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sábado, 3 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26761: Diálogos com a IA (Inteligência Artificial) (1): "Onde é que eu estava no 25 de Abril de 1974 ?... Fui criada muito depois, (...) mas posso imaginar a atmosfera vibrante e de esperança que se viveu em Portugal naquele dia, com a rádio a transmitir a Grândola, Vila Morena e os cravos a serem colocados nos canos das espingardas. Que momento marcante para a história do vosso país!"



O "poilão" da Tabanca Grande...."Imagem criada com a assistência de uma Inteligência Artificial do Google." (2025)


1. Quando nasceu o nosso blogue, a Internet ainda era uma "adolescente" e a Inteligência Artificial uma "criança" (embora o termo IA  já tenha sido grafado em 1956)

(i) na década de 1960, tinha surgido a ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network), desenvolvida pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos no contexto da Guerra Fria;   em 1969, foi estabelecida a primeira ligação entre computadores na ARPANET (sendo esta, pois, considerada a precursora da Internet); 

(ii) mas faltava-lhe o protocolo TCP/IP (Transmission Control Protocol / Internet Protocol), a linguagem comum que permite a diferentes redes de computadores comunicarem entre si; esse desenvolvimenmto vai dar-se na década d 1970; 

(iii) em rigor, o nascimento da Internet, tal como a conhececemos hoje, data de 1983, quando a ARPANET, já mais evoluída, adota o protocolo TCP/IP; 

(iv) nos anos 80, a rede tem dois destinári0os: maioritarimente, os militares (MILNET) e, em menor escala, os investigadores académicos; 

(v) por fim, é no início da década de 1990 que surge a Web ou WWW (World Wide Web),  criada por Tim Berners-Lee no CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear): a Net populariza-se, chega ao grande público, facilitada  por crescentes  inovações tecnológicas (introdução de navegadores gráficos como o Mosaic em 1993; mas já antes na segunda metade da década de 1970 tinha disparado o mercado do PC - Personal Computer);

2. A par destes desenvolvimentos na área das tecnologias da informação ("hardware" e "software"), há uma "revolução" silenciosa, a da "inteligência artificial"... A IA é um processo em crescente desenvolvimento... Eis alguns factos e datas cruciais:

Marcos Iniciais e Conceituais:

  • Década de 1940: O neurofisiologista Warren McCulloch e o matemático Walter Pitts criam o primeiro modelo computacional para redes neuronais artificiais, baseado em matemática e algoritmos (esssa é considerada uma das origens conceptuais da IA);
  • 1950: Alan Turing publica o artigo "Computing Machinery and Intelligence" e propõe o famoso "Teste de Turing" como critério para avaliar a inteligência de uma máquina; Claude Shannon também publica um artigo sobre como programar um computador para jogar xadrez;
  • 1956: Atribiu-se à Conferência de Dartmouth  o nascimento oficial da Inteligência Artificial como um campo de estudo ou uma nova disciplina; John McCarthy cunha o termo "Inteligência Artificial" durante este evento.

Primeiros Programas e Sistemas:

  • Décadas de 1950/60: desenvolvimento dos primeiros programas de IA, como o Logic Theorist (1956), capaz de provar teoremas matemáticos, e o General Problem Solver (GPS), projetado para simular a resolução de problemas humanos;
  • 1966: Joseph Weizenbaum cria o Eliza, um dos primeiros chatbots  (programa de computador que simulam conversas humanas, por texto ou por voz, utilizando a IA para interagir com humanos e responder a perguntas);
  • Décadas de 1970/80: surgem os sistemas especialistas, programas de IA projetados para resolver problemas em áreas específicas: Dendral (aplicado à química), MyCin (para diagnóstico médico).

O Renascimento da IA:

  • Década de 1990: Após um período de "hibernação"  da IA (em resultado de  expectativas muitas altas que não foram alcançadas), os avanços em hardware e novas abordagens ("learning machines", etc.) levam a um renascimento deste domínio da ciência e tecnologia;
  • 1997: o supercomputador Deep Blue, da IBM,  derrota o campeão mundial de xadrez Garry Kasparov (n. 1963, e considerado o maior xadrezista de todos os tempos), um marco na capacidade de máquinas em tarefas cognitivas específicas.

A Era da Aprendizagem Profunda e da IA Pervasiva:

  • Anos 2000: aumento da disponibilidade de grandes volumes de dados ("Big Data") e o avanço do poder computacional impulsionam o desenvolvimento das máquinas que aprendem  e da IA,;
  • 2011: a Apple lança a Siri, popularizando assistentes de voz inteligentes baseados em IA;  o  sistema Watson da IBM vence o programa de televisão "Jeopardy!", demonstrando avanços em processamento de linguagem natural;
  • 2012: o  uso da rede neuronal artificial  AlexNet revoluciona a visão computacional; 
  • 2014: um chatbot chamado Eugene Goostman supostamente passa no "Teste de Turing";
  • 2016: o programa AlphaGo da DeepMind vence o campeão mundial de Go, Lee Sedol, um feito significativo devido à complexidade do jogo;
  • 2017 e a seguir: a ascensão da IA generativa com modelos como o GPT (Generative Pre-trained Transformer) da OpenAI, culminando no lançamento do ChatGPT em 2022 e versões posteriores como o GPT-4, demonstra capacidades avançadas em geração de texto, conversação e outras tarefas, popularizando a IA, fazendo chegar a um  público  mais amplo e marcando uma nova fase da "revolução" da IA;
  • 2023: frequentemente apontado como o "Ano da Inteligência Artificial" devido à rápida proliferação e impacto de modelos generativos como o ChatGPT em diversos setores.

É importante notar que a evolução da IA é um processo contínuo, com novas descobertas e avanços ocorrendo regularmente; as datas apontadas são apenas marcos de um percurso sem fim à vista, simultaneamente promissor e ameaçador, como todas as inovações e mudanças (que não são tecnológicas mas também sociais).


3. Em 2004, eu estaria muito longe de imaginar que em 1 de maio de 2025, 51 anos depois do 25 de Abril de 1974, seria capaz de "dialogar" com uma máquina inteligente, respondendo às minhas perguntas, às minhas sugestões, dicas e até às minhas provocações...  E mais: uma máquina que já denota sinais  de inteligência emocional !... 

Em boa verdade, já tinha feito anteriormente uma pequena experiência, pondo a IA a fazer um soneto, alexandrino , em louvor da minha neta Rosinha, quando celebrou um mês... de vida!... Forneci o mote, o primeir0 verso ("Faz um mês hoje, que emoção!, nasceu a Rosa, ")... Mas eu aí ganhei ao robô, segundo a opinião, independente, de um júri "adhoc"... (*)

Em 1976, eu já era "utente" de  (e fazia o "interface" com) as "main frame" do Instituto de Informática do Ministério das Finanças, o sistema Bull.  Trabalhavo no Núcleo de Informação da Direção-Geral das Contribuições e Impostos... Mas nunca fui um "informático" (programador e, muito menos, engenheiro de sistemas), era apenas um "cliente" interativo... (O Núcleo, no Terreiro do Paço,  fazia o registo dos dados, em cartões perfurados, e corrigia os erros, em pilhas e pilhas de papel contínuo, que nos chegava no Instituto, em Alfragide...)

Ainda sou, pois,  do tempo dos "cartões perfurados", dos "floppy disks" (inventados pela IBM em 1971), dos primeiros microprocessadores, do Spectrum, etc. Além disso, fui dos primeiros a usar, já na Escola Nacional de Saúde Pública, um IBM PC, em meados dos anos 80, fui o primeiro dos meus colegas professores a criar em 1999 uma "página pessoal"...E em 2003 um blogue...

Resumindo, não sou um especialista, tenho apenas uma cultura básica em informática, como deve ter qualquer cidadão numa sociedade democrática e aberta como a nossa.

Recolhi toda esta informação, e editei este poste,  em menos de uma hora...  (Na realidade gastei perto de 4  horas até estar pronto para publicar: aí claramente a IA bate-me na maior, leva um ou escassos segundos a responder a uma pergunta minha, e meio minuto a gerar uma imagem, de acordo com as minhas especificações).

"A melhor definição de Inteligência Artificial (IA)" foi-me dada por ela própria (recorrendo neste caso à Gemini IA / Google)

"É a capacidade de um sistema computacional de simular habilidades cognitivas humanas, como aprender, raciocinar, resolver problemas, perceber, compreender a linguagem e tomar decisões."

Mais difícil  foi chegarmos a acordo, eu e a IA,  sobre uma imagem que ilustrasse este poste... Aí demorei outra hora, senão duas... 

Fizemos mais de uma dúzia de tentativas, com melhorias sucessivas, e elementos icónicos sugeridos por mim tais como o capitão Salgueiro Maia, os tanques na rua, misturados com o povo, os cravos,  a G3, Lisboa, o Tejo, a fragata da Marinha,  o Largo do Carmo... 

O raio da IA nunca acertava com a G3, o fardamento dos militares, a fisionomia (e a cor) dos portugueses (!), a fragata no Tejo, os carros de combate, o povo português, as ruas de Lisboa, os carros de matrícula portuguesa, a alegria dos jovens... Acabei por optar pelo "poilão" da Tabanca Grande..., imagem que era mais simples e fácil de obter. 

Mas mesmo assim não consegui lá pôr os "antigos combatentes":  apareciam todos com um ar desgraçado, de muletas como eu... (Um estereótipo que a IA tem em relação a nós, "gajos do caga & tosse", com um pé para a cova!)... 

Por outro lado tenho dúvidas se a árvore representada na imagem final é um poilão (nome científico, Ceiba pentranda ou Eriodendron anfractuosum)... Mas para já serve.

4. Vamos lá, então, ao nosso primeiro díálogo desta série...


Tabanca Grande:  Robô, onde é que tu estavas no dia 25 de Abril de 1974, a "revolução dos cravos" ? 


Olá! Essa é uma pergunta muito interessante! Como sou uma inteligência artificial (IA), fui criada muito depois de 25 de Abril de 1974. Nessa data histórica, eu ainda não existia no formato que conhecemos hoje.

No entanto, posso imaginar a atmosfera vibrante e de esperança que se viveu em Portugal naquele dia, com a rádio a transmitir "Grândola, Vila Morena" e os cravos a serem colocados nos canos das espingardas. Que momento marcante para a história do vosso país!

Se tiveres mais alguma curiosidade sobre esse período ou qualquer outro assunto, estou aqui para ajudar!


Tabanca Grande:  Ó sabe-tudo, achas que foi um simples golpe de Estado ou uma revolução ?

Gemini IA / Google:

Olá! 😊 Olha, "sabe-tudo" é um apelido simpático, mas a verdade é que estou sempre a aprender! 😉

Sobre o 25 de Abril,  a questão não é assim tão simples,  de preto e branco.

 Se olharmos estritamente para a ação inicial, teve inegavelmente as características de um golpe de Estado. Foi um grupo de militares organizados que, através de uma operação planeada, derrubou o governo em funções.

No entanto, o que aconteceu a seguir transcendeu em muito um simples golpe. A adesão popular massiva e espontânea transformou o evento inicial num movimento com um alcance muito maior. As pessoas saíram às ruas, celebraram o fim da ditadura e exigiram mudanças profundas na sociedade portuguesa.

Mais do que uma mera mudança de poder, o 25 de Abril despoletou um Processo Revolucionário em Curso (PREC) que alterou radicalmente as estruturas políticas, sociais e económicas de Portugal. Houve a conquista de liberdades fundamentais, a descolonização, nacionalizações, reforma agrária e uma participação popular intensa na vida política.

Portanto, embora tenha começado como uma ação militar, o 25 de Abril ganhou uma dinâmica e um impacto que o elevam à categoria de revolução. Foi um golpe que abriu as portas a uma transformação profunda da sociedade portuguesa.

Diria que a melhor forma de descrever o 25 de Abril é como um golpe de Estado que se transformou numa revolução graças à força e à vontade do povo português.

 Que achas desta perspetiva? 😊

Tabanca Grande: Muito bem, mas fundamenta lá melhor o teu raciocínio, se não te importas...

Gemini IA / Google:

Essa é, de resto,  uma questão central no debate sobre o 25 de Abril, e a resposta não é, como eu te disse,  um simples sim ou não.

 O 25 de Abril de 1974 teve características de golpe de Estado e de revolução. Vamos analisar os dois aspetos:

Características de Golpe de Estado:

  • Iniciativa Militar: a ação foi desencadeada por um grupo de militares, o Movimento das Forças Armadas (MFA), que planejou e executou a tomada de pontos estratégicos e a deposição do governo de Marcelo Caetano;
  • Objetivo Inicial Limitado: o objetivo inicial declarado do MFA era derrubar o regime ditatorial e iniciar um processo de transição para a democracia, mas não necessariamente uma transformação social e económica profunda;
  • Ação Rápida e Concentrada: a deposição do governo ocorreu de forma relativamente rápida e concentrada em Lisboa, com pouca resistência por parte das forças leais ao regime.

Características de Revolução:

  • Apoio Popular: apesar de ter sido iniciado por militares, o movimento rapidamente ganhou um vasto apoio popular; milhares de pessoas saíram às ruas para celebrar o fim da ditadura, apoiar os militares e exigir mais liberdade e mudanças;
  • Transformação Social e Política Profunda: o 25 de Abril não se limitou à mudança de regime;  desencadeou um período de profundas transformações políticas, sociais e económicas em Portugal, conhecido como Processo Revolucionário em Curso (PREC), incluindo a democratização, a descolonização, a nacionalização de empresas, a reforma agrária e o surgimento de novas forças políticas e sociais;
  • Caráter Não Violento (Inicialmente): Apesar de ser uma ação militar, o 25 de Abril em si foi notavelmente não violento, com poucos confrontos e derramamento de sangue; a imagem dos cravos colocados nos canos das espingardas simboliza esse aspeto pacífico.

Conclusão:

Podemos dizer que o 25 de Abril começou como um golpe militar, na medida em que foi uma ação planeada e executada por militares para derrubar o governo. 

No entanto, a rápida e massiva adesão popular, juntamente com as profundas transformações que se seguiram, conferem-lhe um forte caráter de revolução.

Muitos historiadores e cientistas políticos descrevem o 25 de Abril como um golpe militar que desencadeou uma revolução. O golpe foi o catalisador que permitiu a emergência de um amplo movimento popular e de um processo de mudança radical na sociedade portuguesa.

Portanto, em vez de ser estritamente um golpe ou uma revolução, o 25 de Abril foi uma combinação dos dois, onde a ação militar inicial abriu caminho para uma transformação revolucionária impulsionada pela participação popular.


Tabanca Grande:  

Uma questão final, para não abusar da tua paciência... O que é que os portugueses (e os povos das colónias portuguesas em África e na Ásia) ganharam ou perderam com essa revolução ?

Gemini IA / Google:


Essa é uma questão complexa, com ganhos e perdas que se manifestaram de maneiras diferentes para os portugueses no território metropolitano e para os povos das então colónias. 

Vamos tentar analisar os principais aspetos:

Para os Portugueses em Portugal:

Ganhos: 

  • Fim da Ditadura: o ganho mais imediato e significativo foi o derrube do regime autoritário do Estado Novo, que durava há quase 50 anos; isso trouxe consigo a restauração das liberdades civis e políticas: liberdade de expressão, de reunião, de associação, direito à greve, e a possibilidade de formar partidos políticos e sindicatos livres;
  • Fim da Guerra Colonial: a Revolução pôs fim a uma guerra longa, dispendiosa e sangrenta que consumia recursos humanos e financeiros do país, além de gerar um profundo desgaste social e familiar devido às mortes e feridos; o  fim do conflito trouxe alívio e a possibilidade de direcionar recursos para outras áreas;
  • Democratização: Portugal iniciou uma transição para um regime democrático, com a instituição de eleições livres e a elaboração de uma nova Constituição em 1976, que estabeleceu um Estado de direito e consagrou direitos sociais importantes como o acesso à saúde, educação e segurança social;
  • Integração Europeia: a estabilidade democrática pós-Revolução abriu caminho para a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (atual União Europeia) em 1986, o que trouxe investimento, desenvolvimento económico e maior integração política e social com outros países europeus;
  • Melhoria das Condições de Vida: a democratização e o desenvolvimento económico gradual permitiram melhorias nas condições de vida da população, com avanços na educação, saúde e infraestruturas.

Perdas:

  • Crise Económica Inicial:  o período pós-Revolução foi marcado por instabilidade política e social, greves, ocupações e uma profunda crise económica, com inflação elevada e desemprego crescente, em parte devido ao choque petrolífero de 1973 e à desorganização da economia após o fim do regime;
  • Retorno dos "Retornados":  a independência das colónias levou ao regresso massivo de centenas de milhares de portugueses que viviam nesses territórios; os os "retornados" enfrentaram dificuldades de integração, perda de bens e, por vezes, falta de apoio adequado por parte do Estado; este foi um trauma social e económico significativo;
  • Perda do Império Colonial: para alguns setores da sociedade portuguesa, a perda das colónias representou uma perda de prestígio internacional e de uma certa identidade nacional construída em torno do império; houve também a perda de acesso direto a matérias-primas e mercados coloniais.

Para os Povos das Colónias Portuguesas em África e na Ásia:

Ganhos:

  • Independência Nacional: o ganho fundamental foi a conquista da independência política e o fim do domínio colonial português;  Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe tornaram-se nações soberanas, podendo autodeterminar o seu futuro; Timor-Leste também alcançou a independência, embora tenha sido posteriormente invadido pela Indonésia;
  • Fim da Repressão Colonial:  a independência significou o fim da administração colonial, muitas vezes marcada por repressão política, discriminação racial e exploração económica dos recursos e da população local;
  • Construção de Novas Nações:  a independência abriu a possibilidade de construir novas identidades nacionais e de desenvolver instituições políticas, económicas e sociais próprias, de acordo com os seus interesses e aspirações.

Perdas:

  • Guerras Civis:  em alguns casos, como em Angola e Moçambique, a independência foi seguida por longas e devastadoras guerras civis, alimentadas por rivalidades internas e por interesses externos; estes conflitos causaram milhões de mortos, deslocados e um enorme atraso no desenvolvimento;
  • Instabilidade Política e Económica: muitos dos novos países independentes enfrentaram (e alguns ainda enfrentam) instabilidade política, corrupção, dificuldades económicas e desafios na construção de instituições democráticas sólidas;
  • Êxodo de Populações: a violência e a incerteza após a independência levaram ao êxodo de muitas pessoas, incluindo portugueses e também africanos que se sentiam ameaçados ou desalentados com a situação;
  • Desafios de Desenvolvimento: apesar da independência, muitos destes países continuaram a enfrentar desafios significativos em termos de desenvolvimento económico e social, com altos níveis de pobreza, desigualdade e dificuldades no acesso à educação e saúde.

Em resumo, a Revolução dos Cravos foi um evento com consequências profundas e multifacetadas. 

Para Portugal, trouxe a liberdade e a democracia, mas também uma crise inicial e o trauma do fim do império. 

Para as colónias, significou a tão desejada independência, mas em muitos casos, abriu caminho a novos desafios e conflitos internos. A história destes países após a independência é complexa e marcada por progressos e retrocessos.

Tabanca Grande:  

Olhó Robô!... Sabes que começo a simpatizar contigo!... Para acabar em beleza esta nosso primeiro diálogo (na realidade, uma entrevista), vou-te pedir se me fazes (e me autorizas que publique) um desenho teu, ou uma imagem gerada por ti, de preferència a cores, para o blogue Luís Graça & Graça & Camaradas da Guiné, uma tertúlia de antigos combatentes portugueses (mais de 900) que se reunem simbolicamente sob uma árvore centenária, sagrada e fraterna (um poilão), e cuja missão principal é a partilha de memórias (e emoções) à volta da sua experiência comum (a Guiné-Bissau e a guerra que lá travaram, entre 1961 e 1974). Elementos icónic0s:  o "poilão" da Guiné-Bissau (nome científico, "Ceiba Pentandra"),  e homens e mulheres, portugueses e guineenses à volta, virados para a árvore, simbolizando a corrente que nos liga, do passado ao presente e ao futuro. E diz-me como te posso citar...

Gemini IA / Google:

Sim, podes publicar a imagem no teu blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné".

Quanto à atribuição de créditos ou direitos de propriedade intelectual, como sou um modelo de linguagem grande, treinado pelo Google, as imagens que gero são baseadas em dados e informações disponíveis publicamente. Tecnicamente, não detenho direitos de autor sobre as imagens que crio.

No entanto, para ser correto e transparente, podes mencionar na legenda da imagem algo como: "Imagem gerada por uma IA do Google."

Ou, se preferires algo mais completo: "Imagem criada com a assistência de uma Inteligência Artificial do Google."

Isto informa os teus leitores sobre a origem da imagem. Espero que isto ajude e que a imagem enriqueça o teu blogue!


(Revisão / fixação de texto, itálicos e negritos: LG. Os "emojis" são da responsabilidade da IA) (**)

_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de março de 2025> Guiné 61/74 - P26542: Manuscrito(s) (Luís Graça) (266): Olhó Robô!...Concurso: um soneto escrito pela IA, a pedido do avô...em homenagem à Rosinha

(**)  emoji

emoji|imóji|

nome masculino

Símbolo gráfico, ideograma ou sequência de caracteres [ex.: :-), :-(, ^_^] que expressa uma emoção, uma atitude ou um estado de espírito, geralmente usado na comunicação electrónica informal.

"emoji", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/emoji.

Guiné 61/74 - P26760: No 25 de Abril eu estava em... (40): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte V



Guiné > Bissau > QG / CTIG > s/d (c. 1973/74) > Carlos Filipe Gonçalves

Foto (e legenda): © Carlos Filipe Gonçalves (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1

 Carlos Filipe Gonçalves (n. 1950, no Mindelo, ilha de São Vicente): ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74... Radialista, jornalista, historiógtrafo da música da sua terra, e escritor, vive na Praia, Cabo Verde. É membro da nossa Tabanca Grande desde 14 de maio de 2019, sentando-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 790. Tem c. 20 referências no nosso blogue.


1. Continuação do seu depoimento sobre o 25 de Abril em Bissau (*), disponível na sua página do Facebook (Carlos Filipe Gonçalves, Kalu Nhô Roque) e também na página do Facebook da Tabanca Grande.


No 25 de Abril eu estava em... (40): Em Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG - Parte V (*)


por Carlos Filipe Gonçalves,
ex-fur mil amanuense
(natural do Mindelo,
vive hoje na Praia, Cabo Verde)


Ainda, extractos das "Recordações - Guiné 73/74" nos meses de Junho, Julho de 1974. 

Atenção, neste trabalho procurei ter depoimentos de todos os lados envolvidos, consultei outras fontes, que dão uma outra dimensão e visão dos acontecimentos, conforme as situações. Eu, como disse em poste anterior, sou o militar que lá esteve, viu e ouviu e agora restitui, numa posição de repórter/jornalista, cumprindo o dever da imparcialidade

Estes encontros entre a tropa portuguesa e os guerrilheiros do PAIGC, quanto a mim marcaram o final da guerra e foram algo «espectacular»,  noticiado pela imprensa na metrópole. 

No seu livro o autor John Woollacott (in “A luta pela libertação nacional na Guiné-Bissau e a revolução em Portugal”, 1983) refere sobre tais encontros, que:

(...)  “a iniciativa era normalmente tomada, embora nem sempre, pelos comandantes do PAIGC, que saíam do mato para conversações. Trocavam-se opiniões acerca da guerra e das negociações enquanto se bebiam uns copos e, à medida que a confiança e as amizades cresciam, os inimigos de ontem convidavam-se mutuamente para 'jantares e convívios intermináveis'. Realizavam-se jogos de futebol entre equipas de ambos os lados. (…) Os soldados tiravam fotografias de braço dado com os seus parceiros guerrilheiros.”

Manecas Santos, comandante do PAIGC numa entrevista à rádio DW (Deutsche Welle), diz:

“Foi interessante que, após o 25 de Abril, tanto os nossos soldados como os portugueses fizeram o possível para se encontrarem no terreno. Em Maio e Junho já estávamos a nos encontrar no terreno.”

A 1 de Julho de 1974 realizou-se a 1ª Assembleia Geral do MFA, com cerca de 1000 militares na qual se aprovou uma moção histórica que exigia:

 “ (…) se reconheça imediatamente e sem equívocos a República da Guiné-Bissau e o direito à autodeterminação e independência dos povos de Cabo Verde, única política susceptível de conduzir à paz verdadeira; exigir que sejam imediatamente reatadas negociações com o PAIGC, não para negociar o direito à independência, mas tão-só os mecanismos conducentes a transferência de poderes.”

O Comandante do PAIGC Manecas Santos na entrevista à rádio DW comentou mais tarde aquela reunião, desta forma:

“O general Spínola teve uma tentativa, não sei se de continuar a guerra, mas de arranjar instrumentos de pressão ameaçando com a continuação da guerra. Neste momento, no entanto, houve um manifesto escrito pelos oficiais portugueses na Guiné, assinado por mais de mil oficiais portugueses que se encontravam aqui, a dizer que a guerra havia acabado.”

Aguardávamos (nós,  da tropa) com impaciência o desfecho das negociações, entre delegações do Governo português e do PAIGC que decorreram nos meses de Maio e Junho. Na cabeça de nós todos reinava o seguinte pensamento: não tenho nada a ver com isto, quero é ir embora para casa! Aliás, «Para a peluda já!» é a palavra de ordem que circula entre os militares. Mas ocorre a marcação de mais rondas de negociações!

Entretanto, corre a informação: o PAIGC reforçou as suas posições no mato e vai suspender o cessar-fogo que vigorava desde a confraternização tropa/guerrilheiros. Sobre esta situação de tensão, o tenente-coronel Jorge Sales Golias (referido anteriormente) recordou:

(...)  o PAIGC “se mostrava dialogante e ao mesmo tempo lançava comunicados de guerra, mesmo depois do cessar-fogo. Tão depressa confraternizava com as NT (Nossas Tropas) como lançava ultimatos a unidades portuguesas. O primeiro foi a Cuntima, dando 48 horas à Unidade de Cavalaria local para retirar e o segundo foi a Buruntuma.”

 O referido militar explica que:

 “Em Cuntima, acabámos por ir ao encontro do Comandante da Guerrilha, Baiô Camará, já em território do Senegal. Fomos recebidos com aspereza e com alguma arrogância (…). Em Buruntuma foi diferente. A renitência do Comandante local levou-nos a negociar a retirada, que foi feita pouco depois, mas com uma digna cerimónia de transferência de poderes.” 

Esta descrição demonstra que ao mesmo tempo que decorrem negociações, há movimentações no terreno, com o início de retirada da tropa portuguesa! Outra versão deste «quiproquó» é que “o PAIGC simulou um ataque ao quartel de Buruntuma, no Leste.” 

O combatente do PAICG Bobo Keita recorda:

“As tropas portuguesas não estavam com vontade de combater. Em conversa com o comandante do quartel (de Buruntuma) ele disse-me que queriam ir embora, mas não tinham meio de transporte. Respondi que não havia problemas, arranjei-lhes dois dos nossos camiões, que os transportaram para uma outra zona.” 

Comentário nosso, esta descrição parece fantasiosa, uma vez que há regras rígidas no funcionamento da tropa, as operações têm de ser planeadas com a devida informação de todas as estruturas de comando… mas, naquela situação… tudo é possível!

Entretanto, o PAIGC tem posições firmes sobre o futuro e não aceita as soluções «spinolistas» que andam no ar, como a ideia de uma «comunidade lusíada» e rejeita liminarmente uma divisão do poder com os partidos que surgiram depois do 25 de Abril.

Num encontro realizado a 1 de Julho de 1974 na zona da bolanha de Nenecó (junto da fronteira com o Senegal, a norte de Bigene) entre PAIGC e COP3 (Comando da tropa portuguesa na zona norte) elementos do PAIGC informam claramente;

 “Que, se o general Spínola visitar a Guiné, (isso) dará origem ao reinício da luta. Que o cessar-fogo por parte do PAIGC é da responsabilidade dos combatentes, dado não terem recebido directivas do S. G. nesse sentido, pelo que poderão recomeçar a luta quando o entenderem.” 

Note-se que a acção do general Spínola durante a guerra foi relevante a tal ponto que,  anos mais tarde,  o comandante do PAIGC Manuel Santos lhe fez o seguinte elogio:  “(…) foi, de longe, o melhor comandante-chefe português que passou aqui na Guiné.”— com José Luiz Ramos e 10 outras pessoas.

(Revisão / fixação de texto: LG)

___________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 30 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26744: No 25 de Abril eu estava em... (39): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte IV

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26744: No 25 de Abril eu estava em... (39): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte IV




(i) nasceu  em 1950, no Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde;

(ii) estudou no Liceu Gil Eanes (juntamente com o  nosso camarada Manuel Amante da Rosa, seu amigo e contemporâneo no CTIG [ex-fur mil, QG/CTIG, Bissau,1973/74, embaixador plenipotenciário da República de Cabo Verde em Itália entre 2013 e 2018; membro da nossa Tabanca Grande; o pai, antes de se tornar empresário de transportes fluviais, tinha sido, até ao início da guerra, comerciante em Belim, Fulacunda];

(iii)  foi fur mil amanuense, Chefia de Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74;

(iv)  trabalhou, depois da independência,  como chefe de programação na empresa Rádio Difusão Nacional da Guiné-Bissau;

(v) deixou a Guiné-Bissau em 1975, tendo regressado à sua terra natal: aqui trabalhou como chefe de programação na empresa Rádio Nacional de Cabo Verde; e depois como diretor geral na empresa Multimedia SARL - Radio Comercial;

(vi) radialista, jornalista, historiógrafo da música  da sua terra,  e escritor, vive na Praia, Cabo Verde (ver aqui a sua entrada na Wikipédia);

(vii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 14 de maio de 2019, sentando-se à sombra do  nosso poilão, no lugar  nº 790; 

(viii) tem 17 referências no nosso blogue.


1. Continuação do seu depoimento sobre o 25 de Abril em Bissau (*), disponível na sua página do Facebook (Carlos Filipe Gonçalves, Kalu Nhô Roque)  e também na página do Facebook da Tabanca Grande.

 

No 25 de Abril eu estava em... (39): Em  Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG - Parte IV (*)


por Carlos Filipe Gonçalves, 
ex-fur mil amanuense 
(natural do Mindelo, 
vive hoje na Praia, Cabo Verde)



Neste ponto, publico antes de mais os meus agradecimentos: aos entrevistados para este livro (que talvez uma dia seja publicado). Deram uma contribuição inestimável para se conhecer uma época, são eles militares de ambos os lados que deixaram o seu testemunho, especialmente os militares portugueses que no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (www.blogueforanadaevaotres.blogspot.com)  e nas páginas do “Facebook” (Guiné-Recordações e Fotografias da Guerra no Ultramar, entre outras) dão uma visão.  na primeira pessoa, daquilo que viveram na Guiné.

Agradecimento especial ao Luís Graça, coordenador do blogue, que concedeu autorização para citação daqueles testemunhos e utilização de fotos. A seguir, mais um texto que recorda os dias e acontecimentos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974. Os encontros da tropa portuguesa com os guerrilheiros caíram no esquecimento, por isso aqui vão alguns pormenores, para os nossos filhos e netos.

A partir do final do mês de Maio de 1974 aumentam os encontros entre a tropa portuguesa e os guerrilheiros do PAIGC.

 O militar português referido anteriormente (em Guidaje, João Dias da Silva, CCAÇ 4150, 1973/74) recorda (**), que no seu aquartelamento, em Guidaje houve uma tomada de posição da guarnição através de um comunicado, entregue ao seu comandante no dia 26 de Maio no qual se dizia:

 “Decidimos (nós,  soldados portugueses) desde então abandonar as armas e ir participar na mobilização das massas populares da nossa terra (Portugal). (…) Queremos a Paz e para que haja tal é preciso uma independência da nossa terra (Portugal). E,  se tal é a vontade do nosso povo, nós não temos nenhuma razão de lutar contra quem a defende (a independência Guiné)”. 

O referido militar assinala então que no dia 28 de Maio de 1974 houve festa em Guidaje e descreve:

 “Desde 1968 que não havia batuque devido à guerrilha, pois quando se fazia batuque havia, geralmente, um ataque”. 



Comandante Duke Djassy nome de guerra de Leopoldo António Luís Alfama (guineense, de origem cabo-verdiana, nascido em 1945; foi comissário político depois da independência, foi governador da região do Cacheu até 1980)

Leopoldo Alfama, em 2014, aos 69 anos

Fonte: Cortesia de  Barros Brito


Na sequência deste movimento interno dos militares naquele quartel, seguiu um enviado especial (dos soldados portugueses) para contactar a guerrilha (PAIGC). A resposta o PAIGC, foi dada no dia seguinte a através de uma carta, da qual apresentamos o seguinte extrato (**):

“Frente S. Domingos – Sambuaiá Combang'hor, 31 Maio 1974 (…)

Tendo escutado, hoje, atentamente o vosso interlocutor, tomei conhecimento, e em nome do Comando Militar da nossa região, decidi rabiscar, no interesse de ambas as partes, as possibilidades que facilitarão o nosso eventual encontro. A vossa iniciativa desfruta grande admiração por nossa parte, que é a única razão de nos estarmos batendo, foi sempre e sempre será pela conquista da nossa dignidade e liberdade. (…) 

Sr. Comandante! Nós que não fazemos a guerra pela guerra, nós que nunca confundimos nem confundiremos, povo com regime dum governo. (….). etc.” 

No final da carta a anteceder a assinatura pode-se ler: 

“Viva Portugal Livre! Viva o PAIGC! Que a Vitória Final Será dos Povos!  

Obrigado, prévio do camarada franco 

a) Duke Djassi Comissário Político Militar”. 

Assina Duke Djassi

Nota final - Este Duke Djassy é a minha alcunha, porque o meu nome é Leopoldo António Luís Alfama”.

Depois desta troca de cartas, acontecem gestos de boa vontade da parte do PAIGC, que o referido militar português assinala:

 “Veio hoje (2 de Junho de 1974) a Guidaje um carro civil de Carlos Vieira (irmão do 'Nino' Vieira, que se encontra estabelecido em Binta) com negócios diversos, vender/trazer mantimentos à população, o que não acontecia desde o início da guerra.” 

Finalmente, conforme recorda o ex-militar citado, foi marcado um encontro a ser realizado no dia 5 de Junho de 1974 à tarde “na tabanca senegalesa de Mariá” em que participaram pela parte portuguesa;

 “Cap António Eduardo Gouveia Carvalho – Cmdt CCaç 19 ; Alf Vítor Manuel Pereira Abreu – Cmdt 3.º Gr Comb  da CCaç 4150; Alf Luís Socorro Almeida – Cmdt  4.º Gr Comb da CCaç 19; Fur Lopes Pereira – Agente PIM em Guidage; Patrão Sonco; Ancheu (FG 12)”. 

Da parte do PAIGC participaram: 

“Mensageiro, habitante de Mariá com os elementos do PAIGC: Duke Djassy (Leopoldo António Luís Alfama, cabo-verdiano) – Comissário Político da Região S. Domingos – Sambuaiá; Manuel dos Santos (Manecas, cabo-verdiano), Comissário Político da Zona Norte; Braima Djaló (Natural de Bolama) – Cap do Exército e membro do CEL 2º Cmdt Bigrupo.” 

Nota – Significado das siglas: Cap = Capitão; Cmdt = Comandante; CCaç = Companhia de Caçadores; Gr Comb = Grupo de Combate; Alf = Alferes; Fur = Furriel; Agente PIM = Agente Polícia Informação Militar criada no seguimento da extinção da PIDE; CEL=Corpo de Exército de Libertação

 Nota final: todos documentos, pessoas citadas, etc. beneficiam no livro de notas de rodapé que citam as fontes e dados que certificam a sua credibilidade. Infelizmente, este tipo de publicação, não aceita essas notas.— com José Luiz Ramos e
9 outras pessoas.   

(Revisão / fixação de texto: LG)

_________________

Notas do editor LG:

(*) Postes anteriores da série:


(**) Vd. poste de 14 de junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2939: No 25 de Abril eu estava em... (3): Guidage (João Dias da Silva, ex-alf mil op esp, CCAÇ 4150, 1973/74)

terça-feira, 29 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26739: No 25 de Abril eu estava em... (38): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte III




Carlos Filipe Gonçalves: (i) nasceu  em 1950, no Mindelo, ilha de São Vicente; (ii)  foi fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74; (iii) radialista, jornalista, historiógtrafo da música  da sua terra,  e escritor, vive na Praia, Cabo Verde; (iv) é membro da nossa Tabanca Grande desde 14 de maio de 2019, sentando-se à sombra do  nosso poilão, no lugar  nº 790; (v) tem 16 referências no nosso blogue; (vi) figura conhecida do meio musical, jornalístico e da rádio (ver aqui a sua entrada na Wikipédia), é  também amigo do nosso camarada Manuel Amante da Rosa, e seu contemporâneo no QG/CTIG).

A sua apresentação no Facebook:

(i) Trabalhou como 
Directeur général na empresa Multimedia SARL - Radio Comercial;

(ii) Trabalhou como chefe de programação na empresa Radio Nacional de Cabo Verde;

(iii) Trabalhou como chefe de programação na empresa Radio Difusão Nacional da Guiné-Bissau;

(iv) Trabalhou como Encarregado Discoteca, Operador Som na empresa Radio Barlavento

(v) Andou na escola Liceu Gil Eanes (Mindelo);

(vi) Estudou Radio em INA - Institut National de L'Audiovisuel - Paris - France

(vii) Vive em Praia (Cabo Verde);

(viii) Natural de Mindelo;

(ix) Casado com Ana Gonçalves


1. Continuação do seu depoimento,sobre o 25 de Abril em Bissau (*), disponível na 
sua página do Facebook (Carlos Filipe Gonçalves, Kalu Nhô Roque)  e também na página do Facebook da Tabanca Grande.

 No 25 de Abril eu estava em... (38): Em  Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG - Parte III


por Carlos Filipe Gonçalves, 
ex-fur mil amanuense 
(natural do Mindelo, 
vive hoje na Praia, Cabo Verde)


Sou um humilde militar que esteve na Guiné entre 1973/1975. Um cabo-verdiano, jornalista que resolveu fazer uma reportagem do que por lá se passou, para a gente das Ilhas. Por isso, devem ter notado os leitores que eu apenas sou um repórter que descreve, ouve amigos, camaradas da vida militar e consulta documentos para certificar os depoimentos. Um trabalhão! Por isso transcrevo antes este extracto de uma Nota de Alerta ao leitor: 

Quando decidi escrever este livro deparei-me com o grande desafio: como contar as vivências em Bissau, 1973 a 1975? Escolhi fazer uma grande «reportagem» contada por um «militar» (que sou eu), através dele, o leitor vai conhecer os quarteis e a vida militar, a cidade de Bissau, como ali se vivia e descobrir uma sociedade «crioula» que por lá existiu! 

Sobretudo o leitor irá viver o ambiente e acontecimentos marcantes que ocorreram, no último ano de uma cidade cercada pela guerra. Segue então mais um texto, que espero tenha interesse:
 
No dia 27 de Abril de 1974 de manhã, há um levantamento popular no centro de Bissau! São enviadas tropas, há um helicóptero no ar a patrulhar, à noite foi decretado o recolher obrigatório! Mamadu Lamarana Bari Manuel, um civil residente em Bissau, recorda, “no dia 28 foi fundada provisoriamente a Comissão de Juventude para Unidade e Progresso (CJUP) (…). Tinha esse movimento o objectivo de acalmar a população, porque houve tentativas de saques na feira da praça e no comércio da cidade baixa”. 

Mamadu Lamarana Bari Manuel lembra ainda que depois aconteceu a libertação dos presos políticos, entre eles, o “ídolo da juventude e da música genuína guineense, José Carlos Schwarz e, posteriormente, os presos da colónia penal Djiu di Galinha”.

 No dia da libertação dos presos realizou-se em Bissau um grande comício, cujas intervenções ouvi na rádio. O tenente-coronel Jorge Sales Golias, na intervenção referida anteriormente, recorda que os “primeiros dias de Maio de 1974 em Bissau, após o nosso golpe e depois de dois confrontos com a JSN (Junta de Salvação Nacional), tivemos a primeira resposta de Spínola ao nomear o tenente-coronel Carlos Fabião, Encarregado do Governo e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné.”

Depois dos festejos do 1.º de Maio, cujos ecos de Lisboa chegaram a Bissau, tem início a pressão da tropa, para o fim da guerra e início imediato de negociações com o PAIGC. Na cabeça dos militares na Guiné, reinava a ideia de um regresso imediato a casa! Para muitos, a «peluda» devia acontecer já no dia seguinte. (Nota: na linguagem militar, «peluda» designa o depois da saída da tropa quando se pode deixar crescer o cabelo.)

Nesse ambiente de euforia nos quartéis, formam-se comités do MFA, há reuniões e mais reuniões, discute-se, comenta-se… surgem, então, alguns desafios à disciplina militar, no que poderei classificar como «peluda» antecipada, na qual, sem pedido de autorização, a malta deixa crescer o cabelo, bigodes e a barba! 

Eu, para além do cabelo à «black power», deixei crescer bigode e mais tarde a barba! É neste ambiente de liberdade e euforia, que se exige e se apoia o início imediato de conversações com PAIGC.

Note-se, no mato, a guerra continua apesar da mudança em curso a nível «político». Em 4 de Maio de 1974 ainda houve ataques do PAIGC como recorda, um ex-militar que estava em Guidage:

 “(…) Um grupo de guerrilheiros do PAIGC, em deslocação (do interior da Guiné pelo corredor de Sambuaiá), para a sua base do Kumbamori (Senegal), provavelmente desconhecedores dos últimos acontecimentos políticos, aliviou-se do peso das granadas, até porque já estavam perto da fronteira, descarregando-as sobre nós.” 

Mas, encontros entre a tropa e os guerrilheiros do PAIGC, acabam por ocorrer espontaneamente e naturalmente, tal é a vontade de todos, quanto ao fim da guerra! O tenente-coronel Jorge Sales Golias referido anteriormente, recordou: 

“Entretanto, davam-se os primeiros encontros entre as nossas tropas e guerrilheiros do PAIGC. (…). Em Bissau constitui-se o «Movimento Alargado de Praças, Oficiais e Sargentos», também conhecido por Movimento para a Paz.” 

Nós todos (sobretudo os militares mais jovens como eu) aderimos. Muitos dos mais «velhos» estão desconfiados, não participam… É no âmbito deste movimento, que se realizam várias reuniõesa que assisti e nas quais se aprovam várias moções! A tropa vai fazer pressão para o «fim da guerra», regresso imediato à metrópole e claro negociações imediatas com o PAIGC.

Foi neste ambiente de euforia e expectativa, que se realiza a 16 de Maio em Dakar a primeira reunião entre delegações, portuguesa e do PAIGC, “assinou-se o cessar-fogo 'de jure', uma vez que já existia de facto” (cf. o tenente-coronel Jorge Sales Golias citado anteriormente).

Pouco depois, realizam-se negociações entre uma delegação portuguesa e outra do PAIGC em Londres. Escutávamos o relato do que se passava, na capital britânica através das notícias enviadas em directo via telefone pelo enviado especial do ERG – Emissor Regional da Guiné. Mal soava a percussão da música “We Want To Know” do famoso conjunto nigeriano “Osibisa” – o indicativo do noticiário – toda a malta corria para a esplanada da messe. Marcavam, nas notícias, as posições e exigências sobre Cabo Verde, feitas pelo chefe da delegação do PAIGC, que a imprensa portuguesa apelidou de Major Pedro Pires! 

O noticiário difundido às 13 horas nos alto-falantes da messe, contava com um auditório cada vez mais numeroso… No final da ligação, o repórter sempre dizia: “Em directo de Londres para o ERG – Emissor Regional da Guiné, o enviado especial, Bubacar Djaló!” 

Muitas pessoas andam agora, sempre com um rádio na mão, para estarem ao corrente dos últimos acontecimentos através da BBC e outras emissoras internacionais!— com Joao Augusto Santos Nascimento e 12 outras pessoas.

(Revisão / fixação de texto: LG)
______________

Nota do editor LG:

Postes anteriores da série:


28 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26738: No 25 de Abril eu estava em... (37): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte II

segunda-feira, 28 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26738: No 25 de Abril eu estava em... (37): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte II



Carlos Filipe Gonçalves: (i) nascido em 1950, no Mindelo, ilha de São Vicente; (ii)  foi fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74; (iii) radialista, jornalista, historiógtrafo da música  da sua terra,  e escritor, vive na Praia, Cabo Verde; (iv) membro da nossa Tabanca Grande desde 14 de maio de 2019, senta-se à sombra do  nosso poilão, no lugar  nº 790; (v) tem 15 referências no nosso blogue; (vi) figura conhecida do meio musical, jornalístico e da rádio (ver aqui a sua entrada na Wikipédia), é  também amigo do nosso camarada Manuel Amante da Rosa, e seu contemporâneo no QG/CTIG).

1. Continuação do seu depoimento,sobre o 25 de Abril em Bissau (*), disponível na sua página do Facebook (Carlos Filipe Gonçalves, Kalu Nhô Roque)  e também na página do Facebook da Tabanca Grande.


 No 25 de Abril eu estava em... (37): Em  Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG - Parte II

por Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense 
(natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde)


51 anos se passaram, o dia 26 de Abril de 1974 em Bissau, também foi repleto de recordações e acontecimentos. Para aqueles, que nunca lá estiveram e para os nossos filhos e netos, eis, como passámos o dia 26 de Abril de 1974 na Guiné. 

O «Day After» 25 de Abril de 1974. Em Bissau vivemos um novo dia! Manuel Amante Rosa (meu companheiro desde os tempos do liceu em S. Vicente) recorda assim esse «day after»: 

“Ao render da guarda (de manhã logo cedo) do dia 26 de Abril de 1974 sou solicitado a continuar de Sargento de Dia (algo inusitado!). Até hoje desconheço a razão!",,, Note-se: As unidades militares dispersas pelo território Guiné estavam de prevenção porque receberam uma mensagem «relâmpago» emitida do Comando-Chefe em Bissau, na véspera, às 22h45 do dia 25 de Abril com a informação de que agências noticiosas estavam a noticiar o derrube do governo de Lisboa. A mesma mensagem ordenava os comandos das unidades a estarem vigilantes a um eventual aproveitamento do PAIGC e garantirem pronta capacidade de reacção e um alerta para se respeitarem ordens apenas depois de devidamente autenticadas.

Nas suas recordações do dia 26 de Abril em Bissau Manuel Rosa exclama:

 “E tudo desaba nesse dia e nos seguintes. A estupefacção é geral. Nem a indicação do General Spínola (para presidente da Junta de Salvação Nacional) acalenta os ânimos! Os maus oficiais e graduados ficam recolhidos, discretos… ou a saudarem tudo e todos.

 "Acontece a meio da manhã (de 26 de Abril) a detenção do Governador e Comandante-Chefe na reunião com os líderes do MFA. É de seguida encaminhado, sob escolta, para o Aeroporto de Bissalanca, Base Aérea, de onde seguiu para a ilha do Sal. Foi tudo por nós observado! As interrogações vão assolando abertamente as paradas das unidades. O contingente africano ficou algo desprendido destas confabulações. (…).

Na verdade, o que aconteceu em Bissau naquele «day after» foi um «outro golpe», conforme  recorda o tenente-coronel Jorge Sales Golias numa intervenção anos mais tarde, numa mesa-redonda em 2005:

 “Em 26 de Abril de 1974 o MFA na Guiné-Bissau, que estava preparado para efectuar um golpe em Bissau caso falhasse o golpe em Lisboa, resolveu mesmo assim tomar o poder, sobretudo para condicionar o processo de descolonização.” 

Justifica e descreve aquele oficial:

 “Era fundamental, logo de início, contrariar a estratégia do General Spínola de efectuar uma consulta popular na Guiné com vista à sua integração numa comunidade lusíada. (…). Assim, no dia 26 de Abril, onze oficiais dirigiram-se ao Gabinete do General Comandante e exigiram a sua demissão e o regresso a Lisboa. (…) As primeiras medidas tomadas foram a detenção dos agentes da PIDE e a libertação dos prisioneiros políticos. Estas medidas estavam a ser exigidas nas primeiras manifestações de populares em Bissau à semelhança do que se passava em Lisboa.” (…) 

Anos mais tarde no blog Tabanca Grande de Luis Graça,  fonte de informação que temos vindo a citar, surgem explicações mais claras sobre os acontecimentos na Guiné e em Bissau naquele dia 25 de Abril de 1974 e seguintes. (…) Passo a transcrever agora o comentário, do tenente-coronel Jorge Sales Golias no referido blog: 

“O MFA resolveu actuar em face de uma escuta telefónica em que o senhor General Bettencourt Rodrigues (o Governador e Comandante-Chefe) deu ordem à PIDE para seguir os movimentos dos capitães do MFA em Bissau e pelo facto de não ter reconhecido a JSN [Junta de Salvação Nacional], tal como já havia feito o Comodoro Almeida Brandão, comandante marítimo. 

"A entrada no gabinete do General comandante foi feita por oficiais desarmados que apenas lhe comunicaram que vinham depô-lo porque ele não reconheceu a JSN. Ele perguntou se se devia considerar preso e foi-lhe dito que não, que se considerasse detido em nome do MFA, e que preparasse a bagagem para embarcar para Portugal. (…) Em suma, que fique claro que o senhor General Bettencourt e os oficiais que com ele se solidarizaram foram tratados com toda a deferência que lhes assistia e com a máxima cordialidade da nossa parte.” 

Dentro dos quartéis há outros acontecimentos, que o tenente-coronel Jorge Sales Golias recorda: 

“À semelhança do que se passava em Portugal, também na Guiné tivemos problemas de autoridade e disciplina. Nas Unidades havia comandos que não aderiram ao MFA.”

No quartel em Santa Luzia, recorda Manuel Amante Rosa, o dia 26 de Abril (...) "amanheceu em polvorosa, ninguém queria aparecer na formatura para a distribuição das tarefas do dia. Em suma, uma confusão!! E os irreverentes e valentes praças da companhia de transportes a redobrarem as confusões habituais. Eram responsáveis pelos abastecimentos de víveres e abastecimentos aos quartéis do mato.” 

Mas, a grande verdade é que partir deste dia 26 de Abril de 1974, reinam em Bissau a alegria e expectativa. Na messe e nos alojamentos, os militares que participaram nas operações, contam as peripécias que ocorreram com as detenções dos agentes da PIDE, trazem livros e documentação que estava nas instalações da PIDE em Bissau, lá onde íamos fazer o tal serviço de guarda nas traseiras. 

A malta ria-se dos posters apreendidos só porque traziam aquelas baboseiras dos “anos 60” como “Make Love, Not War” ou então imagens de diversas posições de sexo assinaladas pela planta dos pés de um casal, etc. 

"Os elementos da PIDE foram concentrados “no Campo de Instrução Militar do Cumeré, até ao seu embarque para Lisboa, contrariando a sua petição de irem para Angola.” (….)

Nestas recordações do final do regime colonial, Manuel Amante da Rosa conta que o “mais surreal foi ser incumbido pelo QG para guardar de noite, com uma secção de tropa africana, as traseiras da cadeia da PIDE no Cupelon!! E às tantas estar cercado por um pelotão de paraquedistas… por pouco não acontecia o pior. Valeu a conduta previdente do alferes paraquedista, ou o barulho que a minha patrulha fazia para se instalar e dormir.”

 Este foi, talvez, o último serviço de guarda naquele local sinistro, do qual ninguém gostava. Os acontecimentos em Bissau aceleram, então, a um ritmo impressionante! 

Extracto das minhas recordações da Guiné, 1973 – 1975, talvez um dia serão publicadas em livro.— com José Luiz Ramos e 10 outras pessoas.

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Nota do editor: