pelas gares....pelo que nunca pudemos admirar os painéis do Almada Negreiros, obras-primas da pintura portuguesa do séc. XX.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 


Lisboa > Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos > Da autoria do arquiteto Pardal Monteiro, foi inaugurada em 1948... Foi daqui que partimos, muitos de nós,  para a Guiné... Nos últimos anos da guerra (a partir de meados de 1972), o transporte já se fazia por via aérea, através dos TAM - Transportes Aéreos Militares. (LG)

Foto do domínio público. Cortesia de Wikipedia.



1. O porto de Lisboa tem dois cais e duas  gares marítimas, a de Alcântara, a poente, e a da Rocha Conde de Óbidos,  a nascente. Ambas servidas por linha férrea... Mas muitos camaradas, sobretudo os de fora de Lisboa, confundem as gares...

Recorde-se a aqui, resumidamente, a história da sua construção:

(i) A modernização do porto de Lisboa é relativamente recente. as primeiras grandes obras remontam ao ano de 1887, no reinado de D. Luís. 

Até 1907 não havia cais acostável (!) para os navios de passageiros, de maior tonelagem. Ficavam ao largo do Tejo, fazendo-se o transbordo de passageiros e bagagens, "à moda antiga"...

Datam dos finais da monarquia, os trabalhos de dragagem, na margem norte do rio, a oeste do cais de Alcântara. 

(ii) Em 1918 começaram a poder atracar no porto de Lisboa os transatlânticos de maior arqueação bruta. 

(iii) A atracação de navios de passageiros passou a ser obrigatória em 1927.

(iv) O cais de Alcântara  e o molhe oeste (poente) do cais de Santos ficaram reservados para as companhias de navegação estrangeiras. 

(v) Os navios nacionais, com destino às ilhas adjacentes e às colónias de  África, partiam do cais da Fundição, Terreiro do Trigo (junto a Santa Apolónia) e molhe leste (nascente) do cais de Santos.

(vi) É no âmbito do “plano de melhoramentos do porto de Lisboa: margem norte do Rio Tejo”, da iniciativa do Estado Novo, que vão ser construídas as gares marítimas de Alcântara e da Rocha do Conde de Óbidos; era então ministro das Obras Públicas e Comunicações, o eng Duarte Pacheco (1901-1943).

(vii) O projeto destas gares marítimas com 2 pisos, é do arquiteto Pardal Monteiro (1895-1957), um dos grandes arquitetos estadonovistas cua obra marcou a cidade de Lisboa, entre as décadas de 1920 e 1950, com edifícios icónicos como a Estação do Cais do Sodré, o Instituto Superior Técnico, a Igreja de N. Sra. de Fátima, o 
Hotel Ritz, etc.

(viii) A gare marítima de Alcântara será inaugurada ainda em plena II Guerra Mundial (a 7 de julho de 1943), quando afluíam a Lisboa dezenas de milhares de refugiados de um continente devastado pela tragédia da deriva totalitária e da guerra.

(ix) Por sua vez, a gare marítima Rocha de Conde de Óbidos (chamava-se assim em virtude do cais estar próximo do palácio do Conde de Óbidos, hoje edifício da Cruz Vermelha, ao lado do Museu Nacional de Arte Antiga, ou Museu das Janelas Verdes) só foi inaugurada em 1948; é 
 aqui se localizava o estaleiro naval que, em 1936, seria  concessionado a um empresa do grupo CUF, a primeira do país a construir navios com casco de aço.

Para muito de nós, antigos combatentes, o cais da Rocha de Conde de Óbidos foi o local de embarque para a guerra colonial... 

Vínhamos, geralmente de noite, de comboio, das unidades de mobilização (muitos vinham diretamente do Campo Militar de Santa Margarida). Nunca passávamos pela gare.  

Só mais tarde eu vim a conhecer os salões Almada Negreiros e admirar os seus painéis, hoje famosos ...

Já aqui confessei, em tempos,  que gosto mais dos painéis da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, pela sua modernidade e ousadia (temática e estética) (*). 

Todos os cais de partida (mais do que os de chegada) fazem parte das nossas geografias emocionais (**).


(**) Último poste da série > 2 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25327: As nossoas geografias emocionais (24): Nhamate, no sector Oeste 1, Bissorã, em 1970, ao tempo da CCAÇ 13, "Leões Negros"

1 comentário:

Tabanca Grande Luís Graça disse...
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