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terça-feira, 29 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26742: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (9): Giselda Pessoa: foi o CTIG (1972/74) que a marcou para o resto da vida


Lisboa > Belém > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 10 de junho de 2019 > A única camarada que encontrei, a Giselda Pessoa, enfermeira paraquedista, sempre jovial e sempre uma grande senhora, afável, sociável, camarada do seu camarada... Já mais para o fim encontrei o Miguel Pessoa... É um casal amoroso e separável  quer nos convívios da Tabanca do Centro quer nos Encontros Nacionais da Tabanca Grande (infelizmente interrompidos com a pandemia, a partir de 2020).


Foto(e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A Giselda (Antunes, de solteira, Pessoa, de casada com o nosso Miguel) faz hoje anos: 78 (minguém lhos dá, é uma transmontana de rija têmpera) (*)... Foi, além disso, a primeira das antigas enfermeiras paraquedistas a  dar a cara no nosso blogue: integra a Tabanca Grande desde 20/2/2009... Merece hoje, seguramente, mais "tempo de anterna" (**).

Sobre a Giselda Antunes Pessoa sabemos o seguinte (***):

(i) nasceu em 29 de abril de 1947, na terra do grande poeta Miguel Torga  (1907-1985), São Martinho de Anta, Sabrosa, distrito de Vila Real ( de Sabrosa também é o grande navegador Fernão de Magalhães,1480-1521);

(ii) fez o curso de enfermagem na Escola de Enfermagem do Hospital de S. João, no Porto, em 1966 (e por lá continuou em 1968, como enfermeira, tendo sido logo colocada no Serviço de Urgência do S.João, "onde se trabalhava muito mas também se aprendia mais, e depressa");

(iii) tinha uma irmã, Antonieta,  que já era enfermeira paraquedista, que leh dava notícias de Áfruca;: fez o 7º curso de enfermeira paraquedista, na Base de Tancos,  entre agosto e outubro de 1970;

(iv) esteve uns meses em Lisboa, sendo depois colocada no Direção do Serviço de Saúde em Lourenço Marques; fazia evacuações daqui e da Beira; considera este tempo como tendo sido de férias;

(v) "deve dizer-se que em Lourenço Marques ainda se sentia menos a guerra do que em Lisboa e que este período não foi representativo para a minha formação militar, desgostando-me mesmo certos comportamentos que pude observar localmente, quer em alguma da população branca, quer em alguns militares mais acomodados a uma vida fácil e pouco arriscada" (***);

(vi)  a Guiné, sim, é que  a marcou para o resto da vida:  "... chegou evacuar na Guiné um ferido do PAIGC que falava francês e evacuou o piloto Miguel Pessoa, abatido por um míssil Strela. Depois casou com ele";

(vii) como gostamos de aqui dizer, a "Giselda e o Miguel são o casal mais 'strelado' do mundo";

(viii) a Guiné era o território preferido de muitas enfermeiras: guerra a sério foi na Guiné, uma escola também de "grande solidariedade", como recorda a Giselda (***): 

"Foi (...)  com alguma expectativa que no início de 1972 me mudei, "com armas e bagagens", para a província da Guiné. Aí, finalmente, respirava-se um ambiente muito mais operacional, onde a solidariedade e a camaradagem eram bem visíveis e o trabalho puxado nos fazia sentir mais realizadas.

O contacto diário com as tripulações, as deslocações aos aquartelamentos perdidos no meio do mato, a sensação de se fazer algo de útil por quem precisava, deixaram-me até hoje recordações que dificilmente desaparecerão.

Ao longo dos anos têm surgido, aqui e ali, manifestações de carinho por parte de militares que socorri num momento extremamente delicado da sua vida e que se recordam ainda da enfermeira que os acompanhou e tentou minorar o seu sofrimento. São situações como essas, assim como o convívio que tenho tentado manter com pessoal que passou pelo mesmo no território da Guiné - pára-quedistas, pilotos e pessoal Especialista da Força Aérea, militares do Exército e da Marinha - que me fazem pensar que valeram bem a pena os anos que dediquei à Força Aérea como enfermeira paraquedista".

Fonte: Adapt. também de Enfermeiras Pára-Quedistas: Boina Verde e dedicação. In: José Freire Antunes: A Guerra de África, 1961-1974, Vol II. Lisboa: Círculo de Leitores. 1995. 663-684.




In: "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág. 431 (com a devida vénia).

______________

Notas do editor LG:


(*) Vd. poste de 29 de abril de 2025 > Guiné 61/74 - P26740: Parabéns a você (2370): Giselda Pessoa, ex-Sargento Grad Enfermeira Paraquedista da BA 12 (Bissau, 1972/74)

7 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Só tenho o telemóvel do Miguel...Costumo telefonar-lhe neste dia... Mas hoje não me atende... Mas ele deve estar de "faxina" ou de "baby-sitter"... De qualquer modo, aqui ficam, para a Giselda, para o Miguel, filhos e netos, os meus votos de um dia tranquilo e feliz, sem apagões (a ser não o da vela do bolo).

João Carlos Silva disse...

Parabéns Giselda! Muitas felicidades e muitos anos de vida.Um dia Feliz, hoje e sempre.
Um abraço,

Eduardo Estrela disse...

" a Guiné era o território preferido de muitas enfermeiras"
NÃO COMENTO!
Parabéns Giselda! Muitos e felizes anos junto do Miguel e daqueles que vos estão próximos, com muita saúde.
Abraço
Eduardo Estrela

Anónimo disse...

Muitos parabéns e muitos anos de vida a dois com felicidade e saude.
Pertence também à colheita de 1947, como a minha mulher.
Duplos parabéns.
Virgilio Teixeira
Nova Lamego, S. Domingos
1967-1969
BatCaç1933

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A Giselda, sem nunca de gabar disso, correu sérios riscos de vida no CTIG, no desempenho das suas missões.

AntºRosinha disse...

Para as colonias africanas portuguesas iam portugueses, ou condenados ou como colonos com famílias, muitos em 1974 já só retavam a 3ª e 4ª geração, todos sem pagar passagem, outros iam colonizar por conta própria pagando a sua passagem, era barata, se fosse para o Brasil era mais cara.

Mas havia uma coisa em comum: as vacinas.

Era a vacina contra a varíola, outra contra o tétano, outra contra a febre amarela, ficou faltando uma vacina, esta falha talvez gravíssima, vacina contra a imbecilidade.

E isto é grave devido ao perigo do contágio...lá e cá!



Anónimo disse...

Estou a escrever a história da minha vida em relação ao Hospital de São João, na Asprela, que o vi a nascer na construção até a sua inauguração em 1959.
Nos anos 60 a 62 por lá fizeram o seu curso duas mulheres. Uma a minha prima em segundo grau, de Amares Braga, que pernoitava em nossa casa pois era afilhada da minha mãe e familia, e outra de Chaves, muito gira, ambas amigas.
Por lá andei tantas vezes à noite, era tudo descampado, hoje é um Polo Universitário.
Essa amiga da minha prima, Céu, que não me lembro o nome, mas tenho uma foto dela que me dedicou, com todo o amor...
E ficou por aqui. Um dia vou digitalizar estas fotos todas e fazer uma pequena história.
A Giselda Pessoa com uma bonita história de amor, que se mantenha por muitos anos, não sei se foram companheiras ou não. Ainda vou ver as datas disto tudo, o mundo é pequeno, e aquele mundo era o meu, por ali se brincava, andava aos pardais de fisga, e outras patifarias da idade, vendo crescer aquele edifício monstruoso para a época.
Como cliente fui sempre muito assíduo, mais tarde, após casar e nascerem os meus 3 filhos, entre 1971-1974, que todos por lá passaram alguns problemas da idade e da inocência dos pais.
Conhecia o Hospital como as minhas mãos, era tempo de livre acesso, não havia seguranças nem estas coisas de agora, percorria os corredores e sabia e sei onde ficam os serviços todos, passei lá noites à espera de resultados dos filhos, ninguém me parava. Mesmo na altura da Cólera em 1974, onde era proibido entrar.
O meu segredo era entrar pelo meio, pela Faculdade de Medicina, com fato e gravata e pasta na mão, nunca me interpelaram, julgo que pensavam que era ou aluno ou professor, ou médico.
Felicidades, talvez voltaremos a falar disto, porque isto é parte da nossa história, como a guerra em que participei na Guiné.
Virgilio Teixeira
Bat Caç 1933 (67-69) , Nova Lamego e São Domingos