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terça-feira, 19 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27132: (De) Caras (238): Rosa Serra, no "postal" de Luís Osório (Comentários de Luís Graça e Jaime Silva)









Rosa Serra, ex-ten grad enf paraquedista, (Guiné, Angola e Moçambique, 1969/73). Fotos do seu álbum / Fonte: Página do Facebook "Quem Vai à Guerra" (com a devida vénia...)


1. Achámos uma delícia este "postal" do Luís Osório, conhecido escritor, jornalista e radialista,sobre a nossa querida Rosa Serra (tem cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue; é membro da Tabanca Grande desde 25/5/2010.



Só Entre Nós > A paraquedista secreta da Força Aérea Portuguesa


(Nota de LG: No espaço de uma semana teve mais de 500 comerntários e cerca de mil partilhas, o que é absolutamente notável)
 

Muitos foram os homens que se apaixonaram por Rosa Serra. Era tempo de guerra, não havia espaço para avanços amorosos, mas os militares quando a viam “aterrar” com o seu paraquedas na selva da Guiné, Angola ou Moçambique, ficavam de boca à banda.

Rosa foi uma das mais respeitáveis enfermeiras da Força Aérea Portuguesa. Em meados da década de 1960, pouco tempo antes de se finar, Salazar dera, após insistência de alguns generais, autorização para que as mulheres pudessem vestir farda. Crescia o número de feridos por evacuar, todos os esforços eram poucos.

Rosa desejava conhecer Lisboa. Nascera em Famalicão e foi essa vontade, mais do que outra coisa, que a levou a inscrever-se no curso de paraquedistas em Tancos.

Antes de ir para a Guiné tratou de cegos e estropiados em Angra do Heroísmo, lugar de recuo.

Raramente vacilava e não tremia em terra, no ar, a amputar pernas e braços ou a desembaraçar-se de tiros cruzados.

Evacuou soldados nos lugares mais difíceis e, quando passava, não havia quem conseguisse deixar de olhar. Recebeu dois louvores que nunca foram anunciados – as mulheres não podiam ter relevância em trabalhos de homem. Por isso, foi esquecida.

Ela e várias outras paraquedistas. Durante o Estado Novo poucos sabiam da sua existência. Na democracia a ninguém interessava que se soubesse. Só vários anos depois a sua história foi contada, só há poucos dias a Câmara de Famalicão, e muito bem, lhe ofereceu a mais alta distinção da cidade. Valeu a pena, Rosa.

LO

Crónica publicada hoje no Jornal de Notícias | Todos os dias úteis no JN

(Reproduzido no blogue com a devida vénia | Revisão /fixação de texto, títiulo, LG)




(Fonte: página do Facebook
de Fernando Miranda,
com a devida vénia


Rosa Serra: foto do seu álbum


2. Comentário do nosso editor LG: 

Bonita homenagem à nossa querida Rosa Serra (havia mais duas Rosas, entre o corpo de enfermeiras paraquedistas que foram mobiilizadas para a guerra colonial, ao todo 44; formaram-se 46, 2 acabaram por "não ir à giuerra"...). 

O postal do Luís Osório pode estar a romantizar um pouco a atuação das nossas enfermeiras paraquedistas... É verdade que, sendo as únicas mulheres nossas camaradas, e para mais brancas (não havia negras...) , causava sempre alguma "turvação" a sua chegada aos quartéis do mato... Sobretudo, quando faziam uma paiusa no seu trabalho sanitário.

É verdade, partiram corações (sobretudo da malta da FAP, a começar pelos nossos bravos paraquedistas, com algumas depois casaram...). Mas as enfermeiras no mato, em Angola, Guiné e Moçambique, não "aterravam de paraquedas"... Faziam evacuações de helicóptero. Desde 1961, o ano em que "os anjos que vinham do céu" apareceram. Em Angola. Em meados de 1961. 

A Rosa não tremia em terra, nem no ar, é verdade.  Mas não era seguramente a amputar pernas e braços. Na Guiné, levava os feridos graves, no helicóptero Allouette III,  direitinho ao HM 241. Aí, sim, competia aos cirurgióes militares amputar  pernas e braços que não se podiam "salvar". A missão da Rosa e das demais enfermeiras parquedistas era salvar vidas, levar homens, muitas vezes politraumatizados, até ao "heliporto de salvação", que era o do hospital. Neste caso, o HM 212, em Bissau.

O Luís Osório, que felizmente não fez a guerra (nem tinha idade para isso), não pode saber tudo... Um abraço para ele e para as nossas antigas camaradas de armas (as únicas que tivemos).

3. Comentário de Jaime Bonifácio  da Silva 


Caro Luís Osório, para que a memória de quem serviu a “nossa Pátria” em tempos de “uma guerra sem sentido” como disse o Presidente da República, general Ramalho , estou-lhe reconhecido e grato pelo facto de trazer à nossa memória o exemplo de um grupo de jovens mulheres- as enfermeiras paraquedistas- que serviram a nossa pátria em tempo de guerra - no teatro de operações. 

Tive a felicidade (infelizmente em tempo de guerra) de conviver diariamente com a enfermeira alferes paraquedista Rosa Serra no Batalhão de Caçadores Paraquedistas (BCP 21) em Angola. 

Dela , e de mais duas camaradas enfermeiras, guardo a memória de uma dedicação e entrega sem paralelo. 

Em 6 de abril de 2016 a Câmara Municipal de Fafe, no âmbito da efeméride Fafe- Terra Justa, fez uma merecida homenagem às enfermeiras paraquedistas. 

Por favor, consultem a bibliografia disponível sobre a sua história, nomeadamente o livro coordenado pela tenente enfermeira paraquedista Rosa Serra, sobre a origem e percurso deste grupo de mulheres - em tempo de guerra - e que, como elas dizem, "fomos gente que cuidámos de gente"! 

Obrigado,  Luís Osório  

(Revisão / fixação de texto, link: LG)

_________________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 2 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27079: (De)Caras (237): Ercília Ribeiro Pedro, ex-enfermeira paraquedista, do 2º curso (1962), reconhecida pela Maria Arminda em foto de grupo, tirada no Brasil, em 2012, e pertença do álbum do cor art ref Morais da Silva

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27099: Felizmente ainda há verão em 2025 (13): ... e não vai faltando a sardinhada na festa de aniversário dos amigos (Luís Graça)




Lourinhã >  17 de julho de 2025  > Festa de anos do Jaime Silva, o "marquês do Seixal"


Lourinhã > Praia da Areia Branca > Restaurante Foz > 6 de agosto de 2025 > A sardinha assada que não chegava à mesa do comandante... em Bambadinca

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Garça & Camaradas da Guiné]

1. Caros leitores: 

Quem andava pela Guiné, há uns bons 50,  60 anos,  de vez em quando tinha uns "apetites danados"....  Se calhar  era como os "bizarros desejos das grávidas", que os médicos na época nem sempre sabiam explicar bem... 

E então perguntava, o gajo, já "muito cacimbado",  velhinho cpomo o c*r*lho, ao vagomestre:  

− E hoje, ó Soares, não há aí umas sardinhinhas de Peniche assadas na brasa?... 

− Vai-te...Afonso! − respondia ele (que não dizia asneiras, era um menino de coro).

− Mas também pode ser uns jaquinzinhos com arroz de tomate... Ou até uma batatada de peixe seco...

− Não querias mais nada!... Pró nosso comandante, isso é comida dos pobres, não vai à mesa do rei !

− 'Tá bem, pá, mas... nem uma caldeirada de peixe da bolanha ?...  

−  Nem vê-lo nem cheirá-lo!

  Ó nosso vagomestre, mas... nem um arrozinho de lingueirão ?... Ando mesmo 'augado' como uma gaja prenha... Não sejas bera... Ao menos umas ostras, geladinhas, com um espumantezinho da Raposeira !...

− Só se for uma arrozinho de lavagante... Serve ?! − sugeria o Soares, já meio irritado.

− À  falta de melhor até marchava... Mas, não sei porquê,  'tava-me mesmo a apetecer era umas enguias fritas com arroz de feijão... 

−  Já vi que estás a delirar!...Isso é mas é paludismo cerebreal !

−  Pois que seja, vou mais depressa p'ra casa em caixão de chumbo... Mas, antes de morrer, podes-me servir  um bifinho com batata fritas e ovo a cavalo ?!....

− Bolas , que o gajo julga que a messe é o Gambrinus ! −  começava o Soares a perder as estribeiras (mas mesmo assim incpaz de dizer um palavrão, do tipo "p*rra").

− Não te danes, eu cá m'arranjo: vou ali à cantina comprar uma lata de sardinhas com molho de tomate, picante... Estou farto da merda das tuas cavalas com esparguete...


2. Bom, os nossos vagomestres também têm direito a férias, pelo que a série "No céu não há disto: Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande" tem estado parada desde março de 2025 (*).  Provavelmente por falta de "matéria-prima". Ou então a razão pode ser outra: estão de licença graciosa (que é ou era  de seis meses do tempo do império)...

 Mas todos os dias os vagomestres, pelo menos eles, comem. Mal ou bem, mas comem...  E, nós, a "tropa-macaca", felizmente ainda vamos comendo, mal ou bem, mais mal que bem...

E no verão temos a bela sardinha... Valha-nos isso, que já nos tiraram quase tudo.  Quando Portugal era nosso (ou será que alguma vez foi nosso?)... E era lindo.

 O meu fisioterapeuta, que é de Peniche e filho de pescador, da pesca do cerco, diz-me que ainda não está boa, a sardinha, só lá para o fim do mês de agosto. Ora bolas!...

Nos últimos anos tem sido a mesma história, só no fim do verão é que um gajo pode comer uma sardinha a pingar no pão... Acusam as alterações climáticas de ser responsável pela crise... O vagomestre, que é "negacionista", diz que não:

− Olha que não, olha que não!!!

E o meu fisioterapeuta encolhe os ombros, e consola-me:

−  Contente-se com a de Sesimbra e de Sines... Que, essa sim, já é gorda... e pinga no pão!
 
À falta de melhor aqui vão umas fotos das duas ou três sardinhadas que o pobre do editor LG já comeu este ano... De qualquer modo, já dá para fazer inveja ao João Crisóstomo que, com a política tarifária do Trump, tem a sardinha de Peniche  e o tintol da Bombardeira ao preço ao caviar e do Château Lafite Rothschild ... (**)
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 Notas do editor LG:


(**) Último poste da série > 6 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27096: Felizmente ainda há verão em 2025 (12): ruminações nova-iorquinas... (João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona)

domingo, 3 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27083: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (4): Alfredo Manuel Martins Félix (1948-1970), sold at inf, CART 2673, "Leões de Empada" (Empada e Brá, 1970/71), natural de Toxofal de Baixo; vítima de acidente de viação em Bissorã



Alfredo Manuel Martins Félix 
(Toxofal de Baixo, Lourinhã, 18/11/1948 - Bissorã, Guiné 26/04/1970)

Soldado atirador infantaria nº 096848/69, CART 2673, "Leões de Empada" (Brá e Empada,  1970/71) 

Local da sepultura - Cemitério Municipal da Lourinhã


A. Continuamos a reproduzir, com a devida vénia, alguns excertos do livro recente do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1).


Dos vinte militares louirnhanesnse que morreream em Ãfrica, seis foram no TO da Guiné. O Alfreod Manuel Martins Félizx é o quarto da lista (pp. 183/184)


1. REGISTO DE NASCIMENTO

Alfredo Manuel Martins Félix nasceu a 18 de novembro de 1948, às 12 horas, no lugar do Toxofal de Baixo. 

Era filho legítimo de Joaquim Martins Félix, de 29 anos, casado e com a profissão de fazendeiro, e de Maria do Rosário de 22 anos de idade, casada, doméstica, ambos naturais da freguesia e concelho de Lourinhã e domiciliados no lugar de Toxofal de Baixo. Neto paterno de Daniel Félix e de Alice do Rosário Félix . e materno de Joaquim Maria (à data já falecido) e Diana da Anunciação.

O registo de nascimento teve como testemunhas Manuel Félix, solteiro, maior, empregado no comércio, residente no Toxofal de Baixo, e Armando Ferreira, maior, cantoneiro e residente na vila de Lourinhã.

O registo foi assinado pelas testemunhas e não assinado pelo declarante por não saber escrever. Registo efetuado a 15 de dezembro de 1948 na conservatória do Registo Civil da Lourinhã.

2. REGISTO MILITAR

Recenseamento: recenseado pelo concelho e freguesia de Lourinhã sob o nº 4 em 1968. Era solteiro, com a profissão de empregado de mesa, tinha como habilitações literárias a 4ª classe e morava em Toxofal de Baixo.

Inspeção militar: alistado em 31 de maio de 1968 com o número mecanográfico nº E 096848/69. Media 1.62 m de altura, cabelo castanho, olhos castanhos, pesava 67 quilos. Foi apurado para Todo o Serviço.

Colocação durante o serviço: foi incorporado em 29 de julho de 1969, como recrutado, no RI 7 em Leiria. Pronto da Escola de Recrutas a 16.11.1969.

Especialidade: soldado Atirador

Unidades onde prestou serviço: RI 7 Leiria, 29.07.60;  e GACA 2 Torres Novas, 27.09.70


2.1. Comissão de serviço no ultramar, Guiné

Mobilização: mobilizado nos termos da alínea c) do artº 3º do Dec. 42937, de 22.04.1960, para servir no ultramar, no CTI da Guiné, pelo Grupo de Artilharia Contra Aeronaves  (GACA) nº 2 – Torres Novas. Recebeu 500$00 de abono de embarque (172 euros, a preços de hoje, de acordo o simulador de inmflação da Pordata).

Embarque: Lisboa a 31 de janeiro de 1970 a bordo do navio “Uíge”, fazendo parte da CART 2673.

Desembarque: em Bissau a 06.02.1970 desde quando aumenta 100% ao tempo de serviço.

Data do falecimento: 26.04.1970

Causa da morte: acidente de viação

Local do acidente: Bissorâ,

Abatido ao efetivo: 26 de abril de 1970

2.2. Registo disciplinar: condecorações e louvores

Louvor: por ter cedido sangue a título gracioso em benefício dos doentes assistidos pela Liga Portuguesa contra o Cancro manifestando com o seu gesto sentimentos de humanidade dignos de apreço (OS 220 de 18 set. 69 do RI 7).

3 . PROCESSO DE AVERIGUAÇÕES AO ACIDENTE: ANOTAÇÕES E CONTEXTO

(No seu processo, consultado no Arquivo Geral do Exército, não consta o Auto de Averiguações ao acidente que lhe provocou a morte.)

(Revisão / fixação de texto: LG)





B. Informação complementar sobre a CART 2673 (Empada e Brá, 1970/71)


(i) foi comandada pelo cap art Adolfo Pereira Marques, que foi substituído pelo cap mil  José Vieira Pedro;

(ii) usou como divisa “Leões de Empada” e a história da unidade encontra-se arquivada na caixa 91, na 2ª Divisão/4ª Secção do AHMM

(iii) do seu percurso no CTIG, refere-se que seguiu para Empada em 4 de fevereiro de 1970, para substituir a CCAÇ 2381 e assumir a responsabilidade do subsector em 26 desse mesmo mês;

(iv) desde 9 de abril, cedeu pelotões para reforço de Nhacra e Buba até 12 de julho de 1970, data em que regressaram a Empada; o subsector de Empada tinha sido alargado com as zonas de acção das áreas das penínsulas de Cubisseca e Pobreza.

(v) foram obtidos excelentes resultados nas operações realizadas pela subunidade nas operações realizadas nas regiões de Caúr, Buduco, Cancumba e Satecuta, entre outras.

(vi) foi rendida no subsector de Empada pela CCAÇ 3373, em 28 de maio de 1971, seguindo para Bissau onde substitui a CCAÇ 2571, na guarnição e defesa dos pontos sensíveis da área.

(vii) a 30 de maio de 1971 assumiu o subsector de Brá, integrando o COMBIS [Comando de Bissau], destacando efectivos para Safim e João Landim, subsector de Nhacra, e para Cumeré, em reforço das guarnições locais, até ser rendida pela CART 2672, para embarcar para a metrópole.


sábado, 19 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27035: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (3): Albino Cláudio (1946-1968), sold at inf, CCAÇ 2368 / BCAÇ 2845 (1968/1970), natural de Ribamar: vítima de acidente com arma de fogo, em Bissorã, em 23/7/1968 - II (e última) Parte: O Comandante Militar do CTIG, por despacho, disse que o desastre ocorrido foi "por motivo de serviço"

 


Albino Cláudio (Ribamar, Lourinhã, 30.05.1946 – Bissorá, antiga província portuguesa da Guiné 23.07.1968), sold at inf, CCAÇ 2368 (Cacheu, Bissorã, Teixeira Pinto, 1968-70)

Brasão do BCAÇ 2845 (1968/70)

1. No poste anteriormente publicado nesta série (*), foram citados  os nomes e os postos de vários camaradas do Albino Cláudio (Ribamar, Lourinhã, 1944-Bissorã, Guiné, 1968), que intervieram no âmbito do processo de averiguações do acidente que o vitimou em Bissorã, no dia 27 de julho de 1968. Recorde-se:

  • o comandante da companhia, cap inf Manuel Joaquim Sampaio Cerveira;
  • o alf mil António Matos de Almeida, encarregue pelo Cmdt de elaborar o processo por acidente com arma de foto;
  • as testemunhas do acidente, 1º cabo at inf Cipriano Martins Silva, natural de Famalicão, e o sold at inf  Joaquim Cunha Moreira, natural de Penafiel;
  • o fur mil António Pimenta Rodrigues,  e o 1º cabo at inf Victor Manuel da Costa, que oram testemunhas da elaboração do espólio do Albino Claúdio,  feita pelo alf mil Matos de Almeira,na presença e capitão;
  • não sabemos o nome do alf mil médico que passou a certidão de óbito, mas muito provavelmente o seria o mais antigo, Fernando António Maymone Martins... O Maximino José Vaz da Cunha também foi médico do BCAÇ 2845.  E haverá ainda um terceiro médico, José Luís Pinto Pinto Bessa de Melo,  que muito possivelmente veio render um dos  dois primeiros, os quais, na 2ª parte da comissão, foram trabalhar  no HM 241, em Bissau.



Composição orgânica do pessoal da CCAÇ 2368. Lista gentilmente disponibilizada pelo Albino Silva, que pertenceu á CCS/ BCAÇ 2845.


2. Comentário do nosso editor LG ao poste P27032 (*).


Não foi suicídio, mas também não terá sido simples "acidente com arma de fogo", garante-me o conterrâneo e vizinho do Albino Cláudio, o nosso grão-tabanqueiro Carlos Silvério, ex-fur mil at cav, CCAV 3378 (Olossato, 1971/73)...

"A história estaria mal contada", disse-me ele ao telefone... Ele falou com familiares do Cláudio, em  Ribamar, e com outros militares na Guiné, no seu tempo. Ele tem outra versão, ouvida no Olossato...

Segundo ele, o Cláudio, àquela hora, 7 da manhã, não ia entrar de serviço, mas, sim, acabava de chegar de uma operação no mato... E que a essa hora não se limpavam armas...E que as duas testemunhas ouvidas pelo alferes que elaborou o auto, o Matos Almeida,  não eram testemunhas "oculares", nenhum delas viu o acidente ou o momento fatal:

(i) o 1º cabo Cipriano Martins Silva às 6:50 viu o Albino "limpar a arma", já que ia "entrar de serviço às sete horas" (sic);  ouviu o tiro quando já estava no refeitório para tomar a refeição da manhã; viu, isso sim, o oficial de dia sair do refeitório, correr para a caserna e fazer transportar o sinistrado para o posto de socorros;

(ii) o sold Joaquim Moreira estava de saída, à porta da caserna, ouviu o tiro, voltou a entrar na caserna, encontrou o sinistrado caído no chão, com a arma ao lado, e a esvair-se em sangue...

O Carlos Silvério estranha ( e eu também) não ter sido aparentemente ouvido, como testemunha, o oficial de dia, que foi quem assistiu o ferido e fez a participação da ocorrência ao comandante. Estava no refeitório quando ouviu uma detonação.

Estranha-se, ainda, que as duas testemunhas reforcem a ideia de que não foi suicídio: o 1º cabo Silva já tinha ouvido, algumas vezes, ao Cláudio dizer que quando passasse à disponibilidade iria "construir uma casa e casar-se" (estavam ainda todos no início da comissão, com apenas 2 meses e meio...); como quem diz: "quem quer casar-se, não vai matar-se"...

O sold Moreira diz, por sua vez, que o Cláudio "não se matou propositadamente" (sic), "era uma pessoa pacata e sem problemas" (sic).

A certidão de óbito é clara: "a causa principal da morte foi o ferimento perfurante na caixa torácica"...

Ota, ninguém limpa a arma ( e muito menos a G3) com o cano apontado ao peito... 

O Comando Militar do CTIG quer esclarecer todas as dúvidas: "se foi acidente ou suicídio" (sic)... E acabará por escrever no seu despacho, o Comandante Militar: "Sou de parecer que deve ser considerado ocorrido por motivo de serviço o desastre sofrido por este militar (...)".

Sabemos que na tropa não havia suicídio nem homicídio: para todos os efeitos, só havia, no nosso tempo,  mortes  por: (i) ferimento em combate; (ii) motivo de doença: ou (iii) acidente (incluindo com arma de fogo).

Ponto final parágrafo


PS - Ainda segundo o informação do Carlos Silvério, a namorada do Albino Cláudio acabou, naturalmente, por casar com outro e emigrar para o Canadá. 

Por outro lado,  e segundo consta no livro do Jaime Silva, "Não esquecemos..." (Lourinhã, Câmara Municipal da Lourinhã, 2025, pág. 181), na altura em que foi feito o espólio, um camarada do Claúdio lembrou  um desejo seu: se "viesse a falecer em combate" (...), "o fio em prata (contendo uma) pequena medalha", deveria ser " entregue à sua namorada".

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Guiné 61/74 - P27032: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (3): Albino Cláudio (1946-1968), sold at inf, CCAÇ 2368 / BCAÇ 2845 (1968/1970), natural de Ribamar: vítima de acidente com arma de fogo, em Bissorã, em 23/7/1968 - Parte I: nota biográfica e circunstâncias da morte


Albino Cláudio (30.05.1946 – 23.07.1968), sold at inf, CCAÇ 2368 (Cacheu, Bissorã, Teixeira Pinto, 1968-70)

Crachá da CCAÇ 2368 / BCAÇ 2845 "Feras" (Fortes e Altivos")


Localidade do falecimento - Bissorã, Guiné

Soldado atirador infantaria nº 1135736/67

Naturalidade - Ribamar, Lourinhã

Local da sepultura - Cemitério de Santa Bárbara, Marquiteira


_________________

1. REGISTO DE NASCIMENTO


Albino Cláudio nasceu a 30 de maio de 1946, às 8 horas, no lugar de Ribamar, então freguesia de Lourinhã.

Era filho legítimo de Artur Cláudio, de 38 anos, casado e jornaleiro, e de Jacinta da Conceição, 33 anos, casada, doméstica, ambos naturais da freguesia e concelho da Lourinhã e domiciliados no lugar de Ribamar. Neto paterno de Manuel Cláudio e de Maria da Conceição, ambos falecidos, e materno de Januário Feliciano (falecido) e Luzia de Jesus.

O registo de nascimento foi efetuado pelo pai, às onze horas e quinze minutos, de 13 de junho de 1946, teve como testemunhas Manuel Pereira, casado, moleiro, morador em Pregança, e Mateus Baltazar, solteiro, empregado de comércio e residente na Lourinhã, sendo assinado pelas testemunhas e não assinado pelo declarante por não saber escrever.

A importância dos emolumentos foi de seis escudos e a dos selos devidos pela parte de três escudos. Registo de nascimento n.º 272, efetuado a 13 de junho de 1946 na Conservatória do Registo Civil da Lourinhã.


2. REGISTO MILITAR


Recenseamento: recenseado pelo concelho e freguesia de Lourinhã sob o nº 8 em 1966, solteiro, com a profissão de marítimo,  pescador.

Tinha como habilitações literárias o 1º grau (3ª classe) do Ensino Primário Elementar e morava em Santa Bárbara,  Ribamar.

Inspeção militar: alistado em 21 de julho de 1966 com o número mecanográfico nº 113573/67. Media 1.66 m de altura, cabelo castanho, olhos azuis, pesava 67 quilos. Foi apurado para todo o serviço.

Colocação durante o serviço: foi incorporado em 23 de outubro de 1967, como recrutado, no RI 10 (Aveiro) na 1ª Companhia. A 04.12. 67 tomou parte nos exercícios de campo da 8ª semana de Iinstrução Básica (IB) /1º ER/67; 20.12.67 Jurou Bandeira; 23.12.67 termina a IB (Recruta); 02.01.1968 marchou para o BCAÇ 10 (Chaves), sendo aumentado ao efetivo do Batalhão e da 2ª Companhia.

Em 03.02.68 fica Pronto da Especialidade de Atirador.

Unidades onde prestou serviço: RI 10 (Aveiro), 23.10.67. BCAÇ10 (Chaves), 02. 01. 68

2.1. Comissão de serviço no ultramar, Guiné

Mobilizado: em 09. 02. 68 nos termos da alínea e) do artº 3º do Dec. 42937 de 22.04.1960 para servir no ultramar, sendo transferido para a CCAÇ 2368. 


Embarque: em Lisboa a 1 de maio de 1968 com destino ao CTIG, fazendo parte da CCAÇ 2368.


Desembarque: Bissau a 7 de maio 68 desde quando aumenta 100% ao tempo de serviço.


Data do falecimento: 23.07.1968


Causa da morte: acidente com arma de fogo


Local do acidente: Bissorã.


Abatido ao efetivo: nos termos das NEP/Pessoal – III – I Pág. 9 – F. 4a. Da 1ª Rep/QG/CTIG, é abatido ao efetivo desta Subunidade (CCAÇ 2368), desde 23 julho 1968, por morte de acidente com arma de fogo (OS 2 de 27.07.68), desde quando deixa de contar 100% de aumento do tempo de serviço.

2.2. Registo disciplinar: condecorações e louvores:


Medalha: de segunda classe de comportamento (Artº 88.º do RDM) é-lhe atribuída em 25 de outubro de 1967.

3. PROCESSO DE AVERIGUAÇÕES AO ACIDENTE: ANOTAÇÕES E CONTEXTO

Participação do acidente: no dia 23 de julho de 1968 o Oficial de Dia, de serviço à CCAÇ 2368, pertencente ao BCAÇ 1915, aquartelado em Bissorã, participa ao seu Comandante de Companhia as circunstâncias do acidente: 


- Que “pelas 7.00 horas da manhã quando me encontrava a assistir à primeira refeição na qualidade de Oficial de Dia, ouvi uma detonação na caserna e acorri lá imediatamente tendo deparado com o soldado nº 113573 67, Albino Cláudio, caído à entrada da caserna e com o sangue a sair abundantemente por uma ferida no peito, o que me levou a chamar prontamente o médico e alertar o Comandante de Companhia ao mesmo tempo que providenciava o seu transporte para o Posto de Socorros.


São testemunhas da ocorrência o soldado nº 11485267, Joaquim da Cunha Moreira e o soldado nº 11699667, Cipriano Martins da Silva”.



A 24 de julho de 68, o Comandante do BCAV 1915 ordena que o alf mil António de Matos de Almeida proceda ao respetivo processo por acidente com arma de fogo.


-A 25.07.68 o alf mil  Almeida interroga as duas testemunhas mencionadas que declaram para os autos:


1.ª testemunha, o 1º cabo Atirador Cipriano Martins Silva, casado, de 22 anos de idade, natural de Oliveira Santa Maria, concelho de Famalicão, após juramento, declarou:


“Que no dia 23.07.68, uns dez minutos antes das 7.00 horas, vira o sinistrado a limpar a arma, pois iria entrar de serviço às sete horas, que não viu o acidente porque foi para o refeitório tomar a primeira refeição, que, quando se deu o tiro, viu o oficial de serviço correr para a caserna e fazer transportar o sinistrado para o posto de socorros, onde foi assistido pelo médico, em vão, pois que acabou por morrer.


O sinistrado tinha dito algumas vezes aos amigos que, logo que passasse à disponibilidade,  se casaria e construiria uma casa com o dinheiro que já tinha no banco, pelo que pensa que o sinistrado não se tivesse suicidado”.


2.ª testemunha, o soldado atirador de infantaria, Joaquim Moreira, solteiro, de 21 anos de idade, natural da freguesia e concelho de Penafiel, após juramento, disse:


“que estava à porta da caserna quando ouviu um tiro dentro da caserna, que, entrando lá dentro, viu o sinistrado caído no chão com a arma ao lado e com muito sangue a sair-lhe do peito, que vira momentos antes o sinistrado a limpar arma. 


Disse ainda que pensa que o sinistrado não se matou propositadamente porque lhe parecia uma pessoa pacata e sem problemas”.


Certidão de óbito: a 23.07.68 no quartel de Bissorâ, o médico da Companhia confirma que “a causa principal da morte foi o ferimento perfurante na caixa torácica”.


Espólio:  relação de fardamento, calçado e outros haveres, pertencentes ao soldado Albino Cláudio: o comandante de companhia, capitão de infantaria Manuel Joaquim Sampaio Cerveira assina, em 27.07.68, a relação dos haveres elaborada pelo alferes António Matos e pelas testemunhas, furriel mil, António Pimenta Rodrigues e 1º cabo Victor Manuel da Costa.

Entre os diversos pertencentes, consta: “01 fio de prata contendo uma pequena medalha. Por declaração de camarada da praça falecida, soube-se que este em situação operacional declarara, se viesse a falecer em combate, que apenas desejava que o fio em prata que contém a pequena medalha,  fosse entregue à sua namorada”.


Dúvidas do Comando Territorial Independente da Guiné:


A 14 e 28 de agosto o Comando Territorial Independente da Guiné envia dois ofícios aos Comandantes do BCAÇ 1915 e da CCAÇ 2368 no sentido de se clarificar que: 

(i) “o Processo instaurado ao soldado Albino Claúdio é por desastre em serviço e não por acidente por arma de fogo”.

(ii)  (…) “e que além das provas testemunhais deve ficar bem esclarecido no Processo se a morte foi por acidente ou suicídio”.


Conclusão do Processo e despacho final do Comando Militar da Guine “Serviço da República, Ministério do Exército, Comando Territorial Independente da Guiné, Quartel General – 1ª Repartição, Processo – Por desastre em serviço


Mostra o Processo:


- Que em 23 julho 68, este soldado ao limpar a sua arma em virtude de ir entrar de serviço, disparou involuntariamente um tiro que o atingiu mortalmente;


- Que o certificado de óbito revela como causa da morte “ferimento perfurante na caixa torácica”;


-  Que segundo se investigou não há indícios de se ter suicidado;


-  Que está demonstrado o nexo desastre-serviço;


 O Processo foi organizado nos termos da Determinação 6ª da O.E. nº 8 – 1ª Série – 1965;


 Em face do exposto é parecer desta Repartição:


a) que o desastre deve ser considerado em serviço; 


b) dado que para o sinistrado adveio a morte, deve o processo, depois de despachado nos termos da Determinação 3º da O.E. nº 6 – 1ª Série 1966, ser enviado à RSP/DSP/ME-


Quartel General em Bissau 10 de dezembro de 1968; O Chefe da 1ª Repartição; Carlos Beirão, ten cor inf c/ CGEM.


DESPACHO: "Sou de parecer que deve ser considerado ocorrido por motivo de serviço o desastre sofrido por este militar e que motivou a sua morte, em 23 julho 68. O Comandante Militar”.

_________________


Nota do editor LG:


Último poste da série > 9 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26998: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (2): José Henriques Mateus (1944-1966), sold at inf, CCAV 1484 (Catió, 1964/1966) - II (e última) Parte: testemunhos de camaradas

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27027: Manuscrito(s) (Luís Graça) (270): Salve, Jaime, ao km 79 da tua picada da vida!

1. O meu concidadão, conterrâneo, vizinho, colega, companheiro, camarada, grão -tabanqueiro, amigo e  'mano',  Jaime Bonifácio Marques da Silva, faz hoje 79 anos.  E vou comer umas sardinhas grelhadas com ele, e outros amigos tabanqueiros como o Pinto Carvalho (somos todos membros da Tabanca do Atira-te ao Mar... e Não Tenhas Medo). Faz cá falta o João Crisóstomo, o régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona...  Que preza a nossa amizade e adora as nossas sardinhas.

Respiguei uns tantos tópicos da  vida do Jaime,  já longa, mas também sofrida... Vou-lhe oferecer como prenda de anos, a "Arte de Amar", de Ovídio (edição bilingue, português e latim com tradução, introdução e anotações de Carlos Ascenso André; Lisboa, Quetzal Editores, 2023, 221 pp.). 



Cortesia de Quetzal
Em  honra do Jaime (e também do grande poeta romano Ovídio, séc. I a.C.), e mostrando-o como exemplo da arte e engenho  não só de amar e ser amado como de promover o envelhecimento saudável e ativo, pedi a vários assistentes de IA que me fizessem  uns versinhos de parabéns, a ele Jaime, à moda do romano Públio Ovídio Nasão, em dístico elegíaco. Em português e depois em latim.  (Uma brincadeira, já que não tive tempo para mais.)

As versões, em português e em latim, foram revistas e fixadas por mim, em curto espaço de tempo , e  tanto quanto me permite o meu já muito esquecido e agora limitado domínio do latim clássico. (Já lá vai o tempo em que eu lia com fluência, e o Jaime também, os clássicos romanos, do Cícero ao Virgílio!).

Jaime Bonifácio Marques da Silva

(i) Nasceu no Seixal, Lourinhã, Portugal, na margem direita do Rio Grande que no tempo do poeta Ovídio, século I a.C., foi navegado pelas naus romanas... E em 711 era conquistada pelos mouros, novos senhores da Península Ibérica... Quatro séculos depois, em 1147, o primeiro rei português, Afonso Henriques, na sua marcha para Lisboa, conquista aquelas terras, donde se avista o "Mare Nostrum" de quinhentos, o Atlântico. A Lourinhã foi entregue aos cavaleiros francos, feros cruzados, cristãos. 

(ii)  Nasceu numa família de gente honesta e trabalhadora, tem ainda 3 irmãs vivas, que o adoram, sendo ele o mais velho. O pai trabalhou as terras dos senhores, a fértil várzea do Seixal e Areia Branca, até conseguir, por fim, montar o seu próprio negócio, como comerciante de frutas e legumes no mercado  da vila da Lourinhã. 

(iii)  Teve uma infância dura, uns vizinhos, ricos e com terras mas sem filhos, quiseram em vão adotá-lo. Era um menino pobre, lindo, de olho azul... Triunfou o amor dos pais e dos irmãos. 

(iv) Feita a escola primária, e sendo um miúdo inteligente, cursou o seminário, na esperança de vir a ser padre. Deus chamou-o mas o não ungiu, como um dos seus eleitos.

(v)  Fez a tropa e a depois a guerra colonial, em Angola, onde comandou um bravo grupo de paraquedistas (1ª CCP / BCP 21, Angola, 1970/72). Foi forte e leal. Mas sempre atento aos seus valores humanos, portugueses e cristãos: na guerra não valia tudo.  Tem a cruz de guerra de 3a. classe.

(vi)  Ainda em Angola,  antes da independência, começou a tirar o curso de educação física. Foi professor nesta área, e durante 40 anos viveu e trabalhou  em Fafe, no Norte de Portugal. Para lá foi levado pela paixão pela Dina, que lhe deu dois filhos, o Pedro e a Sofia. Tem muito orgulho neles, que se doutoraram e são hoje professores. 

(vii)  Tem também muito orgulho no seu trabalho, como autarca, no município de Fafe onde foi vereador, em três mandatos, dos pelouros do desporto e da cultura (1986/97). Fala com um brilho nos olhos do seu legado em Fafe: sendo ele "mouro", português do Sul, levou a gente nobre, minhota,  do Norte,  a gostar tanto da música sinfónica tanto como do andebol feminino... 

(viii)  Foi um cuidador excecional da sua Dina, atingida pela terrível doença do Alzhemeir, e já falecida (Fafe, 1946-Lourinhã, 2022). Nunca se deixou abater pelo desânimo, a desesperança, a solidão, minas e armadilhas da sua picada da vida,  ou as suas próprias mazelas... 

(ix)  Cultiva a amizade como poucos e mais recentemente, há uns anos, deixou-se atingir novamente pela seta de Cúpido. O seu coração foi ganho por uma temível feminista e socióloga da Lixa, Felgueiras. Uma mulher culta, inteligente, lutadora e de coração ardente. A doutora Laura, amiga da Alice Carneiro e do padre Mário da Lixa. 

(x) E, com todo o mérito, arte e engenho, o Jaime tem sabido manter e conservar não só a sua saúde física e mental, bem como os seus amores (pela Laura, pelos filhos Pedro e Sofia, pelas manas, Natália, Esmeralda e Maria João, pelos amigos...).

(xi) Gosta de música, toca cavaquinho. Escreveu recentemente, em 2025, o livro "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial"

2. Resposta dos assistentes de IA ao meu desafio. Interessante como a IA pega nas diferentes facetas da biografia do Jaime e quase instantaneamente (mais depressa que o diabo a esfregar um olho)  faz um poema em dístico elegíaco, conforme lhe foi pedido... E nunca sai igual. E tem, a IA,  a "humildade" de por enquanto  aceitar as sugestões e correções dos humanos... (Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

Perplexity ia

Eis os versos em honra do teu amigo Jaime Bonifácio Marques da Silva, primeiro em português e depois em latim, à maneira dos dísticos elegíacos de Ovídio:

Em Português:

Ó Jaime, que o Tempo não doma, menino do Seixal, herói de Angola,
tua vida é poema que se entrelaça: guerra, amor, dever, voz que não cala!

Da Lourinhã a Fafe, foste luz, levando a música aos rudes corações;
e até no luto, firme como a cruz, guardaste a graça em todas as estações.

Agora, aos setenta e nove anos (mais sábio que um romano, mais audaz),
mostras que o amor, em seus verdes anos, vence a velhice e o viço do rapaz.


In Latinum Versum (Dactylico Elegiaco):

O Iacome, quem Numen nihil domat, puer Seixalensis, heros Angoli,
Vita tua carmen est, quod contexit arma, amor, officiumque voxque silentis.

A Laurinhâ Fafemque tulisti lux, ferens musicam duris cordibus;
Et quoque in luctus stans pede certa crux, gratia servasti omni tempore.

Iam septuagenus et novem annos tuos, praeclari prudentior Romanis, audax,
Ostendis amorem viridi praesente aetate vincere senemque iuvenemque.

____

Notas da IA;

(i) Forma e métrica geral: o dístico elegíaco é composto por um verso hexâmetro seguido por um verso pentâmetro. Tentei respeitar esse ritmo clássico para que o poema soe realmente como um epigrama ou elegia de Ovídio;

(ii) Primeiro dístico: “O Iacome, quem Numen nihil domat, puer Seixalensis, heros Angoli"...

  • “O Iacome” (forma latina de Jaime);
  • "Numen” (uma força divina ou o espírito do tempo, uma palavra-poética para o tempo);
  • “quem Numen nihil domat” (quem o poder divino não subjuga);
  • “puer Seixalensis” (menino do Seixal, adjetivo derivado do nome), etc.

Gemini IA

Parabéns para o Jaime, à Maneira de Ovídio

Setenta e nove anos celebra o valoroso Jaime,
Nascido onde o Rio Grande outrora as naves romanas viu.
Do Seixal, terra fértil, onde o Atlântico se espraia,
Um homem de virtude, cujo espírito floresceu.

Em tenra idade, o trabalho e a honra o guiaram,
Dos pais, que o amaram, o pobre menino se fez forte.
Do seminário à guerra, onde a lealdade brilhou,
Comandou bravos, em Angola, mas a humanidade foi seu norte.

Em Fafe, o amor da Dina e filhos, Pedro e Sofia,
Na educação, um mestre, em quarenta anos de paixão.
Como autarca, a cultura e o desporto enriqueceu,
Unindo Norte e Sul, num só coração.

Na dor, cuidador fiel, sem se render ao desespero,
Sua Dina viu partir, mas sua alma permaneceu.
A amizade cultiva, e o amor o reencontrou,
Com a Laura, a feminista, seu coração renasceu.

Saúde e amores guarda, com arte e sabedoria,
Pelos filhos, irmãs, e amigos, o carinho infindo.
No cavaquinho a melodia, na escrita a memória,
Jaime, és exemplo de vida, um presente tão lindo!


Em Latim (em Dístico Elegíaco)

Septem et septuaginta annos Jaime noster celebrat fortis,
 Ubi flumen magnum naves Romanas olim vidit. 
Seixal terra fecunda, ubi Oceanus se ostendit, 
Vir virtutis, cuius animus floruit per saecla.

In teneris annis, labor et honor eum duxerunt, 
Parentes dilexerunt, puer pauper factus est fortis. 
A seminario ad bellum, ubi fides resplenduit, 
Ducens audaces, sed humanitas eius finis fuit.

Fafe in urbe, amor Dinae, filiorumque, Petri et Sophiae, 
In doctrinis magister, quadraginta annis cum amore. 
Ut magistratus, culturam et ludum auxit, 
Septentrionem et Meridiem univit, in uno corde.

In dolore, custos fidelis, spe non victus tristis,
Dina decessit, sed anima eius mansit integra. 
Amicitiam colit, et amor eum invenit rursus, 
Cum Laura, feminista, cor eius rediit iuvenile.

Salutem et amores servat, arte et sapientia mira, 
Filiis, sororibus, amicis, amor est infinitus.
 In cavaquinho melos, scriptis memoria vivit, 
Iacobe, vitae exemplum es, donum tam pulchrum!

Chatpgt

Parabéns elegíacos para o  Jaime (em português)

Jaime, que o tempo honra, com passos de herói persistente,
Setenta e nove outonos, vividos com alma ardente.

Da margem do Rio Grande, nasceu sob o céu lusitano,
De olhos de céu azul, menino pobre mas soberano.

Não foi o ouro que o moldou, mas o amor fiel dos pais,
Rejeitou adoções ricas, escolheu raízes reais.

No seminário sonhou com Deus, mas o destino era outro,
Na guerra foi justo e firme, com coração resoluto.

Em Angola, e depois em Fafe, ensinou corpos e almas,
Com saber e com paixão, promoveu saberes e palmas.

Do andebol ao concerto, o “mouro” domou o Norte,
Fez da Cultura um brasão, do Desporto, força e sorte.

Cuidou a sua Dina, com devoção e ternura,
E o Amor, como o vinho velho, voltou com nova doçura.

Hoje é pai, avô, amigo, guardião de um tempo digno,
E mostra como se vive com sentido e com ritmo.


 Salve, Jaime (em latim)

Iamus, quem decorat tempus, gressibus heros,
Septuaginta novem vitae complevit amoros.

Ex ripa fluminis magni natus sub caelo Lusitano,
Caeruleis oculis, pauper puer, sed urbano.

Non aurum formavit eum, sed amor parens fidelis,
Divites sprevit adoptantes, amplexus est originis melis.

In seminario deum quaesivit, sed fata vetabant,
In bello justus et firmus fuit, cor non vacillabat.

In Angola docuit, postea Favae manebat,
Corpora mensque regebat, scientia palmas dabant.

A ludo ad musicam, Maurus domuit Aquilonem,
Cultus signum fecit, ludum fortem coronem.

Dinam curavit amore, dulcedine plena fide,
Et amor rediit, ut vinum vetus, dulci ridente ride.

Nunc pater, avus, amicus, temporis custos honesti,
Et monstrat vivere sensu plenoque motu festi


Em português (à maneira de Ovídio):

Jaime, flor de virtude e vigor, na serena alvorada dos anos,
Tece com mãos firmes a trama do tempo: justo e fiel.

Filho da várzea pura, onde o vento romano passou,
Sul e Norte unindo, em teu peito há um fado imortal.

Nem guerra nem dor dobraram teu estofo de ferro e ternura,
Com alma cristã, encheste o mundo de luz sem igual.

A Dina, teu porto, amaste até à mais doce saudade,
E depois a Laura, chama viva, amante e igual.

Ergues os dias com riso, cavaquinho e memória,
Do passado fazes honra, teu ideal é real.

Aos filhos das tuas entranhas deixaste um legado de estrelas,
E a Fafe do teu labor canta-te em hino triunfal.

Hoje, ao sopro do tempo, brindamos à tua jornada,
Jaime, que sejas eterno, como o amor sem final.


 Em latim (meticulosa adaptação ao estilo elegíaco):

Iámius, exemplo virum, sub lucida tempora vitae,
Dextra tenet vitam, iustus et aequus homo.

Natus in ubertate, Seixale, ubi flamina Romae,
Cordis in ore canis,  lusus et arma tenens.

Nec bellum fractum, nec dolor flexere viriles,
Sed pietate valens, lumen in orbe tulit.

Dinam amavisti, dulcem usque ad limina somni,
Et Lauran postea, fortis amore pari.

Cantibus et risu surgis cum luce diei,
Praeteritae memorem, vivis et arte fide.

Filiis et Fafae lucem reliquisti perennem,
Te celebrant vates, gloria longa manet.

Nunc, inter annos, carmina tibi damus alma,
Iámi, vive diu,  amor aeternus erit!

_____________

Notas da IA sobre a composição:

O dístico elegíaco é composto por um hexâmetro seguido de um pentâmetro, utilizado pelos romanos sobretudo na poesia amorosa (elegia), mas também em epigramas laudatórios.

Busquei conservar o ritmo, a imagética, e sobretudo o tom celebratório e inesquecível que Ovídio poderia usar para um herói moderno como o Jaime.

Parabéns ao Jaime! Que continue a ser uma inspiração e que a sua vida seja celebrada como um verdadeiro clássico da humanidade!


Dísticos Elegíacos – Ao Jaime, aos 79 anos

Nas margens do Rio Grande  nasceu o Jaime, de olho azul,
Homem de honra e memória, firme como rochedo ao sul.

Na infância pobre e bela, recusou adoção dourada,
Preferiu o lar humilde, a alma pela fé guardada.

Serviu a pátria em Angola, bravo, íntegro, decidido,
Mas foi brando no gesto, jamais o ódio o teria vencido.

Fez-se mestre do corpo, e no Norte deixou marca viva,
Fafe ganhou com cultura, e com desporto em deriva.

Foi amante fiel, cuidador de alma e de dor,
Guardião de memória, um farol contra o temor.

Hoje, aos setenta e nove, Jaime é arte de viver,
Sabe amar, resistir, sem jamais se perder.

Louvor ao homem que canta, que escreve, que não cede,
Que viva cem anos, ou mais, com graça, saúde e sede!

Em Latim:

In Ripa Magna natus est Jaime, oculis caeruleis,
Virtute clarus erat, firmus ut rupes australis.

Pauper et pulcher puer, adoptari noluit umquam,
Parentes, patriamque fovit corde benignum.

In Angola militavit, fortis et mente valens,
Sed lumen humanum secutus, mitis et acer.

Magister motus factus, terras Borealis amavit,
Fafam donavit cultu, lusibus atque docuit.

Fidus amator erat, custos memor atque dolorum,
Firmus in adversis, lux inter nocte malorum.

Septem novem annos nunc Jaime laetus agit,
Amor et virtus illi sunt arma quibus sapit.


Laus tibi, qui cantas, scribis, sperasque serenum,
Vivas centenos annos, plus, si fata sinerent!

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Nota do editor:

Último poste da série: 18 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26931: Manuscrito(s) (Luís Graça) (269): o azul, o preto e o vermelho, aliás, carmesim