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sábado, 7 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26241: Humor de caserna (85): "Ai, não caia, senhora, não caia!"...(responde um guerrilheiro do PAIGC, capturado, ferido, quando ela lhe perguntou o que lhe fariam os seus camaradas se o avião caisse e ela fosse apanhada à unha...): uma história de (†) Maria Ivone Reis, enfermeira paraquedista, maj ref graduada


Angola > Base de Negage > Agosto de 1961 > As enfermeiras paraquedistas Maria Arminda e Maria Ivone, em missão de apoio no âmbito de uma operação na Serra da Canda

Foto: Cortesia de um nosso leitor, devidamente identificado, mas que prefere o anonimato (trata-se de antigo oficial paraquedista do BCP 12 e BCP 12).



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66) > Uma enfermeira paraquedista no meio dos "Lassas"... Muito oportunamente o nosso camarada Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Heli AL III (1968/70), identificou-a como sendo a Maria Ivone Reis (Em 1968 era graduada em tenente, reformou-se com o posto de posto de major)


Foto (e legenda): © Mário Fitas (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A Maria Ivone Reis pertence ao grupo das 6 Marias, nome pelo qual ficou conhecido o 1.º curso de Enfermeiras Paraquedistas portuguesas feito em 1961, curso esse que é também o da Maria Arminda Santos (n. 1937), nossa grã-tabanqueira, e agora a matriarca das antigas enfermeiras paraquedistas (é à sua "base de dados" que recorro sempre que tenho uma dúvida ou uma pergunta sem resposta sobre o "curriculum vitae" das suas colegas).(*)

As outras quatro Marias eram a Céu (Policarpo), a Lourdes ("Lurdinhas"), a Nazaré (†) e a Zulmira (†). Sobre a Maria Ivone Reis temos 33 referências no nosso blogue:

(i) conclui em 1958 o Curso de Enfermagem Geral na Escola das Franciscanas Missionárias de Maria;

(ii) começou a trabalhar em 1959, no hospital da CUF;

(iii) fez o curso de enfermeira paraquedista em Tancos, em junho-agosto de 1961;

(iv) na Força Aérea, nos paraquedistas, já havia mulheres, civis, na parte administrativa,  informa-nos ela;

(v)  a relação com os paraquedistas foi sempre  muito cordial;

(vi) partiu para Angola, em 23 de agosto de 1961, com a Maria Arminda;

(vii) esteve 3 vezes na Guiné: em 1963, 65 e 69;

(viii) o seu maior desgosto foi o de ter sido saneada em  17 de abril de 1975, no Hospital da Força Aérea onde trabalhava (e onde voltou mais tarde, depois de reintegrada).

Mas voltemos à sua experiência como enfermeira paraquedista:

(...) "No quartel nós podíamos sair do avião, mas na zona de combate nós não devíamos sair do avião ou do helicóptero. Era uma circunstância de muito risco. Se houvesse ataque do inimigo o helicóptero teria de levantar voo imediatamente ficando a enfermeira em terra em grande risco, sem meios nem ambiente para tratar dos feridos. Eventualmente fizemos isso em situações muito excecionais, bem medidas, porque podia tornar-se um altruísmo muito arriscado para a vida dos outros. 

"Nesse aspeto é muito importante a questão do medo, porque ajuda ao raciocínio e ao controlo. O importante é perceber como controlar o medo, para termos oportunidade de perceber a razão do medo e para que possamos ultrapassá-lo." (...)

A história que se segue é sobre isso mesmo: como lidar com o medo e a consciência do risco... Em todas as profissões de risco ou de maior risco, o profissional tem que criar mecanismos de defesa contra a ansiedade, a angústia, o medo de falhar, de cometer,  de ter um acidente, de ser capturado, de morrer, etc. As enfermeiras paraquedistas estão nessa lista das profissões de risco. 

A história merece figurar na série "Humor de caserna"... A autora não pondera a hipótese de o avião cair e ela morrer, mas sim, a de ser capturada pelo inimigo... E racionaliza, e muito bem: "Sou enfermeira, mas também sou mulher: não me vão fazer mal, posso ser muito útil para tratar os seus feridos...". 

Mas depois é confrontada com a opinião de um guerrilheiro (nunca lhe chama "turra", como era corrente na Guiné; curioso o nome, Armand, devia ser do outro lado, da Guiné-Conacri ou do Senegal, é um nome francófono)...


Humor de caserna (85): "Ai, não caia, senhora, não caia!"...

por Maria Ivone Reis (1929 - 2022)



A então ten enf pqdt Ivone Reis,
em Cacine, 12/12/1968.
Foto: António J. Pereira
da Costa
 (2013)



Sempre estive bem consciente de que o trabalho que executava quando fazíamos evacuações sanitárias, tinha alguns riscos. Estes eram elevados e bem patentes quando elas eram feitas desde os locais de combate. Mas, mesmo nos outros casos, o simples facto de sobrevoarmos zonas por vezes controladas pelo inimigo, incutia em nós alguma sensação de insegurança.

 Naqueles momentos, e enquanto olhava para a paisagem que lá em baixo ia passando sobre os  meus olhos, pensava em muitas coisas... 

Uma, recorrrente, era: "O que me fariam os guerrilheiros, se o avião fosse abatido, e nós  feitos prisioneiros ?".

Pensava muito na minha condição de mulher, que talvez agravasse a situação. Mas, por outro lado, tinha esperança de que, pelo facto de ser enfermeira e os guerrilheiros saberem que nós também tratávamos dos seus feridos, me não fariam qualquer mal.

Por conveniência ou não, quanto mais pensava nisto mais me convencia de que eu beneficiaria dessa proteção pelo simples facto de ser enfermeira!

Até que um dia as minhas dúvidas se  desfizeram!

Uma vez, na Guiné, quando socorria um guerrilheiro que estava ferido e que tinha sido capturado, perguntei-lhe se, por acaso um dia o meu avião caísse no meio do mato com enfermeiras a bordo, se eles nos fariam mal. Eu tinha a ilusão  de que ele diria que nenhum mal nos aconteceria.

Então o Armand   – era assim que ele se chamava   abriu muito os olhos e respondeu-me:

– Não caia, senhora, não caia!

E ali acabaram as minhas ilusões sobre tal assunto!


Fonte: Excertos de Ivone - "Aspetos humanos da nossa atividade: Não caia, senhora...". In: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág.333  (com a devida vénia) (Imagem à direita, a seguir: Capa do livro)

(Seleção, revisão / fixação de texto, título, introdução: LG) (**)


Coautoras (das 30 da lista, com a Rosa Serra,  editora literária,  18 são Marias...): 

Maria Arminda Pereira | Maria Zulmira André (†) | Maria da Nazaré Andrade (†) | Maria do Céu Policarpo | Maria Ivone Reis (†) | Maria de Lourdes Rodrigues | Maria Celeste Guerra | Eugénia Espírito Santo | Ercília Silva | Maria do Céu Pedro (†) | Maria Bernardo Teixeira | Júlia Almeida | Maria Emília Rebocho | Maria Rosa Exposto | Maria do Céu Chaves | Maria de Lourdes Cobra | Maria de La Salette Silva | Maria Cristina Silva | Mariana Gomes | Dulce Murteira | Aura Teles | Ana Maria Bermudes | Ana Gertrudes Ramalho | Maria de Lurdes Gomes | Octávia Santos | Maria Natércia Pais | Giselda Antunes (Pessoa) | Maria Natália Santos | Francis Matias | Maria de Lurdes Costa.

____________

Notas do editor:

(*) Vd., postes de:^

18 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23275: (In)citações (206): Maria Ivone Reis (1929-2022), a primeira enfermeira paraquedista que eu conheci, em 1967, no Porto (Rosa Serra)

16 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23267: In Memoriam (435): Maria Ivone Reis, Major Enfermeira Paraquedista Reformada (1929-2022), falecida no dia 15 de Maio de 2022

13 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21764: (De)Caras (168): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte I

13 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21766: (De)Caras (169): Maria Ivone Reis, major enfermeira paraquedista reformada, faz hoje 92 anos e é uma referência para outras outras mulheres e para nós, seus camaradas: excertos de um seu depoimento, publicado em 2004 na Revista Crítica de Ciências Sociais - Parte II (e última)

5 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8998: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (28): Comemoração dos 50 anos dos cursos de 1961 das Tropas Pára-quedistas (Rosa Serra / Maria Arminda)

26 de agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6900: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (20): Uma foto histórica: as Alferes Arminda e Ivone, em Angola, Negage, Agosto de 1961

5 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6535: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (18): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (5): Maria Ivone Reis (Rosa Serra)

11 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4318: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (10): Ivone Reis, Anjo da Guarda na Guiné, Angola e Moçambique (António Brandão)

20 de fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)

quinta-feira, 25 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25776: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (53): Operação Jaguar Vermelho - III: dia 1 de Junho de 1970



"A MINHA IDA À GUERRA"

João Moreira


OPERAÇÃO JAGUAR VERMELHO - III

1970/JUNHO/01

Em CANFANDA emboscamos os 3 grupos de combate ao longo do trilho, conforme o estabelecido.

Às 10h30 ouviu-se um helicóptero que pelo rádio chamou "leão?? - um algarismo que não me recordo)". Identificou-se como "leão 1" e disse que ia pousar.

Com todos os acontecimentos anteriores eu não sabia qual era o nosso nome de código.
Perguntei ao soldado das transmissões quem era o "leão 1" e ele também não sabia.
Mandei-o dizer para não pousar, porque íamos montar segurança.

Resposta imediata do helicóptero: "Vou pousar. Não preciso de segurança".

Entretanto aparece o Alferes Pimentel com 1 secção, e pediu-me outra secção para montar segurança ao helicóptero que trazia o General Spínola.
Quando chegamos ao local, para montar segurança, já o heli tinha pousado.

Do heli saiu o General Spínola, um brigadeiro (penso que era o 2.º Comandante das Forças Armadas), o Capitão Almeida Bruno (Ajudante de Campo do General Spínola) e um alferes (penso que era o piloto do heli - Jorge Félix?).


Guiné > Algures > Jorge Félix, Alf Mil Piloto de Heli Al III (BA 12, Bissalanca, 1968/70) e António Spínola (Com-Chefe e Governador Geral, CTIG, 1968/73)...

Foto: © Jorge Félix (2010). Todos os direitos reservados

O General Spínola perguntou para que era aquele pessoal que ia connosco.
Como o Alferes Pimentel disse que era para montar segurança, mandou-os regressar ao local da emboscada, dizendo que ele não precisava de segurança.

Quis saber como tinham acontecido as coisas na véspera e qual era o moral do pessoal da Companhia, após o ataque que tínhamos sofrido e que tinha provocado ferimentos graves ao nosso capitão.
Deu-nos notícias do estado do Capitão Moura Borges.
Disse que antes de vir para a Operação, que continuava a decorrer, tinha ido ao Hospital Militar ver o Capitão Moura Borges.
Informou-nos que já tinha sido operado e que tinha corrido bem.
Iria ser transferido para o Hospital Militar de Lisboa, para a recuperação ser mais rápida, porque o clima húmido da Guiné não era favorável a esta situação.

Durante a conversa com o General Spínola, o brigadeiro veio ter comigo para saber onde estava instalada a nossa Companhia.
Apontei-lhe o local e disse-lhe que era ali o trilho indicado para a Companhia montar a emboscada.
Para meu espanto, o brigadeiro mandou-me buscar o pessoal da Companhia, para o nosso General passar revista.

Felizmente para mim, o Capitão Almeida Bruno assistiu à conversa/ordem que o brigadeiro me deu.
Achei um grande disparate, mas cumpri a ordem do brigadeiro - Quem era o furriel "periquito" que não cumpria a ordem recebida dum brigadeiro?
Contrariado, fui buscar o pessoal da Companhia e dirigi-me para junto do heli, onde estava a decorrer o nosso encontro.

Quando chegamos junto do heli, o General Spínola perguntou-me quem me mandou ir buscar os soldados.
Apeteceu-me dizer que tinha sido o brigadeiro - o que era verdade - mas ao mesmo tempo pensei na gravidade de um furriel "periquito" estar a acusar um brigadeiro.

E aqui valeu-me a ajuda do Capitão Almeida Bruno. Contornou parte do círculo que formávamos e colocou-se virado para mim e a apontar para o brigadeiro. Fez isto várias vezes, mas eu continuava a ter medo das consequências.

Bastava o brigadeiro dizer que não me deu essa ordem e eu é que ficava como mentiroso. O Capitão Almeida Bruno viu o meu "desespero", contornou novamente parte do círculo e quando passou por trás de mim, bateu-me nas costas e disse: "Diz que foi o brigadeiro". Com este "apoio", decidi e respondi ao General Spínola:
"Meu Comandante, foi o nosso Brigadeiro que me deu ordem para levantar a emboscada e trazzer o pessoal para aqui, para o meu Comandante passar revista".

Resposta do General Spínola: " O nosso Brigadeiro aqui não manda nada. Volta a instalar o pessoal no trilho, e eu é que vou lá visitá-lo para não arriscar a segurança deles".

Desta já me safei, pensei eu.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 18 DE JULHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25758: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (52): Operação Jaguar Vermelho - II: dia 31 de Maio de 1970

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Guiné 61/74 - P24854: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (17): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Operação "Jaguar Vermelho", de 26 de Maio a 8 de Junho de 1970 na região do Morés



"A MINHA IDA À GUERRA"

17 - HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: CAPÍTULO II - ACTIVIDADES NO TO DA GUINÉ

OPERAÇÃO "JAGUAR VERMELHO", DE 26 DE MAIO A 08 DE JUNHO DE 1970 NA REGIÃO DO MORÉS

João Moreira


Formatura do 4.º Grupo de Combate
Furrieis Silva, Moreira e Pereira


JUNHO DE 1970

INCLUINDO A OPERAÇÃO "JAGUAR VERMELHO", DE 26 DE MAIO A 08 DE JUNHO DE 1970 NA REGIÃO DO MORÉS

O MEU COMENTÁRIO AO DIA 01 DE JUNHO DE 1970

OPERAÇÃO JAGUAR VERMELHO

1970/JUNHO/01

Em CANFANDA emboscamos os 3 grupos de combate ao longo do trilho, conforme o plano estabelecido.
Às 10H30 ouviu-se um helicóptero que pelo rádio chamou "leão?" que era o nosso nome de código, e identificou-se como "leão 1" dizendo que ia pousar.
Com todos os acontecimentos anteriores eu não sabia qual era o nosso nome de código.
Perguntei ao "transmissões" quem era o "leão 1" e ele também não sabia.
Mandei-o dizer para não pousar, porque íamos montar segurança.
Resposta imediata do helicóptero: "Vou pousar. Não preciso de segurança".

Entretanto aparece o alferes Pimentel com 1 secção e pediu-me outra secção para montar segurança ao heli que trazia o general Spínola.
Quando chegamos ao local, para montar segurança, já o heli tinha pousado.
Do heli saiu o general Spínola, um brigadeiro (penso que era o 2.º Comandante das Forças Armadas, o capitão Almeida Bruno (ajudante de campo do general Spínola) e um alferes (penso que era o piloto do heli - Jorge Félix?).
O general Spínola perguntou para que era aquele pessoal que ia connosco.
Como o alferes Pimentel disse que era para montar segurança, mandou-os regressar ao local da emboscada, dizendo que ele não precisava de segurança.

Quis saber como tinham acontecido as coisas e qual era o moral do pessoal da Companhia, após o ataque que sofremos na véspera.
Deu-nos notícias do estado do capitão Moura Borges.
Disse que antes de vir para a Operação, que continuava a decorrer, tinha ido ao Hospital Militar ver e informar-se sobre o estado do capitão Moura Borges.
Informou-nos que já tinha sido operado e que tinha corrido bem.
Iria ser transferido para o Hospital Militar de Lisboa, para a recuperação ser mais rápida, porque o clima húmido da Guiné não era favorável a esta situação.

Durante a conversa com o general Spínola, o brigadeiro veio ter comigo para saber onde estava instalada a nossa Companhia.
Apontei-lhe o local e disse-lhe que era ali o trilho indicado para a Companhia fazer a emboscada.
Para meu espanto, o brigadeiro mandou-me buscar o pessoal da Companhia, para o nosso general passar revista.
FELIZMENTE PARA MIM, o capitão Almeida Bruno assistiu à conversa/ordem que o brigadeiro me deu.
Achei um grande disparate, mas cumpri a ordem do brigadeiro - QUEM ERA O FURRIEL "PERIQUITO" QUE NÃO CUMPRIA A ORDEM RECEBIDA DUM BRIGADEIRO?
Contrariado, fui buscar o pessoal da companhia e dirigi-me para junto do heli, onde estava a decorrer o nosso encontro.
Quando chegamos junto do heli, o general Spínola perguntou-me quem me mandou ir buscar os soldados.
Apeteceu-me dizer que tinha sido o brigadeiro - o que era verdade - mas ao mesmo tempo pensei na gravidade de um furriel "periquito" estar a acusar um brigadeiro. E AQUI VALEU-ME A AJUDA DO CAPITÃO ALMEIDA BRUNO.

Contornou parte do círculo que formávamos e colocou-se virado para mim a apontar para o brigadeiro. Fez isto várias vezes, mas eu continuava a ter medo das consequências. Bastava o brigadeiro dizer que não me deu essa ordem e eu é que ficava como mentiroso.
O capitão Almeida Bruno, viu o meu "desespero", contornou novamente parte do círculo e quando passou por trás de mim, bateu-me nas costas e disse: "DIZ QUE FOI O BRIGADEIRO" Com este "apoio", decidi e respondi ao general Spínola:
"MEU COMANDANTE, FOI O NOSSO BRIGADEIRO QUE ME DEU ORDEM PARA LEVANTAR A EMBOSCADA E TRAZER O PESSOAL PARA AQUI, PARA O MEU COMANDANTE PASSAR REVISTA".
Resposta do general Spínola: "O NOSSO BRIGADEIRO AQUI NÃO MANDA NADA. VOLTA A INSTALAR O PESSOAL NO TRILHO, E EU É QUE VOU LÁ VISITÁ-LO, PARA NÃO ARRISCAR A SEGURANÇA DELES".

DESTA JÁ ME SAFEI, PENSEI EU.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE NOVEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24836: A minha ida à guerra (João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72) (16): HISTÓRIA DA COMPANHIA DE CAVALARIA 2721: Capítulo II - Actividades no TO da Guiné - Operação "Jaguar Vermelho", de 26 de Maio a 8 de Junho de 1970 na região do Morés

terça-feira, 29 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23826: Humor de caserna (57): O anedotário da Spinolândia (VIII): "Porra, porra, lá iam lixando o Comandante-Chefe" (Gen Spínola, abril de 1972, quando o seu heli terá aterrado, por engano, numa clareira do mato, cercada de "turras", confundidos com comandos africanos)

Guiné > Algures > s/d (c. 1969) > O alf mil pil heli Al III Jorge Félix (BA 12, Bissalanca, 1968/70) e o gen Spínola (Com-Chefe e Governador Geral, CTIG, 1968/73)...  O Jorge Félix terá sido um dos pilotos de heli, com quem o general mais terá gostado de voar...   E com ele não nenhum susto como o de abril de 1972, uma história insólita contada neste poste...

Foto (e legenda): © Jorge Félix (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa do livro do Rui Alexandrino Ferreira, "Quebo: Nos confins da Guiné" (Coimbra, Palimage, 2014, 364 pp.).


1. Não sei se esta história é verdadeira ou não. Mas tenho que a  tomar como verídica, já que foi contada em primeira mão por um capitão do quadro, comandante da CCAÇ 3399/ BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73), o cap inf Horácio José Gomes Teixeira Malheiro, que esteve na "periferia dos acontecimentos" (*).

Temos que admitir que, quando se falava das peripécias do gen Spínola,  no CTIG, muitas vezes se mistura(va)  ficção e realidade.  Daí esta história  vir "engrossar" a nossa série "Humor de caserna" e o "anedotário da Spinolândia" (**). A história do heli  é perfeitamente verosímil e desta vez o general (e os seus acompanhantes) terá apanhado um valente susto...

A história consta do livro do nosso já saudoso Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022),  "Quebo: Nos confins da Guiné" (Coimbra, Palimage, 2014, 364 pp.), cuja capa se reproduz acima. 

Vamos reproduzir aqui um excerto do capítulo 10º ("O capitão de Aldeia Formosa, Horácio Malheiro"). É um depoimento do comandante da CCAÇ 3399 sobre a excelente articulação e cooperação, em operações, com o cap inf Rui Ferreira e os seus homens da CCAÇ 18 (pp. 179-196), não obstante os graves incidentes do Natal de 1971, rapidamente ultrapassados e esquecidos (*).

O cap inf Horácio Malheiro (não sabemos que posto tinha em 2014, aquando da publicação do livro, "Quebo"), dá vários exemplos de ações conjuntas que se traduziram em  "êxitos para o Batalhão" (pág. 191).

Uma delas, louvada de resto pelo gen Spínola, terá sido na sequência da Op Muralha Quimérica, em abril de 1972. "uma operação que visava evitar a entrada na Guiné de elementos da ONU que vinham verificar a existência de Zonas Libertadas onde o Exército Português não entrava e assim seriam reconhecidas internacionalmente como legítimas representantes dos Povos da Guiné" (pág. 192).

Decorreu durante 12 dias e envolveu forças  da CCAÇ 3399, CCAÇ 18, paraquedistas, comandos africanos e o Grupo Especial  do Marcelino da Mata. A operação teve como comandante, o ten cor paraquedista, Araújo e Sá, do BCP 12.


2. Um situação insólita em que o Com-Chefe se ia lixando...

por Horácio Malheiro

(...) Lembro-me de uma situação insólita que se passou nessa altura. Estava a minha Companhia de reserva em Aldeia Formosa quando recebo ordens urgentes  para embarcar nos helis, que  estavam estacionados  na pista,  e seria já no voo que teria conhecimento do destino  e missão.

Embarcámos de imediato e quando nos preparávamos  para descolar, soube nessa altura  que a missão era resgatar o general Spínola que presumivelmente teria sido aprisionado  pelo IN quando o seu heli  teria aterrado no meio de forças IN na altura confundidas com os Comandos Africanos.

Na altura da descolagem,  o meu piloto, comandante da  esquadrilha de helis, recebeu, via rádio, uma comunicação do heli do general Spínola informando que já vinha a caminho, pelo que apeámos s e aguardámos a sua chegada.

Quando chegou o heli do general, este saiu todo sujo de fuligem bem como o seu ajudante de campo, capitão Tomás, cujas mãos tremiam descontroladamente ao cumprimentar-me.

O general teve só um comentário ao desembarcar: "Porra, porra, lá iam lixando o Comandante-Chefe", e seguiu para a sede de Batalhão.

Já no bar,  em conversa, soube que o general tinha mandado aterrar o heli numa clareira da mata onde vislumbrou  militares africanos IN de camuflado que confundiu com os Comandos Africanos por terem adoptado no terreno um dispositivo de segurança à aterragem.

Quando aterrou e apeou,  foi recebido a tiro e todos se atiraram ao chão que tinha sido queimado e daí o terem ficado cheios de fuligem. Passado este instante de estupefacção, entraram a correr para o heli que descolou de imediato, debaixo de fogo IN,  que mal adivinhava  que tinha tido ao seu alcance o maior "ronco" da guerra da Guiné, que seria a captura ou abate do (...) Comandante-Chefe  [do Exército Português] " (pp. 192/193).

[Selecção / revisão e fixação de texto / parênteses retos, para efeitos de publicação deste poste: LG]

___________


Notas do editor:

(*) Vd. poste de 26 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23817: In Memoriam (463): Rui Alexandrino Ferreira (1943-2022)... Um excerto do livro "Quebo" (2014): Recordando os tristes acontecimentos que ensombraram Aldeia Formosa, na noite de Consoada de 1971, "se não a pior, uma das mais trágicas da minha vida"

terça-feira, 18 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23717: In Memoriam (456 ): Xico Allen (1950-2022), ex-Soldado Condutor Auto, CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74), um dos nossos pioneiros nas viagens de saudade à Guiné-Bissau

 



Xico Allen (1950-2022). O funeral é na quinta feira, às 14h30, em Lordelo do 
Ouro, Porto.  Ia completar, em 19 de maio de 2023,  os 73 anos.

1. O Zé Teixeira mandou-me, por SMS, com data de ontem, às 23h49, a triste mensagem que acabei de ler às seis e meia da manhã, quando peguei no telemóvel: 

"Luís, acabo de ser informado pela Inês, filha do Xico Allen, que ele faleceu há minutos. Não resistiu à segunda operação aos intestinos - Teve uma recaída há dois dias. E partiu." 

A notícia foi igualmente partilhad na página do Facebook da sua filha, Inês Allen

A mim, cumpre-me o doloroso dever de anunciar à Tabanca Grande esta notícia da morte de mais um dos nossos (*).

O Francisco Allen, mais conhecido por  Xico Allen, e também por Xico de Empada, ex-Soldado Condutor Auto, da CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74),  era um histórico da Tabanca Grande, para onde entrou, em princípios de 2006, pela mão do seu amigo e vizinho Albano Costa.(**)

Bancário reformado, vivia em Vila Nova de Gaia.  Conheci-o, pessoalmente, a ele, ao Albano Costa, ao Hugo Costa e ao Zé Teixeira, em 31/12/2005, na Madalena... Foi um dos primeiros camaradas a voltar à Guiné depois da independência. E nos últimos anos chegou mesmo a lá viver. 

De acordo com as memórias da Zélia Allen, sua companheira na altura, mãe da nossa amiga Inês Allen (as duas são também nossas tabanqueira), o casal Allen visitou a Guiné do pós-guerra, em abril de 1992, eles os dois mais um outro casal, o Artur Ribeiro e a esposa. Em 1994 lá voltaram, desta vez foram 3 casais e conseguiram ir a Empada, onde o Xico tinha feito a sua comissão. Uma terceira viagem foi em 1996 e uma quarta em 1998.

Para a Zélia aquela, a de 1998, foi a sua última viagem à Guiné, mas não para o Xico, que continuou a lá ir regulamente.  Em 1998, o  Xico, a Zélia, o Camilo e outros camaradas foram até à região do Boé, a partir de Quebo, no sul, seguindo a estrada junto à fronteira. Estiveram em Madina do Boé, não sei se chegaram a ir a Beli, e seguiram depois pela antiga picada que, indo por Cheche e Canjadude, ia dar a Gabu (Nova Lamego)... Fizeram, por isso, o mesmo percurso das NT,  no âmbito da Op Mabecos Bravios (1-7 de fevereiro de 1969), ou seja a picada Madina do Boé-Cheche-Canjadude-Gabu.

Era um homem de ação, pouco dado à escrita, afável, amigo do seu amigo... Guardo dele as melhores recordações, incluindo as suas idas ao Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real (a última vez, em 2018). 

Sobre ele escrevi algures, legendando a feliz foto do Hugo Costa, a do Xico com um saraui, na Mauritãnia, a caminho da Guiné-Bissau:

(...) O Xico Allen em acção: ele tem o melhor dos portugueses (a abertura aos outros, o sorriso aberto e frontal, a alegria de viver, o sentido da aventura) e dos ingleses (a organização, a tenacidade, a teimosia, o pragmatismo)... Pelo menos, dos portugueses e dos ingleses do Porto. É o que eu deduzo da apreciação feita pelos amigos que o conhecem... e também daquilo que eu já sei dele (...). Desejo-lhe good luck / boa sorte nas suas próximas aventuras terrestres a caminho dessa "terra vermelha e ardente", como  chama o Torcato Mendonça à nossa Guiné" (...)

À família enlutada, e em particular à sua filha querida, a Inês Allen, bem como ao seu filho, fica a nossa manifestação de dor e do nosso apreço por este camarada e amigo, cuja memória prometemos honrar: o Xico era muito querido por todos nós. E este é o "In Memoriam" possível que eu aqui deixo, feito em escassas duas horas, antes de ir para a minha sessão matinal de fisioterapia. 

Até sempre, Xico! (LG)

Viagem Porto-Guiné > Abril de 2005 > O Xico com um saraui

Expedição Porto-Bissau, organizada por Xico Allen e A. Marque Lopes... 9 de abril de 2006... Dia 5... A caminho de  Nouakchott, capital da Mauritânia... Um encontro amigável com sarauis e camelos... Fabulosa esta foto do Xico com um saraui, Grande fotógrafo, o nosso Hugo Costa, filho do Albano Costa que, juntamente com a Inês Allen, integrou esta viagem à Guiné, por terra, pelo deserto do Sara...  

Foto (e legenda(: © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné-Bissau > Região de Quínara (Buba) > Empada > Abril de 2006 >  Pai, Xico Allen, e filha, Inês Allen, juntos na pesquisa de vestígios da presença dos "Metralhas"  (CCAÇ 3566) nos já idos tempos de 1972/74.

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Brasil > Cidade de Praia Grande > Estado de São Paulo > 2014 >  Da esquerda para a direita, o António Chaves, o Joaquim Pinheiro da Silva e o Xico Allen.

Foto (e legenda): © Joaquim Pinheiro  (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Leiria > Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 > O Xico Allen e o Agostinho Gaspar

Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné-Bissau > Região do Oio > Jugudul > Abril de 2006 > Uma paragem na casa do Manuel Simões (1941-2014). A única mulher do grupo, com o seu recente penteado africano, feito em Bissau: a Inês Allen. O Manuel Simões era um velho conhecido e amigo do Xico Allen,

Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2006).  Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Gabu > Picada de Cheche - Gabu > 1998 >  Restos de viaturas das NT abandonadas...Trinta anos depois da retirada de Madina do Boé (6 de fevereiro de 1969), ainda continuavam vísiveis os sinais das emboscadas e das minas... que fizeram da zona do Boé uma das mais trágicas para as NT.

Fotos (e legenda): © Francisco Allen / Albano M. Costa (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 1998 > A famosa Fonte de Empada... " O calor era tanto que o melhor naquele momento foi despejar várias bacias de água pela cabeça abaixo somente para refrescar e tirar a maioria do pó apanhado ao atravessar as muitas picadas para ali chegar. Fomos ali pois era àquela fonte que o Xico ia fazer o carregamento de água e assim nos deparamos com as mulheres a lavar a roupa após o que tomavam banho. Na foto eu estava nas escada a filmar enquanto meu marido tirava fotos" (Zélia)... "A Zélia é mesmo assim e lá foi tomar o seu banho" (Albano Costa). 

Foto (e legenda); © Xico Allen / Zélia Neno (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Matosinhos > Leixões > Restaurante Casa Teresa > 9 de Abril de 2008 > Reunião habitual, às quartas feiras, da Tertúlia de Matosinhos (ou Tabanca Pequena de Matosinhos)... Da esquerda para a direita: (i) de pé, A. Marques Lopes, João Rocha (1944-2018), Eduardo Reis, José Teixeira, Armindo; na primeira fila, Jorge Félix, Xico Allen (1950-2022) e Silvério Lobo... À entrada da Casa Teresa, o António Pimentel. Foi na Casa Teresa, em Leixões, que começou a Tabanca Pequena de Matosinhos.

Foto (e legenda): © Jorge Félix (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Vila Nova de Gaia > Madalena > Vésperas de Natal de 2005 > Uma minitertúlia de camaradas e amigos da Guiné: da esquerda para direita: Luís Graça (que costuma passar o Natal no Norte, em casa dos cunhados), A. Marques Lopes, José Teixeira, Albano Costa, Hugo Costa e Francisco Allen (mais conhecido pelo Xico de Empada ou Xico Allen...)


Foto (e legenda): ©  Hugo Costa / Xico Allen (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

___________

(...) O Xico ainda hoje falei com ele e disse-lhe para ele também entrar na nossa tertúlia. Eu tenho a certeza que ele vai contar a sua estória mas ele não se sente muito à vontade para a escrita: é daqueles que só de empurrão mas vai...

Ja mandei um e-mail ao José Teixeira para nos encontrarmos um dia destes. Afinal também somos vizinhos. O Allen é uma pessoa que tem uma visão da Guiné muito grande, ele já lá foi muitas vezes, conhece muitissimo bem a Guiné, e os guinéus conhecem-no bem a ele (...)

sábado, 11 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22798: O nosso blogue por descritores (6): "O meu Natal no mato": tem mais de 80 referências... Por curiosidade, o poste P5522, de 8 de dezembro de 2009, da autoria do Joaquim Mexia Alves ["Era lá noite de se embrulhar!"...] bateu o recorde de visualizações de páginas (n=4627) e de comentários (n=15).

 

Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CCAÇ 526 (Bambadinca e Xime, 1963/65) > No Xime, esteve destacado um grupo de combate.

Foto: © Libério Lopes (2008).  Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]




Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nast 52 (1973/74) > Natal de 1973 > A garrafeira e a doçaria... Não faltou nada, a não ser o cartão de boas festas e feliz ano novo dos nossos vizinhos de Madina / Belel

Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Inaugurámos em maio passado uma nova série, "O nosso blogue por descritores" (*)... Com mais de 5 700 "descritores", de A a Z, torna-se difícil (se não impossível) aos nossos leitores fazer uma pesquisa exaustiva de um determinado tema ou assunto no nosso blogue que já tem 17 anos de existência e quase de 22 mil e oitocentos  postes.

O descritor "O meu Natal no mato” tem mais de 8 dezenas de referências. Nesta listagem. que a seguir se publica,  além de uma mini-imagem, cada poste é refenciado por:

(i) data;
(ii) número de ordem (cronológica) (do mais recente ao mais antigo);
(iii) série em que vem inserido;
(iv) título (e subtítulo);
(v) autor(es) (dentro de parênteses, no final) (não aparecendo este campo, o poste é, por defeito, da autoria de um ou mais editores do blogue)

A listagem só não traz o link de cada poste, porque seria muito consumidor de tempo para os editores recuperá-lo. Mas os nossos leitores podem consultar o poste inserindo o seu número na janela do canto superior esquerdo do blogue, antecedido sempre da consoante P, de poste: por exemplo P21675.

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2020/12/guine-6174-p21675-o-meu-natal-no-mato.html


Esperemos que esta lista seja útil a autores e leitores. (Alguns autores infelizmente já  não são vivos. João Rebola, Raul Albino,  Torcato Mendonça, Jorge Teixeira / Portojo...)

Refira-se, por simples curiosidade, que, quanto a este descritor "O meu Natal no mato", o poste P5522, 8 de dezembro de 2009, da autoria do Joaquim Mexia Alves [...Era lá noite de se embrulhar!...] bateu o recorde de visualizações de páginas (n=4627) e decomentários (n=15). (**)

Segue-se o poste P5512 (***) com 2927 visualizações de páginas mas zero comentários. É da autoria do Libério Lopes, um dos veteranos da Guiné, de 1963/65: (...) Apanhados em flagrante, a pôr duas minas no 'sapatinho', na estrada Xime-Bambadinca-

Mas recordemos também aqui, em época natalícia, a mensagem, gravada para a RTP, no Natal de 1968, pelo alf mil pil, AL III, BA 12, Bissalanca, 1968/70, Jorge Félix, então ainda  "periquito" (****):

A minha mensagem de 1968 na RTP: Um 69 em grande para os meus amigos
 

(...) Eu também falei na RTP. Vou contar...

Naquele tempo, 1968, os Canibais residentes não estavam interessados em aparecer na televisão. Não havia voluntários, logo, foram os mais periquitos que tiveram que representar a classe de Pilotos da Esquadra. Por tal motivo tive que ser eu e recordo-me que também gravou mensagem o Sargento Piloto Marta. Eu por ser o mais novo, ele porque iria partir em breve.

Não estava nada interessado em falar e arranjei uma maneira de ser censurado. Então que fiz eu? Debitei uma laracha que não fosse transmitida e disse o seguinte:

" Um beijo para os meus pais e um sessenta e nove em grande para os meus amigos".

O Operador, Serra Fernandes, homem que vim a encontrar passados anos na RTP, disse logo:
- Tem que dizer outra mensagem que isso não vai para o ar.

E eu respondi:
- Ou vai isto ou não vai nada.

Sempre fiquei com a ideia que não iria passar nos ecrãs da TV mas a verdade é que passou. Na altura, 1969, contaram-me alguns amigos que foi uma barraca muito comentada.

Há dias a falar com o nosso Amigo, Belarmino Gonçalves, alferes Piloto em Bissalanca nos mesmos anos que eu, recordou-me esta história, quando lhe desejei um Bom Natal ele atirou o "um 69 em grande para os meus amigos". (...) (****)


O nosso blogue por descritores (6) >  "O meu Natal no mato"
(que tem mais de 8 dezenas de referências)



(****) Vd. poste de 31 de dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5575: O meu Natal no mato (31): A minha mensagem de 1968 na RTP: Um 69 em grande para os meus amigos (Jorge Félix)

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21956: Facebook...ando (60): o gen Bettencourt Rodrigues, em 16 de novembro de 1973, em Madina do Boé, com dois jornalistas alemães, para verem "in loco" o sítio onde o PAIGC teria alegadamente proclamado a independência unilateral


Foto nº 1

Guiné >Região do Gabu > Boé > Madina do Boé > 16 de novembro de 1973 > O jornalista alemão, da Reuters,  Joachim  Raffelberg, e o gen Bettencourt Rodrigues, governador-geral e com-chefe que, a partir de 21/9/1973, substituiu o carismático gen António Spínola.


Foto nº 2

Guiné >Região de Gabu >  Boé > Madina do Boé > 16 de novembro de 1973 > Os dois  jornalistas alemães, à esquerda (Joachim  Raffelberg, da agência Reuter, e Guenter Krabbe,  do Frankfurter Allgemeine Zeitung; e à direita  o gen Bettencourt Rodrigues. Ao centro, um oficial superior não identificado e um oficial paraquedista, da força do BCP 12 que montou a segurança no local (Op Leopardo, Madina do Boé, de 15 a 17 de  novembro de 1973,  em que participaram as CCP 121 e CCP 122, tendo a CCP 121 ficado de reserva em Dulombi, segundo informação do nosso camarada Manuel Dâmaso). 

Recorte do Diário de Notícias, 23/11/1973



Foto nº 3

Recorte do Diário de Lisboa, 23/11/1973


Foto nº 4

Guiné > Região do Cacheu > Rio Cacheu > c. 13-20 de novembro de 1973 > O jornalista alemão da agência Reuters,  Joachim Raffelberg a bordo do NRP LFG Cassiopeia, de 300 toneladas, e 27 tripulantes, a caminho da fronteira com o Senegal, depois da visita a Madina do Boé (no dia 16).

1. Na página do Facebook do antigo jornalista da  agência Reuters, Joachim Raffelberg, chamada Raffelnews, Serviço comunitário, encontrámos esta "preciosidade", um álbum sobre Madina do Boé, com fotos (legendadas  em inglês), inseridas em 29 de janeiro de 2018, incluindo recortes de jornais portugueses (Diário de Notícias e Diário de Lisboa) que reproduziram a notícia da agência noticiosa portuguesa, ANI, dando conta de uma visita de jornalistas estrangeiras, de helicóptero, à antiga Madina do Boé, acompanhados do gen Bettencourt Rodrigues, o então novo comandante-chefe do CTIG.  

A visita terá ocorrido no dia 16 de novembro de 1973, quase dois meses depois da proclamação unilateral da independência que o PAIGC reclamava ter sido feita na antiga Madina do Boé, evacuada em 6 de fevereiro de 1969. (*)

Com a devida vénia, reproduzimos alguns desses documentos, que são importantes para informação e conhecimento dos nossos leitores, antigos combatentes  (**),  com tradução nossa, livre,  para português, das legendas (, no todo ou em parte), que se reproduzem, a seguir, em itálico:

Foto nº 1

(....) Os cerca de 500 anos de domínio colonial português estavam a chegar  ao fim. (...)  Apesar das minhas reportagens críticas, em 1971,  sobre o uso de napalm no teatro de operações de Angola, o Governo português convidou-me,  mais uma vez,  para visitar uma das suas colónias africanas, desta vez, a Gyuiné, um pequeno ponto na costa da África Ocidental

[O antigo jornalista também tem um pequeno álbum sobre o alegado uso de napalm em Angola, vd. aqui: Napalm in  Angola 25 jan 2018]

(...)  Aqui, na Guiné,  o PAIGC de Amílcar Cabral, um dos principais líderes anticoloniais africanos (assassinado em janeiro de 1973), esforçava-se por derrubar  as forças armadas portuguesas,  primeiro sob o comando do general do monóculo,  António de Spínola, e agora, em 1973, sob a liderança pelo general José Manuel de Bettencourt Rodrigues, ex-ministro da Defesa.

Lisboa sempre rejeitou, como falsa,  a reivindicação do PAIGC de extensas áreas libertadas no  interior do território, mas quando o PAIGC em 1973 declarou que tinha proclamado a independência da Guiné-Bissau num  local chamado Madina do Boé em 24 de setembro, as autoridades militares portuguesas levaram, até lá,  jornalistas estrangeiros,  sete semanas depois,  para provar que os rebeldes estavam errados.

Hoje já sabemos qual foi o desfecho: o próprio General de Spínola abriu caminho aos libertadores,  com o seu livro “Portugal e o Futuro”,   que pôs em marcha a revolução dos cravos de 1974: ao som da canção “Grândola, vila morena”,  tocada pela Rádio Renascença a partir da meia-noite de 25 de abril, em menos de 24 horas, seria derrubada a ditadura mais antiga da Europa.(...)


Fotos nº 2:

Guenter Krabbe (...) e eu  fomos acompanhados pelo governador Bettencourt Rodrigues (...) no nosso passeio de helicóptero ao local, situado a poucos quilómetros da fronteira com a Guiné-Conacri. Depois de Bafatá, o piloto vestiu o seu colete à prova de bala para não correr nenhum risco. 

Verificamos o percurso no mapa do comandante. Em Madina do Boé, o nosso grupo foi saudado por Forças Especiais Portuguesas [. tropas paraquedistas, CCP 122 /  BCP 12,] que tinham enviadas previamente para limpar a área, em caso de necessidade. (***)

O general  deu-nos 'uma pausa para o cigarro' , o tempo suficiente para dar uma olhadela no terreno à volta,  antes de regressarmos. Tudo o que encontramos no terreno de savana  foram os restos de um edifício que parecia um barraco e as fundações de várias palhotas. Não tínhamos permissão para inspecioná-los porque o local havia sido minado, conforme aviso que nos fora feito. 

Se o PAIGC tivesse ter declarado aqui a independência, eles bem poderiam  ter atravessado a fronteira próxima e regressado a correr,  após uma possível breve cerimónia.

Embora o Krabbe tenha escrito que não havia nenhuma povoação em Madina do Boé, muito menos com aspeto de estar inserida numa zona libertada, os jornais portugueses citaram extensivamente a minha história com um enfoque no colete anti-balas do piloto.

Foto nº 3

(...) Sem mo dizer, o QG da Reuter tinha enviado, ao mesmo tempo que eu,  um colega a Conakry para confirmar, do “outro lado”, a declaração de independência alegadamente feita em Madina do Boé,  e a Reuters atrasou a transmissão da minha reportagem aos nossos nossos subscritores, até que eles validassem comigo as coordenadas do lugar que nos disseram ser Madina do Boé, uma vez que tinham detectado um erro  no grau de latitude no meu fax. Acontece que o grau correto se perdeu na transmissão (...)

J. Raffelberg, na altura  correspondente da Reuter em Bona,  tinha recebido instruções para  explorar a oportunidade de obter informação em primeira mão  sobre um assunto controverso (a proclamação unilateral da independência da Guiné-Bissau), o mesmo é dizer, conseguir um "furo jornalístico", mas o relato do repórter deveria passar primeiro pela sede da Reuter em Londres, com vista a garantir que os padrões da agência, de objectividade,  imparcialidade e triangulação de fontes,  estavam assegurados.

Foto nº 4

 "Os marinheiros nos disseram ter [, a Cassiopeia.]  participado da invasão marítima de Portugal à Guiné-Conacri em [22 de novembro] de 1970 para capturar ou matar Amílcar Cabral, mas a missão falhou. Quando naveguei com eles no rio Cacheu em 1973, o seu comandante  era o 1.º tenente António Silva Miguel".

O gesto do novo comandante-chefe e governador-geral,  gen Bettencourt Rodrigues, parece ter chegado demasiado tarde. E não terá tido grande repercussão na imprensa internacional: os dois jornalistas alemães terão estado menos de 15 minutos em Madina do Boé, e com forte protecção militar. Acrescente-se ainda o facto de a Op Leopardo não ter ficado barata, dada a mobilização de meios que implicou (parte do BCP 12 e parte da frota de Helis AL III).
 
Cerca de 8 dezena de países, sobretudo do bloco soviético, China e países não-alinhados africanos, árabes e asiáticos,  foram reconhecendo o novo país. Portugal, como é sabido, só   um ano depois, em 10 de setembro de 1974, é que reconhece "de jure" a independência da Guiné-Bissau. E também só nessa altura, a 17 de setembro de 1974, é que a Guiné-Bissau é  reconhecido como novo membro da Assembleia Geral da ONU. Guiné-Bissau que é agora um país lusófono, integrado na CPLP.   

(...) Assunto - P3909: Perguntas, por que é que a FAP não bombardeou Madina de Boé em 24/9/73 ?

Não tenho qualquer dado para responder a isso, mas posso contar o que aconteceu em 69

(...) Como sabes, Madina foi abandonada mas ficou "minada". Passados uns dias (?) desta retirada, Spínola foi com um fotógrafo, o Maj Bruno e cinco páras, fazer umas fotos pois o Paris Match tinha publicado imagens de Amílcar Cabral como sendo em Madina, com a legenda "A tomada de Madina".

Eram dois Helis, eu seguia num, com os Páras (picadores na especialidade). As ordens eram as seguintes: Eu largava um Pára que picaria o terreno para os Helis aterrarem. Assim foi executado.

Para que o IN pensasse que havia muita tropa, foi feita uma manobra de diversão. Enquanto o Gen Spínola estava em terra, os dois helis aterravam e levantavam fazendo voltas de pista, para sugerirem muitos efectivos.

As movimentações em terra eram feitas com muito cuidado. No único local onde há montes na Guiné [, as famosas Colinas do Boé,], os Helis apareciam e desapareciam para dar a ideia de muito aparato.

Recuperado o Chefe, Maj Durão, fotógrafo, e julgo mais um graduado, e os quatro Páras, que seguiram comigo, nunca mais voltei a aterrar em Madina do Boé.

Com estas fotos, Spínola queria mostrar que Madina ainda era controlada por nós, mesmo abandonada.

Porquê toda esta tosca explicação?

Acho que seria inapropriado o PAIGC ir com o seu Povo fazer uma cerimónia de independência num local que eles sabiam estar minado. Não saberia a FAP que eles nunca iriam a Madina ?

A cerimónia terá sido mesmo em Madina do Boé, dentro da Guiné? A Guiné-Conacri fica ali a dois passos.

Gostaria de saber se, em 1973, o Gen Bettencourt Rodrigues aterrou em Madina ou só fez umas passagens para ver se havia alguém.

Afinal não estou a esclarecer nada, estou a aumentar as dúvidas!!! (...)

(**)  Último poste da série > 5 de janeiro de  2021 > Guiné 61/74 - P21736: Facebook...ando (59): Sobre a CCAV 678 a que pertenceu o fur mil Jorge Nicociano Ferreira, já falecido: (i) esteve menos de 3 meses na ilha do Sal, Cabo Verde; (ii) foi render a CCE 342 (?); (iii) em Bissau, e antes de partirem para a Zona Leste (Bambadinca), fizeram escoltas a barcos de reabastecimento às NT em Catió (Rui Ferreira / Eduardo dos Santos Roque Ablú)



Guiné > Região de Bafatá > Dulombi > Op ÇLeopardo (15-17 de nevembro de 1973) > Heli Al III estacionados em Dulombi. 

Cortesia de António Dâmaso / Blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 61/74

(***) Segundo informação prestada pelo Manuel Dâmaso, membro da nossa Tabanca Grande, no Blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 61/74 >1 de setembro de 2011 > Voo 2465: Um comandante de ideias fixas (2)

António Dâmaso, Srgt-Mor Paraquedista.
Azeitão

(...) Gozei as minhas merecidas férias, regressei mais renovado e continuei a comandar o 2.º
Pelotão, nestas funções tomei ainda parte na Guarda de Honra que a CCP 121 fez à recepção da chegada do novo Governador da Província, General Bettencourt Rodrigues em 21 de Setembro de
1973. (...)

A actividade operacional tinha abrandado muito, enquanto estive de férias a Companhia só fez uma operação conjuntamente com a CCP 123.

Comandei o Pelotão até 01Nov73, data em chegou um Alferes para o comandar, participei na Operação “Leopardo” de 15 a 17 de Nov73, em Madina do Boé em que participaram as CCP 121 e CCP 122, consistiu em levar uma equipa de fotógrafos ao local onde diziam que tinha sido declarada a Independência, mas quem lá foi disse que não havia lá nada, nem indícios,  não há dúvidas que filmaram foi noutro local e não em Madina do Boé. (...)

Desta vez não fui como operacional, fui como responsável pela logística da Companhia, no dia 15 fomos jantar e dormir a Bafatá, pela manhã arrancámos até Dulombi em viaturas auto, a minha Companhia  [, CCP 121,] ficou de reserva em Dulombi, já lá tinha estado 4 anos antes em 1969 (...).