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terça-feira, 17 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18854: Agenda cultural (645): Centenário de Nelson Mandela, "Mandela Day", Lisboa, Praça do Município, 21h15

Centenário de Nelson Mandela

Mandela Day

cinema, música
17 julho 2018
21h15

Lisboa, Praça do Município

Um espetáculo com os Gospel Collective e a participação de Kalaf, seguido da exibição do filme Invictus, de Clint Eastwood, assinalam em Lisboa os cem anos do nascimento de Nelson Mandela. Entrada livre.


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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18778: Agenda cultural (644): Convite para a Inauguração da Exposição de Pintura de Adão Cruz, dia 30 de junho de 2018, pelas 16h00, na Galeria Zeller, Rua 14, n.º 750, em Espinho

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16868: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (50): Mandela não mentiu

1. Comentário de Antº Rosinha ao poste P16851 (*)

Foto à esquerda Antº Rosinha

(i) é beirão;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos';

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974;

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, mesmo quando as nossas opiniões podem divergir;

(x) Ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo".



Cada um tem o seu ponto de vista, mas se toda a gente for fazer o seu comentário, sem ideologias nem facciosismos, dificilmente apareceriam dois comentários iguais, quer a contradizer quer a concordar.

Mas, como eu tenho aqui colocado sempre os meus comentários requentados alguns, novidades outros, venho aqui apresentar um requentadíssimo e que não me canso de repetir:

Toda a guerra do PAIGC, ou seja, quando Amílcar resolve a sério entrar na guerra contra a colonização portuguesa, foi feito um ensaio em Angola, a 4 de Fevereiro de 1961.

Amilcar, todos já estamos carecas de saber que, foi co-fundador do MPLA e Luanda era a verdadeira "capital", ou "símbolo" do império Português.

E a ideia original e lógica dos "civilizadíssimos" estudantes do império era fazer a guerra urbana, tal como Mandela e o ANC e o Doutor Kenniata e outros faziam, e seria em Luanda que dava o verdadeiro escândalo.

Andar no mato como o tarzan, como diz o Arafan, descalços e de panos, não condizia com Amílcar, Agostinho Neto, Lúcio Lara, irmãos Pinto de Andrade etc.

Mas como em Março de 1961 apareceu em Angola um inimigo mais perigoso do que o "Colon" "tuga", os turras da UPA, que matavam tudo o que não fosse bacongo, e na Guiné já havia escaramuças e movimentos muito estranhos (MLGC, UPG, RDAG, UNGP, MLG, FLING), resolveram o MPLA e o PAIGC usar as mesmas armas, ir para o mato e ocupar o espaço desse "estranho inimigo".

Esse tal ataque a Tite, usado como data de início da guerra do PAIGC, não seria apenas um pequeno episódio e já teria havido outros mais marcantes, cuja data não interessava a Amílcar e ao historial do PAIGC?

Hoje já podemos analisar sem complexos o que estava por traz das motivações dos dirigentes caboverdeanos, e angolanos e guineenses que conscientemente e com espírito nacionalista dirigiam a luta anti-colonial.

Faltou muita sinceridade na luta "anti-colonial" dos dirigentes africanos, e nunca falavam a verdade ao povo, apenas o básico, o "branco vai embora" e ficavam felizes, não precisavam de trabalhar mais para o branco nem ser explorados pelo "branco", e como diz o Arafan, agora temos engenheiros e já não andamos de tanga...simples e tudo explicadinho!

Por causa das mentiras aos povos, hoje a fuga de milhões de africanos novamente para "o colinho" do ex-colon europeu neste conflito actual no mediterraâneo em Lampedusa e em Calais.

Vamos perder o complexo e denunciar o logro que provocou o actual conflito euro-africano em que uns de cá e outros de lá tiveram culpa, e nós aqui andámos a lutar e dar murros em ponta de faca, enquanto fomos capazes.

Mandela não mentiu (**)
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Notas do editor:

(*) Vd, poste de 19 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16851: O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) – Parte Final (José Teixeira): os frutos (amargos) da aventura...

(**) Último poste da série > 9 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16701: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (49): quatro apontamenmtos: (i) Angola, as boas famílias e os seus desertores; (ii) o nosso presidente em Havana; (iii) o desertor guineense da Força Aérea; e (iv) o ministro das obras públicas de Luís Cabral, Tino Lima Gomes, a camarada Milanka e o meu velho patrão Ramiro Sobral, que não precisava de subir ao alto do poilão para ver ao longe...

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16331: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (46): Quando Bismarck, Leopoldo II e as outras potências, Inglaterra e França (Cecil Rodhes e outros) dividiram África em Berlim, estavam-se nas tintas para os africanos... Ensaiaram depois o neocolonialismo a que chamaram independências e

1. Comentário de António Rosinha ao poste P16322(*)



[Foto à esquerda: Antº Rosinha: (i)  é um dos nossos 'mais velhos', membro ´senior da Tabanca Grande;
(ii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;
(iii) fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62, (iv) diz que foi 'colon' até 1974;
(v) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil):
(vi) até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência'; 
(vii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'] (**`*)



Talvez a Diamang fosse em Angola a única Companhia que melhor imitava as grandes companhias inglesas, alemãs, belgas e francesas em África.

Quando Bismarck, Leopoldo II e as outras potências, Inglaterra e França (Cecil Rodhes e outros) dividiram África em Berlim, era simplesmente para dividir a exploração dos recursos naturais, ouro diamantes, volfrâmio, madeiras e o que aparecesse.

Estavam-se nas tintas para os africanos, nem para escravos os queriam, pois estes já estavam a ficar muito exigentes, já queriam trocar a tanga de pele de gazela por tirylene, e a querer uma retrete para o preto ao lado da do branco,  além da escola para o preto ao lado da do branco.

Então ensaiaram o neocolonialismo a que chamaram independências e abandoram em África os pobres dos portugas sozinhos que foram os últimos europeus, (Europeus?, só se forem de segunda, dizem aqueles sacanas), a sair de África e a deixar os diamantes sem sangue, a ficar como todos os outros diamantes, petróleos e volfrâmios completamente ensanguentados.

Honra a [Nelson] Mandela que não deixou que os boers fossem expulsos de sopetão e as riquezas continuam na África do Sul.

Sorte dos sul-africanos e azar das zebras, búfalos e girafas da Rodésia, Zimbabué de Mugabe, que já vende em leilão todos os animais das reservas de caça por falta de água, que morrem à sede (jornais)

A guerra de Pirada e Guidaje visava principalmente a Lunda do Comandante Vilhena, pai do museu do Dundo e os Bothas da África do Sul, o cone de África.

Os Guineenses eram, e são o mexilhão.

JD, é difícil explicar, mas sabes que também não leio pela tua cartilha, és mais Norton e Galvão,  como eram muitos imperialistas.  eu sou mais Antoninho da calçada.

Nós nunca podiamos imitar aqueles grandes exploradores.

Fui teu colega 1 mês, comia no refeitório dos solteiros no Cafunfo, já contei. (**)

Grandes e complicadas vidas, mas que mundo estuporado.

Não deixemos cair a "peteca" (como dizem os brasileiros). Falta muito para contar o fim dos impérios!

Antº Rosinha (***)

_____________



(**) Vd, poste de  19 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12603: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (30): Só os diamantes são eternos... Ou: hoje ainda se esconde se são os "restos mortais" do Império ou do Eusébio que se votaram no parlamento, para o Panteão.


(...) Amigo José M. Diniz (e penso que me estou a dirigir a C. Martins também), eu andei na Lunda na tropa e a fazer uma estrada na região de Henrique de Carvalho.

E para a Diamang estive em Cafunfo (1970) a fazer uma picada entre uma futuro lavandaria e um rio que foi desviado para exploração.

Estive perto de um mês a conviver com algarvios exclusivamente, no refeitório dos solteiros, que trabalhavam numa lavandaria no Cafunfo.

Era um mundo à parte dentro de Angola e da própria Lunda. Não havia minhotos, beirões, transmontanos nem das Ilhas, e o meu contacto profissional era com um homem chamado Bastos, alentejano, de Elvas (?) e conheci e trabalhei recentemente com um neto desse homem (há 10 anos, antes de me reformar).

Diniz, afinal também estavas informado e encostado, meu malandro. Será que havia segregação nos seleccionados para funcionários da Diamang? (...) 

(***) Os últimos postes da série, desde 2014 (há um nº, o 42, repetido, por lapso):

12 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16079: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (45): A brutal emboscada do dia 22/3/1974, na estrada (alcatroada, construida pela TECNIL ) Piche-Nova Lamego: só por negligência, propositada ou intencional ou casual, estes casos podiam acontecer... É coincidência apenas, ou as Forças Armadas só já estavam preocupadas com outros valores?...

3 de maio 2016 > Guiné 63/74 - P16044: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (44): Os desentendimentos constantes entre alguns PALOP e Portugal... A luta continua.!...


30 de março de 2016 > Guiné 63/74 - P15913: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (43): Os receios europeus de um antigo colonialista português, gen Norton de Matos, em dezembro de 1943


22 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15781: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (42): A unidade que os cabo-verdianos ajudaram a criar


5 de fevereiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15748: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (42): As riquezas das matéria primas africanas e as fantasias criadas


16 de janeiro de 2016 > Guiné 63/74 - P15623: Caderno de Notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (41): o que foi mais devastador para o PAIGC foi precisamente a campanha psicológica spinolista por uma "Guiné Melhor"


9 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15464: Caderno de Notas de um Mais Velho (40): "A colónia onde todas as Fatumata tinham de se chamar Maria" -Guiné Bissau (Sobre a reportagem do jornal Público)

30 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15428: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (39): 'Colon' e 'retornado'... É difícil de transmitir o que se passou e se sentiu... Os estudiosos metem os pés pelas mãos quando abrem boca.

8 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14985: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (38): é possível barrar a emigração a muitos milhões de jovens africanos sem perspectiva de vida? Nem Luís Cabral conseguiu fechar as entradas na Praça de Bissau...


7 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14583: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (37): Sempre houve emigrantes europeus para África, agora dá-se o inverso


29 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14202: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (36): Fazendo votos para que o tchon Manjaco, o tchon Fula, o tchon Pepel e o tchon do Largo São Domingos se entendam sempre como nestes últimos 40 anos.


12 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14015: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (35): IMPÉRIO sem TAP versus TAP sem IMPÉRIO


25 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13040: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (34): Ramos Horta & Ana Gomes hoje na Guiné-Bissau como ontem em Timor, uma dupla guerreira, sem armas de fogo, que está a fazer um belo e corajoso trabalho pela paz e pela lusofonia


10 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12817 : Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (33): O racismo mal disfarçado na África Lusófona, tão complicado e difícil de contornar como a divisão étnica tradicional
26 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12777: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (32): Mário Coluna (1935-2014) na verdadeira nação "Arco-Íris" (Portugal e Ultramar e a sua selecção de futebol)


3 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12668: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (31): Natália Correia e os filhos dos retornados (vingativos)


19 de janeiro de 2014 > 63/74 - P12603: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (30): Só os diamantes são eternos... Ou: hoje ainda se esconde se são os "restos mortais" do Império ou do Eusébio que se votaram no parlamento, para o Panteão.


10 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12568: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (29): O que os rapazes dos cachecóis precisam de saber: que o Eusébio foi um português muito especial, que ajudou a escrever uma página muito especial da história de Portugal, da Europa e de África...

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12424: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (27): Mandela só houve um, infelizmente só um... Provavelmente o homem africano mais certo, no momento certo, no país do oiro...



O novo sítio da Fundação Nelson Mandela, o projeto de arquivo digital Nelson Mandela, com apoio do Google > Nelson Mandela Centre of Memory


1. Mensagem de  António Rosinha [, fur mil em Angola, 1961; topógrafo da TECNIL, Guiné-Bissau, em 1979: ou, como ele gosta de dizer, colon, em Angola, de 1959 a 1974; cooperante na Guiné-Bissau, de 1979 a 1993] [foto à direita, Pombal, II Encontro Nacional da Tabanca Grande, 2007]


Data: 10 de Dezembro de 2013 às 00:20

Assunto: Ouro da terra de Mandela e os "invejosos"


Envio, com a devida vénia ao © Google Earth (2013), uma imagem geral e um pormenor de uma das montanhas de solos doirados, retirados por mais de 100 anos das minas sul-africanas. (É possível calcular aproximadamente os metros cúbico daqueles montes.)

Durante 24 sobre 24 horas, ouro de 24 kilates saíu das minas e do esforço dos milhares de "carcamanos" e de milhões de negros vindos de Namíbia, Moçambique, Angola, Rodésia, Botsuana, Malawi , Zâmbia e mais países que a indiferença dos meus vinte e trinta anos esqueceu.

Até me admiro como me ficou tanto nome na cabeça. Mas agora aqui entra a explicação que se ouvia constantemente em Angola por muitos angolanos, moçambicanos e guineenses justificarem uma das razões para quererem ser independentes.

Principalmente brancos e mestiços em Angola diziam, nos anos da "paz colonial" antes de 1961, que se fossem independentes como os sul-africanos...!

E já falavam nas "paletes", "resmas" de oiro, que o Salazar e os portugueses atrasados escondiam e não deixavam explorar, principalmente em Angola que ainda era "mais rica" que a África do Sul. Sem falar no petróleo e nos diamantes e cobre que já eram conhecidos e explorados em Angola mas pouco!... Porque se fossem eles a tomar conta da terra deles...! [Não adivinhavam(mos) que haveria um ouro mais valioso de muitos kilates que foi Mandela.]

Claro que nunca se ouviam estas conversas aos milhares de velhos régulos, sobas que com seus filhos de zagaia na mão, e suas mulheres de enxada na lavra e filho às costas, também eram gente,

No tempo da "paz colonial" de Salazar,  e de certa maneira de Norton de Matos, de Henrique Galvão que também calcorreou um pouco de Angola, e foi governante, até parecia que era fácil fazer mais e melhor do que aquilo que se fazia com Salazar a mandar para lá o cólon.

Até se dizia que no caso de Angola ainda se faria de Luanda uma Nova York.

Os angolanos sempre tiveram a mania das grandezas e, lá está, Luanda até parece uma coisa descomunal. (Tabancas na vertical deve ser fantástico.)

Estas conversas não eram habituais em caboverdeanos, e no caso de Angola, onde eram muitos milhares, enchiam tudo quanto é repartição, e não se pronunciavam, principalmente de ilhas que não talvez Santiago.

Os caboverdeanos em Angola eram tantos e ocupavam tantos espaços, que quem tivesse um amigo caboverdeano, nem precisava de se dirigir às repartições tratar de qualquer assunto,  era um simples telefonema. Desde Notários, Alfandega, Finanças (fazenda),  Registos, Judiciária, Câmaras...lá estava um amigo verdeano para tratar do assunto, não era preciso ir para a forma.

As conversas naquela "paz colonial",  por exemplo quando foi das eleições de Delgado, em 1958, muitos falavam abertamente na perspectiva que sem o Antoninho a independência era possível. Não sei se pensavam qual seria o papel dos sobas e sua família.

Isto digo eu hoje, porque com 19/20 anos, sem direito a voto, eu só pensava em coisas mais interessantes.

O que era mais habitual ouvir a quem era funcionário, era o desejo de ver Salazar caír com a eleição de Delgado, pois há muitos anos que o Antoninho não n(os) aumentava.

Evidentemente que havia muitos angolanos, guineenses e moçambicanos que pensavam numa independência não só a pensar nas riquezas que "Salazar" não deixava explorar.

Mas havia muitos a misturar salazarismo e colonialismo, como se com outros como Delgado seria diferente, o que não era uma certeza, mas que havia na cabeça de muitos a ilusão que se fosse como na África do Sul, sem apartheid, era uma maravilha, havia muito "branquinho e mesticinho" com uma grande, enorme, descomunal ilusão.

E,  a provar isto, podemos constatar hoje, mas também logo em Março de 1961, foi o aparecimento no norte de Angola, de Holden Roberto e a sua UPA com suas chacinas racistas,  tribalistas, e até mesmo com laivos de separatistas, que marcou a luta do MPLA, PAIGC e FRELIMO.

Holden Roberto era mais pró Mugabe do que pró-Mandela. Mandela só houve um, infelizmente só um. Provavelmente o homem africano mais certo, no momento certo na país do oiro.

É bom que assim seja. Muitos outros homens africanos foram errados no momento errado no país certo. Mais do que o ouro, o grande valor da África do Sul foi Mandela.

Todos os Africanos deviam ser Mandelas, mas há muitos que são mais Mugabe.

Cumprimentos e fico-me por aqui,

Antº Rosinha





África do Sul > Joanesburgo > Soveto > Restos de explorações mineiras ("mine dumps") > Imagens do © Google Earth (2013), selecionadas pelo nosso topógrafo António Rosinha, e  reproduzidas aqui  com a devida vénia...

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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12373: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (26): Nós, tugas, somos mesmo estranhos...

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12400: Blogpoesia (362): Homenagem a Nelson Mandela (1918-2013): Invictus, de William Ernest Henley (1849-1903)

[ Foto à esquerda: Frederik de Klerk e Nelson Mandela apertam as mãos no encontro anual do Forum Económico Mundial, em Davos, janeiro de 1992].

Copyright World Economic Forum.  (Cortesia de Wikipedia)
1. Invictus [, do latim, invicto, nunca vencido] foi o poema, da autoria do poeta inglês, vitoriano,  William Ernest Henley (1849-1903), escrito em 1872 mas só publicado em 1892, que ajudou Nelson Mandela (1918-2013) a sobreviver na prisão, durante 27 anos,  e a acalentar o sonho da liberdade e da justiça para todos os homens e mulheres da África do Sul, sem distinção.  Uma singela homenagem do nosso blogue à sua memória, e à sua grandeza como homem e como africano. L.G.

Invictus

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

 Fonte: Poets.org, The Academy of American Poets   (com a devida vénia...)

Invicto

No coração da noite que me envolve,
Negra como a mina de carvão, de uma ponta à outra,
Agradeço aos deuses, se é que existem,
Toda esta minha alma indomável.

Perante as garras cruéis da adversidade
Eu não estremeci nem gritei.
Sob os golpes da má sorte,
A minha cabeça sangra, mas continua levantada.

Neste vale de lágrimas e gemidos,
Só o horror das trevas se descortina,
Mas eu não me vergo, nem me vergarei,
Apesar do peso dos anos em cima dos meus ombros.

Pode ser estreita a porta de saída,
Pode ser pesado o rol das provações,
Eu sou dono e senhor do meu destino,
Eu sou o capitão da minha alma.

(Tradução livre, e apressada,  de L.G.)

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12361: Blogpoesia (361): "Ilusões" (António Eduardo Ferreira)

sábado, 29 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11776: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (16): Vae victis! Ai dos vencidos!... (A. Marques Lopes)



Guiné >Região do Cacheu > CCAÇ 3 > Barro > 1968> Um prisioneiro do PAIGC.

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados


1. O A. Marques Lopes fez parte do pelotão da frente do nosso blogue, ou seja, foi dos primeiros camaradas a aparecer, em meados de 2005, a dar a cara, a escrever, a fornecer fotos, a publicar histórias e relatórios, a comentar... Ele, o Sousa de Castro, o Humberto Reis, o David Guimarães, o Luís Carvalhido, o Afonso Sousa, o João Varanda, o Fernando Chapouto, o Jorge Santos,  o Manuel Castro, o António dos Santos Almeida, o Belmiro Vaqueiro, o João Tunes, o Paulo Salgado, o Virgínio Briote...

 Recorde-se que ele é coronel DFA, na reforma, tendo sido alferes miliciano no TO da Guiné em 1967/68 (CART 1690, Geba, 1967/68; e CCAÇ 3, Barro, 1968)... Ferido em combate, foi evacuado para o HMP, ainda no tempo da CART 1690, mas não se safou de ter de voltar, sendo então colocado na CCAÇ 3, em Barro. O seu Gr Comb era conheciodo por  os "Jagudis", uma mistura de balantas e fulas. Natural de Lisboa, vive em Matosinhos. E tem hoje a o seu próprio blogue, que arrancou em 30/9/2010: Coisas da Guiné. Também foi um dos fundadores da Tabanca de Matosinhos.

Da sua muita e valiosa colaboração na I Série do nosso Blogue, fomos repescar um artigo de opinião sobre um tema que na altura (maio de 2006) esteve na berlinda e deu origem a vários postes, saudavelmente polémicos, a começar pelo título da série "O colaboracionismo sempre teve uma paga"... Reproduz-se aqui o primeiro poste da série, que foi justamente da autoria do A. Marques Lopes, bom amigo e melhor camarada, ou bom camarada e melhor amigo...

O poste, mesmo integrado na seleção dos melhores postes da I Série (*), não deixa ser de ser atual e oportuno, encaixando-se no teor dos muitos comentários (já vão em 46!) suscitados pelos trágicos acontecimentos em Cuntima, novembro de 1976, revelados pelo Cherno Baldé. Infelizmente faltou à Guiné (bem como a Angola e Moçambique) a lucidez e a grandeza de um  Nelson Mandela que soubesse fazer a paz, sem  exclusão de ninguém, sem ódio, sem revanchismo. O curso dos acontecimentos, pós-independência, com Amílcar Cabral, se fosse vivo, seria muito provavelmente diferente ? Podemos especular, mas nunca saberemos a resposta à pergunta. (LG).






Página de rosto do blogue de A. Marques Lopes, Coisas da Guiné... De que trata ? "Lembranças da Guiné, na guerra e já fora dela. Pesquisa, comentários e factos. A memória sempre presente. Não está por ordem. É conforme me vou lembrando. Tudo o que tem a ver com a Guiné, a sua história, as etnias, a colonização e as guerras de resistência. Também a minha experiência durante a guerra colonial (está nos primeiros posts). Para quem não sabe ou viveu que veja e avalie se é realidade ou ficção. Para quem sabe ou viveu são lembranças".


O colaboracionismo sempre teve uma paga (**)
por A. Marques Lopes

Caros camaradas e amigos:

Tenho lido tudo o que têm escrito sobre os fuzilamentos e outras mortes dos comandos africanos e outros guineenses que estiveram a combater do lado da tropa portuguesa durante a luta de libertação na Guiné. Já escrevi, em tempos, sobre isso para o blogue. Porque o tema está aceso, vou ver se me lembro do que disse na altura e acrescentar mais algumas coisas.

Também sei de alguns dos meus jagudis que foram mortos após a independência, e de outros que tiveram de fugir para o Senegal. Falei-vos já, no blogue, do Braima Seidi, o meu guia em Barro, conhecedor dos trilhos e das zonas do tarrafe por onde os guerrilheiros passavam, tendo resultado da sua colaboração muitas e pesadas baixas para o outro lado.

Contei-vos que, em 1998, quando perguntei ao Cacuto Seidi por ele, este chefe da tabanca de Barro me disse, um pouco atrapalhado:
─ Mataram ele depois da independência...

Também vos falei da filosofia de vida dos meus soldados da CCAÇ 3, da sua atitude perante os feridos que o PAIGC deixava no terreno, e que era:
─ Deixa estar, alfero, vem jagudi e come...

O Braima Seidi, caçador conhecedor da zona, recebia 2.000 escudos por mês por essa sua colaboração, vivia bem na tabanca, com quatro mulheres. Um cabo daquela companhia recebia 1.400 escudos mensalmente (não me lembro quanto recebiam os soldados), com comida, bebidas sempre à disposição, e assistência médica em Bigene, quando necessário. Apesar de também andarem na guerra, uma vida muito diferente do pessoal da guerrilha que vivia no mato.

No final da segunda grande guerra, a resistência francesa matou muitos colaboracionistas, a italiana assim fez, no Vietname, após a vitória, fizeram o mesmo, os franquistas fuzilaram muitos republicanos...
Vae victis! Ai dos vencidos! - já os romanos diziam.

Não estou a fazer a apologia desses procedimentos, estou a dizer que eles sempre fizeram parte da história dos vencedores. Claro que também houve os Nurembergas em que os vencedores, muitos também com culpas no cartório, fizeram o julgamento daqueles que venceram. Mas foi diferente, evidentemente.

Tenho pena e gostava que as coisas não se tivessem passado assim na Guiné, porque, como vós, vivi e convivi com aqueles guineenses que lutaram ao meu lado. Não sei dos meandros das conversações em Londres para formalizar a independência (...).. Mas parece-me que a solução desse problema, o futuro dos que estiveram do nosso lado, não teria sido tarefa fácil.

Num país saído de uma revolução, como foi nosso, em ebulição em 1974, perto da guerra civil em 1975, que poderia ter sido feito? Embarcar toda essa tropa guineense, habituada à guerra e a matar, misturá-los com os muitos milhares de retornados que cá estavam já, acasalá-los com os vários grupos políticos que se degladiavam, às vezes de forma violenta, encostá-los ao MDLP...? Tentar que fossem para outro país africano, tentar passar a batata quente? Mas qual dos países africanos, já com gente da mesma estirpe, os aceitaria?

Outra hipótese, que me disseram ter existido, seria negociar a integração deles nas Forças Armadas da nova Guiné-Bissau. Mas, há que admitir, isto também terá sido demasiado complicado conseguir. Com os ódios todos ao de cima (que é natural que houvesse entre guineenses que se combateram mutuamente, embora connosco isso não sucedesse), não os estou a ver em conjunto numa caserna, não estou a ver um capitão dos comandos africanos a comandar uma companhia de ex-guerrilheiros... Não estou a ver o Marcelino da Mata em convívio com o comandante Lúcio Soares.

Gostaria que tivesse havido uma solução. Mas não foi fácil, acredito. Não por cobardia, nem pusilanimismo, nem por abandono dos responsáveis portugueses da altura, governo, MFA ou Conselho da Revolução. Num país em agitação revolucionária, mesmo em polvorosa, com militares politicamente inexperientes, terá sido extremamente difícil manobrar de forma ardilosa e segura, havendo tantas coisas de difícil tratamento por cá.

Está visto que o problema teve que ficar nas mãos dos vencedores, donos da Guiné. Estes poderiam, se com uma mão firme e esclarecida a dirigi-los, ter optado pelo menos chocante e, na situação, aceitável até para nós: deixá-los estar, remetendo-os ao abandono. O tempo traria outra soluções (ou outros problemas, sabe-se lá...). Mas o caboverdiano Luís Cabral, como me disse o ex-paraquedista Camará, não conseguiu ter pulso e foi ultrapassado pelas iniciativas dos ex-comandantes das guerrilhas locais, pelas iniciativas das figuras históricas do PAIGC naturais da Guiné, como o Nino Vieira, o Gazela e o Chico Té. E foram estes que incentivaram à vingança dos vencedores... a outra paga. E, como se sabe, o próprio Luís Cabral teve de ir embora.

Mas cada um tem a sua visão pessoal desta questão, é claro. Acontece em tudo. Sobre o outro lado da moeda, isto é, as atrocidades cometidas pelos comandos africanos, pela PIDE e outros que tais, não vou acrescentar mais ao que o João Tunes e o Pepito já disseram. Estou completamente de acordo com eles.

Um abraço

A. Marques Lopes

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 30 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11654: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (15): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte III : O Dauda (filho do vento e mascote da companhia), o 1º cabo escriturário Cardoso, o faxina Rochinha, e...o batismo de fogo, no final das chuvas, em outubro de 1967

(**) Vd., I Série, poste de 25 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXCV [795]: O colaboracionismo sempre teve uma paga (1) (A. Marques Lopes)