quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16868: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (50): Mandela não mentiu

1. Comentário de Antº Rosinha ao poste P16851 (*)

Foto à esquerda Antº Rosinha

(i) é beirão;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos';

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, foi fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974;

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, mesmo quando as nossas opiniões podem divergir;

(x) Ao Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo".



Cada um tem o seu ponto de vista, mas se toda a gente for fazer o seu comentário, sem ideologias nem facciosismos, dificilmente apareceriam dois comentários iguais, quer a contradizer quer a concordar.

Mas, como eu tenho aqui colocado sempre os meus comentários requentados alguns, novidades outros, venho aqui apresentar um requentadíssimo e que não me canso de repetir:

Toda a guerra do PAIGC, ou seja, quando Amílcar resolve a sério entrar na guerra contra a colonização portuguesa, foi feito um ensaio em Angola, a 4 de Fevereiro de 1961.

Amilcar, todos já estamos carecas de saber que, foi co-fundador do MPLA e Luanda era a verdadeira "capital", ou "símbolo" do império Português.

E a ideia original e lógica dos "civilizadíssimos" estudantes do império era fazer a guerra urbana, tal como Mandela e o ANC e o Doutor Kenniata e outros faziam, e seria em Luanda que dava o verdadeiro escândalo.

Andar no mato como o tarzan, como diz o Arafan, descalços e de panos, não condizia com Amílcar, Agostinho Neto, Lúcio Lara, irmãos Pinto de Andrade etc.

Mas como em Março de 1961 apareceu em Angola um inimigo mais perigoso do que o "Colon" "tuga", os turras da UPA, que matavam tudo o que não fosse bacongo, e na Guiné já havia escaramuças e movimentos muito estranhos (MLGC, UPG, RDAG, UNGP, MLG, FLING), resolveram o MPLA e o PAIGC usar as mesmas armas, ir para o mato e ocupar o espaço desse "estranho inimigo".

Esse tal ataque a Tite, usado como data de início da guerra do PAIGC, não seria apenas um pequeno episódio e já teria havido outros mais marcantes, cuja data não interessava a Amílcar e ao historial do PAIGC?

Hoje já podemos analisar sem complexos o que estava por traz das motivações dos dirigentes caboverdeanos, e angolanos e guineenses que conscientemente e com espírito nacionalista dirigiam a luta anti-colonial.

Faltou muita sinceridade na luta "anti-colonial" dos dirigentes africanos, e nunca falavam a verdade ao povo, apenas o básico, o "branco vai embora" e ficavam felizes, não precisavam de trabalhar mais para o branco nem ser explorados pelo "branco", e como diz o Arafan, agora temos engenheiros e já não andamos de tanga...simples e tudo explicadinho!

Por causa das mentiras aos povos, hoje a fuga de milhões de africanos novamente para "o colinho" do ex-colon europeu neste conflito actual no mediterraâneo em Lampedusa e em Calais.

Vamos perder o complexo e denunciar o logro que provocou o actual conflito euro-africano em que uns de cá e outros de lá tiveram culpa, e nós aqui andámos a lutar e dar murros em ponta de faca, enquanto fomos capazes.

Mandela não mentiu (**)
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Notas do editor:

(*) Vd, poste de 19 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16851: O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) – Parte Final (José Teixeira): os frutos (amargos) da aventura...

(**) Último poste da série > 9 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16701: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (49): quatro apontamenmtos: (i) Angola, as boas famílias e os seus desertores; (ii) o nosso presidente em Havana; (iii) o desertor guineense da Força Aérea; e (iv) o ministro das obras públicas de Luís Cabral, Tino Lima Gomes, a camarada Milanka e o meu velho patrão Ramiro Sobral, que não precisava de subir ao alto do poilão para ver ao longe...

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