(i) nasceu em 1950, no Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde;
(ii) estudou no Liceu Gil Eanes (juntamente com o nosso camarada Manuel Amante da Rosa, seu amigo e contemporâneo no CTIG [ex-fur mil, QG/CTIG, Bissau,1973/74, embaixador plenipotenciário da República de Cabo Verde em Itália entre 2013 e 2018; membro da nossa Tabanca Grande; o pai, antes de se tornar empresário de transportes fluviais, tinha sido, até ao início da guerra, comerciante em Belim, Fulacunda];
(iii) foi fur mil amanuense, Chefia de Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74;
(iv) trabalhou, depois da independência, como chefe de programação na empresa Rádio Difusão Nacional da Guiné-Bissau;
(v) deixou a Guiné-Bissau em 1975, tendo regressado à sua terra natal: aqui trabalhou como chefe de programação na empresa Rádio Nacional de Cabo Verde; e depois como diretor geral na empresa Multimedia SARL - Radio Comercial;
(vi) radialista, jornalista, historiógrafo da música da sua terra, e escritor, vive na Praia, Cabo Verde (ver aqui a sua entrada na Wikipédia);
(vii) é membro da nossa Tabanca Grande desde 14 de maio de 2019, sentando-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 790;
(viii) tem 17 referências no nosso blogue.
1. Continuação do seu depoimento sobre o 25 de Abril em Bissau (*), disponível na sua página do Facebook (Carlos Filipe Gonçalves, Kalu Nhô Roque) e também na página do Facebook da Tabanca Grande.
No 25 de Abril eu estava em... (39): Em Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG - Parte IV (*)
por Carlos Filipe Gonçalves,
ex-fur mil amanuense
(natural do Mindelo,
vive hoje na Praia, Cabo Verde)
Neste ponto, publico antes de mais os meus agradecimentos: aos entrevistados para este livro (que talvez uma dia seja publicado). Deram uma contribuição inestimável para se conhecer uma época, são eles militares de ambos os lados que deixaram o seu testemunho, especialmente os militares portugueses que no blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (www.blogueforanadaevaotres.blogspot.com) e nas páginas do “Facebook” (Guiné-Recordações e Fotografias da Guerra no Ultramar, entre outras) dão uma visão. na primeira pessoa, daquilo que viveram na Guiné.
Agradecimento especial ao Luís Graça, coordenador do blogue, que concedeu autorização para citação daqueles testemunhos e utilização de fotos. A seguir, mais um texto que recorda os dias e acontecimentos que se seguiram ao 25 de Abril de 1974. Os encontros da tropa portuguesa com os guerrilheiros caíram no esquecimento, por isso aqui vão alguns pormenores, para os nossos filhos e netos.
A partir do final do mês de Maio de 1974 aumentam os encontros entre a tropa portuguesa e os guerrilheiros do PAIGC.
O militar português referido anteriormente (em Guidaje, João Dias da Silva, CCAÇ 4150, 1973/74) recorda (**), que no seu aquartelamento, em Guidaje houve uma tomada de posição da guarnição através de um comunicado, entregue ao seu comandante no dia 26 de Maio no qual se dizia:
“Decidimos (nós, soldados portugueses) desde então abandonar as armas e ir participar na mobilização das massas populares da nossa terra (Portugal). (…) Queremos a Paz e para que haja tal é preciso uma independência da nossa terra (Portugal). E, se tal é a vontade do nosso povo, nós não temos nenhuma razão de lutar contra quem a defende (a independência Guiné)”.
O referido militar assinala então que no dia 28 de Maio de 1974 houve festa em Guidaje e descreve:
“Desde 1968 que não havia batuque devido à guerrilha, pois quando se fazia batuque havia, geralmente, um ataque”.
Comandante Duke Djassy nome de guerra de Leopoldo António Luís Alfama (guineense, de origem cabo-verdiana, nascido em 1945; foi comissário político depois da independência, foi governador da região do Cacheu até 1980)
Leopoldo Alfama, em 2014, aos 69 anos
Fonte: Cortesia de Barros Brito
“Frente S. Domingos – Sambuaiá Combang'hor, 31 Maio 1974 (…)
Tendo escutado, hoje, atentamente o vosso interlocutor, tomei conhecimento, e em nome do Comando Militar da nossa região, decidi rabiscar, no interesse de ambas as partes, as possibilidades que facilitarão o nosso eventual encontro. A vossa iniciativa desfruta grande admiração por nossa parte, que é a única razão de nos estarmos batendo, foi sempre e sempre será pela conquista da nossa dignidade e liberdade. (…)
Sr. Comandante! Nós que não fazemos a guerra pela guerra, nós que nunca confundimos nem confundiremos, povo com regime dum governo. (….). etc.”
No final da carta a anteceder a assinatura pode-se ler:
“Viva Portugal Livre! Viva o PAIGC! Que a Vitória Final Será dos Povos!
Obrigado, prévio do camarada franco
a) Duke Djassi Comissário Político Militar”.
Assina Duke Djassi
Nota final - Este Duke Djassy é a minha alcunha, porque o meu nome é Leopoldo António Luís Alfama”.
Depois desta troca de cartas, acontecem gestos de boa vontade da parte do PAIGC, que o referido militar português assinala:
“Veio hoje (2 de Junho de 1974) a Guidaje um carro civil de Carlos Vieira (irmão do 'Nino' Vieira, que se encontra estabelecido em Binta) com negócios diversos, vender/trazer mantimentos à população, o que não acontecia desde o início da guerra.”
Finalmente, conforme recorda o ex-militar citado, foi marcado um encontro a ser realizado no dia 5 de Junho de 1974 à tarde “na tabanca senegalesa de Mariá” em que participaram pela parte portuguesa;
“Cap António Eduardo Gouveia Carvalho – Cmdt CCaç 19 ; Alf Vítor Manuel Pereira Abreu – Cmdt 3.º Gr Comb da CCaç 4150; Alf Luís Socorro Almeida – Cmdt 4.º Gr Comb da CCaç 19; Fur Lopes Pereira – Agente PIM em Guidage; Patrão Sonco; Ancheu (FG 12)”.
Da parte do PAIGC participaram:
“Mensageiro, habitante de Mariá com os elementos do PAIGC: Duke Djassy (Leopoldo António Luís Alfama, cabo-verdiano) – Comissário Político da Região S. Domingos – Sambuaiá; Manuel dos Santos (Manecas, cabo-verdiano), Comissário Político da Zona Norte; Braima Djaló (Natural de Bolama) – Cap do Exército e membro do CEL 2º Cmdt Bigrupo.”
Nota – Significado das siglas: Cap = Capitão; Cmdt = Comandante; CCaç = Companhia de Caçadores; Gr Comb = Grupo de Combate; Alf = Alferes; Fur = Furriel; Agente PIM = Agente Polícia Informação Militar criada no seguimento da extinção da PIDE; CEL=Corpo de Exército de Libertação
Nota final: todos documentos, pessoas citadas, etc. beneficiam no livro de notas de rodapé que citam as fontes e dados que certificam a sua credibilidade. Infelizmente, este tipo de publicação, não aceita essas notas.— com José Luiz Ramos e
9 outras pessoas.
9 outras pessoas.
(Revisão / fixação de texto: LG)
_________________
Notas do editor LG:
(*) Postes anteriores da série:
27 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26736: No 25 de Abril eu estava em... (36): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, vive hoje no Mindelo) - Parte I
28 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26738: No 25 de Abril eu estava em... (37): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte II
29 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26739: No 25 de Abril eu estava em... (38): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte III
28 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26738: No 25 de Abril eu estava em... (37): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte II
29 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26739: No 25 de Abril eu estava em... (38): Bissau, em comissão de serviço na Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG (Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, natural do Mindelo, vive hoje na Praia, Cabo Verde) - Parte III
5 comentários:
Agente PIM = Agente Polícia Informação Militar criada no seguimento da extinção da PIDE;
No ultramar, os funcionários ficaram intocáveis durante vários meses pós 25 de Abril.
No caso de Luanda, passado meio ano, (pelo menos), quem precisasse do passaporte para emigrar, ainda levava o visto da PIM, com os mesmíssimos funcionários da PIDE.
Só tinha mudado o nome.
"“Decidimos (nós, soldados portugueses) desde então abandonar as armas e ir participar na mobilização das massas populares da nossa terra (Portugal). "
E assim começou a "Bandalheira": País na bancarrota; Milhares de refugiados (retornados é falácia) com a vida desfeita; Angola, Moçambique e Guiné com guerras fratricidas e 50 anos depois minados pela corrupção com IDH nas posições 150,183 e 179 no conjunto de 192 países. Cá no burgo, as "massas" mandaram passear os "mobilizadores descabelados" de então e, em 25Nov75, o carnaval acabou.
O comentário sobre os mobilizadores de massas é meu...
Todos esses " refugiados" " retornados "não teriam existido se em vez de terem aguardado o início das hostilidades que sabiam vir a acontecer, tivessem tido a inteligência de com os movimentos de libertação arranjarem soluções para o futuro dos naturais e dos residentes.
Tinham o exemplo doutros países mas optaram pela idiotice . Contribuíram para o desencadear da violência.
Abraço
Eduardo Estrela
O carnaval acabou sim mas em 25 de Abril de 1974, quando desapareceram pela força das massas as figuras arcaicas e bafientas que desgovernaram o país durante décadas e o lançaram na miséria.
Eduardo Estrela
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