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segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27355: O início da guerra (Armando Fonseca, ex-sold cond, Pel Rec Fox 42, mai 62 / jul 64) - Parte V: Depois de Ganturé, Sangonhá (maio / junho de 1964)

 

 Guiné > Região de Tombali > Sangonhá  > CCAÇ 1477 (1965/67) > O José Parente Dacosta, 1º cabo cripto, CCAÇ 1477 (Sangonha e Guileje, 1965/67), junto ao monumento da CART 640 ("Quartel ocupado e construído pela CART 640, desde 21/5/1964. [CART] 640 / RAP2".

Há poucas fotos de Sangonhá, Cacoca, Cameconde, quartéis que ficavam na linha fronteiriça e que irão ser abandonados, em 1968.

Foto (e legendas): © José Parente Dacosta (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Zona Sul > Região de Tombali > Carta de Cacoca (1960) (Escala 1/ 50 mil) > Posição relativa de Gadamael, Ganturé, Sangonhá, Cacoca, rio Cacine, fronteira com a Guiné-Conacri, parte do Quitafine/Cacine e do Cantanhez  

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025


O início da guerra (Armando Fonseca, ex-sold cond, Pel Rec Fox 42, mai 62 / jul 64)

Parte V - Depois de Ganturé, Sangonhá (mai/junho  64)


Depois de, em Ganturé, existirem as condições mínimas de sobrevivência para a instalação das tropas que aí permaneciam, o Pel Rec Fox 42 juntamente com tropas recém chegadas à Guiné   [CART 640 ] e com um Pelotão de Milícias rumou até Sangonhá a 21 de maio de 1964 [e não março, como por lapso indica o autor ].

Petromax a petróleo
marca Hipólito, modelo 
350
Como de costume segue-se a capinagem, a vedação de arame farpado em volta da tabanca, que seria agora um quartel, a colocação de cavaletes para instalação dos candeeiros a petróleo (petromaxes), a que alguns “valentes” iam dar pressão de ar durante a noite, sempre que necessário.

Também era norma que,  quando chegávamos a um novo local, não se consumia água da que ali existia sem ser certificado de que ela estava em boas condições de utilização, assim, recorria-se sempre ao aquartelamento mais próximo para nos abastecermos desse precioso líquido.

Então no dia 23 de maio de 1964, pela tarde lá vamos nós a Guileje encher os reservatórios de água regressando já ao lusco-fusco, âquela hora em que já não se vê muito bem mas também ainda não é preciso acender faróis.

Assim o IN que decerto nos vigiava não deu pela chegada dos carros da Cavalaria e entenderam ser muito fácil um ataque às tropas recem instaladas para mais que a maior parte tinha as pernas muito brancas,  o que indiciava pouca experiência naquelas andanças e que se tornaria uma tomada do local com a maior das simplicidades.

E, então pelo meio da noite de 23 para 24, qual não é o espanto do sentinela que se encontrava do lado da estrada que ligava a Guiné à Guiné-Conacri, quando vê aparecer um grupo de guerrilheiros pela estrada acima, descontraidamente a aproximar-se da entrada trazendo uma metralhadora e outros armamentos,  parecendo que passeavam. 

Essa sentinela chegou a estar confundido sem saber se devia atacar ou esperar julgando que eles se vinham entregar às nossas forças.

Entretanto quando eles se encontravam a cerca de vinte metros do arame, a sentinela que se encontrava dentro do granadeiro,  reagiu e fez uma rajada que despoletou um ataque feroz, à volta da aquartelamento. 


Parece ser uma metralhadora pesada,
 de calibre 12.7
de origem soviética,
a Degtyarev (DShK) m/938,
com tripé
Havia mais duas metralhadoras iguais à que aquele grupo transportava, cuja foto envio, e várias outras armas mais ligeiras, aquelas "costureirinhas" que quase todos conhecemos.

As nossas tropas reagiram e o tal grupo procurou uma elevação no terreno e instalaram-se para fazer fogo sobre nós, mas como os nossos carros tinham um grande poder de fogo, depressa o anulámos, isto com a ajuda do comandante da milícia, visto que a certa altura devido à proximidade do IN não se sabia muito bem de quem eram os tiros,  se das nossas tropas se do IN. 

Depois de anulado esse grupo cuja maioria ficou lá assim com o respectivo armamento, que se encontra no museu militar, todo o ataque foi sendo anulado e o IN retirou em debandada.

Ao raiar da aurora fomos então fazer o reconhecimento, e do grupo que fora avistado estavam seis mortos, a metralhadora, pistolas-metralhadoras e pistolas e um rolo de corda. 

Depois de examinados os outros locais de onde vieram os piores ataques, restavam montes de invólucros e os vestígios das metralhadoras terem sido arrastadas no final do ataque, pelo que se deduziu que o cordão encontrado seria exactamente para atar ao suporte da metralhadora para que um dos intervenientes recuasse para local seguro e puxasse a metralhadora no final do ataque, caso este corresse mal como foi o caso, só que neste caso não houve tempo para a execução dessa operação.

Passada esta primeira confusão, permanecemos em Sangonhá até 23 de junho  [de 1964 ], continuando a manter as devidas precauções e a segurança das tropas aí instaladas, até que eles atingissem a maturidade para se defenderem a si próprios.

Depois de Sangonhá, seguiu-se Cacoca (...) (**)

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)

2. Comentário do editor LG:

Há uma divergència de datas entre o texto acima reproduzido e a versão da CECA.  O Armando Fonseca queria dizer "maio" e não "março", aliás de acordo com o final  do poste anterior: "Permanecemos em Ganturé até 20 de maio. No dia seguinte fomos para Sangonhá (...) (**).

Excerto do livro da CECA (2014, pág. 250);

(...) Em 10Mai, forças das CArt 494 e 495 e Pel Rec Fox 42, com auxiliares Fulas, na região de Bomane, avistaram um grupo ln que e deslocava em direcção à fronteira. Montada uma emboscada e aberto fogo quando os guerrilheiros estavam a 5 metros, as nossas tropas provocaram 4 mortos ao ln e capturaram 1 prisioneiro e material diversificado.

No dia 21, conforme planeamento para controlar a fronteira sul, realizou-se a operação "Jacaré" com vista á ocupação de Sangonhá, em zona de intensa actividade inimiga.

Em 24, um grupo ln atacou, de todas as direcções, o estacionamento da CArt 494    [ou CART 640 ?, a CART 494, comandada pelo cap art Coutinho e Lima, estava em Gadamael, mas participou na Op Jacaré em Sangonhá, causando dois feridos; a reacção pronta das NT causou 5 mortos, 1 prisioneiro e ainda baixas não estimadas; capturada 1 metralhadora pesada e levantada 1 mina A/C "TM-46" na estrada para Gadamael Porto, além de numeroso material de guerra. (...)

Fonte:  Excerto de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª Edição; Lisboa (2014),  pág. 250.

Observ -  Sabemos, pela ficha de unidade, que a CART 640:

(i) chegou a Bissau em 3 de março de 1964;

(ii) após um curto período de permanência em Bissau,  onde fez a IAO, destacou dois pelotões
para a realização de operações na região de Cuntima, a partir de 24Mar64, em
reforço do BCaç 512;

(iii) em 08Abr64, foi deslocada para Farim para actuação em operações nas regiões de
Jumbembém, Cuntima e Jabicó, em reforço temporário do BCaç 512 e depois do
BCav 490; 

(iv) em 11Mai64, foi substituída pela CCav 487 e recolheu a Bissau até 20Mai64;

(v) em 21Mai64, um pelotão tomou parte na Op Jacaré para ocupação e instalação em Sangonhá, para onde a subunidade se deslocou, por fracções, entre 25Mai e 22Jun64, tendo repelido um forte ataque desencadeado em 24Mai64 e causado pesadas baixas ao inimigo;

(vi)  em 25Jun64, na sequência da Op Veloz, ocupou também com dois pelotões, a localidade de Cacoca, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 513 e depois do BCaç 1861.

(vii) pelo armamento e munições capturadas e baixas causadas ao inimigo, destaca-
-se a Op Gira  na região de Bantael Silá e um golpe de mão efectuado à tabanca de Mareia em 24Ju165, entre outras;

(viii) em 08 e 14Jan66, foi rendida no subsector de Sangonhá, por troca, pela CCaç 1477 (...)

____________

Notas do editor LG:


(*) Vd. poste de 22 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18125: Tabanca Grande (455): José Parente Dacosta, ou 'José Jacinto', ex-1º cabo cripto, CCAÇ 1477 (Sangonha e Guileje, 1965/67)... Natural da Covilhã, vive em Dijon, França... Passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 764.


domingo, 26 de janeiro de 2025

Guiné 61/74 - P26428: O segredo de... (48): António Medina (1939-2025) - Parte IV: Acredito na versão do Cajan Seidi sobre a vala comum de Jolmete (Manuel Carvalho, ex-fur mil armas pes inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70)


Guiné > Região do Cacheu > Zona Oeste  > Sector 01 (Teixeira Pinto) > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (1968/70) >  "Eu, com o Dandi e o Martins na chegada da operação em que apanhamos o RPG2 e três armas". (Dandi, natural de Jol, no chão manjaco, capitão da companhia de milícias do Pelundo, agraciado com Cruz de Guerra pelo Gen Spínola em 1972, será fuzilado pelo PAIGC em 1975)

Na foto, as armas capturadas ao PAIGC, de origem soviética: ds esquerda para a direita, uma pistola-metralhadora PPSH-41 ("costureirinha", na gíria da NT), um LGFog RPG2 e uma pistola-metralhadora Sudaev PPS-43 (vd. postes P5690 e P5682).



Guiné > Região do Cacheu > Zona Oeste  > Sector 01 (Teixeira Pinto) > Jolmete > CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (1968/70) >  Foto sem legenda: as "mulheres grandes" e a NT... Apoio médico-sanitário ?...  Nesta altura, a pouca população que existia, tinha sido "recuperada do mato"... Depois dos trágicos acontecimentos de junho/setembro de 1964, os sobreviventes (mulheres e crianças), ter-se-ão refugiado no mato...


Guiné > Região do Cacheu > Zona Oeste  > Sector 01 (Teixeira Pinto) > Jolmete >  CCaç 2366 / BCAÇ 2845 (1968/70) >  Vista (parcial) da tabanca (terá sido incendiada pela própria população em meados de 1964, segundo a informação do António Medina)
 

Fotos (e legendas): © Manuel Carvalho (2012). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. C
omentário do nosso camarada Manuel Carvalho (ex-fur mil armas pesadas inf, CCAÇ 2366 / BCAÇ 2845, Jolmete, 1968/70) ao poste P18988 (*):



(...) "Pois o Cajan foi um dos nossos valentes milícias de Jolmete,  conhecia muito bem a zona e foi muitas vezes o homem da frente, é bom vê-lo ainda com alguma saúde, também não andará longe dos setenta anos.

A Amélia que está na segunda foto de vestido rosa,  continua muito franzininha como era há 50 anos mas tratava muito bem da roupa de muitos de nós e até julgo que tinha algumas mais velhas,  suas colaboradoras. Quem quiser ver como ela era há 50 anos,  tenho uma foto com ela ao colo no poste P10191 (**).

Sou dos que acreditam na história que o Cajan conta sobre o aniquilamento de cerca de vinte Homens Grandes da população de Jolmete.

(Revisão / fixação de texto: LG)


domingo, 8 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 – P26246: Armamento (12): Apresentação do livro "G3 - A Grande Arma Nacional" (Luís Dias)

1. Mensagem do nosso camarada Luís Dias (ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74):

Apresentação do livro "G3 A GRANDE ARMA NACIONAL"

Camaradas,

Estive ontem presente no lançamento deste livro e escrevi um pequeno texto sobre o evento. Se achares de interesse e útil para colocares no "Luís Graça & Camaradas da Guiné", estás à vontade. Grande abraço. Luís Dias

Ontem, por convite do autor, tive o grato prazer de assistir no Palácio dos Marqueses do Lavradio, no Campo de Santa Clara, em Lisboa, ao lançamento do livro, “G3 A GRANDE ARMA NACIONAL”, de Pedro Manuel Monteiro, editado pela “Conta Corrente”, onde dei um pequeno contributo sobre as diferenças em combate entre a HK G3A3 e as Kalashnikov, nos modelos AK-47, AKM e outros modelos das mesmas fabricados por países do Bloco Leste e pela China, que apoiavam na Guiné o PAIGC, que se enfrentavam no meu tempo de combatente na Guiné (1971-1974).

Na presidência da mesa encontrava-se o Vice-Chefe do Estado-Maior do Exército, o Tenente-General, Paulo Emanuel Maia Pereira. Na assistência diversos oficiais generais, oficiais superiores, quer ainda no activo, quer na reforma e muitos civis, entre eles, antigos funcionários do extinto INDEP.

No discurso do Tenente-General, houve um momento em que foi referida a presença e foi aplaudido de pé, uma pessoa por quem tenho grande admiração, o Coronel Tirocinado Comando, Raúl Folques que, no meu tempo de Guiné, foi o Comandante do Batalhão de Comandos, cargo onde substituiu o então Major Almeida Bruno e que, como se sabe, fez parte da 1ª companhia de comandos formada em Angola e que é um dos heróis de Portugal.

Nos anos da Guerra de África a espingarda automática HK G3 (também designada de espingarda de batalha, devido ao calibre potente que utilizava - 7,62x51mmNATO - e no formato convencional), terá passado pelas mãos de perto de um milhão de portugueses e foi a arma que Portugal escolheu, a partir de 1961, para enfrentar os movimentos independentistas nas províncias ultramarinas, iniciando-se em Portugal a sua produção, sob licença da Alemanha (então RFA), em 1962, e a sua atribuição oficial às forças armadas a partir de 1963. 

Foi esta espingarda, encimada no cano por um cravo, que se revelou um símbolo da Revolução de 25 de Abril de 1974, para toda a gente.

Após o fim da guerra em África, esta arma continuou a ser importante nas missões atribuídas às nossas forças armadas pela ONU ou no âmbito da UE, em diversas partes do mundo (Timor, Letónia, Roménia, República Centro-Africana, Moçambique, Guiné-Bissau, Somália, Mali, Afeganistão, Alemanha, Polónia e Kosovo).

As fábricas FMBP e INDEP terão produzido 442 197 G3, entre 1963 e 1988, segundo Relatórios de Contas destas fábricas referidos no livro em apreço e que serviu no nosso país por cerca de 60 anos, estando a ser substituída no Exército pela FN SCAR, modelo L e H e na Armada pela HK416. A G3, em conjunto com o mosquete “Brown Bess” de 1808, é arma recebida em maior quantidade pelo Exército Português, bem como uma das que é usada há mais tempo. 

A G3, era e é uma excepcional arma de guerra, com um projéctil poderoso – o 7,62x51mmNATO, que depois de ter sido trocado pelo calibre 5,56mmNATO, está novamente a ser recuperado, para novas gerações de espingardas de batalha e que tinha um som característico e forte que dava confiança a quem a usava. 

A G3 necessitava de alguns cuidados na limpeza (cabeça da culatra), mas em geral trabalhava bem, mesmo nas condições adversas em que foram utilizadas em África. Tinha o senão de ser uma arma grande e pesada para o tipo de guerra de guerrilha que enfrentávamos, mas também tinha um alcance útil superior às armas do inimigo e era também mais estável e precisa no tiro que as armas adversárias. 

O seu depósito de munições tinha uma capacidade inferior ao da kalashnikov mas, por outro lado, tinha um perfil mais baixo, evitando que o utilizador se elevasse demasiado, quando na posição de deitado, diminuindo significativamente a silhueta e, ao contrário da kalashnikov que possuía um carregador curvo e comprido, não tinha necessidade de se torcer para introduzir um novo carregador na arma. Também o comutador do tiro era mais simples de utilizar do que da arma preferencial rival e era silencioso, ao contrário do da AK-47 e AKM que faziam ruídos de clic, na movimentação para tiro a tiro e para fogo de rajada, o que no mato podia fazer a diferença.

O mecanismo operativo da espingarda automática HK-G3, apresentado em 1959 na então RFA é originário e semelhante ao da StG45 (Mauser) alemã, de 1945 e da CETME espanhola de 1952. O seu funcionamento é por inércia, actuando os gases sobre a superfície interna do invólucro e a culatra retarda a sua abertura (“Roller-delayed blowback”) pela acção conjunta dos roletes de travamento (alojados na cabeça da culatra), da massa da culatra e da mola recuperadora. O percutor está alojado no interior do bloco da culatra, dando-se a percussão pela pancada do cão (existente ao nível do gatilho) sobre a cauda do percutor. A alimentação é garantida pela mola do depósito (carregador). O extractor de garra, situado na cabeça da culatra, efectua a extracção da cápsula detonada no movimento de abertura da culatra e a ejecção dá-se quando a base da mesma encontra (ao nível do punho), um ejector de alavanca. Após o consumo das munições do depósito, a culatra não fica retida à retaguarda, como na FN FAL.

No tempo da Guerra de África, era conhecido o “amor” entre o combatente e a sua G3, apelidando-a, de “namorada”, a “minha querida”, a “minha amada” ou também por algum nome feminino de alguma mulher pela qual estivessem encantados. De facto, a maior parte dos militares dormiam com ela sempre ao lado, fosse no mato ou no quartel. Outros, fotografavam a arma e colocavam os dizeres “devo-te a vida”.

Luís Dias
ex-Alf Mil da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872
____________

Nota do editor

Último poste da série > 
12 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21534: Armamento (11): Material apreendido ao PAIGC em 1972 e 1973, em Galomaro e Dulombi (Luís Dias, ex-alf mil, CCAÇ 3491, Dulombi e Galomaro, 1971/74)

sábado, 12 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26037: Por onde andam os nossos fotógrafos? (27): Victor Condeço (1943-2010), o ex-fur mil mec armamento, CCS/BART 1913 (1967/69), que documentou como ninguém o quotidiano da linda vila de Catió - Parte V



Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Anti-aéreas Degtyarev, de origem russa.


Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Espingarda com alça telescópica, V 3272, calibre 7,62. Origem: URSS. (Era usada pelos "snippers".)


Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Met Lig MG 42. 



Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Em primeiro plano, Metralhadora Ligeira MG 42, Borsig, calibre 7,92. Origem: Alemanha Oriental. (Também era usada pelas NT, e nomeadeamente pelo BCP 12.)


Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > A pistola-metralhadora Sudaev, PPS, m/1943 PPS, variante da famosa costureirinha. Origem: URSS.

Segundo a Wikipedia, a PPS-43 é uma variante da PPSH-41. Foi desenhada por Aleksei Sudaev e testada, com grande eficácia, na Batalha de Estalinegrado. Foi o resultado da simplificação da PPSH-41. É considerada a melhor pistola-metralhadora da Segunda Guerra Mundial.



Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Passagem do cortejo junto à catedral de Bissau, na Av da República, a principal artéria da cidade.


Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2010).Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. São fotos do álbum do nosso querido e saudoso amigo e camarada Victor Condeço ("Vitinho", para os amigos de Catió), um dos históricos da nossa Tabanca Grande: sentou-se à sombra do nosso poilão em 3/12/2006.

O Victor Condeço (ex- fur mil mecânico de armamento, CCS / BART 1913, Catió, 1967/69) era natural do Entroncamento.  Discreto, afável e prestável, colaborou connosco, de diversas maneiras. Adorava o nosso e seu blogue. Morreu prematuramnete, de cancro.

Tem 6 dezenas de referências no nosso blogue. 14 anos depois, da sua morte, estava na altura de revisitar o seu álbum, com belíssimas fotos da linda vila de Catió, e dos arredores (Ganjola, Cufar...), que ele meticulosa e carinhosamente deixou organizadas, por áreas temáticas e e devidamente legendadas... Estão dispersas no nosso blogue.

Estas que hoje republicamos, reeditadas, embora sendo do meu álbum fotográfico, estas fotos não foram tiradas por ele, mas sim pelo delegado do seu natalhão, o BART 1913, em Bissau: "Estas fotografias retratam uma exposição de armamento capturado ao PAIGC que teve lugar na Amura em Bissau, quando da visita do Presidente da República Américo Tomás em Fevereiro de 1968 à Guiné."  (*) 
 

domingo, 23 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25677: Elementos para a história dos Pel Caç Nat 52, 54 e 63 que, ao tempo da BART 2917 (Bambadinca, jun 70 / mar 72), estavam destacados no Sector L1 - Parte II

 

Guiné > Região de Bafatá  > Sector L1 > Bambadinca > Mato Cão > O ten cor Polidoro Monteiro, último comandante do BART 2917, o alf médico Vilar e o alf mil Paulo Santiago, cmdt do Pel Caç Nat 53 (Saltinho) e depois instrutor de milícias (no CIM de Bambadinca)  com um crocodilo juvenil  do rio Geba... 

Foto tirada em novembro ou dezembro de 1971 no Mato Cão, após ocupação da zona com vista à construção de um destacamento, encarregue de proteger a navegação no Geba Estreito e impedir as infiltrações na guerrilha no reordenamento de Nhabijões, um enorme conjunto de tabancas de população balanta e mandinga tradicionalmente "sob duplo controlo".

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá  > Sector L1 (Bambadinca) > Destacamento do Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1973 > O alf mil Joaquim Mexia Alves, posando com um babuíno (macaco-cão) mais o Braima Candé (em primeiro plano), tendo na segunda fila, de pé, o seu impedido, o Mamadu, ladeado pelo Manga Turé. 

Foto (e legenda): © Joaquim Mexia Alves  (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mato Cão >  Pel Caç Nat 52 (1973 /74) >   Vista do Rio Geba e bolanha de Nhabijões, a partir do "planalto" do Mato Cão.  Foto do último cmdt do Pelotão, alf mil  Luís Mourato Oliveira.

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Em 1 de julho de 1971, ao tempo do BART 2917 (Bambadinca, junho 1970/maio 1972), era a seguinte dispositivo das NT no Sector L1 (Zona Leste), no que diz respeito aos Pel Caç Nat 52, 54 e 63

  • Pel Caç Nat 52 >  Fá Mandinga;
  • Pel Caç Nat 54 > Bambadinca;
  • Pel Caç Nat 63 > Missirá (reforçado por 1 Pel Mil 202 / CMil 1) e a seguir Mato Cão

Maio 71

Op Triângulo Vermelho - 4 e 5mai71

Na região de Enxalé-Cuor, sector L1, foi feito um patrulhamento por forças de 3 GComb/CArt 2715 (Xime), CCaç 12 (Bambadinca), CCP 123 (Bissalanca) e 1 Pel Caç 54 (Bambadinca). 

O lN flagelou as NT, causando 2 mortos e 9 feridos e sofrendo 4 mortos.

Destruídas 12 tabancas, 20 moranças e meios de vida. Capturado 1 elemento armado com esp "Mauser" e documentos diversos.

Agosto 71

28ago71

- Um grupo IN estimado em cerca de 10 elementos flagelou com LROCK, RPG-2 e ARMAUTLIG, de Mato Cão, o barco “Manuel Barbosa” causando 8 feridos graves, e 9 feridos ligeiros.

- Pelas 14,50 horas uma Secção do Pel Caç Nat 52 iniciou a progressão em meio auto com destino a Finete onde se juntaria uma Secção do Pel Mil  201.

- Às 15,10 horas, em [BAMBADINCA 4C2-84], a viatura Unimog 411 de matrícula “ME-18-93” accionou uma mina A/P reforçada, com a roda da frente do lado direito, ficando completamente destruída e provocando ferimentos na quase totalidade dos elementos das NT que nela seguiam, nomeadamente no 2º cabo atirador Nhaga Maque do Pel Caç Nat  52 que veio mais tarde a falecer em Bambadinca como consequência dos ferimentos recebidos.

- Após o accionamento da mina o sold cond Manuel Castro Ribeiro Silva   da CCS/BART 2917 mas destacado no Pel Caç Nat 52, assumiu o Comando da Secção, instalando os seus companheiros e montando um dispositivo de segurança à viatura com os elementos mais válidos após o que se deslocou a Bambadinca, transportando aos ombros um dos feridos, a fim de avisar as NT sedeadas neste aquartelamento.

- Imediatamente se deslocou de Bambadinca uma Secção da CCAÇ 12 (acompanhada de um enfermeiro e macas) que se encarregou do transporte dos feridos de Finete, para onde as milícias desta tabanca, que imediatamente acorreram ao local do acionamento da mina os tinham já transportado, para Bambadinca.

- Num reconhecimento feito posteriormente não foi detectada a colocação de mais qualquer engenho explosivo, tendo-se no entanto detectado em [BAMBADINCA 4C7-74], vestígios de instalação em emboscada de um Grupo IN estimado em cerca de 10 elementos, o que vem confirmar declarações de milícias em Finete que dizem ter ouvido alguns tiros.

Novembro  71

2-7nov71

Op Tareco Vilão I

(Desenrolar da acção)

- No dia 2 de novembro pelas 8,30 horas os 2 Gr Comb da CCAÇ 12 (Bambadinca) deslocaram-se em meios auto de Bambadinca  para o Porto (fluvial) de Bambadinca de onde em meios fluviais [barco sintex], prosseguiram para Mato Cão, onde chegaram cerca das 21,00 horas.

- Substituíram então, no local, os Gr Comb  da CCAÇ 12 empenhados na Op Tudo Vale , montando uma rede de emboscadas nos trilhos de acesso mais provável do IN ao Destacamento de Mato Cão, garantindo a segurança com a colaboração do Pel Caç Nat  63, do pessoal que procede à instalação daquele Destacamento.

- No dia 3 pelas 13,30 horas, um Grupo IN estimado em cerca de 40 elementos flagelou com RPG-2 e Arm Aut Lig de [BAMBADINCA 1H97-61], apoiados por RPG-7 e Mort 82, o estacionamento de Mato Cão,  causando 2 feridos graves e 8 ligeiros.

- As NT reagiram imediatamente obrigando o IN a retirar, com baixas prováveis.

- Feito reconhecimento à área de instalação IN,  detectaram-se vestígios de IN ter aproximado e retirado na direcção de Chicri, tendo-se encontrado vários vestígios de sangue.

- No dia 6 pelas 16,55 horas, um Grupo IN não estimado flagelou da direcção de Chicri o estacionamento de Mato Cão e as forças de segurança ao mesmo, durante 5 minutos com Mort 82 e LRock.

- As NT reagiram prontamente pelo fogo de Mort 81 obrigando o IN a retirar.

- Posteriormente o 20º Pel Art (Xime) bateu os trilhos prováveis de retirada.

- Não foi feita uma conveniente batida imediata por, após os tiros de artilharia, ter anoitecido sendo a visibilidade muito fraca.

- No dia 7 pelas 6,45 horas quando o Pel Caç Nat 63 explorava o contacto havido ao anoitecer do dia 6 reconhecendo a mata a Norte de arame farpado detectaram a cerca de 600 metros do mesmo, numeroso Grupo IN estimado em 50 elementos que ali se encontrava emboscado.

- As NT imediatamente abriram fogo, tendo o IN,  ao sentir-se descoberto, reagido com RPG-2, RPG-7, Mort 60 e Arm Aut Lig  ao mesmo tempo que um outro Grupo IN localizado mais para Norte e a uns 500 metros do primeiro, começou a flagelar o estacionamento de Mato Cão  com Mort  82 e RPG-7.

- As NT imediatamente exploraram o contacto manobrando pelo fogo e movimento obrigando o IN a retirar.

- Apesar da pronta e enérgica reacção do Pel Caç Nat  63,  o IN conseguiu ao fim de cerca de um minuto quebrar o contacto em virtude do Pelotão ter esgotado as munições de MorT 60 e dilagrama que transportava consigo, cujo consumo foi maior do que seria de prever num contacto deste tipo em virtude do LGFog. 8,9 cm não ter funcionado.

- Remuniciado, o Pel Caç Nat 63 prosseguiu na batida tendo encontrado abandonado no terreno um morto, armado de pistola CESKA ZBROJOVKA m/1927, de origem checa, identificado por documentos que possuía como sendo Mário Campos, e uma granada de RPG-7.

- Foram ainda detectados vestígios e vistos elementos IN arrastando mais cinco corpos de elementos feridos ou mortos pelas NT.

- Entretanto, primeiro, os Mort 81 do Destacamento e posteriormente o 20º Pel Art /BAC 7  (10,5 cm) (Xime) batiam os itinerários previsíveis de retirada tendo o Pel Caç Nat  63 verificado que alguns dos impactos de artilharia se situavam sobre o trilho seguido pelo IN e nas suas imediações encontrava-se muito sangue.

- Neste contacto as NT sofreram 3 feridos graves e 9 (um civil) ligeiros sendo um ferido grave e 3 ligeiros proveniente do contacto directo com o IN e os restantes como consequência da flagelação ao estacionamento.

- No dia 7 pelas 14,30 horas, os 2 Gr Comb  da CCAÇ 12,  após serem substituídos no local pelas NT empenhadas na Op Tareco Vilão II II, iniciaram progressão em meios fluviais [Barco Girassol] para Bambadinca, permanecendo o Pel Caç Nat  63 e uma Secção do Pel Mil  202 em Mato Cão, onde chegaram cerca das 16,00 horas

Fonte: História do BART 2917, de 15nov1969 a 27mar1972, mimeog, 182 pp. (Cópia, em formo digital, gentilmente cedida por Benjamim Durães)



Guiné > Região de Bafatá > Carta de Bambadinca (1955) > Escala de 1/50 mil > Detalhes: posição relativa de Bambadinca, Nhabijões, Mato Cão, Missirá, Sancorlá e Salá. O PAIGC só mandava (alguma coisa), a partir de Salá... tendo "barracas", mas a noroeste, na zona de Madina / Belel). Já no OIo havia a "base central" de Sara Sarauol... O destacamento, mais a norte de Bambadinca, no setor L1. era Missirá, guarnecido por um Pel Caç Nat (52 ou 63, em diferentes períodos) e um pelotão de milícias... Vários camaradas nossos, membros da Tabanca Grande, andaram por outros sítios, "pouco recomendáveis"... A Madina/ Belel (que já não vem neste excerto do mapa) ia-se uma vez por ano, na época seca...para dar e levar porrada.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)


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quinta-feira, 6 de junho de 2024

Guiné 61/74 - P25612: Os 50 anos do 25 de Abril (26): A exposição, na Gare Marítima de Alcântara, sobre os antecendentes e a origem (com enfoque na guerrra colonial) e os protagonistas do 25 de Abril de 1974... Para ver até 26 de junho - Parte I: Os bodes expiatórios do regime

 


Lisboa > Administração do Porto de Lisboa >  Gare Marítima de Alcàntara  (um belo edifício da arquitetura estado-novista, inaugurado em 1943, da autoria do arquiteto Pardal Monteiro, decorado com painéis a fresco de Almada Negreiros) > Fachada do edifício com os cartazes da Exposição "MFA 25A - O Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril". Horário: de quarta feira a domingo, das 14h00 às 20h00, de 14 de abril a 26 de junho de 2024.


1. Já aqui demos o devido destaque à exposição 'O MFA e o 25 de Abril', que  é uma iniciativa da Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril, de curadoria partilhada com a Associação 25 de Abril e em parceria com o Porto de Lisboa (*).

"Esta exposição pretende ilustrar o papel do Movimento das Forças Armadas (MFA) no derrube da ditadura e na construção da Democracia, através do recurso a materiais iconográficos, audiovisuais e sonoros. Será dinamizada através de visitas guiadas, conferências, debates e espetáculos, e complementada por um dossiê multimédia." (Fonte: Comissão Comemorativa 50 anosdo 25 de Abril).


Só há dias, em 26 de maio último, um domingo à tarde,  consegui lá dar um salto. Fiz bastantes fotos (cerca de 150). A exposição está bem orgsnizada por blocos temáticos, mas é muito extensa. Hora e meia foi o tempo que eu gastei. Julgo que para o grande público tem excesso de informação e cronologias (fitas do tempo) muito detalhadas. (Tem um erro fctual imperdoável: dar Madina do Boé como local onde o PAIGC proclamou a independência unilateral da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973.)

Os blocos temáticos são os seguintes: 

0. Memorial aos presos políticos; 1. A queda dos impérios colonais; 2. A guerra colonial; 3. Os militares, os bodes expiatórios do regime; 4.A conspiração; 5. O dia 25 de Abril; e 6. O legado do MFA.

O curador desta exposição, da parte da A25A, é o comandante, capitão-de-mar-e-guerra ref, Pedro Lauret, um dos "históricos" do nosso blogue: recorde-se que ele foi combatente no TO da Guiné, na qualidade de imediato da LFG Orion, de 1971 a 1973; tem 36 referências no nosso blogue; e foi um dos participantes do I Encontro Nacional da Tabanca Grande, na Ameira, Montemor-o-Novo, em 14 de outubro de 2006.

É uma exposição a não perder, sobre os antecedentes (próximos e afastados). a origem e os protagonistas do 25 de Abril: 

"Os oficiais do MFA tinham capacidade de comando, coragem, determinação e conhecimento operacional para que, no dia 25 de Abril, às três da manhã, de cerca de 30 unidades diferentes, de Norte a Sul do Pais, em simultàneo, saíssem  forças rumo aos seus objetivos, numa operação - Operação Viragem Histórica -  extraordinariamente bem concebida, planeada, conduzida e executada" (Fonte: excerto da folha de sala).

Faltam menos de 3 semanas para encerrar (**). Hoje reproduzimos alguns dos painéis do Bloco 3 (Os militares, os bodes expiatórios do regime) bem como do Bloco 2 (A guerra colonial), e nomeadamente imagens do armamento, das NT e do IN,  que está exposto em vitrinas.


Bloco 3 - Os militares, os bodes expiatórios do regime








Bloco 2 - A Guerra Colonial: armamento do IN e das NT









 Imagens colhidas e editadas por LG (2024), com a devida vénia...

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29  de abril de DE 2024 > Guiné 61/74 - P25457: Os 50 anos do 25 de Abril (15): Exposição na Gare Marítima de Alcântara, Porto de Lisboa, até 26 de junho próximo, de 4ª feira a domingo, entre as 14h00 e as 20h00: "O Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril": curador, Pedro Lauret, Capitão-de-Mar-e-Guerra Ref


(**) Último poste da série > 3 de junho de  2024 > Guiné 61/74 - P25598: Os 50 anos do 25 de Abril (25): Hoje, na RTP1, às 21:01, o 8º (e penúltimo) episódio da série documental, "A Conspiração", do realizador António-Pedro Vasconcelos (1939-2024)

quinta-feira, 23 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25555: Fotos à procura de... uma legenda (180): não sendo a G3, que espingarda automática empunham estes dois militares do BCP 21, no Leste de Angola, c. 1970/72 ?


Angola > Leste > O alf mil paraquedista Jaime Silva, do BCP 21 (1970/72), em 1970, a norte do Rio Cassai... Alguns leitores fizeram comentários sobre o tipo de arma que os dois militares empunham... Não era, de facto,  a G3, que equipava os paraquedistas, pelo menos no meu tempo, no CTIG...Oportunamente, o nosso camarada Jaime Silva, que tem uma forte ligação à Guiné e aos paraquedistas, mas fez a sua comissão de serviço em Angola, nos poderá esclarecer esta dúvida.

Foto (e legenda) © Jaime Bonifácio Marques da Silva (2022). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentou o nosso camarada e tabanqueiro Victor Costa, ex-fur mil at inf, CCaç4541/72 (Safim, 1974):

A arma dos militares atravessando terreno alagado, na fotografia,  é parecida com a 5.56mm Colt XM177E2 Commando.

Projetado por Eugene Stoner, o M16 surgiu primeiro como o AR-10 de 7.62mm, em meados dos anos 1950, seguido pelo AR-15, adaptado para a munição de 5,56mm. 

A arma teve exportação significativa para o Sudeste Asiático, Reino Unido, Força Aérea dos EUA e,  finalmente, o Exército dos EUA, que lhe deu a designação M16. 

A promessa inicial não foi cumprida, quase na totalidade, nos primeiros anos de serviço no Vietname, onde revelou tendência para encravar em combate, tendo que ser mantido muito limpo (algo difícil de conseguir na selva). Descobriu-se que o problema se devia a uma nova carga propulsora. 

As modificações na arma e na carga propulsora produziram uma excelente espingarda automática,  o M16A1. O fabrico em plástico e aço prensado tornou-o mais leve e a elevada velocidade da munição compensou o seu pequeno calibre, em combate. O M16 surge numa variedade de formas modificadas, incluindo versões de cano pesado e curto. (...). 

Esta versão tem a designação de 5.56mm Colt XM177E2 Commando (...).
 
23 de maio de 2024 às 19:09 


2. Nota do editor LG:

Os nossos leitores não precisam de convite para confirmar, informar ou completar esta informação do Victor Costa (**).  Os nossos camaradas paraquedistas estão à altura de dizer algo mais sobre esta espingarda automática, usada por volta de 1970/72, pelo BCP 21, em Angola, nomeadamente no Leste. 

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25192: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte V: E se o aeroporto de Bissalanca e a cidade de Bissau fossem alvo de um ataque aéreo ? Em 23 de fevereiro de 1974 foi considerado inoperacional o material de deteção de alvos e de tiro...

Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > BCAÇ 3852 (1971/73 > Antiaérea do tempo da II Guerra Mundial... "Simulando o ataque a um avião inimigo. Cada tiro, cada melro... pois aviões cá tem... A tropa não deixa de me surpreender: antiaéreas em Aldeia Formosa? Os "nossos amigos", ou IN, tinham mísseis terra-ar Strela (em março de 1973)", diz o Joaquim Costa...(*)

Que arma seria esta? E de que calibre? Parece ser uma peça AA 9,4 cm... A CCAV 8351 esteve em Aldeia Formosa entre meados de novembro de 1972 e princípios de abril de 1973... 

Nesta altura o pelotão AA que aqui estava, devia pertencer à Btr AAA 7040/72 (Out 72 / ago 74). Sabe-se  que o Btr AAA 7040/72 substituiu a Btr AAA3381, a partir de 1Jan73, no comando e controlo dos Pelotões da Nova Lamego, Aldeia Formosa e Nhacra. 

A bataria seguinte, a Btr AAA 7041/72, em 23Fev74, em virtude da inoperacionalidade do material de deteção de alvos e de tiro, foi desativada. A dois neses do 25 de Abril, o material 9,4 cm foi considerado inoperacional, tornando-se  necessário a criação de um Grupo de Artilharia Antiaérea da Guiné (GAAA)  (que já não chegou a sair do papel)...

Foto (e legenda): © Joaquim Costa (2021). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Base naval do Alfeite da Marinha , 
30 de abril de 1974

Foto (e legenda): © Fernando Vaz Antunes (2014). Todos os direitos reservados. 
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em todas as épocas, em todas as guerras, em todos os regimes, todos os chefes têm a sua 23ª hora... Muitos de nós, antigos combatentes, já não estávamos lá no CTIG, quando o gen Spínola bateu com a porta a Marcello Caetano e foi substituído pelo gen Bettencourt Rodrigues. Este foi o último Governador e Comandante-chefe do CTIG: a sua história efémera passa-se entre 29 de setembro de 1973 e 26 de abril de 1974. (**)

Quem já não estava lá, tem direito a saber (é esse o papel do nosso blogue) como foi a 23ª hora deste militar com carreira brilhante que acabou por fechar um capítulo da história de Portugal com 500 anos. 

Ele quexou-se em 1997, em depoimento sobre a descolonização da Guiné (no âmbito dos Estudos Gerais da Arrábida), que não teve tempo para fazer o que se propunha (que era a retração do dispositivo militar, de 225 guarnições para 80 e tal) porque entretanto foi preso e destituído em 26 de abril de 1974.

Naquele que consideramos o seu "testamento político-militar" (o seu depoimento para o livro, escrito por ele e mais 3 generais, J. da Luz Cunha, Kaúlza de Arriaga e Slvino Silvério Marques, "Africa: a vitória traída", Braga, Intervenção, 1977, pp. 103-143), não há estranhamente a mais pequena referência à defesa antiaérea da cidade e do aeroporto de Bissau bem como  das localidades mais importantes, vulneráves a um eventual ataque aéreo inimigo.

Sabe-se hoje que a continuação da guerra  não  estaria em causa, a não ser em  caso de entrar  em cena a aviação inimiga (que o PAIGC ainda não tinha, mas que  também podia ser a de algum dos países amigos do PAIGC, como a Guiné-Conacri onde o PAIGC tinha a sua confortável retaguarda, pese embora o regime de Séku Touré ser então uma ditadura brutal e sanguinária).

Esta questão, o palno de defesa aniaérea da Guiné, também não tem sido abordada no nosso blogue. O único "catedrático" em AAA é o nosso amigo To Zé, cor art ref António José Pereira da Costa, que, enquanto capitão, foi o primeiro a comandar a Btr AAA 3434, "As Avezinhas" (Bissau, 1971/73).
  

Excertos de CECA (2015):

• Decisão de 25Fev74 - Reorganização da AAA no TO da Guiné - proposta apresentada pelo Delegado da DEFNACIEME, Ten-Cor Art Luis M.D.A. Corte Real

"1. A DEFNAC/EME [Defa Nacional / Estado Maior do Exército] através do seu delegado, Ten Cor Corte Real, atendendo a que o material de Art de 9,4 cm não oferece condições de operacionalidade,  propõe que se deixe de utilizar, no TO daGuiné, o material de 9,4 cm em missões de AA, para o que:

- se adaptaria a BtrAAA 7043/73 (9,4 cm) a ligeira (4 cm).

- não seria rendida, no final da sua comissão (21 meses em Julho) a BtrAAA 7041/72 (9,4 cm).

 2. Após discussão do problema em reunião de Comandos, em250900Fev74, decido:

a. Concordar com a transformação da BtrAAA (9,4 cm) 7043/73 em BtrAAA (4 cm) com os problemas inerentes à sua adaptação (aumento de efectivos e instrução).

b. Aceitar a não rendição da BtrAAA (9,4 cm) 7041/72, aproveitando a disponibilidade daí resultantes para a reorganização,que se considera indispensável, da estrutura antiaérea do TO..

Assim, considera-se necessário a criação de um Grupo de Artilharia Antiaérea, com possibilidades de exercer o Comando táctico de toda a AAA do TO e acionar o funcionamento do Serviço de Informações e do Centro de Operações da AAA, e ainda, garantir:

- as transmissões entre os órgãos da AAA e as armas;

- a administração do pessoal das Batarias AA;

- a manutenção do material;

- a instrução do pessoal a formar no TO. [... ]"

Fonte: CECA (2015), pp. 464/465

Anexo n" 3 - Subunidades de Artilharia Antiaérea" (CECA, 2015):

[ Extracto da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, 7° Volume Tomo II - "Fichas dasnidades Guiné",  da CECA, EME. Sobre este assunto consulte-se o artigo "A Artilharia Antiaérea noUltramar" do Coronel de Artilharia António José Pereira da Costa - Boletim da Artilharia Antiaérean" 3 - II Série, Outubro 2003 - Edição Especial do RAAA nº 1.]

(...) -  Quando do início da luta armada com o PAIGC, em Janeiro de 1963, já se encontrava, há um ano, instalado no aeroporto de Bissalanca (Bissau), o Pelotão de Artilharia Antiaérea n° 43, dotado de radar com peças AA 4cm "Bofors M-42/60" e metr AA quádruplas 12,7mm, para garantir a defesa AA a baixas altitudes. 

No início de 1964 foi rendido pelo Pel AAA 943; em Janeiro de 1966 este foi substituído pelo Pel AAA 1066; em princípios de 1968 nova rendição pelo Pel AAA 1257; em meados de 1969, chegou o Pel AAA 2141 e em 1970 o Pel AAA 3001.

Este último foi destacado para Nova Lamego (Sector L3). Todos estes pelotões tiveram missões semelhantes e o mesmo material AA.

- Para cumprimento do despacho do MDN de 11Ago 70 o dispositivo antiaéreo no TO da Guiné foi reforçado com Batarias de Artilharia Antiaéreas.

Em 19 Fev 71, foram aumentadas ao efectivo, a Btr AAA3381 (lª fase) e a Btr AAA 3382. A 2ª  fase da primeira Btr apresentou-se em 31 Maio 71.

A Btr AAA 3381 integrou os dois últimos Pelotões independentes acima referidos e um outro Pelotão que chegou na 2ª fase. Foi dotada com peças 10,4cm, metr AA quádruplas 12,7mm e radar nº 4 MarkVI; as guarnições tiveram pessoal de recrutamento da Província.

Após a realização da IAO foi colocada em Bissau no aquartelamento do GA7, exercendo o comando e controlo dos Pelotões que foram destacados para Bissalanca, Nova Lamego, Aldeia Formosa, a partir de 25 Jul71 e Nhacra, a partir de 01 Nov 71.

- A Btr AAA 3382, após a realização da IAO, em 13 Mai 71 foi colocada no aqt do GA7. Foi a primeira a ser dotada com peças AA 9,4cm e dispunha de radares (táctico) MK VI e (de tiro) MK VII (que através de um preditor dava pontaria direta às 4 peças), para defesa a média altitude do aeroporto, parte da cidade de Bissau,  Cumeré e paióis do CTIG.

Iniciou o estudo das posições das peças: radares e preditores de AA. Em Jan71, começou a construção das posições e do aqt na região  de  Bor (Bissau), com vista ao cumprimento da missão, tendo a orgamzação operacional ficado completa em Set72. 

Em meados de Maio, desse ano, passou a ocupar as instalações de Bor, cumulativamente ficou com a responsabilidade daquela região na dependência do COMBIS.

- A Btr AAA 3434 desembarcou na Guiné em 31Mai71; efectuou a IAO e a 04Jul71 ficou instalada no aqt do GA7. 

A partir de 20Jul desse ano,passou a realizar os trabalhos de construção de espaldões para peças de radares da área do aeroporto de Bissalanca. Foi dotada com peças AA 4cm e metr AA quádruplas 12,7 mm. Colaborou em coordenação com a BA12, na defesa terrestre das instalações daquela área.

- A 1ª  fase da Btr AAA 7040/72 desembarcou em 200ut72 e a 2ª fase em 2Jan73. Após a IAO da la fase, no GA7, em 23Nov72, deslocou um Pelotão para Nova Lamego para realizar a sobreposição com idêntico efectivo da Btr AAA 3381 até 18Dez72: de seguida assumiu a responsabilidade de defesa AA a baixa altitudes da pista de aviação e destacamento aéreo. 

Substituiu a Btr AAA3381, a partir de 1Jan73 , no comando e controlo dos Pelotões da Nova Lamego, Aldeia Formosa e Nhacra. 

Para estas duas últimas localidades, marcharam em 4Fev73, 2 Pelotões da 2ª fase que renderam idênticos efectivos da Btr AAA 3381; colaboraram ainda na defesa terrestre das referidas localidades.

- A Btr AAA 7041/72 desembarcou em 160ut72; realizou em Bor a IAO e em 1Dez72, substituindo a Btr AAA 3382, assumiu a responsabilidade da defesa AA a médias altitudes da BA12, aeroporto, Cumeré e parte da cidade de Bissau. Foi dotada com peças AA 9,4cm. Assumiu também a responsabilidade do subsector de Bor na dependência do COMBIS. 

Em 23Fev74, em virtude da inoperacionalidade do material de deteção de alvos e de tiro, a Bataria foi desativada.

- A Btr AAA 7042/72 desembarcou em 2Jan73. Após IAO, no GA7, assumiu em 26Fev73, substituindo a Btr AAA 3434, a responsabilidade de defesa AA, a baixas altitudes, do aeroporto e da BA12, tendo-se instalado em Bissalanca; colaborou em coordenação com BA12, na defesa terrestre das instalações.

- A Btr AAA 7043/73, desembarcou em 17Nov73; foi colocada em Bor a fim de realizar a IAO e a seguir reforçar a Btr AAA 7041/72 com vista à implementação do sistema integrado de defesa AA a médias altitudes do aeroporto e da cidade de Bissau cujo estudo estava sendo efectuado.

Foi dotada com peças AA 9,4cm. Colaborou na segurança e proteção das instalações e populações do subsector de Bor, sob controlo operacional do COMBIS. 

Em 23Fev74, devido a inoperacionalidade do material, passou a realizar a adaptação ao material AA 4cm.

- Depois de feito os estudos para a sua organização foi criado por depacho do CCFAG, o Grupo de Artilharia Antiaérea da Guiné (GAAA).

Destinava-se a comandar, coordenar e controlar a actividade das Subunidades, na altura: Btr AAA 7040/72, 7041/72 e 7043/73. 

Apesar de oficialmente criado em 1Mai74 não chegou a ter existência e organização efectivas, sendo extinto em 7Set74.

Fonte: Excertos de: Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6º volume: aspectos da actividade operaciona. Tomo II: Guiné, Livro III, Lisboa: 2015, pp.   464/465 e 491/492.