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sábado, 3 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26759: Os nossos seres, saberes e lazeres (679): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (203): Algures, na Renânia-Palatinado, em Idstein, perto de Frankfurt – 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Fevereiro de 2025:

Queridos amigos,
Deixo-vos aqui o relato um tanto informe da minha primeira vagabundagem por Frankfurt, nada de entradas em património religioso ou artístico, é o gozo de contemplar o pulsar o centro histórico desta praça financeira e capital do euro, contemplar o que se reconstruiu depois dos bombardeamentos devastadores da Segunda Guerra Mundial, num bombardeamento em março de 1944 ficou em cinzas o que era então o centro medieval mais completo da Europa. Gera uma certa confusão como em cerca de mais de um quilómetro de avenida pedonal haver um volume de vendas incomparável, nenhuma outra cidade alemã lhe pode competir. Há quem lhe chame a 5ª Avenida, pois vamos avançando e temos cerca de arranha-céus a desafiar a imaginação. Andei a caminhar pelas pontes para apanhar as diferentes panorâmicas e deslumbrar-me como se procura respeitar uma certa memória desta grande cidade a partir do que ficou de pé de tão devastadores bombardeamentos. E peço desculpa a quem não gosta de ópera, tive a dita de me convidarem para ir à tarde à cidade de Wiesbaden ver no teatro-ópera A Flauta Mágica, é sempre um espetáculo inesquecível, belas vozes, boa orquestração e condução, encenação certa para coreografia a respeitar a magia e o fantástico sonhados por Mozart.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (203):
Algures, na Renânia-Palatinado, em Idstein, perto de Frankfurt – 2


Mário Beja Santos

Estou a viver em Idstein, há que tomar um comboio e viajar até à estação central de Frankfurt, cerca de 45 minutos, veem-se belos prados, regatos, as povoações do subúrbio da grande metrópole. Antes de se chegar à estação central vê-se a alguma distância a Frankfurt Höchst, conhecida em todo o mundo pela química e pela indústria farmacêutica. Depois de algumas fusões, a Höchst deu origem à Sanofi, uma das empresas farmacêuticas mais poderosas. Quando acabou a Segunda Guerra Mundial, os Aliados decidiram partir o potentado IG Farben num conjunto de empresas, todas elas ganharam fama mundial, a Bayer, a AGFA e a Basf, o mais curioso de tudo, para quem vai de comboio, é que se fica com a visão de que Franlfurt Höchst é dominantemente uma cidade industrial quando na verdade tem um património habitacional de grande beleza, se o leitor duvida procure as imagens aprazíveis que o Google lhe oferece.
Estamos agora no Zeil, trata-se de uma avenida pedonal, com cerca de 1,2 km, é o coração de Frankfurt. Tem a particularidade do seu fabuloso volume de vendas, está no topo do comércio a retalho da Alemanha. Foi completamente reconstruída, sobretudo o bombardeamento de 22 de março de 1944 deixou-a num escombro. É conhecida como a 5ª Avenida, aqui há de tudo como na botica, do luxo ao mais económico, das casas de marca às ourivesarias e a profusão de sapatarias. É impressionante este percurso que nos leva até um conjunto de torres de arquitetura usada.
Atenda-se ao que vem numa brochura explicativa: “A parte ocidental da rua Zeil é uma zona pedonal entre duas grandes praças, Hauptwache oeste e Konstablerwache leste. Estes dois lugares servem como ligações para os transportes públicos (autocarro, metro, comboio e tram). A rua passou por grandes reformas entre 2008 e 2009 e a zona pedonal foi estendida para o oeste até Börsenstraße implicando grandes mudanças para o tráfico, uma vez que a rota através de Hauptwache é uma seção importante que liga o norte e o sul da cidade.”
Duas imagens que falam do diálogo entre o Meno e a cidade, na segunda imagem ao fundo vemos o edifício do Banco Central Europeu, uma igreja antiga do lado direito e os bacos turísticos na margem esquerda. Na primeira imagem vê-se uma das várias pontes que atravessam o Meno, espero amanhã de manhã passar por ela para chegar à zona dos museus. Nada de correrias, há para ali uma série de museus apetitosos, o meu alvo é um museu de Belas Artes que dá pelo nome de Städel, do movimento impressionista à atualidade o seu acervo é fabuloso.
Esta fotografia não é minha, pareceu-me útil aqui a postar, dá a dimensão deste pano de fundo da moderna Frankfurt, a capital do euro
A razão de ser desta imagem é de mostrar como tendo sido Frankfurt praticamente arrasada os alemães aproveitam todas as ruínas ou reconstroem, nota-se um certo cuidado em não provocar um choque de estilos.
Os meus anfitriões tinham-me avisado na véspera que iríamos nessa noite à ópera na cidade de Wiesbaden, ver A Flauta Mágica, de Mozart. Aproveitei o regresso da viagem de Frankfurt para Idstein para reler o intricado enredo desta fabulosa ópera. Retenho alguns dados essenciais, espero que o leitor aprecie a música de Mozart, A Flauta Mágica é um caso sério do seu génio:

“Composta, não para uma casa de ópera, mas para o popular teatro suburbano de vaudeville, A Flauta Mágica é uma das últimas obras de Mozart, escrita numa altura em que o compositor se encontrava desesperado por dinheiro. O mundo da Flauta é construído de certo modo segundo o conceito Maçónico do universo: o sol e a lua governam – aqui Sarastro e Tamino são associados ao sol, e ouro, a Rainha da Noite e Pamina à noite, à prata – como na lua, o elemento feminino da água. No início da história, Papageno está ao serviço da Rainha, e Monastatos ao serviço de Sarastro. Tudo isto muda no fim, devolvendo o ar – que seria Papageno como um passarinheiro – ao seu governador, o sol, e devolvendo a terra – a gruta onde Monastatos vive – ao seu governador, a feminina noite.

Para além destes aspetos chegou a ser sugerido que a Rainha da Noite representava a Imperatriz Maria Teresa, e Tamino o seu filho José II, um adepto do iluminismo. Mas o enredo continua a ser uma teia esplendidamente intrincada, que dificulta todas as tentativas de o interpretar como uma alegoria coerente. Uma das teorias defende que, por alguma razão, as naturezas morais de Sarastro e da Rainha da Noite foram invertidas durante a fase de elaboração do libreto.

Mozart adorava esta ópera que lhe tinha custado grandes esforços.

Porque é também uma obra infantil, apesar do "alto significado" que lhe reconhece Goethe. "Como se a infância aumentasse no fim, a flauta mágica é a mais infantil das suas obras", escreveu P.J. Jouve. De facto, o público infantil reagiu muito favoravelmente ao maravilhoso filme de Bergman. Mas é impossível pegar no libreto pelo seu sentido literal, tal como a ação de qualquer outra ópera: é uma liturgia, como Parsifal, nem mais nem menos absurda para o profano do que outras liturgias, também todas elas carregadas de símbolos… Se a Flauta é o relato de uma iniciação, é também uma obra cujo desenlace é o triunfo do amor sobre os obstáculos que lhe são postos.”

Este teatro-ópera de Wiesbaden é luxuoso, aproveitei a entrada e o intervalo para captar umas imagens do seu interior. Como é estritamente proibido fotografar durante a récita, fui ao site do teatro retirar imagens deste esplendoroso espetáculo.

Antes de regressarmos a Idstein ainda fomos espreitar a casa da cultura de Wiesbaden, toda em estilo neoclássico agora transformada em casa de eventos e com um casino. Que o leitor se prepare, se amanhã estiver em forma haverá uma tripa-forra de imagens do grandioso museu que é o Städel.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 26 de Abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26733: Os nossos seres, saberes e lazeres (678): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (202): Algures, na Renânia-Palatinado, em Idstein, perto de Frankfurt – 1 (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Anónimo disse...

´'Frankfurt on Main´'. Main, é o rio que atravessa Frankfurt. Acho que foi assim que a conheci em 1990 numa viagem de trabalho à feira da Hemtextil! não sei se é assim que se escreve.
Uma cidade fantástica, mas hoje irreconhecível, para muito melhor, conheço bem, como todos que lá passam, esta avenida que era antes uma grande praça comprida, e nos primeiros dias de janeiro, era um frio de rachar, mas lembro bem que havia aquecimento nas ruas, nunca tinha visto isso.
O maior aeroporto do mundo, fomos de taxi para a cidade, recordo que tudo era grande, os carros todos Mercedes e outras marcas, mas tudo à grande.
Fomos jantar a uma Churrascaria, ou restaurante, o celebre Joelho de Porco assado no forno, com muita caneca de cerveja. Divinal.
Saindo agora um pouco da rotina, fomos um grupo de portugueses, quase todos da zona de Guimarães, incluindo o antigo presidente do Moreirense, e visitamos apenas, uma casa de andares, enorme, carregada de meninas de portas abertas.
Outra surpresa, que nunca esqueci.
Quando regressamos a Portugal, parecia tudo muito pequenino, em especial os carros...
Lamento não poder visitar nenhum monumento destes.
Opções!
Virgilio Teixeira