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domingo, 23 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19325: Estórias do Zé Teixeira (48): "Um Novo Natal" (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

1. Em mensagem de hoje, dia 23 de Dezembro de 2018, o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos mais uma das suas estórias, esta alusiva à quadra que atravessamos, o Natal.

O tempo de Natal é tempo de encontro entre o presente e o passado, entre o presente e um futuro carregado de esperança. Futuro esse, que será tanto melhor, quanto nós, os seus construtores, formos capazes de fazer da vida um Natal permanente. 

Lamento que o "pai natal" tenha vindo, impulsionado pela febre do consumismo e maneira fácil de ganhar dinheiro, transformar o verdadeiro Natal numa festa de comércio, embrulhada em mensagens de amor e afeto tangidas por sinos ocos e sem o verdadeiro timbre. 
Por isso ouso desejar a todos os camaradas um Natal feliz, cantando Glória a Deus nas alturas e paz aos homens de boa vontade. 

Zé Teixeira 

Junto um pequeno conto de Natal.


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Nota do editor

Último poste da série de 5 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18987: Estórias do Zé Teixeira (47): Binta - a lavadeira do alfero Barbosa (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

Guiné 61/74 - P19323: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (10): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382 e Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF


1. Mensagem do nosso camarada e amigo José Manuel Cancela (ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382, Bula, Buba, Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Chamarra, 1968/70), com data de 21 de Dezembro de 2018:

Olá,amigos Tabanqueiros. 
Aqui vai a prova que estou cá, e continuarei. 

Um grande abraço a todos, com votos de festas felizes.
José Manuel Cancela

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2. Mensagem do nosso camarada Hélder Valério de Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 6 de 29 de Abril de 2018:

Caros Amigos
Acho que a proposta que foi feita para aproveitarmos esta Quadra para fazer "prova de vida" foi uma boa iniciativa e tenho pena que esteja com fraca resposta. Por isso vou tentar dar o meu pequeno contributo.

Sim, de facto "estou vivo" e agora com melhor ânimo, já que as análises e outros "elementos auxiliares de diagnóstico" têm dado resultados bons. Não é uma decisão definitiva, afinal a intervenção foi há apenas (vai fazer) 10 meses e é preciso, segundo o urologista, passar mais algum tempo para declarar a "morte dos bichinhos" mas lá que anima, isso sim.

Não quero fazer falsas promessas (deixo isso para os decisores do poder), apenas afirmo a minha intenção de poder aprofundar a minha colaboração com o Blogue.

Entretanto, umas "Festas Felizes"!

Abraços
Hélder V. Sousa
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19320: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (9): Faz hoje 47 anos que parti para o CTIG, com o meu BART 3873, e a minha CART 3494 (António Bonito, ex-fur mil)

sábado, 22 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19319: Feliz Natal 2018 (2): Fantasias de Natal (Manuel Luís R. Sousa, ex-Soldado At Inf do BCAÇ 4512/72)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís R. Sousa, Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma, (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4512/72, Jumbembem, 1972/74), com data de 20 de Dezembro de 2018:

Nesta quadra festiva que se aproxima, que todos os meus familiares e amigos, que saúdo especialmente, se deixem envolver pela fantasia de que na noite de Natal o Menino Jesus, indiferente ao frio e à chuva, desce pela chaminé, enfarruscando as suas vestes, para deixar os presentes que ao longo do ano vamos pedindo.
A mesma fantasia que eu vivi há uns bons anitos atrás:


Fantasias de Natal…

Sempre me disseram, em criança, alimentando a minha fantasia, que o Menino Jesus, que eu via habitualmente num dos altares da capela de S. Luís, muito pequenino, de feições angelicais, de cabelo loiro, vestido com umas vestes brancas e resguardado numa redoma de vidro, nos visitava na altura do Natal, entrando pela chaminé, para deixar uns presentes nos sapatos que ali encontrasse.

Como é que aquele ser tão frágil e indefeso, – pensava comigo próprio, embora criança – tinha o vigor físico para, pela calada da noite, ao frio, à chuva ou à neve, subir ao telhado da nossa casa e descer depois ao interior, com a dificuldade acrescida de ali não existir qualquer chaminé? As chamas da fogueira crepitavam livremente até ao tecto, saindo o fumo por entre as telhas.
Mesmo assim, pelo sim e pelo não, na noite de Consoada, à falta de sapatos, lá ia colocando os socos junto à lareira, condição essencial para Ele deixar os presentes, segundo me diziam, na expectativa de que aquele Menino seria mesmo capaz de vencer tais obstáculos e descer através das "lares" para me deixar qualquer coisa – um carrinho, uma gaita. Oh...! Que alegria seria a minha.

No dia seguinte, ansiosamente, bem cedo, ia ver os socos que, para minha decepção e tristeza, continuavam intactos e sem qualquer presente. A explicação dos meus pais era a de que Ele não teria brinquedos suficientes para todas as crianças, mas que, provavelmente, no ano seguinte seria a minha vez, ou então, diziam-me, que ele não teria entrado pelo facto de a nossa casa não ter chaminé e de não querer "enfurretar" as suas vestes alvas de neve na fuligem das "lares".
Serviam-me de algum consolo estas explicações e consolidava-se em mim aquela ideia de que o Menino Jesus, tão frágil, correndo o risco de se partir o barro de que era feito, não seria capaz de subir ao telhado da nossa casa. Isto por um lado. Por outro, chegava a pensar que Ele discriminava os meus socos, daqueles que o Zé "Baloiro" dos Pereiros fazia, visto que o habitual, segundo me diziam, era porem-se na lareira na noite de Natal os sapatinhos. Coisa que eu não tinha.

Num desses anos da minha meninice, também por altura do Natal, encontrava-me na aldeia da Carrapatosa, onde passava alguns períodos com a minha avó materna. Mais uma vez, na noite de Consoada, levado pela mesma fantasia, a minha tia Aninhas aconselhou-me a colocar os socos no canto da lareira antes de ir para a cama. Com alguma relutância o fiz, pela experiência anterior e visto que a casa da minha avó também não tinha chaminé.

No dia seguinte, bem cedo, "inspeccionados" os socos, para minha surpresa e alegria, estavam atacados de rebuçados. Como criança que era, rejubilei de felicidade! Perante esta realidade, e não perdendo tempo em trincar e chupar alguns deles, percorrendo com o olhar toda a altura entre o tecto e a lareira, não pude deixar de pensar que o Menino Jesus da Carrapatosa era muito mais audaz do que o da minha terra, e imaginava como as suas vestes teriam ficado negras pela fuligem do cadeado das "lares", por onde ele teria descido feito alpinista.

Logo nesse dia, na ida à missa de Natal com a minha avó, a tia Aninhas e os meus primos, à capela de Santa Luzia, tive a curiosidade de reparar na sua imagem, supondo eu, pelo que fez durante a noite, que estaria toda enfarruscada de fuligem.
Para minha admiração, estava imaculadamente limpa, como era habitual, o que me deixou pensativo, concluindo que aquele menino em nada se comparava a outro qualquer. A mim, por exemplo. Porque se eu fizesse o que ele fez, a minha roupa estaria que nem a de um carvoeiro, impregnada de pó negro da lareira.

Só mais tarde tive a noção de que o Menino Jesus, para não se sujar e não apanhar o frio da noite, fez o cambalacho com a tia Aninhas, que era mordoma da capela, incumbindo-a de ali colocar os rebuçados, que Ele tinha requisitado nas tabernas do Eugénio ou do Cassiano de Campelos para serem debitados na Sua "conta". Aqueles a que eu tinha direito – os socos estavam repletos – em compensação dos anos anteriores que não me tinha trazido nada.

Manuel Sousa
(Excerto do meu livro ONDE A CEGONHA POISOU")
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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19316: Feliz Natal 2018 (1): Natal diferente (Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721)

Guiné 61/74 - P19317: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (8): Ainda ando por cá no reino dos vivos (Valentim Oliveira, ex-Soldado Condutor da CCAV 489)



1. Mensagem do nosso camarada Valentim Oliveira (ex-Soldado Condutor da CCAV 489/BCAV 490, ComoGuidaje e Farim, 1963/65), com data de 21 de Dezembro de 2018:

Caro amigo Carlos
É esta a prova de dizer a todos os tertulianos que ainda ando por cá no reino dos vivos. 
Muito em breve, e espero lá chegar, vou completar a soma dos dois setes. É certo, que já nada é igual à juventude dos anos vinte, mas como o clima das terras de Viriato é límpido, tudo ajuda a ter uma vigoridade mais ampla e forte. Talvez seja esta a razão da minha longividade. 
Bem, deixemo-nos de lamentos e vamos ao que interessa . 
Aqui vai!!!
Para todos os camarigos desejo um feliz Natal e um Ano Novo cheio de coisas boas. 
Abram o champanhe e bebam por mim, porque eu estou fazendo dieta. 

Um abraço a todos. 
Valentim Oliveira. 
Operação Tridente 
Ilha do Como

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2. Comentário do editor

Muito obrigado Valentim Oliveira pelo teu contacto pois há muito não nos davas notícias.
Não nos deixes tanto tempo sem saber de ti. Independentemente da idade, é muito perigoso estar vivo. Quanto aos dois setes, ainda te faltam os dois oitos e os dois noves.

Para ti e para toda a tua família, a tertúlia deseja o melhor Natal.
Abraço
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19312: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (7): Dois heróis da FAP, que por acaso são também o casal mais... 'strelado' do mundo: Miguel e Giselda Pessoa (BA 12, Bissalanca, 1972/74)

Guiné 61/74 - P19316: Feliz Natal 2018 (1): Natal diferente (Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721)

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor do livro "Guiné - Crónicas de Guerra e Amor", com data de 17 de Dezembro de 2018:


NATAL DIFERENTE

A aldeia de Nhane fica a cerca de cinquenta quilómetros de Bissau. Para lá se dirige Alberto e sua mulher, acompanhando António Kundé, funcionário superior do Ministério dos Assuntos Sociais, em visita a sua mãe.

É véspera de Consoada.

Pelo caminho, já nas cercanias da tabanca, repararam nos pequenos santuários animistas, erigidos a deuses muitos – e junto deles flores, ou folhas, ou conchas ou amuletos, sinal de recente visita de crente ansiando benesse divina.

Debaixo do alpendre, sentaram-se nas tropeças, e conversaram todos sobre a vida da tabanca: da lavoura, das festas, das misérias e sofrimentos de quem trabalha muito e padece mais, e da cidade ali tão perto e tão longe, onde alguns têm tudo ou quase tudo: camisa e calça alisada, pãozinho quente pela manhã, bebendo bom vinho, tanta coisa boa...

O tempo foge devagarinho.

O sol está a desaparecer por detrás das palmeiras e dos altos poilões (as noites, aqui em África, caem muito depressa!); as galinhas deixaram de rapar a terra e procuram um galho para noitarem; os porcos acomodaram-se; as mães começaram a arrastar os filhos e os netos para dentro de casa; os homens fumam a derradeira cachimbada.

O silêncio faz-se mais. Os visitantes preparam-se para partir.

Um velho, porventura o mais velho ancião da aldeia, pediu ao familiar António um momento de espera antes da partida. Entrou na sua casa e depressa regressou.

Nas suas mãos calosas, mas com pele sedosa e brilhante, trazia um pequeno ovo que depositou, candidamente, nas mãos brancas da mulher branca.

Santa véspera de Natal, sem ser Natal, em Nhane.

Paulo Salgado (Um ano destes… por terras da Guiné…)
Santo Natal para vós.
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domingo, 14 de janeiro de 2018

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18193: Manuscrito(s) Luís Graça) (136): Não sigam a "estrela" dos outros, mas a vossa... E, por favor, não deixem morrer a vossa luz interior, a luz da vossa "estrela", a dos talentos, das emoções, dos afetos, das memórias...

1. Amigos/as, camaradas: Passou-se o Natal, passou-se o Ano Novo, passaram-se os Reis, e já lá vamos, em velocidade de cruzeiro,  a caminho do... futuro.

Pelo meio, morreu um amigo que me era muito querido, o psiquiatra Álvaro Andrade de Carvalho (*).  Uma morte "anunciada", mas sempre dolorosa para a família e amigos. Estivemos, eu e a Alice, com ele ainda no dia 19 de dezembro, no Hospital do Mar. O seu exemplo de coragem e dignidade na doença também nos reconforta. Mas, como soi dizer-se, a vida continua para os que cá ficam...

Muitos de vós mandaram-me, por email e telemóvel mensagens de boas festas na quadra festiva que agora finda. Alguns inclusive tiveram a gentileza de me telefonar. Não consigo agradecer a todos/as de maneira personalizada.

Algumas das mensagens enviadas para a caixa do correio do blogue deram inclusive lugar a postes publicados na série "Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018"

A todos/as, agradeço, em meu nome, em nome da minha família e em nome de toda a Tabanca Grande. A pensar em todos/as vós, deixo-vos uma "prendinha", esquecida no meu "sapato"... Espero que ainda possa ser útil e sobretudo inspiradora a leitura deste "manuscrito"...


2. Feliz Natal de 2017 e Melhor Ano Novo 2018 para todos os amigos e camaradas da Guiné

O Natal é tempo de "regressão"... Já não digo no sentido de querermos voltar, simbolicamente, ao seio materno (, numa arremedo de leitura freudiana), mas pelo menos de retorno à infância, às memórias da infância, às cores e sabores do tempo em que éramos crianças (... e éramos felizes, diria o Fernando Pessoa), no tempo em que o Pai Natal ainda não tinha 'assassinado' o Menino Jesus…

E repare-se: o que é "magia" (e continua a ser, de acordo com a nossa cultura judaico-cristã) é a "estrela" que guia os reis magos até à gruta de Belém... E a "magia" da estrelinha que veio do Oriente, guiando os reis magos, acaba por ofuscar o acontecimento central, que é o "milagre do nascimento" de um menino, feito deus, pobrezinho, entre palhinhas, rodeado de uma mulher, que o deu à luz, de um homem, pai adotivo, de uma vaca e de um burro que o aquecem ...

A “magia” não é propriamente o "milagre" do nascimento do menino Jesus… O que hoje  nos "ofusca" é a "indústria da festa" (o brilho e o ruído mediáticos, as “luzes da ribalta”...) e não a festa... O que nos atrai, como borboleta tonta, é a “estrela”, e não a história maravilhosa de um deus que se fez homem para nos salvar, a todos nós, homens, independentemente da cor ("raça"), sexo (homem ou mulher), nacionalidade (judeu ou estrangeiro), condição (livre ou escravo)...

O que nos fascina, dois mil a anos depois, ainda é a “estrela”... A "estrela" (as luzes, as iluminações de ruas, o "glamour" das grandes superfícies comerciais, o consumo, a fama, o sucesso, a glória como sucedâneos da eternidade...) é o que nos "cega”, a nós, putos e graúdos... Já é não a “inocência”, o maravilhoso dos contos da nossa infância, o nascimento de um deus que se fez homem para nos salvar... E o que nos deprime, logo no dia 2 de janeiro, é que o raio da humanidade é mesmo "suicidária", não se quer nem se deixa "salvar"... nem “curar”, nem aceita que “cuidem de si”…

Amigos/as, camaradas:

Que o ano de 2018 seja um bom ano,
se não puder ser o melhor,
para cada um e para todos vós.

Na vida e no trabalho, no amor e na amizade,
não precisamos de seguir a “estrela" dos outros,
precisamos sobretudo de ser autolíderes.
As escolas e os gurus da gestão andaram décadas,
desde o Século das Luzes,
a tentar ensinar-nos que que é preciso seguir a “estrela”,
o “líder” (aquele que vai à frente , mostrando o caminho),
e que só pode ser um “iluminado”…

Não há “iluminados”…
Sigam a vossa luz interior,
não deixem apagar a vossa luz (dos talentos, das emoções, dos afetos, das memórias…).

Afinal, hoje sabemos que não há “ciência”... sem “sapiência” (sabedoria)… (**)


Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz >  Qta de Candoz > O nosso azevinho (Ilex aquifolium)... Planta rara, autóctone, em risco de extinção... Tem vindo a ser recuperada na nossa quinta... ao longo dos anos.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O Natal das crianças que já fomos (e somos)…  


por Luís Graça 

Em todos os Natais nasce a esperança
De que p’ró ano o mundo seja melhor,
E de qu’haverá um novo portador
Da mágica mensagem de… mudança.

E a gente senta-se à mesa, na crença,
De que já nasceu o novo salvador,
Com ele a cura para toda a doença,
Tudo rimando com paz… e amor.

Qu’importa se a gente não lê a História,
E, se a lê, p’lo Natal faz a limpeza
Desta nossa seletiva memória.

Deixemos, pois, à solta, essas crianças,
Que já fomos, e co’elas a luz, acesa,
Das nossas melhores e doces… lembranças!


Lisboa, 19/12/2017
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Notas de leitura:

(*) Vd. poste de 5 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18177: In Memoriam (310): Álvaro Andrade de Carvalho (Lourinhã, 14/8/1948 - Lisboa, 4/1/2018): médico, psiquiatra, gestor de saúde, meu conterrâneo, meu condiscípulo, meu amigo de infância, meu amigo para sempre... O funeral é no sábado, às 14h00, na sua terra natal (Luís Graça)

(**) Último poste da série >  1 de janeiro de  2018 > Guiné 61/74 - P18162: Manuscrito(s) (Luís Graça) (135): Bons augúrios para 2018!

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18162: Manuscrito(s) (Luís Graça) (135): Bons augúrios para 2018!


Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 30 de dezembro de 2017


Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



O soneto da pitonisa: bons augúrios para 2018


Eis-nos chegados ao fim de mais um ano:
o tempo voa, agora é só memória,
morreu o fulano, nasceu o beltrano,
que nos importa quem  fica p'ra história ?!

Os amigos que já não estão entre nós,
lembrá-los só nos traz  melancolia...
Velhos e novos, netos e avós,
vamos mas é todos para a folia!

Que excitação, as dozes badaladas,
não no sino mas na televisão,
abre-se o champanhe e bebe-se às golfadas.

Deslumbra-nos o fogo de artifício,
e a pitonisa tem uma feliz visão:
o novo ano é de bom auspício!

Luís Graça

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domingo, 31 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18159: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (17): Joseph Belo, da Suécia com amor...


Home sweet home...


Absolut vodka...


Fotos (e legendas): © José Belo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso amigo e camarada "luso-lapão" Joseph Belo , régulo da Tabanca da Lapónia, mandou-nos a seguinte mensagem, em data de 28 do corrente, e que eu entendi dever partilhar com toda a Tabanca Grande:

Assunto - E...o tempo passa
Para Ti e Família os votos de um BOM NOVO ANO!

E aqui envio a explicacäo óbvia das nossas fantásticas Auroras Boreais....

Um grande abraço desde o Círculo Polar Árctico.


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quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18148: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (16): Rui Chamusco, Glória e Gaspar Sobral, fundadores da ASTiL - Associação dos Amigos Solidários com Timor Leste... Para breve (um a dois meses) a inauguração da escola de Boibau, nas montanhas de Lorosae



Localização de Boibau, Manati, Liquiçá, Timor Leste (Fonte: cortesia de ASTiL, 27/12/2017)


1. Mensagem natalícia dos nossos amigos Rui Chamusco, Glória Sobral e Gaspar Sobral,  fundadores da ASTiL e membros da Tabanca de Porto Dinheiro, Lourinhã (de que é régulo o nosso grã-tabanqueiro Eduardo Jorge Ferreirae conta, entre os membros ilustres, o nosso camarada da diáspora João Crisóstomo, que também tem apoiado a ASTiL]:


Neste dia de Natal, em que a bondade de Deus se encarna no Deus Menino e em que a bondade dos homens se multiplica em ações de solidariedade, quero pensar em todos os amigos, sócios, padrinhos e madrinhas ligados ao nosso projeto de solidariedade em Timor Leste, pedir a Deus que derrame sobre todos as suas bençãos e desejar-vos UM SANTO E FELIZ NATAL E UMAS BOAS FESTAS DE ANO-NOVO 2018. (*)

Esperamos em Janeiro/Fevereiro inaugurar a escola em Boibau (será a nossa grande prenda de Natal para as crianças desta localidade de montanha). Iremos dando notícias conforme a sua evolução. (**)

A todos o nosso muito obrigado pelo vosso apoio e carinho.

Que Deus vos pague todo o bem que fazeis. (O Menino Jesus, ainda que com sono, vos recompensará). Deus não dorme!...

Grande abraço!...

Rui Chamusco / Glória  Sobral / Gaspar Sobral


Glória Sobral
Rui Chamusco
[Rui Manuel Fernandes Chamusco: foi capuchinho e director dos seminários menores dos capuchinhos de Barcelos e Gondomar. Professor de português, filosofia e música na sua vida profissional depois de ter abandonado a ordem; é natural de Malcata, Sabugal; vive na Lourinhã].

[Maria da Glória Nunes Lourenço Sobral: professora de geografia do 3º ciclo e do secundário; encontra-se actualmente aposentada por doença, exerceu várias funções de docência em várias escolas de Portugal; é natural de Malpaca, Sabugal; vive em Coimbra; é casada com Gaspar Sobral].


Gaspar Sobral
[Gaspar da Costa Sobral é timorense, embora cidadão português. Os seus antepassados são de Manati/Boibau, local actualmente pertencente ao Suco (divisão administrativa mais pequena do Estado de Timor-Leste) de Leotalá, distrito e subdisdrito de Liquiçá. Vive actualmente em Portugal com a Família. Maria da Glória, também fundadora da ASTiL, é sua esposa e é portuguesa.  Topógrafo aposentado e jurista, viveu e trabalhou em Angola até 1975.  Foi activista da causa de Timor-Leste até a independência em 20 de Maio de 2002. Militante durante boa parte da sua vida no Movimento Cristão para a Paz, onde desenvolveu actividades de apoio às famílias pobres e outras questões ligadas aos direitos humanos, e foi membro do IPJET (International Platform of Jurists for East Timor), e também, da Amnistia Internacional, Vive em Coimbra]

Guiné 61/74 - P18147: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (15): Anabela Pires, que vai voltar à Guiné-Bissau por quatro semanas, em 18 de janeiro...


Um Natal em Harmonia e um Feliz 2018, são os votos da Anabela Pires, ecologista, defensora da permacultura, e que nos manda um "cartanito" com a sua horta que dá de tudo (e que presumo que seja comunitária)...

Foto: © Anabela Pires (2017). Todos os direitos reservados [ Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem da nossa amiga e grã-tabanqueira Anabela Pires, com data de 22 do corrente




[Anabela Pires, nascida em Moçambique, técnica superior de serviço social no Ministério da Agricultura, reformada, amiga dos nossos grã-tabanqueiros Jero (Alcobaça), Alice Carneiro (Alfragide/Amadora), e do nosso saudoso Pepito, cidadã do mundo, "globetrotter", esteve três meses, entre janeiro e março de 2012, integrada, como voluntária, no projeto do Ecoturismo, da AD - Acção para o Desenvolvimento, e a viver em Iemberém; foi o golpe de Estado de 2012 que a obrigou a sair da Guiné-Bissau; vai lá voltar em 2018; tem 25 referências no nosso blogue, dela publicámos o "diário de Iemberém"; pacifista e feminista, ela não gosta que a gente lhe chame uma "mulher de armas"... mas é assim que a gente a vê, aqui da Tabanca Grande]


Queridos familiares, amig@s, ex-colegas, vizinhos ....

Hoje é dia de começar a preparar o Natal que passarei em Alcobaça com a minha irmã e sua família. Por razões profissionais os meus filhos não poderão estar presentes mas a 28 voarei até à Dinamarca para festejar o 2º aniversário do meu neto e a passagem de ano. 

Projetos para 2018: 

(i) dia 5 de Janeiro venho por aqui para levar os meus pertences para Coimbra e fazer a mala para ir a 18 quatro semanas à Guiné-Bissau; 

(ii) a 15 de Fevereiro regresso e começarei então a fazer o caminho de volta ao Algarve ao fim de 6 anos. 

Esta é a parte que vai ser mais complicada pois já me falta muito a paciência para arrumar e desarrumar, mas tem de ser. Bem, uma nova fase vai começar. Depois de colocar de novo todos os meus pertences no apartamento do Montenegro - o que vai levar tempo .... logo se verá o que vou fazer. 

Desejo-vos um Natal muito harmonioso e se possível muito alegre e que continuem todos em grande forma em 2018.

Reencontramos-nos em 2018? Desejo que sim! Em finais de Fevereiro estarei no Algarve muito embora depois ainda tenha de vir cá acima buscar caixotes e vasos.

Mil beijos e abraços para todos,
Anabela


P.S. Terminei ontem os meus trabalhos aqui na horta, a qual ficou conforme as fotos que mando em anexo [e de que se reproduz uma, acima]. Ainda falta plantar morangueiros Diamante e mais alfaces. As ervilhas de trepar, as favas, as cenouras, os espinafres, os canónigos (ou alfaces cordeiro) ainda não nasceram! Espero que chova! Colhi as últimas pastinacas (Cherovias ou Chírivias).

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terça-feira, 26 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18142: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (14): Bom Natal para TODOS! (Pe. Batalha, Ribamar, Lourinhã)





1. Mensagem do nosso amigo Padre Joaquim Batalha, pároco da freguesia de Ribamar, Lourinhã, terra de gente solidária com a Guiné-Bissau, nomeadamente através da ação da Fundação João XXIII - Casa do Oeste.

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Guiné 61/74 - P18141: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (13): From Toronto with love (João e Vilma Crisóstomo)

1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro João Crisóstomo, com data de 24 do corrente, dirigido ao Eduardo Jorge Ferreira (régulo da Tabanca de Porto Dinheiro, que foi a Londres passar o Natal com os filhos e netos), com conhecimento ao nosso editor Luís Graça, ao  Horácio Fernandes (ex-alf mil capelão, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69) , ao Gaspar Sobral (, ativista timorense) e, por extensão, a todos os demais amigos e camaradas da Guiné:


Meus caros,

"Same here”: mea culpa!  

Passei (literalmente ) os últimos três dias ao telefone a ligar para muitos amigos mundo fora a quem falo menos frequentemente; assim o faço todos os anos, para não perder contacto com tantos que me são queridos. Pelo menos uma vez ao ano eu quero ouvir a sua voz real do outro lado da linha. 

Amizades são para ser alimentadas, senão com o tempo, relacionamentos que nos foram/são preciosos, a pouco e pouco desaparecem: esquecemo-nos uns dos outros. E perder a amizade de alguém que um dia foi preciosa é para mim devastador . 

O teu email veio-me lembrar que, com tanto cuidado em telefonar a tanta gente acabei por deixar de chamar aqueles que na verdade são os meus mais chegados, mas a quem por estar em contacto mais frequente acabei por não telefonar durante esta maratona dos últimos dias. Mea culpa, mea culpa, mea culpa!

Agora não dá mais para chamar ao telefone: estou em Toronto e a minha gente nem tempo para uma mensagem ao computador me querem dar…

Com muita amizade, de coração,um abraço grande para ti e tantos outros meus queridos amigos a quem, como sucedeu contigo, não cheguei a telefonar agora.
João e Vilma
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18140: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (12): mensagens de Adolfo Cruz, Jorge Cabral, A. Marques Lopes, José Pinela, Mário Leitão, António Manuel Sucena Rodrigues, Carlos Alberto e Irene Cruz

Guiné 61/74 - P18140: Feliz Natal 2017 e Melhor Bom Ano Novo 2018 (12): mensagens de Adolfo Cruz, Jorge Cabral, A. Marques Lopes, José Pinela, Mário Leitão, António Manuel Sucena Rodrigues, Carlos Alberto e Irene Cruz



O presépio em 2017... Um diorama muito original de que desconhecemos a autoria, mas que nos chegou pelo correio do Adolfo Cruz... [Com a devida vénia ao autor desconhecido]´



1. Mensagem de Adolfo Cruz

[ex-fur mil at inf, CCAç 2796 (Gadamael, Vicente da Mata, Ome (Bijemita), Quinhamel, Biombo e Bissau, 1970/72)]:

Meus Amigos,
Renovo os meus votos de Boas Festas, com Saúde e Felicidade.

Se tudo correr bem, como planeado, beberemos um copo em 18 de janeiro 2018 [, na Tabanca da Linha].
Abç





2. Mensagem de Jorge Cabral

[ex-af mil art, Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, 1969/71] (foto da esquerda, ao centro, de pé];

[tem 200 referências no blogue];

[é mais conhecido como "alfero Cabral"]

 Para ti.  Luís,  e para todos os Camaradas, 

desejo que encontrem o Natal dentro de vós 
e o partilhem na Amizade, no Amor e na Solidariedade. 

Abraço Todos. Alfero Cabral


 3. Mensagem de A. Marques Lopes:

[coronel DFA, na reforma, ex-alf mil, CART 1690, Geba, e CCAÇ 3, Barro (1967/68)];


[tem 230 referências no nosso blogue];

[lisboeta, vive em Matosinhos]:

Tchim, tchim, boas festas!

4. Mensagem de José Maria Pinela 

[DFA, ex-1.º  cabo trms, CCS/BCAV 3846, 
 Ingoré , 1971/1973]

Feliz Natal, próspero Ano Novo!


5. Mensagem de Mário Leitão:

[ hoje farmacêutico reformado, ex- Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e 
Farmacêuticos (LMPQF), 1971 a 1973];


[ natural de Ponte de Lima, autor do livro "História do Dia do Combatente Limiano"]Ao quinto dia de cama [, a 24,], aguentando heroicamente os tremeliques da febre, aqui vos desejo um Natal Feliz e um Ano Novo muito promissor! 
Com um abraço, sem contágio!




6. Mensagem de António Manuel Sucena Rodrigues

[ex-fur mil, CCAÇ 12,
Bambadinca e Xime, 1972/74;

[hoje, engenheiro, vive em Oliveira do Bairro]


Um Feliz Natal para todos os amigos e um Ano de 2018 que, quando chegar ao fim, vos traga a satisfação de terem atingido todos os objetivos.



[Carlos Alberto Rodrigues Cruz [foto à direita, na Tabanca da Linha, com a esposa Irene, em 19/3/2015;

[ex-fur mil, CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió e Cachil, 1964/66]

Não precisamos de presentes de Natal, porque vocês, nossos amigos, são o melhor que algum dia recebemos.


Feliz Natal e Bom Ano de 2018.

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Nota do editor:

 Último poste da série > 23 de dezembro de 2017 > Guiné  61/74 - P18130: Feliz Natal 2017 e Melhor Ano Novo 2018 (11): Ex-Cap Mil Jorge Picado; ex-Fur Mil TRMS Luís Fonseca; 1.º Ten RN Manuel Lema Santos; ex-Fur Mil Carlos Vieira; ex-Sold At Art Jaime Mnendes; ex-Alf Mil Op Esp Joaquim Mexia Alves; ex-Fur Mil Cav Benito Neves e ex-Alf Mil Inf Domingos Gonçalves

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18137: O meu Natal no mato (45): Um Natal antecipado: 23 de dezembro de 1967 em Gadamael Porto (Mário Gaspar), ex-fur mil art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CART  1659 (Gadamael  e Ganturé, 1967/68) > O Natal antecipado de 1967. Eu a fumar, à esquerda o furriel enfermeiro Durães, atrás o furriel mecânico Justo.

Fotos (e legendas): © Mário Vitorino Gaspar (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Mário Gaspar [foto atual à esquerda; ex-fur mil at art, minas e armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68; e, como ele gosta de lembrar, Lapidador Principal de Primeira de Diamantes, reformado; e ainda cofundador e dirigente da associação APOIAR; tem tem c. 100 referências no nosso blogue]

Caros Camaradas

Só hoje me lembrei do Natal passado na Guiné, passaram 50 Anos. Um dia que não esqueço.
Bebi 7 garrafas de Vermute Cinzano, ainda hoje não sei como consegui sobreviver. Depois fui fazer uma Patrulha. O PAIGC não apareceu.

Gostaria de saber o que cada um pensava no momento.

Um Bom Natal e um Ano Novo de 2018 com Saúde para toda a Tabanca.
Mário Vitorino Gaspar

PS - Ando de bengala.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > 1967 > CART 1613 (1967/68) > Ao centro, o Francesinho, alcunha do sold at António de Sousa Oliveira, transbordando de energia e de alegria, uns meses antes de morrer, no "corredor da morte", em 28/12/1967, no decurso da Op Relance. Era natural de Celorico de Basto (, tal como o seu infortunado camarada, o António Lopes) e emigrante em França. É a única foto que temos dele.

Foto: © José Neto (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné ]


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613  (1967/68) > O Nuno Tavares da Costa Machado, alf mil art (aqui ainda aspirante miliciano, ainda na metrópole), morto no decurso da Op Relance, em 28/12/1967, no corredor de Guileje. Foi a  agraciado a título póstumo com a Cruz de Guerra de 3.ª classe. 

.Foto: © Aníbal Teixeira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


[Op Relance: Em 27/12/1967:

Missão – Emboscada no “corredor” de Guileje.
Forca executante: CART 1613 (incompleta);  1 Gr Comp da CART 1659;  1 Gr Comb da CCAÇ 1622; Pel Caç Nat 51;  Pelotão de Milícias 138

Resultados obtidos: Causados ao IN 4 mortos prováveis e feridos vários não controlados; as NT sofreram 3 mortos, 4 feridos graves (3 milícias) e 3 feridos ligeiros (2 milícias). Os mortos foram o alf mil art Nuno da Costa Tavares Machado, o sold at António Lopes e António de Sousa Oliveira, todos da CART 1613]


2. O meu Natal no mato (45): 23 de Dezembro de 1967 em Gadamael Porto, um Natal antecipado

por Mário Gaspar


Passaram 50 Anos!

Fomos informados pelo Comandante da Companhia (CART 1659) que se festejaria o Natal no dia 23 de Dezembro. O intermediário deste “serviço informativo” era o régulo Abibo Injasso. Razão: visto ter recebido a informação que seríamos atacados na noite de Natal. Acostumados a tudo, não deixámos de considerar esta situação inacreditável. Era a guerra e naquela guerra inclusive o Natal fora antecipado.

Desloquei-me ao abrigo onde estavam quase todos os militares da minha Secção para lhes dar a novidade. Verdade! Estávamos 24 horas de Serviço sem licenças de fins-de-semana e dispensas de recolher. Não foi publicado nem numa Ordem de Serviço e muito menos no Diário do Governo. De tronco nu, chinelos e calção mudei de vestimenta e vesti-me à civil.
– Ó pessoal! – disse em voz alta – O Natal este ano é a 24 de dezem­bro.
– O quê? Meu furriel está a brincar, não está? – disse em voz alta um soldado.
– A brincar eu? Já receberam as prendas da família e das senhoras do Movimento Nacional Feminino. Não sabem o que é o movimento femi­nino? – disse rindo, calando-me de imediato.
– Diga nacional... Tão bom que é montar e cobrir. Já nem sei o que isso é. A última vez foi na minha aldeia, com uma puta, quando estivemos de licença. Foi uma foda tão boa. – disse o soldado deitando-se no chão de terra do abrigo, fazendo flexões. – Foi assim!

O soldado não parava de fazer flexões, num sobe e desce e ria-se.
– Tu és virgem, meu cabrão, ainda tens os três... – respondeu um camarada.
– Tenho é as tuas três primas quando formos embora daqui! – res­pondeu levantando-se, batendo com a cabeça na G3 pendurada na cama.
– Foi castigo porra! – riu.
– É verdade que dizem que o Natal é todos os dias. Dizem, mas é uma grande treta. O Natal deveria ser todos os dias, o que é totalmente diferente. 

Os soldados entretanto lá continuaram o diálogo.
– Já me disseram, o Natal aqui é diferente. Lá na minha parvónia e, eu só vi o mar quando assentei praça, o Natal é a 25 de Dezembro, aqui é a 24. Não há mulheres brancas estamos longe dos nossos pais, namoradas, noivas, dos familiares e amigos. O correio vem quando vem, não temos dinheiro, comemos mal.

Estou farto e ainda não chegámos ao fim do ano. Prometeram-nos ano e meio de comissão. Bastava que construíssemos o cais. O ano terá também 365 dias?

Sei que o nosso capitão não tem culpa. Faz tudo isto para nós termos o nosso Natal. Possivelmente os tipos vão atacar a malta. O furriel Pestana e o Costa lá morreram naquela trampa da armadilha.

A tristeza apossou-se daqueles homens que em janeiro haviam desembarcado na caixa de uma GMC, enterrada no lodo em Gadamael, no sul da Guiné. Chegados no Uíge a Bissau, nem colocámos o pé em terra. Destino uma LDM e Batelão BM-1 e mato. Ao largo de Bissau os carregadores indígenas, falando dialetos que não compreendíamos, vestindo roupas rotas e sujas pediam-nos dinheiro, patacas ou patacões. Era a instrução que não havíamos recebido. A ambien­tação ao clima e os costumes daquelas gentes não constava da instrução.
– Pois é... Referi com a dor no corpo e na alma. Tocara-se na ferida: o Pestana e o Costa não chegaram a este Natal. Haja o que houver, não podemos permitir que outros Pestanas e outros Costas, não passem o próximo Natal com a família.
– Logo vamos ter rancho melhorado?

Era a hora do jantar da noite de Natal antecipada. Todos seguiram. Chegou outro soldado. Trazia uma cerveja nas mãos.
– Vocês nunca mais apareciam e tive que beber qualquer coisa antes do jantar.
– Hoje é melhorado. – ouviu-se.
– Bacalhau com batatas!
– É daquele com cal, mas também não há outro. É melhor que comer o peixe da bolanha.
– Vamos a ver se os cabrões não nos estragam o nosso Natal.

Afastei-me do abrigo. Noite bonita e sem nuvens, não se vislum­brando sequer uma. O sol lá se acomodava, austero.

O pôr-do-sol daquelas paragens era um espetáculo. O Furriel Vagomestre, Casimiro, veio ao meu encontro e caminhámos juntos até à messe de Sargentos. O que denominávamos com messe era um acrescento do casarão onde funcionava a secre­taria da Companhia, feita com cobertura de chapa zincada. Estavam os três Sargentos e uns dez Furriéis Milicianos. A ceia daquele Natal prematuro, era bacalhau com batatas.

Havia luz. Do local onde me sentara, já avistava o cais que prometia o regresso antecipado. Isso porque tinha sido prometido pelo Comandante de Sector. Seria verdade? A verdade por vezes é mentira. Mas que o havia prometido, era verdade. Na hora das refeições sucediam os ataques do PAIGC.

O que pensaria naquele momento a família do Pestana e do Costa? O que estariam a dizer, naquele momento, os familiares de mais de cento e sessenta militares, que ali se encontravam desterrados? Como seria o Natal com a mesa incompleta? Deveríamos estar todos juntos, e não era verdade.

Não havia razões absolutamente algumas para a existência de duas messes e o rancho. Não só naquele dia mas sempre, deveríamos comer todos juntos já que a comida é sempre a mesma. Não era a Companhia uma família? As pausas eram todas elas de meditação.

O bacalhau fora servido. Todos se calaram. Coloquei o azeite sobre o bacalhau e as batatas. Pensava, talvez na morte da bezerra. Descuidei-me com o azeite. O bacalhau nadava.
– É Natal, é Natal... – quebrou a monotonia o furriel Nicolau,  de São Miguel, dos Açores.
– Bacalhau? Não quero bacalhau, que raio de merda.
– Não és português, meu sacana... – disseram dois, o  furriel enfermeiro, Durães e o furriel mecânico, Justo, algarvio.
– Olha quem fala... – respondeu o enfermeiro, de garfo e faca, des­toando da grande maioria, retirando habilmente as espinhas para a ponta do prato com a faca.
– És algarvio, e na História de Portugal lá consta, sempre após refe­rir-se ao rei: “Rei de Portugal e dos Algarves”. Se um é açoriano, outro é algarvio... – disse o furriel enfermeiro.
– Fala o rei de Lisboa, o senhor todo-poderoso do nosso império. Vai mas é às urtigas. – respondeu o algarvio.
– Ouvi dizer que comeste um sonho de Natal feito de algodão. Os teus homens já te conhecem tão bem, sabem que és um grande guloso e arranjaram um tão grande sonho de Natal, foi logo esse que agarraste. Era a esticar a esticar o algodão... – disse o 1.º Sargento Barreira enquanto se ria.
– Comi mais, eram tão bons. Mas a malta também lá foi. Não sei muito bem como fizeram os sonhos, e de onde vieram os ovos.
– Se calhar os pretos ficaram a arder.

Não se falou sobre o Natal antecipado. Uma cafeteira de café é colo­cada sobre aquilo a que chamavam mesa.
– Não se bebe nada? – perguntei com ar zangado.
– O meu irmão enviou-me uma caixa de bolos sortidos... – diz o furriel de transmissões, o Campos – Vamos comer uns bolinhos e compra-se uma garrafa qualquer.
– Ó cozinheiro, vai buscar duas garrafas à cantina, de uma trampa qualquer...

Rapidamente duas garrafas de cinzano, chegaram à mesa. O cozinheiro começou a retirar os pratos da comida.
– Um bolinho à saúde do dono dos bolos –  ouviu-se, numa só voz
– Vai uma saúde a todos.

Estendemos os copos e bebemos. Todo o líquido daqueles copos de dois decilitros mergulhou pelas goelas – como se o tivéssemos combinado anteriormente. Só de uma golada.

Instalou-se o silêncio. Mordia-me o cérebro não se ouvir ninguém. Não seria eu a quebrar o silêncio.
– O meu irmão é um tipo porreiro. – referiu o Campos:
– Lembrou-se e enviou-me uma caixa de bolos. Eu sou uma merda de homem, não valho nada. Ele é um bom tipo. Não presto, nem nunca prestei. A minha família é boa, mas eu sou, mau filho e mau irmão, uma autêntica merda...
– Ena, pá, deixa-te disso – confortou-o alguém, notando-lhe as lágrimas a escorrer pela cara.
– Não presto nem nunca prestei. Vocês são uns gajos porreiros, mas eu não valho nada. Natal? Que Natal é este?
– Nós cá todos bem!...
– Cambada de mentirosos, dizer às famílias tremenda mentira.

Ele não estava habituado a beber, e já eram quase duas dúzias de garrafas de vermute de litro. O que se estava a passar era uma paragem no tempo e na guerra para reflexão. Todos parámos. Só queríamos que o PAIGC fizesse a mesma paragem.

Surdos e mudos. Seres humanos. Pensei na minha mãe, no meu pai, nos meus irmãos, nos sobrinhos, tios, primos, namoradas, amigos e madrinhas de guerra e bebi mais um copo. Dois, três copos.

O 1.º sargento que era 2.º sargento (fazendo na Companhia o serviço de 1.º sargento) cantava o fado. Ele era o mais velho. Subia na vida, cantava sobre um banco, feito de um barril de vinho.

Todos o acompanhávamos, excluindo aqueles que mais bêbedos tinham ido para a cama. Foi nesse momento que fui atingido como – se fosse um rebentamento – por uma voz num tom que me rebentaram os tímpanos. Era o enfermeiro:
– Cozinheiro mais umas garrafas. O cantineiro tem mais.
– É chato, é chato, é sambinha chato..., É muito chato... – cantava o amigo açoriano, que não gostava de bacalhau – uma das canções dos Rangers em Lamego, curso que ele fez e que eu tão bem conhecia, pela curta estadia no mesmo. Não fiquei lá.
– Chatos tens mas é na cabeça... – disse-lhe rindo, enquanto bebia mais um copo. Não eram goles, mas um copo cheio de cada vez.
 Cantemos a outra...
– Et maintenant, que vais je faire…
– … É chato, é muito chato, é sambinha chato... – Continuava o açoriano muito sério batendo com a ponta dos dedos sobre as tábuas acom­panhando um ritmo que eu não percebia muito bem qual a canção que se tratava. A letra era a famosa dos “ranger’s”.
– Ó maestro vai outra música.
– A Guarda Republicana, Republicana, republicana!
 – Vamos a esta  – gritou o sargento.

Assim íamos festejando o Natal antecipado de 1967. A festa ainda não parara, e já não havia tempo para meditações. Todos se foram deitar, uns pelos seus próprios pés, outros com ajuda. Todo o mundo embriagado. Fiquei eu e o Furriel Jorge, que vendia banha da cobra. Acabara a bebida.
– Vamos à cantina? – perguntei-lhe.
– O cantineiro já fechou aquela merda. Vamos acordá-lo... – respon­deu-me levantando-se.
– Vamos embora, toca a acordá-lo, hoje é Natal.

Caminhámos juntos, passando pela tabanca. Muitos negros estavam ainda acordados. O abrigo do cantineiro era do lado de cima do aquartela­mento de Gadamael. Aproximámo-nos do abrigo, esse de terra batida e bidão repleto de terra, com palmeiras a cobrir e, junto do cantineiro, em voz baixa, murmu­rou o meu amigo:
– Cantineiro! Estamos com sede... – disse tocando-lhe nos braços – Este tipo está mesmo a dormir:
– Cantineiro vão umas garrafinhas?
– Porra nem se pode dormir. Vá lá, mas só há duas garrafas. Levan­tou‑se, enfiando os chinelos nos pés, vestindo os calções de banho. – res­pondeu o cantineiro.

Não passámos pela tabanca e fomos diretamente à cantina. Não se via ninguém. Só os que se encontravam de serviço. Avistei no abrigo da minha secção, estava o soldado de serviço.

Tínhamos cada um a sua garrafa. Duas de litro. Estavam quentes.
– Cantineiro, então esta merda está quente? Parece mijo...
– Furriéis! Acabaram‑­se, são as últimas. Até amanhã…

Segurando cada um a sua garrafa, descemos na direção da messe de sargentos. Messe improvisada, como tudo o que existia naquelas paragens. Bebia em tragos grandes, como se o mundo acabasse e sentámo‑­nos debaixo da chapa ondulada de zinco.
 – Bebe, e cala-te ... – disse o meu amigo, com os olhos já muito peque­nos.

Só se ouvia o motor da turbina do posto elétrico.

Já tínhamos ingerido o líquido das garrafas. Pela primeira vez, naque­las paragens, estava mais que embriagado. Pelo álcool, era a primeira vez que tal sucedia. Ficara bêbedo desde que chegara ao largo de Bissau, na noite de dezassete de janeiro, se é que não me anestesiara antes, sim porque todos nós estávamos completamente anestesiados.
– Podias muito bem, estar na tua casa com a família, e eu na minha. A verdade é que não nos teríamos conhecido. Gostava de ir ao cinema, ir ao teatro. Ao Parque Mayer, ao Monumental. Ir às putas. Tanto que adorava ir ao Café Lisboa, na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Entrava por uma porta e saía por outra. Nem que fosse para ver as já caducas das putas, sentadas, bebendo o seu café, olhando para a porta na esperança de ganharem uns cobres. O Café Martinho? Império? Paladium? Vává? Para inte­lectuais e pseudointelectuais. De Sartre debaixo do braço, que embora não o lessem. Mas era fino. Também era moda andar de botins calçados, e sujos de lama, para imitar os estudantes da Escola Agrícola de Santarém, o que não deixava de ter a sua graça. Um dia fui ver um filme com Alberto Sordi. O filme era “Uma vida difícil”, do realizador italiano Dino Risi. Há uma cena, que nem sequer é traduzida, que o personagem que o ator encarna, diz mais ou menos o seguinte:
– Vão‑­se embora daqui que isto é uma merda.

É mais ou menos isto que diz para os tipos, os turistas junto à estrada.
– Por que carga de água estamos aqui desterrados?
– Sou soldador e aqui o que faço? Ando com a G3 nas unhas. Parecemos todos nós, uns burros de carga quando vamos para o mato.
– No mato já nós estamos.
– Os mortos que já houve. É matar e morrer. Foram as mulheres e crianças em Ganturé no batuque. Foi o Vítor e o Costa.

O meu amigo quando falava em Vítor referia‑­se ao nosso grande amigo o Pestana.
– Nós estávamos de licença, lembras‑­te?

Levantou‑­se e sentou‑­se de imediato.
– E o “corredor da morte”. Foi o chavalo que se perdeu. Faço ideia o que ele não sofreu.
– Andou onze dias perdido, e nós sem termos hipóteses de o ajudar.
– É andar, é andar, sempre a andar. Vai mais uma voltinha para aquela menina de amarelo. É como na Feira de Outubro em Vila Franca de Xira, onde nós estivemos.
– E quando aquela merda dos estalinhos rebentavam e nós deitados no chão. O que aquela gente ria.

Falávamos da nossa visita à feira quando estivemos de férias, e mal sabíamos que os nossos camaradas haviam morrido, e ao mais pequeno barulho, era como se estivéssemos no mato.

Roquetadas, morteiradas, tiros, canhoada, minas a estoirar. Era o que tínhamos naquela terra.
– Fornilhos que lindos que são...
– As tripas de fora, sempre a andar. Porrada para cima. Sempre a andar.
– É picar, é picar.
– Ataques quando um tipo come, quando dorme, mas sempre a andar. Mais uma voltinha para aquela menina de amarelo. Não estou aqui para enganar ninguém, estou aqui porque a casa quer e a casa manda. Não paga cinquenta escudos, nem vinte tão pouco. Por dez escudos leva esta caneta com aparo de ouro flexível, esta esferográfica e este pincel para a barba.

O meu amigo estava mesmo embriagado. Não parava. Já nos habituara àquelas cenas de vendedor de “banha da cobra”.
– Não estou aqui para enganar ninguém, estou aqui porque a casa quer e a casa manda. Não paga cinquenta escudos, nem vinte tão pouco. Por quinze escudos leva esta caneta com aparo de ouro flexível, esta esfe­rográfica e este pincel para a barba.
– Um bom pincel, és tu... – respondi‑­lhe
– Não estamos aqui para enganar ninguém. Nós somos os únicos que saímos daqui enganados.
– Era a grande casa do Salazar, mas triste casa que mandava. Mandava, éramos carne para canhão. Somos uns imbecis, uns autênticos imbecis
– Eh, pá! Estou com sede. Já falei demais e tenho a garganta seca.

Em Gadamael, naquele momento, para além de nós, estariam acor­dados o pessoal de serviço, e um ou outro negro. O vendedor da banha da cobra olhava‑­me nitidamente, como se fosse um autómato.
– Vamos pedir de beber ao Capitão. – disse o meu amigo.

Quando falo no “meu amigo”, não é menosprezo para todos os outros, mas é que nos ligava uma forte amizade.
– Não estou aqui para enganar ninguém...

Logo à entrada daquele arruamento de tabancas, um negro da popu­lação civil sentado num pequeno banco, olhou‑­nos.
– Eh, pessoal, corpo?

Vestia uma túnica branca, de orar a Alá. A cabeça estava coberta com um gorro de lã, com desenhos ligeiros.
– Manga de chatice, pessoal... – respondeu o meu amigo.
– Pessoal... – continuou... Empresta aqui ao pessoal duas coisas dessas (apontava, referindo‑­se à túnica) e dois gorros?

O negro dirige‑­se para o interior da habitação, fazendo com a mão direita um sinal indicativo para esperarmos. Dá‑­nos aquilo que havíamos pedido, entregando‑­nos. Nós respondemos com um sorriso.

O Jorge vestiu uma das túnicas muçulmanas, dando‑­me a outra. Vestia‑­a e, não sei se me ficava bem. Colocámos ambos os gorros. O negro ria. Muito sérios, abandonámos o negro muçulmano, não sabendo bem se havíamos interrompido a sua oração. Deixámos para trás a tabanca, seguindo para o “comando”. Fomos em direção à cama do comandante da Companhia, Capitão de Infantaria Mansilha. O meu amigo faz‑­me um sinal com as mãos, para ter calma, não escondendo um sorriso.
– Alá, Alá, vinho para cá..., Alá, Alá, vinho para cá...

Repetimos a operação por duas ou três vezes, enquanto o capitão na cama nos olhava sorrindo. Parecia quase mentira mas sorria.
– Naquele caixote está a bebida.

Estávamos ajoelhados, batendo com a cabeça no chão.
– Alá, Alá, vinho para cá...

Levantámo‑­nos. No caixote existiam só copos vazios e água Perrier, água francesa, tipo água castelo.
– Só cá tem água? – disse‑­lhe com ar chateado.
– Bebam que faz bem... – respondeu o capitão.

Eram talvez quatro horas. No dia seguinte fomos ambos chamados ao comando para entrarmos numa patrulha. Eu quase morri, tal foi a bebedeira. Senti‑­me tão mal, e só na hipótese maior, a do PAIGC apare­cer. Fomos castigados, mas que castigo.

Em 27 e 28 de dezembro, a nossa CART participa na operação Relance, montar emboscada no “corredor da morte”, Famora, tendo sido utilizadas as seguintes forças: 1 Grupo de Combate da CART 1659, 1 Grupo de Combate da CCAÇ 1622 e 2 Grupos de Combate da CART 1613.

Fomos emboscados por duas vezes tendo a nossa tropa reagido bem ao fogo e à manobra do PAIGC, que sofreu 4 mortos prováveis e vários feridos não controlados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de dezembro de 2017 >  Guiné 61/74 - P18133: O meu Natal no mato (44): Naquele Natal de 1972, aprendi que os homens não são iguais, apenas porque uma toalha e um guardanapo os separam... (José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, 3ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)