Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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terça-feira, 4 de novembro de 2025
Guiné 61/74 - P27387: Facebook...ando (95): Tenente-General PilAv António Martins de Matos, ex-Tenente PilAv da BA-12 (Bissau, 1972/74): Acabo de completar 80 anos. É obra
Caros Amigos,
Acabo de completar 80 anos. É OBRA. Quero agradecer as vossas amáveis palavras, mas, a bem da verdade, há muito que deixei de comemorar os meus aniversários. Prefiro meter-me no carro, ir passar o dia a um qualquer lugar, bem longe. No ano anterior fui até Bragança, desta vez Viana do Castelo. Passo seguinte, telemóvel em OFF, um Cutty-Sark, duplo e sem gelo, tempo de recordar os meus “Fantasmas”.
Aos 2 anos, os meus pais a alugarem uma casita no Cacém, nesse tempo havia uma crise de habitação. Aos 4, o regresso a Lisboa, aos 7, a experimentar um cigarrito, aos 10, o Pedro Nunes e várias idas ao Aeroporto, ver os aviões. Aos 14, marinheiro, até Al-Faw, lá no topo do Golfo Pérsico, ida e volta, 12.000 milhas. Aos 16, baptismo de voo num Comet-4 da BOAC, até Londres, um mês, a aprender inglês… e outras coisas. Aos 18, piloto civil, o meu pai a suspirar, gostava que eu fosse para a Marinha. Aos 24, um belo Alferes Piloto-Aviador e o fim de um Projecto apenas iniciado, com passagem por vários hospitais, lágrimas e más memórias.
Aos 25, a subida ao topo da escala aeronáutica, “Falcão”. “Guerra ou Paz, Tanto me Faz”.
Aos 27, África e a Guerra Colonial. Na primavera de 73 e na Guiné, cinco pilotos abatidos por mísseis Strela. Alguns ”Falcões” de imediato a renegarem o “Lema”, a declararem-se “inoperativos”. A afrontar o inimigo apenas dois Coronéis, dois Capitães e um Tenente. Várias idas ao estrangeiro, a levar ferro do grosso, até a situação estabilizar. Essas missões valeram a Moura Pinto e Lemos Ferreira (eram os Chefes) as Medalhas de Valor Militar com Palma, Grau Prata. Os outros três, Pinto Ferreira, Bessa Azevedo e eu… esquecidos.
Regresso de África e o 25Abril. Mais uns meses e lá me atribuíram uma Medalha, a das Campanhas, igual à que foi imposta ao cozinheiro da BA-12. E apenas “Atribuída”! Tive de a ir comprar à Casa Buttuller.
O Verão Quente a chegar, época conturbada. Por termos andado a defender a Pátria fomos apelidados de “fascistas e colonialistas”, os “renegados” logo a passarem a “revolucionários”. Foi por essa altura que, em vez de um carro do tipo “proletário”, apareceu um belo Porsche. Que um homem não é de pau, também precisa de alguns miminhos. No seguimento, demasiadas aventuras e algumas muito confusas paixões…
Aos 30, um muito paciente instrutor de jovens candidatos a aviadores, ainda uma outra função, piloto de acrobacias, nos ASAS, com o meu 2414 por essa Europa, a escrevinhar autógrafos nos mais “variados locais”.
Aos 35, o passo mais importante da minha vida, nova família, uma linda mulher e dois filhos maravilhosos.
Aos 40, Gestor de um Projecto de muitos milhões, levado a bom porto, graças a uma fantástica Equipa.
Viagens foram muitas, de Trondheim a São Paulo, de LA e Vegas (onde ganhei na roleta) a Cabul (onde perdi aos matraquilhos). Molhei os pés no Pacífico. Também vivi em Bruxelas, armado em Diplomata, de fato e gravata, “Muito agradeceria a Vossa Excelência”…, e Madrid, “Olé Conho, rápido, quiero un café-solo y dos churros”.. A minha cidade preferida, Viena, andei por lá, tudo com muita calma, que o stress mata.
Uma nova medalha, já não precisei de a ir comprar, chegou via DHL, numa caixa, embrulhada em celofane.
Comandar uma Base Aérea foi uma experiência inesquecível. No final, um “Adeus e vai-te embora.”. Fui.
Foi preciso ser promovido a General para, finalmente, alguém “Importante” e em Cerimónia com alguma “Pompa e Circunstância”, me pendurar uma medalha ao pescoço. Foi o Ministro da Defesa… de Espanha.
Aos 58, Comandante do CAOC-10, Monsanto. Reuniões NATO no Funchal, demonstrar que a Madeira também é Portugal. Agradecimentos pelo General Americano Moorhead, Comandante do AIRSOUTH.
Aos 61, Comandante Logístico da Força Aérea, tempo de mudar alguns caducos conceitos e antigos vícios.
Foi já em final de carreira que se esmeraram, uma de “Serviços Distintos”. Desta vez foi mesmo a valer, o meu amigo TM a picar-me a “fatiota”. Não percebi lá muito bem a oportunidade de tal miminho, fiquei encabulado e vaidoso, muito vaidoso. Interessante como agora, nestes tempos de paz e do “faz de conta”, não há General que não ostente garbosamente uma “meia dúzia” dessas medalhas. Outros tempos…
Ainda a contemplar a medalha e logo a ser ultrapassado por um famoso arrivista, habitual “pisador de alcatifas”. Que lábia não lhe faltava. O FIM DA LINHA. Passagem imediata à Reserva e Reforma.
Uma nova fase, escrever. Publicados dois ensaios e três romances. Um mau negócio, todos a engordarem à minha custa, o Editor, o Distribuidor, o Livreiro e o Estado. Ficou apenas e só o muito gozo da coisa.
E eis-me chegado aos 80 anos. Tempo de descanso? Não. Ainda tenho algum trabalho pela frente.
Continuo à espera que a FAP se resolva a homenagear os seus 371 militares que “Morreram Voando”. Demasiados. Para quando um condigno Monumento? Nos Carvalhos e a recordar aquele triste acidente de 1955, já lá existem, um Obelisco, uma Capela, duas feias Esculturas e, com o apoio do cacique local, uma muito concorrida Romaria. Será… Oportunismo?
Masoquismo? Ou apenas… dois pesos e duas medidas?
E para quando um Memorial aos 45 (de Tenente-Coronel a 1.º Cabo) que “Morreram em Combate”?
A Pergunta: Por que razão a FAP vai negando a sua História? Será Esquecimento? Indiferença? Vergonha?
As “Chefias” já não são do tempo da guerra. Talvez por isso, vão permanecendo quietas e mudas, a olharem para o umbigo, à espera que o seu comprometido silêncio lhes possa valer alguma nova Mordomia. Que coleccionar medalhas tem alguns truques, saber pisar alcatifas e mostrar os dentes aos políticos é muito mais rentável (e seguro) que ir à guerra. Há quem já precise de ”reforçar as entretelas”. Isso sim, é que é OBRA!
Enquanto tiver forças e o meu amor de há 45 anos me aturar, não me calo. Para que conste!
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Notas do editor:
Vd. post de 3 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27380: Parabéns a você (2429): Tenente-General PilAv Ref António Martins de Matos, ex-Tenente PilAv da BA 12 (Bissau, 1972/74)
Último post da série de 14 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27217: Facebook...ando (94): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte XI: Pescadores do rio Grande de Buba, ao amanhecer
segunda-feira, 3 de novembro de 2025
Guiné 61/74 - P27380: Parabéns a você (2429): Tenente-General PilAv Ref António Martins de Matos, ex-Tenente PilAv da BA 12 (Bissau, 1972/74)
Nota do editor
Último post da série de 2 de Novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27375: Parabéns a você (2428): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense do CSJD/QG/CTIG (Bissau, 1973/74)
domingo, 7 de setembro de 2025
Guiné 61/74 - P27191: A nossa guerra em números (38): Em 27 de maio de 1974, existiriam no CTIG 1960 "bombas de napalm" (1170 de 350 litros e 790 de 100 litros)... ou apenas os invólucros

Legenda do autor:
- A laranja estão as minhas missões em Fiat-G91, e a azul as de DO-27;
- Nos meses de nov72 e ago73 estive de férias;
- Os mísseis Strela apareceram em abr73;
- Guidaje, Guileje e Gadamnael foram em maio/junho 73;
- Canquelifá e Copé em janeiro de 1974.
Gráfico (nº 2) com as missões de Fiat G-91, realizadas pelo então ten pilav António Martins de Matos (de maio de 1972 a fevereiro de 1974): missões de alerta (a laranja)(n=78) e missões planeadas (a verde)(n=308). Total=386
- As missões a verde eram planeadas, de véspera (por ex. ida a Cumbamori, no Senegal);
- As missões a laranja eram as solicitadas pela rede do Exército para apoio urgente;
- Em termos práticos representam o número de quartéis a quem fui dar apoio imediato (n=78);
- Quanto mais “laranja” apresentar o gráfico, tanto mais violenta estaria a guerra;
- Em maio73 o apoio foi maioritariamente a Guidage e Guileje; em janeiro74 a Canquelifá e Copá.
I. O nosso tabanqueiro António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje ten gen ref, não podia ser mais claro ao comentar no poste P27184 (*):
Da minha caderneta de voo, [ constam ] 17 missões napalm, entre 20mai72 e 1fev73 [ em oito meses, foram 2 em média, por mês ].
Recorde-se que o AMM era o nº 2, na escala hierárquica da Esquadra 121 (Fiat G-91, T-6 e DO-27), tendo 6 pilotos de Fiat, "Os Tigres", que voavam também um dos outros aviões; e mais 14 pilotos, milicianos, alferes e furriéis, que voavam indistintamente o T-6 e o DO-27.
II. Sabemos, por outro lado, que no final da guerra havia, na BA 12, Bissalanca, na Guiné, um "pequeno arsenal" de bombas de napalm (ou, pelo ,menos os seus "invólucros", segundo o testemunho do nosso António Martins de Matos)...
Reproduz-se a seguir um documento que vai ter que passar pelo crivo do contraditório:
Repartição de Operações
AO GENERAL CHEFE DO ESTADO-MAIOR GENERAL DAS FORÇAS ARMADAS
Nº 10.078/C
PARA CONHECIMENTO:
Pº CZACVG
ASSUNTO: BOMBAS NAPALM
1. Existem no TO.
– 1170 bombas NAP de 350 litros
– 790 " " de 100 litros
2. Dado que, pelo seu volume, não é possível subtraí-las das vistas a possíveis observadores, e ainda porque a utilização de Napalm tem sido motivo de acérrimas críticas feitas pelo In, na sua campanha diplomática e psicológica, torna-se necessário retirá-las do TO.
3. De contacto havido entre a ZACVG e o Estado-Maior da Força Aérea foi estabelecido, com o que este Comando concorda, que as bombas em referência fossem transportadas para a Ilha do Sal, de onde lhes seria dado posterior destino, salvaguardando, no entanto, uma dotação de emergência, a manter no TO.
4. Solicita-se a V. Exa. uma decisão sobre o assunto.
Bissau, 27 de Maio de 1974
O COMANDANTE-CHEFE
CARLOS ALBERTO IDÃES SOARES FABIÃO, BRIGADEIRO
III. O documento que acima se transcreve é um dos quatro que os investigadores António de Araújo e António Duarte Silva publicam em artigo de 2009, numa publicação académica ("O uso de napalm na Guerra Colonial - quatro documentos", Relações Internacionais R:I, n.º 22, junho de 2009, pp. 121-139). (***)
Os documentos reproduzidos pelos autores foram localizados no Arquivo da Defesa Nacional, em Paço de Arcos, onde se encontram sob a cota Cx. 1011, 1011/12, tendo sido desclassificados, a seu pedido, por despacho de 17 de setembro de 2008.
O documento em questão (o n º 2 de 4):
(i) é um oficio em papel timbrado do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné (Quartel-General – Repartição de Operações), classificado «Secreto», datado de Bissau, 27 de Maio de 1974;
(ii) está assinado pelo comandante-chefe, brigadeiro graduado Carlos Alberto Idães Soares Fabião;
(iii) é um ofício, os dactilografado, de uma página, dirigido ao chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, gen Costa Gomes;
(iv) Com conhecimento ao Comando da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné (CZACVG);
(v) em que se solicita instruções quanto ao destino a dar às "bombas de napalm" (sic) existentes no CTIG (1170 bombas NAP de 350 litros e 790 bombas NAP de 100 litros).
(v) possui um carimbo a óleo que certifica a sua recepção no Gabinete do Estado-Maior General das Forças Armadas, em 6 de junho de 1974, com as indicações «Pº 2034, N.º 3107»:
(vi) à margem, encontra-se exarado um despacho manuscrito, do seguinte teor: «Urgente. Ao CEMFA para proceder de acordo com o n.º 3. Lisboa 15-6-74. ass). Francisco da Costa Gomes».
Nesse ofício, sugere-se a transferência das "bombas de napalm" (sic) para a ilha do Sal, em Cabo Verde, salvaguardando-se, todavia, uma «dotação de emergência» (sic), que permaneceria no CTIG. Esta sugestão é feita após ter sido estabelecido um contacto com o Estado-Maior da Força Aérea.
De acordo com o despacho manuscrito, de 15 de junho de 1974, os autores inferem que tal sugestão foi acolhida (não se podendo no entanto saber qual foi o destino final dado ao material).
Citemos ainda os autores, a respeito do uso do napalm no teatro da guerra do ultramar:
(...) "Apesar de ainda ser controversa, a presença de bombas incendiárias nos territórios portugueses em África é relativamente conhecida, não tendo, porém, sido divulgados, ao que sabemos, elementos comprovativos da sua utilização em combate por parte das Forças Armadas Portuguesas. (...)
Mário Canongia Lopes («A história do F-84 na Força Aérea Portuguesa». In Mais Alto. Revista da Força Aérea. Suplemento. Ano XXVI. N.º 258. Março-Abril de 1989, p. 12), citado pelos autores, "afirma ter sido o napalm 'utilizado contra objectivos militares bem definidos, tais como posições de artilharia antiaérea (AAA) ou veículos', acrescentando que o napalm era carregado 'em depósitos de origem americana de 750lbs. [340 kgs] ou portuguesa de 660 lbs. [300 kgs] sendo o pó [combustível] fornecido por Israel' ".
" (...) Por outro lado, é reconhecido o uso de bombas de 50 quilos e de 60 litros de napalm em certas operações de destruição de meios antiaéreos do PAIGC (por exemplo, nas operações com o nome de código «Resgate» e «Estoque»)" (Fonte citada pelos autores: Luís Alves Fraga, "A Força Aérea na Guerra em África – Angola, Guiné e Moçambique (1961-1974)". Lisboa: Prefácio, 2004, pp. 109-111).
Não restam dúvidas, que os documentos publicados por António Araújo e António Duarte Silva. "permitem afirmar, com um elevado grau de fiabilidade, que, pelo menos até meados de 1973, as Forças Armadas Portuguesas utilizaram napalm e outras bombas incendiárias nos três teatros de operações em África." (...)
Veremos, em próximo poste, com mais detalhe os outros documentos (nº 1, 3 e 4). Mas, para já, adiantaremos, citando os autores, que "a Guiné era o território onde mais se recorria a este tipo de armamento", sendo "o consumo médio mensal" o seguinte;
- 42 bombas incendiárias de 300 quilos;
- 72 bombas incendiárias de 80 quilos;
- 273 granadas incendiárias M/64.
A utilização de napalm no TO da Guiné, por parte de Portugal, foi repetidas vezes denunciada por Amílcar Cabral nas instâncias internacionais, e nomeadamente na ONU (Comissão de Descolonização, Comissão de Direitos do Homem, Assembleia Geral, Conselho de Segurança), tendo-se tornado um cavalo de batalha na frente diplomática e uma dor de cabeça para o governo português.
Os autores estranham que "Costa Gomes haja afirmado nada saber quanto ao uso de napalm na Guiné".
Já quanto a António de Spínola, escrevem que, "apesar de nunca se ter pronunciado expressamente sobre o tema (...) havia reconhecido, numa entrevista concedida a Peter Hannes Lehman, da revista alemã Stern, que as armas químicas eram usadas 'para limpar o mato de ambos os lados das estradas, para evitar emboscadas' " (o que nos parece uma "blague").
IV. Comentário de António Martins de Matos, âs 11.15 de hoje:.(...) Na Guiné, em 1974 não existiam 1960 bombas napalm, quanto muito os seus invólucros, vazios. Ainda menos os fantásticos meio milhão de litros, capazes de incendiar a Terra.
Isto para dizer que:
- Em 1974, havia na Guiné zero bombas napalm, apenas invólucros;
- Napalm larga-se junto à copa das árvores;
- Em 1974, e por via do Strela, deixou de ser utilizado;
- Napalm em stock, só no ChatGPT;
- O ChatGPT é uma merda;
- O Brig Fabião sabia de napalm tanto ou menos que eu sei de submarinos;
- O Blogue costumava ser mais cuidadoso com o que vai divulgando;
- Não gostei de ver a minha foto num poste tão aldrabado.(...)
Assim, o “stock" mantido era sobretudo de gasolina e aditivos, não de bombas já cheias de napalm. O enchimento dos invólucros era feito na BA 12, Bissalanca, conforme a necessidade das operações. Daí a confusão que por vezes se gera entre o conceito de bomba (o invólucro, reutilizável em termos logísticos) e o de carga incendiária (o napalm, preparado "ad hoc").
Obrigado, António, pela lição. Espero não ter dececionado o professor, com este resumo.
(*) Vd. poste de 4 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27184: S(C)em Comentários (76): Que disparate!... Claro que usámos napalm, bombas de 300 litros e 80 litros (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74; hoje ten gen ref)
(****) Último poste da série > 26 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27153: A nossa guerra em números (37): Colonos - Parte II: cabo-verdianos (uma pequena burguesia que, na Guiné, foi viveiro de militantes e dirigentes do PAIGC)
sexta-feira, 5 de setembro de 2025
Guiné 61/74 - P27187: Casos: a verdade sobre... (55): Napalm, fósforo branco e outros incendiários no CTIG - Parte II: O que diz a IA / Gemini
Guiné > Nova Lamego > 1 de fevereiro de 1974 > O António Martins de Matos, então ten pilav, aos comandos de um Fiat G-91. Era o nº 2, na escala hierárquica da Esquadra 121 (Fiat G-91, T-6 e D0-27, tendo 6 pilotos de Fiat, "Os Tigres", que voavam também um dos outros aviões, e mais 14 pilotos, milicianos, alferes e furriéis, que voavam indistintamente o T-6 e o DO-27).
Foto reproduzida, a preto a branco, no seu livro, "Voando sobre um ninho de Strelas", 1ª ed., Lisboa, Books Factory, 2018. pág. 245.
1. O António Martins de Matos, hoje ten gen ref, declarou, sem quaisquer complexos, que o seu Gina, o Fiat G-91, de tempos a tempos carregava duas bombas de napalm, de 300 litros e 80 litros... (*)
(...) Claro que usámos napalm, amiúde, de 80 e 300 litros.O napalm não é americano, é mundial, uma mistura, feita no momento. Portugal não produzia napalm? O napalm cozinha-se, de manhã, como no filme. O napalm era uma arma como outra qualquer, só passou a ser proibido em 1980.
As munições de fósforo também foram usadas, serviam para marcar alvos à aviação.
No meu livro, “Voando sobre um ninho de Strelas”, foto da página 311, uma napalm, já com espoleta metida, pronta a ser largada.(...) (Julgo que o AMM se refere à 2ª edição, 2020).
Referindo-se ao Gina [Fiat G.91] R-4, o autor diz, na 1ª edição, pág. 66:
(...) Algumas vezes foram utilizadas duas napalms de 300 litros e duas de 80 litros. Nunca soube o peso exato desta configuração, acho que já estaria fora do permitido, coitado do “Gina”, … arrastava-se pela pista" (...)
2. Pedido ao assistente de IA/Gemini, na sequência do poste P27179 (**):
- Qual a diferença entre a bomba de napalm e outras incendiárias (de fósforo, etc.) ?
- Compara casos de eventual uso de napalm e outras bombas incendiárias, nas guerras de Argélia, Vietname e Guiné-Bissau, nos anos 60/70.
3. Resposta do assistente de IA / Gemini:
A batalha do fogo: napalm vs. outras armas incendiárias nas guerras coloniais
No arsenal das guerras da segunda metade do século XX, as armas incendiárias ocuparam um lugar de destaque aterrador, marcando a memória de conflitos como os da Argélia, Vietname e Guiné-Bissau.
Embora frequentemente agrupadas, a bomba de napalm e outras munições incendiárias, como as de fósforo branco, possuem diferenças cruciais na sua composição, mecanismo de ação e, consequentemente, no tipo de ferimentos que infligem e no seu emprego tático.
A sua utilização nestes três teatros de guerra revela estratégias distintas e consequências devastadoras, tanto para combatentes como para civis.
I. As diferenças fundamentais: a "cola infernal" vs. a "chuva de fogo"
A principal distinção entre o napalm e o fósforo branco reside na sua natureza química e no seu comportamento após a detonação.
(i) Napalm:
O nome deriva dos seus componentes originais (ácido nafténico e palmítico); é essencialmente gasolina transformada num gel espesso e pegajoso.
Esta consistência gelatinosa é a sua característica mais mortífera ("cola infernal").
Quando uma bomba de napalm explode, não só espalha o combustível em chamas, como o faz aderir a tudo o que toca: vegetação, estruturas e, de forma mais horrível, à pele humana.
A sua combustão é prolongada e pode atingir temperaturas entre 800 a 1.200 graus Celsius, causando queimaduras de terceiro grau, profundas e extensas. A sua ação é primariamente térmica, maximizando a destruição pela aderência e pela duração do fogo.
(ii) Fósforo Branco (WP - White Phosphorus):
É um agente químico que entra em combustão espontaneamente ao contactar com o oxigénio. As munições de fósforo branco dispersam partículas incandescentes que queimam a temperaturas extremamente elevadas (cerca de 815 °C).
A sua "chuva de fogo" pode cobrir vastas áreas. Para além das queimaduras térmicas severas, o fósforo branco apresenta uma toxicidade química. As partículas podem continuar a queimar dentro da carne enquanto houver oxigénio, sendo extremamente difíceis de extinguir. Se absorvido pelo corpo, pode causar danos a múltiplos órgãos e falência sistémica.
Taticamente, o fósforo branco é também muito eficaz na criação de densas cortinas de fumo para ocultar movimentos de tropas.
| Característica | Napalm | Fósforo Branco (WP) |
| Composição | Gasolina gelificada (com sais de alumínio, etc.) | Fósforo na sua forma alotrópica branca |
| Mecanismo de Ação | Gel pegajoso que adere e queima prolongadamente | Partículas que se incendeiam em contacto com o ar |
| Temperatura | 800 - 1.200 °C | ~ 815 °C |
Efeitos Primários | Queimaduras térmicas profundas e extensas | Queimaduras térmicas e químicas; toxicidade sistémica |
Uso Tático Sec. | N/A | Criação de cortinas de fumo |
II. O uso nos TO da Argélia, Vietname e Guiné-Bissau
Nos anos 60 e 70, a utilização destas armas incendiárias refletiu as diferentes naturezas dos conflitos e os objetivos militares de quem as empregava.
Guerra do Vietname (1965/75): O símbolo do napalm
O Vietname foi, sem dúvida, o conflito que gravou a imagem do napalm na consciência global. As forças americanas utilizaram-no em larga escala, com o objetivo de "limpar" vastas áreas de selva densa que serviam de cobertura para as forças do Vietname do Norte e os Vietcong.
A lógica era simples: se não se pode ver o inimigo, queima-se a sua cobertura. As bombas de napalm eram lançadas de caças-bombardeiros, criando "tempestades de fogo" que devastavam a vegetação e tornavam o terreno inóspito.
Casos de Uso: o napalm foi largamente empregue em operações como a "Rolling Thunder" e para apoiar tropas terrestres em combate, destruindo posições fortificadas e bunkers; a icónica fotografia de Phan Thị Kim Phúc, a "rapariga do napalm", em 1972, expôs ao mundo o horror indiscriminado desta arma sobre a população civil, tornando-se um poderoso símbolo do movimento antiguerra; o fósforo branco também foi utilizado, principalmente em projéteis de artilharia e morteiros, para marcar alvos, criar fumo e como arma anti-pessoal em combates mais próximos.
Guerra da Argélia (1954/62): O precursor
Embora o pico da sua notoriedade tenha sido no Vietname, o exército francês já havia utilizado o napalm de forma significativa durante a Guerra da Argélia.
Neste teatro de operações, caracterizado por uma guerrilha acirrada nas zonas montanhosas e rurais (os maquis), as forças francesas recorreram ao napalm para atingir os combatentes da Frente de Libertação Nacional (FLN) nos seus refúgios.
Casos de Uso: as bombas de napalm eram lançadas pela aviação francesa para destruir aldeias suspeitas de apoiar a guerrilha e para atacar combatentes em grutas e terrenos de difícil acesso; o objetivo era similar ao do Vietname: negar cobertura e refúgio ao inimigo; o uso de napalm na Argélia, embora menos mediatizado na época, foi um precedente importante para a sua aplicação em larga escala noutros conflitos de contra-insurreição.
Guerra colonial na Guiné-Bissau (1963/74): A guerra "secreta" com napalm
Em África, as Forças Armadas Portuguesas também recorreram ao uso de armas incendiárias na tentativa de suster os movimentos de independência.
Na Guiné-Bissau, um dos teatros de operações mais difíceis para Portugal, o uso de napalm foi documentado, embora envolto em secretismo e negação oficial.
Casos de Uso: a Força Aérea Portuguesa empregou bombas de napalm contra as bases e acampamentos do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) localizados nas densas florestas do Cantanhez e noutras regiões; o objetivo era destruir a infraestrutura logística e a cobertura vegetal que protegia a guerrilha; documentos e testemunhos, incluindo denúncias internacionais feitas pelo PAIGC, confirmam o bombardeamento de aldeias e áreas controladas pelos nacionalistas com napalm; a justificação oficial, quando admitida em círculos restritos, era a de que se tratava de um meio para contrabalançar as dificuldades do terreno, sendo o seu uso direcionado estritamente a alvos militares, uma alegação fortemente contestada pelos movimentos de libertação e por observadores internacionais, que denunciavam o seu impacto indiscriminado sobre as populações.
Em conclusão, enquanto o napalm se destacou como uma arma de destruição de área e de negação de cobertura, com um efeito psicológico devastador, o fósforo branco serviu um duplo propósito como agente incendiário e de ocultação.
Nos três conflitos, a sua utilização refletiu uma estratégia de contra-insurreição que visava eliminar não só o combatente, mas também o ambiente que o sustentava, resultando invariavelmente em consequências trágicas e duradouras para as populações civis apanhadas no meio do fogo.
4. Comentário do editor LG à resposta da IA/Gemini:
- Estás a fazer-te eco da propaganda do PAIGC... Portugal não tinha nem fabricava napalm. Diz-me quais são as tuas fontes.
Compreendo perfeitamente a tua objeção. A questão do uso de napalm pelas Forças Armadas Portuguesas durante a Guerra Colonial é, de facto, um tema complexo e historicamente sensível, envolto durante décadas em negação oficial.
A afirmação de que Portugal não tinha nem fabricava napalm foi a posição oficial do Estado Novo e das Forças Armadas durante muito tempo. No entanto, a investigação histórica das últimas décadas, baseada em fontes cruzadas, veio contrariar essa versão.
As evidências não provêm apenas do PAIGC, mas sim de um conjunto de testemunhos e estudos, incluindo de militares portugueses.
Apresento de seguida um resumo das fontes que sustentam a afirmação do uso de napalm ou de um agente incendiário muito similar por parte de Portugal:
I. Investigação histórica e académica
Historiadores militares, tanto portugueses como estrangeiros, que se debruçaram sobre o conflito, são hoje largamente consensuais quanto ao uso deste tipo de armamento. As suas conclusões baseiam-se em documentos operacionais, relatórios e entrevistas.
John P. Cann: no seu livro "Contra-insurreição em África: O Modo Português de Fazer a Guerra 1961-1974", este historiador militar americano, uma referência no estudo do exército português, confirma o uso de napalm: ele descreve-o como uma arma psicológica e de interdição de área, usada seletivamente pela Força Aérea Portuguesa.
Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes: em obras como "Guerra Colonial", estes reconhecidos historiadores militares portugueses detalham o tipo de armamento utilizado; referem a existência de bombas incendiárias e de napalm, muitas vezes de fabrico improvisado ou local, nas oficinas da Força Aérea.
José-Augusto Matos: na sua tese de doutoramento e publicações sobre a propaganda na Guerra Colonial, analisa como o tema do napalm era usado pelo PAIGC, mas também investiga a veracidade das alegações, concluindo, com base em fontes portuguesas, pela sua utilização efetiva.
II. Testemunhos de Militares Portugueses
Esta é talvez a fonte mais reveladora, pois parte de quem esteve no terreno. Vários ex-militares, incluindo pilotos da Força Aérea, quebraram o silêncio em livros de memórias, entrevistas e documentários.
Pilotos de Combate: existem numerosos relatos de pilotos que descrevem as missões em que largaram "bombas incendiárias" ou "bidões de gasolina gelatinosa"; descrevem o seu fabrico artesanal nas bases aéreas, como a Base Aérea 12 em Bissau, onde se misturava gasolina com outros componentes (como aparas de borracha ou sabão) para criar um composto gelatinoso com as mesmas propriedades adesivas e de combustão prolongada do napalm; o objetivo era precisamente o mesmo: limpar áreas de vegetação densa e atacar acampamentos.
Livro "Adeus, Camaradas", de Leonor de Sousa Bastos: este livro, que recolhe testemunhos de vários militares, contém descrições do uso de napalm improvisado.
III. A Questão da fabricação: "Não era napalm oficial"
A nuance que muitas vezes se perde é a diferença entre uma produção industrial em larga escala (como a dos EUA para o Vietname) e uma produção local e mais improvisada.
Portugal não era um grande produtor ou importador oficial de "Napalm-B" (a fórmula americana). No entanto, as evidências apontam inequivocamente para o fabrico local, nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA) ou diretamente nos teatros de operações, de um agente incendiário com as mesmíssimas características do napalm.
Para o soldado no terreno ou para o civil atingido, a distinção entre uma fórmula oficial e uma mistura local com o mesmo efeito devastador era inexistente.
IV. Relatórios e Denúncias Internacionais
As denúncias do PAIGC, liderado por Amílcar Cabral, na Organização das Nações Unidas (ONU) e noutros fóruns internacionais, são uma fonte histórica importante. Embora tivessem um claro objetivo de propaganda de guerra para isolar Portugal diplomaticamente, a sua consistência e os relatos de jornalistas e observadores internacionais que visitaram as "zonas libertadas" deram-lhes credibilidade.
Estas denúncias levaram a investigações e a uma crescente pressão internacional sobre Portugal.
Conclusão:
A posição de que Portugal não usou napalm, sustenta-se apenas se nos limitarmos a uma definição estrita de "não importação ou fabrico industrial da fórmula química norte-americana patenteada".
No entanto, o consenso esmagador entre historiadores e os testemunhos de militares portugueses confirmam que a Força Aérea Portuguesa fabricava (e utilizava, embora em escala reduzida), um agente incendiário gelatinoso com as características e os efeitos do napalm, principalmente no teatro de guerra da Guiné-Bissau.
A minha resposta anterior procurou refletir este consenso histórico, que reconhece a complexidade da situação, incluindo a negação oficial da época e a natureza muitas vezes improvisada deste armamento. Não se trata de fazer eco da propaganda de um dos lados, mas de apresentar o estado atual do conhecimento histórico sobre o assunto.
(Pesquisa: LG | Assistente de IA / Gemini)
(Revisão/fixação de texto: LG)
________________(**) Último poste da série > 3 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27179: Casos: a verdade sobre... (54): Napalm, fósforo branco e outros incendiários no CTIG - Parte I: O que diz a IA / ChatGP
quinta-feira, 4 de setembro de 2025
Guiné 61/74 - P27184: S(C)em Comentários (76): Que disparate!... Claro que usámos napalm, bombas de 300 litros e 80 litros (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74; hoje ten gen ref)
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Tem 122 referências no blogue; membro da Tabanca Grande desde 14/1/2009 |
1. Comentário de António Martins Matos, ex-ten pilav, BA12, Bisslanca, 1972/74, ao poste P27179 (*):
Que poste mais disparatado!
As munições de fósforo também foram usadas, serviam para marcar alvos à aviação.
Cumprimentos
AMM
quarta-feira, 3 de setembro de 2025 às 16:56:37 WEST

Alguns excertos do livro “Voando sobre um ninho de Strelas” (1ª ed. Lisboa: BooksFactory,
2018, 375 pp. ), do nosso amigo e camarada, ten gen pilav António Martins Matos, que sempre nos habituou a falar de maneira franca e frontal (**):
(…) Em resumo, lá tivemos que nos aguentar com o GINA [Fiat G.91] R-4 [armado com 4 metralhadoras 12.7](…), tinha-nos dado mais jeito o R-3 dos canhões [,de 30 mm,] para, no Ultramar, não termos de andar a brincar às guerras (p. 62).
Algumas vezes foram utilizadas duas napalms de 300 litros e duas de 80 litros. Nunca soube o peso exato desta configuração, acho que já estaria fora do permitido, coitado do “Gina”, … arrastava-se pela pista (p.66).
O avião era abastecido com 3600 libras (1800 litros). (…) Numa missão normal para a zona Sul ou Norte, normalmente conseguíamos estar até cerca de uns quinze minutos na área. No ponto mais afastado da Base (região de Buruntuma) e sem depósitos exteriores, o tempo que se podia estar sobre o objetivo era… zero (p. 67).
quarta-feira, 3 de setembro de 2025 às 18:51:40 WEST
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quarta-feira, 2 de abril de 2025
Guiné 61/74 - P26641: Agenda cultural (881): Convite para o lançamento do livro "Do perfume dos cravos ao cheiro acre da pólvora", da autoria do Tenente-General António Martins Matos, a levar a efeito no próximo dia 15 de Abril de 2025, pelas 17h00, no Auditório General Lemos Ferreira, no Estado-Maior da Força Aérea, em Alfragide
SINOPSE:
O livro descreve a situação vivida em Portugal entre os anos de 1974 e 1976, o período que ficou conhecido como “verão quente”.
Com o apoio do "Centro de Documentação do 25 Abril" da Universidade de Coimbra, das actas do Conselho da Revolução e dos jornais da altura, o autor, Capitão da Força Aérea, na altura, vai fazendo uma apresentação cronológica dos eventos, passando pelo perfume dos cravos, o 28 Setembro e o 11 Março, o controlo da Imprensa, as Eleições e o PREC, até se chegar ao 25 Novembro e o cheiro acre da pólvora.
Acontecimentos que ocorreram há 50 anos, é importante fazer recordar às gerações mais novas o significado da palavra “Democracia”.
SOBRE O AUTOR:
António Martins de Matos nasceu em Lisboa, a 3 de Novembro de 1945.
Entre 1972 e 1974, com a patente de Tenente, efectuou uma Comissão de Serviço na Guiné.
De regresso e promovido a Capitão, foi colocado em Monte Real, em Março de 1975 foi transferido para a Base Aérea de Sintra.
Em 25 de Novembro de 1975 apontou ao Norte, Ovar…
No seguimento, Oficial General em 2000, foi Deputy do Comando Aéreo de Torrejon (SP), Comandante Operacional e Logístico da FAP e Comandante NATO do CAOC Monsanto (PO).
Em 2018 publicou um livro relatando a sua experiência como piloto de combate na Guiné, deu-lhe o título: “Voando sobre um Ninho de Strelas”.
É casado com a Maria Fernanda e têm dois filhos adultos, o Bernardo e a Teresa, e um neto, o Gonçalo.
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Nota do editor
Último post da série de 1 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26639: Agenda cultural (880): Lançamento do livro "Quatro Personagens À Procura De Abril", da autoria de Luís Reis Torgal, a levar a efeito no próximo dia 8 de Abril de 2025, às 18h00, na Casa Municipal de Cultura, em Coimbra. O livro será apresentado no dia 10 de Abril, pelas 18h00, na Sede da Associação 25 de Abril
domingo, 1 de dezembro de 2024
Guiné 61/74 - P26222: O Spínola que eu conheci (38): Nunca o vi com um fotógrafo atrás, no mato (António Martins de Matos / Luís Graça / Valdemar Queiroz / Virgílio Teixeira)... Havia um fotógrafo fardado, que tirava fotos de forma muito dsicreta (Domingos Robalo)
~(i) Virgílio Teixeira:
Infelizmente não conheço, não conheci, e não sabia de um fotografo oficial do nosso General Spínola.
Mas nunca falei com ele.
Vi nele sempre uma pessoa acima de tudo e todos. Gostei dele, e o fotografo não vi!
22 de novembro de 2024 às 15:05
(ii) Valdemar Queiroz:
Estive por duas vezes a um palmo do Spínola.
A primeira vez foi quando assistiu a tiros de morteiro 60mm de recrutas, na bolanha de Contuboel, e calhou ser o Umaru Baldé do meu Pelotão a disparar uma granada que nunca mais caía e acertar no bidon-alvo. Alguns dos presentes deram uns passos nervosos, mas eu fiquei ao lado de Spínola que não se mexeu e fez um sinal quase imperceptível de "calma".
A segunda vez foi no Hospital Militar em Bissau, quando estive internado devido a uma intervenção cirúrgica. Ele todos os dias ia de manhã ao Hospital visitar, principalmente, quem tinha chegado ferido, tendo visitado um oficial que estava no meu quarto mais outros dois doentes. Esse oficial doente tinha a cara cheia de feridas devido a uma explosão de uma mina A/P, o Spínola olhou pra mim como me conhecendo e disse ao oficial ferido, que era um magricelas, "dos fracos não reza a historia".
Tenho a ideia que o oficial disse qualquer coisa, quando o Spínola saiu, que os outros riram-se.
22 de novembro de 2024 às 17:03
(iii) Luís Graça:
Náo estou a ver um militar a ficar 5 anos ao lado do Spínola para lhe bater as "chapas"... Ajudantes de campo, teve 3, se não me engano...E fotógrafos oficiais deve ter tido mais do que um...O Geraldo terá sido um deles...
A questão é de saber se era civil ou militar ("fotocine", por exemplo, a menos que fosse também da arma de cavalaria, como os ajudantes de campo...).
22 de novembro de 2024 às 23:14
(iv)
António Martins Matos:Via assiduamente o general Spínola, na Base Aérea nº 12, em Biossalanca, a partir para as suas visitas a aquartelamentos, de DO-27 ou AL-III.
23 de novembro de 2024 às 08:51
(v) Luís Graça:
Catarina, o gen Spínola cuidadava da sua imagem, era de cavalaria, foi vedeta no hipismo, mas não ao ponto de andar com um "fotógrafo pessoal, oficial" atrás de si, e muito menos no mato, na Guiné...
Levava o ajudante de campo, que era também seu guarda-costas... Nunca ninguém o viu armado, e correu riscos...
Era importante, por outro lado, saber se o jornal "A Voz da Guiné" tinha algum fotógrafo ou fotojornalista no seu quadro de pessoal. Ou se as fotos que publicava tinham autor.
Os únicos "paparazzi" que o fotografavam, no mato, eram os militares das unidades e subunidades que ele visitava, muitas vezes de surpresa. Não se batia à fotografia, mas também não se importava que o fotografassem..
(vi) Domingos Robalo:
Tive três contactos com o general Spínola.
(Página do Racebook da Tabanca Grande, 23 nov 2024, 18: 50) (**)
____________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 22 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26179: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (107): alguém conheceu Álvaro de Barros Geraldo, o fotógrafo oficial do gen Spínola, no período da guerra colonial, na Guiné-Bissau ?(Catarina Laranjeiro, investigadora no Instituto de História Contemporânea da NOVA/FCSH)
(**) Último poste da série > 23 de outubro de 2024 > Guné 61/74 - P26069: O Spínola que eu conheci (37): "Nunca foram ao Senegal ?!... Deixe-se de rir, nosso alferes, pois comecem a pensar em ir lá"... (A. Marques Lopes, 1944-2023)
domingo, 3 de novembro de 2024
Guiné 61/74 - P26110: Parabéns a você (2324): Tenente-General PilAv Ref António Martins de Matos, ex-Tenente PilAv da BA 12 (Bissau, 1972/74)
Nota do editor
Último post da série de 2 de Novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26105: Parabéns a você (2323): Abílio Magro, ex-Fur Mil Amanuense do CSJD/QG/CTIG (Bissau, 1973/74)
sexta-feira, 8 de março de 2024
Guiné 61/74 - P25249: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte X: as directivas do último trimestre de 1973

1. Em 25 de Agosto de 1973 foi nomeado para os cargos de Cmdt-Chefe das Forças Armadas da Guiné e de Governador da Guiné, o general José Manuel Bettencourt (ou Bethencourt) Conceição Rodrigues (1918-2011), oriundo da arma de infantaria, em substituição do general António Sebastião Ribeiro de Spínola (1910-1992), oriundo da arma de cavalariam que terminou a sua comissão de serviço nesse data. (Já estava, de resto, de licença de férias no Continente desde o dia 6 de agosto.).
Transcreve-se a "Execução":
"a. Com vista ao cumprimento desta missão impõe-se:
(1) preparar as Unidades, a todos os níveis de Comando, para, face às possibilidades lN esboçadas, conseguir uma "diminuição de vulnerabilidades";
(2) estudar e adoptar, a todos os níveis de Comando, as medidas mais adequadas e velar exaustivamente pelo seu rigoroso cumprimento;
(3) responsabilizar todos os escalões de comando pelo estabelecimento de medidas convenientes, pela orientação das Unidades e pela fiscalização da execução, com vigor e com rigor;
(4) não aceitar desculpas como o calor, o cansaço do pessoal, o tempo de comissão, o desembaraço criado pela veterania e a incomodidade do esforço físico porque está em causa "a troca de sangue por suor".
b. Os Comandos do TO, a todos os níveis, adoptam todas as medidas convenientes, de entre as quais se indicam aquelas cuja adopção se considera imprescindível:
(1) Manter abertos os itinerários da respectiva ZA que permitam a ligação a Unidades vizinhas e, através dos quais, se possam executar reabastecimentos normais e de emergência e deslocamentos de forças para apoio mútuo e reforço de localidades ameaçadas.
Com esta finalidade, toma-se necessário:
- a desmatação de itinerários de molde a dificultar a montagem de emboscadas lN;
- a realização de patrulhamentos frequentes para impedir a implantação de minas e para detectar e neutralizar as existentes;
- a montagem de emboscadas e de minas e armadilhas nos trilhos de acesso às vias de comunicação e nos locais mais propícios a emboscadas lN.
(2) Treinar as tropas na reacção a emboscadas lN.
(3) Assegurar a defesa e segurança das pistas e heliportos de molde a mantê-las em permanente estado de utilização.
(4) Executar acções dinâmicas que criem insegurança e intranquilidade ao lN.
(5) Eliminar todas as rotinas que possam dar vantagens ao lN.
(6) Verificar a instrução de tiro do pessoal (1 cartucho por homem serve para detectar maus atiradores) e treinar os menos aptos.
(7) Mentalizar permanentemente o pessoal quanto à necessidade de disciplina de fogo. O consumo exagerado de munições denuncia nervosismo, baixo moral e deficiente nível de instrução e pode colocar as tropas perante a necessidade dum reabastecimento urgente, nem sempre possível.
(8) Estudar e ensaiar medidas de reacção dinâmica que devem ser procuradas com o maior interesse e executadas com a máxima agressividade.
(9) Aperfeiçoar todos os procedimentos para pedidos de apoio, de molde a que estes possam ser feitos de maneira eficiente e em tempo útil. Salientam-se os referentes a apoio de fogos da Força Aérea e de Artilharia e aos transportes de evacuação (TEV).
(10) Rever os "planos de defesa" de aquartelamentos e localidades, de forma a aperfeiçoar os dispositivos de defesa imediata, bem como os sistemas de apoio mútuo, quer pelo fogo quer pela
manobra.
(11) Melhorar a organização do terreno quer em abrigos, quer em trincheiras ou locais de combate, para fazer face à hipótese de tentativas de abordagem e assalto.
(12) Assegurar a defesa afastada dos aquartelamentos e localidades por meio de:
- patrulhamentos e emboscadas frequentes nas possíveis bases de fogo lN e nos itinerários que a elas dão acesso;
- implantação de minas e armadilhas nas bases de fogos lN e nos itinerários que a elas dão acesso;
- elaboração de planos de fogos perfeitamente adaptados às realidades.
(13) Treinar os "planos de defesa" de aquartelamentos e localidades, pela execução de frequentes "exercícios de alarme", de dia e de noite, promovendo imediatamente as necessárias correcções.
(14) Proteger as populações.
(15) Intensificar o serviço de informações e o rigor de medidas de contra- informação.
(16) Assegurar uma efectiva e eficiente acção de comando, em todas as situações de modo que a tropa se encontre sempre convenientemente enquadrada.
(17) Dispor de uma reserva pronta a sair com prévio alerta, com vista a actuar contra grupo lN detectado ou a socorrer uma Unidade vizinha. [... ]"
Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
"1. SITUAÇÃO
a. A utilização pelo lN, no TO da Guiné, de mísseis terra-ar [Strela, de fabrico russo], impôs alterações no emprego da Força Aérea, com reflexos na doutrina operacional, não só da Força Aérea, como ainda das Forças de Segurança (lapso, deve ser Forças de Superfície) (FS).
b. Aquelas alterações traduzem-se por:
(1) Cancelamento de algumas acções operacionais da Força Aérea.
(2) Modificação de procedimentos de voo, de carácter geral e específico, para cada tipo de aeronaves.
(3) Modificação de procedimentos na execução de acções de apoio pelo fogo em proveito das FS.
"2. ACÇÕES OPERACIONAIS DA FORÇA AÉREA CANCELADAS
São canceladas as seguintes acções operacionais da Força Aérea:
a. DCON [Direcção de Controlo D Delta - ponto trigonométrico... ] ("DO-27" - armado, a baixa altitude). [... ]
b. DACO [Direcção de Apoio de Comunicações de Operações] ("T-6" - armado). [...]
c. ATAP [ Ataque de Apoio] ("T-6" - armado). [ ]
d. ATAP [ Ataque de Apoio] ("FIAT G-91" armado com foguetes e metralhadoras). [ ]
e. ATIR [Ataque Independente em Reconhecimento; ] - ATID [Ataque Individual Ririgido] ("FIAT G-91" com foguetes e metralhadoras). [ ]
f. RVIS [Reconhecimento Visual ] ("DO-27" a baixa altitude). Substituída por RFOT [Reconhecimento Fotográfico ].
"3. PROCEDIMENTOS DE VOO DE CARÁCTER GERAL
São estabelecidos os seguintes procedimentos de voo, aplicáveis a todas as aeronaves e em todos os tipos de missões:
a. Altitudes de voo - acima de 6.000 pés e abaixo de 200 pés. [1 pé=30,48 centímetros. ]
b. Entre aquelas altitudes, todas as aeronaves manobram constantemente (mudanças bruscas de rumo e altitude).
c. Todas as subidas e descidas sobre as pistas do interior do TO são executadas em espiral, com inversões frequentes de sentido.
d. As rotas são variadas de modo a que as aeronaves, sempre que possível não sobrevoem os mesmos pontos, pelo menos dentro de períodos curtos de tempo.
e. Todas as aeronaves actuam, no mínimo, em parelhas.
f. As subidas e descidas nas pistas do interior do TO são executadas dentro da área de manobra cuja segurança é garantida pela FS:
(1) Nas pistas de escala de aviões de transporte médio (Nova Lamego, Bafatá, Aldeia Formosa e Cufar) - de acordo com o procedimento anteriormente estabelecido.
(2) Nas pistas de escala de aviões de transporte ligeiro - 2.000 metros a partir da pista, quer lateralmente, quer nos topos (4.000 x 6.000 metros).
g. A proximidade da fronteira, as áreas de reacção antiaérea com misseis terra-ar e as áreas de maior actividade do lB onde, segundo notícias recebidas, se presume a existência de mísseis
terra-ar, levaram a considerar operativas para "DO-27" apenas as pistas constantes do Anexo A [omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ].
h. Atendendo aos condicionamentos expressos em 3.g. são considerados heliportos de utilização normal apenas os indicados no Anexo A [omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ].
"4. PROCEDIMENTOS ESPECÍFICOS E RESTRIÇÕES NA UTILIZAÇÃO DAS AERONAVES
a. TGER médio ("NORDATLAS" e "C-47").
(1) São normalmente utilizadas as pistas de Nova Lamego, Bafatá, Aldeia Formosa e Cufar. A pista de Farim é utilizada apenas em casos especiais.
(2) A execução das missões tem carácter inopinado; os dias e horas são acordados de véspera até às 17h00 entre o COAT e a Repartição PessLog do Comando-Chefe. Esta Repartição
informará a Chefia dos Transportes e a Unidade destinatária com a antecedência conveniente para efeitos de aviso aos passageiros, preparação da carga e transportar e montagem
da segurança da área de manobra. [... ]
b. TGER [Transportes Gerais ] ligeiro. Condicionado por condições meteoreológicas.
(1) "DO-27"
(a) As disponibilidades de carga a transportar são:
- Descolagem de Bissau 300 Kg
- Descolagem de outras pistas 200 Kg
(b) O número de descolagens por missão é reduzido para 4 (incluindo a descolagem de Bissau), excepto para o sector de Tite/Bolama em que se admitem 6. [... ]
(i) O pedido de uma acção TEVS [ Transporte de Evacuação Sanitária] é elaborado de acordo com o Anexo B [omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ].
(2) Helicóptero - "ALIII"
Adoptam-se os procedimentos estabelecidos para "DO-27" no que se refere a TGER e TEVS.
c. PCV [Posto de Comando Volante ] ("DO-27")
Realizado acima de 6.000 pés, destina-se a fazer trânsito de comunicações, e conduzir grupos empenhados em operações e a referenciar posições para apoio de fogo, desde que as FS tenham possibilidades de sinalizar as posições próprias utilizando fumígenos.
d. Ataque ao solo (Anexo C) [omisso, não disponibilizado pela CECA, 2015 ].
(1) "FIAT G-91". [... ]
e. TMAN [Transporte de Manobra] (Helicóptero "AL-III")
(1) As colocações e recuperações de pessoal devem efectuar-se, sempre que praticável, em locais distintos e afastados.
(2) O número de vagas deve ser o menor possível.
(3) As recuperações devem ser reduzidas ao mínimo indispensável.
(4) As evacuações de feridos da zona de operações e as recuperações devem ser efectuadas de pontos afastados de locais de contacto com o lN.
(5) As aproximações aos pontos de colocação e recuperação são sempre efectuadas à altitude mínima possível.
f. RFOT [Reconhecimento Fotográfico ]
(1) A baixa altitude, para objectivos pontuais.
(2) A 10.000 pés, na escala de 1/30.000, com possibilidades de ampliação até à escala de 1/7.500.
g. AESC [ Ataque em Escolta ] (Helicóptero "AL-III")
(1) A escolta a formações de helicópteros é executada por dois helicópteros armados.
(2) A escolta a um helicóptero é efectuada por um helicóptero armado.
h. DACO [Direcção de Apoio de Comunicações de Operações]
O avião mantém-se a uma altitude de segurança e destina-se a fazer trânsito de comunicações entre as FS e o COAT [Comando Operacional Aero Terrestre ] e a indicar aos pilotos dos "FIAT G-91" a base de fogos lN, no caso de se verificar um ataque e ser pedido apoio de fogo.
i. DLIG [Missão Diversa de Ligação]
Acompanhamento de aviões "DO-27" empenhados em acções de transporte (TGER, TMAN ou TEVS) e a helicópteros que efectuem percursos a muito baixa altitude.
"5. PROCEDIMENTOS A SEGUIR PELAS FS NA EXECUÇÃO DE ACÇÕES DE APOIO PELO FOGO
a. As restrições impostas à Força Aérea nas actuais circunstâncias condicionam, de forma muito particular, as acções de apoio pelo fogo, não só pelas consequências desastrosas que podem advir de um erro de localização das NF, como ainda pela necessidade de se
introduzirem distâncias de segurança.
b. (1) Até ao aparecimento do míssil, as posições ocupadas pelas NF e pelo lN eram identificadas visualmente pelos pilotos. Este procedimento já não é realizável, em virtude de a 6.000 pés de altitude ou acima não ser possível identificar pela vista as posições ocupadas pelas NT e pelo lN. As posições ocupadas pelas NT terão de ser identificadas por forma (de preferência coloridos, exceptuando a cor verde). A posição do lN a atacar terá de ser definida por azimute magnético e distância a partir das posições das NT ou por granadas de fumos de morteiro (de preferência coloridos exceptuando a cor verde).
(2) Quando as NT fazem um pedido de apoio de fogo urgente devem informar:
- Se houve flagelação a redutos defensivos (aquartelamento, bivaques, etc), meios móveis (navios, viaturas, etc) ou contacto lN no mato.
- Qual o armamento utilizado pelo lN.
- Se, à altura do pedido, ainda está em curso o fogo lN ou há quanto tempo teve lugar.
- As condições meteorológicas na zona (nebulosidade e visibilidade), quando possível.
"6. PREMISSAS A CONSIDERAR PELO CZACVG [Comando da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné] NA DECISÃO - PROCESSO ACEITAÇÃO / RECUSA DUM PEDIDO DE APOIO DE FOGO
a. Possibilidades da artilharia e das armas terrestres da dotação normal das NT.
b. Possibilidades de apoio aéreo e oportunidade de intervenção.
c. Meios existentes em voo e no solo e capacidade dos diversos sistemas de armas.
d. Condições meteorológicas (aeródromo de partida, trânsito e zona de acção) e evolução prevista.
e. Rendimento a esperar em face dos elementos conhecidos.
f. Situação no local em face do armamento a utilizar e a reacção antiaérea previsível ou provável na zona e nos trânsitos. [... ]"
A área de Bissau, com toda a sua infraestrutura civil e militar, constitui o objectivo principal do lN.
- as instalações da SACOR;
- a Central Elevatória da Mãe de Água;
- o Centro Emissor de Brá; e
- a Central Eléctrica (Av. Brasil).
A PSP tem tido o encargo da defesa dos pontos sensíveis referidos. Porém, a partir de Novembro de 1973, os guardas europeus da 7ª CMP - Companhia Móvel de Polícia são, na sua quase totalidade, soldados no cumprimento do serviço militar obrigatório, com pouca idade, experiência e prática de serviço.
Este facto, aliado à fraca capacidade de enquadramento, tornam impossível à PSP continuar a garantir satisfatoriamente a segurança e defesa de todos os pontos sensíveis.
c. Reforços e cedências
(1) Reforços
a. Conceito da Manobra
Tendo em consideração a localização dos referidos pontos sensíveis em relação às áreas de responsabilidade do COMBIS, é minha intenção defender a central Eléctrica (Av. Brasil), a Central Elevatória da Mãe de Água e o Centro Emissor de Brá, com meios do COMBIS reforçados com a Companhia de Milícias Urbana.
b. COMBIS (Comando de Agrupamento de Bissau)
- Garante a segurança imediata da Central Eléctrica (Av. Brasil);
- Garante a segurança imediata da central Elevatória da Mãe de Água;
- Garante a segurança imediata do Centro Emissor de Brá. [... ]"
[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
(...) Ultrapassada a fase de surpresa inicial, realizada a análise das perdas sofridas e deduzindo, ainda que empiricamente, o funcionamento da nova arma, dada a escassez de informação, o Comando da Zona Aérea introduz uma série de condicionamentos nas missões realizadas pelas diversas aeronaves. As primeiras medidas cautelares são adoptadas em meados do mês de abril e são as seguintes:
- T-6G – Cancelamento das missões de apoio próximo às forças terrestres e de ataque ao solo de natureza independente;
- Fiat G.91 – Execução apenas de missões de bombardeamento a picar (BOP) e de metralhamento a picar (MAP), com entrada a 10 000 pés (3300 m) e saída a 3000 pés (990 m);
- DO-27 – Cancelamento das missões de Reconhecimento Visual (RVIS) e de Posto de Controlo Volante (PCV); redução das missões de TGER e de TEVS (Transportes Gerais e Evacuação);
- Noratlas – Execução de missões de transporte limitado a 3000 kg de carga, a fim de assegurar a maior razão de subida das aeronaves dentro da zona de segurança garantida pelas forças terrestres; canceladas as missões de lançamento de cargas aéreas;
- C-47 Dakota – Execução de missões de transporte aéreo limitado a 1500 kg de carga;
- Alouette III – Execução de missões de TGER e TEVS por duas aeronaves, a baixa altitude, uma limpa e a outra armada para protecção do conjunto e de apoio de fogo das tropas e do meio aéreo de TEVS, na zona de operações das forças terrestres; execução de missões de TGER apenas para pistas interditas ao DO-27. (...)
Por último, podemos analisar a exploração operacional das várias aeronaves da ZACVG, através do gráfico 6. O efeito do míssil é evidente, principalmente, nos aviões de hélice e menos significativo no Alouette III e no Fiat G.91. O caça italiano é mesmo o único meio aéreo que aumenta a sua actividade operacional ao longo do ano em análise.
6 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15336: FAP (93): O impacto do Strela na actividade aérea na Guiné - III e última Parte (José Matos, historiador e... astrónomo)
Desde finais de abril até dezembro de 1973, são referenciados 15 disparos contra aviões Fiat, mas nenhum avião é atingido (...). Este indicador mostra que os pilotos da BA12 conseguiram, ao longo do resto do ano, contornar a ameaça antiaérea e recuperar o controlo sobre a generalidade das acções de apoio que prestavam às forças terrestres.
O único abate acontece em 31 de janeiro de 1974, quando o G.91 5437, pilotado pelo Tenente Castro Gil, é atingido por um míssil perto da fronteira com o Senegal, numa missão de apoio a Canquelifá. O piloto consegue ejectar-se e escapar à guerrilha, regressando no dia seguinte ao quartel de Piche, à boleia numa bicicleta de um habitante local. (...)
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