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sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20611: Historiografia da presença portuguesa em África (197): "Nha" Carlota (1889-1970) e Artur Lopes Nunes (1909-2007), dois portugueses de antanho



Guine-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) > Foto do estabelecimento de Nunes & Irmão Lda, hoje Coimbra Hotel & Spa.

"Um hotel no centro da cidade, junto a Catedral de Bissau. Oferece aos hóspedes um espaço com piscina, ginásio, spa e também sala de reuniões para os hóspedes em viagem de negócios. O restaurante do hotel tem um buffet variado e segundo os hóspedes, muito saboroso. O pequeno almoço é servido num bonito e bem tratado jardim. O hotel fica a poucos metros de locais que merecem a sua visita, como por exemplo, o do Porto de Bissau, a zona mais antiga da cidade, Bissau Bedjo e a Praça dos Mártires de Pindjiguiti."

Tem também uma livraria, a livraria Coimbra. O Hotel está instalado no antigo estabelecimento, um dos mais importantes ds época colonial, da firma Nunes & Irmão Lda, fundada por Artur Lopes Nunes (1909-2007). O negócio continua na família há 3 gerações.

Cortesia da página do Facebook de Hotel Coimbra




1. Há figuras, civis,  que atravessaram a história do séc. XX da Guiné-Bissau (*), e que merecem ser aqui recordadas, como é o  caso das "mulheres grandes" retratadas em livro pelo nosso amigo e camarada António Estácio, "Nha" Bijagó (1871-1959)  e "Nha" Carlota (1889-1970) (**) ... Ou "africanistas" como "Manel Djoquim", o homem do cinema ambulante (1901-1977), cuja história de vida é-nos contada pela sua filha mais nova, Lucinda Aranha. Mas também empresários como António da Silva Gouveia, que criou a Casa Gouveia, ou Artur Nunes, fundador, com o seu irmão Gentil, da firma "Nunes & Irmão Lda". (***)

A história que o Estácio conta do Artur Nunes e da "Nha" Carlota merece ser aqui recordada, como testemunho da forte personalidade desta mulher grande, que foi Carlota Lima Leite Pires (1889-1970) mas também dos valores (honradez, bom nome, reputação, integridade, palavra dada, lealdade, hospitalidade, morabeza, etc. ...) de uma época e que hoje parecem arredados do código de ética do mundo dos negócios.

"Apesar da sua avançada idade, Artur Lopes Nunes, que chegou à Guiné em 1927, referiu que 'Nha' Carlota era cliente  da firma 'Nunes & Irmão', a qual lhe fornecia, a crédito, entre outros produtos, aguardente, tabaco, tecidos, etc., que, por sua vez, ela revendia na loja que possuía no Cumeré e, mais tarde, em Nhacra." (pag. 81).

Entrevistado, em 2006 (, se não erro,)  por António Estácio, que reconheceu a sua "lucidez impressionante", declarou que ambos, ele e "Nha" Carlota, "sempre se deram bem mas isso não impediu que, a dado passo, tivesse ocorrido  uma situação mais delicada".

Ora o que é que aconteceu? "Certa vez, 'Nha' Carlota pretendia adquirir uns produtos sem que, como aliás era hábito, houvesse saldado o montante do fornecimento anterior."

O Artur Lopes Nunes aproveitou o ensejo para lhe lembrar essa dívida, e o respetivo valor. "Sem dar resposta, e naturalmente ofendida, 'Nha' Carlota continuou a ver a mercadoria e, pouco depois, retirou-se sem levar nada".

Passa-se um ou dois dias, até que a mulher grande voltou a Bissau, foi direita à loja do seu fornecedor, "trazendo um saco que entregou ao propietário, informando-o que era o pagamento da dívida." (pág. 82).

Artur Nunes (1909-2007).
Foto; cortesia
de António Estácio
Não sem surpresa, o Artur Nunes abriu o pesado saco e verificou que "estava cheio de moedas de um escudo e cinco tostões". Tanto quanto se lembrava a dívida rondava os dois mil escudos (ou "pesos"), ou seja, cerca de 2 contos, um valor razoável para a época.

(...) "Com sorriso, rematou dizendo:
- E eu pra ali fiquei a contar todo aquele montante em moedas! Como era de esperar, a quantia estava certa."

Moral da história: "Esta foi a melhor forma que 'Nha' Carlota encontrou para responder ao comerciante fornecedor onde tinha uma dívida por saldar e onde continuou sempre a gozar de crédito" (pág. 83).

Artur Lopes Nunes (1909-2007) era natural de Cadafaz, Góis, concelho do distrito de Coimbra. Morreu na Parede, Cascais, com 98 anos feitos. Tinha ido  para a Guiné, em 1927, com 18 anos, na qualidade de empregado da firma João Marques de Carvalho & Companhia, com sede em Bolama. Viajou no N/M "Aboím", na companhia do patrão e da esposa deste, bem como do novo governador da Guiné, o major de infantaria António Leite de Magalhães, nomeado para substituir o tenente coronel Jorge Frederico Velez Caroço.

Fonte: António  Estácio . Nha Carlota, figura esquecida da História Guineense – Ed. do autor, 2010, 116 pp. 
___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 29 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20605: Historiografia da presença portuguesa em África (196): Relatório do Governador da Guiné, Contra-Almirante Francisco Teixeira da Silva, referente a 1887-1888 (Mário Beja Santos)


(**) Vd. poste de 20 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6434: Notas de leitura (109): Carlota Lima Leite Pires, 'Nha Carlota' (1889-1970), de António Estácio (Mário Beja Santos)


(***) Vd. poste de 30 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20608: Roteiro de Bissau: fotos de c. 2010, de um amigo do Virgílio Teixeira, empresário do ramo da hotelaria - Parte III

Vd, também poste de 3 DE MARÇO DE 2015

Guiné 63/74 - P14317: Historiografia da presença portuguesa em África (60): O caso da empresa Nunes & Irmão Lda., dos irmãos Gentil e Artur Nunes GENTIL E ARTUR NUNES. (Jorge Araújo)

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20608: Roteiro de Bissau: fotos de c. 2010, de um amigo do Virgílio Teixeira, empresário do ramo da hotelaria - Parte III














Guiné-Bissau > Bissau > Atual Coimbra Hotel & SPA, fundado em 2001, sito no edifício do antigo estabelecimento Nunes & Irmão Lda, na Av Amílcar Cabral (, antiga Av República). É o mais imponente edifíco comercial do centro histórico de Bissau, da época colonial.


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos, na posse do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).

Foram-lhe enviadas, há uns anos, sem legendas, por um português (ou descendente de portugueses), das suas relações, empresário do setor hoteleira, que ele de momento não está autorizado a identificar.

São fotos,  com interesse documental para aqueles, como nós, que conheceram Bissau, que continuam a lá ir ou querem ainda lá ir. Algumas das fotos que já publicamos, tinham o interesse adicional de serem "vistas aéreas" da atual capital da Guiné-Bissau... As fotos devem ter sido tiradas na última década (c. 2010) e algumas serão mais antigas. Mas são de alguém que ama muito a cidade de Bissau...onde vive, e que é a sua terra.

As que publicamos hoje tem por objeto o atual Hotel Coimbra, uma referência da cidade. Trata-se do antigo estabelecimento Nunes & Irmão Lda, sito junto na Av Amílcar Cabral (antiga Av da República), antes da Catedral, para quem desce. O edifício é propriedade da família há 3 gerações. (Vd. página do Facebook de Hotel Coimbra.). Pelo aspeto da avenida, enlameada, as fotos foram na época das chuvas.

É de recordar aqui, a propósito das fotos de Bissau de hoje e de outros lugares da Guiné-Bissau, o que escreveu a nossa amiga Adelaide Barata Carrêlo, quando lá voltou em novembro de 2015: 

 "Gostaria de te contar uma conversa que tive com um colega do meu filho de Bambadinca - ele diz que os poucos turistas que vão à Guiné, gostam de tirar fotos ao que há de mais desagradável, explorando a imagem do lixo, da pobreza, etc. Pelo respeito que tenho a esta gente, pelo amor que tenho a esta terra, pelo sonho de lá voltar, não esperem de mim tais imagens. Eu sou assim!!!!"...


2. O Virgílio Teixeira mandou-me este lote de fotos (c. de 4 dezenas, de que fiz uma seleção), com a seguinte mensagem, em 18/11/2019:

(...) Fico satisfeito por ter oportunidade de mandar estas fotos que são memoráveis para nós todos, embora já se passaram tantos anos e quase tudo esteja diferente. Fiquei de certo modo mais motivado a mexer nisto e enviar mais fotos, depois de ver o trabalho que tens tido a identificar cada coisa, por isso mereces o meu mais alto respeito, sem favores.

Na Rua Eduardo Mondlane, que aqui já identificaste, eu não me lembrava exactamente onde era, foi onde fiquei na 3ª viagem à Guiné, em Junho de1985 , que estou a reescrever calmamente, numa casa ou Ppensão de alguém conhecido do meu 'sócio' Isidro.

Quanto à continuação das fotos, como me dava trabalho descarregar e passar tudo para o computador, porque talvez não saiba fazer de uma forma mais fácil, resolvi então enviar os emails, que o meu contacto em Bissau me mandou, são uns 20 ou mais, e cada um traz 30 a 40 fotos, e selecciona as que interessam, e guarda as restantes, são também teu 'espólio'. (...)



Seleção, edição e legendagem da responsabilidade do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. A numeração é feita poste a poste...


14 de novembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20344: Roteiro de Bissau: fotos de c. 2010, de um amigo do Virgílio Teixeira, empresário do ramo da hotelaria - Parte I

domingo, 17 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20356: Roteiro de Bissau: fotos de c. 2010, de um amigo do Virgílio Teixeira, empresário do ramo da hotelaria - Parte II


Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº  31


Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº  23 

Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  26



Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  21


Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº   22


Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  30


 Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  27


Guiné-Bissau > Bissau > c.  2010 >  Foto nº  24


Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº 25


Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº   28


 Guiné-Bissau > Bissau > c. 2010 >  Foto nº 20


1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos, na posse do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69). 

Foram-lhe enviadas, sem legendas,  por um português, das suas relações,  empresário do setor hoteleira, que ele de momento não está autorizado a identificar. São fotos, muitas delas aéreas, com interesse documental para aqueles, como nós, que conheceram Bissau, que continuam a lá ir ou querem ainda lá ir.  As fotos devem ter sido tiradas no início da década de 2010, e algumas serão mais antigas. Mas são de alguém que ama muito a cidade de Bissau...onde vive. E onde a gente vive é a nossa terra!...

É de recordar aqui, a propósito das fotos de Bissau de hoje e de outros lugares da Guiné-Bissau, o que escreveu a nossa amiga Adelaide Barata Carrêlo, quando lá voltou em novembro de 2015: 

"Gostaria de te contar uma conversa que tive com um colega do meu filho de Bambadinca - ele diz que os poucos turistas que vão à Guiné, gostam de tirar fotos ao que há de mais desagradável, explorando a imagem do lixo, da pobreza, etc. Pelo respeito que tenho a esta gente, pelo amor que tenho a esta terra, pelo sonho de lá voltar, não esperem de mim tais imagens. Eu sou assim!!!!"...

Legendas (da responsabilidade do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Nº 20 - À esquerda, o edifício do Hospital Nacional Simão Mendes, na  Rua Eduardo Mondlane, que vai ter ao cemitério municipal.

Nº 21 - Bissau Velho, praça do Pindjiguiti, instalações portuárias,

Nº 22 - Em primeiro plano, o Hotel Coimbra, nas traseiras da Catedral... (Era o antigo edifício do estabelecimento Nunes & Irmão Lda).

Nº 23 - Baixa, com duas grandes artérias: a Av Amílcar Cabral (que desce até ao porto) e Rua Eduardo Mondlane (a antiga Rua Eng Sá Carneiro) que a interceta; em primeiro plano, reconhece-se a Catedral, com o recinto bem delimitado por um muro branco; e antes o edifício Coimbra Hotel e Spa (em forma de U).

Nº ´24, 25, 27 - O edifício dos Correios, Telégrafos e Telefones. O projeto de arquitetura do edifício, foi desenhado por Lucínio Cruz (Gabinete de Urbanização Colonial ) em 1950, tendo o mesmo arquiteto elaborado o projeto definitivo em 1955. Fica localizado na Av Amílcar Cabral, frente à Catedral.

Nº 26 - O cais do Pindjiguiti, o porto, as instalações portuárias, a marginal (Av 3 de Agosto), Bissau Velha, o Geba, o ilhéu de Rei... A Av Amílcar Cabral desemboca na Praça Pindjiguiti, onde se monumento com o busto do "pai da Pátria", Amílcar Cabral... Na altura em que a foto foi tirada, ainda não existiria o monumento Mon di Timba ou Sinku Dedus, no lado direito da praça do Pindjiguiti.

Nº 28 -  O  edifício do Hotel Coimbra, na Av Amílcar Cabral, 1082, à direits de quem sobe. O sítio Kalma Soul, guia turístico sobre a Guiné-Bissau, diz o seguinte ssobre este conceituado hotel de 3 estrelas:



Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) > Foto do estabelecimento de Nunes & Irmão Lda, hoje Hotel Coimbra. Cortesia da página do Facebook de Hotel Coimbra
"Um hotel no centro da cidade, junto a Catedral de Bissau. Oferece aos hóspedes um espaço com piscina, ginásio, spa e também sala de reuniões para os hóspedes em viagem de negócios. O restaurante do hotel tem um buffet variado e segundo os hóspedes, muito saboroso. O pequeno almoço é servido num bonito e bem tratado jardim. O hotel fica a poucos metros de locais que merecem a sua visita, como por exemplo, o do Porto de Bissau, a zona mais antiga da cidade, Bissau Bedjo e a Praça dos Mártires de Pindjiguiti."

Tem também uma livraria, a livraria Coimbra. O Hotel está instalado no antigo estabelecimento, um dos mais importantes ds época colonial, Nunes & Irmão Lda.  O negócio continua na família há 3 gerações.

Nº 30 - Troço da Av Amílcar Cabral

Nº 31 - Av Amílcar Cabral (antiga Av República), Baixa, Porto de Bissau, Amura (à esquerda), Catedral (Torres) (em primeiro plano)



Guiné-Bissau > Bissau >  3/11/2015 > Praça dos Mártires de Pindjiguiti (acabada de  inaugurar em  em 3/8/2015, depois de um a polémica requalificação)... O grupo escultórico também é conhecido por  Mom di Tima ou Sunku Dedus.  Os nomes de cerca de 6 dezenas de marinheiros e outros trabalhadores portuários, que foram mortos na sequência da repressão da greve de 3 de agosto de 1959, foram gravados no monumento, por iniciativa da CM de Bissau.

Foto: © Adelaide Barata Carrêlo (2016). Todos os direitos reservados.[ Edição e legendagen: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.




Cortesia de Vd. Milheiro, Ana Vaz, e Dias, Eduardo Costa - A Arquitectura em Bissau e os Gabinetes de Urbanização Colonial (1944-1974). usjt - arq urb , nº 2, 2009 (2º semestre), pp.80-114 [Disponível aqui em pdf ]  


terça-feira, 3 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14317: Historiografia da presença portuguesa em África (60): O caso da empresa Nunes & Irmão Lda., dos irmãos Gentil e Artur Nunes GENTIL E ARTUR NUNES. (Jorge Araújo)

1. O nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), enviou-nos a seguinte em 26 de Fevereiro: 

HISTORIOGRAFIA DA PRESENÇA PORTUGUESA NA GUINÉ
-O CASO DA EMPRESA NUNES & IRMÃO, LDA. - 
[GENTIL E ARTUR NUNES]

1– INTRODUÇÃO 

Venho acompanhando com alguma curiosidade a publicação dos diversos postes da autoria do camarada Mário Vasconcelos [1.º-P14164…],estruturados a partir do conteúdo da Revista “Turismo” n.º 2, de Jan-Fev/1956, onde estão anunciadas algumas das casas comerciais existentes, naquela época, na então província portuguesa da Guiné. 

Entretanto, a recente morte do nosso camarada guineense Amadu Bailo Jaló (1940-2015), nascido no mesmo dia que eu, mas uma década antes [10.Nov], levou-me a fazer nova consulta ao baú de memórias e imagens, recuando a 1973 – ano em que Amadu Jaló foi condecorado com a Medalha de Cruz de Guerra de 3.ª Classe. 

Ao recorrer a este elemento de certificação histórica, para recordar a sua CCmds Africanos em desfile militar, em Bissau, quisemos-lhe prestar uma singela homenagem [P14284], uma vez que a ele tinha assistido [desfile] dias antes do início do Julgamento Militar [7DEC1973] relacionado com o «Naufrágio no Rio Geba de 10AGO1972», sendo, por isso, pertinente que o considere no âmbito do programa das comemorações do 1.º de Dezembro desse ano. 

De uma dezena de fotos guardadas desse evento de 1973, reproduzimos metade relacionando-as com cada um dos parágrafos anteriores, e que no seu conjunto servem para legitimar o título desta narrativa.


2– AS FOTOS SELECCIONADAS 


Foto 1 – Bissau> DEZ1973 – A Companhia de Comandos Africanos no desfile militar realizado no âmbito das comemorações do 1.º de Dezembro de 1973, que contou com a presença de efectivos dos três ramos das Forças Armadas em missão ultramarina no CTIG.


Foto 2 – Bissau> DEZ1973 – Elementos da 38.ª Companhia de Comandos [1972/74] no mesmo desfile militar na Avenida da República [hoje Av. Amílcar Cabral] em 1DEC1973.


Foto 3 – Bissau> DEZ1973 – Rectaguarda do desfile militar na Avenida da República [hoje Av. Amílcar Cabral] realizado no âmbito das comemorações do 1.º de Dezembro de 1973. 


Foto 4 – Bissau> DEZ1973 – Peças de Obus integradas no desfile militar na Avenida da República realizado em DEC1973. Ao centro, no painel de publicidade, faz-se referência à firma Salgado & Tomé, empresa que consta na Revista anteriormente citada [2.º-P14167]. 


Foto 5 – Bissau> DEZ1973 – Fanfarra do Exército constituída integralmente por guineenses após concluído o desfile militar na Avenida da República [hoje, Av. Amílcar Cabral], aguardando ordens para destroçar. À esquerda, um polícia sinaleiro [um ícone daquela época]. 

Na rectaguarda dos militares é possível identificar a loja da firma Nunes & Irmão, empresa dedicada ao comércio geral [Importações/Exportações], cuja referência não consta na mesma Revista… Porquê?


3– A BISSAU DOS ANOS 50, QUE EU CONHECI (MÁRIO DIAS) 

A propósito da interrogação suscitada pela ausência de referências na Revista “Turismo”à empresa Nunes & Irmão [foto acima],e na procura de resposta[s] a esta curiosidade em saber o que esteve na sua génese e qual a origem destes compatriotas lusos, realizei, com algum sucesso, uma pequena investigação cujos resultados partilho agora convosco. 

A primeira fonte consultada, como não podia deixar de ser pelo extraordinário espólio histórico que disponibiliza, foi o blogue da nossa «Tabanca Grande», onde o camarada Mário Dias [ex-sargento comando e instruendo no 1.º CSM realizado em Bissau, em 1959 – P2343] nos caracteriza sumariamente a Bissau dos Anos 50 [P2691].  

Com efeito, a firma Nunes & Irmão e as suas instalações sede [edifício da foto 5] são identificadas por Mário Dias na foto abaixo pelo telhado. De referir, que entre as duas fotos [4 e 5] existe uma diferença temporal de duas décadas.


Foto 6 - Bissau> Anos 50> Perspectiva da Avenida da República [hoje, Av. Amílcar Cabral] obtida a partir da torre da catedral já ao final do dia. O primeiro edifício, de que se vê pouco mais que o telhado, é a sede de uma das importantes firmas comerciais da Guiné: Nunes & Irmão. Mais ao fundo, do lado direito, o cinema UDIB e o palácio do governador na praça do Império. O edifício da Associação Comercial (hoje PAIGC) situado na mesma praça, ainda não existia (MD), [P2691, 27Mar2008 – com a devida vénia].


4– HISTÓRIAS DE VIDAS PORTUGUESAS NUM POBRE PARAÍSO

Uma segunda fonte de informação, e que acabou por esclarecer as questões de partida, foi obtida por via de uma reportagem realizada por jornalista (?) do matutino Correio da Manhã, publicada em 15 de março de 2009, com o título abaixo repetido [www.cmjornal.xl.pt].


A reportagem faz a ponte entre o antes e o depois da independência da Guiné-Bissau, onde se afirma que os portugueses “chegaram há muitos anos e resistiram a todos os conflitos nesta antiga colónia portuguesa. Aconteça o que acontecer, nada os fará regressar a Portugal. Insurgem-se até contra a imagem exterior da terra que adoptaram. Para estes portugueses, a Guiné-Bissau, país entre os dez mais pobres do mundo, é um pedaço do paraíso na Terra”.

Quanto à história de vida da família Nunes, fundadora da firma Nunes & Irmão e, depois, da Residencial Coimbra, os testemunhos foram divulgados na entrevista dada por Francelina Nunes, nora de Gentil Nunes. Este e o seu irmão Artur Nunes acabariam criar a sua primeira empresa nos anos vinte do século passado.

Transcrevemos, na íntegra e com a devida vénia, o que está escrito sobre a história de vida desta família de portugueses.

“Francelina Nunes, 64 anos, [1945-] deixou Góis, em Coimbra, em 1964, com apenas 19 anos, para juntar-se ao marido, repetindo um trajecto iniciado pelo sogro, Gentil Nunes, e o irmão, Artur Nunes, nos primeiros anos do século XX. Em 1920, depois de trabalharem na mais famosa empresa do País naqueles anos, a Casa Gouveia, conseguiram juntar um pé-de-meia que lhes permitisse criar uma empresa.

Assim nasceu a Nunes & Irmão, uma imagem de marca da Guiné com rosto luso. A residencial Coimbra é a face mais visível deste projecto empresarial, com 86 anos de vida. "Somos a terceira geração da família à frente dos negócios", diz Francelina Nunes, muito longe de se arrepender de, há 44 anos, ter deixado Portugal. "Foi fácil gostar da Guiné porque, quando cheguei, Bissau era uma cidade viva e o clima era óptimo.

Nestes anos todos, a única tragédia foi a guerra de 1998, entre Nino Vieira e Ansumane Mané. A guerra colonial era feita longe daqui, no campo, esta aconteceu mesmo na cidade. E foi horrível".

Francelina surpreendeu-se com a sua própria coragem, entre os escombros de Bissau, quando empreendeu acções merecedoras da condecoração do então Presidente da República, Jorge Sampaio: "Tivemos muita gente refugiada em nossa casa e, talvez por isso, o Presidente tenha decidido condecorar-me. Se nunca passámos fome foi porque tivemos ajuda humanitária. As organizações sabiam que havia muita gente aqui e ajudavam-nos".

Habituada a ver portugueses chegarem a Bissau, Francelina garante que há uma excelente relação entre os nacionais e os forasteiros. "Quase todos os portugueses que vêm para cá fazem-no no âmbito de projectos e chegam com vontade de ajudar este povo. Converso com muitos, que se hospedam no nosso hotel, e nunca vi nenhum muito contrariado por aqui estar. A verdade é que também não se metem na vida política local".

Francelina diz que a imagem que a comunidade internacional tem da Guiné-Bissau é distorcida: "Sabemos que isto não é um mar de rosas, mas passam imagens tristes do país. Mesmo na Europa, a vida não está fácil. Se um europeu não tiver um bom ordenado e uma vidinha organizada, também passa por dificuldades. Bissau enfrenta problemas com a luz e a água, mas em matéria de alimentação, móveis e bens de primeira necessidade, não falta nada. Não se formam filas em lado nenhum, tudo pode ser comprado. A Guiné não é um país pobre. Pobres são aqueles que nem têm uma folhinha verde".

Francelina não pára o novelo cor-de-rosa que desenrola sobre o país de adopção. "Pode haver um ou outro roubo de telemóvel, mas aqui não acontece nada de especial. O problema aqui é a instabilidade política. Há sempre um golpe ou outro problema parecido e isso contribui para que os brancos sintam medo".

O amor de Francelina Nunes pela Guiné é secundado por Alexandre ‘Xia’ Nunes, 40 anos [1969-], um dos dois filhos de Francelina e extremamente popular na cidade. Tanto ele como o irmão, Miguel, 44 anos [1973-], nasceram na Guiné-Bissau, embora os estudos tenham sido feitos em Portugal. Em 1990 optaram pelo país de origem. "Estudei em Coimbra até ao 2.º ano de Informática, mas decidi regressar. Durante 12 anos de escolaridade, estudei sempre com a ideia de voltar à Guiné e não estou nada arrependido. A vida na Europa é muito cansativa, há demasiado stress. Tenho lá muitos amigos e percebo que a vida deles não é nada fácil". ‘Xia’ defende que a Guiné é um país de oportunidades, à espera da estabilidade política.

"Em Portugal pensam que isto é o fim do mundo, é uma ideia transmitida às pessoas que não corresponde à realidade. Não devem ser as coisas fúteis, como cinemas e centros comerciais, motivos de escolha de uma terra".

Na opinião deste luso-descendente, os guineenses são os mais hospitaleiros entre todos os naturais dos países africanos de expressão portuguesa. Só a instabilidade política trava o arranque definitivo do desenvolvimento do país. "Cada vez que há uma situação como esta, que redundou nos assassínios de Nino Vieira e Tagmé na Waié [no início deste mês], os investimentos estrangeiros deixam de ser feitos e volta tudo à estaca zero. É chato um governo estabelecer contractos com a Guiné-Bissau e de repente cair tudo por terra porque houve uma mudança de dirigentes, em apenas três ou quatro meses. Assim é difícil, mas acredito que a Guiné-Bissau tem condições para evoluir". 

‘Xia’ Nunes reconhece, no entanto, que há dois pólos de desenvolvimento que devem merecer atenção especial, para atrair estrangeiros: "O principal problema é a falta de escolas e hospitais. Qualquer pessoa que venha trabalhar para aqui quer ter os filhos consigo. Tem de haver escolas e serem complementadas com uma boa política de saúde. Não há necessidade de, por tudo e por nada, às vezes coisas mínimas, se ter de transportar um doente para Dakar ou Lisboa. Por que razão hei-de estar aqui e ter os filhos em Coimbra?".

Quanto à Residencial Coimbra, esta localiza-se no centro da cidade de Bissau, junto à Catedral de Bissau, sobre a firma Nunes & Irmão, Lda. [foto 5]. Compõe-se de 16 quartos amplos, equipados com casa de banho privativa, duche, água quente, água e luz, ar condicionado, cofre, mini bar, tv, video e dvd. Quartos duplos e quartos simples, alguns voltados para a Avenida Amílcar Cabral [antiga Avenida da República], outros voltados para um terraço tropical interior. Dispõe, ainda, de sala de pequenos-almoços, ampla, voltada para a avenida principal e de uma sala de convívio com bar, mesa de jogos, internet, tv e um amplo terraço para lazer e repouso. 


5– FOTOGALERIA DA RESIDENCIAL COIMBRA





Depois da triangulação entre três temas e algumas fotos, resta-me terminar citando o que é habitual dizer-se nas tertúlias: “as conversas são como as cerejas…” isto é, encadeiam-se umas nas outras, o mesmo acontece com a escrita… é difícil parar.

Um forte abraço, com amizade, do
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
___________

Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em: