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sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15049: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (33): "Canções da Guerra", programa diário na Antena 1, a partir de 7 de setembro... Sugestões e histórias precisam-se (Luís Marinho, RTP - Gabinete de Projetos Especiais)

1. Mensagem de ontem, de Luís Marinho, da RTP - Gabinete de Projetos Especiais


 Data: 27 de agosto de 2015 às 10:02

Assunto: CANÇÕES DA GUERRA


Caro Luis Graça,

Vamos iniciar a partir de 7 de setembro um programa diário na Antena 1, que se chama "Canções da Guerra". A ideia é apresentar diariamente uma canção que esteve direta ou indiretamente ligada á guerra de África. Envio-lhe em anexo o texto de apresentação.

Como sigo o seu blog, que é um referencial importante para quem se interessa pelo tema da guerra de África, gostaria de lhe propor que divulgasse o programa mas, sobretudo, que incentive os seguidores do seu blog a enviarem sugestões de músicas e histórias ligadas a elas.

Estou ao seu dispor para todos os esclarecimentos que entender necessários,

Muito obrigado e parabéns pelo seu trabalho.

Luis Marinho
RTP – Gabinete de Projetos Especiais


2. CANÇÕES DA GUERRA

APRESENTAÇÃO

A guerra colonial durou 14 anos. Mobilizou quase um milhão de soldados portugueses e várias centenas de milhares de guerrilheiros angolanos, guineenses e moçambicanos.

A exemplo do que aconteceu noutras guerras prolongadas, para além de outras manifestações artísticas, a música também teve inspiração no conflito.

Desde logo, um hino composto logo no início da guerra de Angola.

Depois, o aproveitamento de fados antigos, inspirados na I Guerra Mundial, regravados por artistas populares.

Ao longo dos anos, a guerra inspirou outras canções. Umas, de apoio aos soldados, mas outras foram compostas por artistas no exílio, contra a guerra.

Na verdade, também na música as opiniões estavam divididas, mas cada vez mais, com o passar dos anos, se manifestavam contrárias ao conflito em três frentes em África.

As canções de protesto não eram ouvidas em Portugal através da rádio, por exemplo, uma vez que estavam proibidas pela censura. Eram ouvidas e cantadas em reuniões políticas clandestinas e em convívios universitários, muitos deles interrompidos pela intervenção da polícia.

Nos quartéis do mato africano, os militares ouviam todo o tipo de música. E também adaptavam músicas conhecidas, com letras escritas sobre a sua vida no mato.

As mais célebres constituem hoje o denominado Cancioneiro do Niassa, uma interessante colectânea que revela muito do sentimento dos soldados.

Na guerrilha, a música também esteve presente, quer com hinos dos diferentes movimentos independentistas, quer com canções de incentivo à luta.

É esta recolha de cerca de sete dezenas de músicas, as canções da guerra, que agora apresentamos.

Um programa de Luís Marinho, com produção de Joana Jorge.

Músicas com História, para ouvir de segunda a sexta, na Antena 1, a partir de 7 de setembro.



3. Nota biobibliográfica sobre António Luís Marinho:

(i) nasceu em Lisboa, em 1954;

(ii) é jornalista desde 1981;

(iii) trabalhou em todos os géneros da Comunicação Social: imprensa, rádio e televisão;

(iv) na RTP, desempenhou, entre outros, o o cargo de director geral de conteúdos de rádio e televisão;

(v) é autor dos livros Operação Mar Verde – Um Documento para a História,[vd. nota de leitura do nosso camarada e colaborador permanente Mário Beja Santos]; e 1961 – O Ano Horrível de Salazar, ambos editados pela Temas e Debates e pelo Círculo de Leitores;

(vi) foi coautor, com Joana Pontes, da série de treze documentários televisivos intitulada Século XX Português, emitida na SIC;

(vii) concluiu o curso de especialização em História Contemporânea, na Universidade Nova de Lisboa; 

(viii) frequenta o 3º ano do curso de doutoramento em Ciências da Comunicação, no ISCTE.

(Fonte:  adapt. de Wook, com a devida vénia)

4. Comentário de LG:

Meu caro Luís Marinho:

Parabéns pelo projeto, que aproveito para divulgar, e obrigado pelas palavras simpáticas que nos dirige. Na realidade, não fazemos História com H grande, mas sem as nossas histórias com h pequeno, a grande será ou seria sempre mais pobre e redutora... Refiro-me, naturalmente, àquele pedacinho de História que nos coube na rifa: Guiné, 1961/74...

Para suia informação, temos um marcador que lhe deve interessar, com cerca de 15 referências: "as músicas das nossas vidas"... Vamos apelar aos nossos camaradas que integram a Tabanca Grande e que alimentam o nosso blogue, para que retomem este tema... O Pifas [, mascote do Programa das Forças Armadas,] é outro marcador que lhe pode interessar, a si e à equipa radiofónica que está a fazer o programa "Canções da Guerra"...

Vou-lhe mandar o meu nº de telemóvel. Sei que frequenta as terras da minha natalícia Lourinhã, já o tenho visto por aqui, aos fins de semana.  Gostaria de o conhecer pessoalmente, para trocarmos ideias sobre este projeto. Sinta-se à vontade para me contactar por telemóvel ou email. Boa sorte para o programa a que vou /vamos estar atentos. De resto, a Antena 1 é a minha rádio... LG

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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de agosto de  2015 > Guiné 63/74 - P15041: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (32): O "making of" de um projeto de ajuda ao Hospital de Cumura (João Martel e Ana Maria Gala)

quarta-feira, 28 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9672: Cancioneiro de Gandembel (1): Do Hino de Gandembel ao poema épico Os Gandembéis (Parte I) (Idálio Reis)


Monte Real, Palace Hotel, 26 de Junho de 2010 > V Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > O saudoso João Barge (1944-2010), ao meio, com o Idálio Reis (à direita, segurando uma cópia das letras do Cancioneiro de Gandembel) e o camarada Eduardo Moutinho dos Santos, ex-capitão miliciano (que comandou a CCaç 2381 "Os Maiorais", 1968/70),  hoje advogado e presidente da Mesa da Assembleia Geral da ONG Tabanca Pequena (Matosinhos).

O João, já o conhecia, superficialmente, de um dos primeiros convívios da Tabanca do Centro. Natural de Aveiro, foi +professor no Instituto Politécnico de Leiria. Agora, o que não imaginava é que ele era também um dos homens-toupeira de Gandembel e um dos famosos letristas do Cancioneiro de Gandembel. Daí ele aparecer ao lado do Idálio Reis que, de resto, me ficou de mandar uma cópia das letras do Cancioneiro (que não se resume ao hino)... Infelizmente, uns meses depois  a morte  roubou-nos o João Barge. 

  

Foto: © Luís Graça (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Nos dia 9 e 10 do corrente, troquei com o Idálio Reis (ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835 (Gandembel e Ponte Balana,  Nova Lamego, 1968/69) a seguinte correspondência:

1.1. Idálio: (...) Diz-me se posso publicar,  no todo ou em parte, no nosso blogue, os Gandembéis!... Aliás, gostava que fosses tu a apresentar: (i) o hino de Gandembel; e (ii) Os Gandembéis (incluindo a introdução sobre o vosso quotidiano em Gandembel)...


Ainda não tinha visto nada parecido, uma magnífica paródia dos Lusíadas!... (Bem, o nosso poeta Manuel Maia, o bardo do Cantanhez, fê-lo em relação à história de Portugal, mas é produção recente)...

Arte, mestria, drama, tragédia, epopeia, humor de caserna!... Uma obra-prima que mete o Cancioneiro do Niassa a um canto (sem desprimor para os anónimos autores, dos 3 ramos das forças armadas, da base de Metangula, que escreveram as letras das cerca de 4 dezenas de canções que integram o cancioneiro moçambicano).

Isto foi escrito em 1969, ainda no calor da batalha, seguramente não muito longe de Gandembel... Ainda cheira a pólvora, ainda sabe a sangue, suor e lágrimas:

(...) "Em Gandembel, tanta tormenta e tanto dano,
Tantas as vezes a morte apercebida,
No arame farpado, tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida;
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida ?
Que não se arme e se indigne o céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno. (...)


Isto só pode ter sido escrito por gente com talento (literário), cultura, sensibilidade e... muitos dias de sofrimento e de insónias!!!


Quem são os seus autores ? Tu falas em "2 humildes anónimos"... Isto é claramente "made in Guinea", embora pós-Gandembel, quando vocês foram para o leste, para o Gabu, segundo percebi... Foram escritos em Nova Lamego, é isso, na "ressaca" de Gadembel ?!...Tinhas uma cópia em papel ? Foi reconstituído mais tarde ? De memória, seria impossível... Tens seguramente uma cópia...Nunca me tinhas falado dos "Gandembéis"...

Estou em pulgas para começar a publicar isso, numa nova série, com o teu nome associado... De alguma maneira, estamos ali todos naqueles cantos e naquelas oitavas decassílabas (são cerca de 65 estrofes, divididas por 4 cantos!)... Diz-me qualquer coisa... 


Como sabes, o blogue deu a conhecer ao mundo "o suplício de Sísifo" de Gandembel, há uns anos atrás, na série Fotobiografia da CCAÇ 2317 (*)...Mas hoje temos muito mais audiência: em média, 4 mil visitas por dia (...)

1.2. Respostade Idálio Reis, com data de 10 do corrente:


Meu caro Luís: Em primeiro, aflorarei alguns aspectos quanto à divulgação do livro. Como te referi, atendendo a que o meu primeiro convívio de ex-camaradas da tropa é o de Monte Real, é meu desejo que o início da sua partilha tenha efectivamente aí lugar.

É para a tertúlia da Tabanca Grande, um dia de festa-convívio, e surge a ocasião mais que propícia para se concretizar esta intenção. E terá um digno cicerone, que é o J. Mexia Alves.

Também, como facilmente reconheces, já houve alguns pedidos para o seu envio, e a resposta foi sempre a mesma: (i) se lá estiveres, tudo bem; (ii) acaso não puderes estar presente, pede a um companheiro mais afim para to levar.

Abri, se a palavra for recta, com todo o carinho, duas excepções: há dias, apareceu-me o Paulo Santiago em minha casa, veio propositadamente de Aguada - não é longe da minha aldeia - com quem partilhei um exemplar, com um outro como portador para o seu conterrâneo Victor Tavares. O Torcato Mendonça, para ficar mais sossegado, enviei-lhe a cópia final das provas, em formato pdf.


E sobre isto, julgo que terias o mesmo procedimento, ou haverá algum equívoco da minha parte?

Quanto ao capítulo Os Gandembéis, imodéstia à parte, ficou bem, até porque junta alguma gente da Companhia. Já há muito tempo, o Blogue divulga o Hino. Desde o meu António Almeida, de alguns baladeiros, até aos Furkuntunda, foi uma dádiva muito especial.

Quanto aos Gandembéis, obviamente que sabia da sua existência, mas só consegui obter uma cópia, já em período posterior aos meus apontamentos no Blogue. Como referes, é uma obra-prima. Está lá a história da Companhia, inclusive a do Bigode Reis, que pela Guiné toda faça espanto, de RDMs e recusas singulares, de Gandembel as terras e do Carreiro os ares. E há um fundo de verdade, nestas palavras.

É uma obra que o apaziguador tempo de Nova Lamego proporcionou.  Os seus autores, são anónimos e humildes. De todo o modo, faço-te a revelação: um deles, foi o malogrado e inesquecível João Barge, um filólogo de escol, e que decerto seria a única pessoa capaz de emprestar tanta arte e sensibilidade à sua pena.

Ainda que tivesse surgido em Gandembel, nos finais de outubro/princípios de novembro [de 1968], e num período em que se vivia já numa situação de mais alívio, teve a ajuda de um dos pioneiros da Companhia, um ex-furriel que ao tempo já era professor primário.

Luís, quanto à sua antecipada divulgação, fica ao teu critério. O capítulo tem um texto meu, e o resto já sabes. Para o efeito, faço anexar esse capítulo.


Por fim, uma mensagem. Gostava muito, que o livro fosse inserto da forma que já te enunciei. Ao Blogue, pertence-lhe uma grande quota-parte do seu aparecimento.

Um caloroso abraço do Idálio Rreis.


Guiné > Zona leste >  Nova Lamego (?) > CCAÇ 2317 (1968/69)  > Depois do abandono de Gandembel / Ponte Balana, em 28 de janeiro de 1969, por ordem do Com-Chefe, a companhia  é colocada no leste, no Gabu... 372 ataques e flagelações em menos de 9 meses (abr 68/ jan 69) é capaz de ser um recorde digno do Guiness... Foto nº 223, do álbum de Idálio Reis.



Guiné > Região de Tombali > Gandembel / Balana >CCAÇ 2317 (1968/69) > O Alf Mil Reis, junto à ponte sobre o Rio Balana, Balanazinha, construída em 1946. Foto do álbum de Idálio Reis.

Foto: © Idálio Reis  (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


2. OS Gandembéis: O Nosso Cancioneiro, as nossas músicas, os nossos poetas (Parte I)

por Idálio Reis (*)

Na fria e imensa crueldade dos sofridos tempos de vivência em Gandembel, não seria possível resistir, por inteiro, se um forte espírito de solidariedade e de companheirismo não se irmanassem numa incontida e estóica perseverança. Teria de haver, alicerçada na junção indefectível daqueles homens, tantas e tantas vezes assolados pela perfídia do inimigo, ocasiões a surgirem, para podermos desfrutar de bons momentos de lazer, já que tão essenciais elas se revelavam no alívio de almas angustiosas e inquietantes, que aquele malévolo poiso, acintosa e despudoradamente,  desencadeava.

Se, de todo, jamais poderíamos ficar indemnes a essas incontáveis vicissitudes resultantes das diversas contingências de uma guerra que não dava tréguas, forçosamente teríamos que arranjar formas capciosas de as enfrentar, a fim de serenar os nossos abalados espíritos. A confraternização entre todos, era a mola crucial para o esconjuro, e muito certamente a forma mais enternecedora para superar os fantasmas, que assolavam pungentemente os nossos lídimos sentimentos de aversão e revolta.

No geral, já com a Companhia instalada nas suas casernas-abrigo, e quando as tarefas não se tornavam impeditivas, as tardes propiciavam à junção de grupos mais afins, para reinventarem entretenimentos, e deixar passar o tempo insinuantemente, e que representavam autênticos momentos de um indelével prazer, à mercê da espontaneidade e da imaginação que cada um de nós fazia surtir, para vir a ser a preferida de momento.

Para além de incluir o arranjo de certos artefactos de carácter colectivo, tendentes ao conforto, como os casos de pequenas cabanas muito simples, onde coubessem uma mesa e bancos, de chuveiros em que a água emanasse em maior débito, ou até de zonas da lavagem de roupa ou das marmitas/latas do rancho, havia lugar às brincadeiras de puro divertimento e encanto, que a meninice retivera, mas com um único senão, que era a zona de recreio ser limitativa, imposta por razões de segurança pessoal. É que mesmo durante a claridade do dia, não se inibia a que houvesse olhos e ouvidos permanentemente atentos à emergência de putativos perigos advindos do exterior ao arame farpado.

Mas, se uns tinham mais apetência pelos jogos ao ar livre, outros preferiam os passatempos de caserna, onde preponderava a arte da prestidigitação dos baralhos de cartas, em que o jogo da sueca detinha uma larga primazia. Formaram-se parelhas de grande valia, particularmente difíceis de derrotar nalguns campeonatos que se realizavam a troco de umas cervejas frescas, que era a bebida de maior requinte, que de quando em vez até surgia em Gandembel.


Havia uns quantos, mais propensos a outros tipos de iniciativas, de índole branda e afectiva, que através de um singelo aerograma, buscavam corresponder-se com uma madrinha de guerra de encantamento e sedução, e que em determinadas circunstâncias, muitas vezes se vieram a tornar elementos fundamentais na estabilidade de temperamentos emotivos.

Havia também os mais artífices, que em geral, transformavam produtos utilizados da guerra, em pequenos e preciosos artigos de paz, que se guardavam como adereços de primazia, e ainda hoje perduram como gratificante recordação da comissão.

Mas, os de carácter mais expansivo, talvez os que melhor sabiam contrapor a tolerância às hostilidades, de forma a quietarem as suas incomodidades, entretinham-se no cantarolar ou assobiar as músicas das canções em voga, aprendidas nos bailaricos de há poucos meses atrás.

No trauteio dessas canções, havia uma colectânea vasta para fazer surgir o despique, como forma de reconhecer os mais exímios no ajuste ressonador dessas melopeias.

E daí, surgiu espontaneamente uma ocasião única, singular, um momento particularmente grato, de alguém ter concebido com imaginação e engenho, o hino de Gandembel. Após algumas sessões de requintada afinação, não duraria muito tempo para que não fosse amplamente aceite por toda a Companhia. 


(Continua)
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Notas do editor:

(*) Vd.  postes da série:

16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá

9 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1576: Fotobiografia da CAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (2): os heróis também têm medo´

12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1654: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (3): De pá e pica, construindo Gandembel

2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras

9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1743: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (Idálio Reis) (5): A gesta heróica dos construtores de abrigos-toupeira em Gandembel

23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1779: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (6): Maio de 1968, Spínola em Gandembel, a terra dos homens de nervos de aço

21 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1864: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (7): do ataque aterrador de 15 de Julho de 1968 ao Fiat G-91 abatido a 28

8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1935: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (8): Pára-quedistas em Gandembel massacram bigrupo do PAIGC, em Set 1968

19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques

18 de Setembro de 2007>Guiné 63/74 - P2117: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (10): O terror das colunas no corredor da morte (Gandembel, Guileje)

10 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)

(**) Fonte:  REIS, Idálio - A CCAÇ 2317 na Guerra da Guiné: Gandembel / Ponte Balana. Ed. de autor, [Cantanhede], 2012, pp. 197-198.

terça-feira, 22 de julho de 2008

GUiné 63/74 - P3083: Os Nossos Regressos (12): Vagabundo e os outros fantasmas dos Lassas que lá ficaram na Região de Tombali (Mário Fitas)

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS do BART 1913 (Catió 1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Vila >Foto 36 > "Militares [?] na esplanada do Bar Catió, em fundo, a casa do Sr. José Saad e as lojas deste".

Foto e legenda: © Vítor Condeço (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Mário Fitas, com data de 5 de Julho: (Recorde-se que o Mário Fitas - de seu nome completo, Mário Vicente Fitas Ralhete, - foi Fur Mil da CCaç 763, connhecida pelo nome de guerar Os Lassas, Cufar, 1965/66; natural de Elvas, é autor de dois livros sobre a guerra colonial da Guiné, misto de memórias e de ficção; criador de uma notável personagem, uma mulher guineense, balanta, exemplo de grande coragem e dignidade, a quem ele deu o nome de Pami Na Dondo) (1).

Assunto - Os nossos regressos!


Caro Luís:

Tenho dúvidas se esta minha ideia se coaduna com o tema. Mas julguei ser o momento próprio, para prestar homenagem a três Homens (Irmãos). Eu e eles sempre estivemos juntos. Dois já partiram mas deixaram muito: Luís Manuel Tavares de Melo –Açores, Micaelense de Raça; António Pedro dos Santos Garcia Lema - Matosinhense (de quem a minitertúlia lá de riba se pode orgulhar) não só como Homem, mas pelo que a Pátria lhe pôs no peito.

O outro, Francisco José Gameiro Pedrosa, um homem da Vieira de Leiria, amigo comum, julgo eu, meu e do Joaquim Alves Mexia. Vamo-nos telefonando e encontrando conforme as oportunidades.

Por eles, vai muito da vontade com que humildemente participo no Blogue.

Caro Luís, Briote e Vinhal para vós e toda a Tabanca, aquele abraço de sempre do tamanho do Cumbijã!

Mário Fitas





Capa do livro de Mário Vicente, Putos, Gandulos e Guerra (2000).

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Transcrição do livro Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente > Capítulo XV- Adeus à Guerra

Fixação do texto: L.G.


A 10 de Novembro de 1966, completamente rota, a CCAÇ 763 começa a ser rendida para regressar a casa. Os primeiros dois grupos de combate partem para Catió, no dia em que é inaugurada oficialmente, pelo Rev Capelão do Batalhão, a Capela construída exclusivamente por elementos da CCaç. Assiste à cerimónia a maioria da Companhia. O restante pessoal seguirá dois dias depois.

Não sabemos quando embarcaremos, mas já estamos desarmados. Resta saber se ainda vamos para Bissau, ou como será?...

Finalmente sabemos que as lanchas nos vêm buscar no dia 18 e que faremos a viagem directamente para o barco, que mais tarde viemos saber, ser o “Niassa”.

Bem nos fornicaram! Tiraram-nos tudo e, para não recordarmos, nem um bibelô de madeira ou outra bugiganga qualquer de missanga podemos adquirir. Temos de nos cingir ao mercado de Catió onde os preços sobem em flecha imediatamente. Compram-se alguns tapetes pelo dobro e triplo do preço normal, ficando os militares desorientados sem saberem o que levar para pais, esposas, familiares e amigos.

Vão eles! Que melhor recordação se pode levar? Foi a melhor prenda que Francisca Fitas e António Vicente receberam: o regresso de seu filho.

O regresso de uma guerra é fim de drama que geralmente ocasiona problemas. Os soldados, festejando o regresso à sua terra natal, e desfazendo-se dos “pesos” que não lhe servirão para nada, encharcam-se e esgotam os stocks de cerveja e whisky.

São bebedeiras colossais! Começamos a tentar controlar, não vá haver problemas. Os soldados não largam a casa da Libanesa, e pressente-se que vai haver bronca. Felizmente as coisas não correram muito mal, uma dezena de blenorragias e embarcamos em Catió directamente para o “Niassa”.

Nas lanchas que transportam o pessoal, há um misto de alegria e tristeza, reflexo do estado de espírito que antecede os grandes momentos. Incrédulos, os soldados olham-se num sonho de abandono ou retorno à guerra?!

Vagabundo vai olhando para as margens com o tarrafe e a floresta, entrando rio dentro em maré cheia. A Natureza pode agora ser admirada na sua plenitude, e verificar-se como é linda esta terra.

África! Mistério! Tu que prendes o homem e o fazes ligar-se por um feiticismo indefinível, fazendo-o sentir uma atracção especial por esta terra!... O Sol esconde-se e podemos continuar apreciando-te sob o teu feiticeiro luar como se dia foss, todas as tuas estranhas e selvagens belezas.

Embalado pelo ronronar do barco, o furriel Vagabundo puxou por um cigarro, e deixou-se escorregar suavemente, e o seu cérebro começou deambulando no sonho ou realidade!?

Vagueando a sua mente navegou a seu belo sabor.
........

Vagabundo está encarcerado nas paredes da sua prisão, com falsas janelas e portas, símbolos de ilusões e indefinidas perspectivas. Está encarcerado nos seus limites, sendo um homem completamente livre. A sua alma está tão ligada à de Tânia que não necessita dela só para se abrir, mas mais… muito mais para existir. Mas vê-se caminhar só, numa turbulência de sobe e desce. O vazio escurece-lhe a alma e desce mais do que sobe.

No amolecimento deslizar da lancha, encostado ao saco de lona verde, sente-se livre da Guerra, mas… olhando para as suas mãos, estas apresentam-se sujas de sangue, vazias, cheias de nada. Nestes últimos anos tudo tentou, mas nada encontrou. Maria de Deus? Não! Apenas a dor e a Guerra! Quem o ajudará a encontrar a tão necessária estabilidade de que tanto carece? Puxa novamente outro cigarro instintivamente, sem o pensamento se lhe ir. Se ao menos uma companheira, amante e amiga, lhe estendesse a mão e apenas pronunciasse:
- Vem! O tempo é agora todo nosso, repousa no meu ombro, e varre da mente toda a lama da Guerra!

Não, não será assim! Apenas sua paciente mãe Francisca o ajudará e sofrerá a sua recuperação de homem, esquecendo a máquina de guerra em que se transformou.

Se a morte existisse neste momento, a união seria perfeita. Há duas coisas que merecem ser desejadas: o impossível e a realidade, mas sente-se por desconhecimento, desejo do impossível.

A fama da Guerra na Guiné alastrou cedo entre os militares e não só! Ao próprio Povo incógnito também chegou essa informação, como ao tio Chico da Camioneta. Só quem não queira, se faz ignorante de que a simples mobilização para a Guiné era condenação pura próximo de vinte e dois, ou vinte e três meses de apodrecimento, enraizados na lama das bolanhas, pântanos, e rios de maré, piores que quatro anos de meio barril às costas, subindo a ladeira da Fonte do Marechal ao Forte da Graça em Elvas!...

Resta, após a partida, o desejo que o regresso não seja entre tábuas, de muletas, carrinho de rodas ou completamente cacimbado.

Só quando se chega à Guiné, se conhecem os nomes assombrados das matas do Cantanhez no sul e do Oio-Morés no norte. Recordando, o furriel faz mais uma vez a comparação das matas com a solidão.

Solidão!... Degradação de existência não compartilhada!... Dementação de espírito que se destrama no escorregadio carreiro da mata, inspirando o seu nauseabundo odor a morte. Neste estádio, apenas as figuras sombras dos companheiros da frente, e a pressentida presença dos que nos precedem. Momentos cruéis de stress, sentindo olhares de seres invisíveis trespassando-nos em minuciosa tomografia computorizada, esperando o momento ideal para clicarem o botão (gatilho) que nos queimará a carne.

São estes os momentos em que a mente, em louco desprendimento, se desapega do corpo e vagueia em sonhos de realidade distante. Mortificando, são estes os momentos que nos trazem os mais excêntricos pensamentos da vivência existida e daquela que é túnel escuro do amanhã que se espera...

Cansado o guerreiro, esgotado o cérebro, o homem duro adormeceu. Vinte e quatro anos! Quanto pesarão estes dois últimos dois na sua vida!?...

Chegada a Bissau, ao princípio da tarde do dia seguinte. Há que embarcar e distribuir o pessoal pelas camaratas _colchões colocados nos porões. Os oficiais e sargentos ocuparão os camarotes. O “Niassa” largará na maré cheia que acontecerá pela madrugada. Os oficiais e sargentos, que não estejam de serviço, são autorizados a sair até à meia noite impreterivelmente.

Chico Zé, Vagabundo, Jata e António Pedro saem juntos e abancam no Tropical. Camarão de Quinhamel, ostras e cerveja até encharcarem. Fartos como brutos, bêbedos que nem cachos, cada um sonha com a chegada a Lisboa. Próximo da meia noite, António Pedro, já amparado por Chico Zé e Jata, sobem as escadas do "Niassa", mas o peso de António Pedro é cada vez maior. Vagabundo, a meio das escadas, manda sentar o pessoal e diz para Chico Zé:
- Porra! Não cantamos um fado à despedida desta Terra? - Silêncio! Os camaradas não respondem.
- É, cambada!... ninguém diz nada, cabrões?... Senão falam então ouçam a minha Florbela! (2)

Parecendo que o álcool lhe tornava a voz suave e profunda, recitou:

"Almas de Vagabundos
Onde há charcos e lagos
Pântanos e lamas…
Onde se erguem chamas
Onde se agitam mundos,
E coisas a morrer…
E sonhos… e afagos…

Almas sem Pátria,
Almas sem rei,
Sem fé nem lei!
Almas de anjos caídos,
Almas que se escondem para gemer
Como leões feridos!”


- Merda! Já acabou tudo!?... Amen!

Jata pede a Vagabundo que dê uma ajuda, este estende o braço mas escorrega e cai para dentro do portaló. Dois vultos indefinidos rolam no escuro pelas escadas do "Niassa". Um mergulha nas águas do Geba, o outro dilui-se.

Silêncio absoluto. Nenhum marinheiro gritou:
- Homem à água!...

Na sua voz pastosa e alcoolizada, António Pedro perguntou:
- O Queeee… foooi?

Calças de Palanco, agora já em pé, respondeu:
- Foi o Mamadu que não quis abandonar a sua terra e preferiu ficar nas águas e lama do Geba!
- Que fique em paz na lama, a sua sombra!

Saiu em uníssono da boca dos quatro militares.
- E o Vagabundo?

Voltou para Cabolol para recomeçar a Guerra.
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2593: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (11) - Parte X: O preço da liberdade (Fim)


(2) Vd. poste de 12 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2043: Bibliografia de uma guerra (22): Putos, Gandulos e Guerra, de Mário Vicente, aliás Mário Fitas (CCAÇ 763, Cufar)

(3) Vd. Vidas Lusófonas > Florbela Espanca (Vila Viçosa, 1894; Matosinhos, 1930). Poetisa trágica, pôs termo à vida no dia em que fez 36 anos. Justamente em Matosinhos, onde vivia.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Guiné 63/74 - P2133: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008)(4): Hino de Gandembel, quem se lembra da música ? (Pepito / Luís Graça)

Guiné > Regiã de Tombali > Ponte Balana > Novembro de 2000 > Um grupo de camaradas de visita a Guiné, onde se incluiram os nossos tertulianos Albano Costa, Hugo Costa, Zé Teixeira, Xico Allen e Casimiro Vieira da Silva... Ponte Balana era um destacamento de Gandembel, no tempo do Idálio Reis (CCAÇ 2317, 1968/69).

Foto: © Albano Costa (2006). Direitos reservados.


1.Mensagem do Pepito, com data de hoje:


Amigo Luís:

Para o Simpósio de Guiledje (1) estamos a pensar organizar num dia à noite, uma sessão de músicas, danças e poesia, daquele tempo. Para isso ocorreu-nos introduzir também cantigas que os militares cantavam nas casernas em Guiledje e Gandembel.

Sei que há um famoso Hino de Gandembel (tenho a letra que saiu no Blogue)(2), mas falta a música, que sei ser de um fado conhecido. Será que o Idálio se
lembra da música? Era importante ter uma gravação para os nossos músicos
poderem interpretar a cantiga (3).

Mais te informo que o site sobre o Simpósio estará cá fora na primeira
semana de Outubro, podendo as pessoas colaborar com opiniões, comentários e
sugestões.

abraço
pepito

2. Comentário de L.G.:

Eu sei trautear a música, mas não a consigo identificar... Tal como acontecia com o Cancioneiro do Niassa (o mais completo e mais célebre de todos os cancioneiros da guerra do ultramar / guerra colonial, até por que foi proibido pela censura do regime político de então), a malta na Guiné usava as músicas de fados, baladas e outras canções em voga...

Pepito, vou/vamos fazer um esforço por identicar a música e arranjar uma gravação do famoso hino de Gandembel que trauteávamos em Bissau, nós, os velhinhos e os periquitos...

Lembro-me bem que, nos primeiros tempos da minha comissão, em Contuboel e depois em Bambadinca (CCAÇ 12, 1969/71), era de facto Gandembel, juntamente com Madina do Boé, um dos lugares mais míticos, mais aterradores e mais fantasmagóricos do sul... E eu ainda nem sequer conhecia os relatos dos camaradas que lá viveram, como o Idálio Reis e os seus camaradas da CCAÇ 2317!...

Hoje diria que o hino de Gandembel é uma peça bem humorada, satírica, com uma letra típica do poeta de caserna, cuja função era exorcizar os medos e os fantasmas dos tugas... Desconheço o seu autor, pode até não ser ninguém da CCAÇ 2317, mas um qualquer trovador da guerra do ar condicionado do QG ou da 5ª Rep - o Café Bento... Pode ter sido escrito, numa esplanada de Bissau, com base em relatos que vinham do sul... Não sei, estou a especular... Talvez o Idálio nos possa responder a esta dupla questão: (i) quem escreveu a letra; e (ii) que música acompanhava a sua execução ?

O hino era cantarolado por nós, em noites de copos, de tainadas, enquanto se descansava e se esperava pela próxima saída para o mato... Era usado como se fosse uma espécie de talismã, mezinho ou ritual de exorcismo... Mesmo que não soubessemos onde ficava exactamente Gandembel nem a Ponte Balana, ficámos mais protegidos contra as ameaças, os perigos e os fantasmas que por lá pairavam, no sul, e que eram os mesmos que íamos descobrindo na zona leste...

Em meados de 1969, Gandembel (abandonado em Janeiro desse ano) era pura e simplesmente a visão do... inferno! Gandembel e Madina do Boé (também abandonado uns dias depois, já em Fevereiro)... Guileje virá muito mais tarde (Maio de 1973)...

Pepito, vou tentar arranjar-te e mandar-te o CD com as canções do Niassa, para ficares com uma ideia. É uma edição da EMI/Valentim de Carvalho, 1999. Há gravações originais (Rádio Metangula, 1969) na Página do José Rabaça Gaspar > Cancioneiro do Niassa.
_____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

6 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2084: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 Março de 2008) (1): Uma iniciativa a que se associa, com orgulho, o nosso blogue

7 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2086: Guileje: Simpósio Internacional (1-7 de Março de 2008) (2): Programa provisório

(2) Vd. post de 30 de Dezembro de 2005 > e 30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDII: O Hino de Gandembel (José Teixeira / Luís Graça)


Hino de Gandembel

Ó Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.

- Meu Alferes, uma saída! -
Tudo começa a correr.
- Não é pr’aqui, é pr’ponte! (i),
Logo se ouve dizer.

Ó Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (ii) e morteiradas.
Ó Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se ligam os rádios
Ao som de estrondos e tiros.

A comida principal
É arroz, massa e feijão.
P’ra se ir ao dabliucê (ii)
É preciso protecção.

Gandembel, encantador,
És um campo de nudismo,
Onde o fogo de artifício
É feito p’lo terrorismo.

Temos por v’zinhos Balana (i),
Do outro lado o Guileje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três (iv) te protege.

Bebida, diz que nem pó,
Só chocolate ou leitinho;
Patacão, diz que não há,
Acontece o mesmo ao vinho!

Recolha: José Teixeira / Revisão de texto: L.G.
____________

Notas de L.G.:

(i) A famosa ponte sobre o Rio Balana, destacamento da CCAÇ 2317 (que estava em Gandembel, Abr 68/Jan 69)
(ii) Verylights
(iii) WC
(iv) A espingarda automática G-3







(3) Vd. posts sobre os vários Cancioneiros que até a esta data já conseguimos recolher no nosso blogue. Quando tiver tempo, vou fazer uma análise de conteúdo de todas as letras !

Bafatá

31 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXV: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (1): Obras em Piche

31 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXVI: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (2): Piche, BART 2857

11 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCXCII: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (3): O Hotel do RC 8

11 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCXCV: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (4): Lavantamento de rancho

Bambadinca

24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1695: Cancioneiro de Bambadinca: Isto é tão bera (Gabriel Gonçalves)

Canjadude

28 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXCIII: Cancioneiro de Canjadude (CCAÇ 5, Gatos Pretos)

Empada

1 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P828: Cancioneiro de Empada (Xico Allen)

Gandembel

30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDII: O Hino de Gandembel (Zé Teixeira)

Mansoa (autor: Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-furriel miliciano de operações especiais, da CCS do BCAÇ 4612, 1974)

1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVI: Cancioneiro de Mansoa (1): o esplendor de Portugal

1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVII: Cancioneiro de Mansoa (2): Guiné, do Cumeré a Brá

7 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLVI: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira...

10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLIV: Cancioneiro de Mansoa (4): a arte de ser 'ranger'

1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDIX: Cancioneiro de Mansoa (5): Para além do paludismo

19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLIX: Cancioneiro de Mansoa (6): O pesadelo das minas

15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVIII: Cancioneiro de Mansoa (7): Os periquitos do pós-guerra

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXI: Cancioneiro de Mansoa (8): a amizade e a camaradagem ou o comando da 38ª

3 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P837: Cancioneiro de Mansoa (9): A mais alta de todas as traições

Xime:

31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1009: Cancioneiro do Xime (1): A canção da fome (Manuel Moreira, CART 1746)

Niassa (Moçambique)

11 de Maio de 2004 > Blogantologia(s) - XI: Guerra Colonial: Cancioneiro do Niassa (1) (Luís Graça)

(...) Há uma edição discográfica das Canções do Niassa, que resultaram da colaboração do actor João Maria Pinto (que no início da década de 1970 fez, com um grupo de amigos, as primeiras gravações do Cancioneiro do Niassa, vendendo depois as cassetes piratas aos soldados recém chegados) e ao produtor Laurent Filipe: Canções proibidas: O Cancioneiro do Niassa. Lisboa: EMI - Valentim de Carvalho, Música, Lda. 1999. CD. 7243 5 20797 2 8.

Foram seleccionadas e gravadas 13 canções, cantadas pelo João Maria Pinto e seus convidados (entre outros, Carlos do Carmo, Rui Veloso, Paulo Carvalho, Janita Salomé, João Afonso):

1. Ventos de Guerra - João Maria Pinto/Rui Veloso;

2. Taberna do Diabo - João Maria Pinto/Gouveia Ferreira;

3. Fado do Checa - Paulo de Carvalho;

4. O Turra das Minas - João Maria Pinto/Rui Veloso;

5. Erva Lá Na Picada - João Maria Pinto/Janita Salomé;

6. Luta p'la Vida - João Maria Pinto;

7. Neutel d'Abreu - João Maria Pinto/Mariana Abrunheiro;

8. Bocas Bocas - Lura, João Maria Pinto/Mingo Rangel;

9. Fado do Miliciano - Janita Salomé;

10. O Fado do desertor - Carlos do Carmo;

11. O fado do Antoninho - Teresa Tapadas;

12. Hino de Vila Cabral - Carlos Macedo/João Maria Pinto;

13. O Hino do Lunho - João Maria Pinto e outros (João Afonso, Ana Picoito, Tetvocal...).

Destas 13 canções, apenas se conhecem os autores de duas: Gouveia Ferreira (Taberna do Diabo) e Carlos Macedo (Hino de Vila Cabral). (...).

Vd. ainda:

(i) Página do nosso camarada Jorge Santos > A Guerra Colonial > Canções do Niassa

(ii) Página do José Rabaça Gaspar > Cancioneiro do Niassa

"(...) as CANÇÕES que fazem parte da Gravação da Rádio Metangula, da Marinha, em 1969, na voz de João Peneque (Como é evidente, pedimos desculpa das falhas na gravação, que foi recuperada a partir de uma cassete gravada em 1969, pelos bons serviços dos amigos Manuel Aleixo e Manuel Cruz, a quem deixamos os melhores agradecimentos) " (...)

Este camarada fez parte da CART 2326, Os Lobos de Maniamba (Moçambique, 1968/70).