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sábado, 21 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26299: No 25 de Abril eu estava em... (35): Fulacunda, região de Quínara, chão biafada (José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74): "entre a euforia e o receio"



Penafiel > Biblioteca Municipal > 15 de dezembro de 2023  > Apresentaçáo do último livro de José Claudino da Silva, "O Puto de Senradelas" (*).  O autor é natural de Penafiel, mas vive em Amarante. Assume publicamente que é filho de pai incógnito, e que foi criado com a avó, que vendia peixe, porta a porta, para sobreviver
... A mãe morreria cedo, em 1 de junho de 1974, estava ele  ainda no TO da Guiné.

"A minha mãe não teve meios de me criar e entregou-me à minha avó. Isso nunca impediu de a respeitar; orgulho-me da minha mãe. Sem ela, eu não estaria aqui. Só passei uma festa com a minha mãe: Foi o último Natal, antes de assentar praça. Ainda bem que o fiz!" (...)

Foto:  Cortesia dos Amigos da Biblioteca de Penafiel (com a devida vénia...) (Edição e legendagem:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2023)



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > 1973 > O José Claudino da Silva junto a cartaz de parede com os dizeres: "Páscoa Feliz, Os Serrotes, Fulacunda". "Serrotes", além de ser o nome de guerra da companhia, era também o título do "jornal de caserna", dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, também nosso grão-tabanqueiro.

Foto: © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Na sua série "Ai, Dino, o que te fizeram!" (**)...,  o nosso grão-tabanqueiro José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), não tem uma referência explícita ao dia 25 de Abril. A última carta, para a namorada [Amélia, sua futura esposa] , de que ele publicou uns excertos, era de março de 1974. Ora no dia 25 de Abril ele  ainda estava em Fulacunda, 

(...) Estou muito perto de terminar esta partilha confidencial de emoções que guardei, sem nunca ter intenção de divulgar. Entre o drama e a comédia, tentei dar-vos uma visão dum soldado que escreveu apenas por amor, num tempo de guerra.

A partir de março de 74, e talvez por influência da mãe e do irmão, a Amélia deixou de guardar o correio que lhe enviava. Embora eu continuasse a escrever, já não o fazia tão assiduamente.

No meu mapa, não está marcado que tenha escrito, por exemplo, no dia 25 de Abril de 1974. Sei que festejei esse acontecimento em Fulacunda mas não me lembro como foi.

Ora, como é lógico, e partindo do princípio que me norteou, não quero citar nada que não possa provar. Contudo, mesmo assim, ainda consegui reaver alguma correspondência sem grande relevância, exceto a última que escrevi. Esta última carta tem 12 páginas que perfazem um total aproximado de 2700 palavras. (...) (*)



2, Excertos  de uma entrevista, que deu há 8 meses, ao "Amarante Magzine", edição de 24 de abril de 2024 (e aqui reproduzidos com a devida vénia):


Claudino Silva: no 25 de Abril senti euforia, mas também receio




(,,,) José Claudino da Silva nasceu em Penafiel em 1950. Serviu nas forças armadas portuguesas entre 1972 e 1974, em Fulacunda, na então Guiné Portuguesa. 

Chapeiro automóvel de profissão, entretanto passado à reforma, é conhecido e reconhecido em Amarante pela fundação do Bosque dos Avós, um projeto de reflorestação lançado em 2018, em terrenos dos Baldios de Aboadela, na Serra do Marão. É autor de vários livros, nomeadamente “O puto de Senradelas – Um Percurso ao Acaso”, apresentado em Amarante em janeiro deste ano.

Numa manhã que despontava com a promessa de mudança, o 1º cabo condutor José Claudino da Silva acordou com uma notícia que lhe despertou um turbilhão de emoções. A 25 de abril de 1974, enquanto o mundo ainda dormia, uma revolta militar eclodia em Lisboa, ecoando até ao coração da então Guiné Portuguesa, onde se encontrava ao serviço da 3ª Companhia do Batalhão 6520 de 1972.

“Confesso que senti uma grande euforia, de que tudo acabara para mim, mas não sem uma sombra de receio”, afirmou a Amarante Magazine. 

Aos 74 anos, este antigo chapeiro automóvel de Penafiel recorda-se bem daquele dia, numa altura em que enfrentava represálias por ter expressado críticas às chefias militares numa publicação interna, editada em finais de 1973.

O medo de retaliação por mostrar contentamento com a revolta era palpável, recorda. “Outras tentativas de revolta, anteriores ao 25 de abril de 1974, fracassaram. E naquela altura estava a ser castigado pelas minhas palavras“, frisa.

Aquele já era um tempo de abalar convicções para o jovem cabo que, no início da sua carreira, se considerava um “militarista”, crente nas razões que o levaram a Fulacunda, bem no interior da Guiné. “Fui para lá convencido que ia defender Portugal”, recorda. (...)


Após o assassinato de Amílcar Cabral, em 20 de janeiro de 1973, e oito meses mais tarde, com a declaração unilateral da independêrncia, em 24 de setembro, o nosso "Dino" começa a ter dúvidas, conforme confessa ao jornalista: 
 
 (...) “Houve uma altura em que comecei a questionar a legitimidade da nossa presença na Guiné, quando vivíamos cercados por arame farpado, num país reconhecido e independente”.

Em 11 de junho de 1974, Claudino da Silva regressou antecipadamenet a Portugal por motivo da morte da sua mãe. Já chegaria tarde para o enterreno: ela tinha morrido no dia 1 (*): 

  (...) “Deixei a minha G3 num canto da cantina [ na altura ele era o cantineiro] e trouxe comigo apenas o essencial: a farda, fotografias, algum dinheiro e as cartas da minha namorada. (...)  Só quando chego a Lisboa é que finalmente percebo que [a guerra] acabou para mim, que já não havia volta a dar”.

Na entrevista dada ao semanário Amarante Magazine, confidenciou que , durante a sua comissão de dois anos, escreveu perto de um milhar de cartas, na sua grande maioria para  a namorada, mas também para a família e amigos. Essa correspondência foi por ele listada e organizada.  Esses e outros escritos (em parte já publicados no nosso blogue), a par do seu álbum de 160 fotografias,  poderão estar na base de um futuro livro com as suas memórias da tropa e da guerra.(***)
 
(...) "Tudo isto é um legado para a minha neta, para que fique a saber quem era o avô e o que ele passou. (...)  Ao longo destes 50 anos, vivi tantas vicissitudes. Nasci e cresci numa condição humilde, mas sempre em evolução. E ainda continuo a evoluir, graças ao 25 de abril de 1974”. (****)

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos e itálicos, parênteses retos:  LG) 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26281: Álbum fotográfico de Ramiro Figueira (ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74) (3)

Alf Mil Op Especiais Ramiro Figueira
Foto 14 – A preparar uma saída com o meu grupo. Atrás de mim, a meter a bala na câmara, o furriel Gonçalves. Mais atrás à direita os furriéis Ferreira (4.º grupo) e Sousa
Foto 15 – O alferes Garcia prepara uma saída com o seu grupo (o 2.º grupo)
Foto 16 – Antes da saída para o reabastecimento em Lala, uma fotografia para o “ronco”… Da esquerda para a direita em cima: Um furriel fotocine que nos visitava, eu de MG42 na mão, o capelão Rui no papel de municiador. Sentados também da esquerda para a direita: o Fenando, um soldado do meu grupo, o furriel Filipe, que foi gravemente ferido num ataque terrível em DEZ 1972, um condutor que não recordo o nome e o alferes Garcia
Foto 17 – Na picada a caminho de Lala
Foto 18 – Chegaram as LDM com o reabastecimento
Foto 19 – A grande confusão no descarregamento das LDM e canoas
Foto 20 – A visita da Cilinha a Nova Sintra. Deu o pontapé no início do jogo. Está ao meu lado, do lado esquerdo da Cilinha o condutor Monteiro, infelizmente não me recordo do nome dos outros. A Cilinha tinha chegado na véspera, dormiu em Nova Sintra e partiu de heli no dia deste jogo
Foto 21 – Eu e o furriel Elias, infelizmente já não entre nós. Atrás o Monteiro. Fotografia tirada a bordo da LDG que nos levou a Bissau, de onde seguimos para o Cumeré, em Julho de 1974

Fotos (e legendas): © Ramiro Figueira, ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 11 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26257: Álbum fotográfico de Ramiro Figueira (ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74) (2)

Guiné 61/74 - P26278: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (31): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte I



Foto nº 1


Foto nº 1A


Foto nº 1B


Foto nº 2A


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)  >  1974 > As NT em patrulhamento  (junho)  e  uma visita de um bigrupo do PAIGC (julho)


Fotos: © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. O Jorge Pinto [ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Turquel, Alcobaça; professor do ensino secundário, reformado; membro da Tabanca Grande desde 17/4/2012 (*), com 57 referências no blogue ] tem um excelente álbum fotográfico do seu tempo de Guiné, e em especial de Fulacunda, região de Quínara. Merece uma revisita, com reedição das suas melhores fotos (**).


Nesta parte I,  publicamos 4 fotos. As duas últimas (nºs 3 e 4) retratam um patrulhamento das NT, feito ainda em junho de 1974, antes da primeira visita dos militares do PAIGC a Fulacunda, já em julho de 1974. 

As fotos nºs 1 e 2 têm a ver com essa visita, em que os guerrilheiros do PAIGC  contactaram com a NT, as autoriades civis e a populção local, de maioria biafada (a ver na Parte II). A digura de proa desse bigrupo era o comandante Bunca Dabó, que atacou várias vezes o aquartelamento e a tabanca de Fulacunda, durante os dois anos em eu que lá estive.

A seu pedido expresso, quiseram conhecer o porto de Fulacunda, por onde era feito o nosso reabastecimento [porto fluvial, no rio Fulacunda, vd, poste P12368].

As fotos evidenciam que a "confiança", por parte deles, ainda estava para nascer!!! ....(Já estávamos em Julho de 1974...)  Também ficou por explicar a utilidade desta visita, pois não fomos fazer nada nem ver nada de novo.

A minha companhia, 3ª C/Bart 6520/72, partiu do RAL 5 em 26.06.72 e regressou a 21.08.74. Teve como comandante o capitão mil inf José João Mousinho Serrote.

Jorge Pinto (fot0 atual à direita)

PS - "A 3. a Comp seguiu em 29lul72 para Fulacunda, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CArt 2772. Em 20ag073, assumiu a responsabilidade do respectivo subsector, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão e depois do COP 7 e novamente do seu batalhão, sendo especialmente orientada para a contrapenetração
no corredor de Guebambol."

Fonte: Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 240.
 
2. Comentário do editor LG:

Jorge, tu tens as melhores fotos de Fulacunda mas também fizeste uma reportagem completa e surpreendente  sobre a visita do  comandante do bigrupo, Bunca Dabó (ou  D'Abó, como tu o apelidaste)...  

É natural que houvesse, ainda, de parte a parte, alguma desconfiança. Afinal, o Acordo de Argel só seria assinado em 25 de agosto de 1974... Mas também era verdade que nenhuma das partes queria retomar as hostilidades...

O que salta à vista, nestas fotos históricas,  é a tua descontração (desarmado e em farda nº 2, fazendo as "honras à casa") em contraste com   o bigrupo do Bunca Dabó que vem "armado até aos dentes" (não faltam RPG e granadas, além das Kalash)... 

Convenhamos que, para uma visita de "cortesia e paz"  aos "Serrotes", a ti, aos teus camaradas e aos teus fregueses de Fulacunda, parece ser armamento a mais...  

Mas sobre esta visita conversaremos melhor  na II Parte.

Boas festas, feliz Natal, uma entrada suave, com paz e saúde, no Novo Ano de 2025. Luís

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Notas do editor:  

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26257: Álbum fotográfico de Ramiro Figueira (ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74) (2)

Alf Mil Op Especiais Ramiro Figueira
Foto 7 - Vista aérea de Nova Sintra


Foto 8 - Reabastecimento em Lala


Foto 9 - Viatura Berliet após accionar uma mina na estrada para S. João. Vê-se da esquerda para a direita o alferes Pereira, o furriel Elias e o furriel Sousa


Foto 10 – A chagada do PAIGC a Nova Sintra. À frente da esquerda para a direita, eu, o major Quinto Cabi, o comissário político e o comandante Tchambú Mané


Foto 11 – Reunião na parada do quartel de costas o tenente coronel Almeida Mira, de boné azul o major Quinto Cabi, de lado o mais alto o capitão Machado e de camisa branca o comandante da milícia


Foto 12 – Na parada do quartel o furriel Duarte conversa com o Bunca Dabó


Foto 13 – Dentro de uma Berliet eu a dizer adeus a Nova Sintra

Fotos (e legendas): © Ramiro Figueira, ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72

(continua)

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Nota do editor

Vd. post de 4 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26232: Álbum fotográfico de Ramiro Figueira (ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74) (1)

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26232: Álbum fotográfico de Ramiro Figueira (ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72, Nova Sintra, 1972/74) (1)

Alf Mil Op Especiais Ramiro Figueira
Vista aérea de Nova Sintra
Foto 1 – Em cima do paiol o meu grupo de combate com material capturado ao PAIGC. Eu estou no meio com uma espingarda Mosin-Nagant na mão. Ao meu lado direito o guia milícia Bunca Turé e do lado direito dele o meu guarda costas, o Lima. O que está de pé, atrás de mim um pouco à esquerda é o Pereira, apontador de morteiro 60. Na estrema esquerda, de óculos, o cozinheiro Rocha
Foto 2 – Eu numa acção de segurança da estrada para Lala para o reabastecimento com as LDM
Foto 3 – Em frente do bunker da MG 42
Foto 4 – Com o homem grande da minúscula tabanca de Nova Sintra, o Malan, quando da entrega da insígnia da sua presença num dos Congressos do Povo que o General Spínola tanto gostava
Foto 5 – Com o comandante Bunca Dabó quando da passagem de Nova Sintra para o PAIGC, ao meu lado esquerdo o comandante do pelotão de milícias
Foto 6 – No desfile da partida de Bissau para a Metrópole acompanhando um coronel que presidiu à cerimónia cujo nome desconheço

Fotos (e legendas): © Ramiro Figueira, ex-Alf Mil Op Especiais da 2.ª CART / BART 6520/72

(continua)

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Nota do editor

Vd. post de 23 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23379: Tabanca Grande (535): Ramiro Alves de Carvalho Figueira, ex-Alf Mil Op Esp da 2.ª CART/BART 6520/72 (Nova Sintra, 1972/74). Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 863

domingo, 21 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25419: No dia 25 de Abril de 1974 eu estava em... (31): Lisboa, de licença de férias, e depois de uma noitada o meu cunhado acordou-me às 9h00: "Eh, pá, já não voltas mais para a guerra" (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)





















Lisboa >Av Lierdade e Marquês de Pombal>  28 de abril de 1974, domingo > Um alferes de Fulacunda, de férias na metrópole, transformado em fotojornalista,captou estas imagens...

Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagemcomplemene: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]



Jorge Pinto
1. O Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) mandou-nos, há tempos, fotos do seu arquivo pessoal relativas ao 25 de Abril de 1974.(*)

Escreveu ele: "Como sabes, tive o privilégio, de estar de férias na 'metrópole' , nessa data. No próprio dia 25, vim de Alcobaça (Turquel) para Lisboa e por aqui permaneci, até regressar a Bissau no dia 3 de Maio."

Nessa altura, enviou-nos fotos f tiradas no primeiro domingo (28.04.74), a seguir ao 25 de Abril, que fora numa quinta feira. (**) 

E explicou-nos que foram  "tiradas junto ao Marquês de Pombal, apanhando manifestação (ões) espontânea(s) que subia(m) a Avenida da Liberdade".

Ontem almoçámos juntos, em casa de amigos comuns, no lugar da Estrada,  
Geraldes, Peniche. (Um belíssimo almoço, acrescenta-se  de "arraia com batata e cebola cozida",  em dois panelões, éramos 16 à mesa, à moda das aldeias ribeirinhas do concelho da Lourinhã.)

Em Fulacunda
Depois de folgar em saber que ele está melhor das suas mazelas músculo-esqueléticas (foi operado ao fémur), falámos desta história do 25 de Abril. E ele esclareceu algunas das minhas dúvidas... 

Se bem percebi, ele já estava em Lisboa no 25 de Abril, deitou.se muito tarde, depois de estar com amigos até às tantas, ficou na casa da irmã,ali perto do Marquês de Pombal e às nove horas, foi acordado abruptamente pelo cunhado, que eufórico lhe disse:
- Jorge, tu já não voltas para a Guiné!

Ele estava a acabar de licença de férias, com viagem marcada  para o dia 3 de maio. 

Como muitos de nós, face à escassez de notícias nerdsa manhã,  ficou na dúvida se se tratava de um golpe militar encabeçado pelo Kaulza de Arriaga, do Spínola ou de outros generais...Com o passar das horas, as coisas começaram a clarificar-se. Não conseguiu chegar ao Terreiro do Paço nem ao Carmo, mas já não saiu de Lisboa, até ao regresso a Fulacunda.

Tomou o avião no dia 3, voltou a Fulacunda que foi atacada em força com canhão s/r no dia 7...Terminou a comissão em junho, mas só regressou em setembro... Nessa altura, além do 3ª C / BART  6520/72,  Fulacunda dispunha  do Pel MIl 221 e do 31º Pel Art (obus 14 cm).  

PS - O Jorge Pinto trabalhava na União Gráfica, como revisor de texto,  e já tinha o 1º ano da licenciatura em História, quando foi chamado para  tropa.

2. Comentário do editor LG:

Jorge, recuperei e reeditei as tuas fotos, que ficam para a história do nosso blogue

São de uma manife (o vocábulo já foi grafado pelos nossos dicionaristas...) do dia 28, domingo...

Como escrevi na altura (28 de fevereiro de 2016, também domingo), há 8 anos, há um certo olhar "naïf" do fotógrafo de Alcobaça, ou se calhar, mais de Fulacunda do que Alcobaça ... Afinal, só agora fico a saber que já vivias e trabalhavas em Lisboa.

Nessa altura eu estava a viver e a trabalhar em Mafra, e o dia 25 de abril de 1974, quinta-feira, foi de alguma inquietação, ansiedade, incredulidade e depois de alegria... Também eu bão sabia de que lado é  que estavam as tropas sublevadas... Pela "Máfrica", a EPI, estava tudo aparentemenet calmo... Já não tenho a certeza se nesse fim de semana fui a Lisboa, mas fui, isso sim, ao 1º de maio... Irrepetível, esse 1º de maio histórico.

Tenho pena de nessa época não fazer fotografia!... Nem se quer tinha máquina...

De facto, foste fotojornalista de ocasião, e estas fotos, mesmo de amador, vão ter daqui a muitos anos grande valor documental... Aliás, já têm... Não é todos os dias que a História nos entra pela porta dentro... No teu caso, pela porta dentro do quarto adenetro de um alferes miliciano, em férias, e com bilhete marcado de regresso a Bissau (e depois Fulacunda, na região de Quínara, lá no cu de Judas)...

Por outro lado, até o analista do mercado automóvel e o sociólogo é capaz de achar piada às tuas fotos: está ali o Portugal no seu melhor em autorrodas: os Fiat 127, os minis, a carroça do burro, a Panhard AML 60... para além os marinheiros aventureiros, os briosos cavaleiros do RC 7, e até as "flausinas" da Reboleira e arredores!...

É um retrato socioantropológico do teu, do nosso Portugal dos anos 70... Espantoso, ternurento, humano, ingénuo, lírico, desconcertante, espontâneo, mágico, solidário, piroso, popular, desenrascado, enrascado, generoso, sonhador, interesseiro, sublime...

O Portugal no seu melhor, que o Zé Povinho éramos todos nós, fomos todos nós, que aguentamos há mil anos a insustentável leveza deste estranho e fascinante país à beira mar plantado, destruído,replantado, recontruído, inventado, reiventado... Representado, aqui, neste blogue pelos melhores dos seus filhos!
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Notas do editor:

(**) Último poste da série > 18 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25404: No 25 de Abril de 1974 eu estava em... (30): Em Bolama, à espera do meu "periquito"... Embarquei nos TAM, em meados de maio, a expensas minhas (João Silva, ex-fur mil at inf, CCAV 3404, Cabuca; CCAÇ 12, Bambadinca e Xime; CIM, Bolama, 1972/74)