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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27493: S(C)em comentários (82): a filha da mãe da guerra que não desgruda... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72)


1. Comentário do Jaime Silva,ex-alf mil pqdt, BCP 21 (Angola, 1970/72), membro da nossa Tabanaca Grande (*):


Luís, lembro-me como se fosse hoje: a operação não parou e decorreu durante três dias. Um outro soldado transportou o rádio que, por sorte, ficou intacto, e fui eu que assumi as transmissões. O trivial nestas circunstâncias da guerra!...

Ao que chegámos naquele nosso tempo de juventude!... O teu camarada ficou estropiado para a vida e tu continuas como se nada acontecesse!... e, sempre, na convicção de que a seguir podias ser tu!...

Já lá vão 55 anos e a filha da mãe daquela guerra não desgruda.

Abraço para todos os nossos camaradas combatentes naquela guerra

Jaime (**)


(**) Último poste da série > 31 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27368: S(C)em Comentários (81): O gen António Spínola e o major cav Carlos Azeredo que eu conheci, em julho de 1968, depois do ataque a Contabane (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, "Os Maiorais" , Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, Empada, 1968/70)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27488: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72) (6): o primeiro e o único morto do meu pelotão, o sold pqdt António da Silva Ramos (1947-1970), natural de Santo Tirso



Angola > Norte - Montes Mil e Vinte > 26 de junho de 1970 > Heli SA-330 Puma na recuperação do 3º Pel da 1ª CCP /BCP 21 (1970/72)... Nesta operação, "Não Esquecemos"  morreu um soldado do meu pelotão, o António da Silva Ramos. O primeiro e o único.




Foto à direita: Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), 235 pp.

Jaime Silva (ex-alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande, nº 643, desde 31/1/2014, tendo já cerca de 130 de referências, no nosso blogue; reside na Lourinhã, é professor de educação física, reformado, foi autraca em Fafe, com o pelouro de "Desporto e Cultura": residiu lá durante cerca de 4 décadas): Tem página pessoal do Facebook




Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci (6) > o primeiro e o único morto do meu pelotão, o sold pqdt António da Silva  Ramos

por Jaime Silva


Não esqueci nunca… nunca… o único morto do meu pelotão, o António da Silva Ramos, soldado Paraquedista nº108/67. 

Foi na Operação "Não Esquecemos”, realizada no dia 25 de junho de 1970, na zona de ação entre os rios Onzo e Quifusse,  nos Montes 1020, no Norte de Angola.

Nesse dia fatídico, o grupo de combate foi transportado num helicóptero SA 330. Entretanto e, simultaneamente com o nosso lançamento, dois avões de combate T6 da Força Aérea despejavam quatro bombas de napalm sobre a base guerrilheira.

Dá-se um confronto, com tiroteio, rebentamentos, o comum nestas circunstâncias. Pouco depois do início desse confronto, o soldado Ramos apanha um tiro certeiro nas carótidas que lhe ceifou, imediatamente, a vida.

Foi evacuado por um Alouette III. Passámos a noite no mato e, no dia seguinte, quando nos preparávamos para sair do local, na direção da zona de recuperação, sofremos, de novo, uma forte emboscada. Valeu-nos a intervenção do helicanhão que metralhou a zona, permitindo que o helicóptero SA 330 nos recuperasse em segurança.


Fonte: Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), pãg. 87




Sold pqdt António da Silva Ramos (1947-1970)

Morto em combate em Angola (Onzo, região de
Nambuangongo), em 25 de junho de 1970.
Nasceu a 3 de fevereiro de 1947, na freguesia de
Muro, concelho de Santo Tirso, distrito do Porto.
Frequentou o Curso de Paraquedismo nº 46,
 tem o Brevet nº 6140.
Encontra-se sepultado no cemitério da freguesia de
Modivas, concelho de Vila do Conde, distrito do Porto.


(Revisão / fixação de texto, edição de imagem,  título: LG) 

_____________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 23 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27455: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72) (5): a mina A/P que ceifou a perna do soldado radiotelegrafista Santos, alentejano

Postes anteriores:

13 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27417: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72) (4): o meu batismo de fogo e a praxe ao alferes “maçarico”

6 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27390: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72) (3): estive sempre no "gastalho", em guerra comigo e contra o IN

31 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27369: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21,Angola, 1970/72) (2): perante a hipótese Comandos, decido pelos Paraquedistas

29 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27363: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21,Angola, 1970/72) (1): A minha (im)possibilidade de desertar

domingo, 23 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27455: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72) (5): a mina A/P que ceifou a perna do soldado radiotelegrafista Santos, alentejano



1971, Norte de Angola, na zona de Nambuangongo, no final de uma operação e à espera do heli: o alf mil pqdt Jaime Silv, comandante do 3º Pel / 1ª CCP / BCP 21 (Angola, fev 70 / jul 72) com o Lopes dos Santos, na altura 2º  srgt pqdt, hoje capitão pqdt  na reforma  



Jaime Silva


Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci (5) > a mina A/P que ceifou a perna do soldado radiotelegrafista Santos, alentejano

por Jaime Silva



Não esqueci o primeiro estropiado do meu Pelotão, o soldado radiotelegrafista Santos. Esta tragédia aconteceu durante uma operação, na zona de Santa Eulália, no norte de Angola. Ele pisou uma mina antipessoal, logo minutos depois dos helicópteros nos terem lançado no alto de um morro.

Estou a ver o momento em que descemos a encosta do morro correndo. E, indo eu na frente, ao deparar com um trilho, ordenei que o grupo progredisse fora do mesmo, em virtude de ter detetado sinais evidentes de poder haver minas antipessoal dissimuladas. 

Minutos depois, há um rebentamento na curva do trilho, por onde eu e mais três paraquedistas tínhamos passado. Nessa altura, oiço o Santos a gritar:

– Eu vou morrer. Ai, minha mãe, eu vou morrer! 

Foi mesmo assim! Foi a primeira vez que vi a perna de um homem esfacelada: a perna tinha desaparecido abaixo do joelho. O enfermeiro injetou-o logo com morfina, um camarada levou-o às costas, morro acima, mas enquanto eu contactava o helicóptero, via rádio, para o evacuar, olhava, incrédulo, o que restava da tíbia e do perónio daquele meu camarada, cujo sangue jorrava e deixava um rasto vermelho no capim verde. 

Vinte minutos depois, empurrãmos o Santos para dentro do heli e, lembro-me, de lhe gritar:

Aguenta, já te safaste!

O Santos, safou-se.

E, entre muitas outras coisas da sua vida, casou e tem duas filhas. Vive no Alentejo.

Fonte: Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), pp. 84-86.


(Revisão / fixação de texto, título: LG)

domingo, 16 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27430: (Ex)citações (440): Estar com o amok, passar-se dos carretos, perder as estribeiras, estar f*dido dos c*rnos, estar apanhado do clima ou cacimbado... serão expressões equivalentes?


ºSíndroma de Amok"... Ilustração criada,
para o blogue, pelo Chat Português / GPTOnline.ai , sob instruções do editor LG


1. Escreveu o nosso camarada Jaime Silva, numa nota de leitura sobre o livro "Amok", de Stefan Zeig (*):


(...) "Recordou-me o momento, em que, pela primeira vez, ouvi pronunciar a frase: "deu-lhe o amok". Foi em Ninda, leste de Angola – Terras do Cú de Judas. Em fevereiro de 1970, quando fui render o tenente paraquedista Grão, no comando do 3.º Pelotão da 1.ª CCP / BCP 21. A companhia estava em plena fase operacional e, segundo me fui apercebendo, cada um dos 4 pelotões tinham encontrado forte resistência na zona.

"Entretanto, nas conversas que ia travando com os meus novos camaradas de armas, ouvia-os pronunciar, regularmente, uma expressão que nunca tinha ouvido e desconhecia: 'deu-me o amok, assaltámos a base e demos cabo daquilo tudo'; ou, ainda, 'cuidado com o gajo porque ele hoje, está com o amok'; ou, ainda, 'ninguém pode falar contigo, vai-te curar, estás com o amok'.

"Com o tempo fui interiorizando o significado desse termo. Fui percebendo que se referia a alguém que se tinha 'passado dos carretos', 'não via nada à sua frente' ou que 'estava apanhado do clima'!... Foi neste contexto que fui assimilando o sentido do termo, de tal modo que, ao longo da vida, com alguma frequência e, em circunstâncias de menor ânimo, dizia para comigo: 'hoje, não estás bem!... Hoje, estás com o amok'!" (...) (**)


2. Pesquisa do editor LG + assistente de IA / ChatGPT, Gemini, Perplexity,  sobre o termo "amok" / "amoque".

Existe o termo amok (em francês e inglês). Amoque ou amouco, em português.

A síndroma de Amok é, em psiquiatria, uma perturbnação que consiste em uma súbita e espontânea explosão de raiva selvagem, que faz a pessoa afetada atacar e matar indiscriminadamente pessoas e animais que aparecem à sua frente, até que o sujeito se suicide ou seja morto,

A definição foi dada pelo psiquiatra norte-americano Joseph Westermeyer em 1972.

É ainda hoje udsada como sinónimo de "loucura assassina". Mas na aceção que lhe davam os paraquedistas em Angola, ao tempo do Jaime Silva (1970/72),  parece ser mais  sinónimo de, em linguagem de caserna:

  • "estar fodido dos cornos",
  • "passar-se dos carretos",
  • "perder as estribeiras",
  • "estar cacimbado", 
  • "estar apanhado do clima"
  • "estar à beira de um ataque de nervos"...
É uma condição piscológica que pode predispor à violência (física ou verbal). Ora, amok  é já a exteriorização da violência até então latente. 

O nome vem do malaio meng-âmok, que significa “atacar e matar com ira", "atacar furiosamente ou lançar-se sobre alguém num estado de raiva incontrolável".

O termo entrou nas línguas europeias através dos relatos de viajantes e colonizadores portugueses e, mais tarde, ingleses, que observaram este fenómeno no Sudeste Asiático, especialmente na Malásia e Indonésia.


(ii) Registos portugueses do séc. XVI

Os portugueses foram os primeiros europeus a testemunhar e a descrever este comportamento. Aparece em registos logo do início do séc. XVI.

Nos textos de cronistas como Tomé Pires, autor da Suma Oriental (1515), e Duarte Barbosa (1516), já se menciona o termo “amouco”. Eles descrevem guerreiros malaios que, após um insulto, humilhação ou perda da honra, “se lançavam ao combate sem razão aparente, matando quantos encontravam, até que fossem mortos”.

Eis uma descrição típica (em ortografia moderna):

“Há entre eles alguns que, tomados de raiva e desesperação, correm pelas ruas com a espada desembainhada, ferindo e matando quem encontram; a isto chamam amouco.” (Duarte Barbosa, 1516)

Aqui está um excerto adaptado da Suma Oriental de Tomé Pires (c. 1515), um dos primeiros registos europeus do termo “amouco”, como era grafado então. Este texto é considerado uma das fontes mais antigas sobre o fenómeno que viria a ser conhecido em inglês como amok:

“Há entre estes malaios alguns que, de súbito e sem razão conhecida, tomam uma fúria tamanha que, correndo pelas ruas com uma adaga na mão, matam quantos acham pelo caminho, até que os matem.

Dizem que, nesse tempo, não sentem dor nem razão, e que é o diabo que os toma. A este furor chamam amouco.” (Tomé Pires, Suma Oriental, c. 1515)

(iii) Contexto histórico:

Tomé Pires era um boticário (farmacêtico) e diplomata português que viveu em Malaca logo após a sua conquista (1511). O seu livro descreve em detalhe as gentes e costumes do Oriente. A referência ao “amouco” mostra como os portugueses foram os primeiros a documentar este comportamento que, séculos mais tarde, seria objeto de estudo da etnopsiquiatria.

Mais tarde, exploradores ingleses e holandeses adotaram o termo, passando a escrever “amok”. No século XIX, a palavra tornou-se conhecida na Europa através da literatura colonial e da medicina tropical.

(iv) Significado em etnopsiquiatria:

A síndroma do “amok” descreve um estado súbito e extremo de fúria homicida em que o indivíduo, geralmente homem, entra num transe violento e ataca indiscriminadamente pessoas à sua volta, frequentemente terminando com a sua própria morte (por suicídio ou pelas mãos de outros). Se for apanhado e desarmado, pode ter um ataque de choro e não se lembrar de nada...

Tradicionalmente, acreditava-se que este comportamento estava ligado a crenças culturais, questoes honra pessoal ou possessão demoníaca.

Os estudiosos modernos (como Linton, Benedict ou Yap) interpretam o amok como uma resposta culturalmente moldada ao stress social e psicológico, comum em sociedades onde a repressão das emoções e a importância da honra (caso do Japão, por exemplo) são grandes.

Os portugueses interpretaram o fenómeno em termos religiosos e morais (como “possessão demoníaca”), enquanto os estudiosos modernos o entendem como uma crise psicossocial aguda, associada a contextos de pressão cultural e perda de honra.

O conceito de amok evoluiu na medicina ocidental, desde os relatos coloniais até à sua inclusão no DSM-4

(v) Uso moderno na psiquiatria:

Na psiquiatria contemporânea, o termo é usado para descrever um comportamento impulsivo, súbito e violento, muitas vezes associado a perturbações psicóticas, depressivas ou dissociativas.

No DSM-4, o “amok” era classificado como uma síndrome culturalmente específica (culture-bound syndrome). No DSM-5 essa categoria desapareceu. (DSM-5 é a sigla de Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, Quinta Edição, publicada pela APA - Associação Americana de Psiquiatria).

(vi) Curiosidades linguísticas:

Em português antigo, “amoucar-se” chegou a ser usado figuradamente, com o sentido de enfurecer-se subitamente ou perder o controlo, embora hoje esteja praticamente em desuso.

A expressão inglesa “to run amok” (correr como um doido / descontrolar-se completamente) é hoje usada de forma figurada para descrever alguém que fica  fora de controlo.

(Pesquisa, condensaçáo, revisão / fixação de texto, negritros: LG)

________________

Notas do editor LG:

(*) Vd.. poste de 7 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27395: Notas de leitura (1859): "Amok", por Stefan Zweig; Lisboa: Relógio D'Água, 2022 (Jaime Bonifácio da Silva, ex-Alf Mil Paraquedista)

(**) Último poste da série > 28 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27360: (Ex)citações (439): Ainda a propósito dos bravos de Contabane... "O maluco do Carlos Azeredo está a bombardear a Guiné-Conacry", dizia, em pânico, o QG... (Carlos Nery, ex-cap mil, CCAÇ 2382, 1968/70)

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27420: (In)citações (281): Praxes assassinas... para "maçarico", "periquito" ou "checa" se começar a habituar...


Angola > Moxico >Léua  > c. 1970 > O alf mil pqdt Jaime Siva com uma criança da aldeia.


Foto (e legenda): © Jaime Bonifácio Marques da Silva (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O episódio que o Jaime Silva partilha connosco (*),  é forte, tenso e revelador da dureza mas  também da profunda ambiguidade moral, que marcaram muitos momentos da guerra colonial, vividos por nós.  Nem todos, por outro lado, teriam coragem de o contar, em público, em livro. 

Há vários aspetos que vale a pena comentar, e que são comuns às experiências por que passámos no CTIG.

Recorde-se que o  Jaime Silva. de rendição individual, era comandante, "maçarico", de um pelotão da 1ª CCP/ BCP 21 (Angola, 1970/72). E que na Op Broca (c. 20-29 de maio de 1970), no norte de Angola, tem o seu "batismo de fogo". O seu pelotão já tinha experiêwncia operacional, e pôde contar com a dois bons graduados, o 1º cabo Onofre e srgt Mirra.

(i) O choque do “batismo de fogo”

O  Jaime Silva descreve algo comum entre jovens oficiais enviados para cenários de guerra: a passagem abrupta da formação teórica (neste caso, recebida na EPI, em Mafra, e depois em Tancos, no RCP) para a realidade pura e dura  da guerra de guerrilha e contraguerrilha (fosse em Angola, na Guiné ou em Moçambique),

O “maçarico” (em Angola), o " periquito" (na Guiné) ou o "checa" (em Moçambique) era confrontado de imediato com a imprevisibilidade do IN,   e a brutalidade do combate num terreno que lhe era desfavorável.  E isso marcava-o para sempre. O dia e o local do batismo de fogo.

(ii) O contraste entre comportamentos

A narrativa mostra três tipos de comportamento operacional num momento de grande tensão:

  • serenidade, a coragem e a experiência  do 1º cabo Onofre, que representa o militar que já tem traquejo  e sabe agir com sangue-frio:  

(...) "E 'vejo'.,  ainda hoje, o local e o momento em que um guerrilheiro armado progride na nossa direção e faço sinal ao cabo Onofre, que se encontrava à minha frente, para estar atento. Este correu na direção… do combatente e capturou-o, à mão! " (...)
  • lucidez e a maturidade do sargento Mirra, que confirma o papel fundamental dos graduados na estabilidade dos pelotões:  

"(...) Com efeito, os dois pelotões conseguiram desalojar os guerrilheiros e chegar ao paiol. Nunca vi tanto material durante a minha comissão em Angola: armas, granadas, outro material de guerra, medicamentos, material de apoio escolar, etc.! " (...)

(...) " Você é doido, meu alferes. Primeiro – ordena o sargento Mirra – saia de trás dessa cubata e proteja-se nessa árvore grossa que se encontra ao seu lado. Não vê as balas a saltar à sua frente? Saia daí e depressa! Depois, agarre no rádio e peça ajuda ao 1.º pelotão que se encontra na zona para nos vir ajudar no assalto". (...)
  • e, por fim,  a conduta chocante do tenente miliciano, comandante de outro pelotão da 1ª CCP, cuja atitude ultrapassa qualquer ética militar,  revelando como, em cenários de guerra, alguns indivíduos cruzavam fronteiras morais sob o pretexto da “praxia” ou da necessidade de endurecer os mais novos, os "maçaricos", liquidando crua e friamente um prisioneiro indefeso:


 "(...)  Face ao guerrilheiro sentado à nossa frente, rapa de um sabre de uma espingarda Simonov e, sem que nenhum dos três militares presentes (eu, o comandante de companhia e um soldado) esperássemos, num ápice, dá uma “saibrada”  no coração do guerrilheiro e, depois, outra nos temporais, matando-o a sangue frio.  Estupefacto, o comandante de companhia repreende-o daquele ato ignóbil e cobarde. Como se tudo aquilo fosse o mais natural, ele respondeu: – É para praxar, aqui, o alferes maçarico. É para ele aprender. Tem de se habituar." (...)

(iii) “Habituação": uma lógica perversa

A ideia de que um ato de extrema violência como aquele serviria como “lição” para um oficial recém-chegado, "maçraico", e logo ali "praxado".  mostra bem como a guerra pode distorcer valores, normalizar atrocidades e criar um ambiente em que o desprezo pela vida humana se disfarça do mais miserável militarismo.

(iv) A importância do testemunho

Ao relatar o episódio, o Jaime Silva não só expõe uma realidade dura da época, como também reafirma a importância de não "romantizar" a guerra dos paraquedistas, tropa de elite. Como ele diz, "na guerra não vale tudo".

O facto de ainda recordar esse momento (traumático),  demonstra que, para muitos de nós, a guerra colonial foi menos uma aventura turistico-militar e mais um conjunto de situações -limite (que deixaram  cicatrizes, nalguns casos, físicas, mas sobretudo morais, psicológicas e humanas).

É um relato que merece ser preservado e discutido, aqui no blogue, mas também nas academias militares, porque ajuda a compreender o que significou, realmente, para milhares de nós, jovens portugueses,  sermos enviados para África como "maçaricos", "periquitos" ou "checas"(**)


quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27417: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72) (4): o meu batismo de fogo e a praxe ao alferes “maçarico”


Espingarda semiautomática Simonov SKS-45, calibre 7,62 x 39mm M43, 1945 (Origem: ex-URSS). Uma das caracte5rístcias distintivas é incluir uma baioneta, em forma de faca,  dobrável permanentemente anexada e um carregador fixo articulado. Como a SKS não tinha capacidade de tiro seletivo e seu carregador era limitado a dez tiros, tornou-se obsoleta nas Forças Armadas Soviéticas com a introdução da AK-47 na década de 1950. Na Guiné, era usada sobretudo pelas milícias do PAIGC.

Fonte: Cortesia de Wikipedia
Monumento aos combatentes
do Ultramar. Lourinhã. Pormenor.
Foto: LG (2025)



Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci (4): o meu batismo de fogo e a praxe ao alferes “maçarico”

por Jaime Silva

Não esqueci que o meu batismo de fogo aconteceu no decorrer da “Operação Broca”, realizada no Norte de Angola, na Mata Bala, entre 20 e 29 de maio de 1970.

Participaram nessa operação, em que esteve presente o general Luz Cunha, comandante da Região Militar Norte, várias companhias: 
  •  uma companhia do exército, sediada em Zalala,
  •  a 19ª companhia de comandos 
  • e 1ª e 2ª companhias de paraquedistas, sediadas em Luanda. 
O objetivo era destruir a Base COBA, da FNLA. Foi a minha primeira operação com a responsabilidade de comandar um grupo de combate, cujos soldados já tinham meses de experiência operacional no Norte e no Leste. 

Os dois sargentos tinham participado na guerra da Guiné e/ou de Moçambique e eu era um “maçarico” inexperiente, acabadinho de aterrar do “Puto” [#].


Jaime Silva, em 2013.
Foto LG
Na véspera, ainda em Luanda, tinha participado no briefing de preparação da operação, juntamente com os responsáveis das várias forças intervenientes.

 O que mais me impressionou, para além de uma parafernália de normas e indicações a seguir rigorosamente para o êxito da operação, foi, no final, o Oficial de Operações ter anunciado “as baixas previsíveis” nas nossas tropas:  3 a 4 mortos.

No contexto dessa operação, fomos transportados pelos helicópteros,  Alouette III. Após o assalto à base, sem oposição, ficámos na zona.

E “vejo”, ainda hoje, o local e o momento em que um guerrilheiro armado progride na nossa direção e faço sinal ao cabo Onofre, que se encontrava à minha frente, para estar atento. Este correu na direção… do combatente e capturou-o, à mão! 

Depois de interrogar o guerrilheiro, este revelou o local onde os seus camaradas guardavam o material de guerra, provisões, material médico e escolar, etc.

O paiol encontrava-se dissimulado numa caverna no alto de um morro e, ainda, no sopé do mesmo. Seguimos um trilho indicado pelo guerrilheiro, mas fomos atacados com um forte poder de fogo de metralhadoras, armas ligeiras e morteiro 60.

Nesse momento, pondo em prática os “ensinamentos” sobre “a arte de bem fazer a guerra” (que tinha recebido e treinado exaustivamente, primeiro em Mafra, na EPI, durante o COM e, depois, no RCP, em Tancos, durante o tirocínio após o curso de paraquedismo), dou ordens ao sargento Mirra, que já tinha experiência de cumprimento de uma comissão em Moçambique:

–  Mirra, envolva pela direita com a sua seção. Eu vou pelo centro com a segunda e vamos desalojá-los.

 –  Você é doido, meu alferes. Primeiro – ordena o sargento Mirra – saia de trás dessa cubata e proteja-se nessa árvore grossa que se encontra ao seu lado. Não vê as balas a saltar à sua frente? Saia daí e depressa! Depois, agarre no rádio e peça ajuda ao 1.º pelotão que se encontra na zona para nos vir ajudar no assalto.

Com efeito, os dois pelotões conseguiram desalojar os guerrilheiros e chegar ao paiol. Nunca vi tanto material durante a minha comissão em Angola: armas, granadas, outro material de guerra, medicamentos, material de apoio escolar, etc.!

 A Base até tinha uma escola com quadro preto pendurado numa árvore!

Nunca mais esqueci estes factos da minha primeira operação: 
primeiro, a lição de serenidade e coragem do Cabo Onofre, a sua lucidez e experiência naquela contexto;  depois, a do sargento Mirra;  por último, e inversamente, a atitude “sacana” do meu camarada, tenente miliciano, comandante do outro pelotão, que, face ao guerrilheiro sentado à nossa frente, rapa de um sabre de uma espingarda Simonov e, sem que nenhum dos três militares presentes (eu, o comandante de companhia e um soldado) esperássemos, num ápice, dá uma “saibrada” [## ] no coração do guerrilheiro e, depois, outra nos temporais, matando-o a sangue frio.

Estupefacto, o comandante de companhia repreende-o daquele ato ignóbil e cobarde. Como se tudo aquilo fosse o mais natural, ele respondeu:

 
– É para praxar, aqui, o alferes maçarico. É para ele aprender. Tem de se habituar.

O alferes maçarico era eu!

Foi assim! Um mundo surreal!



Notas de JS / LG:

[#] Puto, era a designação comum para referir Portugal (Continente), dada a sua dimensão reduzida em relação ao tamanho de Angola (e Moçambique).

[##] Saibrada, termo usado na gíria oral da guerra quando se uso o sabre (arma branca perfurante) para matar ou ferir o inimigo; o termo correto e que está grafado nos dicionários é "sabrada":

O uso do terno "saibrad"pode ser explicado por "contaminação (ou cruzamento Lexical)". Isto não é uma regra fonética, mas sim um lapsus linguae (lapso de língua) ou um ato falho. A contaminação ocorre quando o falante, ao tentar dizer uma palavra, a "contamina" inconscientemente com outra palavra que está semanticamente ou foneticamente próxima no seu cérebro. Neste caso, o falante queria dizer: "Sabrada" (o golpe de sabre). Mas o cérebro misturou com a palavra "Saibro" (o tipo de terra/cascalho, muito comum em campos de treino militar, "pistas de saibro", etc.).

A proximidade sonora (ambas começam com "Sa-") e a possível proximidade contextual (ambas as palavras existem no ambiente militar) levam o cérebro a fundir as duas, resultando em "Saibrada"


1. Com a devida vénia e autorização do autor, Jaime Bonifácio Marques da Silva (antigo alf mil pqdt, 1º CCP / BCP 21, Angola, 1970/72, conterrâneo do nosso editor LG; membro da Tabanca Tabanca desde 21/1/2024, com c. 120 referências no nosso blogue), passámos a criar uma nova série "Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci..."

É natural de Seixal, Lourinhã. Foi condecorado com a medalha de Cruz de Guerra de 3* Classe. Foi professor de educação física e autarca em Fafe. Está reformado. É sócio de várias associações de antigos combatentes, incluindo a AVECO - Associação de Veteranos Combatentes do Oeste, com sede na Lourinhá,  e a Associação de Pára-Quedistas da Ordem dos Grifos63,com sede em Vila Nova da Barquinha.

Este é o quarto poste da série (que terá 15 postes, correspondentes a excertos das pp. 75-98 do seu livro, Capítulo Dois):


Fonte: Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), pp. 84-86.

(Revisão / fixação de texto: LG)
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sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27395: Notas de leitura (1859): "Amok", por Stefan Zweig; Lisboa: Relógio D'Água, 2022 (Jaime Bonifácio da Silva, ex-Alf Mil Paraquedista)



1. Mensagem do nosso camarada Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-Alf Mil Paraquedista da 1.ª CCP/BCP 21 (Angola, 1970/72), com data de 5 de Novembro de 2025:


MEMÓRIAS (À MARGEM) DA GUERRA

Notas de leitura do livro de Zweig, Stefan (2024). AMOK. Lisboa: Relógio d´Água. Esta obra foi publicada pela primeira vez, na Alemanha, em 1922.

Preâmbulo ao uso do termo amok

Na vida, quando olhamos, ao acaso, para os títulos dos livros bem arrumadinhos, algures numa estante, alguns deles, num ápice, espoletam em nós memórias e transportam-nos para locais e vivências, há muito tempo, arrumadas no sótão do esquecimento.
Aconteceu-me isso, recentemente, quando descobri este livro com o título AMOK.

Recordou-me o momento, em que, pela primeira vez, ouvi prenunciar a frase: deu-lhe o amok. Foi em Ninda, leste de Angola – Terras do Cú de Judas. Em fevereiro de 1970, quando fui render o Tenente paraquedista Grão no comando do 3.º Pelotão da 1.ª CCP do BCP 21. A companhia estava em plena fase operacional e, segundo me fui apercebendo, cada um dos 4 pelotões tinham encontrado forte resistência na zona.

Entretanto, nas conversas que ia travando com os meus novos camaradas de armas, ouvia-os pronunciar, regularmente, uma expressão que nunca tinha ouvido e desconhecia: “deu-me o amok, assaltámos a base e demos cabo daquilo tudo” ou, ainda, “cuidado com o gajo porque ele hoje, está com o amok” ou, ainda, “ninguém pode falar contigo, vai-te curar, estás com o amok”.

Com o tempo fui interiorizando o significado desse termo. Fui percebendo que se referia a alguém que se tinha “passado dos carretos”, “não via nada à sua frente” ou que “estava apanhado do clima”!... Foi neste contexto que fui assimilando o sentido do termo, de tal modo que, ao longo da vida, com alguma frequência e, em circunstâncias de menor ânimo, dizia para comigo: “hoje, não estás bem!... Hoje, estás com o amok”!...


1. Sobre o livro AMOK

Porém, ao folhear o livro de Stefan Zweig, vim a descobrir a origem e o significado do conceito de amok.

“ é um termo retirado da cultura Indonésia e significa “lançar-se furiosamente na batalha”. As pessoas afetadas por este estado psíquico têm ataques de fúria cega e procuram aniquilar os que consideram seus inimigos e quem quer que se interponha no seu caminho, sem consideração pelo perigo que correm”. (Zweig, 1992, capa)

Sobre o termo, transcrevo, ainda, o diálogo travado entre duas personagens do livro Amok:
“… O senhor sabe o que é o amok?
- Amok?... A palavra diz-me qualquer coisa… Não é uma espécie de inebriamento entre os malaios?
- É mais do que um inebriamento… é a perfeita loucura, uma espécie de raiva que atinge o ser humano… um ataque de monomania assassina, irracional, sem qualquer termo de comparação com outra forma de intoxicação alcoólica… eu próprio, durante a minha estadia nos trópicos, estudei alguns casos de amok –
“(…) tem, de certa forma, a ver com o clima, com aquela atmosfera abafada e sufocante que se abate, qual trovoada, sobre os nossos nervos até explodir, por fim…” (…) … mas quem está sob o domínio do amok, fica cego e não vê para onde se precipita … (…) não houve nada nem ninguém, não vê nada à sua volta.”
(Ibidem, 39 a 41)

Stefan Zweig na obra AMOK coloca o “narrador a contar a sua viagem de Calcutá para a Europa a bordo do Oceania. Num passeio noturno na coberta do navio, encontra um médico preocupado e assustado e que evita qualquer contato social. Este vai contar-lhe o que o levou a uma relação obsessiva por uma mulher que o colocou em estado de amok” (Ibidem: contra capa).


2. Sobre a biografia do autor

Como se refere na capa do livro, Stefan Zweig nasceu em Viena em 1881. Era filho de um industrial e estudou História, Literatura e filosofia. Aos 17 anos escreve já em revistas modernistas. Praticou os mais diversos géneros literários, do romance ao teatro. Em todos os géneros procurou detetar as forças do irracional no coração da natureza humana.

Com a subida de Hitler ao poder em 1933, vê as suas obras serem destruídas em Munique. É forçado a partir para a Grã-Bretanha, de onde viaja para o Brasil em 1936 e depois para Nova Iorque, tendo visitado Portugal em 1938. 

 A 10 de setembro de 1939 escreve a Romain Rolland (1886-1944): “Não vejo qualquer saída para este terrível lamaçal”. Regressa ao Brasil em 1940 e em 1942 suicida-se com a mulher em Petrópolis.

As suas memórias, O Mundo de Ontem, de 1942, terminam com uma frase: “em última análise, cada sombra é também filha da luz, e só aqueles que experimentaram a luz e as trevas, a guerra e a paz, a ascensão e a queda viveram verdadeiramente.”

Jaime Silva, Lourinhã, 1.11.2025

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Nota do editor

Último post da série de 3 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27382: Notas de leitura (1858): "Atlas Histórico do 25 de Abril", por José Matos; Guerra e Paz, 2025 (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27390: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72) (3): estive sempre no "gastalho", em guerra comigo e contra o IN

1. Com a devida vénia e autorização do autor, Jaime Bonifácio Marques da Silva (antigo alf mil pqdt, 1º CCP / BCP 21, Angola, 1970/72, conterrâneo do nosso editor LG; membro da Tabanca Tabanca desde 21/1/2024, com c. 120 referências no nosso blogue), passamos a criar uma nova série "Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci..."

É natural de Seixal, Lourinhã. Foi condecorado com a medalha de Cruz de Guerra de 3* Classe. Foi professor de educação física e autarca em Fafe. Está reformado. É sócio de várias associações de antigos combatentes, incluindo a AVECO - A
ssociação de Veteranos Combatentes do Oeste, com sede na Lourinhá,  e a Associação de Pára-Quedistas da Ordem dos Grifos63,com sede em Vila Nova da Barquinha.

Este é o terceiro poste da série (que terá 15 postes, correspondentes a excertos das pp. 75-98 do seu livro, Capítulo Dois):

Fonte: Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), pp. 83-84.



Quem foi obrigado a fazer a guerra, 
não a esquece: eu não esqueci (3):
estive sempre no "gastalho", em guerra comigo e contra o IN 

por Jaime Silva


Jaime Silva (2013). Foto: LG

Eu não esqueço que, a partir do primeiro dia da minha entrada na guerra, até 30 de julho de 1972, estive sempre no “gastalho” - em guerra comigo e contra o inimigo. E nunca mais a esqueci...

Combati nas matas dos Dembos, no Norte e nas “chanas” do “Cú de Judas” (#), no Leste de Angola, ao comando do 3º pelotão, da 1ª CCP do BCP 21 (1ª Companhia do Batalhão de Caçadores Paraquedistas nº 21) e, sempre com um objetivo de “fazer a guerra” sem que nenhum dos (meus) camaradas, sobre os quais tinha a responsabilidade de comandar, tombassem ou ficassem estropiados. Não o consegui: ficou lá uma perna e um morto! Penalizo-me, ainda hoje, por não o ter conseguido evitar!

Iniciei a rotina da guerra a 2 de março de 1970, pelas 06 horas da manhã, quando embarquei na BA3, em Luanda, num avião Nord Atlas e marchei para Ninda, o Leste, as terras do Cú de Judas, para me integrar na 1ª CCP. Uma vez chegado lá, até 18 de abril, integrei-me na atividade operacional da Companhia, sendo transportado para as operações, em helicópteros da África do Sul, pintados com as cores da bandeira de Portugal.

A partir dessa data, comecei a ter perfeita consciência de que,  ao iniciar o meu percurso no serviço militar obrigatório, tal como todos os jovens portugueses, na mesma circunstância, não representava mais do que uma ínfima gota, descartável para o sistema. Estava no meio da engrenagem trituradora da organização militar da guerra.

Apercebi-me que, no cenário da guerra, uma viatura militar tinha mais valor do que um homem, porque este, uma vez morto ou ferido, poderia ser imediatamente substituído por outro homem, enquanto as viaturas ou as peças para as reparar demoravam um tempo infinito e, muito vezes, nem sequer chegavam, para desespero dos Comandantes de Companhia do Exército sediadas no Norte e Leste.

Foi uma experiência atroz, a guerra!… Isto, sobretudo, porque regia a minha vida por princípios humanistas e cristãos, fundamentados no respeito pelos outros. Apontar a matar, para que eu próprio e os meus camaradas não morressem, foi uma experiência brutal.

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Nota do autor:

(#) "Cu de Judas" era o nome atribuído pelos militares a esta região inóspita do Leste de Angola, que conheci muito bem. A expressão inspirou o escritor António Lobo Antunes, para título do seu conhecido livro, "Os Cus de Judas". Este autor cumpriu uma comissão de serviço nesta região como alferes miliciano, médico, integrado numa companhia do exército comandada pelo capitão Melo Antunes. Participei em operações militares conjuntas com estes na região de Ninda e Chiume junto ao rio Cubango

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Nota do editor LG:

Último poste da série> 31 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27369: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21,Angola, 1970/72) (2): perante a hipótese Comandos, decido pelos Paraquedistas

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27369: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21,Angola, 1970/72) (2): perante a hipótese Comandos, decido pelos Paraquedistas





Figura 1 > Estudo prévio para monumento em memória dos combatentes da guerra colonial (2005), Arq. Augusto Vasconcelos  (Fafe) (Fonte: Silva,  op. cit, 2025, pág. 7)




Capa do livro de  Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), 235 pp.



1. Com a devida vénia e autorização do autor, Jaime Bonifácio Marques da Silva (antigo alf mil pqdt, 1º CCP / BCP 21, Angola, 1970/72, conterrâneo do nosso editor LG; membro da Tabanca Tabanca desde 21/1/2024, com c. 120 referências no nosso blogue), passamos a criar uma nova série "
Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci..."

É natural de Seixal, Lourinhã. Foi condecorado com a medalha de Cruz de Guerra de 3* Classe. Foi professor de educação física e autarca em Fafe. Está reformado.

Segundo poste da série (que terá 15 postes, correspondentes a  excertos das pp. 75-98 do seu livro, Capítulo Dois).


Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... 

2. Perante a hipótese Comandos, decido pelos Paraquedistas

por Jaime Silva


Eu não esqueci esse verão de 1968 em que terminava um ciclo de formação, isolado do mundo real, em que me inculcaram valores da salvaguarda da vida humana e respeito pelos outros, nomeadamente: “não matarás”.

 Acabara de sair voluntariamente pela porta nova do Seminário de S. Paulo em Almada. Porém, poucos meses depois, a 8 de janeiro de 1969, com 22 anos, sou obrigado a transpor uma nova porta. Desta vez, a porta de armas da EPI (Escola Práticva de Infantaria, em Mafera) para iniciar o Curso de Oficiais Milicianos (COM) e, com um único objetivo: treinar para fazer a guerra!

Quando, a 28 de maio de 1969, termino o COM é-me atribuída a especialidade de Atirador de Infantaria e, ainda, para surpresa minha e, porque nunca me tinha oferecido para nada na tropa, o comandante da minha companhia me integra no grupo de cadetes selecionados para se apresentarem no CIOE (Centro de Instrução de Operações Especiais), em Lamego.

Fiquei siderado! Nunca me tinha oferecido para nada na tropa, nem tentado destacar-me na instrução, em coisa nenhuma!

Vim a saber (e a perceber), mais tarde, que esta era uma prática recorrente nos cursos de oficiais milicianos. Os comandos tinham, também, como método, para suprir a falta de voluntários necessários para comandar os seus grupos de combate, selecionar os cadetes durante os cursos de oficiais milicianos, como relata, por exemplo, José Luís Sousa:

“(…) foi a 30 de outubro de 1971 que embarquei com destino a Luanda para fazer o curso de comandos. Esta tinha sido especialidade que o capitão da Academia Militar e dos Comandos, chegado a Mafra com a missão de selecionar de entre os instrumentos do 1.º Ciclo, me atribuiu e forçou sem remissão a seguir. Já tinha reagido interiormente a fazer tropa em Mafra, mas bem mais o fazia agora por ser obrigado a ir para os comandos.

(…) Entre ir avulso para a Guiné, que diziam a ferro e fogo, e seguir para Luanda a frequentar o curso, empenhar-me ia por Angola. Comando seria se o desejasse”. (Sousa, 2021:10)


No meu caso aconteceu que, no final dessa última formatura, na parada do quartel em Mafra, um dos meus amigos, também selecionado, consegue demover cinco dos cadetes selecionados a rejeitar a ida para os Comandos, a favor da opção Paraquedistas, com o seguinte argumento:

– Nós já não conseguimos escapar à mobilização para a guerra, por isso, é melhor oferecermo-nos para os Paraquedistas.

Enumerou, a favor da opção Paraquedistas  um conjunto de fatores muito mais favoráveis em relação à nossa ida para os Comandos em Lamego: fins de semana à 6.ª feira depois do almoço; melhor salário, acrescido de um subsídio de risco de salto, no valor de 500$00 após o término do curso, etc. 

Mas, o principal argumento era o seguinte: como os paraquedistas pertenciam à Força Aérea, esse facto, permitiria que tivéssemos sempre o apoio dos helicópteros no transporte para as operações no mato, além de termos apoio imediato, nos momentos mais difíceis, nos combates mais duros e nas evacuações dos feridos e mortos. 

E rematou: 

– Além disso, ainda vamos ter o prazer de saltar da porta de um avião em andamento, o que é fantástico!.

Vim a concluir, mais tarde, durante o curso, que tinha razão!…

Durante a guerra, vim a apurar que o meu camarada Peralta, expulso da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, após as greves académicas de 1968, estava bem informado e tinha razão.

Na verdade, no início da minha Comissão, o soldado Santos, do meu pelotão, pisou uma mina antipessoal, numa das primeiras operações de combate que comandei no Norte de Angola, ficando com a perna esquerda completamente esfacelada. Menos de trinta minutos depois, já o tínhamos conseguido evacuar num helicóptero e salvou-se.

A mesma sorte não teve o meu primo Arsénio, soldado pertencente a uma companhia do exército, que, na mesma zona, pisou, também, uma mina. Foi ao fim da manhã (cerca das 13 horas) que se deu o acidente e só, às quatro da tarde, teve o helicóptero para o evacuar para o hospital, onde veio a morrer!

Foi para não irmos para Lamego que, em julho de 1969, um grupo de cinco cadetes, vindo da EPI, deu entrada no RCP (Regimento de Caçadores Paraquedistas), em Tancos, para iniciar, durante mais oito meses, um novo ciclo de instrução militar, sempre com um único objetivo: treinar para a guerra 

– Instrução dura, combate fácil – era o lema!

Depois de uma fase de adaptação à filosofia de atuação das tropas paraquedistas, iniciámos, no RCP, o 52º curso de paraquedismo, vindo a terminá-lo a 29 de agosto, sendo-me atribuído o Brevet nº 7343. 

A 8 de setembro, seguiu-se: o Estágio de Aperfeiçoamento de Combate para oficiais e sargentos milicianos, o Curso de Instrução de combate, a 29 de outubro, e o Estágio de Nomadização que terminou em janeiro de 1970.

Após, mais este longo ciclo, passados treze meses de instrução militar, em janeiro de 1970, sou nomeado para prestar serviço no Batalhão de Caçadores Paraquedistas BCP 21, por imposição de serviço. Fomos todos mobilizados para a guerra de África.

No dia 18 de fevereiro de 1970, pelas 10 horas, embarcámos, conjuntamente com três alferes milicianos (Rosinha, Vítor Marques e Martins) e um do quadro permanente  (Sousa, da Academia Militar). Embarcámos no Aeroporto Figo Maduro em Lisboa, num avião DC 6, da FA, rumo a Angola, em rendição individual. Aterrámos na Base Aérea nº3, em Luanda, às 9 horas do dia seguinte. A partir desta data, “passámos a contar” 100% de aumento do tempo de serviço.

(Continua)

(Revisão / fixação de texto: LG)
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Nota do autor 

(#) Sousa, José Luís Costa -  Não à Guerra! Ser coamndo não quero. (Ed. autor, 2021)

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Nota do editor LG:

(*) Último poste da série > 29 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27363: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21,Angola, 1970/72) (1): A minha (im)possibilidade de desertar

quarta-feira, 29 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27363: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21,Angola, 1970/72) (1): A minha (im)possibilidade de desertar


Figura 6 > Regresso de uma operação no Norte de Angola - Montes Mil e Vinte. Resultado: um soldado morto do 3º pelotão. (Arquivo de Jaime Silva) (Fonte: Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), pág,. 751 (*)





Figura 1 > Estudo prévio para monumento em memória dos combatentes da guerra colonial (2005), Arq. Augusto Vasconcelos  (Fafe) (Fonte: Silva,  op. cit, 2025, pág. 7)



1. Com a devida vénia e autorização do autor, Jaime Bonifácio Marques da Silva (antigo alf mil pqdt, 1º CCP / BCP 21, Angola, 1970/72, conterrâneo do nosso editor LG; membro da Tabanca Tabanca desde 21/1/2024, com c. 120 referências no nosso blogue), passamos a criar uma nova série "Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci..."

Foi condecorado com a medalha de Cruz de Guerra de 3* Classe,

A série que vamos agora iniciar, tem o seu nome.  Iremos publicar cerca de 15 postes, com excertos das pp. 75-98 do seu livro, correspondentes ao Capítulo Dois:



Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci...  

1. A minha (im)possibilidade de desertar


por Jaime Silva


Neste ponto do texto pretendo contar experiências e aspetos marcantes do meu percurso na guerra colonial, enquadrando-o na minha circunstância cultural, social e local até chegar às portas da guerra em Angola.


Jaime Silva
Da ideia à concretização final deste meu trabalho permeiam já vários anos. A ideia nasce da experiência pessoal, da dureza da vida e da guerra em Angola. Experiência que, num primeiro momento, se revestiu de solidão, na tentativa de esquecimento da guerra para anos mais tarde, se abrir a algo que fizesse jus e reconhecimento sobre uma geração que merece sair do esquecimento individual e coletivo. Assim, fui participando em várias iniciativas e empenhando-me em pequenos contributos.

Porém, só há cerca de uma década, com o regresso à minha terra natal, Lourinhã, começa a fervilhar a ideia de fazer um trabalho que revisitasse e recuperasse para a memória coletiva os meus conterrâneos que combateram e morreram pela pátria que os chamou e obrigou a fazer a guerra. Com efeito, sofreram e perderam a vida às mãos de uma guerra injusta e de uma nação que os votou ao esquecimento. Participei na guerra, durante dois anos e meio e, como alferes miliciano, comandei um pelotão de soldados e sargentos, integrado nas tropas paraquedistas, sempre no “gastalho”.

Como combatente lourinhanense, sobrevivente de uma guerra a que não pude fugir, sinto-me agora mobilizado para contribuir para a reposição da história desta injusta guerra. Partilho com muitos outros e outras, o dever de memória às vítimas desta, particularmente, de todos os que nela pereceram. Esta é a razão do meu testemunho no contexto deste livro.

Voltando à minha circunstância, direi apenas que nasci e cresci num Portugal de obscurantismo bafiento e de “pobreza descarada e generalizada” (Tavares, citado Sousa, 2024: 09); vim à luz do dia, no mês de julho, do ano de 1946, numa aldeia de trabalhadores rurais, pertencente ao concelho da Lourinhã. 

A realidade escolar desse tempo era de uma grande percentagem de crianças que não terminava a 4.ª classe (vindo, muitas deles a concluí-la, mais tarde, na tropa). Muito menos tinham oportunidade de pensar em continuar os seus estudos.

Neste contexto de miséria alargada, também no concelho da Lourinhã, calhou-me, na minha sorte, ter tido a oportunidade de ir para o seminário. Foi nos finais da década de 50. Tinha doze anos, quando transpus o portão de acesso a uma casa desconhecida. 

Nos primeiros tempos, senti-me completamente desenraizado, vivendo num ambiente de dilemas, semelhantes aos tão bem retratados por Vergílio Ferreira na sua obra, "Manhã Submersa", e, depois, por Lauro António, no filme com o mesmo nome. 

No verão de 1968, abandono o seminário. Era um jovem de 22 anos, politicamente ignorante, mas com uma certeza - teria, imediatamente, que cumprir o serviço militar obrigatório.

Relatarei, nesta parte do trabalho, vários momentos marcantes que vivi na guerra sendo que, estes e outros são uma recordação penosa, continuam a fazer, quotidianamente, parte da minha guerra. (...)
___________

Nota de JS/LG:
 . 
(#) O termo "gastalho", na gíria dos paraquedistas portugueses durante a guerra colonial em Angola (1961/75), é equivalente a porrada, mato, situação de dificuldade, combate intenso ou local perigoso, onde as tropas pára-quedistas muitas vezes combatiam; o vocáculo ainda náo foi grafado nos nossos dicionários com esta aceção (Fonte: JS/LG + assistente de IA / Gemini).


1. Eu não esqueci: a minha (im)possibilidade de desertar



Eu não esqueci que, em finais de setembro de 1968, no período entre a inspeção militar e a incorporação na EPI (Escola Prática de Infantaria) em Mafra, um dia, já perto da meia noite, sou desafiado pelo meu amigo José Manuel Dionísio a desertar para França, “a salto”.

Nem sequer pude pensar nem concretizar essa possibilidade, porque não tive 10 contos  para pagar ao “passador”. O episódio passou-se mais ou menos assim:

− Jaime, eu vou desertar, não quero ir para África para morrer na guerra. Vamos cinco, a “salto”, e tenho um lugar para ti, no táxi. Se quiseres, tens uma hora para ir a casa. Traz uma mala pequena com roupa e dez contos para pagar ao passador. Temos de atravessar os Pirenéus "a salto".

Olhei para o meu amigo e respondi-lhe:

−  Ó Zé Manel, onde é que eu tenho dez contos?!

−  Então, vai o Vítor em teu lugar.

Ele saiu a correr… E eu fiquei!...

(Continua)
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Fonte: Excertos de: Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), pp. 75-79.

(Revisão / fixação de texto, negritos, LG)~

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Notas do editor LG:

(*) Vd. postes de 

23 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26949: Notas de leitura (1811): O livro do Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (2025) (235 pp.) - Parte I: apresentação de Luís Graça