Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta BART 6520/72. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta BART 6520/72. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26486: As nossas geografias emocionais (43): A Fulacunda do meu tempo (José Claudino da Silva, "Dino", ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART /BART 6520 / 72, Fulacunda, 1972/74) - Parte II


Foto nº 18A > Fulacunda > Obus 10, 5 (2 º Pel Art,  em 10/4/1974; em 1/7/1973, havia o 31º Pel Art, obs 14cm; em 1/7/72, ao tempo da CART 2772, não havia artilharia)


Foto nº  19 > Fulacunda > Foz do rio Fulacunda > Morteiro médio 81


Foto nº 17A > Fulacunda >  Obus 10,5 

Foto nº 20A > Fulacunda : Metralhadora pesada não identificada. (Seria uma arma, de fabrico soviético, apreendidfa ao PAIGC ?).

Foto nº 21 > Metralhadora pesada Browning  (e também antiaérea) 12,7

Foto nº 31A  > Fulacunda > Jipe, com o "Dino" ao volante

Foto nº 22A > Fulacunda >  Foz do rio Fulacunda  (ficava a 2 km do aquartelamento)>  O Dino


Foto nº 35A >  Fulacunda > Foz do rio Fulacunda > Partida de embarcaçáo (civil)


Foto nº 35 > Fulacunda > Foz do rio Fulacunda > Partida de embarcaçáo (civil), 
na maré-alta


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) > s/d > Fotos do álbum do José Claudino da Silva. Legendagem do editor, sujeita a revisão.


Fotos: © José Claudino da Silva (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. Mais um lote de  fotos de Fulacunda, parte de um conjunto de 36 fotos extraídas de "slides", tirados pelo fotógrafo da companhia. Enviadas pelo José Claudino da Silva, em 18 de janeiro passado. Sem legendas.


O José Claudino da Silva ("Dino", para os amigos) tem cerca de 6 dezenas de referências no nosso blogue para o qual entrou em 10/10/2017. Natural de Penafiel, vive atualmente na Lixa, Felgueiras. Foi 1º cabo cond auto, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74.

(Seleção, edição e legendagem das fotos: LG)

______________

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - 26484: História de vida (54): José Claudino da Silva (ex-1º cabo cond auto, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74): de "puto de Senradelas" (Penafiel) a "bate-chapas" (Amarante), de criador do Bosque os Avós (Serra do Marão) a homem de letras...





"E QUANDO SOMOS NÓS QUE FALHAMOS?
Em dezembro de 1972 escrevi 116 postais, aerogramas e cartas para a namorada, familiares e amigos. Recebi 20,
Em dezembro de 1973 escrevi 61. Recebi 21.
Em dezembro de 2024 não escrevi a ninguém.
Recebi 1 da minha neta.
Tudo que escrevi antes, perdeu o valor.






José Claudino da Silva - Página do Facebok, 9 de janeiro de 2025: "Em 2005 acabei o restauro deste carro. Logo a seguir fui despedido. Quando faço algo de jeito..."



José Claudino da Silva

(i) Nasceu no lugar das Figuras, Marecos,  Penafiel,  em 19 de maio de 1950.

(ii) Assume, com frontalidade, que é filho de Mabilde da Silva, e  "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje: que o digam mais de 150 mil portugueses!).

(iii) Foi criado e educado pelos seus avós maternos, José da Silva e Emília da Silva Queirós, tendo ficado apenas ao cuidado da avó, quando o avô faleceu em 1953, quando tinha então 3 anos de idade; a partir daí a família vivia do magro rendimento que a avó conseguia, vendendo peixe pelos lugares da aldeia e de outras aldeias vizinhas.
 
(iv) Ingressou na escola primária de Marecos, aos 7 anos de idade, tendo completado os estudos primários aos 11 anos (1957-1961); guarda uma grata recordação, do seu professor, o sr. Cunha.

(v) Fez a comunhão solene na igreja Matriz de Penafiel.

(vi) Começou a trabalhar ainda aos 11 anos na construção civil, onde esteve três anos; posteriormente, enveredou pela profissão de "chapeiro" (ou "bate-chapas", como se diz no Sul, tendo começado na Garagem Central de Penafiel, profissão essa que manteve, durante 50 anos,  até se reformar (em 2012).

(vii) É através dos ensinamentos do professor Cunha, do padre Albano e principalmente do filho do patrão (e depois gerente da Garagem Central de Penafiel), que começou a ter gosto pela leitura, tendo-se inscrito, para o efeitio, na biblioteca itinerante  da Fundação Calouste Gulbenkian, que visitava regulamente Penafiel; passou a ser  o leitor nº 390, e a ter  acesso gratuito aos livros que não podia comprar.

(viii) Em meados da década de 60 participa nas atividades do recreatório paroquial de Penafiel, numa organização ligada à igreja; passa a interessar-se por música e faz parte de alguns eventos, juntamente com alguns cantores amadores de Penafiel.

(ix) Descobre a poesia através de um amigo, que indo para a tropa faz um poema dedicado ao exército de mães, que veem os filhos partir para a guerra colonial.

(x)  Foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal,

(xi) Escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;

(xii) Passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74),

(xiii) Chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré; o dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet,

(xiv) Um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas da companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;

(xv) Faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos.

(xvi) É "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe"; a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(xvii) "Dino", o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(xviii) Faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogramas por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(xix) Como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que "éramos todos colonialistas" e que "o governo português era fascista"; sente-se chocado.


O "puto de Senradelas"
na foz do rio Fulacunda, região de Quínata,
Guiné (c. 1972/73

(xx) Fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1.º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xxi) Em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura).

(xxii) Coomeça a colaborar no jornal da unidade, os "Serrotes" (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia],
com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Melym as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo,

(xxiii) Chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal; como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco.

(xxiv) Dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não... no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda; manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada; em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.

(xxv) É-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas; em 20/3/1973, escreve à namorada sobre o Fanado feminino, mas mistura este ritual de passagem com a religião muçulmana, o que é incorreto; de resto, a festa do fanado era um mistério, para a grande maioria dos "tugas" e na época as autoridades portuguesas não se metiam neste domínio da esfera privada; só hoje a Mutilação Genital Feminina passou a a ser uma "prática cultural" criminalizada.

(xxvi) Depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela (em março/abril de 1973), o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas; o primeiro ferido em combate, um furriel que levou um tiro nas costas, e que foi helievacuado, em 13 de abril de 1973, o que prova que a nossa aviação continuou a voar depois de 25 de março de 1973, em que foi abatido o primeiro Fiat G-91 por um Strela, pilotadio pelo nosso grão-tabanqueiro Miguel Pessoa, hoje cor piçav ref.

(xxvii) Vai haver uma estrada alcatroada de Fulacunda a Gampará; e Fulacunda passa a ter artilharia  (obus 14); 

(xxviii) O "Dino"  faz 23 anos em 19 de maio de 1973; a 21, sai para Bissau, para ir de férias à Metrópole; um grupo de 10 camaradas alugam uma avioneta, civil, que fica por um conto e oitocentos escudos [equivalente hoje a 443 €].

(xxix) Num das suas cartas ou aerogramas, faz considerações sobre o clima, as chuvas; em 19/5/1973; vem de férias à Metrópole, com regresso marcado para o início de julho de 1973: regista com agrado o facto de o pai, biológico, ter trazido a sua tia e a sua avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem dele.

(xxx) Vê, pela primeira vez, enfermeiras, brancas, paraquedistas; apercebe-se igualmente da guerra psicológica; queixa-se de a namorada não receber o correio; manda um texto para o jornal "O Século" que decide fazer circular pelo quartel e onde apela a uma maior união do pessoal da companhia, com críticas implícitas ao capitão Serrote por quem não morre de amores: na sequência disso, sente-se "perseguido" pelo seu comandante...

(xxxi) Vai de baixa médica para Bissau, mas não tem lugar no HM 241; passa o Natal de 73 e o Ano Novo de 1974 nos Adidos; conhece a "boite" Chez Toi onde vê atuar alguns elementos do grupo musical Pop Five Music Incoporated, a cumprir o serviço militar na Guiné;

(xxxii) Grande ataque, em 7/1/1974, ao quartel e tabanca de Fulacunda com canhões s/r, resultando danos materiais, feridos entre os militares e a população e a morte de uma criança.

(xxxiii) Faltam 5 meses para acabar a comissão... e há mais uma "crise" nas relações com a namorada;

(xxxiv) Em fevereiro de 1974, comunca à namorada que tem, já algum tempo, um pequeno negócio: venda de  uísque, tapetes, tabacos de marcas que não há na cantina, isqueiros Ronson, etc.

(xxxv) Neste período escreveu centenas de cartas, aerogramas e postais pra familiares, namorada e amigos; ele estima em mais de 800; possui a maioria delas pois pediu que as guardassem, e prometeu que  jamais as iria reler.
 
(xxxvi) Regressa  à vida civil em 26 de setembro de 1974.

(xxxvii) Casa-se, na  igreja paroquial de Figueiró, Amarante, no dia 6 de setembro de 1975,  com Maria Amélia Moreira Mendes; o casal tem hoje dois filhos do sexo masculino e uma neta.

(xxxviii) Ganha, entretanto, o primeiro prémio dum concurso televisivo da SIC (Paródia Nacional, 1997)

(xxxix) Em maio de 2005, estando  desempregado, aproveita para tirar um curso de utilização de computadores; volta a trabalhar em 2006 na mesma profissão, mas agora na reconstrução de automóveis clássicos, para a empresa Solitay Drivers.

(xl) No ano lectivo 89/90 fez o 6º ano no agrupamento de escolas Dr. Leonardo Coimbra na Lixa (curso nocturno); em  2005 concluiu o 9º ano de escolaridade através do CNO (Centro de Novas Oportunidades) na Associação Comercial de Amarante; e em 2009 completa o 12º ano, novamente através do CNO na escola secundária de Amarante, ano em que voltou a ficar desempregado.

(xli) Em 2007 publica o seu primeiro livro (poesia); depois um livro de ficção (o romance “Desertor 6520”, 2013) e, mais recentemente um livro de memórias ("O puto de Senradelas", 2023).

(xlii) Já escreveu dezenas de poemas, crónicas e artigos de opinião para o jornais da região; os primeiros textos que escreveu resumiam-se a algumas cartas e quadras que destruiu quando ele próprio ingressou na vida militar a 3 de janeiro de 1972; 
 
(xliii) Trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde foi vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa (1937-2022), ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, colaborou  em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura.

(xliv) Teve a iniciativa da criação, por volta de 2018,  do Bosque dos Avós na Serra do Marão (Aboadela, Amarante).

(xlv) Foi o autor da exposição fotodocumental "A Vida de Um Soldado",  Casa da Cultura Leonardo Coimbra (Lixa, Felgueiras, 29/11 - 31/12/ 2024),

(xlvi) Tem página no Facebook (desde setembro de 2017).

(xlvii)  É membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande (desde 
 

Fontes consultadas:





 (Recolha, revisão / fixação de texto: LG)
 __________________

Nota do editor:

Último poste da série > 14 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26387: História de vida (53): Mário Gaspar ex-fur mil art, MA, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), lapidador de diamantes reformado... mas começou por ser um "rapaz de Alhandra"

Guiné 61/74 - P26483: As nossas geografias emocionais (42): A Fulacunda do meu tempo (José Claudino da Silva, "Dino", ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART /BART 6520 / 72, Fulacunda, 1972/74) - Parte I

 

Foto nº 25A > O José Claudino da Silva, 1º cabo condutor auto,  â entrada da vila de Fulacunda, ao volante de um Unimog 411





Foto nº 9 e 9A > Fulacunda > Aquartelalmento > A "brigada da limpeza"


Foto nº 8B > Fulacunda > Parte do aquartelamento


Foto nº 4 > Fulacunda > Vista parcial da parada, foto tirada do fortim ou do depósito de água.



Foto nº 4A > Fulacunda > Pau da bandeira, parte da parada e edifício do comando e secretaria



Foto nº  7 > Fulacunda > Parte do aquartelamento... Vista do alto do fortim ou 
do depósito de água.


Foto nº 7A > Fulacunda > Capela


Foto nº 7B > Fulacunda > Caserna



Foto nº 5 >  Fulacunda > Exterior do aquartelamento


Foto nº  11   > Fulacunda > Aquartelamento > Casernas


Foto nº 11A > Fulacunda > Aquartelamento > Casernas, vista do alto do fortim do depósito de água.


Foto nº 8 >Fulacunda > Aquartelamento > Parada, vista do alto do fortim ou do depósito de água.


Foto nº 2 > Fulacunda > Exterior  do aquartelamento


Foto nº 12   > Fulacunda, Fortim > O Dino, de sentinela.

 ("O meu amigo fotógrafo andou comigo a tirar 'slides'. Ainda não sei bem o que é isso mas parece que são fotos de ver projectadas num lençol", escreveu ele em carta para a namorada).


Foto nº 10 > Fulacunda > Aquartelamento > Pau da bandeira, parada e caixote do lixo. Vê-se que é um quartel de construção recente, com aspeto impecável e recolha de lixo regular.


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)  >  s/d >  Fotos do álbum do José Claudino da Silva. Legendagem do editor, sujeita a revisão.


Fotos: © José Claudino da Silva  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



José Claudino da Silva,
 "chapeiro" em Amarante,
 agora escritor; é também o criador
do Bosque dos Avós,  na serra do Marão.

1. Fotos de Fulacunda: seleção de um lote de 36 fotos extraídas de "slides", tirados pelo fotógrafo da companhia. Enviadas pelo José Claudino da Silva, em 18 de janeiro passado. Sem legendas.


O José Claudino da Silva ("Dino", para os amigos) tem cerca de 6 dezenas de referências no nosso blogue para o qual entrou em 10/10/2017

(i) natural de Penafiel, começou a trabalhar aos 11 anos de idade, na construção civil;

(ii) residente em Amarante;

(iii) bate-chapas, reformado;

(iv) ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART /BART 6520 / 72, Fulacunda, 1972/74; 

(v) "self made man" ou "homem que se fez a si próprio", concluiu em  2009 o 12º ano   através das programa das "Novas Oportunidades";

(vi) escritor, é autor de três livros, um de poesia (2007) e outro de ficção (2016), e mais recentemente um outro, de memórias  da infância e adolescência ("O *uto de Senradelas",  2023);

(vii) membro nº 756 da nossa Tabanca Grande;  

(viii) é autor da novável série "Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva".


(Seleção, edição e legendagem das fotos: LG)
________________

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26442: As nossas geografias emocionais (37): A Fulacunda do meu tempo (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)








Foto nº 1, 1A e 1B



Foto nº 2 e 2A


Foto nº 3 e 3A



Foto nº 4 e 4A

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda 3ª C/Bart 6520/72 (1972/74) > Aspetos do  quotidiano da população civil de Fulacunda (Fotos nºs 2, 3 e 4); porto fluvial de Fulacunda (a 2 km a nordeste do aquartelamento): reabastecimento quinzenal: mantimentos, caixas de munições, sacos de arroz para a população, etc.  (foto nº 1).


Fotos (e legenda): © Jorge Pinto (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]


1. Mandei há dias uma mensagem ao Jorge Pinto com o pedido de resposta a várias perguntas:


Dá uma vista de olhos por este poste com mais fotos tuas "melhoradas", e com alguns acrescentos meus nas legendas (*).

Confirma ou corrige, por favor:



(i) a população de Fulacunda andava à volta das 300/400 pessoas ?


(ii) a tropa, cerca de 220 ? (3ª C/BART 6250/72 + 1 Pel Mil + 1 Pel Art)


(ii) o PAIGC, quantos bigrupos teria no teu subsetor (Fulacunda) ? um ou dois, no máximo...


(iii) não havia bolanhas, não havia comerciantes... logo o arroz vinha de fora...


(iv) mancarra ou milho painço ? (a mim parece-me milho, ou sorgo, diz o Cherno Baldé);


(v) população: só biafada ? balantas também ? as milícias eram fulas ? E,se sim, originárias donde ?


Manda mais fotos destas, se tiveres... Um chicoração, Luis

PS - Sei que o Fernando Carolino, cunhado do Juvenal Amado, e que foi alferes da tua companhia, e vive am Valada de Frades, tem "slides" de Fulacunda...


Dá um jeitinho, tu e o Juvenal para ele se juntar ao blogue e partilhar essas fotos (Diz-lhe que essas fotos vão parar um dia ao lixo, os netos não vão querer saber nada da Guiné, e muito menos de Fulacunda, e nós temos o dever de as salvar...



2. Resposta do Jorge Pinto:

Data - 25/01/2025, 22:05
 
Boa noite , Luís

Hoje, decidi que não adiaria mais a resposta ao teu mail. Vou tentar responder às questões que colocas e enviar mais umas fotos de Fulacunda e Bissau...

(i) Quanto à população de Fulacunda seriam mais ou menos 400 pessoas de etnia Biafada;

(vi) Havia uma família Balanta em que chefe de família usava sempre com um chapéu de cipaio, todo o dia pedia vinho ao nosso vagomestre e estava quase sempre metido em desacatos na tabanca.(Parece que o pai é que tinha sido cipaio, ou seja,elemento da "polícia administrativa, antes da guerra.)

 Havia, ainda, uma família Fula, pacata e que caçava às vezes umas gazelas que nos vendia, bem caras. (Havia pouca caça, em redor de Fulacunda.)

(ii) Toda esta população tinha familiares nas tabancas do mato que rodeavam Fulacunda e que muitas vezes vinham de visita, nos davam algumas "informações" sobre o movimento do bigrupo de Bunca Dabó, levando em troca uns quilos de arroz.
 
O pelotão de milícias era composto por uns 35 / 40 elementos, comandados pelo alferes Malá, homem grande e muito respeitado, com uma idade aproximada de uns 55 anos.

(iii) Em Fulacunda não havia comerciantes. Existia uma "mini e velhinha loja", pertença de um libanês ausente em Bissau e que às vezes um "rapazola" da tabanca abria para vender à população uns panos (tecidos) que ele enviava pelo barco que nos reabastecia.
 
Havia muito pouca atividade agrícola. Apenas era cultivada a área em redor do arame farpado que circundava todo o aglomerado. Cultivavam principalmente mancarra e algum milho painço. O alimento da população era basicamente o arroz fornecido pela tropa. (Os homens eram milícias, as mulheres lavadeiras... Enfim,. "economia de guerra"...)

Envio 5 fotos. A última foi tirada em Bissau, um ou dois dias antes do nosso regresso, por volta de 23 de agosto de 1974. Quem não conhece esta esplanada?!!!
[Será publicada noutro poste.]

As outras foram sendo tiradas em Fulacunda, durante os dois anos de comissão. (**)

Forte abraço e desejo de boa saúde, Jorge.


3. Em conversa o telefone, o Jorge Pinto adiantou ainda mais as seguintes informações adicionais:

Fulacaunda era uma terra importante amntes da guerra. Tinha um porto fluvial a 2 km, no rio Fulacunda, afluente do Geba (e, portanto,com fácil ligação a Bissau). 

Além disso, era um ponto de cruzamento de várias estradas, conforme se pode ver na carta da antiga província da Guiné (1961) (escala 1 /500 mil):

  • para oeste/noroeste, Enxudé, Jabadá. Tite, Bissássema..); 
  • para sudoeste (São João, Bolama); 
  • par sul/ sudeste: Nova Sintra, Buba, Aldeia Formosa, Empada)...

A leste tinha formidável barreira do rio Corubal, cujas margens e bolanhas eram controladas pelo PAIGC (pelo menos até 1972, ano em que foi reconquistada a península de Gampará, a nordeste de Fulacunda).

Antes da guerra havia uma numerosa população (uns 4 tabancas) à volta da vila, que era sede de circunscrição, com casas de estilo colonual, uma delas a do administrador. A população refugiou-se no mato, ficando sob controlo do PAIGC. A restante (c. 400) foi a que ficou em Fulacunda. Tudo a gente com família no mato (na guerilha ou na população sob controlo do PAIGC=...

Havia, para leste, junto ao rio Corubal, margem esquerda, duas grandes bolanhas, que continuaram a ser cultivadas, e que eram uma importante fonte de abastecimento de arroz para o PAIGC (tral como as bolanhas do outro lado rio, no sector L1, subsetores de Xime, Mansambo e Xitole):  Guebambol e Canturé (a tropa chamava-lhe Cantora, nesse tempo, diz-me o Jorge).

Havia cerca de 220 homens em armas em Fulacaunda: 

  • a 3ª C/BART 6520/72;
  •  1 pleotão de milícias (comandado pelo prestigiado alf de 2ª linha Malan;~
  •  1 pel art, com 3 obuses 14 cm.

O PAIGC tinha um  bigrupo na zona, comandando pelo Bunca Dabó. 

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 18 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26400: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (35): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte V

(**) Último poste da série > 27 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26429: As nossas geografias emocionais (36): Fulacunda, sempre!... (Henk Eggens, médico neerlandês, a viver em Portugal)

terça-feira, 28 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26435: Memórias de um "Serrote" (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, "Os Serrotes", 1972/74) (1) Periquito, de rendição individual, e confuso logo à chegada a Bissau, em relação à pragmática da tropa...




Guiné > Bissau > Agosto de 1974 > Sem legenda: "Confeitaria", café-esplanada... Av da República  (hoje Av Amílcar Cabral)  (?)... O Jorge Pinto tem uma foto igual, tirada uns dois ou três dias da regresso da 3ª C/BART 6520/72.  


Foto: © Fernando Carolino (2025). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O Fernando Carolino  já aqui publicou,  há uns largos anos (*), um poste com fotos do seu álbum, relativas a Fulacunda, onde fez a sua comissão de serviço, como alf mil, de rendição individual, na 
3.ª CART/BART 6520/72, "Os Serrotes" (Fulacunda, 1972/74)

Afinal,ele é contemporâneo (e conterrâneo!) do nosso Jorge Pinto, também ele alf mil, desta subunidade, e membro da nossa Tabanca Grande.

Fernando Carolino,
setembro de 1973
O Fernando Carolino, que é natural de Alcobaça, mas vive em Valado de Frades, Nazaré, mandou-nos, através do seu cunhado, o Juvenal Amado, um primeiro texto e fotos da Guiné. 

Estou a aguardar o seu OK em relação à sugestão que lhe fiz para criar uma série com o seu nome, e à sua aceitação do nosso convite (que já vem de 2016) para integrar a Tabanca Grande.

Para já vamos publicar um primeiro texto, nesta série, com título provisório, "Memórias de um Serrote". Também já lhe sugerimos outros títulos: 

(i) "Em rendição individual, colocado no fim do mundo (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)";

(ii) "Des(a)venturas de um alferes miliciano (Fernando Carolino, 3ª C/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)";

(iii) "Memórias de Fulacunda (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)".

 Recorde-se que a 3ª C/BART 6520/72 publicava um jornal de caserna, mensal, "O Serrote", de que era diretor o Jorge Pinto. 


Periquito, de rendição individual, e confuso logo à chegada a Bissau,
 em relação à pragmática da tropa...

por Fernando Carolino



Primeiro episódio de uma passagem pela Guiné

Pleno inverno, talvez novembro, muito frio em Lisboa, quando embarquei em avião da TAP rumo à Guiné.

Ia em rendição individual, preencher o lugar deixado “vago” por outro alferes miliciano no aquartelamento de Fulacunda, que seria para mim na altura um qualquer fim de mundo.

Chegado o aparelho voador ao aeroporto de Bissau, porta aberta e vamos sair. O impacto do ar exterior deixou-me quase em choque: o corpo ficou de imediato molhado com a roupa a colar-se ao corpo, numa sensação de enorme desconforto.

Refleti: será que vou aguentar isto…. ?

Lá fui andando de indumentária número dois (ou um) com sapato fino, boné de pala e galões de alferes a condizer.

Levava comigo uma guia de marcha que mencionava QG e Fulacunda,  se bem me lembro, mas que eu não sabia bem o que eram ou onde as encontrar.

Fui seguindo de mala de viagem na mão, não sabendo bem para onde, esperando encontrar talvez um militar que me pudesse dar uma ajuda.

Não era difícil afinal encontrar militares. Havia muitos pela rua para onde quer que olhasse. Mas, comecei a sentir-me deslocado: é que todos que vi estavam vestidos de camuflado e eu com fatinho “chique”. 

Senti-me terrivelmente mal, a ponto de decidir imediatamente alterar a situação. Lá consegui encontrar uma espécie de “café”, entrei, devo ter pedido qualquer coisa para beber (não me lembro), e procurei uma casa de banho para mudar de farda. Abstenho-me de descrever a qualidade ou o estado do local.

Mudei-me e voltei para a rua muito mais confiante. Estava como todos os outros: fato de
trabalho…quer dizer de combate.

Percorridos uns poucos metros parou junto de mim uma viatura da PM. Mostraram intenção de falar comigo e parei. Pediram-me a identificação e mostrei-lhes tudo o que tinha, nomeadamente a guia de marcha. Logo verificaram que se tratava de um oficial, fizeram a respectiva continência e… de forma muito correcta informaram: 

− O meu alferes desculpe mas está em trânsito, não está de serviço, e não pode por isso estar de camuflado.

Não queria acreditar! 

− Acabei de mudar-me agora mesmo − expliquei. 

− Pois, mas não pode. Se quer ir para o QG é melhor vir connosco na viatura.

−  Pois então calha bem. Não terei que ir a pé para um sítio que não sei onde fica.

E lá fomos. Chegados ao local, apresentações num gabinete, explicação da situação e, em pouco tempo tudo se resolveu. O superior hierárquico ali presente decidiu: 

− Como o senhor é novo aqui, fica de oficial de dia e, estando de serviço,  já a farda fica a condizer.

E assim já não tive que voltar a mudar de indumentária.

Foi um primeiro episódio de uma longa estadia por terras da Guiné.

Gostaria que todos os episódios que se seguiram fossem tão pacíficos.

(Revisão / fixação de texto: LG)

__________________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 17 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15761: Memória dos lugares (334): Fulacunda (Fernando Carolino, ex-alf mil, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Alcobaça, a viver em Valado dos Frades, Nazaré)

sábado, 18 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26400: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (35): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte V


Foto nº 1A  > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Colheita da mancarra (ou milho painço?... É sorgo, diz o nosso especialista Cherno Baldé).

Aqui os homens também trabalham! Em Fulacunda praticamente não havia atividades. Cultivava-se apenas junto ao arame que rodeava a tabanca, alguma mancarra, milho painço, pescava-se muito pouco, apanhavam-se cestos de ostras que cozinhávamos como petisco ao final do dia e havia um milícia que às vezes caçava uma gazela e nos vendia a “preço de ouro”.


Foto nº 1B  > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Colheita de sorgo.



Foto nº 2A Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Fazendo tijolos de adobe para uma morança. Durante a minha estada em Fulacunda, construíram-se apenas umas 3 moranças novas. As NT deram a sua ajuda preciosa


Foto nº 2B >  Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Fazendo tijolos de adobe para uma morança (2).


Foto nº 3 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Fonte dentro da tabanca. Furo feito pela companhia dos “Boinas Negras”, 1968/69 (?) [CCAV 2482, "Boinas Negras",  30 de junho de 1969 / 14 de dezembro de 1970]. 





Foto nº 4 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Horta do Tobias. Alguns soldados e gente da tabanca, sob a orientação do furriel Tobias,  dedicaram-se a esta horta que, como se vê, era bem verdejante, mesmo na época seca. Graças a ela tínhamos, couves, alfaces, pimentos e outras hortaliças.No lado esquerdo, vè-se uma picota (para retirar água de um poço).


Foto nº 5 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) >  Avó com filho de soldado branco. Em Fulacunda, verifiquei que havia 4 crianças filhas de soldados brancos,  pertencentes a companhias anteriores. Também verifiquei que apenas uma das mães continuava a viver em Fulacunda.


Foto nº 6 > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Lavadeiras. Fonte antiga. Todos os soldados tinham a sua lavadeira. A lavagem da roupa era feita na tabanca com água retirada através do único furo (foto nº 3), feito por uma companhia de caçadores estacionada em Fulacunda em 68/69 [ou melhor, 69/70], e que penso chamar-se “Boinas Negras” [ CCAV 2482, "Boinas Negras", subunidade que esteve em Fulacunda entre 30 de Junho de 1969 e 14 de Dezembro de 1970, data em que foi rendida e partiu para Bissau]. Contudo, quando havia muita roupa para lavar, as lavadeiras deslocavam-se à fonte antiga (foto), que se localizava na parte exterior do aquartelamento e portanto sujeita a “surpresas” [acções do IN].


Foto nº 7A > Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Vista aérea do quartel (à direita) e "reordenamento" (à esquerda)


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 7 > Vista aérea da pista, da tabanca e do aquartelamento de Fulacunda... Tentativa de reconstituição de:
  • perímetro de arame farpado (a amarelo, tracejado);
  • espaldões (artilharia, armas pesadas...) e abrigos (a vermelho, círculo);
  • área cultivável em redor do arame farpado (a verde, linha)... 

No sentido su-sudeste / nor-noroeste, vê-se a pista e o heliporto...Para a esquerda era o porto fluvial .  

Pelas minhas contas, o observando a foto aérea, a tabanca de Fulacunda não teria nesta altura mais de meia centena de moranças (300 e tal pessoas): 30 moranças com telhado de zinco e umas 20 com cobertura de colmo... 

A população  vivia em economia de guerra:  homens (milícias) e mulheres (lavadeiras) dependiam da tropa. Não havia bolanhas perto.... Não havia produção de arroz (cujo preço irá triplicar em finais de 1973/74). Nem devia haver nenhum comerciante. 

A região de Qiuínara foi muito afetada pela guerra (que "oficialmente", para o PAIGC, começou em 23 de janeiro de 1963 em Tite; na verdade, começou muito antes; Tite não tinha qualquer importância, e tinha menos população que outras tabancas da região de Quínara como Bissásserma, Iusse, Enxudé, etc. Fulacunda, sim, era sede de circunscroção admonistrativa... Isoladfa, entrouu em total decadència, e hoje não terá mais de 1500 habitantes.

(Com  o ataque estúpido,  precipitado e infantil a Tite, desencadeado por um "djubi" a quem deram uma pistola, Arafan Mané, abriu-se a "caixa de Pandora", e a Guiné tornou-se um inferno para todos... Porquê, para quê, Arafan ?)

No final da guerra, as NT deveriam ter cerca de 220 homens em armas em Fulacunda: além da 3ª C / BART 6520/72 (160 homens) ,o Pel Mil 221 (30 homens) e o 31º Pel Art (3 obuses 14 cm) (30 homens). O setor S1 (Zona Sul, 1) estava sediado em Tite. Havia quartéis e destacamentos das NT em Tite,  Bissássema, Enxudé, Nova Sintra, Ganjauará, Fulacunda (mais de 1100 homens em armas, segundo a minha estimativa ).(LG)


Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagemcomplementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


1. O Jorge Pinto: (i) ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; 

(ii) natural de Turquel, Alcobaça; 

(iii) professor do ensino secundário, reformado; 

(iv) membro da Tabanca Grande desde 17/4/2012, com 6 dezenas de referências no blogue;

(v) tem o melhor álbum fotográfico sobre Fulacunda, região de Quínara, chão biafada;

(vi) pela qualidade técnica e estética, pela sensibilidade sociocultural bem como pelo interesse documental dos seus "slides", estamos a republicar, depois de reeditadas, algumas das suas melhores fotos (*).

_________________