quinta-feira, 7 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23415: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (8): um "annus horribilis" para ambos os contendores: O resumo da CECA - Parte VII: "Gadamael tremeu mas não caiu" (Manuel Reis, "pirata de Guileje", dixit), e isso deveu-se aos seus bravos defensores, com destaque para a atuação pronta, inteligente, corajosa e eficaz do BCP 12, e da FAP


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1973 > Obus 14... Foto do álbum do  J. Casimiro Carvalho, ex-Fur Mil Inf Op Esp, da CCAV 8350 (Piratas de Guileje) e da CCAÇ 11 (Lacraus de Paunca), que passou por Guileje, Gadamael, Nhacra, Paúnca, entre 1972 e 1974... e que é um dos heróis (esquecidos) de Gadamael.

Foto (e legenda): © José Casimiro Carvalho (2007).  
Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação desta nova série "Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra?" (**).

Trata-se de excertos da CECA (2015) sobre estes acontecimentos de maio/junho de 1973. Recordamos Guidaje, Guileje e Gadamael, os famosos 3 G, "a batalha (ou as batalhas) dos 3 G", na véspera da efeméride dos seus 50 anos (que será em 2023).

Felizmente que ainda temos muitos camaradas vivos, que podem falar "de cátedra" sobre os 3 G, Guidaje, Guileje e Gadamael... Outros, entretanto, já não estão cá, que "da lei da morte já se foram libertando"... Do lado do PAIGC, por seu turno, é cada vez mais difícil poder-se contar com testemunhos, orais ou escritos, sobre os acontecimentos de então.

Sobre Gadamael, podemos fazer nossa a opinião do Manuel Augusto  Reis, ex-alf mil at cav, um dos "piratas de Guileje (CCAV 8350, 1970/72): 

"Gadamael tremeu mas não caiu e tal se deve à actuação do Batalhão de Paraquedistas [, BCP 12,] e à actuação EFICAZ da Força Aérea. Como homem no terreno, é minha convicção que se as Forças Paraquedistas demorassem mais 2 ou 3 dias, não era preciso mais, Gadamael teria caído com estrondo, aprisionando ou matando tudo o que lá se encontrava." (**).

E aqui convém repetir o que  escreveu o gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande (e na altura, tenente, que pilotava um dos nossos Fiat G-91, BA 12, Bissalanca, 1972/74, que foram neutralizar Kandiafara, a base do PAIGC; já no território da Guiné-Conacri):

"O que travou o avanço do PAIGC e estancou o tão apregoado 'efeito dominó', propagandeado vezes sem conta por 'Nino' Vieira? A explicação é simples e tem duas vertentes, por um lado a presença do Batalhão de Paraquedistas na área condicionou de imediato os movimentos dos guerrilheiros na zona, por outro lado a Força Aérea Portuguesa (FAP) bombardeou as matas à volta de Gadamael, silenciando várias bases de fogo, e em seguida entrou pelo território da República da Guiné-Conacri, destruindo a maior base de apoio do PAIGC, situada perto da localidade de Kandiafara." (***)


CAPÍTULO III > ANO DE 1973 > 2. Nossas Tropas

2. 1. Ataque lN no Sul a Guileje e a Gadamael Porto

2.1.2. Ataque lN a Gadamael Porto  (continuação)

Operação "Dinossauro Preto" - 2jun a 17lul73

[Nota: É feito um resumo do Relatório de Operações, n.º 16/73 do Cmdt do BCP 12 de jul73.]

A "Missão" consistia em "destacar as três CCPs para Gadamael Porto, onde ficam sob Comando Operacional do COP 5 com missão e actividade a indicar por aquele comando". Nota: CCP 121, 122 e 123 articuladas em 4 GComb a 25, 29 ou 30 homens, conforme as disponibilidades 
em pessoal.

Em 2jun73, a CCP 122 foi deslocada de Bissau para Cacine e no dia seguinte para Gadamael Porto, sempre em meios navais.

Em 2jun, a CCP 123 foi destacada de Cadique para Cacine e em 5jun deslocada para Talaia, em meios navais, e daí em progressão apeada para Gadamael Porto.

Em 11jun a CCP 121 foi deslocada de Bissau para Cacine e em 13Jun para Talaia também em meios navais e nesse dia em progressão apeada para Gadamael Porto.

"Diversos"

"a. O Comandante do BCP 12, ten Cor Para Sílvio Rendeiro de Araújo e Sá, que se encontrava em Cufar no comando do COP 4 recebeu em 5jun73 ordem para se deslocar para Gadamael Porto e assumir o comando do COP 5, substituindo o Major Pára-quedista António Valério de Mascarenhas Pessoa, que em 2jun73, estando em Cufar como adjunto do COP 4, seguira para Cacine em 2jun73, e em 3jun desembarcara em Gadamael Porto com a CCP 122.

O Comandante do BCP 12 nesse mesmo dia seguiu em helicóptero para Cacine, e na manhã seguinte (6jun73), logo que as condições de maré o permitiram seguiu via marítima para Gadamael Porto.

b. Feito o necessário estudo, e verificando-se que o Inimigo exercia forte pressão sobre Gadamael Porto:
  • Flagelando com armas pesadas com bases de fogos na República da Guiné e em território Nacional junto da fronteira;
  • Mantendo observadores avançados para regulação de tiro;
  • Mantendo na área de Gadamael Porto volumosos efectivos de infantaria.

A Manobra a seguir pelas nossas forças assentou nos seguintes pontos:
  • Fazer estacionar dentro de perímetro defensivo o mínimo de forças, e disperso por todo o perímetro, ocupando assim também a periferia dos reordenamentos;
  • Manter em permanência em actividade operacional o máximo de forças, tomando em atenção os efectivos e o período de actuação que se previa longo;
  • Ir aumentando gradualmente a amplitude das acções e operações, por forma a aliviar a pressão sobre Gadamael Porto, e permitir o lançamento de acções e operações sobre os objectivos mais importantes (Sangonhá, Tambambofa, Gadamael Fronteira, Lamoi e Sori Ucreá);
  • Manter liberdade de navegação no braço do rio de acesso a Gadamael Porto mediante ocupação quase em permanência de Talaia e da ponta da península;
  • Impedir a livre actuação de observadores mediante patrulhamentos frequente dos possíveis pontos a ocupar pelos mesmos;
  • Colocar o Pelotão de Artilharia em condições de actuação com rendimento, melhorando os espaldões, acionando o emprego do plano de fogos previsto, garantindo as ligações obuses - PC, e prevendo o apoio directo às forças em operações, face à ausência do helicanhão;
  • Garantir a utilização com rendimento das armas pesadas disponíveis (canhões s/recuo, morteiros médios e metralhadoras pesadas), melhorando os espaldões, preparando os planos de fogos ainda não executados, e garantindo as ligações armas-PC. No caso de morteiros e canhões s/recuo prever o apoio directo às forças em operações, para as distâncias mais curtas, para as quais a Artilharia não podia actuar;
  • Utilizar códigos para conversação em claro, prevendo de preferência a utilização do HF, e distribuir mosaicos gráficos com referências numeradas, para não permitir ao Inimigo tirar partido da escuta que se previa estar a fazer às transmissões das NT;
  • Garantir a evacuação em "sintex" para Cacine de feridos ou doentes, face à ausência de helicóptero para evacuações;
  • Prever, a todo o momento, ajustamentos no plano de actividade operacional, face à actividade desenvolvida pelo Inimigo.

c. Dado que as Companhias do Exército estacionadas em Gadamael Porto se encontravam em condições deficientes, no que respeitava a efectivos, moralização e armamento, o esforço sobre as zonas de contacto provável e de maior amplitude foi exercido pelas CCP reservando-se para aquelas companhias a missão de garantir a liberdade de navegação no braço do rio de acesso a Gadamael Porto."

"Desenrolar da Acção":

De 6jun a 13jul foram efectuadas 31 acções e 8 operações.

A CCP 121 e a CCP 123, em 9 acções, fizeram o treino operacional das 3ª C/BCaç 4612/72, CArt 6252/72 e CCav 8452/72 respectivamente 3, 1 e 5, incluídas nas 31 referidas.

Destacam-se algumas em que houve contacto com o lN.

- Acção COP 5 - 6jun

A CCP 123 saiu da Gadamael Porto em patrulhamento, rumo Norte. Pelas 17h30 o agrupamento foi flagelado em Cacoca 6D8.80 com armas automáticas e LGFog RPG por um grupo ln estimado em 30 elementos.

Na reacção o ln sofreu vários feridos confirmados por abundantes rastos de sangue.

- Acção Bojarda - 10 e 11jun

A CCP 122 saiu de Gadamel Porto em patrulhamento. Em Cacoca 6F6.88, foram detectadas muitas pegadas lN, sendo montada uma emboscada, sem contacto. Pelas 14h00 as NT foram emboscadas em Cacoca 6F2. 78 por um grupo ln estimado em 40 elementos. 

A CCP 122 sofreu 17 feridos ligeiros. Feita a batida, verificou-se que o lN sofreu vários feridos, confirmados por abundantes rastos de sangue. 2 GComb regressaram ao aquartelamento para evacuar os feridos e os outros dois fizeram uma emboscada nocturna sem contacto com o lN.

- Operação Bisturi Negro - 14 e 15jun

A CCP 121 saiu em patrulhamento apeado, rumo Leste, flectindo para NWe depois para Norte. Em Cacoca 6E4.94 foi flagelada durante 45 minutos com armas autom,  LGFog RPG-2 e RPG-7, canh s/r por um grupo lN estimado em 80 elementos que se deslocavam na direcção Leste/Oeste. 

As NT sofreram 1 morto (guia) e 2 feridos ligeiros. Da batida efectuada verificou-se que o lN sofreu 4 mortos confirmados e elevadas baixas prováveis dada a forma como procurou reter as NT com uma segunda linha de fogo com nítida intenção de retirar mortos e feridos, o que foi confirmado por sinais de arrastamento de corpos e abundantes rastos de sangue. 

Foram referenciados elementos de tez clara e o lN utilizou esp autom G-3, metr lig  HK-21 e dilagramas. 

A CCP 121 regressou a Gadamael Porto para evacuar os feridos. Dois GComb voltaram a sair, rumo Leste flectindo depois para Norte. Montaram uma emboscada nocturna. Não houve contacto com o lN.

- Operação Diamante Preto - 17 e 18jun

A CCP 122 a 3 GComb saiu em patrulhamento. Em Cacoca 6F8.65 foi detectado um grupo lN estimado em 20 elementos ao qual foi montada uma emboscada imediata. O lN sofreu 1 morto confirmado e feridos prováveis; foi recolhida uma pá articulada, uma pica e uma granada de
LGFog RPG-2 com carga. 

Reiniciada a progressão o agrupamento foiflagelado do lado da fronteira com 3 granadas de canh sr/, sem consequências.

Foi montada uma emboscada nocturna. Não houve contacto com o lN.

- Operação Gamo Selvagem - 20 e 21jun

Em 20 foi feito um patrulhamento e montada uma emboscada, sem contacto lN.

Em 21 6h30 em Cacoca 6h5.94, a CCP 123 teve um forte contacto frontal com um grupo lN estimado em 80 elementos que na sequência do contacto se instalou em 2 posições sendo uma mais recuada. No contacto inicial as NT sofreram 2 feridos graves e 4 ligeiros, o que não impediu que se lançassem ao assalto, tendo a linha recuada do lN batido as NT com mort 60 mm com o propósito de retirar elementos mortos, feridos e respectivo material. 

O lN sofreu 5 mortos confirmados e muitos mortos e feridos prováveis e foram recolhidas 3 granadas tipo chinês. Foram referenciados elementos lN de tez clara e utilização de esp aut G-3. 

O lN retirou para Leste. A CCP 123 reiniciou a progressão em direcção ao aquartelamento para evacuar os feridos.

- Operação Cobra Ondulante - 23 e 24 jun

A CCP 121 a 3 GComb saiu de Gadamael Porto para efectuar um patrulhamento apeado. Depois de ter seguido vários rumos, em Cacoca 500.18, detectou rastos de viaturas.

Pelas 12h00foi montada uma emboscada em Cacoca 6D1.13. Foi levantada e passada uma hora de marcha, foram ouvidas vozes de elementos IN, tendo sido iniciada a imediata perseguição. Apercebeu-se da existência de um acampamento.

Pelas 13h30, em Cacoca 6D0.19 foi efectuado um golpe de mão imediato a um grupo lN estimado em 40 elementos. Conjugando fogo e movimento as NT transpuseram o que era então um quartel e montaram segurança nos próprios abrigos do lN. 

As NT não sofreram baixas e o lN teve 6 mortos confirmados e muitos mortos e feridos prováveis pelos abundantes rastos de sangue encontrados durante a batida. 

Foram apreendidas:
  • 1 metr lig Degtyarev, 
  • 1 LGFog RPG-2, 
  • 2 esp aut Kalashnikov,
  • 3 pist metr  PPSH,
  • 2 esp Mosin Nagant, 
  • 10 gran de LGFog  RPG-2, 
  • 1 gran de LGFog RPG-7, 
  • 13 tambores pist metr  PPSH,
  • 15 carregadores de esp aut  Kalashnikov, 
  • 3 gran mão ofensivas tipo chinês, 
  • 4 gran mão ofensivas M/62, 
  • 1000 munições 9 mm, 
  • 350 munições 7,62 mm "Soviet", 
  • 50 munições 7,62 mm "Soviet" m/908 e diverso equipamento e fardamento.
Foram montadas uma emboscada nocturna e em 24, uma diurna ambas sem contacto lN.

- Acção Bera - 11jul

Um agrupamento constituído por 2 GComb/CCP 123 e 2 GComb/CArt 6252/72 saiu de Gadamael Porto em patrulhamento apeado em direcção ao cruzamento de Ganturé com a finalidade de fazer o treino operacional da CArt 6252/72.

Em Cacoca 6E2.73 foi encontrado um acampamento ln com cerca de 70 abrigos e restos de ração de combate. Próximo e ao longo da estrada encontravam-se mais de 30 abrigos individuais com disposição que levava a concluir ser uma posição para emboscar a estrada.

Pelas 09H30 ao ser efectuado um reconhecimento das minas implantadas pelas NT em Cacoca 6E9.74 verificou-se que uma armadilha tinha sido accionada pelo l. No mesmo local foram detectadas e levantadas 3 minas A/P  lN e foi accionada pelas NT uma mina A/P  que provocou 1 morto (furriel) e 2 feridos ligeiros. Foram prestados os primeiros socorros e em seguida reiniciou-se a progressão rumo ao aquartelamento.

Pelas 10h15 quando atravessava a estrada Oeste/Leste foram detectadas 2 minas A/C  que foram torneadas em virtude da urgência da evacuação dos feridos e foi encontrado um cadáver em decomposição. Depois da chegada ao aquartelamento, foi feita nova saída para uma batida à zona Cacoca 6F9.75 até ao pontão do rio Sarampita e uma emboscada em Cacoca 6F1.86, ambas sem contacto.

"Ensinamentos Colhidos"

"Os bombardeamentos inimigos a Gadamael Porto em 1jun73 causaram às NT pesadas baixas no aquartelamento, face ao tiro ajustado e, julga-se, ao facto de estarem concentradas na zona do quartel duas companhias, um pelotão de artilharia e um pelotão de reconhecimento, não dispondo essa zona de valas ou abrigos para tal efectivo.

Com base no conhecimento do sucedido, uma das preocupações do novo comando COP 5, foi dispersar ao máximo as forças pelo perímetro defensivo, ocupando também toda a periferia dos reordenamentos, e estacionar dentro desse perímetro o mínimo indispensável do pessoal, mantendo em permanência em actividade operacional elevado conjunto de forças.

Assim, as flagelações a Gadamael Porto a partir de 6jun73 não causaram baixas às NT, sendo digno de referir a fortíssima flagelação de todo o dia 2Jul73 em nada inferior à do dia lJun73, que apenas causou dois feridos muito ligeiros.

Julga-se ser este o procedimento a seguir em situações futuras similares."

Levantamento de minas

O lN procurou dificultar os deslocamentos de Gadamael Porto, sobretudo para nordeste, implantando minas antipessoal e anticarro nas vias de comunicação.

Depois da operação "Dinossauro Preto" já era praticável efectuar a desminagem. Executou-se a acção Barulho, em 19ago73 na zona de Ganturé, por forças do COP 5 e de uma equipa de Sapadores do BCaç 4510/72, na qual detectaram e levantaram várias minas antipessoal e destruíram 2 minas anticarro.  [Nota: Atenta-se à actividade operacional - 2° Semestre, deste Capítulo.

Por se presumir a existência de mais minas, em 10Set, foi feita, na região de Ganturé, mais uma acção pelo COP 5 (Nota: Relatório da acção "Bandido" de 10Set73 do COP 5.). Foram constituídos 2 agrupamentos por forças de 1 GComb/CArt 6252/72, 1 GComb/CCav 8452/72 e por 1 Sec/Pel Mil 235. Transcreve-se:

 "Desenrolar da Acção"

"Pelas 14h00 os agrupamentos saíram do aquartelamento de Gadamael Porto seguindo pela estrada para Guileje. Ao cruzamento de Ganturé (Cacoca 6 FO 75) foi montada a segurança. Procedeu-se depois à picagem da estrada e bermas tendo sido detectadas e neutralizadas 14 minas antipessoal de plástico tipo PMN e detectadas e levantadas 3 minas anticarro TM-46.

Após o levantamento o Agrupamento B regressou ao Quartel e o Agrupamento A patrulhou a zona Cacoca 6 FI 85 onde montou uma emboscada. Pelas 23h00 regressou ao aquartelamento."

Flagelações a Gadamael Porto

O lN continuou a flagelar o aquartelamento mas com menores consequências para as NT. Entre outros ataques (Nota: Consulte-se as flagelações no 2.° Semestre a Gadamael Porto no "Inimigo - actividade militar" deste Capítulo.)
  • em 8nov; 
  • em 11nov, pelas 18h40, com 8 foguetões 122 mm;
  • e em 15nov. 
Desta última relata-se o "Desenrolar da acção"  [Nota: Relatório da flagelação a Gadamael Porto em 15Nov73 do COP 5 datado de l6Nov73

"Cerca das 17h00 o lN começou a flagelar o aquartelamento de Gadamael Porto com dois foguetões de cada vez, indiciando utilizar duas rampas. A flagelação durou cerca de 20 minutos e o lN disparou 15 foguetões da direcção de 80 graus cartográficos medidos a partir de aquartelamento. Os rebentamentos danificaram 3 casas ocupadas pelo pessoal da CCaç 20, as instalações do Comando da CCav 8452/72, uma caserna da CArt 6252/72 e uma antena do STM e causaram 7 feridos às NT, sendo 2 graves, 3 de menor gravidade e 2 ligeiros. Os feridos foram evacuados de "sintex" para Cacine.

Mais uma vez a população invadiu o edifício das transmissões e da enfermaria, abrigo onde aliás muitas mulheres e crianças se mantêm desde o dia 8nov73."

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 334-340. (Com a devida vénia...)

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos e itálicos, pata efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
___________

Notas do editor:


(***) Vd. poste de 1 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16152: FAP (95): de Gadamael a Kandiafara… sem passaporte nem guia de marcha (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

9 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É bom reler o poste do António Martins de Matos:

1 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16152: FAP (95): de Gadamael a Kandiafara… sem passaporte nem guia de marcha (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2016/06/guine-6374-p16152-fap-95-de-gadamael.html


(...) Entre 1 e 3 de junho de 1973 a FAP evitou fazer bombardeamentos na zona, nada a ver com desculpas de mau tempo, Strelas ou AA [, antiaéreas], mas sim por se saber haver inúmeros militares e população espalhados e em debandada por toda a área, só com a chegada dos paraquedistas em 3 de junho de 1973 a situação ficou mais ordenada.

A partir do dia seguinte as áreas suspeitas foram devidamente identificadas, as bases de fogo dos morteiros de 120 mm acabaram por ser bombardeadas e calaram-se de vez.

De seguida foi a busca das armas de maior alcance, situadas para além da fronteira, durante alguns dias ainda se tentaram encontrar as bases de fogos nas clareiras perto de Satiguia, mas a área era demasiado vasta, mereceu um pensamento apropriado: “Em vez de andarmos à procura das formigas, o melhor será encontrarmos o formigueiro”.

Estava lançado o mote para destruir Kandiafara. (...)


Tabanca Grande Luís Graça disse...

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015)

Não encontro aqui qualquer referência à ação da FAP contra Kandiafara ... O que faz "algum sentido": a Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974) é(era) constituída essencialmente por gente do exército... Porquê ? E o papel da FAP e da Marinha não foi relevante ?

O António Martins de Matos, no poste P16152, de 1 de junho de 2016, também não explicita a data precisa em que se realizaram as duas vagas de Fiat G-91 que bombardearam (e "calaram") Kandiafara...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Já agora, e por uma questão de elementar justiça (e de gratidão, da parte dos ex-combatentes da Guiné) aqui fica a ficha ténica do terceiro livro dos "Aspectos da Actividade Operacional - Guiné"

Elaboraram e redigiram este volume da Resenha:

· Coronel de Cavalaria Henrique António Costa de Sousa
· Coronel de Infantaria Álvaro Bastos Miranda

Coordenou e reviu:

· Major-General Henrique António Nascimento Garcia

Contribuíram com elementos indispensáveis:

· Arquivo Histórico-Militar
· Arquivo do Secretariado-Geral da Defesa Nacional
· Direcção de História e Cultura Militar
· Coronel Tirocinado de Cavalaria Pára-quedista Nuno António Bravo Mira Vaz
· Arquivos pessoais de diversos militares

Trabalhos de computador:
· Ass.Téc. Helena Gulamhussen Vissanji
· Soldado RC Luís Paulo de Jesus Gouveia

Digitalização e tratamento de imagem
· Sargento-Ajudante João Carlos Nunes Cordeiro

Cedência de fotografias:
· Jornal do Exército
·Arquivo Histórico-Militar (Serviço Cartográfico do Exército-Divisão de Fotografia e Cinema)
· Major-General Joaquim dos Reis
· Coronel de Infantaria "Cmd" Manuel Ferreira da Silva
· Professor Doutor Carlos Jorge Gonçalves Soares Fabião
· Dr. Luís Lima Bethencourt Palma
· Sr. Nelson Lopes dos Santos

Tabanca Grande Luís Graça disse...

É bom lembrar o que ficou escrito na Introdução, pág. 7, da obra:

Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015)

(...) INTRODUÇÃO

Este terceiro livro dos "Aspectos da Actividade Operacional - Guiné" tem início no ano de 1971 e termina em 1974 com a retirada das nossas forças da Guiné.

Tal como se referiu na primeira obra são completamentares os livros editados pela Comissão para os Estudos das Campanhas de África: 1° volume - "Enquadramento Geral"; 7° volume - Tomo II Guiné - "Fichas das Unidades"; "Subsídio para o estudo da doutrina aplicada nas Campanhas de África", no respeitante à logística no Teatro de Operações da Guiné.

O trabalho foi conduzido pela recolha de uma compilação de elementos, resumo e extractos alicerçados em documentos oficiais como directivas, ordens, planos, normas de execução permanente e diversos relatórios de comando, pessoal, informações, operações e logística.

As matérias que são referidas, eram na maioria, no respeitante à segurança, classificadas,
exigindo a aplicação de medidas de segurança que recebiam consoante os inconvenientes que podiam causar a sua divulgação em graus que iam desde o reservado, confidencial e secreto até muito secreto. Posteriormente foi proposta e autorizada a desclassificação dos documentos pelo que não são agora mencionados os graus que lhes tinham sido atribuídos à época.

Circunscrevemo-nos à consulta dos documentos produzidos à data na Metrópole e aos que na altura foram efectivados e encaminhados para Portugal Continental. Os que foram elaborados e arquivados nos CCFAG e CTIG, embora tenham sido enviados de lá e armazenados no extinto
BCaç n" 5, acabaram por ser destruídos num incêndio. Devido a este, não se pode lucrar com o conhecimento dos seus conteúdos.

As fontes de consulta ficaram limitadas aos arquivos dos SGDN, AHM, CECA e do testemunho de alguns militares.

Sobre as operações e acções tácticas executadas no TO da Guiné são mencionadas as ajuizadas como mais relevantes.

Sendo este trabalho sobre a actividade operacional é nossa intenção destacar, também, o esforço apreciável dos militares no apoio à população na sua defesa, educação, saúde, contrução de aldeamentos e vias de comunicação.

Prestamos homenagem aos Oficiais, Sargentos e Praças, que combateram até ao risco da própria vida, com muita dignidade e valor e cumpriram múltiplas e dificeis missões em prol da população.

Consideramos que a actuação dos militares na Campanha da Guiné, merecidamente, deve constituir um exemplo. (...)

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há lacunas no trabalho (meritório) da CECA... Dou conta que a FAP e a Marinha ficaram de fora...

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Camaradas da Guiné:

Confesso que stava à espera que aparecessem mais comentários sobre a "batalha dos 3 G" (Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 73), mas vejo que a malta está "velha e cansada"... É verdade ? Eu, pelo menos, estou, velho, cansado, protésico, radioativo...

Inclino-me mais para a hipótese de o tema estar "gasto" ou "saturado"... Será que está tudo dito, descrito, esclarecido, comentado... ?

Por outro lado, tenho uam má notícia a dar aos nossos leitores: o que eu temia há muito, aconteceu: já não tenho "on line" a minha página na ENSP/NOVA ("Saúde e Trabalho", criada em 1999!)... A boa boa notícia (ou a menos má...) é que o gabinete de informática vai-me em todo o caso mandar os ficheiros.

Isto quer dizer que deixamos de ter acesso a recursos como as nossas preciosas "cartas da Guiné"... Vou ter que as realojar no blogue, mas numa página àparte...Uma trabalheira de todo o tamanho!

Para já, deixámos de de fazer "links" para as cartas... Até termos o novo "alojamento"...

Não são só as cartas, são também muitas fotos e texto... (Para não falar em centenas de textos meus sobre saúde, que me consumiram anos de trabalho...).

Camaradas e amigos, ajudem-nos a manter o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que fez 19 anos em 23/4/2022. E é o repositório das memórias de centenas e centenas de nós... Mandem-nos colaboração... O blogue precisa de editar quatro postes por dia...para manter a média da produção dos últimos anos... Mandem-nos textos e fotos, histórias, pequenas e grandes, documentos, recortes de jornal, cartas e aerogramas, etc. O blogue é um glutão...

Um alfabravo fraterno para todos, Luís Graça

Anónimo disse...

Manuel Peredo (by email)

Data - 7 jul 2022 19:00
Assunto - Gadamael

Olá camarada Luís Graça.

O blogue tem relançado o tema dos três G e não me parece que esteja a despertar grande interesse,o que é pena.

A mim foi o que mais me marcou dos dois anos de Guiné. Aqui há anos,quando o tema foi muito comentado e discutido e alguns já estavam saturados de tanto falar sobre Gadamael,também dei o meu contributo.

Um dia o João Seabra enviou-me por email o relatório da atividade do meu batalhão, o BCP12,onde tudo está descrito ao pormenor.Para mim tem muito valor,mas não sei se terá algum interesse para o blogue e se alguma coisa poderá ser publicada.

Envio o ficheiro em PDF,mas talvez fosse melhor perguntar ao João Seabra se não há nenhum inconveniente em ser publicado.

Boa leitura e um abraço para o Luís Graça.

Anónimo disse...

A operação Balanço Final, de 17 a 23 de Maio de 73 ( Golpe de mão à base do IN em Nhacobá em pleno corredor de Guileje) , coincidiu com os trágicos acontecimentos no ataque e abandono de Guileje de 18 a 23 de Maio 73.

Guileje é abandonado em 22 de Maio e Nhacobá, por razões que desconheço, foi abandonado em 23 de Maio, embora reocupada, sem contacto com o IN, quer na retirada na noite de 23 quer no seu patrulhamento evitando a sua reocupação

Não sou a pessoa indicada para analisar esta coincidência, já que não sou um estudioso destas causas como muitos amigos deste Blogue, contudo, é evidente que toda a operação de assalto à base de Nhacobá se enquadrou na operação mais vasta de defesa de Guileje.

Do que já li nunca aparece referida a operação Balanço Final ligada aos acontecimentos de Guileje contudo, é por demais evidente a ligação dos dois acontecimentos.

Maio de 73 foi o mês “horribilis”, também para a minha Ccav. 8351, com duas mortes em combate e 6 feridos graves.

Estabilizada a situação de Gadamael, em Cumbijã especulava-se que estava a ser preparada, a partir de Cumbijã/Nhacobá, uma grande operação de reocupação de Guileje. Enfim, como é habitual dizer-se: Vale o que vale. Mas que nos tirava o sono tirava.

Resumo dos meus posts sobre a Operação: Balanço Final:

Dia 17 de Maio 73 - O assalto a Nhacobá:
...mais uns metros e avistamos uma caçadeira (Simonov) encostada a uma árvore e, logo a seguir, um grupo de homens e alguns mulheres e crianças sentados em amena cavaqueira. Avançamos e surpreendemos todo o grupo, creio que um homem foge a gritar Comando, comando!... Não demos um único tiro, acalmamos as mulheres e as crianças, e montamos segurança.
Estávamos nós a tentar obter de alguns elementos do grupo, obviamente assustados, informações relevantes,  tendo em vista o prosseguimento da operação em segurança, quando irrompe um grande “fogachame” com armas ligeiras e RPG. Como estávamos já bem posicionados, ripostámos,   protegendo aos mesmo tempo os elemento da população.

Passados uns bons minutos, que pareceram uma eternidade, a situação acalmou, as metralhadoras calaram-se, permitindo assim o socorro aos feridos, alguns com alguma gravidade. 

Pela surpresa,  pensámos que o grupo de guerrilheiros de defesa da base do PAIGC, depois da forte reação, se tinham já posto em fuga. Contudo, passados uns 15 minutos,  fomos nós surpreendidos por nova investida, agora mais intensa e organizada,   sobre as nossas posições causando mais uns feridos, alguns com gravidade.

Consumado com sucesso o assalto a Nhacobá, tomámos posse definitiva da base do PAIGC pernoitando aqui, evitando a sua reocupação. Não era hora de questionar decisões superiores pelo que, conscientes que nos esperava uma visita do IN antes do anoitecer ..., lá metemos mãos à obra com cada um de nós a abrir um pequeno abrigo com o que tinha mais à mão, neste caso, a faca de mato. Pela primeira vez (e única) fiquei com bolhas nas mãos.

A resposta do IN (felizmente?), chegou cedo e com tudo a que “tínhamos direito”: desde morteirada a RPG, através da outra margem do rio. Dada a distância,  “amochámos” assistindo impotentes ao espetáculo das explosões das granadas de RPG nas copas das árvores, com pedaços de árvore caindo sobre as nossas cabeças, fazendo-se dia com os contínuos clarões e os rebentamento das granadas de morteiro por todo o lado, pois as nossas armas dificilmente alcançariam a outra margem, deixando essa tarefa aos obuses do Cumbijã.
Continua...
Joaquim Costa

Anónimo disse...

20 de Maio 73 – A Ccav. 8351 sofre uma emboscada
Três dias depois, pelas 09H50 a Ccav. 8351 sofre uma emboscada por um grupo In na região de Guileje. Sofrem 1 morto, 1 ferido grave e dois ligeiros. O In sofreu baixas prováveis… (CECA)


Percorridos uns quilómetros, numa zona de vegetação densa, somos emboscados por um grande grupo de guerrilheiros que nos surpreende com um forte poder de fogo de armas ligeiras, RPG e morteiro. Dada a surpresa e a configuração do terreno demoramos algum tempo a reagir.

Depois da surpresa lá conseguimos rechaçar o ataque, fazendo estragos ao IN, mas com consequências dramáticas para nós: um soldado morto, um Alferes ferido com muita gravidade e alguns feridos ligeiros. 

23 de Maio 73 – Retirada noturna de Nhacobá
Chegada a hora da verdade, com toda a gente que não é de cena a sair de cena, ficando só nós entregues à nossa sorte, reparamos que as altas patentes, mais o seu grupo de proteção, também ficou. O tempo foi passando, as conversas das altas patentes continuavam, perturbando o nosso descanso depois de um dia intenso. Estávamos incrédulos, os homens do “pionés no mapa” na frente de combate, pernoitando neste inferno, com uma visita do IN garantida! Eis que, Inopinadamente, por volta das 21 horas, estava escuro como breu..., chega a ordem para preparar todo o pessoal para arrancarmos até Cumbijã. Ficamos todos estupefactos, num misto de alívio e preocupação. Dando crédito ao que se falava entre dentes, estaria para chegar todo o grupo do prestigiado guerrilheiro Nino Vieira (mais tarde presidente da Guiné) para arrasar ... com Nhacobá.
Arrancamos, todos de mão dada (como no jardim de infância), para ninguém se perder no caminho. Lá fomos (Lá vamos cantando e rindo levados..,), novamente, para a nossa linda casinha. Já em Cumbijã (a horas não habituais do IN – 5 horas da manhã), ouvimos uma “trovoada” de explosões na zona de Nhacobá, ou talvez Guileja? Diziam alguns. Provavelmente as duas coisas… se, em Nhacobá, desperdício de munições...uff!
Se me tivessem caído estrelas ou galões nos ombros!!! jamais abandonaria o local naquelas condições. Uma emboscada ou apenas um disparo acidental criaria o pânico com consequências que poderiam ser dramáticas já que se não via um palmo à nossa frente. Foi para todos nós uma caminhada noturna com a tensão nos limites. Nunca entendi a razão de abandonar o local, nem ninguém nos explicou, naquelas condições. O motivo mais plausível, presumo, foi dar entender ao IN que ia-mos ocupar definitivamente o seu antigo refúgio, obrigando-os a enviar forças para defesa deste importante corredor que estavam na eminencia de perder definitivamente. Assim se aliviava (de acordo com os rumores que já circulavam) o cerco que o IN tinha montado ao aquartelamento de Guileje e, saindo pela calada da noite, evitávamos um confronto desigual numa altura em que todos estávamos exaustos (convenhamos que foi de retirada em retirada que Kutuzov venceu Napoleão...).
Depois desta possível “manobra de diversão” (e desta minha “comovente” dissertação sobre estratégia militar), no dia seguinte reocupamos novamente Nhacobá dando a entender ao IN que nunca o abandonamos. Contudo, com a confirmação de Guileje e Gadamael a ferro e fogo, a ocupação definitiva de Nhacobá, pela nossa companhia, deixou de ser prioridade.
Entretanto, acontece o impensável, Guileje, o aquartelamento mais bem fortificado da Guiné, e muito próximo de nós, foi abandonado, no dia anterior à nossa retirada de Nhacobá - 22 Maio 1973, pelas nossas tropas, (uma companhia que se formou ao mesmo tempo que nós em Estremoz, todos nossos amigos)...
Joaquim Costa