Guine-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República) > Foto do estabelecimento de Nunes & Irmão Lda, hoje Coimbra Hotel & Spa. "Um hotel no centro da cidade, junto a Catedral de Bissau. Oferece aos hóspedes um espaço com piscina, ginásio, spa e também sala de reuniões para os hóspedes em viagem de negócios. O restaurante do hotel tem um buffet variado e segundo os hóspedes, muito saboroso. O pequeno almoço é servido num bonito e bem tratado jardim. O hotel fica a poucos metros de locais que merecem a sua visita, como por exemplo, o do Porto de Bissau, a zona mais antiga da cidade, Bissau Bedjo e a Praça dos Mártires de Pindjiguiti." Tem também uma livraria, a livraria Coimbra. O Hotel está instalado no antigo estabelecimento, um dos mais importantes ds época colonial, da firma Nunes & Irmão Lda, fundada por Artur Lopes Nunes (1909-2007). O negócio continua na família há 3 gerações. Cortesia da página do Facebook de Hotel Coimbra |
1. Há figuras, civis, que atravessaram a história do séc. XX da Guiné-Bissau (*), e que merecem ser aqui recordadas, como é o caso das "mulheres grandes" retratadas em livro pelo nosso amigo e camarada António Estácio, "Nha" Bijagó (1871-1959) e "Nha" Carlota (1889-1970) (**) ... Ou "africanistas" como "Manel Djoquim", o homem do cinema ambulante (1901-1977), cuja história de vida é-nos contada pela sua filha mais nova, Lucinda Aranha. Mas também empresários como António da Silva Gouveia, que criou a Casa Gouveia, ou Artur Nunes, fundador, com o seu irmão Gentil, da firma "Nunes & Irmão Lda". (***)
A história que o Estácio conta do Artur Nunes e da "Nha" Carlota merece ser aqui recordada, como testemunho da forte personalidade desta mulher grande, que foi Carlota Lima Leite Pires (1889-1970) mas também dos valores (honradez, bom nome, reputação, integridade, palavra dada, lealdade, hospitalidade, morabeza, etc. ...) de uma época e que hoje parecem arredados do código de ética do mundo dos negócios.
Entrevistado, em 2006 (, se não erro,) por António Estácio, que reconheceu a sua "lucidez impressionante", declarou que ambos, ele e "Nha" Carlota, "sempre se deram bem mas isso não impediu que, a dado passo, tivesse ocorrido uma situação mais delicada".
Ora o que é que aconteceu? "Certa vez, 'Nha' Carlota pretendia adquirir uns produtos sem que, como aliás era hábito, houvesse saldado o montante do fornecimento anterior."
O Artur Lopes Nunes aproveitou o ensejo para lhe lembrar essa dívida, e o respetivo valor. "Sem dar resposta, e naturalmente ofendida, 'Nha' Carlota continuou a ver a mercadoria e, pouco depois, retirou-se sem levar nada".
Passa-se um ou dois dias, até que a mulher grande voltou a Bissau, foi direita à loja do seu fornecedor, "trazendo um saco que entregou ao propietário, informando-o que era o pagamento da dívida." (pág. 82).
Não sem surpresa, o Artur Nunes abriu o pesado saco e verificou que "estava cheio de moedas de um escudo e cinco tostões". Tanto quanto se lembrava a dívida rondava os dois mil escudos (ou "pesos"), ou seja, cerca de 2 contos, um valor razoável para a época.
(...) "Com sorriso, rematou dizendo:
- E eu pra ali fiquei a contar todo aquele montante em moedas! Como era de esperar, a quantia estava certa."
Moral da história: "Esta foi a melhor forma que 'Nha' Carlota encontrou para responder ao comerciante fornecedor onde tinha uma dívida por saldar e onde continuou sempre a gozar de crédito" (pág. 83).
Artur Lopes Nunes (1909-2007) era natural de Cadafaz, Góis, concelho do distrito de Coimbra. Morreu na Parede, Cascais, com 98 anos feitos. Tinha ido para a Guiné, em 1927, com 18 anos, na qualidade de empregado da firma João Marques de Carvalho & Companhia, com sede em Bolama. Viajou no N/M "Aboím", na companhia do patrão e da esposa deste, bem como do novo governador da Guiné, o major de infantaria António Leite de Magalhães, nomeado para substituir o tenente coronel Jorge Frederico Velez Caroço.
Fonte: António Estácio . Nha Carlota, figura esquecida da História Guineense – Ed. do autor, 2010, 116 pp.
Fonte: António Estácio . Nha Carlota, figura esquecida da História Guineense – Ed. do autor, 2010, 116 pp.
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 29 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20605: Historiografia da presença portuguesa em África (196): Relatório do Governador da Guiné, Contra-Almirante Francisco Teixeira da Silva, referente a 1887-1888 (Mário Beja Santos)
(**) Vd. poste de 20 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6434: Notas de leitura (109): Carlota Lima Leite Pires, 'Nha Carlota' (1889-1970), de António Estácio (Mário Beja Santos)
(***) Vd. poste de 30 de janeiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20608: Roteiro de Bissau: fotos de c. 2010, de um amigo do Virgílio Teixeira, empresário do ramo da hotelaria - Parte III
Vd, também poste de 3 DE MARÇO DE 2015
Guiné 63/74 - P14317: Historiografia da presença portuguesa em África (60): O caso da empresa Nunes & Irmão Lda., dos irmãos Gentil e Artur Nunes GENTIL E ARTUR NUNES. (Jorge Araújo)
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