segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25883: Tabanca da Diáspora Lusófona (25): As minhas férias possíveis em 2024: EUA, Portugal e Eslovénia - II (e última) Parte (Rui Chamusco / João Crisóstomo)


Foto nº 1



Foto nº 6



Foto nº 3



Foto nº 4



Foto nº 5


Foto nº 7



Foto nº 8


Foto nº 9



Foto nº 10



Foto nº 11





Foto nº 12B


Foto nº 13


Foto nº 14



Foto nº 15


Foto nº 16

Fotos (e legendas): © Rui Chamusco / João Crisóstomo0 (2024) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Visita à Eslovénia em julho de 2024 - Peripécias




por Rui Chamusco (texto e fotos)
e João Crisóstomo (legendagem das fotos) (*)



Julho 2, terça feira


João, Vilma e Rui estão de malas aviadas para a viagem de ida rumo à Eslovénia. Depois de várias insistências destes amigos para os acompanhar a esta visita às terras originais da Vilma, convenceram-me (a mim, Rui) a acompanhá-los mais nesta aventura, da qual tomarei nota das coisas mais singulares que forem acontecendo.


"Bagagem do Papa"


Se assim não fosse, quem sabe se não teríamos perdido a correspondência no aeroporto de Munique.

Conta-me que um certo homem, muito virtuoso e convencido do bem que fez neste mundo, se lembrou de morrer e passar para o outro lado. Foi, e bateu á porta do céu a fim de receber a sua recompensa. São Pedro abriu a porta e perguntou: " O que é que tu queres?" Ao que o santo homem respondeu: "Portei-me bem na terra, agora quero entrar no céu." E o São Pedro lhe disse: "Hoje não entra ninguém porque está para chegar Sua Santidade o Papa. Volta de novo lá para baixo." E o bom homem lá teve de regressar á terra.

Entretanto, o bom homem começou a pensar em dar a volta ao assunto, melhor dito a São Pedro. Arranjou duas malas grandes, uma em cada mão, e foi de novo bater á porta do céu. Mal São Pedro lhe abriu a porta, ele gritou: "Bagagem do Papa!" Ao que São Pedro acrescentou: "Entra! Entra!"...

O João e a Vilma tinham requisitado uma cadeira de rodas para o João, devido à sua dificuldade de locomoção, e assim foi. A mala do João tinha apensa a etiqueta desta deficiência. O apoio prestado seria para o João e a Vilma como acompanhante, sendo eu excluído da companhia.

Foi então que me agarrei á mala do João e assim fui passando todas as portas e usufruindo todas as benesses adjacentes, sendo sempre os primeiros a entrar nos aviões.


Julho 3, quarta feira - Sal em vez de açúcar


Hoje, ao pequeno almoço, salvei o João de tomar "café abatanado com sal".

Tanto o João gosta de açúcar branco granulado que era desta vez que iria ficar todo salgado. Quando o chamei à atenção pôs o produto no dedo e provou, confirmou e disse: " Pois é!... Ainda bem que me avisaste". Sabendo nós quanto o João gosta de açúcar, com certeza que desta vez ele se converteria numa "pilha de sal".

Primeiras impressões


Este primeiro dia foi passado em visita ao castelo Rajhenburg (Grad Rajhenburg), que outrora foi monastério de monges trapistas, que deixaram bem vincada a sua presença nesta região pela sua forma de vida com o lema "ora et labora" (reza e trabalha).

O museu que nele podemos visitar dá-nos conta das atividades que realizavam neste monastério. Não menos importante foi o momento que passámos na esplanada, com vistas deslumbrantes, acompanhados de um bom sumo de maçã local.

Bem longe daqui fomos almoçar um "burgher de la maison" como nunca vi na minha vida: tudo natural, saboroso e vistoso, que um estômago normal não consegue acabar. Forças recuperadas, seguimos para Kostanjevica visitar a "Galeria Bozidar Jakac", onde a cultura e a arte se fundem com a natureza e a espiritualidade.

Um antigo mosteiro cisterciense da idade média que, a partir de 1974, abriga esta grande exposição de arte. Para além da imponência do edifício, é impressionante a explicação de arte moderna e contemporânea expressa sobretudo em madeira que se estende pelos campos circundantes, onde a arte e a natureza estão de braços dados.

Nada mais reconfortante que um bom gelado para selar este belo dia.


Julho 4, quinta feira - Liubliana, a capital


Hoje fomos rumo à capital, a terceira cidade da Europa mais amiga do ambiente, com muitos espaços verdes e muito bem organizada. É uma cidade aberta, circundada pelo rio Ljubljanica que faz dela uma ilha com grandes atrações.

Bastantes turistas passeando e visitando os sítios mais ícones, alguns utilizando o Bus turístico entre os quais estamos nós, e que nos leva aos principais locais previamente anunciados. Entretanto, sentimos o pulsar do coração da cidade que, â semelhança de Paris, apresenta a "ponte nova" bem mais ornamentada com grande variedade de quincalharia (aloquetes, porta-chaves, pins, emblemas, etc) que desperta continuadamente a curiosidade dos transeuntes.

Ficou na retina a visita à igreja franciscana na praça principal, onde se podem observar as pinturas em todo o corpo da igreja e principalmente do teto. Mas os meus olhos ficaram presos no esplendor do órgão de tubos que o coro do edifício suporta. Não ouvi o seu sonido mas deve ser esplendoroso o seu tocar.


Julho 5, sexta feira - De montanha em montanha.

Logo de manhã, aí vamos nós a caminho da primeira: .....?

Nada de diferente, até pararmos junto a uma árvore Bohor que o João e a Vilma depressa identificaram porque, há cinco anos nela gravaram os seus nomes, a data e um grande coração. Verificaram que tudo ainda estava em ordem, e adicionaram nova inscrição com a data de hoje, que foi selada com um beijo amoroso como documenta a foto que lhes tirei.

Um pouco mais abaixo fizemos paragem num chalet (café), que na entrada, do lado direito ostenta uma placa que data de 1944, e que assinala a reunião dos "partizans" antes da II. Grande Guerra.

Voltamos a casa para almoçar, partindo depois para a segunda montanha, bastante longe da anterior, a montanha de Svenica.

Muitas voltas, muitas curvas, muito arvoredo, muitas belas paisagens. Quão difícil e sinuoso é o caminho que leva ao céu!...

Também aqui, àentrada do café, está uma placa que assinala a presença de vários militares e "partizans " e onde o general Tito, e outras grandes patentes, tomaram as decisões e posições relativas a II Guerra Mundial

Que paisagem deslumbrante, ornamentada em terra por caminheiros estafados, e nos ares por voadores de parapente...


Julho 6, sábado 06.07 - Convívio da família Kracun


A família da Vilma (os que puderam e quiseram) resolveu encontrar-se hoje, na casa de um sobrinho que habita numa das montanhas próximas daqui, Bretanica, filho da mana Mariana, a mais velha das cinco mulheres Kracun.


O pai foi mineiro nas minas de carvão de pedra das quais já só existem vestígios de carris e vagões muito bem tratados para memória futura e coletiva desta atividade local. A mãe foi cozinheira e doméstica . Tiveram filhas (5) e, como diz a Vilma, o pai ficou radiante quando vieram ao mundo os primeiros meninos (rapazes). Por aqui ficaram a irmã mais velha Mariana e a irmã Zvonka. As outras procuraram outras andanças.

É uma família muito bem disposta, onde o sorriso, a simpatia e o bom acolhimento estão sempre presentes, e que encara as dificuldades da vida sempre com otimismo e sentido de humor. Por exemplo a irmã Mariana que no dia em que nós chegamos teve uma queda em que partiu a omoplata e ficou com vários hematomas na cabeça e outras partes do corpo, não para de sorrir por vezes até à gargalhada.

O convívio decorreu muito bem, em ambiente deveras familiar. E, até eu que era intruso, me senti á vontade neste meio. Foi um dia bem passado, onde arranjamos novos amigos e conhecimentos.


Obrigado, família Kracun.


Julho 07 - Domingo, toca-se o sino


Sinos, igrejas e castelos são coisas que aqui não faltam. Logo de manhã, ainda atarantado de levantar, os meus ouvidos são acossados pelo tocar escangalhado dos sinos da igreja de Bretanica que, em meu entendimento, serão de latão e não de bronze.

Por minha causa, a Vilma e o João atrasaram a missa em que pretendiam assistir. Em vez das 7 horas apontaram para as 10, até porque o pároco da terra celebrava os 50 anos de sacerdote. Muita gente, muita cerimônia, muitos padres, muitos paroquianos e muito tempo a aguentar.

E nós, que nem tínhamos a "veste nupcial" ( eu e o João estávamos em calções) começamos a sentir-nos deslocados e a ter de estar sempre em pé, algo insuportável sobretudo para o João. Foi então que, num ápice, decidimos abandonar o local rumo a outra igreja que, por sorte, estava em função, pois ouvia cantar cá de fora o Aleluia gregoriano. Foi o melhor que fizemos, pois pudemos participar numa missa com um ritual simples, agradável e com boa cantoria, coisa que muito me aprouve.

Depois foi o almoço e a visita mais um castelo.


Julho 8, seguna feira - Mais uma visita: mais um castelo

Foi o último a ser visitado. Belas paisagens, grandes horizontes. Não muito diferentes dos outros nas suas valências atuais, deixadas ao turismo, à hospedagem, aos eventos festivos nomeadamente concertos e refeições de casamento.

Desta região é o general Tito que durante bastantes anos foi o caudilho da Jugoslávia.


Julho 09, terça feira  - Há mar e mar... Há ir e voltar

Dia de regresso a Portugal.

Embora sem necessidade, levantamo-nos todos muito cedo. E vai daí, como ainda faltava muito tempo para o início da partida, o João convidou-me para irmos beber um café ao sítio que ele já bem conhecia, não muito longe daqui. No regresso a casa a pé, por um atalho, o João mostrou-me com nostalgia os cantinhos recatados aonde mais a Vilma davam beijos e abraços durante a lua de mel.

E pronto. Toca a arrumar as malas e a fazer as despedidas, porque é chegada a hora da partida, primeiro de carro até Zagreb (Croácia) e depois até Frankfurt e Lisboa.

Considerações:


(i) Sou um privilegiado por ter usufruído esta semana de vida na Eslovénia. No princípio renitente em aceitar o convite do João e da Vilma, mas, devido à pertinência do João, acabei por aceitar. E ainda bem. Foi uma oportunidade única de conhecer este belo país dos Balcãs.

(ii) A Eslovénia é um país verde onde a natureza é rainha. As montanhas e os vales verdejantes serpenteados por rios e ribeiras dão-lhe características únicas, muito semelhantes às paisagens de suíças mais conhecidas.

(iii) O nível de vida é bom. As pessoas são simples e amáveis, sem arrogância nem vaidades.

(iv) É um país muito arrumadinho, com hábitos de cidadania exemplares. Sem lixo nas ruas ou outras transgressões significantes. Um país seguro aonde se não tem medo de andar na rua. A emigração aqui em insignificante. Os albaneses estão em maior número e dedicam-se essencialmente à construção.

(v)  Agradeço de coração ao João e à Vilma e a toda a família Kracun  o acolhimento e a atenção de que fui alvo. Não mais esquecerei, e estou certo que a nossa amizade ficou ainda mais fortalecida.

Um Xi de coração para todos. Rui Chamusco.


E algumas fotos da visita do Rui Chamusco (e nossa também) à Eslovénia

por João Crisóstomo


Fotos nºs 1, 2, 3 e  4 > as primeiras quarto fotos são sobre dois castelos de Brestaniça, terra natal da Vilma. 

Na primeira foto pode-se ver o castelo principal no topo da montanha; abaixo um edifício que é a estação de caminho de ferro e do lado direito um outro castelo, bem mais pequeno que tem recebido pouca atenção e visível falta de manutenção.

Os castelos da Eslovénia ( ver fotos nºs 1, 6 e 7) são bem diferentes dos nossos castelos portugueses. Em Portugal chamar-lhes-iamos "mansões fortificadas”, a que algumas das nossas “pousadas" se assemelham.

O primeiro, no topo é um dos castelos mais conhecidos e bem cuidados da Eslovénia e que está muito relacionado com a Vilma. Este foi utilizado pelos Nazis durante a guerra como uma prisão onde ficavam os prisioneiros, antes de serem enviados para outros destinos, na maioria dos casos para os campos de concentração e extermínio.

O pai da Vilma esteve nele como prisioneiro, mas como era um homem habilidoso, especialmente como carpinteiro ( as janelas do castelo foram na maioria feitas ou reparadas por ele) cujas boas maneiras lhe granjeavam boa vontade mesmo dos alemães. Nas ocasiões em os prisioneiros iam ser distribuídos e enviados para outros destinos, os mesmos alemães avisavam-no e deixavam que ele se escondesse. E porque precisavam dele assim sucedeu até que a guerra acabou.

Ao visitarmos o castelo de repente dei com uma foto igual a uma que temos em nossa casa em Nova Iorque: é que esta foi durante temps a casa da Vilma que estava situada na margem do Rui Saba e onde ficavam as turbinas que durante muitos anos produziram electricidade para o castelo.

As fotos nºs 8, 9, 10 e 11 foram tiradas na bonita cidade de Liubliana, capital da Eslovénia. Parece-me que pela sua beleza se explicam por si mesmas, sendo as fotos j e k da igreja franciscana, que pela sua beleza é uma das coisas a não perder em qualquer visita.


Fotos nº 12A e B : foi coincidência e surpreza: no dia seguinte à nossa chegada recebi um email dum fotógrafo/jornalista amigo da Vilma que tinha ido a Nova Iorque há uns meses atrás (e que até foi a nossa casa ); queria "mais algumas informações”... Quando lhe disse que acabávamos de chegar,  combinamos encontrarmo-nos na capital, onde já tínhamos intenção de ir; e no dia seguinte saiu um artigo sobre a sua visita a nossa casa em Queens com bonitas fotos num dos diários da Eslovénia. Vale a pena estar casado com uma eslovena como a Vilma…

Fotos nºs 13,  14 e 15:   foram tiradas durante algumas passeatas: a foto nº 13  mostra o nosso reencontro com a nossa árvore especial na Eslovénia… a foto seguinte (14)  foi tirada numa passada ao longo dum pequeno lago perto da casa da Vilma, lugar de repouso, picnics, restaurante e passeatas. E a outra, duma placa , marca e lembra um primeiro encontro de Tito com outros dirigentes locais de preparação para o que seria a resistência aos Nazis (Foto n º 15.

A última foto (nº 16) é um “reconhecimento”: de volta a Portugal o Rui retomou s suas funções de chefe e o mordomo presente, cujo trabalho neste dia foi o de "descasca-batatas",  não teve qualquer hesitação em lhe conceder classificação condizente.


Mais um abraço, que nunca serão demasiados.


João Crisóstomo

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Nota do editor:

(*) Último poste da série 25 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25881: Tabanca da Diáspora Lusófona (24): As minhas férias possíveis em 2024: EUA, Portugal e Eslovénia - Parte I (João Crisóstomo)

1 comentário:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Brestanica, a terra da Vilma, está tristemente associada a uma das muitas valas comuns do tempo da II Guerra Mundial: o A Vala Comum da Ravina de Hafnar (em esloveno: Grobišče Hafnarjev graben) está localizado na Ravina Hafnar ao longo do Suhadol Creek, em frente ao Castelo Razhenburg. Contém os restos mortais de cerca de 186 soldados croatas e sérvios, bem como de 20 a 30 civis eslovenos.