segunda-feira, 29 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25457: Os 50 anos do 25 de Abril (15): Exposição na Gare Marítima de Alcântara, Porto de Lisboa, até 26 de junho próximo, de 4ª feira a domingo, entre as 14h00 e as 20h00: "O Movimento das Forças Armadas e o 25 de Abril": curador, Pedro Lauret, Capitão-de-Mar-e-Guerra Ref


O cartaz da exposição «O MFA e o 25 de Abril», a decorrer entre 12 de abril e 26 de junho de 2024, na Gare Marítima de Alcântara, Porto de Lisboa.  Horário: das 14:00 às 20:00, Entrada livre.


1. "A exposição 'O MFA e o 25 de Abril' é uma iniciativa da Comissão Comemorativa 50 Anos 25 de Abril, de curadoria partilhada com a Associação 25 de Abril.

"Esta exposição pretende ilustrar o papel do Movimento das Forças Armadas (MFA) no derrube da ditadura e na construção da Democracia, através do recurso a materiais iconográficos, audiovisuais e sonoros. Será dinamizada através de visitas guiadas, conferências, debates e espetáculos, e complementada por um dossiê multimédia."




Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > c. 1971/72 >  Nesta foto vemos o  Pedro Lauret (então 2º ten), imediato da LFG Orion (1971/73), na ponta do navio, a navegar no Rio Cacine, tendo a seu lado o comandante Rita, com quem ele faria a primeira metade da sua comissão na Guiné. "Um grande homem, um grande comandante", escreveu ele… O 1º ten José Manuel Baptista Coelho Rita, já falecido,  foi comandante do NRP [Navio da República Portugesa] Orion, de 7/12/1970 a 15/10/1972.

Foto (e legenda): © Pedro Lauret (2006). 
Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Lisboa > Porto de Lisboa > Gare Marítima de Âlcantara > 12 de abril de 2024 > Inauguração da exposição "O MFA e o 25 de Abril". O curador, Pedro Lauret, e o presidente da República, na visita  guiada. Destaque a vermelho da carta que o nosso camarada J. Casimiro de Carvalho, mandou aos pais a dar a notícia (dramática) do abandono do seu aquartelamento, Guileje, em 22 de maio de 1974. Ele estava temporariamente em Cacine. Foto (adaptada), com a devida vénia:  Sapo 24.


2. Comentário do editor LG:

O curador desta exposição, da parte da A25A,  é o comandante, capitão-de-mar-e-guerra ref,  Pedro Laurett, um dos "históricos" do nosso blogue (*): recorde-se que ele foi combatente no TO da Guiné, na qualidade de imediato da LFG Orion, de 1971 a 1973; tem 36 referências no nosso blogue; e foi um dos participantes do I Encontro Nacional da Tabanca Grande, na Ameira, Montemor-o-Novo, em 14 de outubro de 2006. 

Ainda não tivemos oportunidade de passar pela Gare Marítima de Alcântara, pelo que nos socorremos, com  a devida vémia, do relato que o jornalista Miguel Morgado fez, no  Sapo 24,  no passado dia 21, da inauguração desta exposição:

(...) "Num local de elevado simbolismo para a história de Portugal, ligado à guerra nas ex-colónias e à descolonização, porto de partida e de chegada de militares para e de os territórios ultramarinos, Pedro Lauret conduziu os jornalistas numa visita guiada. O mote do que está exposto, é um: colocar o MFA no 'centro do dia 25 de Abril' "(...)


Acrescenta depois que "os acontecimentos na Guiné-Bissau, onde cumpriu serviço entre 1971 e 1973, marcam a memória pessoal de Pedro Lauret":

(...) " 'Meti uma cunha e coloquei o meu navio (aponta para a fotografia) na Guiné. Chamava-se Orion, era uma lancha de fiscalização', explicou o responsável da Marinha que integrou o Movimento dos Capitães e a Comissão que elaborou o programa do Movimento das Forças Armadas (MFA)" (...)

A exposição está organizada em função de três cronologias: (i) da II Guerra Mundial à guerra colonial"; (iii) os noves meses de génese e desenvolvimento do MFA (1973/74); e, por fim, 0 25 de Abril.

(...) "A situação na Guiné-Bissau mereceu também palavras do curador e antigo combatente, ao recuperar duas imagens. A 'Carta do furriel Casimiro a contar à família o abandono do quartel' e Miguel Pessoa, piloto-aviador cujo avião foi abatido. 'Esteve um dia e meio pendurado numa árvore e foi recuperado pelo grupo de Marcelino da Mata. Tem um simbolismo notável', confessou." (...)

(...) “Mostramos os aspetos dos aquartelamentos, como os soldados viviam. Viviam pior do que um bairro da lata”, comparou. “Tentámos que as imagens, numa exposição destas características, fossem ilustrativas, sem serem demasiado chocantes” (...)

A exposição está patente até 26 de junho, de 4ª feira a domingo, entre as 14h00 e as 20h00, na Gare Marítima de Alcântara. (Não confundir com a Gare Marítima Rocha Conde d' Obidos, donde partiram a maior parte dos navios de transporte de tropas para o Ultramar.) (***)


Documento que enriquece a exposição. Cópia da carta enviada aos pais, pelo fur mil op esp / ranger J. Casimiro Carvalho,  CCAV 8350, Os Piratas de Guileje (1972/73) (**)

Foto (e legenda) : © J. Casimiro Carvalho  (2012). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Cacine, 22/5/73:Queridos pais: Vou-lhes contar uma coisa difícil de acreditar como vão ter oportunidade de ler: Guileje foi abandonada [a negrito, no original], ainda não sei se foram os soldados que se juntaram todos e abandonaram o quartel, ou se foi ordem dada pelo Comandante-Chefe, mas uma coisa é certa: GUILEJE ESTÁ À MERCÊ ‘DELES’ [em maíúsculas, no original].

Não sei se as minhas coisas todas estão lá, ou se os meus colegas as trouxeram. Tinha lá tudo, mas paciência.

Se foi com ordem de Bissau que se abandonou a nossa posição, posso dar graças a Deus e dizer que foi um milagre, mas se foi uma insubordinação, nem quero pensar…

Mas… JÁ NÃO VOLTO PARA LÁ!!!  [em maiúsculas, no original]. 

Não tinha dito ainda que Guileje era bombardeada pelos turras [h]á vários dias e diversas vezes por dia. Os soldados e outros não tinham pão, nem água. Comida era ração de combate e não se lavavam. Sempre metidos nos abrigos e nas valas. A situação era impossível de sustentar. Vosso para sempre (,assinatura).
 
(Revisão / fixção de texto: LG)
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Notas do editor

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...


Os organizadores da exposição e o Porto de Lisboa lá escolheram a Gare Marítima de Alcântara, por outras razções que não apenas o simbolismo... Acho que a Gare Marítima Rocha Conde d' Obidos, é que nos diz mais, a todos nós:foi de lá donde partiram a maior parte dos navios de transporte de tropas para o Ultramar, os Niassas, os Uíges, os Ana Mafalda, etc. (com porões cheios, não de gado, mas de "carne para canhão",como então se dizia, entre dentes...).

Valdemar Silva disse...

O abandono da tropa de Guilege, 05/1973, seria o princípio do que poderia acontecer noutros locais, como Canquelifá e outras tabancas, restando as localidades principais e Bissau ?

Valdemar Queiroz