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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26481: Notas de leitura (1771): A colonização portuguesa, um balanço de historiadores em livro editado em finais de 1975 (5) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Setembro de 2023:

Queridos amigos,
O historiador Hermann Kellenbenz faz um tipo de relatório de situação sobre aspetos histórico-económicos da expansão ultramarina portuguesa, não emite juízos quanto a um sugerido balanço. Reconheça-se o interesse pelo que escreve quanto a formas de povoamento, de presença portuguesa em fortalezas e postos de África, a natureza do comércio oriental, as etapas da colonização brasileira, o modo como os portugueses influíram no comércio mundial devido ao açúcar, às especiarias, ao ouro, às madeiras e ao comércio negreiro. O autor observa a falta de recursos humanos, e daí o abandono das praças do Norte de África, onde a beligerância era constante e os proventos baixos; como a presença portuguesa em África foi alterando as redes de negócio do ouro; as mudanças operadas após o descobrimento da rota do Cabo que trouxe uma cascata de preciosidades a Lisboa; e o bom exemplo da pimenta que era distribuída por toda a Europa, se bem que Portugal não possuísse o monopólio das especiarias e muito menos dos metais preciosos. Enfim, uma estimulante análise da vertente histórico-económica dos Descobrimentos portugueses. E assim se chegou ao fim da apreciação do livro Balanço da Colonização Portuguesa, que nos suscitou a curiosidade por ter sido editado precisamente em 1975.

Um abraço do
Mário



A colonização portuguesa, um balanço de historiadores em livro editado em finais de 1975 (5)

Mário Beja Santos

Iniciativas Editoriais foi uma editora altamente conceituada, dirigida por José Rodrigues Fafe, os temas sociopolíticos foram o seu polo atrativo. Lançou um projeto aliciante, o de juntar um conjunto de profundos conhecedores da historiografia da expansão/colonização portuguesa e pedir-lhes uma apreciação em jeito de balanço, estávamos no ano de 1975.

Responderam ao pedido vários historiadores e investigadores, já aqui se falou dos textos de Banha de Andrade, Frédéric Mauro, Charles Ralph Boxer e Joel Serrão. Vamos hoje despedirmo-nos com o contributo do historiador alemão Hermann Kellenbenz, intitulado Aspetos histórico-económicos da expansão ultramarina portuguesa.

Ele começa por várias interrogações: como foi possível a um país tão pequeno criar condições de povoamento nas suas possessões ultramarinas? Como foi financiada a expansão ultramarina? O que significou a expansão para a economia portuguesa? De que modo se enquadrou a expansão na economia europeia? Qual o seu significado para os territórios ultramarinos?

Procurando responder, conduz-nos às condições climático-geográficas do país, de terra pobre, com períodos consideráveis de seca e de chuva irregulares, o que pode explicar a concentração demográfica nas zonas costeiras; foi sempre permanente a escassez demográfica, apesar das conquistas feitas no Norte de África não foi possível penetrar no Norte de Marrocos, mas tudo sempre numa cadeia infindável de dificuldades, e a partir de 1541 perderam-se uma a uma as possessões conquistadas; os arquipélagos da Madeira e dos Açores eram áreas relativamente pequenas, suscitou poucos problemas, mas vieram colaborações do continente europeu e cedo se começou a utilizar a mão-de-obra escrava; os flamengos tiveram um papel importante no povoamento dos Açores e foram feitas concessões no povoamento de Santiago e outras ilhas de Cabo Verde; os povoadores que se apresentaram na Senegâmbia e S. Tomé eram descendentes dos judeus degredados; não havendo, pois, condições de povoamento intensivo e alargando-se o espaço da presença portuguesa em África e depois no Oriente, encontrou-se solução a criação de postos de apoio tanto militares como comerciais, caso de Arguim ou São Jorge da Mina; a partir de 1503, Cochim na zona orienta da Índia, tornou-se o principal reduto dos portugueses, o governador-geral Afonso de Albuquerque, o primeiro vice-rei da Índia, favoreceu a mistura de mulheres muçulmanas hindus em casamentos com portugueses.

Proposto escrever em que termos os portugueses estavam presentes no longínquo oriente, o historiador observa que a situação do Brasil era completamente diferente, recorreu-se aos sistemas de donatorias e sesmarias, os donatários eram principalmente mercadores, funcionários públicos, gente que se tinha distinguido na Índia, sem necessariamente descenderem de famílias aristocráticas. Passando para a questão do financiamento, o autor releva o espírito empreendedor dos portugueses, nomeadamente os da costa algarvia e o povo de Lisboa, chamo a atenção para a contribuição de burgueses como Fernão Gomes e Martim Anes Boa Viagem, no entanto, o financiamento dos Descobrimentos competia em primeiro plano à Coroa, e tece a seguinte consideração: “Os reis portugueses demonstraram um alto grau de inteligência acolhendo estrangeiros com capital e espírito empreendedor e dando-lhes a possibilidade de participar nos Descobrimentos.” – e refere nomes como o do veneziano Cada Mosto, o de genovês Antonio de Nola, e enumera também outros nomes de italianos e de alemães. A sede da organização da Coroa era a Casa da Índia que foi dissolvida em 1549, para facilitar a entrada de capital estrangeiro. Mas havia um senão: o aparelho financeiro da Coroa não se desenvolvera de acordo com as exigências crescentes das expedições ultramarinas – daí a dívida galopante e a incapacidade de lhe pôr termo dada a vida luxuosa que se praticava.

Qual o significado económico destas possessões ultramarinas? Ceuta rapidamente perdeu importância comercial que até aí detivera; as ilhas do Atlântico revelavam-se economicamente importantes, a Madeira fornecia madeira, urzela e peixe, o açúcar virá depois, será exportado para os mercados da Europa Central; os Açores tornaram-se produtores de cereais, exploravam a produção de tinta-pastel que era exportada sobretudo para os flamengos; Cabo Verde não se prestava muito à cultura da cana do açúcar, na Ilha do Fogo desenvolveu-se a cultura do algodão bem como a criação de gado bovino e cavalar e em ilhas inabitadas praticou-se a criação de gado caprino; em S. Tomé, em 1512, desenvolveu-se a cana açucareira, havia um total de 60 engenhos e 300 escravos; mas é importante relevar que Cabo Verde passou a ter um importante papel no comércio ultramarino português, devido ao ouro e aos escravos. Kellenbenz alarga-se na descrição deste fenómeno económico na costa ocidental africana, mas também no reino de Monomotapa, na África Oriental, aqui se adquiriu muito ouro que também vinha do longínquo oriente, de Sumatra e da Malásia. E dá enfâse ao tráfico africano de escravos, da maior importância a partir do último quartel do século XV, não deixando igualmente de mencionar o comércio da pimenta e a malagueta, mas não deixa de referir que a pimenta africana ficava muito aquém da pimenta vinda da Índia Oriental. Tece uma larga exposição sobre todo este comércio para depois mencionar o Brasil, primeiro pela exploração açucareira, com destaque para Pernambuco e Baía, depois o comércio do pau-brasil, muito apreciado em Lisboa, Antuérpia e Amesterdão.

Outra questão a responder à pergunta das consequências da expansão portuguesa na economia europeia. O autor afirma que é difícil estabelecer uma nítida separação entre a parte portuguesa e a espanhola, procura, no entanto, aferir o carregamento dos barcos e os portos a que se destinava tal carga, de Antuérpia a Danzig, e indiscutivelmente traziam novidade: “Os produtos que chegavam à Europa, as mercadorias africanas e asiáticas, alteraram completamente a antiga rota do Mediterrâneo. Os produtos vindos das ilhas do Atlântico e Brasil eram completamente novos. A importação de especiarias orientais é o setor mais interessante na rota do Cabo, alteravam-se as regras da concorrência e com o tempo o comércio no Mediterrâneo foi-se desvanecendo. E importa não esquecer que Portugal não possuía o monopólio das especiarias, Portugal era forçado a vendê-las para comprar os produtos apetecidos em África e na Ásia, acontecerá o mesmo com os nossos metais preciosos.” E daí a nova questão: como é que se verificou o domínio português na economia das regiões subjugadas: nas ilhas atlânticas houve povoamento, eram terra-virgem; nos pontos africanos era necessário apoio militar, e o autor recorda que os portugueses que vivam fora das fortalezas eram na sua maioria exilados, reclusos ou ventureiros, caso dos tangomaos na Guiné; e no tráfego de escravos faziam-se acordos com chefaturas africanas; recorda que o movimento comercial português no Índico devem ser observadas à luz da ligação com a viagem ao Oriente, era simultaneamente um sistema de alianças mas também podia envolver crueldade e intimidação; e tece considerações sobre a missionação fundamentalmente no Brasil e nalgumas parcelas do Oriente. Kellenbenz não formula qualquer juízo sobre qual o balanço da colonização portuguesa, a não ser estes tópicos de interações socioeconómico-culturais, tanto em África como no Oriente e Brasil.

Damos assim por findo um conjunto de sumulas em torno de uma iniciativa bem curiosa de se fazer um balanço da colonização portuguesa em pleno ano de 1975.

Para que conste.

Hermann Kellenbenz
Exploração açucareira no Brasil
Vista do Castelo de São Jorge da Mina, figura do século XVII, a fortaleza já está em poder dos holandeses
O tão apetecido pau-brasil comercializado por toda a Europa
Como se organizava uma missão jesuítica no Brasil, século XVII
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Notas do editor:

Vd. post de 3 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26455: Notas de leitura (1769): A colonização portuguesa, um balanço de historiadores em livro editado em finais de 1975 (4) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 7 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26471: Notas de leitura (1770): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, a governação de Vellez Caroço, totalmente distinta das anteriores (13) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26455: Notas de leitura (1769): A colonização portuguesa, um balanço de historiadores em livro editado em finais de 1975 (4) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Setembro de 2023:

Queridos amigos,
Um belo texto, uma visão singular numa síntese da história da expansão portuguesa e o que nela houve de peculiar e marcante para a nossa identidade. Dir-se-á que são observações consabidas pelas razões da expansão: quando, em tempos medievais, a Europa se guerreava e nós com as fronteiras definidas e ambições no Norte de África, aquela dinastia de Aviz possuía uma nova nobreza de origem burguesa-popular, aberta à inovação e à curiosidade, nascia um projeto nacional entre o Meditterãneo e o Atlântico, as expedições henriquinas foram o gatilho para se desencravar o mundo; a importância de Lisboa e a carreira da Índia, o desabrochar de um pensamento científico e as expedições à procura de mais mundo, daí Garcia da Orta, Fernão Mendes Pinto, os negócios no Extremo Oriente; e depois a exaustão, a inversão do Índico para o Atlântico, o Brasil do açúcar, do ouro e das pedras preciosas, a consolidação do Antigo Regime e a recusa da modernidade; com a independência do Brasil, a "África", ou o Terceiro Império, exaltado por sucessivas gerações, teimosamente alheado às mudanças de rumo, cuja expressão máxima foi o antigo colonialismo. Este belo texto intitulado Políptico, escrito em janeiro de 1975, tece considerações, hoje compreensivelmente extemporâneas, mas este professor que foi exemplar não prescindiu de nos convocar para um esforço enorme no campo da educação para que o país se transformasse numa escola de trabalho, de iniciativa inteligente e responsável, de efetivo amor ao próximo, não ao nível da palavra, mas da mão fraternalmente estendida. Meio século depois, a convocatória está de pé.

Um abraço do
Mário



A colonização portuguesa, um balanço de historiadores em livro editado em finais de 1975 (4)

Mário Beja Santos

Iniciativas Editoriais foi uma editora altamente conceituada, dirigida por José Rodrigues Fafe, os temas sociopolíticos foram o seu polo atrativo. Lançou um projeto aliciante, o de juntar um conjunto de profundos conhecedores da historiografia da expansão/colonização portuguesa e pedir-lhes uma apreciação em jeito de balanço, estávamos no ano de 1975.

Responderam ao pedido vários historiadores e investigadores, já aqui se falou dos textos de Banha de Andrade, Frédéric Mauro e Charles Ralph Boxer, damos hoje a palavra a Joel Serrão, o seu texto é singularíssimo, intitula-se Políptico, subdividido em cinco capítulos. O 1.º intitula-se A Alba, e escreve assim:

“Era uma vez um pequeno povo de camponeses, pescadores, mesteirais modestos, e negociantes, fixado no extremo ocidental da Europa, onde a terra se acaba e o mar começa… País-finisterra, o seu litoral condicionava-o, direta ou indiretamente, impelia-o para os rumos históricos que viriam a ser os seus. O vai-e-vem das primeiras cruzadas dinamiza os pequenos portos e permite a criação de um modo de vida nacional, centrado no litoral, que será um poderoso fator de consciência coletiva, desejosa de talhar um espaço de viável para a nacionalidade que assim se esboçava.”

E lá se foi definindo o espaço de Portugal, ganha importância o mediterrâneo e por aqui os portos algarvios e os de Lisboa e Porto, assim nascia, talvez modestamente uma placa giratória entre gente das repúblicas italianas, Biscaia e até à Flandres, a seu tempo os nossos barcos irão até à Inglaterra e mesmo às águas frias do Labrador. A Europa vive tensões sociais agudíssimas, não só a guerra do Cem Anos, rivalidades e conflitos entre as cidades italianas e há mesmo guerras entre os povos eslavos. 1383-85 trouxe a redefinição de Portugal no seu estatuto de Estado independente, surgiu uma nova nobreza de origem burguesa-popular, e com ela a avidez de ocupar posições no mediterrâneo. Assim se chegou a Ceuta e logo a seguir a Madeira. Abria-se assim, com conhecimentos de ciência náutica, a aventura de nos embrenharmos no Atlântico.

Novo capítulo, intitulado Meio-dia, enceta-se neste lento e cuidadoso apalpar do terreno a procura do encontro e do achamento que culminará com a viagem de Vasco da Gama e a sua chegada a Calecute. Portugal está na vanguarda do domínio das rotas atlânticas, aqui circulam ouro, escravos, açúcar, malagueta, os veleiros portugueses devassam as paragens do Índico e dos mares da China e do Japão, a chamada carreira da Índia atrai os negociantes a Lisboa. 

Mas que lição tirar desta gesta tão aventureira? 

“Nem Portugal enriqueceu com o monopólio da rota do Cabo nem os povos e as civilizações orientais beneficiaram coisa que se visse com a presença ali quer de portugueses, quer de holandeses e ingleses.“ 

Joel Serrão cita O Soldado Prático de Diogo Couto e mesmo Garcia da Orta, questiona as razões porque abortou a originalidade do renascimento português, esse começo sem conclusão, é um Portugal que vai à frente da expansão europeia, rapidamente fica exaurido, mas ainda não é o fim da história.

E estamos no 3.º capítulo, intitulado Tarde. Pequeno país, população rara, máquina comercial primitiva. E em meados do século XVI assiste-se a uma viragem estrutural, uma translação do centro de gravidade do império português para o Atlântico, polarizado pelas terras brasileiras.

“Enquanto o Império Oriental desfalece, a colonização do Brasil inicia-se e prossegue: em 1536, as capitanias de terra, e em 1549 a criação do Governo geral, com sede na Baía de Todos os Santos, é a mudança.” 

E sem esta mudança, que futuro poderia ter tido Portugal com a desanexação de Espanha, em 1640? O Brasil vai desempenhar um papel fundamentalíssimo: o grande comércio internacional português de então principia na colónia; e a indústria, especialmente na segunda metade do século XVIII, são os horizontes coloniais que ou a estimulam ou a limitam. E geram-se sentimentos-forças com marca indelével: saudade do passado de glórias orientais, a eficácia da Contrarreforma, as frotas de açúcar e de ouro sulcam o Atlântico, a recusa portuguesa da modernidade, é por arrastamento que o país segue para a contemporaneidade, mas o pensamento liberal é o ar do tempo: os EUA libertam-se do jogo colonial em 1776 e as certezas de estabilidade serão abaladas pela Revolução Francesa.

Novo capítulo, Sol poente, a Corte no Brasil em 1807 irá acelerar o processo de autonomia da colónia, o Reino fica colocado numa mais serrada dependência inglesa. E quando chega a independência do Brasil, homens como Mouzinho da Silveira entendem que a única opção que restava era a de revolver de alto a baixo a estrutura do Antigo Regime. O império português não ficara ainda completamente liquidado. Restava-lhe, além da presença mais ou menos simbólica no Índico, a “África”, até então pouco mais que manancial de escravatura. A primeira metade do século XIX será dramática para o nosso desenvolvimento socioeconómico; então o país é empurrado para a “África”, sucedem-se viagens de exploração, campanhas de ocupação militar, entraremos na Primeira Guerra Mundial com vista a conservar o património histórico africano. E a dependência da economia metropolitana, relativamente ao capitalismo estrangeiro, repercutiu-se na exploração de Angola e Moçambique; e vieram os ventos da história, Portugal fechava-se ao mundo, e assim aconteceu o termo do longo dia que, nos entrecruzados rumos das civilizações, coube a Portugal assumir.

Derradeiro capítulo, na noite, esperando, e Joel Serrão cita o poema “Prece” do livro Mensagem, de Fernando Pessoa, que assim começa:

“Senhor, a noite veio e a alma é vil./Tanta foi a tormenta e a vontade!/Restam-nos hoje, no silêncio hostil,/o mar universal e a saudade”

Depois de se viajar há cinco séculos pelas sete partidas do mundo, regressava-se a casa, acabavam-se os Brasis e as Áfricas. E Joel Serrão volta a questionar:

“Valeu a pena ter esse povo partido, há séculos, para as terras de além-mar? Em boa verdade, não há resposta pertinente para tal pergunta, destituída de sentido em termos de compreensão histórica. O que importa, isso sim é desmontar, criticamente, os mecanismos de toda a ordem – desde os socioeconómicos aos mentais e culturais – que condicionaram dado trajeto histórico. É que só é possível enterrar o passado compreendendo-o e explicando-o; e tal tarefa, em grande parte ainda por levar a efeito, se exigem árduo trabalho e adequada preparação científica, não dependerá menos do projeto de futuro que, desde já, sejamos capazes de ir formulando, assumindo-o.”

E Joel Serrão tece considerações para as prioridades que entrevia, tem pouco sentido aqui as enunciar, passado meio século, ele põe como imperativo o desafio permanente na educação para termos um país de iniciativa inteligente e responsável, de efetivo amor ao próximo, não ao nível da palavra, mas da mão fraternalmente estendida. E cita em jeito de despedida os dois últimos versos do poema “Prece”:

“E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou de outra, mas que seja nossa”


Falta-nos, por último, uma referência ao historiador Hermann Kellenbenz e ao seu artigo intitulado “Aspetos histórico-económicos da expansão ultramarina portuguesa”.

Joel Serrão (ao centro) no quadro de Nikias Skapinakis, Tertúlia, 1960
Vasco da Gama perante o Samorim de Calecute, por Veloso Salgado, pode ser visto no átrio da Sociedade de Geografia de Lisboa
Terreiro do Paço e a Ribeira das Naus, imagem anterior ao terramoto
Barra de ouro com origem no Brasil, século XVIII
Prisioneiros de guerra portugueses, Primeira Guerra Mundial, imagem dos arquivos alemães

(continua)
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Notas do editor:

Vd. post de 27 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26432: Notas de leitura (1767): A colonização portuguesa, um balanço de historiadores em livro editado em finais de 1975 (3) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 31 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26445: Notas de leitura (1768): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, continuação dos acontecimentos em 1917-1919 (12) (Mário Beja Santos)

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26329: Tabanca da Diáspora Lusófona (28): o luso-canadiano, de origem madeirense, João E. Abreu, ex-sold cond auto, CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) - Parte II

 


Foto nº 13  > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma > Natal de 1968 >  



Foto nº 14  > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) >  Nova Lamego > Natal de 1967


Foto nº 15  > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > s(l > s/d > Equipa de futebol




Foto nº 16A e 16 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma
 > c. abril 68 / mai 69 >: Equipa de futebol... O Eusénio é sehundo de pé, a contar da esquerda para a direita.




Foto nº 17 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Buruntuma > 1969 > Equipa de futebol dos condutores... (Mas a melhor era a das transmissões, diz o Zé Rosa Neto...). O Eusébio é o primeiro da esquerda, na primeira fila.




Foto nº 18 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > Nova Lamego
 > 1967 >  "Quem se recorda destes jovens ? *ara ajudar a indificá-los aqui vão os seus nomes:e, primeiro plano da direita, Anibal, Santos, Eusebio, Pereira, Lemos;  em baixo Pires, Monçáo, Guimarães,  Fafe"

Fotos (e legendas): © João E. Abreu (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


João Eusénio Abreu

1. Estamos a selecionar, editar e publicar,  com a devida vénia,   algumas das fotos do nosso camarada João Eusébio Abreu, ex-sold cond auto, CART 1742, "Os Panteras" (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) Tem cerca de duas dezenas de fotos disponíveis "on line" na sua página do Facebook (Joáo E. Abreu).

 É amigo do Facebook da Tabanca Grande. Temos em comum o amigo (e camarada) Abel Santos (ex-sold at inf,  também da CART 1742), que muito tem contribuído para que os "Panteras" de Nova Lamego e Buruntuma  não sejam votados ao esquecimento. Já trouxe com ele mais quatro camaradas da CART 1742:


(i) 
António Joaquim Oliveira, ex-1.º cabo quarteleiro (membro da Tabanca Grande nº 760);

(ii) Jaime da Silva Mendes, ex-sold at inf, natural de Braga (senta-se à sombra do nosso poilão mnp lugar nº 762);

(iii) José Rosa Neto, ex-1.º cabo radiotelegrafista, grão-tabanqueiro nº 823;

(iv) José Horácio Dantas, ex-1.º cabo at art, apontador de bazuca, natural de Lama, concelho de Barcelos (grão-tabanqueiro nº 765);


Já  convidámos o João Eusébio Abreu a entrar para o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.  Ficaríamos honrados cokm a sua presença. Precisaamos que nos responda para o nosso email: 

 Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné:


Regúlo da Tabanca da Diáspora Lusófona: João Crisóstomo, Nova Iorque:

crisostomo.joao2@gmail.com
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domingo, 29 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26324: Tabanca da Diáspora Lusófona (26): o luso-canadiano, de origem madeirense, João E. Abreu, ex-sold cond auto, CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) - Parte I

 


Foto nº 1A e 1 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > s/d > Ponte Caium > "Um banho na piscina da Ponte Caium, os piores 2 meses passados da comissáo. Ainda reconheço o alferes Pinheiro, ja falecido,  o Furriel Viola,  o Enfermeiro Gouveia e também o 1º cabo Silva que durante umas férias se esqueceu de voltar à Guiné".


Foto nº 2 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > 1967 > Nova Lamego, quartel de baixo: no braço, o crachá dos "Panteras".



Foto nº 3A e 3 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > 1968 >  Camajabá > O João E. Abreu com o Vítor Tavares


Foto nº 4 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > s/l  >  s/d >   O João E. Abreu com um crocodilo juvenil, talvez nas imediações do rio Corubal, no Boé.


Foto nº 5A e 5 > Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > 1968 >  Natal de 68 em Buruntuma.





Foto nº 6 e 6A> Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) > 1967  > "Jangada a atravessar o rio Corubal a caminho de Madina de Boé, fins de 1967."

Fotos (e legendas): © João E. Abreu  (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O João E. Abreu é um luso-canadiano que eu gostaria de ver integrar a Tabanca da Diáspora Lusófona (*) e, claro, a Tabanca Grande. Fica desde já convidado. 

É sempre com alegria que descobrimos mais um  camarada da Guiné espalhado pelas sete partidas do mundo. Nesta caso,  de origem madeirense, como de resto sugere o seu próprio apelido. Fez parte da CART 1742.

Deixou no passado dia 27, às 21:10, o seguinte comentário, na nossa página do Facebook

"Ponte Caium:  aqui passei os piores dias da minha comissão, ainda hoje passados 55 anos do meu regresso ainda sonho com os ruídos que vinham do mato durante a noite, Soldado Condutor Auto. CART 1742, 1967/69."

É amigo da página do Facebook da Tabanca Grande. Temos três amigos em comum,  incluindo o nosso grão-tabanqueiro Abel Santos, (ex-sold at art, CART 1742, "Os Panteras", Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69).



O Abel Santos, que está connosco desde 14/7/2012 (e te 95 referências no blogue),  e é viznho do Carlos Vinhal, já trouxe consigo mais quatro "Panteras" (*):

(i) José Rosa da Silva Neto, ex-1.º cabo radiotelegrafista;

(ii) José Horácio da Cunha Dantas, ex-1.º cabo at art, apontador de bazuca, natural de Lama, concelho de Barcelos;

(iii) Jaime da Silva Mendes, ex-sold at inf,

(iv) e o António Joaquim de Castro Oliveira, ex-1.º cabo quarteleiro.

Espero que ele nos ajude a trazer, para o blogue da Luís Graça & Camaradas da Guiné, o João E. Abreu dem que só sabemos o seguinte:

 (i) vive em Mississauga, Ontário, Canadá;

(ii) natural de São Martinho, Madeira, Portugal;

(iii) faz anos a 22 de outubro;

(iv) é casado desde 31 de agosto de 1970.

2. Com a devida vénia, selecionámos e editámos algumas das fotos do seu álbum. 

Ficamos a saber, por esta amostra (I Parte),  e para já, que o sold cond auto João E. Abreu esteve em (ou passou por) Nova Lamego, Ponte Caium, Camabajá,  Buruntuma e Madina do Boé, o que não é pouco. 

Há uma resumo da história da CART 1742 (**)

(Seleção e reedição das fotos: LG)
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(**) Vd. postes de:

terça-feira, 26 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26195: Manuscrito(s) (Luís Graça) (262): Porto Santo e a África aqui tão perto - Parte VI: Casa Colombo - Museu de Porto e dos Descobrimentos Portugueses



Região Autónoma da Madeira > Porto Santo > Vila Baleira > 4 de outubro de 2024 > Mural de Cristóvão Colombo, pintado a spray no edifício da Câmara Municipal do Porto Santo, da autoria de artista de arte urbana Mr. Dheo, natural do Porto e com obra espalhada por mais de dezena e meia de cidades de todo o mundo.



Região Autónoma da Madeira > Porto Santo > Vila Baleira > 4 de outubro de 2024 > Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses


Região Autónoma da Madeira > Porto Santo > Vila Baleira > 4 de outubro de 2024 > Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses






Madeira > Porto Santo > Vila Baleira > Casa Colombo - Museu da Madeira e dos Descobrimentos Portugueses > 4 de outubro de 2024 > A Odisseia dos Mares > Painel sobre o Tratado de Tordesilhas


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses


1. Pois é... já lá vai o tempo em que os dois então poderosos vizinhos ibéricos pegavam no globo terrestre e, qual  "melancia", cortavam-no ao meio.. E toma lá, dá cá... A gente sabe como é que acabou a história: sobrou para nós, "os últimos soldados do império"... 

Foi isso que eu pensei quando em 4 de outubro me pus a ler estes painéis sobre a "Odisseia dos Mares", no Museu de Porto Santo, na Vila Baleira... Aliás, Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses...

Pois é, o Fernando Medina, o anterior presidente da Câmara Municipal de Lisboa,  queria criar na cidade um Museu dos Descobrimentos. É preciso distrair os turistas quando nos vêm "visitar" e deixar cá uns euritos... Que a cidade, em boa verdade, em matéria  de museus e monumentos nacionais e outras "atrações turísticas", não pode competir, nem de longe nem de perto com as rivais (Londres, Paris, Madrid, Roma, Amesterdão, Berlim....). (A culpa, dizem, foi do terramoto de 1755 que tudo levou, mais a beatice e a incultura  da maior parte dos nossos reis e rainhas que nunca foram grandes nem exigentes colecionadores de arte, muito menos profana.)

Caiu-lhe o Carmo e a Trindade em cima, ao pobre do Medina: "seu saudosista, seu imperialista, seu esclavagista, seu negreiro, seu colonialista, seu racista, seu filho daquele e daquela"... Enfim, quem tem ideias que não sejam "politicamente corretas", como esta pouco ortodoxa do "Museu dos Descobrimentos", está sujeito a levar  no "toutiço" dos historiadores, dos curadores de museus, dos dirigentes de associações de afro-descendentes, dos jornalistas, e por aí fora, sem esquecer os novos censores das redes sociais...

Mas os madeirenses (incluindo os porto-santenses) não deixaram cair a ideia em saco roto...e logo em 2023 decidiram, sem complexos,  remodelar e ampliar o museu local de Porto Santo, inaugurada em 1989 e reestruturado em 2004, passando a Casa-Museu Cristóvão Colombo,  a chamar-se Casa Colombo - Museu de Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses.

Afinal, foi aqui (e em Ceuta) que tudo começou...Para o bem e para o mal, para a glória e para a perdição...(Em boa verdade, o que seríamos nós, Luís Vaz de Camões, enquanto povo, se toda a gente tivesse dado ouvidos ao teu  "homem do Restelo" ?!...)

Pensando bem, até  já havia um núcleo museológico, baseado na casa onde, segundo a tradição,  o  descobridor do "Novo Mundo" viveu e casou com uma das filhas do capitão donatário da ilha, o Bartolomeu Perestrelo, filho de mercadores italianos. (Eu sempre o tratei, ao Colombo,  por idiota por  ter chamados "índios" aos desgraçados que foram "descobertos" para começarem logo a ser "dizimados"; e idiota por se ter enganado na leitura das cartas  de navegação e pensado que tinha chegado às "Índias"; se, calhar, mais do que idiota, mas isso é outra história, outra conversa,...).

A Casa Colombo - Museu do Porto Santo e dos Descobrimentos Portugueses apresenta uma nova museografia (nunca conheci a anterior), tendo  sido enriquecida com novos conteúdos e recheios, estes fruto da  doação mecenática de obras de oficinas nacionais e europeias (Alemanha, Espanha, Flandres, França), africanas, asiáticas e sul-americanas.

Do interessante espólio entretanto adquirido destacam-se peças que vão desde o século IV até ao século XVIII (tais como pratos, taças, travessas, terrinas, vasos, garrafa, bilha, azulejos, elmo, imagens devocionais em escultura e pintura, mobiliário, gravuras, mapas e moedas),  enfim, obras executadas nos mais diversos materiais com o porcelanas, faianças, cobres, marfins, madeiras exóticas, tartaruga, madrepérola, ferro, etc.. 

Em suma, é um pequeno grande espaço de cultura, de memória e de aprendizagem, que vale uma visita,e que aconselho  a quem, dos nossos amigos e camaradas, for passar uns dias à "Ilha Dourada". Os antigos combatentes têm acesso gratuito à Casa Colombo... 


PS - Contrariamente ao que aprendemos, nos anos 50, na escolinha primária do livro único, a ilha de Porto Santo não foi "descoberta" em 1420 pelos portugueses João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo, mas sim "reconhecida" por eles... Já vinha assinalada pela cartografia castelhana por volta de 1385. E em 1417 navegadores castelhanos tinham passado pela ilha (desabitada).... 

Vinte e seis anos depois, em 1446, os portugueses chegavam à Costa da Guiné... Podemos dizer, isso, sim, sem euforia (muito menos com arrogância) mas com orgulho, que foram os nossos antepassados quem abriu a grande autoestrada marítima que deu "novos mundos ao Mundo", unindo terras, ilhas,  mares, continentes, povos e civilizações... E tudo começou há mais de 600 anos... Porto Santo é, pois, uma referência emblemática, incontornável...

Como todas as odisseias humanas, reais ou míticas ou mitificadas (como a de Ulisses), a nossa "odisseia dos mares", os nossos "Descobrimentos", também tiveram efeitos perversos, é bom não esquecê-lo... Mas assumamos tudo isso, de maneira crítica, frontal  e...descomplexada!

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sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26034: Manuscrito(s) (Luís Graça) (258): Porto Santo, e a África aqui tão perto - Parte III: uma ilha... "fotogénica", mas com dupla "insularidade"

 


Foto nº 20 > Porto Santo >  Um dos icónicos moinhos de vento da ilha, no Campo de Cima. (O primeiro terá sido construído em finais dp séc. XVIII.) 


Foto nº 21 > Porto Santo > Anoitecer, na baía. Vista do porto de abrigo. É aqui que atratca todos os diuas o "ferryboat "Lobo Marinho", que faz a ligação diária com o Funcal.


Foto nº 22 > Porto Santo _ Miradoiro da Portela. Vista  da Vila Baleira e praia,


Foto nº 23 > Porto Santo > Serra de Fora > Terras que há dera,m cereal (1)...


Foto nº 24 > Porto Santo > Serra de Fora > Terras que lá deram cereal (2).... 


Foto nº 25 > Porto Santo > Resaurante  "Teodorico" > O bolo do caco


Foto nº 26 > Porto Santoo >Vila Baleira  > Caf+e Bar "O Rapaz" > A cerveja Coral (que vem da Madeira)


Foto nº 27 > Porto Santo > Serra de Fora > O "Teodorico", um dos restuarantes de referència da ilha


Foto nº 28 >  



Foto nº 29 Porto Santo > Vila Baleira > Casa Colombo (3)

Região Autónoma da Madeira, Porto Santo > 29 set - 6 out 2024

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  A ilha é fotogénica: dá para tirar umas belas "chapas"... Maz lembrar o canto da sereia... Eu imaginei-me náufrago numa ilha como esta. Que não tem nada para um desgraçado de um ser humano poder sobreviver. Hoje vem tudo da Madeira. A sua dupla ou tripla insularidade assusta-me. 

Mas há gente que aqui nasce, estuda, trabalha, vive, se casa, faz filhos, envelhece, adoece e morre. Há gente que emigra, mal acabada a escolaridade obrigatória. Mas também há gente que vem para aqui trabalhar, como imigrante. Das mais diferentes partes do planeta: falei com "miúdos" da Argentima, do Brasil, de Marrocos, de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, do Comgo0 Kinshasa, de São Tomé e Príncipe, de Angola, de Moçambique, do Nepal, do Banglasdesh, etc.  A qualidade do turismo foi afetada com a pandemia, a perda de recursos humanos e o inevitável recurso a mão-de-obra temporária estrangeira... 

Desde há mais de cinco séculos que é (ou foi) uma ilha sofrida e de sofrimento. O turista, que vem aqui passar as suas "férias de sonho", não quer saber nada do seu parto violento, a sua origem vulcânica, a sua desertificação, a sua secura, a sua terra estéril,  os dramas e tragédias mas também as lições de coragem da sua gente... (Confesso que só falei com meia dúzia de porto-santenses de origem, do homem do táxi, do jardineiro do hotel, ou  das funcionáras do museu...).

Merece ser conhecida, com mais detalhe, o rol de tragédias que marca a história dos desgraçados que colonizaram a ilha. Gente de coragem e tenacidade. É a ilha mais próxima da nossa plataforma continental e a primeira a ser "achada" e povoada...logo no início do séc. XV. 

Com a conquista de Ceuta (1415), inicia-se, para o mal e para o bem, o império colonial português, o primeiro império global da história... O passo seguinte foi Porto Santo (1418).

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