Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 25 de julho de 2024
Guiné 61/74 - P25776: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (53): Operação Jaguar Vermelho - III: dia 1 de Junho de 1970
"A MINHA IDA À GUERRA"
João Moreira
OPERAÇÃO JAGUAR VERMELHO - III
1970/JUNHO/01
Em CANFANDA emboscamos os 3 grupos de combate ao longo do trilho, conforme o estabelecido.
Às 10h30 ouviu-se um helicóptero que pelo rádio chamou "leão?? - um algarismo que não me recordo)". Identificou-se como "leão 1" e disse que ia pousar.
Com todos os acontecimentos anteriores eu não sabia qual era o nosso nome de código.
Perguntei ao soldado das transmissões quem era o "leão 1" e ele também não sabia.
Mandei-o dizer para não pousar, porque íamos montar segurança.
Resposta imediata do helicóptero: "Vou pousar. Não preciso de segurança".
Entretanto aparece o Alferes Pimentel com 1 secção, e pediu-me outra secção para montar segurança ao helicóptero que trazia o General Spínola.
Quando chegamos ao local, para montar segurança, já o heli tinha pousado.
Do heli saiu o General Spínola, um brigadeiro (penso que era o 2.º Comandante das Forças Armadas), o Capitão Almeida Bruno (Ajudante de Campo do General Spínola) e um alferes (penso que era o piloto do heli - Jorge Félix?).
Guiné > Algures > Jorge Félix, Alf Mil Piloto de Heli Al III (BA 12, Bissalanca, 1968/70) e António Spínola (Com-Chefe e Governador Geral, CTIG, 1968/73)...
Foto: © Jorge Félix (2010). Todos os direitos reservados
O General Spínola perguntou para que era aquele pessoal que ia connosco.
Como o Alferes Pimentel disse que era para montar segurança, mandou-os regressar ao local da emboscada, dizendo que ele não precisava de segurança.
Quis saber como tinham acontecido as coisas na véspera e qual era o moral do pessoal da Companhia, após o ataque que tínhamos sofrido e que tinha provocado ferimentos graves ao nosso capitão.
Deu-nos notícias do estado do Capitão Moura Borges.
Disse que antes de vir para a Operação, que continuava a decorrer, tinha ido ao Hospital Militar ver o Capitão Moura Borges.
Informou-nos que já tinha sido operado e que tinha corrido bem.
Iria ser transferido para o Hospital Militar de Lisboa, para a recuperação ser mais rápida, porque o clima húmido da Guiné não era favorável a esta situação.
Durante a conversa com o General Spínola, o brigadeiro veio ter comigo para saber onde estava instalada a nossa Companhia.
Apontei-lhe o local e disse-lhe que era ali o trilho indicado para a Companhia montar a emboscada.
Para meu espanto, o brigadeiro mandou-me buscar o pessoal da Companhia, para o nosso General passar revista.
Felizmente para mim, o Capitão Almeida Bruno assistiu à conversa/ordem que o brigadeiro me deu.
Achei um grande disparate, mas cumpri a ordem do brigadeiro - Quem era o furriel "periquito" que não cumpria a ordem recebida dum brigadeiro?
Contrariado, fui buscar o pessoal da Companhia e dirigi-me para junto do heli, onde estava a decorrer o nosso encontro.
Quando chegamos junto do heli, o General Spínola perguntou-me quem me mandou ir buscar os soldados.
Apeteceu-me dizer que tinha sido o brigadeiro - o que era verdade - mas ao mesmo tempo pensei na gravidade de um furriel "periquito" estar a acusar um brigadeiro.
E aqui valeu-me a ajuda do Capitão Almeida Bruno. Contornou parte do círculo que formávamos e colocou-se virado para mim e a apontar para o brigadeiro. Fez isto várias vezes, mas eu continuava a ter medo das consequências.
Bastava o brigadeiro dizer que não me deu essa ordem e eu é que ficava como mentiroso. O Capitão Almeida Bruno viu o meu "desespero", contornou novamente parte do círculo e quando passou por trás de mim, bateu-me nas costas e disse: "Diz que foi o brigadeiro". Com este "apoio", decidi e respondi ao General Spínola:
"Meu Comandante, foi o nosso Brigadeiro que me deu ordem para levantar a emboscada e trazzer o pessoal para aqui, para o meu Comandante passar revista".
Resposta do General Spínola: " O nosso Brigadeiro aqui não manda nada. Volta a instalar o pessoal no trilho, e eu é que vou lá visitá-lo para não arriscar a segurança deles".
Desta já me safei, pensei eu.
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 18 DE JULHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25758: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (52): Operação Jaguar Vermelho - II: dia 31 de Maio de 1970
quinta-feira, 16 de novembro de 2023
Guiné 61/74 - P24854: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (17): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Operação "Jaguar Vermelho", de 26 de Maio a 8 de Junho de 1970 na região do Morés
"A MINHA IDA À GUERRA"
17 - HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: CAPÍTULO II - ACTIVIDADES NO TO DA GUINÉ
OPERAÇÃO "JAGUAR VERMELHO", DE 26 DE MAIO A 08 DE JUNHO DE 1970 NA REGIÃO DO MORÉS
João Moreira
JUNHO DE 1970
INCLUINDO A OPERAÇÃO "JAGUAR VERMELHO", DE 26 DE MAIO A 08 DE JUNHO DE 1970 NA REGIÃO DO MORÉS
O MEU COMENTÁRIO AO DIA 01 DE JUNHO DE 1970
OPERAÇÃO JAGUAR VERMELHO
1970/JUNHO/01
Em CANFANDA emboscamos os 3 grupos de combate ao longo do trilho, conforme o plano estabelecido.
Às 10H30 ouviu-se um helicóptero que pelo rádio chamou "leão?" que era o nosso nome de código, e identificou-se como "leão 1" dizendo que ia pousar.
Com todos os acontecimentos anteriores eu não sabia qual era o nosso nome de código.
Perguntei ao "transmissões" quem era o "leão 1" e ele também não sabia.
Mandei-o dizer para não pousar, porque íamos montar segurança.
Resposta imediata do helicóptero: "Vou pousar. Não preciso de segurança".
Entretanto aparece o alferes Pimentel com 1 secção e pediu-me outra secção para montar segurança ao heli que trazia o general Spínola.
Quando chegamos ao local, para montar segurança, já o heli tinha pousado.
Do heli saiu o general Spínola, um brigadeiro (penso que era o 2.º Comandante das Forças Armadas, o capitão Almeida Bruno (ajudante de campo do general Spínola) e um alferes (penso que era o piloto do heli - Jorge Félix?).
O general Spínola perguntou para que era aquele pessoal que ia connosco.
Como o alferes Pimentel disse que era para montar segurança, mandou-os regressar ao local da emboscada, dizendo que ele não precisava de segurança.
Quis saber como tinham acontecido as coisas e qual era o moral do pessoal da Companhia, após o ataque que sofremos na véspera.
Deu-nos notícias do estado do capitão Moura Borges.
Disse que antes de vir para a Operação, que continuava a decorrer, tinha ido ao Hospital Militar ver e informar-se sobre o estado do capitão Moura Borges.
Informou-nos que já tinha sido operado e que tinha corrido bem.
Iria ser transferido para o Hospital Militar de Lisboa, para a recuperação ser mais rápida, porque o clima húmido da Guiné não era favorável a esta situação.
Durante a conversa com o general Spínola, o brigadeiro veio ter comigo para saber onde estava instalada a nossa Companhia.
Apontei-lhe o local e disse-lhe que era ali o trilho indicado para a Companhia fazer a emboscada.
Para meu espanto, o brigadeiro mandou-me buscar o pessoal da Companhia, para o nosso general passar revista.
FELIZMENTE PARA MIM, o capitão Almeida Bruno assistiu à conversa/ordem que o brigadeiro me deu.
Achei um grande disparate, mas cumpri a ordem do brigadeiro - QUEM ERA O FURRIEL "PERIQUITO" QUE NÃO CUMPRIA A ORDEM RECEBIDA DUM BRIGADEIRO?
Contrariado, fui buscar o pessoal da companhia e dirigi-me para junto do heli, onde estava a decorrer o nosso encontro.
Quando chegamos junto do heli, o general Spínola perguntou-me quem me mandou ir buscar os soldados.
Apeteceu-me dizer que tinha sido o brigadeiro - o que era verdade - mas ao mesmo tempo pensei na gravidade de um furriel "periquito" estar a acusar um brigadeiro. E AQUI VALEU-ME A AJUDA DO CAPITÃO ALMEIDA BRUNO.
Contornou parte do círculo que formávamos e colocou-se virado para mim a apontar para o brigadeiro. Fez isto várias vezes, mas eu continuava a ter medo das consequências. Bastava o brigadeiro dizer que não me deu essa ordem e eu é que ficava como mentiroso.
O capitão Almeida Bruno, viu o meu "desespero", contornou novamente parte do círculo e quando passou por trás de mim, bateu-me nas costas e disse: "DIZ QUE FOI O BRIGADEIRO" Com este "apoio", decidi e respondi ao general Spínola:
"MEU COMANDANTE, FOI O NOSSO BRIGADEIRO QUE ME DEU ORDEM PARA LEVANTAR A EMBOSCADA E TRAZER O PESSOAL PARA AQUI, PARA O MEU COMANDANTE PASSAR REVISTA".
Resposta do general Spínola: "O NOSSO BRIGADEIRO AQUI NÃO MANDA NADA. VOLTA A INSTALAR O PESSOAL NO TRILHO, E EU É QUE VOU LÁ VISITÁ-LO, PARA NÃO ARRISCAR A SEGURANÇA DELES".
DESTA JÁ ME SAFEI, PENSEI EU.
(continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 9 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24836: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (16): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Operação "Jaguar Vermelho", de 26 de Maio a 8 de Junho de 1970 na região do Morés
terça-feira, 29 de novembro de 2022
Guiné 61/74 - P23826: Humor de caserna (57): O anedotário da Spinolândia (VIII): "Porra, porra, lá iam lixando o Comandante-Chefe" (Gen Spínola, abril de 1972, quando o seu heli terá aterrado, por engano, numa clareira do mato, cercada de "turras", confundidos com comandos africanos)
Foto (e legenda): © Jorge Félix (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Não sei se esta história é verdadeira ou não. Mas tenho que a tomar como verídica, já que foi contada em primeira mão por um capitão do quadro, comandante da CCAÇ 3399/ BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73), o cap inf Horácio José Gomes Teixeira Malheiro, que esteve na "periferia dos acontecimentos" (*).
Temos que admitir que, quando se falava das peripécias do gen Spínola, no CTIG, muitas vezes se mistura(va) ficção e realidade. Daí esta história vir "engrossar" a nossa série "Humor de caserna" e o "anedotário da Spinolândia" (**). A história do heli é perfeitamente verosímil e desta vez o general (e os seus acompanhantes) terá apanhado um valente susto...
A história consta do livro do nosso já saudoso Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022), "Quebo: Nos confins da Guiné" (Coimbra, Palimage, 2014, 364 pp.), cuja capa se reproduz acima.
Vamos reproduzir aqui um excerto do capítulo 10º ("O capitão de Aldeia Formosa, Horácio Malheiro"). É um depoimento do comandante da CCAÇ 3399 sobre a excelente articulação e cooperação, em operações, com o cap inf Rui Ferreira e os seus homens da CCAÇ 18 (pp. 179-196), não obstante os graves incidentes do Natal de 1971, rapidamente ultrapassados e esquecidos (*).
O cap inf Horácio Malheiro (não sabemos que posto tinha em 2014, aquando da publicação do livro, "Quebo"), dá vários exemplos de ações conjuntas que se traduziram em "êxitos para o Batalhão" (pág. 191).
Uma delas, louvada de resto pelo gen Spínola, terá sido na sequência da Op Muralha Quimérica, em abril de 1972. "uma operação que visava evitar a entrada na Guiné de elementos da ONU que vinham verificar a existência de Zonas Libertadas onde o Exército Português não entrava e assim seriam reconhecidas internacionalmente como legítimas representantes dos Povos da Guiné" (pág. 192).
Decorreu durante 12 dias e envolveu forças da CCAÇ 3399, CCAÇ 18, paraquedistas, comandos africanos e o Grupo Especial do Marcelino da Mata. A operação teve como comandante, o ten cor paraquedista, Araújo e Sá, do BCP 12.
2. Um situação insólita em que o Com-Chefe se ia lixando...
por Horácio Malheiro
(...) Lembro-me de uma situação insólita que se passou nessa altura. Estava a minha Companhia de reserva em Aldeia Formosa quando recebo ordens urgentes para embarcar nos helis, que estavam estacionados na pista, e seria já no voo que teria conhecimento do destino e missão.
Embarcámos de imediato e quando nos preparávamos para descolar, soube nessa altura que a missão era resgatar o general Spínola que presumivelmente teria sido aprisionado pelo IN quando o seu heli teria aterrado no meio de forças IN na altura confundidas com os Comandos Africanos.
Na altura da descolagem, o meu piloto, comandante da esquadrilha de helis, recebeu, via rádio, uma comunicação do heli do general Spínola informando que já vinha a caminho, pelo que apeámos s e aguardámos a sua chegada.
Quando chegou o heli do general, este saiu todo sujo de fuligem bem como o seu ajudante de campo, capitão Tomás, cujas mãos tremiam descontroladamente ao cumprimentar-me.
O general teve só um comentário ao desembarcar: "Porra, porra, lá iam lixando o Comandante-Chefe", e seguiu para a sede de Batalhão.
Já no bar, em conversa, soube que o general tinha mandado aterrar o heli numa clareira da mata onde vislumbrou militares africanos IN de camuflado que confundiu com os Comandos Africanos por terem adoptado no terreno um dispositivo de segurança à aterragem.
Quando aterrou e apeou, foi recebido a tiro e todos se atiraram ao chão que tinha sido queimado e daí o terem ficado cheios de fuligem. Passado este instante de estupefacção, entraram a correr para o heli que descolou de imediato, debaixo de fogo IN, que mal adivinhava que tinha tido ao seu alcance o maior "ronco" da guerra da Guiné, que seria a captura ou abate do (...) Comandante-Chefe [do Exército Português] " (pp. 192/193).
[Selecção / revisão e fixação de texto / parênteses retos, para efeitos de publicação deste poste: LG]
___________
(*) Vd. poste de 26 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23817: In Memoriam (463): Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022)... Um excerto do livro "Quebo" (2014): Recordando os tristes acontecimentos que ensombraram Aldeia Formosa, na noite de Consoada de 1971, "se não a pior, uma das mais trágicas da minha vida"
terça-feira, 18 de outubro de 2022
Guiné 61/74 - P23717: In Memoriam (456 ): Xico Allen (1950-2022), ex-Soldado Condutor Auto, CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74), um dos nossos pioneiros nas viagens de saudade à Guiné-Bissau
Era um homem de ação, pouco dado à escrita, afável, amigo do seu amigo... Guardo dele as melhores recordações, incluindo as suas idas ao Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real (a última vez, em 2018).
Sobre ele escrevi algures, legendando a feliz foto do Hugo Costa, a do Xico com um saraui, na Mauritãnia, a caminho da Guiné-Bissau:
(...) O Xico Allen em acção: ele tem o melhor dos portugueses (a abertura aos outros, o sorriso aberto e frontal, a alegria de viver, o sentido da aventura) e dos ingleses (a organização, a tenacidade, a teimosia, o pragmatismo)... Pelo menos, dos portugueses e dos ingleses do Porto. É o que eu deduzo da apreciação feita pelos amigos que o conhecem... e também daquilo que eu já sei dele (...). Desejo-lhe good luck / boa sorte nas suas próximas aventuras terrestres a caminho dessa "terra vermelha e ardente", como chama o Torcato Mendonça à nossa Guiné" (...)
À família enlutada, e em particular à sua filha querida, a Inês Allen, bem como ao seu filho, fica a nossa manifestação de dor e do nosso apreço por este camarada e amigo, cuja memória prometemos honrar: o Xico era muito querido por todos nós. E este é o "In Memoriam" possível que eu aqui deixo, feito em escassas duas horas, antes de ir para a minha sessão matinal de fisioterapia.
Até sempre, Xico! (LG)
Viagem Porto-Guiné > Abril de 2005 > O Xico com um saraui
Expedição Porto-Bissau, organizada por Xico Allen e A. Marque Lopes... 9 de abril de 2006... Dia 5... A caminho de Nouakchott, capital da Mauritânia... Um encontro amigável com sarauis e camelos... Fabulosa esta foto do Xico com um saraui, Grande fotógrafo, o nosso Hugo Costa, filho do Albano Costa que, juntamente com a Inês Allen, integrou esta viagem à Guiné, por terra, pelo deserto do Sara...
Foto (e legenda(: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné-Bissau > Região de Quínara (Buba) > Empada > Abril de 2006 > Pai, Xico Allen, e filha, Inês Allen, juntos na pesquisa de vestígios da presença dos "Metralhas" (CCAÇ 3566) nos já idos tempos de 1972/74.
Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Brasil > Cidade de Praia Grande > Estado de São Paulo > 2014 > Da esquerda para a direita, o António Chaves, o Joaquim Pinheiro da Silva e o Xico Allen.
Foto (e legenda): © Joaquim Pinheiro (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Leiria > Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 > O Xico Allen e o Agostinho Gaspar
Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Matosinhos > Leixões > Restaurante Casa Teresa > 9 de Abril de 2008 > Reunião habitual, às quartas feiras, da Tertúlia de Matosinhos (ou Tabanca Pequena de Matosinhos)... Da esquerda para a direita: (i) de pé, A. Marques Lopes, João Rocha (1944-2018), Eduardo Reis, José Teixeira, Armindo; na primeira fila, Jorge Félix, Xico Allen (1950-2022) e Silvério Lobo... À entrada da Casa Teresa, o António Pimentel. Foi na Casa Teresa, em Leixões, que começou a Tabanca Pequena de Matosinhos.
Foto (e legenda): © Jorge Félix (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]Vila Nova de Gaia > Madalena > Vésperas de Natal de 2005 > Uma minitertúlia de camaradas e amigos da Guiné: da esquerda para direita: Luís Graça (que costuma passar o Natal no Norte, em casa dos cunhados), A. Marques Lopes, José Teixeira, Albano Costa, Hugo Costa e Francisco Allen (mais conhecido pelo Xico de Empada ou Xico Allen...)
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 11 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23696: In Memoriam (455): Mensagens do Coronel Paraquedista Nuno Mira Vaz, enviadas a Mário Beja Santos, a propósito do falecimento ocorrido no passado dia 2 de Outubro do Alf Mil Paraquedista Jorge da Cunha Fernandes (JOTA) (Nuno Mira Vaz / Mário Beja Santos)(...) O Xico ainda hoje falei com ele e disse-lhe para ele também entrar na nossa tertúlia. Eu tenho a certeza que ele vai contar a sua estória mas ele não se sente muito à vontade para a escrita: é daqueles que só de empurrão mas vai...
Ja mandei um e-mail ao José Teixeira para nos encontrarmos um dia destes. Afinal também somos vizinhos. O Allen é uma pessoa que tem uma visão da Guiné muito grande, ele já lá foi muitas vezes, conhece muitissimo bem a Guiné, e os guinéus conhecem-no bem a ele (...)
sábado, 11 de dezembro de 2021
Guiné 61/74 - P22798: O nosso blogue por descritores (6): "O meu Natal no mato": tem mais de 80 referências... Por curiosidade, o poste P5522, de 8 de dezembro de 2009, da autoria do Joaquim Mexia Alves ["Era lá noite de se embrulhar!"...] bateu o recorde de visualizações de páginas (n=4627) e de comentários (n=15).
Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
1. Inaugurámos em maio passado uma nova série, "O nosso blogue por descritores" (*)... Com mais de 5 700 "descritores", de A a Z, torna-se difícil (se não impossível) aos nossos leitores fazer uma pesquisa exaustiva de um determinado tema ou assunto no nosso blogue que já tem 17 anos de existência e quase de 22 mil e oitocentos postes.
O descritor "O meu Natal no mato” tem mais de 8 dezenas de referências. Nesta listagem. que a seguir se publica, além de uma mini-imagem, cada poste é refenciado por:
(i) data;
(ii) número de ordem (cronológica) (do mais recente ao mais antigo);
(iii) série em que vem inserido;
(iv) título (e subtítulo);
(v) autor(es) (dentro de parênteses, no final) (não aparecendo este campo, o poste é, por defeito, da autoria de um ou mais editores do blogue)
A listagem só não traz o link de cada poste, porque seria muito consumidor de tempo para os editores recuperá-lo. Mas os nossos leitores podem consultar o poste inserindo o seu número na janela do canto superior esquerdo do blogue, antecedido sempre da consoante P, de poste: por exemplo P21675.
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2020/12/guine-6174-p21675-o-meu-natal-no-mato.html
Esperemos que esta lista seja útil a autores e leitores. (Alguns autores infelizmente já não são vivos. João Rebola, Raul Albino, Torcato Mendonça, Jorge Teixeira / Portojo...)
Refira-se, por simples curiosidade, que, quanto a este descritor "O meu Natal no mato", o poste P5522, 8 de dezembro de 2009, da autoria do Joaquim Mexia Alves [...Era lá noite de se embrulhar!...] bateu o recorde de visualizações de páginas (n=4627) e decomentários (n=15). (**)
(...) Eu também falei na RTP. Vou contar...
Naquele tempo, 1968, os Canibais residentes não estavam interessados em aparecer na televisão. Não havia voluntários, logo, foram os mais periquitos que tiveram que representar a classe de Pilotos da Esquadra. Por tal motivo tive que ser eu e recordo-me que também gravou mensagem o Sargento Piloto Marta. Eu por ser o mais novo, ele porque iria partir em breve.
Não estava nada interessado em falar e arranjei uma maneira de ser censurado. Então que fiz eu? Debitei uma laracha que não fosse transmitida e disse o seguinte:
" Um beijo para os meus pais e um sessenta e nove em grande para os meus amigos".
O Operador, Serra Fernandes, homem que vim a encontrar passados anos na RTP, disse logo:
- Tem que dizer outra mensagem que isso não vai para o ar.
E eu respondi:
- Ou vai isto ou não vai nada.
Sempre fiquei com a ideia que não iria passar nos ecrãs da TV mas a verdade é que passou. Na altura, 1969, contaram-me alguns amigos que foi uma barraca muito comentada.
Há dias a falar com o nosso Amigo, Belarmino Gonçalves, alferes Piloto em Bissalanca nos mesmos anos que eu, recordou-me esta história, quando lhe desejei um Bom Natal ele atirou o "um 69 em grande para os meus amigos". (...) (****)
(*) Último poste da série > 27 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22756: O nosso blogue por descritores (5): duas dezenas de referências à "Op Abencerragem Candente" (subsetor do Xime, 25-26 de novembro de 1970: um banho de sangue, com 6 mortos e 9 feridos grave, do lado das NT )
(**) Vd. poste de 8 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5422: O meu Natal no mato (23): Era lá noite de se embrulhar!... (Joaquim Mexia Alves)
domingo, 28 de fevereiro de 2021
Guiné 61/74 - P21956: Facebook...ando (60): o gen Bettencourt Rodrigues, em 16 de novembro de 1973, em Madina do Boé, com dois jornalistas alemães, para verem "in loco" o sítio onde o PAIGC teria alegadamente proclamado a independência unilateral
Guiné >Região do Gabu > Boé > Madina do Boé > 16 de novembro de 1973 > O jornalista alemão, da Reuters, Joachim Raffelberg, e o gen Bettencourt Rodrigues, governador-geral e com-chefe que, a partir de 21/9/1973, substituiu o carismático gen António Spínola.
1. Na página do Facebook do antigo jornalista da agência Reuters, Joachim Raffelberg, chamada Raffelnews, Serviço comunitário, encontrámos esta "preciosidade", um álbum sobre Madina do Boé, com fotos (legendadas em inglês), inseridas em 29 de janeiro de 2018, incluindo recortes de jornais portugueses (Diário de Notícias e Diário de Lisboa) que reproduziram a notícia da agência noticiosa portuguesa, ANI, dando conta de uma visita de jornalistas estrangeiras, de helicóptero, à antiga Madina do Boé, acompanhados do gen Bettencourt Rodrigues, o então novo comandante-chefe do CTIG.
A visita terá ocorrido no dia 16 de novembro de 1973, quase dois meses depois da proclamação unilateral da independência que o PAIGC reclamava ter sido feita na antiga Madina do Boé, evacuada em 6 de fevereiro de 1969. (*)
Com a devida vénia, reproduzimos alguns desses documentos, que são importantes para informação e conhecimento dos nossos leitores, antigos combatentes (**), com tradução nossa, livre, para português, das legendas (, no todo ou em parte), que se reproduzem, a seguir, em itálico:
Foto nº 1
(....) Os cerca de 500 anos de domínio colonial português estavam a chegar ao fim. (...) Apesar das minhas reportagens críticas, em 1971, sobre o uso de napalm no teatro de operações de Angola, o Governo português convidou-me, mais uma vez, para visitar uma das suas colónias africanas, desta vez, a Gyuiné, um pequeno ponto na costa da África Ocidental.
[O antigo jornalista também tem um pequeno álbum sobre o alegado uso de napalm em Angola, vd. aqui: Napalm in Angola 25 jan 2018]
(...) Aqui, na Guiné, o
PAIGC de Amílcar Cabral, um dos principais líderes anticoloniais africanos
(assassinado em janeiro de 1973), esforçava-se por derrubar as forças armadas portuguesas, primeiro sob o comando
do general do monóculo, António de
Spínola, e agora, em 1973, sob a liderança pelo general José Manuel de
Bettencourt Rodrigues, ex-ministro da Defesa.
Lisboa
sempre rejeitou, como falsa, a
reivindicação do PAIGC de extensas áreas libertadas no interior do território, mas quando o
PAIGC em 1973 declarou que tinha proclamado a independência da Guiné-Bissau
num local chamado Madina do Boé em 24 de
setembro, as autoridades militares portuguesas levaram, até lá, jornalistas estrangeiros, sete semanas depois, para provar que os rebeldes estavam errados.
Hoje já
sabemos qual foi o desfecho: o próprio General de Spínola abriu caminho aos libertadores, com o seu livro “Portugal e o Futuro”, que pôs em marcha a revolução dos cravos de
1974: ao som da canção “Grândola, vila morena”, tocada pela Rádio Renascença a partir da
meia-noite de 25 de abril, em menos de 24
horas, seria derrubada a ditadura mais antiga da Europa.(...)
Fotos nº 2:
Guenter Krabbe (...) e eu fomos acompanhados pelo governador Bettencourt Rodrigues (...) no nosso passeio de helicóptero ao local, situado a poucos quilómetros da fronteira com a Guiné-Conacri. Depois de Bafatá, o piloto vestiu o seu colete à prova de bala para não correr nenhum risco.
Verificamos o percurso no mapa do comandante. Em Madina do Boé, o
nosso grupo foi saudado por Forças Especiais Portuguesas [. tropas paraquedistas, CCP 122 / BCP 12,] que tinham enviadas previamente para limpar a área, em caso de necessidade. (***)
O general deu-nos 'uma pausa para o cigarro' , o tempo suficiente para dar uma olhadela no terreno à volta, antes de regressarmos. Tudo o que encontramos no terreno de savana foram os restos de um edifício que parecia um barraco e as fundações de várias palhotas. Não tínhamos permissão para inspecioná-los porque o local havia sido minado, conforme aviso que nos fora feito.
Se o PAIGC tivesse ter declarado aqui a independência, eles bem poderiam ter atravessado a fronteira próxima e regressado a correr, após uma possível breve cerimónia.
Embora o Krabbe tenha escrito que não havia nenhuma povoação em Madina do Boé, muito menos com aspeto de estar inserida numa zona libertada, os jornais portugueses citaram extensivamente a minha história com um enfoque no colete anti-balas do piloto.
Foto nº 3
(...) Sem mo dizer, o QG da Reuter tinha enviado, ao mesmo tempo que eu, um colega a Conakry para confirmar, do “outro lado”, a declaração de independência alegadamente feita em Madina do Boé, e a Reuters atrasou a transmissão da minha reportagem aos nossos nossos subscritores, até que eles validassem comigo as coordenadas do lugar que nos disseram ser Madina do Boé, uma vez que tinham detectado um erro no grau de latitude no meu fax. Acontece que o grau correto se perdeu na transmissão (...)
J. Raffelberg, na altura correspondente da Reuter em Bona, tinha recebido instruções para explorar a oportunidade de obter informação em primeira mão sobre um assunto controverso (a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau), o mesmo é dizer, conseguir um "furo jornalístico", mas o relato do repórter deveria passar primeiro pela sede da Reuter em Londres, com vista a garantir que os padrões da agência, de objectividade, imparcialidade e triangulação de fontes, estavam assegurados.
Foto nº 4
"Os marinheiros nos disseram ter [, a Cassiopeia.] participado da invasão marítima de Portugal à Guiné-Conacri em [22 de novembro] de 1970 para capturar ou matar Amílcar Cabral, mas a missão falhou. Quando naveguei com eles no rio Cacheu em 1973, o seu comandante era o 1.º tenente António Silva Miguel".
O gesto do novo comandante-chefe e governador-geral, gen Bettencourt Rodrigues, parece ter chegado demasiado tarde. E não terá tido grande repercussão na imprensa internacional: os dois jornalistas alemães terão estado menos de 15 minutos em Madina do Boé, e com forte protecção militar. Acrescente-se ainda o facto de a Op Leopardo não ter ficado barata, dada a mobilização de meios que implicou (parte do BCP 12 e parte da frota de Helis AL III).Não tenho qualquer dado para responder a isso, mas posso contar o que aconteceu em 69
Eram dois Helis, eu seguia num, com os Páras (picadores na especialidade). As ordens eram as seguintes: Eu largava um Pára que picaria o terreno para os Helis aterrarem. Assim foi executado.
Para que o IN pensasse que havia muita tropa, foi feita uma manobra de diversão. Enquanto o Gen Spínola estava em terra, os dois helis aterravam e levantavam fazendo voltas de pista, para sugerirem muitos efectivos.
As movimentações em terra eram feitas com muito cuidado. No único local onde há montes na Guiné [, as famosas Colinas do Boé,], os Helis apareciam e desapareciam para dar a ideia de muito aparato.
Recuperado o Chefe, Maj Durão, fotógrafo, e julgo mais um graduado, e os quatro Páras, que seguiram comigo, nunca mais voltei a aterrar em Madina do Boé.
Com estas fotos, Spínola queria mostrar que Madina ainda era controlada por nós, mesmo abandonada.
Porquê toda esta tosca explicação?
Acho que seria inapropriado o PAIGC ir com o seu Povo fazer uma cerimónia de independência num local que eles sabiam estar minado. Não saberia a FAP que eles nunca iriam a Madina ?
A cerimónia terá sido mesmo em Madina do Boé, dentro da Guiné? A Guiné-Conacri fica ali a dois passos.
Gostaria de saber se, em 1973, o Gen Bettencourt Rodrigues aterrou em Madina ou só fez umas passagens para ver se havia alguém.
Afinal não estou a esclarecer nada, estou a aumentar as dúvidas!!! (...)
Guiné > Região de Bafatá > Dulombi > Op ÇLeopardo (15-17 de nevembro de 1973) > Heli Al III estacionados em Dulombi.
Azeitão
Pelotão, nestas funções tomei ainda parte na Guarda de Honra que a CCP 121 fez à recepção da chegada do novo Governador da Província, General Bettencourt Rodrigues em 21 de Setembro de 1973. (...)
Comandei o Pelotão até 01Nov73, data em chegou um Alferes para o comandar, participei na Operação “Leopardo” de 15 a 17 de Nov73, em Madina do Boé em que participaram as CCP 121 e CCP 122, consistiu em levar uma equipa de fotógrafos ao local onde diziam que tinha sido declarada a Independência, mas quem lá foi disse que não havia lá nada, nem indícios, não há dúvidas que filmaram foi noutro local e não em Madina do Boé. (...)
terça-feira, 23 de fevereiro de 2021
Guiné 61/74 - P21939: Notas de leitura (1343): Paparratos e João Pekoff: as criaturas e o criador, J. Pardete Ferreira - Parte II: os "mentideros' de Bissau (Biafra, 5ª Rep) e ainda e sempre a retirada de Madina do Boé (Luís Graça)
Guiné > Região do Boé > CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, "Os Tufas (Bissau, Fá Mandinga, Nova Lamego, Beli e Madina do Boé, 1966-68) > 1967 > Madina do Boé: vista aérea, tirada de DO 27, c. 1967. As tão faladas colinas do Boé... "O resto era deserto", diz o fotógrafo..
Foto (e legenda): © Manuel Caldeira Coelho (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Continuação da nota de leitura (*):
Este livro, "O paparratos : novas crónicas da Guiné : 1969-1971", publicada sob a chancela editorial da Prefácio, surge numa coleção , "História Militar" que tem quatro séries: "Batalhas e campanhas"; "Armas de Portugal"; "Memórias de guerra"; e "Estudos e documentos".
A coleção, que se reclama de um "conceito inovador". pretende conciliar a investigação historiográfica com a produção literária e memorialística, como é o caso deste livro do nosso saudoso camarada José Pardete Ferreira, que foi alf médico. no CAOP. Teixeira Pinto (1969) e no HM 241 (1969/71).
O alferes miliciano médico João Pekoff (heterónimo criado pelo José Pardete Ferreira, ou se não mesmo o seu "alter ego") chega a Teixeira Pinto, ao CAOP, em meados de fevereiro de 1969 (pág. 30). Em Bissau, onde o seu batalhão de origem (, que apostamos ter sido o BCAÇ 2861,) desembarcou em 11/2/1969, deve ter estado alguns escassos dias, em trânsito, antes de apanhar uma DO-27 que o levou até à capital do chão manjaco , de qualquer modo o tempo suficiente para começar a conhecer alguns dos pontos obrigatórios do roteiro dos cafés e restaurantes da tropa...
Alguns eram obrigatórios como o café Bento, mais conhecido por 5ª Rep, junto à fortaleza da Amura onde estava instalado o QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné], com as suas 4 Rep[artições].
Era o grande "mentidero" de Bissau, onde os "apanhados do clima", vindos do mato, "desenfiados" ou em trânsito, partilhavam notícias e histórias com a malta do "ar condicionado"... Chegados a Bissau, os "periquitos" apanhavam logo ali os "primeiros cagaços", histórias tenebrosas de Madina do Boé, de Gandembel, de Guileje, etc., aquartelamentos no mato, felizmente, longe, muito longe de Bissau e do seu "bem-bom"...
Pardete Ferreira, de cultura francófona, descreve assim a 5ª Rep, com inegável bom humor, para não dizer sarcasmo, comparanda-a com a situação de um aquartelamento do mato, Tite, na região de Quínara, perto de Bissau em linha recta, pelo que, quando era atacado ou flagelado, toda a gente ficava a saber e até a ver (pp. 54/55):
"(...) Toda a Guiné Portuguesa tinha esta classificação de zona cem por cento de risco. Naquele território, era indiferente passar calmamente uma soirée [sic] na 5ª Rep ou no aquartelamento de Tite.
"Na 5º Rep, a arma era um copo de uma beberagem qualquer, que ia aquecendo na mão e que ia sendo municiada periodicamente. O único risco era constituído pelos perdigotos, por vezes sólidos estilhaços de mancarra, que o companheiro de conversa lançava, aproveitando o estar longe do interface do corpo a corpo.
"Em Tite, que se situa mesmo em frente da 5ª Rep, do outro lado do Geba [, na margem esquerda], apenas a alguns quilómetrps à vol d'oiseau [sic], a arma que se tinha na mão era das verdadeiras, daquelas que matam.
"Aquela cómoda sala do QG [Quartel General], no teatro operacional, dava lugar a um abrigo onde o combate mordia. No QG, pelo barulho podia adivinhar-se que Tite estava seguramente a embrulhar, podendo ver-se as cores das balas tracejantes e ter uma ideia da intensidade do assalto,pela quantidade e duração do fogo de artifício.
"Na 5ª Rep, assistindo-se ao espetáculo, beberricando um whisky ou despejando rapidamente uma mulher grande [, basuca ?], quase sem tempo para descascar a mancarra acompanhante, estava-se exactamente dentro dos limites do mesmo Teatro Operacional da Guerra. Todo o pedaço daquela terra era território de guerra. O risco tinha uma graduação muito relativa, embora fosse sempre uma probabilidade.
"Não se fizeram operações de black out [sic] como treino para a remotíssima hipótese de um ataque dos MiGs da Guiné-Conacry ? Houve quem dissesse que afirmar isto era um verdadeiro disparate, na medida em que os MiGs de Conacry eram de um modelo tão antigo que. se atacassem Bissau, teriam que pedir o favor de ser reabastecidos em combustível no aeroporto de Bissalanca, a fim de poderem regressar à sua base de partida" (...).
2. Na 5ª Rep ou no "Biafra", a messe de oficiais dos Adidos, o nosso médico terá ouvido logo, ao chegar, os ecos, ainda muito frescos, da tragédia ocorrida no dia 6 desse mês de fevereiro de 1969, no rio Corubal, em Cheche, na sequência da retirada do quartel de Madina do Boé (e que ele vai reconstituir, de maneira superficial e algo fantasiosa, no capítulo XVII, pp. 117-121 de "O Paparratos").
A comoção que "o desastre do Cheche" provocou nas NT prolongou-se por todo esse 1º semestre de 1969, pelo menos, ao ponto de eu ouvir diferentes relatos dos trágicos acontecimentos quando cheguei a Contuboel, em princípios de junho, para dar instrução aos futuros soldados guineenses da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, e depois, já em na segunda metade de julho de 1969, quando fomos colocados em Bambadinca, às ordens do BCAC 2852 (1968/70).
A ideia com que os "periquitos", de olhos e ouvidos bem abertos, ficavam, das conversas até às tantas da noite, regadas com cerveja ou uísque, era que Madina do Boé bem poderia ter sido o Dien Bien Phu português, o que, sabemo-lo hoje, era manifestamente exagerado.
De qualquer o quartel fora evacuado com o (falso) argumento de que o sítio não tinha qualquer interesse estratégico para as NT. A "inteligência" spinolista não conseguir prever os efeitos perversos desta decisão: a retirada de Madina do Boé veio fragilizar o flanco sul e sudeste do "chão fula" e sobretudo será bem explorada pela propaganda e diplomacia de Amílcar Cabral.(**)
Pardete Ferreira não viveu, diretamente, esse desastre, não participou da Op Mabecos Bravios, mas ouviu também relatos, alguns apocalípticos ou fantasiosos, como eu, mas ter-se-á documentado minimamente para escrever o "Paparratos". O mito e a realidade andam, muitas vezes, de mãos dadas, o que numa obra de ficção é perfeitamente aceitável; como o próprio o diz, este não é um trabalho historiográfico, é um "romance"...
Podiam, entretanto, apontar-se alguns exemplos de "factos" criados pelo narrador, que passamos a destacar em subtítulo.
(i) A 1221º Companhia de Paraquedistas foi "a última a evacuar Madina do Boé" (pág. 117) [, referência à 121ª CCP / BCP 12, comandada pelo cap prqd Terras Marques, que no livro é o tenente paraquedista Teixeira Martins]
Os paraquedistas não participaram na Op Mabecos Bravios, pelo que não fazia sentido a presença ali do [José Manuel] Terras Marques. Creio que o autor quis fazer uma homenagem a um militar que ele admirava, com quem acamaradou e inclusive fez amizade, no CAOP, e depois em Bissau, enquanto esteve, ano e meio, no HM 241. E inclusive terá mantido essas relações de amizade na vida civil.
Sabe-se que o Teixeira Martins [, ou melhor, o Terras Marques] fez duas comissões no TO da Guiné. E pelo que corre nas redes socais, dos testemunhos de paraquedistas que foram por ele comandados, era um oficial com grande carisma, conhecido pelo "Tigre". E o próprio criador do Paparratos e do João Pekoff não o desmente, ao traçar o seu perfil;
(...) "O Pára Teixeira Martins tinha uma pontaria de exceção. Treinava sempre os seus homens com bala real". (...). Ah!, e muito importante: dava sempre o exemplo!.
"Como capitão, tinha como guarda-costas o 118. (...) Na sua segunda comissão consecutiva, era um militar experiente, Muito calmo, parecendo dormir, saltava repentinamente e iniciava o tiro, sem que os mais novos tivessem dado por isso. Malditos periquitos. (...) (pág. 120).
Ora este 118, o guarda-costas do capitão pára seria nada mais nada menos do que o Cabo 80, que tem, no nosso blogue, alguns referências como sendo outra figura mítica do BCP 12. Foram-lhe atribuídas duas cruzes de guerra por feitos valorosos no CTIG. Na vida civil, o seu nome completo era o Jaime Manuel Duarte de Almeida, "Dois senhores da guerra", chamou-lhes o nosso Jorge Félix (***).
Há aqui um outro tenente, cuja identifidade não conseguimos decifrar. No livro "O Paparratos" e no capítulo respeitante a Madina do Boé, surge como o tenente pára Lemos Neves.. Quem seria este oficial L...N... ?
Escreve o autor:
(...) "Fez questão de ser o último homem a sair dessa terra, que mais tarde vai ser a primeira Capital da República da Guiné-Bissau, dita Independente". (...) Nascido na Guiné (...), não vira ele seus pais e sua irmã serem chacinados pelos turras ? Iniciando o serviço militar como miliciano, acabou por fazer em seguida a Academia Militar e logo após, em Tancos, obteve o Brevet de Paraquedista ao qual juntou a Boina Verde, pouco tempo depois" (...).
Assim, de repente, só nos lembramos de um paraquedista guineense, pertencente ao BCP 12, o hoje cor ref e empresário, Chauki Danif, nascido em Bafatá há mais e setenta anos, e que eu conheci pessoalmente no lançamento do livro do cor prqd ref Moura Calheiros, "A Últma Missão", na Academia Militar, em 29 de novembro de 2010. Tanto quanto sei, ninguém da sua família morreu, na Guiné, no início da guerra, por acções terroristas.
(ii) "Havia pelo mnos um Batalhão para evacuar" (pág. 118)
A unidade de quadrícula de Madina do Boé era a CCAÇ 1790, comandada pelo cap inf José Aparício. Béli já fora retirada, em 15 de julho de 1968, em plena época das chuvas. Era um destacamento onde havia um pelotão da CCAÇ 1790.
Como é largamente sabido, as vítimas do desastre do Cheche foram forças da CCAÇ 2790 e da CCAÇ 2405 (, esta pertencente ao BCAÇ 2852, sediado em Bambadinca), que atrevessavam o rio, de jangada, na última viagem.
(iii) Havia "alguns abrigos reforçados" (...), "construídos à pressa" e que, segundo se dizia, eram "à prova de morteiro 120" (pág. 118)
Não nos é possível confirmar ou infirmar esta afirmação. Não sabemos se o BENG 447 teve tempo ou condições para construir alguns "bunkers" em Madina do Boé. De resto, havia questões logísticas complexas a resolver (, transporte de materiais de contrução, etc.) e já em junho de 1968 parecia estar tomada a decisão de evacuar Madina do Boé, tal como Beli.
Como escreveu Hélio Felgas, a companhia de Madina estava ali apenas a defender-se a si própria, quando era precisa noutros pontos do território.
(iv) "Aquela de meter um aquartelamento no vale aconchegado entre os únicos terrenos elevados [colinas] de todo o território guineense parecia não lembrar a minguém" (pág. 118)
Também não sabemos. ao certo, desde quando passou a haver tropa na antiga tabanca de Madina do Boé. O subsector de Madina do Boé (tal como o Buruntuma) foi criado ao tempo do BCAÇ 512, em 23 de maio de 1965.__________
(*) Vd. poste anterior > 16 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21909: Notas de leitura (1341): Paparratos e João Pekoff: as criaturas e o criador, J. Pardete Ferreira - Parte I - O direito, o dever, o prazer... e a dor da memória (Luís Graça)
(****) Vd. poste de 9 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9871: VII Encontro Nacional da Tabanca Grande (20): Um momento alto: o lançamento do livro do Idálio Reis (Parte III): Alocução do autor